A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PRÉ-NATAL

THE IMPORTANCE OF NURSES IN PRENATAL CARE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7893704


Arnon Castro dos Santos


Resumo

Esse trabalho objetiva evidenciar a importância da assistência do enfermeiro durante o pré natal, destacando as pesquisas científicas que descrevem as responsabilidades assistenciais desse profissional. Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), realizada através do motor de busca Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), incluindo na pesquisa os artigos completos, com publicação nos últimos 5 anos e que estavam relacionados mais diretamente com a temática e foram excluídos os artigos incompletos; repetidos, os quais não se relacionavam com a temática e que não eram do período de 2017-2022. Frente a isso, foram delimitados 4 artigos completos, abordando de forma mais direta a respeito da atuação do enfermeiro no pré-natal, apresentando qual o diferencial da atuação desse profissional na garantia de um cuidado humanizado, evidenciando a importância da capacitação do enfermeiro. Percebe-se que esse profissional se responsabiliza por cuidados que não interfiram na autonomia maternal e no empoderamento materno, além de integrarem atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças (diabetes gestacional e hipertensão gestacional) das gestantes.

Palavras-chave: Assistência de Enfermagem, Assistência Pré-Natal, Obstetrícia

Abstract

This work aims to highlight the importance of nursing care during prenatal care, highlighting the scientific research that describes the care responsibilities of this professional. This is an Integrative Literature Review (RIL), carried out through the Virtual Health Library (BVS) search engine, including in the search the complete articles, published in the last 5 years and that were more directly related to the theme and incomplete articles were excluded; repeated, which were not related to the theme and were not from the 2017-2022 period. In view of this, 4 complete articles were delimited, addressing in a more direct way the role of nurses in prenatal care, presenting the differential of this professional’s performance in guaranteeing humanized care, and highlighting the importance of nurses’ training. It is noticed that this professional is responsible for care that does not interfere with maternal autonomy and maternal empowerment, in addition to integrating health promotion and disease prevention activities (gestational diabetes and gestational hypertension) in pregnant women.

Keywords: Nursing Care, Prenatal Care, Obstetrics 

O pré-natal é um significativo elemento da atenção à saúde da mulher no período gravídico-puerperal. As práticas feitas rotineiramente durante esse cuidado estão associadas a melhores resultados perinatais. De acordo com as recomendações do Ministério da saúde, o pré-natal deve ser realizado incorporando condutas de acolhimento; o desenvolvimento de ações educacionais e preventivas, sem intervenções desnecessárias; detecção precoce de doenças e condições de risco gestacional; estabelecer um vínculo entre o pré-natal e o local do parto; e fácil entrada a serviços de saúde de qualidade, desde atendimento ambulatorial básico até atendimento hospitalar de alto risco (Barros, Bhutta, Batra, Hansen, Victora & Rubens, 2010).

O desempenho do pré-natal no Brasil foi de 98,7%, superior a 90%, independente das características maternas. A cobertura mais baixa foi notada em mulheres grávidas aborígenes do Norte que tinham menor escolaridade, nenhum parceiro e mais gestações. As mulheres com resultados anteriores negativos, que não queriam engravidar, que estavam insatisfeitas com a gravidez atual e que relataram tentar interromper a gravidez também apresentaram menor cobertura de pré-natal (Viellas et al., 2014).

A Organização Mundial da saúde (OMS) e o Ministério da saúde recomendam o início precoce do pré-natal, durante o primeiro trimestre de gestação (8 a 12 semanas), assim como muitas intervenções essenciais, como a prevenção da transmissão vertical de sífilis e vírus da imunodeficiência humana (HIV), diagnóstico da gravidez tubária, controle da anemia e manejo da hipertensão arterial e diabetes, a identificação precoce dessas doenças é essencial ((Domingues, Viellas, Dias, Torres, Filha & Gama, 2015).

Frente a isso, cabe destacar que o profissional que irá realizar o pré-natal deve ser capacitado para tal exercício. As evidências confirmam que o pré-natal básico pode ser prestado não apenas pelo obstetra, mas também por outros profissionais, como enfermeiros e enfermeiros obstetras (Araujo, Silva, Moraes & Alves, 2010).

O pré-natal de baixo risco pode ser efetuado por enfermeiro, obstetra ou não, conforme Lei do exercício Profissional da Enfermagem, decreto nº 94.406/87. Cabe também ao enfermeiro realizar a consulta de enfermagem; preencher a prescrição de enfermagem; prescrever medicamentos, desde que estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina sancionada pelo estabelecimento de saúde; prestar assistência à mulher em trabalho de parto e puerpério e realizar educação em saúde, amparada pela lei 7.498/86 (Araujo, Silva, Moraes & Alves, 2010).

Diante disso, pergunta-se: Qual a importância do enfermeiro na assistência ao pré natal? Objetiva-se evidenciar a importância da assistência do enfermeiro durante o pré-natal. Essa pesquisa se justifica em razão da necessidade de destacar a atuação do enfermeiro na assistência ao pré-natal, a fim de haver, especialmente, mais valorização desse profissional.

Metodologia

Essa pesquisa é do tipo Revisão Integrativa da Literatura (RIL), a qual possibilita que sejam analisadas as produções científicas, especialmente as mais atuais, sobre determinada temática, a partir da busca em bases de dados específicas, bem como realizando a comparação dos dados obtidos na busca (Mendes, Silveira & Galvão, 2008). 

A pesquisa bibliográfica aconteceu do motor de busca Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), considerando as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online

(SciELO), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Objetivou filtrar as buscas utilizando 3 (três) descritores oficializados pelos Descritores em Ciências da Saúde (DECS), ligados pelo boleador AND: “Assistência de Enfermagem” AND “Assistência Pré-Natal” AND “Gravidez”. 

Foram escolhidos como critérios de inclusão os artigos completos, com publicação entre o período de 2017-2022 e que estavam relacionados de forma mais direta com a temática e os critérios de exclusão foram os artigos incompletos; repetidos, os quais não correspondiam à temática escolhida ou que estavam fora dos anos delimitados.

Resultados

Foram selecionados os artigos que tinham como assunto principal “cuidados de enfermagem”. Foram encontrados 30 artigos completos, porém foram excluídos artigos após a leitura dos seus respectivos resumos. Frente a isso, resta 4 artigos completos que tratam mais diretamente sobre a atuação do enfermeiro no pré-natal, apresentando quais as principais competências desse profissional.

Tabela 1

TítuloAutoria e anoIdiomaRevistaObjetivo
Gestão do cuidado de Enfermagem para a qualidade da assistência pré-natal na Atenção Primária à Saúde.Amorim, Backes, Carvalho, Santos, Dorosz & Backes (2022).PortuguêsEscola Anna NeryCompreender o significado da gestão do cuidado de Enfermagem para a qualidade da assistência pré-natal na visão de enfermeiras da Atenção Primária à Saúde.
Integralidade do cuidado de enfermagem do pré-natal ao puerpério.Ferreira, Silva, Belarmino, Franco, Sombra & Freitas (2021).PortuguêsJ. Health Biol SciCompreender a integralidade do cuidado de enfermagem do pré-natal ao puerpério.
Cuidados no processo de parturição sob a ótica dos profissionais de enfermagem.Piler, Wal, Trigueiro, Benedet, Aldrighi & Machado (2020).PortuguêsTexto Contexto EnfermRefletir sobre os cuidados de enfermagem à mulher em processo de parturição sob a ótica dos profissionais de enfermagem.
Sistematização da assistência de enfermagem nas consultas de pré-natal.Leite et al. (2019)PortuguêsRev enferm UFPE on lineRelatar a experiência de enfermeirandos na implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem durante as
consultas de prénatal.

Fonte: elaborado pelo autor, 2022.

Discussão

Os autores Amorim, Backes, Carvalho, Santos, Dorosz e Backes (2022) relataram em sua pesquisa que as enfermeiras do pré-natal entendem que a gravidez é uma fase especial na vida da mulher e de sua família. Dessa forma, as enfermeiras participantes da pesquisa, indicaram que se deve incentivar o protagonismo materno, valorizando os aspectos subjetivos do cuidado e a singularidade da mulher, bem como que a fisiologia do processo de gravidez, trabalho de parto, parto, amamentação e desmame deve ser trabalhada em consonância com um modelo biomédico de atenção focado em exames e medicamentos. 

Nesse sentido, as enfermeiras entrevistadas no trabalho de Amorim, Backes, Carvalho, Santos, Dorosz e Backes (2022) procuram oferecer cuidados de enfermagem que possam libertar as mulheres do perfil esperado pela sociedade, focando no que é bom para elas e, em última análise, contribuindo para uma transição respeitosa e segura para o parto, próximo ao fisiológico.

Acredita-se que os enfermeiros da atenção primária devem ser cautelosos com a enfermagem como meio de defender a autonomia maternal e o empoderamento materno. A construção do plano de parto pode ser um passo importante nessa direção, bem como para o protagonismo e autonomia da mulher. Da mesma forma, é importante compreender que um bebê é gerado em determinada condição de vida, sociedade e sentimentos diversos, e saber disso ajuda a promover uma assistência mais equânime e de qualidade. Dessa forma, deve se trabalhar a inserção da mulher em seu contexto social e familiar e uma rede de apoio envolvendo o pai e seus familiares que estão passando por esse processo gravídico (Amorim, Backes, Carvalho, Santos, Dorosz & Backes, 2022).

No Brasil, a assistência pré-natal alcançou cobertura praticamente universal, mas persistem disparidades no acesso à atenção adequada, potencialmente revertendo os indicadores perinatais desfavoráveis ainda observados no país. Para garantir uma atenção à saúde efetiva, são essenciais estratégias voltadas às populações socialmente desfavorecidas que promovam o acesso precoce ao pré-natal e o contato com os serviços de saúde (Domingues, Viellas, Dias, Torres, Filha & Gama, 2015).

Conforme Ferreira, Silva, Belarmino, Franco, Sombra e Freitas (2021) O enfermeiro é o profissional fundamental para a realização de um pré-natal qualificado, pois descreve estratégias de promoção, prevenção e humanização da saúde junto à gestante e sua família, atendendo às necessidades identificadas e proporcionando à gestante a resolutividade desse parto, orientando-a para os cuidados com o recém-nascido e encaminhando aos serviços de saúde da criança para um puerpério saudável e eficaz.

A assistência integral de enfermagem, durante a gestação, caracteriza-se pela integração de atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças (diabetes gestacional e hipertensão gestacional) que acometem gestantes com histórico familiar e estilo de vida precário. Assim, a integridade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, garantindo ações intersetoriais entre as diversas áreas da saúde e qualidade de vida das gestantes (Brasil, 2016).

A partir dos resultados da pesquisa de Piler, Wal, Trigueiro, Benedet, Aldrighi e Machado (2020) foi possível observar a sensibilidade dos cuidadores para a humanização do processo de parto, evidenciada pelos depoimentos que tratam de um momento complexo para as mulheres que o vivenciam e são pontuados pelos determinantes de sua ocorrência, em benefício das mulheres e tornando-se uma experiência positiva.

Além disso, no estudo de Piler, Wal, Trigueiro, Benedet, Aldrighi e Machado (2020) foram identificados fatores, do ponto de vista do enfermeiro, que não beneficiam de forma alguma as mulheres durante o parto, incluindo a forma de atendimento, a estrutura inadequada, a falta de recursos humanos, a intervenção e aconselhamento desnecessários. As falas evidenciam ainda que as atitudes profissionais continuam degenerando a autonomia e o protagonismo das mulheres, dificultando o processo de humanização e desenvolvimento de boas práticas obstétricas.

Frente a isso, algumas práticas são consideradas importantes e podem auxiliar a mulher no processo de parto, destacando-se as que envolvem tecnologias não farmacológicas para diminuir a dor e obter resultados satisfatórios durante todo o processo de parto para garantir o nascimento. Assim, a orientação, o incentivo e o apoio também têm sido considerados cuidados primários, promovendo o processo de parto e desenvolvendo boas práticas na assistência ao parto e nascimento (Piler, Wal, Trigueiro, Benedet, Aldrighi & Machado, 2020).

Considerações finais

É preciso fortalecer os enfermeiros para que, além de conhecimentos e aptidões para o controle pré-natal, sejam capacitados com a atitude de desenvolvê-los com competência, contemplando as necessidades da gestante em sua integralidade e individualidade, bem como o registro desse cuidado, que também envolve os aspectos relacionais, inter e subjetivos da mãe, para que ela possa ser visualizada e valorizada pela equipe e pela gestão.

Nota-se então com essa pesquisa que é necessário promover a reflexão-ação com enfermeiros sobre os cuidados prestados para que seja assegurada uma melhor assistência ao pré-natal. Nesse sentido, espera-se, contribuir para a transformação da assistência pré natal prestada pelos enfermeiros por meio da ação-reflexão para implementação de uma assistência integral e humanizada, que possa resultar em maior adesão ao pré-natal e para a participação efetiva da mulher no processo gravídico, bem como para o fortalecimento da profissão de enfermagem.

Referências

Amorim, TS, Backes, MTS, Carvalho, KM, Santos, EKA, Dorosz, PAE & Backes, DS (2022). Gestão do cuidado de Enfermagem para a qualidade da assistência pré-natal na Atenção Primária à Saúde. Escola Anna Nery, 26.

Araujo, SM, Silva, MED, Moraes, RC & Alves, DS (2010). A importância do pré-natal e a assistência de enfermagem. VEREDAS FAVIP – Revista Eletrônica de Ciências, 3(2).

Barros, FC, Bhutta, ZA, Batra, M, Hansen, TN, Victora, CG & Rubens, CE (2010). Global report on preterm and stillbirth (3 of 7): evidence for effectiveness of interventions.
BMC Pregnancy Childbirth, 10.

Brasil. Ministério da Saúde (2016). Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres. Brasília: Ministério da Saúde, 73-230. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_atencao_basica_ saude_mulheres.pdf.

Domingues, RMSM, Viellas, EF, Dias, MAB, Torres, JA, Filha MMT & Gama SGN (2015). Adequação da assistência pré-natal segundo as características maternas no Brasil. Rev Panam Salud Pública, 37(3):140–7.

Ferreira, BA, Silva, EM, Belarmino, AC, Franco, RGFM, Sombra, ICN & Freitas, ASF (2021). J. Health Biol Sci, 9(1):1-6.

Leite, KJP, Silva, WLAV, Alves, EA, Damasceno, EC, Costa, LJSF da, Oliveira, KJR, Lopes, RF (2019). Sistematização da assistência de enfermagem nas consultas de pré-natal. Rev enferm UFPE on line, 13. https://doi.org/10.5205/1981-8963.2019.242001. 

Mendes, K., Silveira, R., & Galvão, C. (2008). Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto –
Enfermagem, Florianópolis, 17(4).

: Piler, AA, Wal, lML, Trigueiro, TH, Benedet, DCF, Aldrighi, JD & Machado, AVMB (2020).
Cuidados no processo de parturição sob a ótica dos profissionais de enfermagem.
Texto Contexto Enferm., 29. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0214. 

Viellas, EF, Domingues, RMSM, Dias, MAB, Gama, SGN, Filha, MMT, Costa, JV, Bastos, MH & Leal, MC (2014). Assistência pré-natal no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 30(1): 85-100.  


1Faculdade Integrada da Amazônia, Pós-Graduando em Enfermagem Obstétrica,Belém-PA, arnoncastro@yahoo.com.br.