A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE DE AUTISMO

THE IMPORTANCE OF EARLY DIAGNOSIS OF AUTISM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10896081


Ericka Teran Gonçalves¹


RESUMO

Introdução: O Transtorno Espectro do Autismo (TEA) é um distúrbio no neurodesenvolvimento que se manifesta já nos primeiros anos de vida da criança. Objetivo: compreender o impacto do diagnóstico precoce do TEA. Metodologia: estudo qualitativo em formato de revisão sistemática onde serão analisados artigos com a temática diagnóstico precoce e TEA dos últimos 5 anos. Resultados e discussão:  quanto mais precoce o diagnóstico das crianças, melhor o prognóstico, pois possibilidade melhor intervenção no manejo dos sintomas, além de fortalecer a rede de apoio da família e auxilia no melhor desempenho acadêmico por parte das crianças. Conclusão: a família consegue de adequar desde o início às particularidades das crianças, buscando escolas qualificadas para atendê-los, e readequação financeira para lidar com os custos do tratamento.

Palavras chave: Diagnóstico precoce; Transtorno do Espectro Autista; Criança.

ABSTRACT

Introduction: Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder that manifests itself in the first years of a child’s life. Objective: To understand the impact of early diagnosis of ASD. Methodology: a qualitative study in the form of a systematic review analyzing articles on early diagnosis and ASD from the last five years. Results and discussion: the earlier the children are diagnosed, the better the prognosis, as it enables better intervention in symptom management, as well as strengthening the family support network and helping the children to perform better academically. Conclusion: the family is able to adapt to the particularities of the children from the outset, looking for qualified schools to cater for them, and financial readjustment to deal with the costs of treatment.

Keywords: Diagnosis early; Autistic Spectrum Disorder; Child.

INTRODUÇÃO

O Transtorno Espectro do Autismo (TEA) é um distúrbio no neurodesenvolvimento que se manifesta já nos primeiros anos de vida da criança¹. O transtorno é responsável pela inabilidade social, atraso da fala, padrões de comportamento isolado, cognição comprometida, entre outros diversos sintomas que variam de acordo com o grau do transtorno².

Nos últimos anos tem se observado a incidência de casos em crianças do sexo masculinos em muitos países, principalmente em países de baixa e média renda. Além disso, existe uma discussão abrangente sobre a possibilidade da herdabilidade genética e condições ambientais estar associado ao aumento do número de casos de crianças com TEA em todo mundo¹.

Um estudo realizado em 2019 mostrou que houve um aumento considerável de casos na Espanha e Estados Unidos, mesmo com tantas diferenças como localização, sexo e etnia dos indivíduos diagnosticados com TEA. Além disso, foi identificado que crianças brancas não-hispânicas tem 20% mais chances de serem diagnosticadas com a doença³.

Com isso, estudos recentes reconhecem o aumento do diagnóstico de TEA em crianças, sobretudo em comunidades vulneráveis socioeconomicamente. Porém há uma preocupação no processo de triagem desses indivíduos e a qualidade do serviço prestado, visto que o diagnóstico precoce possibilita a melhora na qualidade de vida através da melhor assistência de saúde necessária4.

Diante do exposto acima, o objetivo deste estudo é compreender o impacto do diagnóstico precoce do TEA.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo qualitativo em formato de revisão sistemática onde serão analisados artigos com a temática diagnóstico precoce e TEA dos últimos 5 anos a fim de responder a pergunta norteadora: Qual o impacto para a criança com o diagnóstico precoce do TEA?

Para a busca dos artigos foram utilizadas as palavras chaves e operador boleano: Diagnóstico precoce AND Transtorno do Espectro Autista AND Criança, entre os anos de 2018 a 2023 nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Periódicos CAPES.

Os critérios de inclusão são artigos dos últimos 5 anos, que fala sobre o tema diagnóstico e autismo. Já os critérios de exclusão são artigos de revisão de literatura, revisão sistemática, editorial, estudo de caso e artigos que não abordem a temática diagnostico de autismo.

RESULTADOS

Foi realizada a seleção dos artigos no banco de dados LILACS e Periódico CAPES com as palavras chaves onde foram encontrados 86 artigos do LILACS e 86 do Periódico CAPES, totalizando 119 artigos. Após a leitura dos títulos, foram excluídos 82 artigos, sendo 1 por duplicada e 7 por se tratar de artigos de revisão. Com a leitura dos resumos, 23 artigos por não abordar a importância do diagnóstico precoce de autismo nos artigos. Com isso, foram selecionados 6 artigos que bordava a importância do diagnóstico precoce aos pacientes com TEA e o impacto do diagnóstico precoce na vida desses indivíduos, como mostra a figura abaixo.

Figura 1: Esquema de seleção de artigos

Após a leitura dos artigos completos, foram avaliados os principais resultados dos artigos encontrados, como mostra a tabela abaixo:

Tabela 1: Artigos selecionados após a leitura completa.

AUTORANOTÍTULOESTADO/ PAÍSPRINCIPAIS RESULTADOS
XAVIER, J.S; MARCHIORI, T; SCHWARTZMAN, J.S.2019Os pais em busca de diagnóstico para o mistério do espectro autista para o filhoBrasilDiagnóstico entre 13 a 24 meses; melhora do desenvolvimento após a intervenção como fonoaudiólogo;
HOFZMAN, R.R, et al2016EXPERIÊNCIA DOS FAMILIARES NO CONVÍVIO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DOESPECTRO AUTISTA (TEA)BrasilDiagnóstico cada vez mais precoce possibilita maior desenvolvimento da criança e aceitação da família
ROCHA, C.C. et al.2019.O perfil da população infantil com suspeita de diagnóstico de transtorno do espectro autista atendida por um Centro Especializado em Reabilitação de uma cidade do Sul do BrasilBrasilA escola é uma grande aliada para o desenvolvimento da crianças.
COUTO, C.C. et al.2019.Teachers’ experiences with autism: impact on early diagnosis and school inclusionBrasilOs professores são grandes aliados para a suspeita de autismo em crianças pequenas, após os familiares.
MAPELLI, L.D. et al2018Criança com transtorno do espectro autista: cuidado na perspectiva familiarBrasilO processo pela busca do diagnóstico é dolorosa para a família, por isso a importância de valorizar os relatos familiares
GIRIANELLI, V.R; et al.2023Diagnóstico precoce do autismo e outros transtornos do desenvolvimento, Brasil, 2013–2019BrasilCom a busca cada vez mais precoce pelo diagnóstico de autismo possibilita evolução no tratamento buscando precocemente conhecimento acerca do assunto.

Entre os artigos selecionados, encontra-se um estudo realizado entre os anos de 2005 a 2016 em São Paulo que mostrou que crianças diagnosticadas com TEA entre 13 a 24 meses de idade possibilitou intervenção com fonoaudiólogo e outros profissionais após o diagnóstico. O estudo mostrou que os primeiros sinais de alterações das crianças foram observados pelos pais e após o diagnóstico dado pelos neurologistas, foi identificado uma melhora na qualidade de vida e desenvolvimento da criança5.

No estudo realizado em 2016 em Santa Catarina também abordou sobre o período do diagnóstico ser entre 12 a 24 meses, e como o diagnóstico afeta na situação financeira do casal, devido a necessidade de profissionais para desenvolver a criança. Por isso é importante obter informações sobre os sinais e sintomas do TEA para que consiga obter o diagnóstico o mais precoce possível, para potencializar o desenvolvimento da criança, tornando mais fácil para a criança e para a aceitação da família6.

A dificuldade do diagnóstico precoce se dá devido a complexidade de desenvolvimento ocasionado pelo transtorno, pois para que o diagnóstico ocorra o quanto antes, é necessário avaliação do quadro clínico comportamental que por sua vez varia por nível de gravidade. Entre os sintomas que devem ser observados são contato visual anormal, falta de orientação com o nome, falta de interesse em outras crianças, falta de sorriso, atraso na fala e social, entre outros sintomas7.

As observações iniciais de alteração na criança acontecem dentro de casa com a própria família, com os sintomas característicos do transtorno. Contudo, o diagnóstico provoca grandes mudanças no âmbito familiar, tanto pelo impacto na rotina diária familiar, quanto pela da mudança financeira gerada pela necessidade de buscar profissionais qualificados para buscar minimizar os sintomas causados pelo transtorno, além da dificuldade de aceitação da família com o diagnóstico8.

A dificuldade de aceitação da família é externalizada pela culpa, medo e insegurança do que estar por vir. O processo pela busca do diagnóstico torna a busca mais dolorosa, por isso a importância de valorizar os relatos da família pelos profissionais com vista a diagnósticos precoces9.

O estudo de ROCHA, et al enfatiza que quanto mais precoce o diagnóstico das crianças, melhor o prognóstico, pois possibilidade melhor intervenção no manejo dos sintomas, além de fortalecer a rede de apoio da família e auxilia no melhor desempenho acadêmico por parte das crianças. Com isso, se faz necessário o envolvimento da escola para o entendimento das características das crianças com TEA e a melhor abordagem de acordo com a especificidade de cada um, possibilitando assim um desenvolvimento cada vez melhor da criança 10.

A escola é uma grande aliada para a suspeita do diagnóstico. Após a família, o lugar onde mais é observado alteração no desenvolvimento da criança é dentro da sala de aula, por isso a importância de informações frequentes aos profissionais sobre o assunto, para que as observações deixam de ser baseado em senso comum e passam a se tornar observações baseado em evidência. Essa observação vinda da escola é de grande valia por oportuniza um melhor acolhimento e um integral a criança11.

Por isso a importância na presença da escola no processo de desenvolvimento da criança, o pedagogo com conhecimento nesse tipo de transtorno possibilita reforçar positivamente os comportamentos adequados e ensina a criança a lidar em determinadas situações. Além disso, a escola precisa estar atenta em observar se a criança está sendo incluída na escola, se as necessidades das crianças estão sendo atendidas, para minimizar os problemas causados pelos transtornos12.

O Brasil tem avançado constantemente na busca cada vez mais precoce do diagnóstico de autismo e essa evolução tem acontecido devido a atuação constante dos cuidadores e a busca por conhecimento a cerca dos transtornos, mesmo ainda com a dificuldade da relação entre profissionais da saúde e professores da educação. Essa evolução te permitido cada vez mais estudos a fim de contribuir com o diagnóstico cada vez mais precoce e apoio das famílias13.

DISCUSSÃO

O diagnóstico de autismo acontece através de critérios clínicos, além de sinais e sintomas. Existem 4 critérios para o autismo sendo eles, déficits persistentes na comunicação e interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, sintomas presentes desde o início do desenvolvimento e sintomas que causam prejuízo significativo em diversas áreas da vida, enquadrando em 3 níveis de gravidades. Isso mostra a complexidade que se dá quanto ao diagnóstico precoce, principalmente por ter outros diagnósticos correlacionados com o autismo, dificultando o diagnóstico14.

Um estudo de revisão realizado em 2022 mostrou que o diagnóstico precoce é mais difícil no sexo feminino. Isso se dá devido ao preconceito e padrão de gênero que culturalmente ensina que as meninas devem ser mais comportadas, não sendo levada em consideração a dificuldade de socio comunicação, levando ao diagnóstico mais tardio15. Além disso, um estudo realizado em 2007 mostrou que os sinais do TEA são mais sutis em meninas, ocasionando interpretação incorreta dos sinais e sintomas16.

Em 2012 foi sancionado a Lei nº 12.764, que implementou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno de Espectro Autista, que reconhece a pessoa com TEA como um indivíduo com deficiência, que garantiu uma série de mudanças em diferentes áreas de política pública no país. A lei tem com uma das diretrizes o diagnóstico precoce, o atendimento por equipe multiprofissional, acesso a medicamentos específicos e atenção integral às necessidades de cada indivíduos. A lei foi um marco histórico para os pacientes e seus familiares17.

Indivíduos diagnosticados precocemente podem ter acesso mais cedo a terapias como ABA (Applied Behavior Analysis) que trouxe alteração cognitiva positiva de 86% entre os pacientes que utilizaram essa terapia, contudo, existem diversas técnicas que promovem o melhor desenvolvimento dos pacientes com TEA sendo utilizadas hoje17.

Por isso, é importante buscar uma equipe multiprofissional qualificado em diagnóstico e tratamento do TEA, pois possibilita a diminuição de comportamentos mal adaptativos e a melhora dos sintomas envolvidos com tratamentos adequados18.

CONCLUSÃO

Diante do exposto acima, mostra-se que para que o ocorra o diagnóstico precoce, é importante a interação da família e observação de sinais e sintomas desde os primeiros anos de vida da criança, para que seja buscado o mais precocemente possível profissionais qualificados para atender a necessidade da criança. Além disso, a família consegue de adequar desde o início às particularidades das crianças, buscando escolas qualificadas para atendê-los, e readequação financeira para lidar com os custos do tratamento.

 Vale ressaltar que quanto mais cedo o diagnóstico, mais fácil reverter os sintomas causados pelo transtorno, além do diagnóstico possibilitar que a escola e a família saibam lidar com os atrasos da criança e dificuldade geradas. Por isso, se faz necessário a observação frequente da família sobre os comportamentos das crianças e a qualificação tanto das escolas, quanto dos profissionais médicos para diagnosticar e equipe multidisciplinar em tratar da melhor forma possível cada indivíduo.

REFERÊNCIAS

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  2. LIMA, P.O. A criança com diagnóstico de autismo na contemporaneidade. Cadernos de Psicologia – CESJF, v.1 nº1 p. 5-24, 2019.
  3. MALAGA, I, et al. Prevalencia de los trastornos del espectro autista en niños en Estados Unidos, Europa y España: coincidencias y discrepancias. Medicina (B. Aires), Ciudad Autónoma de Buenos Aires, v. 79, n. 1, supl. 1, p. 4-9, abr.  2019. Disponivel em: <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0025-6802019000200003&lng=es&nrm=iso>. Acesso em  27  nov.  2023.
  4. SALGADO, N.D.M; PANTOJA, J.C; VIANA, R.P.F; PEREIRA, R.G.V. Transtorno do Espectro Autista em crianças: Uma revisão sistemática sobre o aumento da Incidência e Diagnóstico. Research, Society and Development, v. 11, n. 13, 2022.
  5. XAVIER, J.S.; MARCHIORI, T; SCHWARTZMAN, J.S. Parents seeking a diagnosis of Autism Spectrum Disorder for their child.Psicol. teor. prat. [online]. 2019, vol.21, n.1, pp. 170-185. ISSN 1516-3687.  http://dx.doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n1p170-185.
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¹Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória/ES, Brasil