A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO FARMACÊUTICO NAS REDES DE ATENÇÃO PSICOSOCIAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10248130


Carolina Santos Silva,
Mônica Simões Da Silva,
Ana Oclenidia Dantas Mesquita


RESUMO 

A profissão farmacêutica e suas formas de cuidados vem se ressignificando e tendo evoluções com o decorrer do tempo. As redes de atenção psicossocial (CAPS) são dispositivos de saúde e dispõem de serviços de caráter especializado com finalidade de atender usuários que sofrem algum tipo de adoecimento mental grave ou fazem uso indiscriminado de substancia psicoativa como álcool ou drogas, com amparo em situações de crises e na reparação nos processos psicossocial. Para os pacientes diagnosticados ou portadores de algum tipo de patologia mental, em algumas situações é indicado o tratamento medicamentoso e este consiste na utilização de fármacos da classe psicotrópicos, que são medicamentos sujeitos a controle especial, pertencentes à portaria 344/98, por serem drogas que atua no sistema nervoso central, podendo causar alterações cognitivas e comportamentais, bem como causar dependência física ou psíquica. O trabalho tem como propósito enfatizar a importância do profissional farmacêutico no CAPS e como os seus cuidados direcionados ao paciente, tende a minimizar os riscos associados ao uso incorreto dos medicamentos e a otimização nos tratamentos farmacoterapêuticos juntamente a equipe multidisciplinar, promovendo educação em saúde e qualidade de vida. O estudo foi de narrativa literária, por meio da seleção de artigos científicos do período de 2018 a 2023, através das fontes acadêmicas: Scientific Eletronic Online (SCIELO) e Pubmed. O cuidado farmacêutico no centro de atenção psicossocial mostrou ser um diferencial dentro do serviço CAPS, associado à atenção farmacêutica juntamente com a equipe multidisciplinar, irá beneficiar os usuários que dispõe desse serviço, otimizando a farmacoterapia, assegurando que os mesmos façam uso correto e consciente, tornando o tratamento efetivo e seguro. Os profissionais farmacêuticos tem uma jornada muito longa para serem valorizados, com base na aplicação dos estudos do presente trabalho é evidente que a falta deste profissional nas redes de saúde ainda seja realidade e o quanto que a inserção do mesmo tende a trazer melhorias nos serviços, comparado aos pacientes que não tiveram acesso a atenção farmacêutica.

PALAVRA-CHAVE: CUIDADO FARMACEUTICO; CAPS; PSICOTROPICO, FARMACEUTICO NO CAPS. 

ABSTRACT

The pharmaceutical profession and its forms of care have been redefining themselves and evolving over time. Psychosocial care networks (CAPS) are health devices and provide specialized services with the purpose of assisting users who suffer some type of serious mental illness or make indiscriminate use of psychoactive substances such as alcohol or drugs, with support in crisis situations. and repair in psychosocial processes. For patients diagnosed with or suffering from some type of mental illness, in some situations drug treatment is indicated and this consists of the use of drugs from the psychotropic class, which are drugs subject to special control, belonging to ordinance 344/98, as they are drugs which acts on the central nervous system and can cause cognitive and behavioral changes, as well as cause physical or psychological dependence. The purpose of the work is to emphasize the importance of the pharmaceutical professional in CAPS and how their patient-oriented care tends to minimize the risks associated with the incorrect use of medications and the optimization of pharmacotherapeutic treatments together with the multidisciplinary team, promoting health education and quality of life. The study was a literary narrative, through the selection of scientific articles from the period 2018 to 2023, through academic sources: Scientific Eletronic Online (SCIELO) and Pubmed. Pharmaceutical care in the psychosocial care center proved to be a differentiator within the CAPS service, associated with pharmaceutical care together with the multidisciplinary team, it will benefit users who have access to this service, optimizing pharmacotherapy, ensuring that they use it correctly and consciously, making the treatment effective and safe. Pharmaceutical professionals have a very long journey to be valued, based on the application of the studies in this work it is clear that the lack of this professional in health networks is still a reality and how much their inclusion tends to bring improvements in services, compared to patients who did not have access to pharmaceutical care.

KEYWORD: PHARMACEUTICAL CARE; CAPS; PSYCHOTROPIC, PHARMACEUTICAL IN CAPS. 

1 INTRODUÇÃO

A assistência ao paciente com transtornos mentais no Brasil teve início através dos primeiros hospitais psiquiátricos e era realizada de maneira totalmente supressiva, apenas retirando os que eram considerados “loucos” do convívio em sociedade (TEIXEIRA, 2021).

Segundo Santos (2018), tal cenário só veio modificar-se a partir da reforma psiquiátrica nos anos 80, quando a assistência ao paciente com problemas de saúde mental passou a focar na reabilitação deste sujeito e não apenas a sua exclusão. 

Nos anos de 1987 e 1992 ocorreram as Conferências Nacionais de Saúde Mental, que junto com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, promoveu a discussão sobre saúde mental e sofrimento psíquico, tendo como um dos mais importantes temas o trabalho interdisciplinar, e não somente a presença de psiquiatras e assistentes sociais, mas a participação de uma equipe composta por diversos profissionais, dentre estes o profissional farmacêutico (TEIXEIRA, 2021).

No entanto, somente no ano de 2001 quando a Lei 10.2016 foi promulgada houve realmente avanços significativos, pois a mesma trata dos direitos da pessoa doente mental, visando sua autonomia quanto à escolha do tratamento proposto, o direito de aceitar ou não uma internação e sua reinserção em seu meio social (BRASIL, 2001). A partir desta, foram destinados recursos para o financiamento dos serviços abertos de assistência a saúde mental em todo território nacional com o intuito de substituir os manicômios pelos campos de Atenção Psicossocial (AMARANTE, 2018).

O primeiro CAPS do Brasil, denominado Prof. Luís da Rocha Cerqueira foi inaugurado em 1987, e era um local destinado a evitar internações e receber pacientes egressos dos hospitais psiquiátricos, oferecendo a estes um atendimento intensivo a partir de uma nova filosofia de assistência em saúde mental, e que serviu de inspiração para os demais centros que vieram a ser criados. O CAPS é um serviço aberto do SUS, ambiente de referência no tratamento de pessoas que estão em sofrimento mental e também para aqueles que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas como álcool e drogas (BRASIL, 2005).

Para Santos (2018), este é um local onde são tratados os vários tipos de transtornos mentais, e muitos demandam um acompanhamento personalizado e até mesmo diário, fornecendo ao paciente o melhor e mais adequado tratamento objetivando assim proporcionar ao mesmo qualidade de vida, bem como sua reinserção em sociedade.

Por se tratar de um ambiente que cuida de diversos tipos de adoecimento mental, a utilização de medicamentos no tratamento destes pacientes faz-se extremamente necessário, e na maioria deles são prescritas drogas psicotrópicas, que pertencem à lista dos medicamentos sujeitos a controle especial que é regida pela portaria 344/98. De acordo com Silva (2018), os psicotrópicos agem no sistema nervoso central e são capazes de induzir mudanças comportamentais e algumas destas podem até mesmo causar dependência. 

No CAPS a prescrição do tratamento medicamentoso é adequada de forma individualizada para cada paciente, e tem como objetivo a redução gradativa da mesma conforme a melhora dos sintomas. Porém, em muitos casos os pacientes acabam utilizando os medicamentos de forma erronia, o que dificulta o seu tratamento e traz inúmeros riscos a sua saúde. Para Silva (2019) é nesse contexto que a presença do profissional farmacêutico se faz tão necessária no ambiente do CAPS, prestando a atenção farmacêutica e orientando no que diz respeito aos medicamentos.

Destarte, a atenção farmacêutica é um conjunto de ações que promovem o uso seguro e racional dos medicamentos, o monitoramento da farmacoterapêutica, considerando os riscos e benefícios que os fármacos podem causar no indivíduo (SANTOS, 2018). Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar a relevância do profissional farmacêutico diante dos cuidados destinados aos pacientes das redes de atenção psicossocial (CAPS), como forma de obter melhorias nos tratamentos, avaliar e identificar possíveis riscos, além de promover educação em saúde e o uso racional de medicamentos contribuindo tanto para os pacientes quanto para os demais membros da equipe multidisciplinar. 

2 METODOLOGIA

Para a elaboração e estruturação do trabalho, foi realizada uma revisão literária sobre a importância do profissional farmacêutico nos centros de atenção psicossocial (CAPS).  A escolha se deu a partir de artigos científicos do período de 2018 a 2023, por meio de fontes e dados bibliográficos como: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PubMed. Houve a averiguação sobre a credibilidade e veracidade dos dados das fontes selecionadas, havendo algumas considerações a respeito de algumas inconsistências que algumas obras podem manifestar. 

Para o desenvolvimento desse trabalho de revisão bibliográfica, teve como embasamento pesquisas eletrônicas através de artigos científicos, utilizando palavras chaves como descritores: ‘’ pacientes de saúde mental’’, ‘’ atenção farmacêutica’’, ‘’ psicotrópicos’’. Houve a exclusão de artigos científicos que não correlacionava diretamente com o tema ou pela falta de informações procedentes. O trabalho foi divido em três etapas: 

      Etapa I-  Houve a pesquisa e seleção dos artigos, com base nas fontes bibliográficas de acordo com título proposto.

       Etapa II-  Foi feito uma análise dos artigos científicos com base no tema, ano de publicação, idioma e a verificação da veracidade dos artigos lidos para serem utilizados.

       Etapa III-  Todos os artigos selecionados passaram pelo processo de ‘’ corte’’ e foram incluídos somente aqueles que contribuíram para o melhoramento e desenvolvimento do trabalho. 

Figura 1-  Fluxograma das etapas para elaboração da pesquisa bibliográfica.

Após a aplicação dos métodos de pesquisa foram selecionados 14 artigos para serem analisados, logo abaixo apresentam-se os artigos por autoria, ano, título e objetivo.

AUTORIA/ANOTÍTULO DO TRABALHOOBJETIVO
AMARANTE (2018)A reforma psiquiátrica no SUS e a luta por uma sociedade sem manicômiosRefletir sobre a reforma psiquiátrica e as políticas públicas que foram adotadas para efetividade da mesma.
BIZZO (2018)A importância da atuação do profissional farmacêutico na saúde mentalMostrar a necessidade da atuação do profissional farmacêutico qualificado na área da saúde mental
BOSETTO (2020)Interações medicamentosas entre psicofármacos e a relação com o perfil de prescritores e usuáriosTraçar o perfil de prescritores e usuários de psicofármacos e verificar possíveis interações medicamentosas
CAMPOS (2021)Escolaridade, trabalho, renda e saúde mental: um estudo retrospectivo e de associação com usuários de um Centro de Atenção PsicossocialDescrever o perfil sociodemográfico de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e verificar se existem associações entre a variável escolaridade com as demais variáveis sociodemográficas
CAVALCANTE (2021)Medicalização da saúde mental: análise das prescrições de psicofármacos em um serviço de atenção psicossocialConhecer e analisar as prescrições de psicofármacos em um serviço de atenção psicossocial, localizado na região norte do Brasil, relacionando-as com a adesão ao tratamento psicossocial proposto
CINTRA (2019)Abordagens farmacológicas em psicofármacosDescrever a abordagem atual da psicofarmacologia, suas classificações e modos de ações
COSTA (2021)Assistência farmacêutica, atenção farmacêutica e a atuação do profissional farmacêutico na saúde básico.Assistência farmacêutica, atenção farmacêutica e a atuação do profissional farmacêutico na saúde básico.
FRANSKOVIAK (2018)Perfil epidemiológico de usuários de psicotrópicos de um CAPS da Zona da Mata do estado de RondôniaDelinear o perfil epidemiológico dos usuários do CAPS do município de Rolim de Moura, no Estado de Rondônia, que foram medicados com psicotópicos
MARQUEZ (2022)Controle e consumo de psicofármacos e a atuação do farmacêutico: uma revisão integrativaAnalisar o controle e consumo de psicofármacos na atuação do farmacêutico clínico
MONTEIRO (2023)Contribuição do farmacêutico na orientação do uso racional de medicamentosAnalisar as contribuições do farmacêutico e sua respectiva importância no momento da dispensação
SANTOS (2018)A atuação do farmacêutico na saúde mental após a reforma psiquiátrica: uma revisão da literaturaDestacar a atuação do profissional farmacêutico na saúde mental, salientando a essencialidade dos medicamentos psicotrópicos no tratamento de pacientes com transtornos mentais e como o farmacêutico pode contribuir no uso racional desses medicamentos
SANTOS (2019)O abuso de psicofármacos na atualidade e a medicalização da vidaAbordar alguns fatores que possam levar os viventes a recorrerem à utilização de psicofármacos como forma de anestesia de suas angústias.
SILVA (2019)Interações medicamentosas entre psicofármacos em um centro de atenção psicossocialElaborar estratégias e ações educativas direcionadas aos profissionais de saúde, com intuito de racionalizar as prescrições mais frequentes no CAPS de Quixadá
TEIXEIRA (2021)Caps AD: a relevância dos serviços e as contribuições da psicologiaApresentar desde o surgimento do Caps Ad no Brasil, a importância do serviço para os usuários e a comunidade, bem como a relevância da Psicologia frente ao tratamento

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A reforma psiquiátrica no Brasil teve inicio no final dos anos 70 quando a assistência ao paciente em sofrimento mental passou a focar na reabilitação deste e não apenas a sua retirada do convívio em sociedade, sendo “aprisionados” nos hospitais psiquiátricos e manicômios (AMARANTE, 2018).

De acordo com Amarante (2018), a atenção à saúde mental no Brasil é decorrente de várias mudanças históricas, tais como movimentos políticos e sociais realizados por usuários, suas famílias e profissionais da área de saúde, que tinham o objetivo de transformar o modelo manicomial em um modelo de atenção a saúde que garantisse os direitos das pessoas com transtornos mentais. A principal manifestação realizada nesse período ocorreu durante o I Encontro Nacional dos Trabalhadores da Saúde Mental em 1987, onde o Movimento Social da Luta Antimanicomial que tinha como lema uma sociedade sem manicômios, apresentou um projeto elaborado de forma coletiva, que defendia extinguir os meios de contenção utilizados durante o tratamento, a restituição dos direitos do paciente e sua autonomia com relação ao tratamento (BRASIL, 2013).

Segundo Santos (2018), por muitos anos os pacientes com problemas mentais foram internados em manicômios de forma compulsória, afastados do convívio familiar e social e submetidos a terapêuticas cruéis. Com a Reforma Psiquiátrica foi criada a Política Nacional de Saúde Mental e os manicômios então foram substituídos pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Hospitais-Dias (HDs) e as Residências Terapêuticas (RTs) (BRASIL, 2013). 

O primeiro CAPS do Brasil, denominado Prof. Luís da Rocha Cerqueira inaugurado em 1987, era um local destinado a acolher os egressos dos hospitais psiquiátricos e lhes oferecer um atendimento mais humanizado, e que serviu como modelo para os demais CAPS que vieram a surgir (BRASIL, 2005).

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são um serviço gratuito do sistema único de saúde (SUS), e de acordo com Cavalcante (2021), este é um local de referência no tratamento para as pessoas em sofrimento mental, sendo os principais destes a neurose, psicose, além de outros transtornos que justificam o acompanhamento do paciente em uma unidade de atenção diária e personalizada, que tem como objetivo a reinserção do mesmo em sociedade. 

O CAPS é a instituição responsável pelo primeiro acolhimento ao usuário do serviço, com o foco na alta terapêutica e continuidade do cuidado, assim como reinserção social do usuário junto aos cenários sociais. O funcionamento do CAPS envolve uma rede com assistência multiprofissional e interdisciplinar, que tem ênfase nos serviços de base comunitária, prestação de assistência social aos usuários e seus familiares assistidos pela instituição (BRASIL, 2011).

Por ser uma instituição que trata pacientes com transtornos mentais, utilização de medicamentos psicotrópicos são quase que indispensável no tratamento dos mesmos. Este tipo de tratamento tem sido a principal escolha para tratar as doenças mentais e na maioria das vezes é utilizado com algum tipo de psicoterapia, objetivando assim um melhor resultado (FRANSKOVIAK, 2018).

Com a descoberta de novos fármacos e os avanços tecnológicos, os psicofármacos tem se mostrado cada vez mais seguros e eficazes para o tratamento dos mais diversos tipos de transtornos mentais, mais ainda assim, muitos deles causam dependência e alguns efeitos adversos, o que acaba por dificultar a adesão ao tratamento. (CAVALCANTE, 2021).

Os pacientes usuários de psicofármacos podem não se adaptar ao tratamento, apresentando reações adversas ou até mesmo ser intoxicado pelo uso indevido de outras drogas durante o tratamento medicamentoso, o que representa uma ameaça à sua saúde. Nesse sentido, o profissional farmacêutico desempenha um papel fundamental por meio das orientações e intervenções farmacêuticas como forma de garantir o uso racional dos medicamentos e promover a recuperação da saúde mental dos pacientes. (SILVA, 2019).

Desta forma, este estudo é relevante para o cenário acadêmico porque o profissional farmacêutico, dentro do ambiente do CAPS, exerce um papel maior do que apenas dispensar medicamentos, ele cumpre a sua função garantindo o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes, trabalhando para evitar problemas no âmbito das medicações. Assim levantam-se os questionamentos quanto à relevância do profissional farmacêutico nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e sua conduta quanto à terapêutica medicamentosa dos pacientes usuários destas unidades. 

3.1 Classificação dos psicofármacos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002), o medicamento é “todo produto utilizado para modificar ou investigar sistemas fisiológicos ou estados patológicos, em benefício da pessoa que utiliza”. Eles possibilitam cura e prolongam a vida retardando o aparecimento de diversas complicações relacionadas às doenças, possibilitando então a convivência entre o indivíduo e a sua doença. Dentre os tipos de medicamentos existentes, os que causam alterações no desempenho do Sistema Nervoso, e provocam modificações no estado mental, são denominados psicotrópicos. (OMS, 2002).

Os psicofármacos são medicamentos que agem no Sistema Nervoso Central (SNC) dos seres humanos, por conta dos seus modificadores seletivos que procuram tratar as consequências neurológicas dos transtornos psíquicos, e são responsáveis por estimular seletivamente a atividade mental. (BOSETTO, 2020).

Algo importante a ser destacado é quanto à classificação dos psicofármacos, segundo Cintra (2019), as classes dos psicofármacos têm sua ação sobre o SNC e atividade neural, seus efeitos dependem do tipo de substância, dose administrada e esquema de tratamento, podendo ser depressores, estimuladores ou antipsicóticos, a fim de controlar comportamentos, humores e pensamentos “normais”, tendo um impacto muito grande para cada sujeito de modo individual.

A utilização de substâncias psicotrópicas tem como objetivo aliviar os sintomas causados por algum transtorno mental, bem como, a modificação do humor, da emoção e do comportamento. Sendo assim, o tratamento medicamentoso é fundamental para amenização dos sintomas indesejáveis desses transtornos. Os efeitos buscados pela ingestão de medicamentos psicotrópicos são: o alívio da euforia, ansiedade, depressão e a promoção do sono. Porém, isso tem levado a população a fazer o uso indiscriminado e compulsivo desses medicamentos. (MARQUEZ, 2022).

Devido aos efeitos adversos provocados e o uso indiscriminado dessa classe de medicamento, a Secretaria de Vigilância Sanitária passou a monitorar por intermédio da Portaria 344/98, a dispensação desse tipo de medicamento com receituários especiais, que devem ser preenchidos obrigatoriamente pelo médico e são indispensáveis no ato da dispensação (ANVISA, 1998). Por serem medicamentos psicoativos, a dispensação deve ser feita por um profissional farmacêutico, acompanhada de uma atenção farmacêutica, com o intuito de prevenir possíveis efeitos adversos, interações medicamentosas e uso o incorreto do medicamento, o que pode acarretar prejuízo ao tratamento do paciente. (SANTOS, 2018).

Essa função informativa e educativa da dispensação é imprescindível na rede de assistência à saúde, pois é uma das últimas oportunidades de ainda dentro do sistema de saúde, identificar, corrigir ou minimizar os possíveis riscos relacionados à farmacotêrapia (SILVA, 2019).

3.2 O uso inadequado dos psicofármacos

O uso irracional dos psicofármacos tem sido uma preocupação no Brasil e no mundo devido ao seu aumento. A OMS estima que a maioria dos medicamentos sejam prescritos, comercializados ou dispensados de forma inadequada e utilizado de forma incorreta pela maioria dos pacientes. (OMS, 2010).

Existem atualmente uma variedade muito grande de medicamentos psicotrópicos, e a indústria farmacêutica tem investido cada vez mais em pesquisa e produção de novos fármacos dessa classe. Dessa forma o médico tem a sua disposição uma enorme lista de fármacos na hora da prescrição, e por muitas vezes é prescrita ao paciente a utilização de duas ou mais substâncias concomitantemente, o que torna o tratamento mais perigoso para o paciente em função da maior probabilidade de interação entre essas medicações. (SANTOS, 2019). Segundo Bosetto (2020), interações medicamentosas que envolvem psicotrópicos comprometem principalmente o processo de metabolização. Elas podem aumentar consideravelmente o risco de intoxicação, devido à inibição de algumas isoenzimas do citocromo P450, e ativar as reações adversas.

É possível que aconteçam várias interações medicamentosas, especialmente quando se tratar de drogas que atuam no sistema nervoso central como os antipsicóticos, antidepressivos, anticonvulsivantes, ansiolíticos e estabilizadores de humor. As associações entre esses fármacos são muito comuns, e muitas vezes não podem ser evitadas. As associações entre esses medicamentos precisam ser acompanhadas e avaliadas no momento da prescrição, visto que as interações medicamentosas podem ocasionar consequências graves à saúde. Nesse sentido, compete ao farmacêutico averiguar os possíveis riscos para o paciente e prevenir eventuais erros de prescrição que possam invalidar os efeitos terapêuticos, potencializar a ação de certos fármacos ou intensificar reações adversas. (SILVA, 2019).

Inúmeros são os fatores que contribuem para a utilização dos medicamentos de maneira equivocada. Segundo Campos (2021) normamente, o perfil dos usuários dos Centros de Assistência Psicossocial (CAPS) são adultos entre 30 e 40 anos, solteiros e com baixa escolaridade. E como se trata de um paciente em sofrimento mental, o entendimento quanto à utilização correta das medicações fica ainda mais dificultada. Os psicofármacos são medicamentos necessários e seguros, no entanto podem gerar dependência física e/ou psíquica. A dependência psíquica contribui para o desenvolvimento do uso compulsivo desses fármacos, resultando no vício, o que leva a distorção dos valores éticos e sociais do sujeito, afetando seu comportamento social (SILVA, 2019).

Nesse contexto que se faz extremamente necessário que o paciente dos Centros de Assistência Psicossocial tenha uma assistência farmacêutica eficaz para efetivar o melhor tratamento para esses pacientes, uma vez que na maioria dos casos psiquiátricos o uso dos medicamentos é indispensável. É importante que exista um processo educacional onde o profissional farmacêutico esclareça para o paciente o porquê de ele utilizar um dado medicamento, e que o mesmo deve ser administrado de forma correta e racional. O farmacêutico deve possibilitar condições para que o paciente e seus familiares venham a entender sua doença e possam trata-la da melhor maneira (SANTOS, 2018).

3.3 Atenção farmacêutica no ambiente do CAPS

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Atenção Farmacêutica e a Assistência Farmacêutica têm pontos em comum. De acordo com a Política Nacional de Medicamentos (PNM), podemos defini-las como “grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade” (BRASIL, 1998).

A reforma psiquiátrica também exigiu mudanças na Assistência Farmacêutica, a qual engloba um conjunto de ações e de serviços que tem como propósito possibilitar a assistência terapêutica integral, a promoção e recuperação da saúde, incluindo atividades de pesquisa e seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, dispensação e promoção do uso racional de medicamentos. Estes são compreendidos como elementos fundamentais para a saúde que precisam estar disponíveis e serem utilizados de modo racional (BRASIL, 2005).

De acordo com Bizzo (2018), inúmeros são os benefícios da atuação do farmacêutico junto à equipe multidisciplinar nos CAPS, no entanto pouco se fala da participação do mesmo no âmbito da saúde mental. A presença do profissional farmacêutico não é obrigatória na equipe dos Centros de Atenção Psicossocial se este não possuir uma farmácia central de distribuição de medicamentos, e ainda assim é raro o contato direto deste profissional com os pacientes, o que dificulta a atenção farmacêutica. Bizzo (2018) afirma ainda, que a não obrigatoriedade da presença do farmacêutico nestas unidades priva o paciente e seus familiares de receberem uma orientação adequada quanto à utilização correta dos medicamentos.

A atenção farmacêutica (AF) é um processo de cuidados no qual o farmacêutico atua juntamente a equipe multidisciplinar, na implementação e monitoração com base nos planos farmacoterapeuticos, a fim de promover educação em saúde e estabelecer o uso racional de medicamentos, esse cuidado inclui o tratamento de forma humanizada, e o contato direto com o paciente possibilitando efetividade e segurança no que diz respeito aos tratamentos farmacológicos.  Costa et al. (2021)

O farmacêutico pode oferecer um plano individualizado e didático juntamente com a equipe multidisciplinar da rede de saúde, o qual o mesmo esta inserido, essa pratica deve atender a um conjunto de ações que tem como objetivo assegurar e assistencializar as condutas terapêuticas, promovendo o uso racional de medicamentos e trabalhando na promoção e recuperação de saúde tanto no âmbito público quanto privado. (BRASIL, 2014).

A AF busca potencializar os cuidados farmacêuticos como forma de melhorar a orientação farmacêutica, a organização mundial da saúde (OMS) estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente. Sendo um agravante enfrentado pelas redes de saúde, podendo causar inúmeros problemas para a população. (Monteiro; Souza, 2023).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profissional farmacêutico ainda tende a construir uma longa jornada de valorização diante da população quanto nos serviços de saúde. Com base nas literaturas descritas do presente trabalho é evidente que a falta deste profissional nas redes de saúde quanto nas equipes multiprofissionais é pertinente, e percebe-se o quanto que a inserção do mesmo é um diferencial e contribui para um serviço especializado para os usuários, em contrapartida os que não obtiveram deste acompanhamento poderão sofrer com alguns prejuízos.    

As esferas de saúde são responsáveis por dispor e inserir o profissional farmacêutico e ofertar o serviço de atenção farmacêutica especializada do SUS direcionada ao paciente, no que refere-se ao tratamento medicamentoso farmacoterapeutico, é indispensável o farmacêutico sendo atuante nos cuidados, minimizando riscos na farmacoterapia  tornando segura e efetiva. 

Ainda não há uma obrigatoriedade que exija o farmacêutico presente nos centros de atenção psicossocial (CAPS), e nos cuidados de atenção farmacêutica especializada ao paciente. Sendo assim, o presente trabalho teve como intuito fornecer informações e enfatizar acerca da importância do cuidado farmacêutico e como os pacientes podem ser beneficiados com relação aos seus tratamentos farmacológicos, contribuindo para a promoção em saúde e fomentando o uso consciente e seguro dos medicamentos. 

REFERÊNCIAS

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