A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA: IMPACTOS NA SAÚDE NEONATAL E NO VÍNCULO MÃE-BEBÊ

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506071440


Vanderly Marinho dos Santos1
Orientadora: Prof. Esp. Gracilene Oliveira da Silva2


Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as evidências científicas disponíveis sobre os benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida do recém-nascido, destacando seus impactos na saúde neonatal e na promoção do vínculo afetivo entre mãe e bebê. Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada entre janeiro de 2024 e abril de 2025. Após uma análise dos 251 artigos encontrados foram incluídos 30 estudos que abordam diretamente o início precoce da amamentação, seus efeitos fisiológicos, emocionais e as barreiras para sua implementação. A análise revelou que o aleitamento imediato favorece a estabilização térmica e glicêmica do recém-nascido, reduz riscos de morbidades e mortalidade neonatal, além de fortalecer o vínculo mãe-bebê e facilitar o sucesso da amamentação a longo prazo. Apesar dos benefícios comprovados, desafios como cesarianas, desconhecimento materno e falhas institucionais ainda dificultam a prática. Conclui-se que a promoção do aleitamento na primeira hora de vida exige ações educativas e estruturais nos serviços de saúde, com o envolvimento ativo da equipe multiprofissional.

Palavras-chave: Aleitamento materno. Primeira hora de vida. Recém-nascido. Saúde neonatal. Vínculo mãe-bebê.

Abstract

This article aims to analyze the available scientific evidence on the benefits of breastfeeding in the first hour of a newborn’s life, highlighting its impacts on neonatal health and on the promotion of the emotional bond between mother and baby. This is a bibliographic review carried out between January 2024 and April 2025. After analyzing the 251 articles found, 30 studies were included that directly address the early initiation of breastfeeding, its physiological and emotional effects, and the barriers to its implementation. The analysis revealed that immediate breastfeeding favors the thermal and glycemic stabilization of the newborn, reduces the risks of neonatal morbidity and mortality, in addition to strengthening the mother-baby bond and facilitating the success of breastfeeding in the long term. Despite the proven benefits, challenges such as cesarean sections, maternal lack of knowledge, and institutional failures still hinder the practice. It is concluded that promoting breastfeeding in the first hour of life requires educational and structural actions in health services, with the active involvement of the multidisciplinary team.

Keywords: Breastfeeding. First hour of life. Newborn. Neonatal health. Mother-baby bond.

1. INTRODUÇÃO

O aleitamento materno na primeira hora de vida representa uma das práticas mais recomendadas pelas instituições de saúde nacionais e internacionais devido aos seus amplos benefícios para a saúde do recém-nascido e para o fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê. Este momento inicial de contato pele a pele e de amamentação precoce é considerado determinante para o início bem-sucedido da lactação, contribuindo para a estabilidade fisiológica do neonato e para o estímulo de processos hormonais importantes na mãe. Apesar disso, em diversos contextos de assistência ao parto e nascimento, essa prática ainda é negligenciada, seja por barreiras estruturais, culturais ou pela ausência de preparo adequado dos profissionais envolvidos no cuidado imediato ao nascimento. (CUNHA; SILVA, 2019)

Durante a primeira hora de vida, o recém-nascido encontra-se em um estado de alerta calmo, biologicamente preparado para buscar o seio materno e iniciar a sucção. Nesse período, o fornecimento do colostro — primeiro leite secretado pela mãe — é essencial, pois contém alta concentração de imunoglobulinas, enzimas, fatores antimicrobianos e elementos nutricionais que promovem proteção contra infecções, estimulam o funcionamento intestinal e contribuem para o amadurecimento do sistema imunológico. Além de suas propriedades fisiológicas, o colostro é considerado uma primeira vacina natural que confere ao neonato uma importante defesa passiva. (GOMES; OLIVEIRA, 2020)

Paralelamente aos benefícios físicos, o aleitamento materno precoce favorece a liberação de ocitocina, o que intensifica as contrações uterinas, auxilia na prevenção de hemorragias pós-parto e, especialmente, promove sentimentos de bem-estar e apego entre mãe e filho. Esse processo, frequentemente denominado de “hora de ouro”, é marcado por um contato íntimo que favorece o reconhecimento mútuo, a comunicação não verbal e a construção do vínculo emocional desde os primeiros instantes de vida. Assim, o aleitamento imediato torna-se uma prática de extrema relevância não apenas para o sucesso da lactação, mas também para o desenvolvimento afetivo e psicológico da criança. (CUNHA; SILVA, 2019)

Entretanto, mesmo com as evidências robustas que sustentam a importância dessa prática, muitas instituições ainda falham em implementá-la de forma sistemática. Entre os fatores que dificultam sua realização estão a medicalização excessiva do parto, o número reduzido de profissionais capacitados, a separação precoce do binômio mãe-bebê e a ausência de políticas institucionais que priorizem o contato pele a pele imediato. Essas lacunas geram um cenário preocupante, no qual muitos recém-nascidos são privados dos benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida, comprometendo sua saúde e bem-estar em curto e longo prazo. (GOMES; OLIVEIRA, 2020)

Compreender, portanto, os efeitos dessa prática sobre a saúde neonatal e sobre o vínculo mãe-filho torna-se uma demanda urgente na promoção de uma assistência obstétrica mais humanizada e eficaz. Esta investigação busca aprofundar os conhecimentos sobre o papel do aleitamento materno precoce, evidenciando como sua realização pode ser determinante para a redução da morbimortalidade infantil, para o fortalecimento das relações afetivas iniciais e para o sucesso prolongado da amamentação. (GOMES; OLIVEIRA, 2020)

A relevância da pesquisa está, assim, na possibilidade de sensibilizar profissionais de saúde, especialmente da enfermagem, bem como gestores e formuladores de políticas públicas, a incorporarem e defenderem estratégias que garantam essa prática nos serviços de saúde.

Diante disso, propõe-se refletir sobre a importância do aleitamento materno realizado na primeira hora de vida, considerando seus efeitos diretos sobre a saúde do recém-nascido e seu papel no estabelecimento de uma relação afetiva entre mãe e filho. A partir dessa análise, espera-se contribuir para a valorização dessa prática como pilar fundamental no cuidado neonatal e na promoção da saúde integral desde os primeiros momentos de vida.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica de natureza qualitativa, cujo objetivo principal é reunir e analisar criticamente as evidências científicas disponíveis sobre os benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida do recém-nascido. A escolha por esse tipo de investigação se justifica pela relevância de se compreender, a partir do acervo teórico existente, as implicações clínicas, emocionais e sociais dessa prática para a saúde neonatal e o fortalecimento do vínculo entre mãe e filho.

A pesquisa abrange publicações científicas nacionais e internacionais, incluindo artigos originais, revisões sistemáticas, dissertações, teses e capítulos de livros, com ênfase nos estudos que tratam especificamente do início precoce da amamentação, seus efeitos imediatos e a longo prazo, bem como os desafios enfrentados na implementação dessa prática no contexto dos serviços de saúde.

Os critérios de inclusão adotados compreenderam estudos disponíveis na íntegra, que abordassem diretamente o aleitamento materno na primeira hora de vida. Foram priorizados estudos que apresentassem dados empíricos ou reflexões fundamentadas sobre os benefícios fisiológicos e emocionais da amamentação precoce. 

Por outro lado, foram excluídas as publicações que não tratassem especificamente do aleitamento materno imediato após o parto, bem como aquelas que não estivessem disponíveis em formato digital, sem a possibilidade de traduzir para o portugues ou cujo acesso ao conteúdo completo estivesse restrito.

Durante a coleta de dados, foram encontrados 251 artigos no total. Desses, 85 artigos fugiram do tema central da pesquisa, sendo considerados irrelevantes para o foco do estudo. Além disso, 43 artigos estavam repetidos, o que resultou em um número menor de fontes únicas. 53 artigos não estavam disponíveis para download, impossibilitando sua análise. Outros 40 artigos não possuíam tradução para a língua portuguesa, o que também limitou sua inclusão na análise. Como resultado, restaram 30 artigos que foram analisados de maneira aprofundada, uma vez que atenderam aos critérios de relevância, qualidade e disponibilidade.

Esses 30 artigos selecionados passaram por uma análise detalhada, permitindo a identificação dos benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida. A pesquisa contemplou o período de janeiro de 2024 a abril de 2025, de modo a garantir a inclusão de estudos atualizados e pertinentes à temática investigada.

A análise dos dados foi conduzida de forma sistemática e crítica, considerando a relevância, a qualidade metodológica e a aplicabilidade dos achados para a prática clínica e para a formulação de estratégias de promoção à saúde. A interpretação dos resultados teve como foco os principais benefícios identificados na literatura sobre o aleitamento materno precoce, os fatores que influenciam sua adesão e os impactos sobre o vínculo afetivo e o desenvolvimento saudável do recém-nascido.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O colostro é o primeiro líquido produzido pelas glândulas mamárias após o parto e é considerado uma substância vital para a saúde e o desenvolvimento do recém-nascido. Sua composição é única e altamente especializada, fornecendo uma combinação poderosa de nutrientes, anticorpos e fatores de crescimento que são essenciais para o bebê nos primeiros dias de vida (ROCHA et al., 2020).

Em termos de composição, o colostro é rico em proteínas, vitaminas, minerais e gorduras, além de apresentar níveis elevados de imunoglobulina A (IgA), componente essencial para a proteção do recém-nascido contra infecções respiratórias e gastrointestinais nos primeiros dias de vida (OLIVEIRA et al., 2023). Essa combinação de nutrientes e componentes imunológicos fornece ao bebê uma proteção vital contra patógenos, ajudando a fortalecer seu sistema imunológico ainda em desenvolvimento.

A importância do colostro ultrapassa o aspecto nutricional. Em recém-nascidos de países em desenvolvimento, onde a exposição a agentes patogênicos é mais frequente, o colostro pode ser determinante para a sobrevivência nos primeiros dias de vida. Segundo dados da OMS (2020), a administração do colostro pode reduzir em até 45% a mortalidade neonatal por causas infecciosas. Tais dados ressaltam o colostro não apenas como alimento, mas como um potente agente protetor.

O colostro exerce efeito laxativo leve, contribuindo para a eliminação do mecônio e auxiliando no funcionamento do trato digestivo do recém-nascido, o que facilita a digestão do leite materno nos dias subsequentes (FERREIRA; PRADO, 2022). Essa ação laxativa do colostro também ajuda a reduzir o risco de icterícia neonatal, uma condição comum em recém-nascidos caracterizada pelo aumento da bilirrubina sérica.

Portanto, o consumo de colostro nos primeiros dias de vida é fundamental para o bebê, pois além de fornecer nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento, também proporciona proteção imunológica imediata contra infecções oportunistas (FREITAS et al., 2021). Segundo Lima (et al., 2023), “o colostro representa o primeiro gesto biológico de cuidado e proteção oferecido ao recém-nascido pela mãe”.

Estudos recentes indicam que a administração de colostro nas primeiras horas de vida favorece a colonização intestinal com microbiota benéfica, o que fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de doenças alérgicas e autoimunes durante a infância (BARROS et al., 2023).

O colostro é reconhecido como um fluido biológico exclusivo, com funções nutricionais e imunológicas essenciais para o recém-nascido. Por ser o primeiro alimento pós-natal, contribui significativamente para o desenvolvimento saudável e a redução de riscos infecciosos nos primeiros dias de vida (Silva et al., 2021).

Fonte: Elaborado pelo autor (2025).

A Tabela 1 ilustra a composição multifuncional do colostro, reforçando sua importância como primeiro alimento do recém-nascido. Ela evidencia como a nutrição e a imunidade são integradas para atender às necessidades fisiológicas do bebê.

O colostro, primeiro alimento ofertado pela mãe, é altamente nutritivo e imunologicamente ativo, sendo essencial para a proteção do recém-nascido contra infecções. De acordo com estudos recentes, o colostro funciona como uma “imunização natural inicial”, pois contém anticorpos que ajudam a fortalecer o sistema imune do bebê nas primeiras horas de vida (MARTINS; SILVA, 2023). A oferta desse fluido nas primeiras horas é determinante para a saúde neonatal.

O aleitamento materno na primeira hora de vida é um momento primordial para o recém-nascido, proporcionando uma série de benefícios tanto imediatos quanto a longo prazo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) destaca que o contato pele a pele e a amamentação imediata são práticas essenciais para a promoção da amamentação exclusiva e a redução da mortalidade neonatal. Durante esse período, o bebê está alerta e receptivo ao contato com a mãe, facilitando a sucção e o início da produção de leite.

Além disso, a primeira hora de vida é fundamental para o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho. Segundo Andrade et al., 2022, o contato pele a pele e a amamentação precoce estimulam a liberação de ocitocina, o “hormônio do amor”, que reforça o apego emocional e favorece a conexão entre ambos.. Esse vínculo emocional fortalece o relacionamento entre mãe e filho desde o início, proporcionando segurança e conforto para ambos.

O aleitamento precoce traz benefícios diretos para mãe e bebê, abrangendo aspectos fisiológicos, imunológicos e emocionais. Esses benefícios explicam por que a prática é considerada prioritária em protocolos de humanização do parto.

É importante destacar que o momento do nascimento representa uma janela crítica para a programação biológica do recém-nascido. Pesquisas em neurodesenvolvimento apontam que o contato imediato com a mãe e o início da amamentação favorecem padrões neurológicos mais estáveis, como sono regular, menor irritabilidade e estabilidade térmica e hemodinâmica (Teixeira et al., 2023). Esses achados confirmam a relevância do contato precoce não apenas como facilitador da amamentação, mas como estabilizador fisiológico do recém-nascido.

O estabelecimento precoce do aleitamento materno também ajuda a reduzir o risco de complicações de saúde para a mãe. Estudos mostram que a amamentação na primeira hora após o parto está associada a uma redução do risco de hemorragia pós-parto e ajuda na contração uterina, promovendo uma recuperação mais rápida para a mãe (RENFREW et. al., 2022).

O aleitamento materno na primeira hora de vida é essencial para garantir um começo saudável e feliz para o bebê, promovendo o vínculo emocional entre mãe e filho, fornecendo nutrientes essenciais e proteção contra doenças desde os primeiros momentos após o nascimento.

O aleitamento materno na primeira hora de vida é um momento primordial que exerce um impacto significativo no sucesso e na continuidade da amamentação. 

Conforme demonstrado por Diniz (et al., 2023), o contato imediato entre mãe e bebê e a amamentação na primeira hora estimulam a produção de ocitocina, hormônio que favorece o vínculo, contribui para a contração uterina e melhora os índices de sucesso da lactação.

A primeira hora de vida representa um momento de alta sensibilidade neurossensorial do recém-nascido, ideal para o início da amamentação. Conforme apontado por Nunes (et al., 2023), nesse período os reflexos de busca e sucção estão intensificados, favorecendo a pega correta e o início eficaz da lactação.

O aleitamento materno nas primeiras horas de vida também se relaciona a práticas alimentares mais saudáveis no futuro. Estudos mostram que mães que iniciam a amamentação imediatamente após o parto tendem a evitar o uso precoce de fórmulas e chupetas, favorecendo a amamentação exclusiva prolongada (Lima et al., 2023).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), a amamentação na primeira hora de vida reduz o risco de mortalidade neonatal e infantil, fortalece o sistema imunológico do bebê e promove o vínculo emocional entre mãe e filho, contribuindo para o desenvolvimento saudável da criança.

Evidências recentes indicam que a amamentação precoce aumenta significativamente as chances de manutenção da amamentação exclusiva até os seis meses, contribuindo para padrões alimentares saudáveis e sustentáveis na infância (CASTRO et al., 2022). O estabelecimento precoce da lactação e a criação de um padrão alimentar saudável nos primeiros dias de vida do bebê podem influenciar positivamente a continuidade e a duração da amamentação ao longo do tempo.

Portanto, garantir que o aleitamento materno seja iniciado dentro da primeira hora de vida é uma intervenção fundamental para promover a saúde e o bem-estar tanto do bebê quanto da mãe, estabelecendo as bases para uma amamentação bem-sucedida e duradoura.

O apoio institucional durante o trabalho de parto e o pós-parto imediato continua sendo um fator determinante para o sucesso do aleitamento precoce. Instituições que adotam as diretrizes da IHAC demonstram índices superiores de amamentação na primeira hora de vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). Tais políticas públicas demonstram a importância do cuidado multiprofissional nesse momento crítico.

O papel do enfermeiro no apoio ao aleitamento materno na primeira hora de vida é essencial para promover uma experiência positiva e bem-sucedida para a mãe e o bebê.

Segundo Mendes (et al., 2023), o enfermeiro exerce papel central na orientação das puérperas, promovendo o aleitamento materno com suporte técnico e emocional desde os primeiros minutos de vida do bebê.

Essa orientação inicial é fundamental para estabelecer uma base sólida para a amamentação e garantir que as mães se sintam confiantes e capacitadas para alimentar seus bebês.

Além de oferecer informações sobre os benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida, o enfermeiro também desempenha um papel importante no auxílio às mães com diferentes posições de amamentação.

Segundo Pereira (et al., 2023), o enfermeiro tem papel fundamental ao orientar as mães sobre técnicas de amamentação e posições confortáveis que promovam uma pega eficaz desde a primeira hora de vida.

Essa assistência prática é fundamental para superar possíveis dificuldades iniciais e garantir uma amamentação bem-sucedida desde o início.

A amamentação precoce exerce influência positiva também sobre a flora intestinal do recém-nascido. O colostro contém prebióticos naturais que favorecem o crescimento de bactérias benéficas, como bifidobactérias, essenciais para a imunidade e digestão infantil (ZIVKOVIC et al., 2021). Essa colonização inicial é determinante para a saúde gastrointestinal e imunológica ao longo da infância.

O enfermeiro está preparado para identificar e intervir precocemente em problemas potenciais que possam surgir durante a amamentação na primeira hora de vida.

Silva (2020) destaca que “o enfermeiro pode avaliar a pega do bebê, a produção de leite materno e quaisquer sinais de desconforto ou dificuldade durante a amamentação, oferecendo suporte e intervenções adequadas para resolver esses problemas”. Onde essa abordagem proativa é primordial para prevenir complicações futuras e garantir uma experiência positiva de amamentação para mãe e bebê.

Ademais, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na criação de um ambiente favorável à amamentação na primeira hora de vida. 

De acordo com Silva e Martins (2022), “o enfermeiro é responsável por garantir o contato pele a pele imediato, criando condições ideais para o início da amamentação e o fortalecimento do vínculo entre mãe e recém-nascido”. Essa prática facilita o estabelecimento da lactação e promove o vínculo emocional entre mãe e filho, contribuindo para uma transição suave para a vida extrauterina.

Sendo assim, o enfermeiro desempenha um papel fundamental no apoio ao aleitamento materno na primeira hora de vida, fornecendo informações, orientações práticas e suporte emocional às mães e bebês. Sua atuação é essencial para garantir uma experiência positiva e bem-sucedida de amamentação desde os primeiros momentos de vida do bebê.

A presença de doulas e consultoras de lactação também pode ser decisiva. Segundo Oliveira e Santos (2020), a atuação desses profissionais auxilia na diminuição da ansiedade materna, contribuindo para um ambiente favorável ao vínculo afetivo e à amamentação precoce. A escuta ativa e o apoio emocional são ferramentas potentes na promoção da prática.

Considerando as evidências científicas mais relevantes, o quadro 1 a seguir apresenta uma síntese de estudos recentes que investigam os impactos do aleitamento materno na primeira hora de vida, o papel do enfermeiro, os fatores de risco associados à não amamentação precoce e os benefícios desta prática para mães e bebês.

Quadro 1: Distribuição dos artigos segundo ano de publicação, base de dados e modelo para publicação eletrônica

Autores (Ano)ObjetivoAchados PrincipaisConsiderações Finais
ALMEIDA et al. (2021)Relacionar aleitamento precoce à prevenção da depressão pós-partoAleitamento precoce reduz sintomas depressivos em puérperasDeve ser considerado estratégia de saúde mental materna
ALMEIDA et al. (2022)Avaliar riscos do atraso na amamentação precoceMaior risco de infecções, hipoglicemia e mortalidade neonatalRessalta a importância da primeira hora de vida para a saúde do RN
ANDRADE et al. (2022)Investigar efeitos hormonais da amamentação precoce no vínculo mãe-bebêLiberação de ocitocina e fortalecimento do vínculo afetivoReforça a relevância do contato precoce pele a pele
BARROS et al. (2023)Analisar a influência do colostro na microbiota e imunidade neonatalEstimula colonização intestinal benéfica e resposta imunológicaIndica o colostro como essencial para a saúde imunológica
COSTA et al. (2022)Estimar impactos econômicos da amamentação precoce nos sistemas de saúdeRedução de doenças crônicas e custos hospitalaresApoia políticas públicas para incentivo ao aleitamento imediato
DINIZ et al. (2023)Investigar a influência da ocitocina na amamentação e recuperação maternaAumento da contração uterina e fortalecimento do vínculo mãe-bebêAmamentação precoce melhora desfechos físicos e emocionais maternos
FERREIRA; PRADO (2022)Analisar a função digestiva do colostro no neonatoEstimula evacuação do mecônio e digestãoPrevine icterícia e favorece adaptação digestiva inicial
FREITAS et al. (2021)Destacar a importância imunológica do colostroPresença de anticorpos e proteção contra infecçõesO colostro é considerado uma imunização natural
LIMA et al. (2022)Relacionar aleitamento precoce com menor uso de fórmulas e chupetasRedução significativa do uso de fórmulas nos primeiros diasAleitamento precoce favorece amamentação exclusiva
LIMA et al. (2023)Abordar o colostro como símbolo imunológico e fisiológicoReforça papel simbólico e imunológico do colostroDeve ser valorizado como primeiro cuidado biológico da mãe

Fonte: Elaborado pelo autor com base nas referências utilizadas (2025).

Os estudos apresentados no quadro 1 reforçam de forma unânime os múltiplos benefícios do aleitamento materno na primeira hora de vida e a importância do envolvimento de profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, na promoção dessa prática. Evidencia-se que a amamentação precoce é uma estratégia eficaz para a redução da morbimortalidade neonatal, o fortalecimento do vínculo mãe-bebê e a melhora da saúde mental materna. Tais achados sustentam a urgência de políticas públicas, capacitação profissional e ações educativas que garantam o início precoce da amamentação como prática institucionalizada nos serviços de saúde.

A falta de amamentação na primeira hora de vida representa uma preocupação significativa no cenário da saúde materno-infantil. Segundo Martins e Oliveira (2021), “a primeira hora após o parto constitui uma janela crítica de oportunidade para a proteção da saúde do recém-nascido por meio do contato pele a pele e da amamentação imediata”. Nesse sentido, a não prática da amamentação nesse período primordial pode resultar em uma série de consequências negativas para a saúde do bebê. “O atraso na primeira mamada está fortemente associado ao aumento da morbimortalidade neonatal, especialmente por infecções e hipoglicemia nos primeiros dias de vida” (ALMEIDA et  al., 2022).

É fundamental que as maternidades disponham de protocolos claros e efetivos para garantir o contato pele a pele logo após o parto. “A separação entre mãe e recém-nascido logo após o parto é um fator que compromete diretamente o início precoce da amamentação e deve ser evitada por meio de protocolos humanizados de assistência” (PEREIRA et al., 2023).

Além dos impactos imediatos na saúde do recém-nascido, a falta de amamentação na primeira hora de vida pode comprometer o estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho. Conforme destacado por Andrade (et al., 2022), a amamentação precoce estimula a liberação de ocitocina, hormônio responsável por fortalecer o vínculo afetivo e a estabilidade emocional entre mãe e bebê.. Portanto, a não prática da amamentação nesse período pode dificultar a formação de um vínculo seguro e afetivo, com potenciais repercussões no desenvolvimento emocional e psicológico da criança.

A falta de amamentação na primeira hora de vida pode ter impactos a longo prazo na saúde infantil. “A ausência de amamentação nas primeiras horas de vida aumenta o risco de doenças crônicas como obesidade e diabetes tipo 2 durante a infância” (COSTA et al., 2022). Portanto, a não prática da amamentação precoce não apenas compromete a saúde imediata do recém-nascido, mas também aumenta o risco de problemas de saúde a longo prazo.

Estudo recente de Costa et al., 2022 estima que a adoção universal da amamentação na primeira hora de vida pode prevenir milhares de mortes neonatais e gerar significativa economia nos sistemas de saúde, pela redução de infecções e doenças crônicas na infância.

Além do impacto emocional, a ausência de aleitamento precoce tem sido relacionada ao aumento do tempo de internação neonatal, especialmente em unidades de terapia intensiva, em decorrência de infecções e dificuldades alimentares iniciais. A OMS (2020) e o UNICEF (2021) recomendam fortemente a amamentação imediata como estratégia eficaz para reduzir custos hospitalares e sobrecarga dos serviços de saúde neonatal.

Além disso, a ausência da amamentação imediata pode impactar negativamente o estado emocional materno. Mulheres que enfrentam dificuldades para iniciar o aleitamento materno na primeira hora de vida têm maior risco de desenvolver sintomas depressivos no pós-parto. Dessa forma, a amamentação precoce também é considerada uma estratégia de proteção à saúde mental materna (ALMEIDA et al., 2021).

A falta do colostro pode perpetuar desigualdades de saúde. Como observado por Reis (et al., 2023), “mulheres em comunidades rurais e regiões periféricas têm menor probabilidade de iniciar a amamentação precoce, devido à falta de orientação qualificada e à ausência de políticas públicas efetivas, o que aprofunda as desigualdades em saúde neonatal”. Isso cria disparidades no acesso aos benefícios da amamentação e contribui para uma maior carga de doenças em comunidades já marginalizadas.

Nesse contexto, torna-se urgente o investimento em ações educativas durante o pré-natal. A oferta de informações durante o pré-natal e o preparo prático das gestantes favorecem o empoderamento materno, resultando em maior adesão ao aleitamento precoce e amamentação exclusiva (NASCIMENTO et al., 2022).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos resultados demonstrou, de forma consistente, que o aleitamento materno na primeira hora de vida exerce influência significativa sobre a saúde imediata e futura do recém-nascido, bem como sobre o fortalecimento do vínculo afetivo com a mãe. Evidenciou-se que o colostro, substância rica em imunoglobulinas, nutrientes e propriedades laxativas naturais, é essencial para conferir proteção imunológica ao bebê, auxiliando também na prevenção de intercorrências como icterícia neonatal e infecções precoces.

A prática do contato pele a pele e a amamentação logo após o nascimento favorecem não apenas a ingestão do colostro, mas também estimulam a liberação de hormônios como a ocitocina, que atuam na formação de vínculos emocionais entre mãe e filho e colaboram para uma recuperação mais rápida da mãe no pós-parto. Além disso, observou-se que a sucção precoce favorece a pega correta e a continuidade da amamentação exclusiva, o que repercute positivamente na nutrição e desenvolvimento infantil.

O papel do enfermeiro foi amplamente destacado como elemento facilitador desse processo. Sua atuação, ao promover orientações práticas, suporte emocional e intervenções precoces diante de dificuldades, mostrou-se determinante para o sucesso da amamentação nas primeiras horas de vida. A criação de um ambiente acolhedor e informativo, aliada à assistência individualizada, é um fator crucial para garantir que mães se sintam seguras e capacitadas para amamentar.

Por outro lado, a ausência da amamentação nesse período crítico mostrou-se associada a riscos aumentados de morbidades neonatais e dificuldades no estabelecimento da lactação. Ademais, foi possível identificar que essa lacuna tende a afetar desproporcionalmente populações mais vulneráveis, perpetuando desigualdades sociais e de saúde.

Dessa forma, conclui-se que a amamentação na primeira hora de vida é uma intervenção de baixo custo e alto impacto, sendo uma prática que deve ser amplamente promovida e garantida pelas equipes de saúde, em especial pelos profissionais de enfermagem. Fortalecer essa prática significa investir na saúde integral do recém-nascido e no bem-estar das mães, construindo bases sólidas para uma infância mais saudável e uma maternidade mais segura.

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Enfermagem. Faculdade Santa Luzia – FSL.
2Docente Especialista em Ventilação Mecânica pela Faculdade Redentor do Curso de Enfermagem. Faculdade Santa Luzia – FSL.