A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL NA PREVENÇÃO DA SÍFILIS CONGÊNITA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12585871


Elda Maria Alves dos Santos1
Emanuela de Oliveira Antunes Dias2
Orientadora: Emanoele Farias Tamarana3


RESUMO 

 A sífilis tem como característica a morbidade de ordem infecto-contagiosa, tendo como agente etiológico o Treponema pallidum. Trata-se de uma bactéria que pode ser transmitida por hemotransfusão,  contato com lesões  mucocutâneas, via sexual, bem como ao  feto,  por  via  transplacentária, sendo neste caso  denominada de sífilis congênita. O objetivo deste artigo é uma revisão bibliográfica a respeito da temática proposta, que consiste na importância e na influência do acompanhamento pré-natal na prevenção da sífilis congênita. A metodologia utilizada para o mesmo foram artigos em bases de pesquisa acadêmica virtual. O resultado observado com esse estudo é a necessidade de se refletir com seriedade sobre a problemática trazida pela sífilis congênita ao entendermos e observarmos os riscos que as mulheres grávidas e as crianças correm ao contrai-la. 

 PALAVRAS-CHAVE: sífilis congênita; tratamento; acompanhamento pré-natal. 

ABSTRACT 

Syphilis is characterized by infectious and contagious morbidity, with Treponema pallidum as its etiological agent. It is a bacterium that can be transmitted to a mother through blood transfusion, contact with mucocutaneous lesions, sexually, as well as to the fetus, through transplacental route, in which case it is called congenital syphilis. The objective of this article is a bibliographical review regarding the proposed theme, which consists of the importance and influence of prenatal care in the prevention of congenital syphilis. The methodology used for this were articles in virtual academic research bases. The result observed with this study is the need to seriously reflect on the problems brought about by congenital syphilis by understanding and observing the risks that pregnant women and children run when contracting it. 

KEYWORDS: congenital syphilis; treatment; prenatal care.companhamento pré-natal. 

Introdução  

A sífilis tem como característica a morbidade de ordem infecto-contagiosa, tendo como agente etiológico o Treponema pallidum.  Trata-se de uma bactéria que pode ser transmitida por hemotransfusão, contato com lesões mucocutâneas, via sexual, bem como, ao feto, por via transplacentária, neste caso a doença é denominada de sífilis congênita (SC) (SARACENI, 2005).  A mesma é considerada  uma  doença  de relativa facilidade no que se refere a prevenção, isto é, perante ao acesso precoce incluindo a testagem durante o período pré-natal  e/ou mesmo começando um  tratamento devidamente adequado às gestantes positivas, incluindo também o tratamento do parceiro(SIMÃO, 20007), (ARAÚJO et. al, 2012). Desta maneira, verifica-se que já existe uma política de  prevenção  da  mortalidade que compreende questões referente ao público materno-infantil, com isso, pode-se perceber um certo destaque com relação ao Pacto pela  Saúde  do  Ministério  da  Saúde  (MS),  incluindo metas para reduzir a transmissão vertical da sífilis (RAMOS, et.al 2012).   

O Ministério da Saúde no ano de 1995, lançou um projeto visando a eliminação  da sífilis congênita, em  acordo com  a  proposta elaborada objetivando o controle  do  agravamento  detectado nas  Américas,  além disso, tem-se a participação na formulação pela Organização Pan-Americana  da  Saúde  (OPAS)  e  Organização  Mundial  da  Saúde  (OMS).  O Brasil, bem como outros países assumiram, o dever de cumprir com objetivo de erradicação da sífilis congênita (SC) nas Américas com meta até o ano 2000. A partir dessa iniciativa, definiu-se como prática e intuito de dar continuidade no processo de redução da incidência a valores obedecendo a lógica de ≤1 caso por 1000 nascidos vivos (NV) ao ano (ARAUJO et. al 2012). Porém quando verificado as notificações, os registros de sífilis gestacional (SG) e congênita são realmente preocupantes. O período de 2005 a 2017, no Brasil foram notificados e apresentados ao  Sistema  de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 200.253 casos de sífilis em gestantes. A título de informação, foi verificado do que no ano de 2016, chegou-se a um total notificações 37.436, das quais 17,7% foram registrados na sua maior parte na Região Sul. Estado de Santa Catarina no SINAN, entre 1998 e junho de 2017, totalizou em 159.890 casos em menores de um ano de idade. Já a Região Sudeste teve 44,1%; o Nordeste 31%; o Sul 10,8%; o Norte 8,5% e o Centro-Oeste 5,5%. Uma observação que dever ser levada em consideração é que à taxa de incidência de SC no Brasil, em 2016 registrou-se uma taxa de 6,5 casos/1.000NV, tendo a região Sul um registro de 7,7 casos/1.000NV. Ao entender o comportamento das variáveis maternas detectáveis, vemos a relação da infecção em Santa Catarina, caracterizou “nas maiores proporções em crianças cujas mães têm entre 20 e 29 anos de idade (53,0%), possuem escolaridade entre a 5ª e a 8ª série incompleta (24,6%), e realizaram pré-natal (81,0%)”. Dentre as gestantes portadoras de sífilis que fizeram o exame pré-natal em 2016, a totalidade de 57,0% foram anteriormente diagnosticadas durante o período da gravidez, dentre elas somente 4,1% receberam o devido tratamento mais adequado e um agravante é que 62,2% das notificações apresentadas os parceiros não foram devidamente tratados ou não procuraram uma unidade hospitalar para isso. (BRASIL, 2016) 3. Desta forma, a elevada mortalidade está diretamente vinculada a sífilis congênita chegando a 40%. Podendo ser observado na quantidade de óbitos no período de 1998 a 2011, informados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Dos dados apresentados 1.780 óbitos, e destes, 8,9% foram registrados no Sul do Brasil. Em 2011 declarou-se um total de 112 óbitos por sífilis congênita, correspondendo a um coeficiente de mortalidade de 3,9/100.000 NV. Verificou-se também “um coeficiente de 4,6 para a Região Nordeste, 4,0 para o Sudeste, 3,9 para o Norte, 3,8 para o Sul e 0,9 para o Centro-Oeste” (RAMOS JUNIOR, 2012).  

Retomando aos aspectos da transmissão de sífilis congênita, entende -se ela possa ocorrer em qualquer fase da doença, sendo um pouco maior nos estágios iniciais, quando há um grande número de replicação bacteriana. Nas gestantes sifilíticas não tratadas, a transmissão é de 70% a 100% nas fases consideradas primárias e secundárias da doença, sendo assim o restante nas fases terciárias e de latência primária ou tardia. Quando se atinge a 18ª semana de gestação, acontece o que se denomina de contágio transplacentário, sendo assim, inicia-se a infecção do concepto já na fase secundária. Neste estágio a doença tende a apresentar com amplo espectro clínico, resultando em possíveis abortos, sepse neonatal, natimorto ou mesmo, comprometer os sistemas nervoso central, hematológico, musculoesquelético retículo-endotelial, e, mais raramente, órgãos como olhos, rins e pulmões (COTRAM, 2005) 

A sífilis congênita também é considerada como um marcador para os quesitos como a acessibilidade e de qualidade quanto na assistência à gestação e ao parto, sendo assim, um relevante na determinação no processo de redução das taxas de transmissão de característica vertical (BRASIL, 2004), visto que nas gestantes apresentam com seguimento contínuo e adequado para que não transmitam a doença. Neste caso, mesmo com a elevada cobertura de pré-natal no país, pode ser observado, a frequência, a falta da realização da rotina preconizada, não acarretando testagens para o HIV e sífilis, ou também a tomada das condutas adequadas para cada situação que, no caso da sífilis, incluindo o tratamento do parceiro. (DOMINGUES, 2013)  

Observando esta perspectiva, tende-se a buscar a verificar se o problema é  passível ou não de prevenção  e, se ainda há a persistência no  quadro  epidemiológico com altas incidências relatadas, o propósito da presente pesquisa foi traçar o perfil epidemiológico  dos  casos  notificados  de  sífilis congênita, bem como observar outros fatores e outras relações entre fatores  sociodemográficos  e clínicos associados à notificação de SC.  

Objetivo geral  

  • Apontar com base em uma revisão de literatura a importância e a influência do acompanhamento pré-natal na prevenção da sífilis congênita. 

Objetivos específicos  

  • Compreender do que se trata a sífilis, sua transmissibilidade durante a gestação e a problemática advinda desta doença que pode afetar o binômio. 
  • Buscar na literatura estudos que demonstrem se as variáveis socioeconômicas, demográficas e as relacionadas ao pré-natal estão ligadas ao aumento dos casos de sífilis congênita.  

Metodologia 

Foram revisados artigos científicos indexados nas bases de dados Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Pubmed e Google Acadêmico, em português, inglês e espanhol, entre outros idiomas disponíveis online, obtidos através de descritores usados isoladamente e agrupados: sífilis congênita, diagnóstico e tratamento, bem como revisão de Cadernos e Guias do Ministério da Saúde publicados disponíveis online e livros. A coleta de dados e a análise, realizadas por meio de leitura exploratória, seletiva, analítica e interpretativa, ocorreram entre os dias11 de janeiro a abril de 2024. Os aspectos éticos foram preservados, mantendo-se a autenticidade das ideias, conceitos e definições dos autores pesquisados.  

Resultados  

Com relação aos aspectos da sífilis congênita e a sua incidência a mesma é representado como um importante indicador de qualidade, tendo em vista os pontos de atenção apresentados no período materno-infantil e estimando assim que a cada ano 12 mil recém-nascidos no Brasil podem apresentar a doença (SCHMID, 2007). 

Conforme já dito anteriormente, a sífilis é causada pelo processo de infecção pelo Treponema pallidum e, o mesmo pode apresentar altas taxas de transmissão de ordem vertical, que pode chegar a 100% nas duas primeiras fases da doença materna. A mesma, considera-se uma prevalência no cenário brasileiro da doença é de 1,6% entre as parturientes, porém estimando haver um número superior de subnotificação de até 67%, mesmo com o uso do Sistema Nacional de Notificações (SIMÃO, 2007)  

Ao abordar o assunto com relação a prevenção da sífilis congênita realiza-se unicamente no pré-natal, não podendo ser feita no período de interparto ou pós-natal, este fato é ressaltado com a relação direta entre a qualidade dos serviços prestados e procurados basicamente com a saúde da mulher e frequência relatada da enfermidade em si (SARACENI, 2005). Referindo-se ao diagnóstico da sífilis gestacional é aparentemente simples e precisa ser rastreada em todas as gestantes, devido a facilidade de detecção e tratamento. Com relação a este último, é geralmente, realizado com a ministração de penicilina e devendo estender a ambos parceiros sexuais. O fato do não tratamento, ou tratar de forma inadequada, a sífilis congênita pode então resultar em abortamentos, partos prematuros, acarretando complicações de ordem agudas e outras sequelas fetais (ARAÚJO, et. al. 2012) 

No Brasil, sua incidência, especificamente em 2011, chegou-se a 3,3 casos por 1.000 nascidos vivos, tendo destaque as regiões nordeste e sudeste suas maiores ocorrências percentuais em comparação às outras regiões. Além disso, há um fator importante existente, o número considerado de casos não notificados. As taxas de mortalidade perinatal que são decorrentes à sífilis  são maiores apresentadas nos seguintes estados como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, de acordo com os Indicadores Básicos para a Saúde (IDB, 2008) da Rede Interagencial de Informações para Saúde (RIPSA) (ARAÚJO, et. al. 2012)  

Apresentando um recorte temporal 1999 a 2023 mais recente observa-se que a sífilis congênita no Brasil nos quais foram devidamente notificados e registrados 319.806 casos de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade, dos quais na região Norte foram 17.940 (5,6%), Sul com  38.043 (11,9%), Sudeste de 141.659 (44,3%), no Centro-Oeste  27.120 (8,5%), e por fim no Nordeste 95.044 (29,7%). Em 2022, foram o sistema do governo recebeu  26.468 casos notificados, a maioria dos quais (43,8%) na região Sudeste, seguida pelo Nordeste (27,6%), Sul (13,2%), Norte (9,1%) e Centro-Oeste (6,3%). Já no período de 2019 e 2022, houve um aumento considerável de 16,0% na incidência de casos de sífilis congênita diagnosticados no Brasil. Com relação às notificações, o incremento maior ocorreu na região Centro-Oeste (25,0%), em seguida observou-se que nas regiões Norte e Nordeste (17,2%), Sudeste (15,1%) e Sul (14,2%), conforme observa-se os dados na figura 1. Em 2022, observou-se uma taxa de incidência de 10,3 casos/1.000 NV no Brasil, sendo a maior taxa na região Sudeste (11,8 casos/1.000 NV), seguida da região Nordeste (10,3 casos/1.000 NV). As regiões Sul (9,7 casos/1.000 NV), Norte (8,4 casos/1.000 NV) e Centro-Oeste (7,4 casos/1.000 NV) apresentaram taxas abaixo da taxa nacional (BRASIL, 2023). 

Figura 1: Taxa de incidência de sífilis congênita em menores de 1 ano de     idade (por 1.000 nascidos vivos) por região de residência e ano de diagnóstico. Brasil, 2012 a 2022 

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), atualizado em 30/06/2023. 

Em 2022, entre os casos de sífilis congênita para aqueles que nasceram vivos, 24.657 (93,2%), do total expresso, 23.472 (95,2%foram diagnosticados logo na primeira semana de vida. Classificou-se como sífilis congênita recente, 4,2% tendo como aborto por sífilis, 2,6% e natimorto e 0,2% (54 casos) como sífilis congênita tardia ver Figura 2. (BRASIL, 2023). 

Figura 2: Taxa de incidência de sífilis congênita (por 1.000 nascidos vivos) segundo Unidade da Federação e capitais. Brasil, 2022 

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), atualizado em 30/06/2023. 

De acordo com os registros bem como em numa série histórica, observou-se que a existência de desfechos desfavoráveis com relação a da sífilis congênita incluindo (óbitos, abortos e natimortos) representando 9,1% do total de casos ocorridos de 26.004. Ao comparar, por exemplo, os anos 2012 e 2022, houve uma elevação de todos os desfechos desfavoráveis, com 2.303 notificações em 2022: óbitos por sífilis congênita (25,2%), obituários por outras causas (101,1%), aborto (145,1%) e natimorto (19,1%) por sífilis. Porém em 2022, ocorreram 1.811 abortos e natimortos, desta maneira representado por um percentual de 6,8% do total de casos diagnosticados de sífilis congênita e 78,6% dos desfechos desfavoráveis. (BRASIL, 2023). 

Um outro fator relevante a respeito a capacitação dos profissionais da saúde, no que se refere nos processos de implementar as vigilâncias estaduais e municipais, tendo em vista as maiores ofertas de testes para sífilis que possivelmente possam a contribuir para a identificar e a reduzir as subnotificações de desfechos desfavoráveis. Com relação à faixa etária das mães de crianças portadoras de sífilis congênita, a maior parte dos casos se encontram entre 20 e 29 anos (58,9%), e as mães adolescentes (10 a 19 anos) representando 19,0% do total de casos em 2022. (BRASIL, 2023).  

Um estudo avaliou 20.286 unidades básicas de saúde pertencentes a todas as regiões do país, sendo a maioria deles localizados na região Nordeste (50,4%) e em municípios que não eram capitais de Estado ou do Distrito Federal (91,3%). Observou-se nesse estudo que 47,7% dos serviços não dispunham de quantidade suficiente e/ou não dispunham teste rápido para sífilis sempre disponível interferindo no diagnóstico e consequente tratamento da sífilis. A região Centro-Oeste e as cidades que não eram capitais foram responsáveis pelas maiores prevalências de serviços de AB com condições inadequadas para o diagnóstico e/ou o tratamento da sífilis (p<0,05). (PAULA, M. A. DE. et al, 2022).Um estudo transversal feito com os dados do Sistema de Informação de Nascido Vivos e PMAC-AB que avaliou a qualidade do pré-natal nas grandes capitais brasileiras e diagnóstico da sífilis gestacional apontou uma maior prevalência em mulheres em vulnerabilidade social, adolescentes, mulheres com  baixa escolaridade e não brancas. No que diz respeito a sífilis congênita, a proporção foi sete vezes maior no grupo que não realizou nenhum pré-natal. (PAULA, M. A. DE. et al, 2022). 

A maioria dos neonatos que são portadores de sífilis congênita apresentam características de prematuridade, como por exemplo, o baixo peso ao nascer, desta forma, é necessária a permanência num período maior em Unidades de Terapia Intensiva ou mesmo em incubadoras adaptadas. Os procedimentos assim prestados pelas unidades hospitalares aos recém-nascidos com sífilis representam custo três vezes superior com relação aos cuidados  dispendidos a um bebê sem essa infecção, ou de aspecto saudável. (GUINSBURG; SANTOS, 2010). 

De acordo com o Ministério da Saúde, com relação a transmissão a sífilis congênita é por consequentemente disseminado pelo Treponema pallidum agindo por meio da corrente sanguínea da gestante infectada para o seu concepto. Novamente é importante evidenciar a transmissão podendo ocorrer durante toda a gestação, sendo assim o risco maior é nas gestantes com sífilis em estágios primários ou secundários. (BRASIL, 2010). O aspecto ideal, com relação ao diagnóstico de sífilis congênita, deveria trabalhar na identificação de cinco grupos de pacientes:  

1) Mães infectadas e recém-nascidos infectados, com sinais clínicos da infecção;  

2) Mães infectadas e recém-nascidos infectados sem sinais clínicos da infecção;  

3) Mães infectadas e recém-nascidos não infectados;  

4) Mães soronegativas infectadas e recém-nascidos infectados, mas sem sinais clínicos da infecção;  

5) Mães não infectadas. O reconhecimento, em especial dos últimos quatro exemplos tem sido foco de debate contínuo na literatura sobre o tema.  

Dada a dificuldade na elaboração de um diagnóstico a respeito da infecção em crianças com quadro clínico assintomático, a orientação de acordo com as unidades hospitalares e equipes médicas, que vem sendo adotada no Brasil e outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos, é a de utilizar critérios diagnósticos de alta sensibilidade, porém com a baixa especificidade na apresentação, “no sentido de que qualquer recém-nascido potencialmente infectado e sua mãe sejam abordados durante a época em que ambos tem acesso ao serviço de saúde, ou seja, o período peri-partal e o período neonatal imediato.” Observando esta conduta, que se inclui também no tratamento de casos até então presuntivos, consistindo em diagnosticar baseando-se em estabelecer critérios epidemiológicos e clínico-laboratoriais, devendo persistir que novas tecnologias permitindo traçar uma perfil linha divisória mais consistente entre pacientes infectados e não infectados. (BRASIL, 2010) 

Reiterando, a sífilis congênita, de acordo com que é apresentado é uma doença causada pelo Treponema pallidum, no qual é disseminado por via hematogênica, causando a infecção no feto no interior da placenta, consequentemente, a gestante passa a ser infectada, porém não está isenta de tratamento ou erroneamente tratada. A transmissão é possível acontecer em qualquer fase da gestação, mais provavelmente a ocorrência na primeira ou segunda fase da doença, podendo chegar a 100% de probabilidade de transmissão vertical, (BRASIL, 2010)  

Por outro lado, ainda existe, a probabilidade de contaminação direta pelo T. Pallidum para o concepto, esta situação ocorre durante a passagem pelo canal de parto, uma vez que podem apresentar as lesões genitais na gestante. Quanto ao aleitamento, é possível que haja transmissão também a sua viabilidade, por meio de lesões mamárias estejam presentes. A problemática é que aproximadamente um terço das gestantes que são infectadas pelo T. Pallidum podem evoluir para situações mais agravantes como a perda fetal, em contra partida há outra porcentagem semelhante a essa, tem a sífilis congênita como consequência. Aparentemente de fácil prevenção, essa patologia apresenta estatisticamente a prevalência, afeta cerca de 2 milhões de gestantes no mundo. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), “sendo quatro vezes mais prevalente que a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)” (OMS, 2008) 

Ao nascimento, cerca de dois terços dos nascimentos vivos portadores de sífilis congênita são assintomáticos, enquanto nos demais, as características clínicas variam conforme a classificação da doença. A sífilis congênita apresenta também características precoces podem apresentar: “lesões cutaneomucosas, como placas mucosas, lesões palmo-plantares, fissuras radiadas periorificiais, condilomas planos ano-genitais e hepatoesplenomegalia como os principais sinais apresentados, ocorrendo em cerca de 70% dos casos.” (OMS, 2008) 

 Desta forma, há lesões ósseas, que são manifestadas por “periostite e osteocondrite (ex. pseudo-paralisia de Parrot); lesões do sistema nervoso central (ex. convulsões, meningite); lesões do aparelho respiratório (pneumonia alba) e rinite sanguinolenta surgem em uma minoria dos casos”. Além disso, segundo Saraceni et. al. (2005), “a prematuridade e o baixo peso ao nascer também são sinais que podem se manifestar na sífilis congênita, estando relacionados diretamente com os óbitos fetais” (SARACENI, et. al 2005)  

Outros aspectos que podem ser vistas na literatura médica, os portadores da sífilis congênita tardia  tem como características: “fronte olímpica, mandíbula curva, arco palatino elevado, tríade de Hutchinson (dentes de Hutchinson, ceratite intersticial, lesão do VIII par craniano), nariz em sela; tíbia em lâmina de sabre, surdez, retardo mental e hidrocefalia”. (BRASIL, 2007) 

Discussão  

No intuito de propor um rastreio e o combate da sífilis congênita, o Brasil implementou e ainda tem implementado um  Plano Operacional para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis, este documento foi publicado em 2007, no qual é enfatizado ações que precisam de uma atenção com mais critério com relação a situação mais básica das pacientes em detrimento a doença, com isso, busca o estimulo para uma investigação de sífilis para gestantes por meio do testagem VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) no 1º e 3º trimestre. Porém, existem alguns estudos nos quais já foram levantados dados primários sobre a cobertura dos testes e os mesmos apontaram que 66% a 95% das gestantes teriam acesso a pelo menos um VDRL no pré-natal, “mas o acesso ao 2º VDRL, que deveria ser realizado até a 30ª semana de gestação, geralmente alcança menos de um quarto das gestantes (0,2% a 20,7%)”3.  Estudo que fez uma análise entre o tratamento e a oferta de diagnóstico nas UBS e as incidências de sífilis gestacional e congênita revelou que houve um crescente aumento na  detecção de casos novos de  sífilis gestacional em municípios com maior oferta de teste rápido, revelando o aumento na capacidade de detecção da sífilis quando o município tem oferta de meios para diagnosticar a doença. Já no que diz respeito à sífilis congênita, foi observado a redução da transmissão vertical dentre as equipes com oferta dos testes rápidos e tratamento adequado. Isso reflete a relação entre o bom acompanhamento pré-natal e a redução de casos de sífilis congênita. No que se refere os serviços de saúde que são prestados nas zonas rurais as longas distâncias entre as residências da população e o serviço de saúde dificulta o acesso  resultando em menor procura pelos serviços de saúde ofertados. (PAULA, M. A. DE. et al, 2022). 

Afim de definir um caso, pode se considerar sífilis congênita precoce até 2 anos de idade, depois disso considera-se sífilis congênita tardia. Pode se considerar também as seguintes condições: todos os recém–nascidos de mães não tratadas ou inadequadamente tratadas; toda criança com VDRL positivo e uma alteração, tanto clínica, radiológica ou liquórica; VDRL maior ou igual a 4 vezes o título materno no parto; elevação da titulação de VDRL; RN com evidência laboratorial em material colhido de lesão, placenta, ou cordão umbilical; morte fetal após 20 semanas ou com peso maior que 500 gramas, cuja mãe sifilítica, foi incorretamente tratada ou não foi tratada; natimorto com sífilis. (PETTERSON, 2014) 

Considerando o tratamento adequado da gestante portadora de sífilis o uso de benzilpenicilina benzatina, este deve ser realizado o mais precoce possível, além da realização de um esquema terapêutico completo, de acordo com o estágio clínico da infecção; é preciso respeitar o intervalo que se é recomendado entre as doses; incluindo a finalização do tratamento de preferência antes do parto. Em 2022, “observou-se que o esquema terapêutico prescrito foi inadequado ou não realizado em 81,0% das mães das crianças com sífilis congênita, perdendo-se a oportunidade de evitar a transmissão vertical” (BRASIL, 2023) 

Com relação ao tratamento da criança, modalidades de tratamento surgiram mas foi com penicilina G cristalina na dose de 50.000 UI/Kg, que se obteve melhores resultados, ministrada por via endovenosa, de 12 em 12 horas nos primeiros 7 dias de vida e de 8 em 8 horas completando 10 dias de vida, ou por penicilina G procaína 50.000 UI/Kg, dose única diária, por via intramuscular num período de 10 dias seguindo as orientações e condições: recém-nascido com quadro clínico sintomático, com alteração clínica, nas sorologias, radiologias e/ou hematologias, cuja mãe com sífilis foi tratada adequadamente, ou cuja mãe portadora de sífilis não tratada ou tratada inadequadamente (tratamento realizado com penicilina antes de 30 dias do parto, ou sem penicilina); e em recém-nascido de mães tratadas, que possuem VDRL superior que o materno, ou menor ou igual ao materno sem possibilidades de seguimento clínico, ambos os casos com alterações nos exames. Caso alterações surja no líquor, em todos os casos, utilizam-se somente o esquema de penicilina G cristalina. (LORENZI, 2000) 

Já o outro tipo de tratamento com penicilina G benzatina, 50.000 UI/Kg, dose única, intramuscular, é indicada para os seguintes caos: recém-nascidos assintomáticos de mães tratadas, incorretamente ou de mães tratadas sem possibilidade de acompanhamento clínico, ambos os casos com exames e VDRL negativos; e em recém-nascidos, de mães tratadas, que possuem VDRL menor ou igual ao materno, com outros exames negativos. A posologia da penicilina G cristalina, de 4 em 4 horas, é realizado em crianças com mais de 1 mês de vida, com quadro clínico e sorológico compatível com sífilis congênita. Caso o tratamento seja interrompido por 1 dia, o mesmo deverá ser reiniciado. (CHERQUER, 2007)  

Com relação as injeções ministrada, e também, a erupção cutânea (marcador alérgico) esteja relacionada “com a aplicação da penicilina não está sendo realizada em muitos lugares do Brasil, e a justificativa se atribui às reações adversas que a penicilina pode causar, principalmente, a reação anafilática”. Esse quadro é intensificado adotando práticas pouco realista em alguns lugares, levando as pessoas a procurarem espaços alternativos à aplicação da penicilina, como farmácias. Ainda, existem alguns eventos adversos que são interpretados constantemente como reações anafiláticas, sendo elas como ansiedade, sudorese e medo doença tratada, ou ainda com outra doença concomitante a sífilis. Somando a essa situação observa-se a frequência das reações anafiláticas que está em torno de 0,04% a 0,2%, com uma taxa de letalidade de 0,001%. (GRUMACH, 2007) 

O manejo da reação anafilática “é direcionado às suas manifestações: cutâneas, dificuldades respiratórias, e hipotensão. Deve-se aplicar epinefrina 1:1000 0,3 ml a 0,5 em adultos, e 0,01 ml até 0,3 ml no máximo à crianças, por via intramuscular”.  

O uso de anti-histamínicos, antagonistas H1 e H2, possui papel adjuvante importante com relação ao manejo da anafilaxia. Desta maneira, para o tratamento da hipotensão, devem-se colocar o paciente de forma deitada fazendo o elevar suas pernas. Para tratar a dificuldade respiratória, deve-se “administrar oxigênio por máscara (100%, 4 a 6 L/ min), para asma se administra cloreto de sódio 0,9% e fenoterol .Lembra-se que a troca da penicilina pode ser feita por outros antibióticos”, porém resulta num tratamento incorreto, e consequente sífilis congênita. Para os casos dos recém-nascidos com mãe portadora soropositiva para sífilis deve-se ser acompanhados por pelo menos dois anos. É preciso realizar testes não treponêmicos (VDRL) com intervalos de com um, três, seis, doze e dezoito meses de idade, caso haja dois resultados negativos consecutivos, num período de 30 dias. O Ministério da Saúde preconiza também a realização de consultas com frequência mensal nos primeiros seis meses e bimensais do sexto ao décimo segundo mês, quando deve-se realizar exame minucioso.  (BRASIL, 2016) 

É esperado que o VDRL seja negativo após 12 a 15 meses do início do esquema. Desta maneira, se houver a presença de anticorpos treponêmicos após 18 meses de idade considerado diagnosticado de sífilis congênita, pois nesta idade não pode-se mais a atribuição da positividade do teste a anticorpos maternos transmitidos de maneira passiva por via transplacentária. No geral, crianças que passam a receber um tratamento ainda no período neonatal pode  apresentar testes com declinamento aos 3 meses e negativos aos 6 meses; por outro lado aquelas tratadas posteriormente, tende a ter um decréscimo mais lento dos títulos. (GRUMACH, 2007) 

Reiterando, nos casos confirmados de sífilis congênita, sempre que houver alguma alteração liquórica, devem-se frequentemente realizar novas punções lombares 3 e 6 meses após o fim do tratamento. Quando houver uma permanência nas alterações, é necessária uma nova reavaliação devendo ser feita. Os exames audiológicos, neurológicos e oftalmológicos e devendo ser semestrais pelo menos os dois anos de idade. A orientação que precisa ser passada aos pais é a importância do seguimento é fundamental,” explicitados os riscos de sequelas, como déficit de aprendizado, retardo mental, deformidades ósseas e dentárias, surdez e até cegueira.” (BRASIL, 2016) 

Conclusão  

A sífilis congênita é uma doença caracterizada por ser ainda ser um problema de saúde pública não somente no Brasil mas a âmbitos mundiais que pode ser prevenida e de fácil detecção em seu diagnóstico e o tratamento também pode ser simples, de fácil acesso e possuir um baixo custo sendo assim, deve-se buscar primeiramente no entendimento da mesma por parte das gestantes e buscar uma assistência de qualidade durante o pré-natal do país. Porém observa-se que, nos últimos anos o número de casos vem gradativamente aumentando. Para que a comunidade médica possa trabalhar nela na sua prevenção e combate, se faz necessário modificar ou atualizar diversas práticas das políticas assistenciais de saúde da mulher para que se possa assim, melhorar contenção da transmissão vertical e horizontal da doença. 

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