REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10714305
Francisco Xavier Martins Bessa
RESUMO
A cirurgia bariátrica é uma das últimas opções cirúrgicas para o tratamento da obesidade mórbida em indivíduos com ou sem doenças associadas. O procedimento cirúrgico altera a anatomia do sistema gastrointestinal e pode causar diversas complicações metabólicas. Dessa forma, o aconselhamento tem como objetivo identificar as deficiências nutricionais e solucioná-las através da nutrição adequada. O objetivo deste estudo foi analisar a relevância do acompanhamento nutricional durante o pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica. A metodologia utilizada neste trabalho é uma revisão de literatura de natureza descritiva e qualitativa. O acompanhamento com o nutricionista é crucial durante todo o procedimento cirúrgico, no mínimo seis meses, para que o paciente se habilite e se realize, evitando, dessa forma, a recidiva do peso e as deficiências nutricionais ao longo do tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Cirurgia Bariátrica. Nutricionista. Acompanhamento.
ABSTRACT
Bariatric surgery is one of the last surgical options for the treatment of morbid obesity in individuals with or without associated diseases. The surgical procedure alters the anatomy of the gastrointestinal system and can cause several metabolic complications. Therefore, counseling aims to identify nutritional deficiencies and resolve them through adequate nutrition. The objective of this study was to analyze the relevance of nutritional monitoring during the pre- and postoperative period of bariatric surgery. The methodology used in this work is a literature review of a descriptive and qualitative nature. Follow-up with a nutritionist is crucial throughout the surgical procedure, at least six months, so that the patient can become empowered and understand themselves, thus avoiding weight loss and nutritional deficiencies over time.
KEYWORDS: Bariatric Surgery. Nutritionist. Follow-up.
1 INTRODUÇÃO
A obesidade é uma patologia caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, resultado de um déficit energético persistente. Geralmente, está relacionada a doenças como diabete tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, esteatose hepática, câncer, doenças reumáticas, neurodegenerativas e respiratórias. Destaca-se o caráter multifatorial de causas e efeitos da obesidade.
Considerando a crescente incidência que a obesidade é um importante fator de risco para o aumento da incidência de outras doenças crônicas ao longo do tempo, alternativas de tratamento foram sendo desenvolvidas e analisadas para seu enfrentamento. Atualmente, existem três linhas fundamentais de tratamento, que podem ser aplicadas segundo a gravidade da obesidade e outras condições associadas, de maneira isolada ou em conjunto.
A primeira é o tratamento clínico clássico e é composta por mudanças comportamentais, como dieta e nutrição, atividades físicas, além da terapia comportamental. A segunda e a terceira linha são a farmacoterapia e a cirurgia bariátrica, respectivamente. A cirurgia bariátrica é considerada o método mais eficaz para reduzir a perda de peso e controlar as comorbidades, sendo, portanto, recomendada para casos mais graves da doença que não respondem adequadamente a outras opções de tratamento clínico.
No entanto, o aconselhamento nutricional no pós-operatório é crucial devido às diversas alterações de hábitos alimentares que o paciente sofrerá quando for realizado de forma rotineira. Isso permite identificar e intervir de forma precoce em situações de perda de peso ou reganho de excesso de peso, o que é uma garantia de sucesso da cirurgia, evitando complicações posteriores.
Em alguns casos, os pacientes apresentam problemas de vômito devido ao consumo excessivo de alimentos, à má mastigação, à ingestão inadequada de líquidos, à ingestão inadequada de alimentos. A desidratação pode ser uma consequência da síndrome do esvaziamento rápido. A dieta padronizada visa o repouso gástrico, a adaptação a pequenos volumes, a hidratação, o favorecimento do processo digestivo, o esvaziamento gástrico e a inibição de resíduos que atinjam a região grampeada.
Com base nessas informações, a questão problema do presente trabalho é: qual o papel do nutricionista do processo de pré e pós-cirurgia bariátrica?
O objetivo geral do presente trabalho é analisar a importância do acompanhamento nutricional no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica. Tendo como objetivos específicos: apresentar os conceitos da obesidade; discorrer sobre a cirurgia bariátrica; descrever as deficiências nutricionais e o reganho de peso e intolerância a alimentos; analisar a importância do acompanhamento nutricional.
Diante disso, justifica-se a realização deste trabalho, uma vez que a perda de peso em indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica é uma epidemia com uma prevalência crescente, acompanhada de problemas de saúde. Além disso, é relevante compreender o índice de perda de peso após a intervenção cirúrgica, para promover e direcionar cuidados para a melhoria da qualidade de vida, atendendo às necessidades individuais de cada paciente.
Este trabalho é um estudo de revisão bibliográfica qualitativa, com base em artigos, monografias, teses e dissertações encontradas nas plataformas Google Acadêmico e SciELO. Entre eles, foram encontrados os seguintes autores: Abeso, 2022 e 2016; Alencar, 2017; Amann, Santos, Gigante, 2019; Barros, et al., 2015; Bastos et al., 2013; Bordalo, Mourão, Bressan, 2011; Brasil 2013 e 1995; Cabral, et al., 2016; Carvalho, Rosa, 2018; Castanha et al., 2018; Oliveira et al., 2020; Dias et al., 2021; Fagundes, Caregnato, Silveira, 2016; Ferraz et al., 2016; Flores, 2014; Kortchmar et al., 2018; LIMA et al., 2018; Machado et al., 2008; Mancine et al., 2015; Masari, et al., 2012; Miranda et al., 2019; Ramos et al., 2015; Rodrigues, Faria, 2020; Sbcbm, 2017; Schiffler, 2023; Silva, 2015; Silva et al., 2014; Dendasck et al., 2021, Oliveira; Freitas, Ferreira,2022.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Conceitos e definições da obesidade
A obesidade é uma condição crônica que se manifesta pelo excesso de gordura, que está associada a diversas doenças, como diabete tipo 2, hipertensão arterial, refluxo gastroesofágico, alguns tipos de câncer, alterações articulares, dentre outras. Isso é um desafio para o ser humano e para a saúde pública, uma vez que a qualidade de vida é prejudicada e a expectativa de vida também é prejudicada, além da sobrecarga dos serviços de saúde.
A adiposidade corporal pode ser medida por diferentes métodos para estimar a composição corporal. Os métodos de antropometria incluem a análise de superfícies, circunferências e Índice de Massa Corporal (IMC), bioimpedância elétrica, a absortometria radiológica de dupla energia (DEXA) e a pesagem hidrostática. Cada método apresenta suas particularidades, limitações e aplicações distintas, tanto para a prática clínica quanto para a investigação científica.
O Índice de Massa Corporal, utilizado pela Organização Mundial de Saúde em 1995, é uma técnica de classificação do estado nutricional que se adequa de forma simplificada e rápida. Os adultos que são eutróficos apresentam IMC entre 18.5 e 24.9 kg/m², os que sobrepesam entre 25 e 29,9 kg/m², a obesidade a partir de valores superiores a 30 kg/m² e, por fim, aqueles que apresentam obesidade grave, com IMC superior a 40 kg/m².
No entanto, este índice antropométrico apresenta limitações, uma vez que não considera a composição corporal, mas apenas o seu peso e a estatura. Ou seja, alterações na massa corporal podem ser decorrentes de variações no conteúdo de água, muscular e adiposo, o que pode prejudicar a interpretação (ABESO, 2016).
A presença de uma maior densidade muscular pode indicar a obesidade, mesmo que não apresente excesso de gordura. O oposto também pode ser verdadeiro, uma pessoa com pouca massa magra ser classificada como eutrófico, apesar de apresentar uma abundante de gordura corporal.
Além disso, este índice apresenta pouca sensibilidade em termos de distribuição de gordura corporal, uma vez que é demonstrado na literatura que o perfil de acúmulo de gordura corporal tem um impacto significativo no risco aumentado de comorbidades. Dado que o número de casos de obesidade tem aumentado significativamente, é necessário aprofundar o entendimento da fisiopatologia desta condição.
Conforme a teoria, o acúmulo de gordura é decorrente do balanço energético positivo. O excedente que não é usado para fins metabólicos é convertido em reservas energéticas corporais, como o glicogênio (hepático e muscular) e o tecido adiposo.
A manutenção de um balanço energético desfavorável acarretará a utilização das reservas corporais, sobretudo dos triglicerídeos, armazenados no tecido adiposo. No entanto, a fisiopatologia da obesidade é complexa e multifatorial, uma vez que envolve aspectos comportamentais, sociais, genéticos e ambientais afetam o equilíbrio energético (OLIVEIRA et al., 2020).
O autor ainda sustenta que a interação com o meio ambiente tem um grande impacto no desenvolvimento da obesidade, uma vez que o controle da ingestão de alimentos é feito por mecanismos homeostáticos e hedônicos. O objetivo deste complexo sistema é manter o peso, ou seja, manter um balanço energético equilibrado, mantendo um balanço equilibrado.
No entanto, esse mecanismo de defesa foi criado em um ambiente caracterizado pela escassez de alimentos e pela grande demanda de atividades físicas. No entanto, o ambiente evoluiu e se tornou obesogênico, ou seja, com uma grande variedade de alimentos altamente palatáveis e densamente calóricos, que podem ser consumidos a qualquer momento do dia, o que os torna extremamente valiosos. Dessa forma, o seu consumo sobrepõe facilmente os mecanismos homeostáticos de saciedade (MANCINE et al., 2015).
Por muito tempo, acreditou-se que o tecido adiposo tivesse a função exclusiva de armazenar energia, mas, atualmente, é sabido que é um órgão endócrino, que libera diversos hormônios e citocinas (ABESSO, 2022).
Quando o seu nível é normal, este tecido tem um caráter protetor, uma vez que a secreção de citocinas é antioxidante. No entanto, o excesso de adipócitos provoca um desregulamento na secreção, o que leva à inflamação sistêmica, o que é um fator de risco para diversas comorbidades que estão presentes na obesidade (ABESSO, 2022).
Diante do que foi apresentado, é claro que a obesidade é um fator de risco para a saúde. A perda de peso é a melhor forma de controlar as comorbidades e os riscos. Dessa forma, o interesse em desenvolver técnicas e terapias para o tratamento tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. O tratamento da obesidade pode ser feito de forma isolada ou em conjunto: com intervenções no estilo de vida, com medicamentos e com intervenções cirúrgicas.
As intervenções no estilo de vida que aumentem a perda de peso sustentada constituem a primeira e fundamental estratégia terapêutica, compreendem-se três abordagens distintas: hábitos alimentares, atividades físicas e aspectos cognitivos comportamentais (SCHIFFLER, 2023).
No que diz respeito aos hábitos alimentares, a intervenção nutricional deve incluir uma estimativa do gasto energético do paciente, visando estabelecer metas que propiciem um ambiente metabólico de déficit calórico total. É frequente o estabelecimento de um déficit de 500 a 600 calorias por dia, para gerar uma taxa de perda de peso adequada e sustentável ao longo do tempo, além de evitar uma restrição drástica, o que aumenta a probabilidade de adesão ao plano alimentar.
No entanto, existem situações em que déficits calóricos mais severos são admissíveis, como as dietas de baixa caloria (LCD) ou as de baixa caloria (VLCD), adotadas em indivíduos com elevado grau de adiposidade, para promover uma perda de peso mais drástica em curto espaço de tempo.
Além do balanço energético negativo, é crucial melhorar a qualidade do padrão de alimentação, incluindo todos os grupos alimentares de forma equilibrada, fornecendo os nutrientes necessários em quantidade suficiente para a perda de peso. A prática de atividades físicas em conjunto com a intervenção nutricional terá um impacto positivo na perda de peso, no manejo de comorbidades e na retenção de massa magra e óssea.
As intervenções que aliam o aeróbio com o aeróbio e o treinamento de resistência com alta carga têm um efeito benéfico que é superior a qualquer outra modalidade de atividade física na redução da adiposidade abdominal, na melhoria da massa corporal magra e na saúde cardiorrespiratória (ALENCAR, 2017)
O tratamento cognitivo comportamental é uma ótima ferramenta nesse contexto de perda de peso. Diversos fatores comportamentais de risco podem causar o exagero de alimentos, como a falta de sono e o tempo de tela, ou o estresse e a ansiedade.
O objetivo é identificar, monitorar e monitorar as percepções, emoções e fatores ambientais que cercam os cenários da alimentação, bem como as possíveis causas ou gatilhos que facilitam os exageros dietéticos ou os episódios de compulsão alimentar. A farmacoterapia da obesidade está associada às intervenções clínicas, sendo recomendada quando as intervenções não farmacológicas não surtiram efeito, ou entre 25 e 27 kg/m², com comorbidades (ALENCAR, 2017).
Atualmente, são permitidos três fármacos para o tratamento da obesidade: a liraglutida, a sibutramina e o orlistat. A última opção de tratamento, sem dúvida, é a cirurgia bariátrica, recomendada para obesidade grave, associada ou não a
comorbidades, considerada a intervenção mais efetiva para a redução da gordura corporal e manejo de comorbidades.
2 A cirurgia bariátrica
Conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, as cirurgias bariátricas podem ser realizadas em indivíduos que apresentem um índice de massa corporal de aproximadamente 40 kg/m², sem a necessidade de comorbidades.
É importante levar em consideração a faixa etária do paciente. Para aqueles com menos de 16 anos, é recomendável que a família ou o responsável legal apoiem no no processo de recuperação pós-cirúrgica. Os pacientes com idade entre 18 e 65 anos não apresentam restrições.
Após os 65 anos, o paciente deverá ser avaliado individualmente. A cirurgia bariátrica pode ser dividida em técnicas restritivas, disabsortivas ou mistas. Nas técnicas restritivas, há uma diminuição do tamanho do estômago. Essa diminuição da cavidade gástrica proporciona um menor consumo de alimentos, o que aumenta a sensação de saciedade (LIMA, 2018).
A técnica de restrição de espaço é composta por gastroplastia vertical, balão intragástrico e banda gástrica ajustável. As técnicas disabsortivas têm como principal efeito a derivação biliopancreática e a transposição duodenal, o que resulta na perda de peso devido à diminuição da absorção de macronutrientes e micronutrientes (SILVA et al., 2014).
As técnicas mistas reúnem componentes restritivos e disabsorventes, o que resulta em uma menor ingestão de energia e menor absorção de nutrientes. As derivações biliopancreáticas com gastrectomia distal, com gastrectomia distal, e a derivação gastrojejunal em Y-de-Roux, com Fobi Capella (CASTANHA et al., 2018).
A diferença entre uma técnica e outra é o comprimento do intestino delgado (duodeno, jejuno e/ou íleo). Segundo a SBCBM (2017), o paciente submetido à cirurgia (DGYR – Bypass Gástrico gastroplastia com desvio intestinal em Y de Roux) pode perder de 70% a 80% do peso inicial. Dessa forma, o sucesso na perda de peso se deve ao aumento da ingestão de alimentos e à maior saciedade, o que, consequentemente, leva ao emagrecimento.
Após a cirurgia, a perda de peso é notória, mas, para ser considerada um indicador de sucesso, é necessário que as pessoas apresentem um percentual de Perda do Excesso de Peso (%PEP) de pelo menos 50%, mantendo-se a forma corporal (BARROS et al., 2015).
A perda de peso é um dos principais indicadores de sucesso, uma vez que promove uma melhoria da qualidade de vida e melhora das condições de saúde, como hipertensão, diabete e hiperlipidemia. No entanto, é preciso ter em mente que a cirurgia não procura curar a obesidade, apenas o controle. No pós-operatório, é possível observar o índice de massa corporal (IMC), sendo que o IMC de 30 kg/m² é considerado excelente, o de 35 kg/m² é considerado bom e o de 35 kg/m² é considerado insustentável.
É indispensável o acompanhamento nutricional de indivíduos submetidos a cirurgias bariátricas, tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório. As implicações das técnicas cirúrgicas afetam o estado nutricional do paciente, devido às alterações morfológicas e fisiológicas que interferem na digestão e/ou absorção.
3 Deficiências nutricionais na pré e pós cirurgia
A deficiência de nutrientes pode ser no período pré e pós-cirúrgico. A falta de nutrientes e a restrição no consumo de alimentos podem causar diversos problemas, como a deficiência de vitaminas e minerais, que podem ser corrigidos com a suplementação (BORDALO, MOURÃO, BRESSAN, 2011).
O autor ainda sustenta que essas deficiências decorrem de alterações no hábito alimentar do paciente. A diminuição da ingestão de alimentos é a primeira medida a ser considerada. Outro fator importante é a baixa absorção de nutrientes, o que pode causar alterações fisiológicas e anatômicas no intestino.
A deficiência de micronutrientes, como ferro, zinco e B12, é mais comum após o procedimento DGYR do que no método GV. No entanto, os dois métodos podem resultar em uma possível anemia após uma cirurgia bariátrica devido ao baixo nível de absorção de nutrientes (FERRAZ et al., 2016).
Outras complicações, como a baixa absorção de vitaminas D e o cálcio, que podem causar o enfraquecimento ósseo, são frequentemente associadas ao pós-operatório. É crucial que os pacientes adotem suplementos de vitaminas e minerais, em particular a vitamina D e o cálcio, para prevenir fraturas ósseas (CABRAL et al., 2016).
Além disso, outros problemas, como a baixa absorção de vitaminas D e o cálcio, que podem agravar o enfraquecimento ósseo, são frequentemente associados ao pós-operatório. É crucial que os pacientes adotem suplementos de vitaminas e minerais, particularmente a vitamina D e o cálcio, a fim de prevenir fraturas ósseas.
A pesquisa de Ramos et al. (2015) revelou que, nos primeiros seis meses após a cirurgia, há uma alta probabilidade de desnutrição proteica. Cerca de 50% dos pacientes que utilizam esta técnica restritiva/absortiva têm predisposição à anemia ferropriva.
É indispensável um acompanhamento nutricional para que se possa ter uma boa suplementação oral. Sendo assim, a terapia nutricional é indispensável para a correção dessas e de outras deficiências advindas da cirurgia bariátrica, sem importar o tipo de técnica cirúrgica empregado.
2.4 Reganho de peso e intolerância a alimentos
A CB tem sido cada vez mais requisitada por indivíduos obesos, mas, em alguns casos, há um aumento de peso após dois anos, devido à manutenção de hábitos alimentares anteriores e à dificuldade de manter o peso perdido. Nessas ocasiões, os pacientes tendem a se decepcionar diante dos fatos, pois não conseguem distinguir o real motivo para o reganho de peso.
A principal causa dessa recuperação de peso pode estar relacionada ao transtorno compulsivo alimentar (TCA), que é o desejo incontrolável de se alimentar de forma descontrolada, que tende a piorar após a cirurgia bariátrica. Sendo assim, é crucial o tratamento adequado do distúrbio do tipo TCA, com a orientação de um profissional de nutrição.
Conforme a pesquisa feita por Bastos et al. (2013), 64 indivíduos de diferentes idades e sexos, divididos em dois grupos econômicos, apresentaram uma grande variação no ganho de peso. Fatores como o tempo de intervenção cirúrgica, o peso corporal no momento da operação, o IMC mínimo, o período de redução de peso, o percentual de perda de peso em relação ao excesso de peso e o IMC atual demonstram uma alta incidência de uma nova obesidade após uma intervenção cirúrgica.
As alterações na anatomia gastrointestinal decorrentes da cirurgia bariátrica podem causar alterações neurológicas e fisiológicas que interferem na sinalização hipotalâmica e dos hormônios intestinais. O procedimento também aumenta a saciedade e interfere nas preferências alimentares, como o aumento da acuidade ao sabor doce, a diminuição da avaliação hedônica de alimentos doces e gordurosos, a menor tolerância a grandes refeições e/ou líquidos e a menor tolerância a alimentos proteicos.
A intolerância alimentar pode ter origem em uma adaptação consciente a alimentos palatáveis, mas que podem causar reações adversas quando consumidos em excesso, como o dumping precoce, que pode causar desconforto pós-prandial e, consequentemente, uma mudança condicional de aversão nos padrões alimentares (DIAS et al., 2021).
Para inibir a intolerância, é recomendável o fracionamento das refeições, ou seja, em pequenas porções e em maior frequência (cerca de seis por dia), o consumo de líquidos entre as refeições, que deve ser adiado em pelo menos 30 minutos após a refeição; o consumo de açúcares e bebidas alcoólicas é recomendável; além disso, é recomendável o consumo de alimentos ricos em proteínas completas.
2.5 A importância do acompanhamento nutricional
A cirurgia bariátrica é uma técnica desenvolvida para tratar a obesidade e comorbidades relacionadas. Este é um tema discutido há muito tempo por médicos e nutricionistas, mas é atualmente tratado de forma interdisciplinar, envolvendo psicologia, endocrinologia, anestesiologia cardiovascular, fisioterapia, enfermagem e esportes (FAGUNDES, CAREGNATO, SILVA, 2016). Dado que esses profissionais são vitais no tratamento.
Um estudo realizado por Silva et al. (2015) identificou perfis de indivíduos que optam pela cirurgia bariátrica como forma de tratamento da obesidade. Dos entrevistados, 49% disseram que escolheram a cirurgia porque os tratamentos anteriores falharam, 39% devido a condições relacionadas e, por fim, 12% escolheram a cirurgia pela sua eficácia e facilidade de perda de peso.
As metas que levam os pacientes a procurarem a cirurgia bariátrica são: 87% para melhorar a qualidade de vida; 72% para melhorar a saúde; 34% para melhorar a estética; 15% para aspectos sociais. Os pacientes que receberam acompanhamento nutricional antes da cirurgia perderam significativamente mais peso do que aqueles que pararam de perder peso ou o recuperaram.
Diante do exposto, levantamos a hipótese de que períodos mais longos de acompanhamento nutricional em candidatos à cirurgia bariátrica podem inibir sua adesão, o que poderia justificar os resultados apresentados nestes dois estudos. Dessa forma, as informações fornecidas pelo nutricionista podem estimular novos hábitos alimentares e assim aumentar as chances de sucesso da cirurgia (DENDASCK et al., 2021).
A frequência com que esses pacientes consultam o nutricionista é fundamental para o sucesso do procedimento. Os pacientes que receberam esse acompanhamento tiveram significativamente menor perda de peso pós-operatória.
Trinta e nove por cento dos pacientes submetidos à gastroplastia redutora apresentaram ganho de peso significativo, principalmente 12 meses após a cirurgia. Em relação à perda de peso pré-operatória, 74% dos pacientes perderam peso sem acompanhamento nutricional, demonstrando a relevância desse profissional no pós-operatório.
Perder peso antes da cirurgia é benéfico porque incentiva os pacientes a desenvolverem hábitos mais saudáveis, pois serão mais capazes de comer o suficiente após a cirurgia. Porém, sabe-se que a perda de peso por métodos infundados, como restrição alimentar e alimentação hipocalórica sem acompanhamento nutricional, são alguns dos fatores que podem levar a distúrbios nutricionais frequentes em indivíduos obesos (RODRIGUES, FARIA, 2020).
Outro fator relevante a considerar é a perda de massa muscular causada pela restrição calórica severa. Essa condição pode levar a alterações na capacidade funcional, como redução na produção de proteínas e redução da competência imunológica.
Além disso, a perda de peso pré-operatória é uma vantagem para o cirurgião porque a gordura intra-abdominal é reduzida e o volume do fígado é reduzido. Na maioria dos pacientes que necessitam de cirurgia, a redução do volume do fígado é causada pela esteatose hepática.
Outros estudos demonstram que a perda de peso superior a 9,5% é significativamente superior à redução de peso inferior a 5% em indivíduos com IMC superior a 45 kg/m². Os pacientes com IMC de 50 kg/m² podem ter mais vantagens em termos de técnicas cirúrgicas. O objetivo do acompanhamento nutricional antes da cirurgia é despertar a consciência para a relevância de adotar hábitos alimentares saudáveis, cruciais para a manutenção do emagrecimento pós-cirúrgico a longo prazo (OLIVEIRA, FREITAS, FERREIRA, 2022).
Diante desta realidade, o conhecimento sobre a nutrição e a nutrição em indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica gera frequentes dúvidas, como a possibilidade de vômitos, a satisfação nas primeiras 48 horas após a cirurgia, as alterações no paladar e o quadro depressivo, o que torna ainda mais relevante a atuação da equipe multidisciplinar.
Uma pesquisa revelou um impacto significativo do acompanhamento interdisciplinar na eficácia da cirurgia bariátrica, demonstrando a relevância da preparação do indivíduo para a realização da cirurgia (MASARI et al., 2012) O comportamento alimentar de pessoas obesas está relacionado ao ambiente em que vivem. Os hábitos alimentares inadequados adquiridos na infância estão relacionados ao aumento da adiposidade corporal.
Além disso, é notório que as pessoas com excesso de peso sofrem com o aumento da incidência de comorbidades associadas à obesidade. Dessa forma, as intervenções nutricionais que estão ligadas às práticas de educação nutricional também têm um impacto benéfico na qualidade de vida.
Uma análise comparativa entre o comportamento alimentar de indivíduos no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica revelou que, entre os pacientes que se preparavam para a cirurgia, 94% apresentavam um “comportamento beliscado”. Dos pacientes que foram submetidos à cirurgia, 60% mostraram o mesmo comportamento (MACHADO et al., 2008)
Antes da cirurgia, os pacientes mostravam uma predileção por alimentos ricos em calorias, como os carboidratos simples (42%), os doces (26%) e os petiscos (14%). No entanto, após a intervenção cirúrgica, os pacientes demonstraram uma predileção por alimentos de fácil absorção, como os doces (45%), petiscos (22%), carboidratos (20%) e cerveja (7%) (MACHADO et al. 2008)
A incidência de episódios de compulsão alimentar entre os pacientes no préoperatório aumentou devido ao aumento do nível de nervosismo, o que estimulava o consumo de alimentos em excesso. Além disso, 24% dos entrevistados afirmaram ter transtornos da ansiedade ou do humor (depressão).
Os pacientes com hipertensão tendem a se tornar mais bonitos após a cirurgia, uma vez que eles preferem doces e petiscos.
Os hábitos alimentares persistem após a realização do procedimento, o que torna ainda mais relevante o acompanhamento psicológico, psiquiátrico e nutricional no pré e pós-operatório, uma vez que hábitos inadequados podem aumentar o peso corporal destes pacientes.
Consideram-se orgânicos, psíquicos e sociais, o que demonstra que a ingestão de alimentos não se limita a aspectos nutricionais. Dessa forma, as motivações ocultas que estão relacionadas aos conflitos vividos e não estão dependentes da sensação de fome.
A limitação imposta pela cirurgia bariátrica pode trazer riscos à compulsão, o que pode dificultar a adaptação desta à nova dieta, uma vez que a capacidade gástrica estará reduzida, o que, por sua vez, trará consequências adversas.
Os candidatos à cirurgia bariátrica compreendem a dinâmica que está relacionada à compulsão alimentar. A procura por novos hábitos é uma forma de assegurar que não surjam problemas após o procedimento. As orientações alimentares devem ser claras para o paciente.
Questões de saúde devem ser consideradas para que o sucesso pós-cirúrgico seja notado, como a digestão e a absorção de nutrientes, antes e depois da cirurgia; a elaboração de pratos mais saudáveis; a leitura de rótulos de alimentos industrializados e a aquisição de produtos no mercado. Enfim, os candidatos devem ser orientados quanto à nutrição nos primeiros meses seguintes à cirurgia.
A nutricionista é indispensável durante o acompanhamento pré e pós-operatório. Com o objetivo de atingir os objetivos almejados. A avaliação prévia deve ser realizada de forma rigorosa, de acordo com um protocolo de atividades previamente elaborado. É crucial que o paciente e a equipe interdisciplinar estejam envolvidas e cientes da relevância de adotar hábitos alimentares mais saudáveis (MASSARI et al., 2012).
3 CONCLUSÃO
A cirurgia bariátrica tem se mostrado um método eficaz para o tratamento da obesidade. No entanto, a falta de orientação do paciente em relação aos benefícios do acompanhamento nutricional após a cirurgia demonstra a possibilidade de uma recuperação do peso perdido devido a deficiências nutricionais. Todavia, é perceptível que é crucial o acompanhamento de um nutricionista após a cirurgia para assegurar a perda de peso de forma saudável, suprir as carências nutricionais de micronutrientes e previne a recuperação do peso perdido, mantendo o estado nutricional adequado e prevenindo as complicações advindas do procedimento cirúrgico.
Sendo assim, o guia alimentar para pacientes pós-operatórios é uma ferramenta que auxilia no processo de recuperação da saúde, uma vez que possibilita o acesso à informação científica sobre os cuidados com a saúde e a alimentação após a cirurgia. Além disso, é uma ferramenta de educação alimentar e nutricional que incentiva o desenvolvimento de habilidades culinárias, valoriza a cultura alimentar, incentiva a comilança e desenvolve a autonomia individual sobre o processo de cuidado.
No entanto, devido ao seu conteúdo limitado a orientações gerais, receitas culinárias e informações gerais sobre o processo de cirurgia bariátrica, este instrumento não tem a pretensão de substituir a atenção clínica ambulatorial de um nutricionista, sendo, portanto, uma ferramenta de apoio a estes profissionais. Dessa forma, este trabalho de conclusão de curso proporcionou o desenvolvimento de competências de suma importância para a atuação nas áreas de nutrição clínica e saúde pública.
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