REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7313510
Fabiana Menezes de Oliveira¹
Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas²
José Carlos de Sales Ferreira3
RESUMO
A obesidade é considerada doença de causa multifatorial abrangendo fatores genéticos e comportamentais, sua prevalência aumentou em todos os grupos etários, principalmente nos países desenvolvidos e é apontada como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. O objetivo deste estudo é avaliar a importância do acompanhamento nutricional no processo de recidiva de peso em pacientes pós-cirurgia bariátrica. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa onde foi realizada revisão de literatura como ferramenta metodológica, para o levantamento bibliográfico foi utilizada Diretrizes, Sociedade Brasileiras e buscas de artigos nas bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Google Acadêmico e SciELO (Scientific Electronic Library Online). O tratamento dessa condição patológica consiste inicialmente na abordagem clínica através de medidas dietéticas, atividade física e a utilização de alguns fármacos, no entanto muitas vezes os tratamentos conservadores não promovem perda de peso significativa e sustentada. A cirurgia bariátrica vem se mostrando eficaz na perda de peso, consiste na modificação do trato gastrointestinal com o objetivo de reduzir ingestão e absorção de nutrientes, no Brasil a que ganha destaque é o By-pass gástrico em Y de Roux (BGYR). Atualmente são três técnicas: restritivas, disabsortivas e mistas. Apesar de sua eficácia, os últimos estudos vêm demonstrando uma recidiva de peso ao longo do tempo nestes pacientes. Nesse contexto, os resultados mostram hábitos alimentares inadequados, o abandono das consultas nutricionais, a inatividade física e a volta do consumo de alimentos altamente calóricos influenciam em algum momento na recidiva de peso. Sendo assim, novos estudos para uma investigação mais estrita devem ser feitos a fim de compreender tais fatores que levam ao reganho do peso, além de elucidar a importância do tratamento nutricional nestes pacientes.
Palavras-chave: Obesidade; Cirurgia Bariátrica; Acompanhamento Nutricional; Recidiva de peso; Deficiências Nutricionais.
ABSTRACT
Obesity is considered a multifactorial disease, covering genetic and behavioral factors, its prevalence has increased in all age groups, especially in developed countries, and is considered one of the biggest public health problems in the world. The objective of this study is to evaluate the importance of nutritional monitoring in the process of weight relapse in patients after bariatric surgery. This is a research with a qualitative approach where a literature review was carried out as a methodological tool, for the bibliographic survey it was used Guidelines, Brazilian Society and searches for articles in the databases: Virtual Health Library (BVS), Google Scholar and SciELO (Scientific Electronic Library Online). The treatment of this pathological condition initially consists of the clinical approach through dietary measures, physical activity and the use of some drugs, however conservative treatments often do not promote significant and sustained weight loss. Bariatric surgery has been shown to be effective in weight loss, it consists of modifying the gastrointestinal tract with the aim of reducing nutrient intake and absorption, in Brazil the one that stands out is the Roux-en-Y gastric bypass (RYGB). There are currently three techniques: restrictive, malabsorptive and mixed. Despite its effectiveness, recent studies have shown weight relapse over time in these patients. In this context, the results show inadequate eating habits, the abandonment of nutritional consultations, physical inactivity and the return to the consumption of high-calorie foods at some point influence weight relapse. Therefore, further studies for a more strict investigation should be carried out in order to understand such factors that lead to weight regain, in addition to elucidating the importance of nutritional treatment in these patients.
Keyword: Obesity; Bariatric Surgery; Nutritional Monitoring; Weight Relapse; Nutritional Deficiencies.
1. INTRODUÇÃO
A obesidade é definida pela OMS como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal em forma de tecido adiposo. É considerada doença de causa multifatorial, abrangendo fatores genéticos, comportamentais, metabólicos e ambientais (TONATTO-FILHO et al., 2019).
O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma razão simples entre o peso e a altura elevada ao quadrado, que é frequentemente usada para classificar a obesidade em adultos. Assim, considera-se obesidade quando o IMC se encontra acima de 30kg/m² e sua gravidade pode ser definida grau I quando o IMC situa-se entre 30 e 34,9 kg/m², obesidade grau II quando IMC está entre 35 e 39,9kg/m² e obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40 kg /m², que pode ser chamada também de obesidade mórbida (GONÇALVES; KOHLSDORF; PEREZ-NEBRA, 2020).
A prevalência de obesidade aumentou em todos os grupos etários, principalmente nos países desenvolvidos e a OMS aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo (ROCHA; HOCIKO; OLIVEIRA, 2018). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM, 2017) entre as principais doenças associadas estão o diabetes, hipertensão arterial, problemas articulares, problemas respiratórios, apneia do sono e alguns tipos de câncer.
O tratamento dessa condição patológica consiste inicialmente na abordagem clínica através de medidas dietéticas, atividade física e a utilização de alguns fármacos, porém sabe-se que o tratamento conservador muitas vezes é ineficaz em produzir perda de peso significativa e/ou manutenção desta perda no paciente obeso grave (NÓBREGA et al., 2020).
A cirurgia bariátrica vem se mostrando como o tratamento mais efetivo para a perda de peso e controle das comorbidades da obesidade, quando ocorre insucesso nos tratamentos conservadores (BARDAL; CECCATTO; MEZZOMO, 2016).
Segundo o Consenso Bariátrico definido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, as cirurgias bariátricas, independentemente da técnica a ser utilizada, estão indicadas, em relação à massa corpórea, para as pessoas com índice de massa corporal (IMC) >40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades (doenças agravadas pela obesidade e que melhoram quando a mesma é tratada de forma eficaz) e IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidade (ZEVE; NOVAIS; JUNIOR, 2012).
O procedimento cirúrgico através de técnicas mistas constitui o padrão-ouro das operações para obesidade grave. A mais utilizada é a derivação gastrojejunal em Y-de-Roux (DGYR) também conhecida por bypass gástrico, proposta por Fobbi e Capella. Os resultados da DGYR confirmam sua eficácia na perda de peso, assim como se relacionam à redução das comorbidades e melhora da qualidade de vida (BASTOS et al., 2013).
Segundo Silva e Kelly (2013) apesar de ser eficaz na perda de peso, após o segundo ano de cirurgia, têm se percebido em alguns pacientes o início de um período crítico relacionado com o reganho de peso. Além disso, de acordo com Menegotto et al., (2013) com o decorrer do tempo, podem surgir casos de carências nutricionais, devido à ingestão alimentar deficiente e a síndrome de má-absorção de vitaminas e minerais, resultando em desnutrição, neuropatias, intolerâncias alimentares e outras enfermidades.
De acordo com Scabim, Eluf-neto e Tess (2012) o seguimento nutricional quando realizado rotineiramente pode identificar e intervir precocemente em situações pós-operatórias de perda insuficiente ou reganho do excesso de peso e deficiências nutricionais e, dessa forma, contribuir para resultados favoráveis do tratamento cirúrgico da obesidade.
Portanto, o acompanhamento nutricional deve estar presente em todas as fases da cirurgia bariátrica, pois ajudará o indivíduo no pré-operatório, bem como o auxiliará nas melhores escolhas no pós-operatório e ao longo da sua vida (REIS et al., 2012).
Levando em consideração a crescente taxa de obesidade no Brasil e no mundo e por sua vez um dos maiores problemas de saúde pública, o presente estudo motivou-se, pelas complicações e riscos associados que a doença traz para as pessoas acometidas. E segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (2020), a Cirurgia Bariátrica (CB) é comprovadamente um tratamento eficaz para uma série de doenças relacionadas à obesidade.
O Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias bariátricas no mundo, diante dessa dimensão se faz necessário uma abordagem e esclarecimento sobre todos os aspectos que envolvem a CB.
É possível notar uma melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, e o Nutricionista faz parte desse longo processo a fim de prevenir possíveis recidivas de peso, deficiências nutricionais e complicações associadas ao processo pós-cirúrgico. Portanto, a relevância desse projeto se dá no conhecimento dos riscos pós cirurgia, e dos cuidados que esses pacientes devem tomar ao longo da sua vida.
Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa é avaliar a importância do acompanhamento nutricional na manutenção do peso e no processo de recidiva em pacientes pós-cirurgia bariátrica. De forma mais específica, buscou-se identificar fatores relacionados com o processo de reganho de peso em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica; analisar as principais deficiências nutricionais em pacientes no pós-cirurgia bariátrica e compreender a atuação do nutricionista no processo de recidiva de peso em longo prazo no pós-cirúrgico.
2. METODOLOGIA
2.1 Tipo de estudo
O presente estudo trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e foi utilizada a revisão de literatura como ferramenta metodológica, apresentando uma visão geral sobre o tema proposto. Metodologia cuja proposta combina dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular. Assim, pode-se identificar lacunas de conhecimento, levantar o conhecimento já produzido e indicar prioridades para futuros estudos, ou seja, é uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (Paiva et al., 2016).
2.2 Coleta de dados
Na coleta inicial foram encontrados ao total 16.951 artigos nas bases de dados, sendo: 15.399 artigos na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), 981 no Google Acadêmico e 571 no SciELO (Scientific Electronic Library Online), buscando pelos seguintes descritores: Pós-operatório; Cirurgia Bariátrica; Acompanhamento Nutricional; Recidiva de peso e Deficiências Nutricionais. Além de uma combinação de dois em dois entre os mesmos a fim de definir melhor a busca na literatura.
2.3 Análise de dados
Como critério de inclusão, os limites estabelecidos foram a busca de estudos publicados nos últimos dez anos, período este compreendido entre 2012 a 2022 selecionando artigos, resoluções e portarias em português, publicadas em revistas científicas e de acordo com a temática escolhida.
Os critérios de exclusão foram: artigos que não apresentem algum dos descritores: Cirurgia Bariátrica, Acompanhamento Nutricional; Recidiva de peso; Deficiências e Nutricionais; e os demais estudos que não se enquadrem nos critérios de inclusão já mencionados. Após analisar de forma criteriosa foram elencados 30 artigos para compor esta revisão de integrativa de literatura.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Cirurgia Bariátrica
A Cirurgia Bariátrica (CB) constitui um método invasivo para combater a obesidade, quando os tratamentos clínico e medicamentoso se tornam insuficientes. Tem se consolidado como um importante meio de tratamento da obesidade mórbida (IMC >= 40 Kg/m²) e de pacientes obesos, com IMC >30 Kg/m², com comorbidades, modificando a morbimortalidade relacionada a essa enfermidade. O trato gastrointestinal é modificado com o objetivo de reduzir ingestão e absorção de nutrientes. Considera-se uma alternativa terapêutica eficaz para redução de peso a médio e longo prazo (RAMOS; MELLO, 2015; SOARES et al., 2017).
A intervenção cirúrgica no tratamento da obesidade teve seus primeiros estudos na década de 50. As primeiras técnicas consistiam em criar um grande efeito disabsortivo, efetuando a exclusão de grande parte do intestino delgado (ZEVE; NOVAIS; JUNIOR, 2012). Em virtude das complicações apresentadas ao longo do acompanhamento do pós cirúrgico nos primeiros pacientes, surgiu a necessidade de melhoria da técnica, visto que houve um grande aumento de anormalidades (SILVA; KELLY, 2013).
O Brasil é o segundo país no mundo que mais realiza operações deste tipo, com 100 mil registros por ano, e fica atrás apenas dos Estados Unidos (SBCBM). Várias técnicas são utilizadas e no Brasil a que ganha destaque é o By-pass gástrico em Y de Roux (BGYR). Atualmente são divididas em três técnicas: restritivas, disabsortivas e mistas. As técnicas restritivas consistem em diminuir a capacidade gástrica, induzindo a saciedade precoce, levando a uma redução da ingesta alimentar. Estão inclusas nesta técnica a gastroplastia vertical, banda elástica ajustável e o balão intragástrico. As disabsortivas alteram o fator de absorção devido ao encurtamento intestinal (MORAIS et al., 2022; RAMOS; MELLO, 2015).
Já nas cirurgias mistas, além do fator restritivo que provoca a sensação de saciedade com uma pequena quantidade de alimento, também existe um fator disabsortivo, o qual é conseguido pela diminuição do local de absorção de nutrientes no intestino delgado, as técnicas mistas mais conhecidas são: derivação biliopancreática com gastrectomia distal (Cirurgia de Scopinaro) e derivação gastrojejunal em Y-de-Roux (Cirurgia de Fobi-Capella) (ZEVE; NOVAIS; JUNIOR, 2012).
No que tange os benefícios da CB, vários estudos apontam uma melhora significativa das comorbidades associadas, melhora do perfil lipídico, glicêmico, pressão arterial e até mesmo remissão de algumas doenças. Tedesco et al., (2016) em estudo transversal com 29 amostras de ambos sexos, com idades entre 18 e 70 anos analisou prontuários de pacientes submetidos à gastroplastia no período pré-operatório e pós-operatório precoce, onde verificou uma redução de peso com média de 108,53 kg para 78,69 kg. o IMC médio reduziu nos valores de 40,06 kg/m² para 28,75 kg/m², passando portanto, de classificação de obesidade mórbida para sobrepeso, representando 51,7% da pesquisa. A variável LDL apresentou diferença com diminuição de aproximadamente 30,3 mg/dl após a gastroplastia. Os valores de triglicérides que estavam na faixa de 129,6 – 173,3 mg/dl no pré operatório passou para 81,9 mg/dl–105,3 mg/dl.
Castanha et al. (2018) em sua pesquisa do tipo transversal com objetivo de mensurar a eficácia da perda de peso, analisar a evolução de comorbidades e investigar a qualidade de vida, constatou: 103 pacientes submetidos a cirurgia bariátrica a partir de quatro meses de pós-operatório, a prevalência é o sexo feminino (89,3%), com idade média de 44 anos, o percentual da perda do excesso de peso foi de 69,35%. Observou ainda que as comorbidades com maior percentual de resolução foram: apneia do sono (90,2%), diabetes (80,7%) e hipertensão (70,8%). A qualidade de vida através do protocolo BAROS avaliou de forma positiva 93,2% dos casos. Silveira-Junior et al., (2015) teve um achado semelhante no que diz respeito à qualidade de vida medido pelo protocolo BAROS: 81,3% dos operados já apresentavam conceito “muito bom” ou “excelente” seis meses após procedimento.
É Importante ressaltar que além dos benefícios da cirurgia em relação à melhora expressiva de doenças crônicas, o tratamento cirúrgico da obesidade não termina no ato cirúrgico, mas sim aos cuidados pós cirurgia em longo prazo, visto que no pós cirúrgico podem ocorrer alterações que coloca em risco o sucesso de tal procedimento (SOUSA; FALCONE, 2018).
3.2 A recidiva de peso no pós-operatório
É consenso em estudos atuais um número crescente de pacientes bariátricos que voltam a ganhar peso após certo período de operados. Silva e Kelly (2013) em seu estudo relata que uma média de 15% dos pacientes recuperam peso, em especial transcorridos 24 meses após cirurgia. Cambi et al. (2015) cita um percentual de 20% no período de 24 a 36 meses. Em outra pesquisa concluiu-se que há um abandono nas consultas nutricionais no mesmo período em questão, o que pode levar a riscos e a recidiva de peso (MENEGOTTO et al., 2013).
A produção de hormônios orexígenos após 24 meses de déficit calórico, entra numa fase de readaptação ao organismo, diminuindo a perda ponderal e facilitando o ganho de peso, tais estudos também relacionam o reganho a diversos fatores que são apontados como preditivos para a ocorrência do reganho de peso, como alimentação inadequada, sedentarismo e causas hormonais (COSTA et al., 2022).
Em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, o comportamento alimentar é de grande relevância, uma vez que influenciará na quantidade e qualidade do alimento por eles ingerido, bem como na capacidade desses pacientes em seguir as orientações nutricionais, que se constituem como fatores fundamentais para a perda e manutenção do peso perdido em longo prazo (JESUS et al., 2017). O Reganho de peso pode acarretar importantes consequências à saúde dos pacientes, principalmente ocasionando a recorrência das comorbidades associadas, além de ter um efeito psicológico preocupante nos pacientes, que podem experimentar sentimentos de frustração e tristeza (AQUINO et al., 2020).
Um fator importante a ser ressaltado é que a cirurgia bariátrica do tipo restritivo produz mudanças significativas no comportamento alimentar. Os pacientes que realizaram essa cirurgia são obesos ou ex-obesos que se receiam a possível recuperação do peso perdido (JESUS et al., 2017).
O ato beliscador, preferência por alimentos mais calóricos, carboidratos refinados, além de alimentos de fácil digestão foi relatado em uma pesquisa como hábitos alimentares desses pacientes. No pré-operatório, onde sua maioria (94%) revela já possuir o hábito de beliscar antes mesmo da cirurgia, enquanto os pacientes já submetidos à cirurgia 60% apresentam tal comportamento. E atribuíram esse comportamento compulsivo a fatores emocionais como nervosismo, ansiedade e depressão (RODRIGUES et al., 2017).
Estudos sugerem que, após o sexto mês da realização da cirurgia, já ocorre uma adaptação do volume ingerido e o paciente volta a apresentar os seus hábitos alimentares usuais, que, na maioria das vezes, são inadequados. Para que esse processo venha a ser evitado e a perda de peso ocorra de forma saudável e eficaz, faz-se necessário aconselhamento psicológico e nutricional prévio (SOARES et al., 2017).
3.3 Deficiências Nutricionais
Um dos efeitos colaterais comuns na cirurgia bariátrica são as deficiências nutricionais; estas muitas vezes são inerentes às alterações estruturais que ocorrem no trato gastrointestinal decorrente do procedimento escolhido (AZEVEDO; BRITTO, 2012). As deficiências nutricionais potenciais podem ser atribuídas a uma série de causas. Os nutrientes mais comumente afetados são as vitaminas B12 (cobalamina), vitamina D, folato (B9) e ferro demonstrando um grau maior de deficiências em pacientes que realizaram Bypass gástrico em Y de Roux (MOURA; SOUSA; LIMA, 2021).
De acordo com Silveira-Junior et al. (2015) as complicações ganharam evidência nos últimos anos. Dentre elas merecem destaque a deficiência de albumina, de ferritina, de vitaminas e micronutrientes, principalmente de vitamina B12. Cambi, Marchesini e Baretta (2015) descreve uma amostra com 49 pacientes, destes 30 pacientes (61,2%) encontravam-se com ferritina baixa; 35 (71,4%) estavam com vitamina B12 abaixo; e deficiência de vitamina D3 ocorreu em mais de 90%.
Os déficits de vitaminas e minerais em 50% dos casos são observados após os 12 primeiros meses de cirurgia, e estas fazem parte das complicações associadas ao procedimento. Elas ocorrem mais especificamente devido a restrição no consumo alimentar e a influência fisiológica das estruturas anatômicas modificadas pela cirurgia bariátrica. A intolerância alimentar e a negligência no uso de polivitamínicos podem favorecer esse processo (TOREZAN, 2013).
Faé, Liberali e Coutinho (2015) relatam em seu estudo, entre as deficiências mais comuns estão: proteínas, folato, vitamina B12, ferro, zinco, cálcio e vitamina D. Ocorrendo entre 12-15 meses de pós-operatório, sendo a vitamina D observada em período menor. Esses autores complementam seus achados, ressaltando que a deficiência de vitamina B12 pode apresentar baixos níveis a partir dos 6 meses, porém em sua maioria é observada a partir de um ano ou mais, tempo suficiente para o estoque no fígado se esgotar, sendo relacionado com o baixo consumo de proteína.
A deficiência de vitamina b12 é a mais relatada, isso se explica segundo Andrioli e Kuntz (2018) devido à redução na produção de ácido clorídrico no pós operatório, o que dificulta a liberação de vitamina B12 presente nos alimentos e também a redução na produção do fator intrínseco, responsável pela absorção da vitamina no íleo terminal.
Zyger, Zanardo e Tomicki (2016) descrevem, a deficiência de vitamina B12 é encontrada em 12 a 75% dos pacientes submetidos à técnica derivação gástrica em Y de Roux (DGYR) a depender do tempo de pós-operatório e o momento da avaliação. Enfatiza ainda os benefícios dos micronutrientes nos processos metabólicos da perda de peso e regulação do apetite, sendo, portanto, sua importância associada à manutenção e perda de peso em maior período. Sugere exames bioquímicos antes da cirurgia, o que pode ajudar a prevenir tais deficiências.
Complicações metabólicas e deficiências nutricionais são comuns nos pacientes após a CB. A adequada orientação, monitoramento e acompanhamento no pós-operatório são peças-chave na identificação e/ou na prevenção destas deficiências. Todos profissionais devem estar atentos aos sinais e sintomas clínicos das deficiências e o monitoramento laboratorial, quando possível, deve ser realizado (RAMOS; MELLO, 2015).
3.4 O papel do Nutricionista no pré e pós-operatório
O profissional nutricionista tem um papel vital no pré e pós-operatório. O aconselhamento nutricional no período pré-operatório está inteiramente relacionado ao aumento do potencial de sucesso no pós-operatório (RODRIGUES et al., 2017).
O acompanhamento nutricional pré-operatório do bariátrico serve para repassar aos candidatos as orientações nutricionais, dessas está a perda de peso de 5-10 kg antes do procedimento, escolhas alimentares saudáveis, que proporcionam a manutenção do emagrecimento pós-cirúrgico em longo prazo, instrução sobre a digestão e absorção de nutrientes antes e após cirurgia, a montagem de pratos saudáveis, leitura de rótulos de alimentos, compras no mercado e orientar devidamente sobre a alimentação durante os seis primeiros meses após cirurgia (SANCHES et al., 2021).
Em uma pesquisa realizada em 2018 em Brasília, com amostras de 28 adultos com idades entre 25 e 55 anos e com tempo de cirurgia de no mínimo um ano e meio, concluiu que aqueles indivíduos que tiveram uma maior frequência nas consultas nutricionais no pré-operatório (60,7%), tiveram uma menor chance de reganharem peso, sendo este um fator protetivo para o não reganho de peso. Dados semelhantes foram encontrados em um estudo com 46 pacientes com no mínimo 24 meses de pós cirúrgico, onde foi possível verificar 18 (69,2%) pacientes que fizeram mais de 3 consultas no pré operatório, não obtiveram recidiva de peso (BARDAL; CECCATTO; MEZZOMO, 2016; SOARES; MAYNARD, 2018).
Além disso, a pessoa que adere a um programa prévio à cirurgia tende a ter maior motivação para um estilo de vida saudável, o qual é primordial para a manutenção do peso, envolvendo a multidisciplinaridade de alimentação saudável, atividade física e acompanhamento psicológico. Para a manutenção do peso após a cirurgia bariátrica pode ser necessária uma abordagem multidisciplinar, com associação de diversos tratamentos, envolvendo profissionais das áreas de medicina, nutrição, educação física e psicologia. (BARDAL; CECCATTO; MEZZOMO, 2016).
Traçar o perfil nutricional antes da operação ajuda o nutricionista a avaliar o grau de conhecimento que eles apresentam sobre o que comem, bem como seus hábitos alimentares e dos seus familiares, além de características referentes ao convívio social e o entendimento quanto às mudanças que ocorrerão após a realização da operação. O conhecimento e o esclarecimento da maioria ou de todos esses fatores, ainda no período pré-operatório, são de grande importância para mudanças em seus hábitos de vida, levando à maior probabilidade de sucesso no tratamento e controle da obesidade (MAGNO et al., 2014).
4. CONCLUSÃO
A obesidade é crescente no mundo todo, e como busca no tratamento desta doença a cirurgia bariátrica vem alcançando números expressivos, e já é considerada padrão ouro, melhorando qualidade de vida e diminuindo comorbidades. Desta maneira faz-se necessário uma melhor compreensão do tema, pois é descrito na literatura uma prevalência crescente de paciente submetido a esse tipo de cirurgia que voltam a ganhar peso em especial a partir dos dois anos de pós cirurgia.
Foi possível observar na pesquisa que além dos fatores de hábitos alimentares inadequados, existem também aqueles pacientes que abandonam as consultas nutricionais depois de alguns meses do pós, a inatividade física e a volta do consumo de alimentos altamente calóricos influenciam no reganho de peso. Sendo assim, novos estudos para uma investigação mais estrita devem ser feitos a fim de compreender tais fatores que levam ao reganho do peso e para elucidar a importância do tratamento nutricional para estes pacientes.
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¹ Graduanda do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: fabianamenezes@live.com
² Orientadora do TCC, Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: francisca.freitas@fametro.edu.br
³ Co-orientador do TCC, Mestre em Ciências do alimento pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO. E-mail: jose.ferreira@fametro.edu.br