A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS INTERDISCIPLINARES NA ATENÇÃO BÁSICA.

THE IMPORTANCE OF CHILDHOOD VACCINATION: CHALLENGES AND INTERDISCIPLINARY STRATEGIES IN PRIMARY CARE.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202507281525


Maria Eduarda Bezerra do Nascimento1; Victória Maria Pontes Martins2; Elda Garbo Pinto3; Heloisa Lopes de Souza Inácio4; Elizabeth Ferreira da Rocha5; Maryane Francisca Araújo de Freitas Cavalcante6; Juliana Mineu Pereira7; Jamile Mineu Pereira8; Maria Célia de Freitas9; Cássia Marques da Rocha Hoelz10


RESUMO

A vacinação infantil configura-se como uma das mais relevantes estratégias de promoção da saúde pública, sendo essencial para a prevenção de doenças imunopreveníveis e a redução da morbimortalidade na infância. No entanto, nas últimas décadas, tem-se observado uma queda progressiva na cobertura vacinal, o que representa um desafio para os serviços de saúde e exige a adoção de medidas interdisciplinares mais eficazes. Este artigo teve como objetivo analisar a importância da vacinação infantil e discutir os principais desafios enfrentados na atenção básica, com foco nas estratégias interdisciplinares para o fortalecimento das ações vacinais. Utilizou-se o método de revisão integrativa da literatura, com buscas realizadas em bases de dados científicas nacionais e internacionais, a partir de critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Os resultados apontaram que fatores como a hesitação vacinal, a desinformação, as desigualdades sociais e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde impactam negativamente a adesão das famílias à imunização. Verificou-se ainda que a atuação articulada entre os profissionais da equipe multiprofissional, aliada à educação em saúde, ao uso de tecnologias digitais e à mobilização comunitária, representa uma estratégia eficaz para enfrentar essas barreiras. Conclui-se que o fortalecimento das políticas públicas de vacinação infantil depende do investimento em práticas intersetoriais, do engajamento das comunidades e da valorização do trabalho em equipe na atenção primária.

Palavras-chave: Vacinação infantil. Atenção básica. Saúde pública. Estratégias interdisciplinares. Cobertura vacinal.

ABSTRACT

Childhood vaccination is one of the most important public health promotion strategies, essential for preventing vaccine-preventable diseases and reducing childhood morbidity and mortality. However, in recent decades, there has been a progressive decline in vaccination coverage, posing a challenge to health services and requiring the adoption of more effective interdisciplinary measures. This article aimed to analyze the importance of childhood vaccination and discuss the main challenges faced in primary care, focusing on interdisciplinary strategies to strengthen vaccination programs. An integrative literature review was used, with searches conducted in national and international scientific databases based on previously established inclusion and exclusion criteria. The results indicated that factors such as vaccine hesitancy, misinformation, social inequalities, and difficulties in accessing health services negatively impact families’ adherence to immunization. It was also found that coordinated action among professionals in the multidisciplinary team, combined with health education, the use of digital technologies, and community mobilization, represents an effective strategy for addressing these barriers. It is concluded that strengthening public childhood vaccination policies depends on investment in intersectoral practices, community engagement, and the appreciation of teamwork in primary care.

Keywords: Childhood vaccination. Primary care. Public health. Interdisciplinary strategies. Vaccination coverage.

1. INTRODUÇÃO

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (2022), a imunização previne de 3 a 5 milhões de mortes por ano e representa um direito fundamental da criança à saúde. No entanto, apesar dos avanços alcançados, o Brasil vem enfrentando nos últimos anos uma preocupante queda nas coberturas vacinais, sobretudo entre crianças menores de cinco anos, o que coloca em risco a erradicação de doenças antes controladas, como o sarampo e a poliomielite. A vacinação infantil é uma das estratégias mais eficazes para a prevenção de doenças infecciosas, sendo responsável por salvar milhões de vidas anualmente em todo o mundo. 

    Essa realidade evidencia um cenário desafiador para os profissionais da saúde, especialmente na Atenção Básica, onde a vacinação deve ser promovida de maneira contínua, acessível e integrada às demais ações de cuidado. De acordo com Domingues et al. (2020), o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um dos maiores programas públicos de imunização do mundo, mas barreiras como a desinformação, o medo de efeitos adversos, a desconfiança em relação às vacinas e a dificuldade de acesso aos serviços ainda comprometem sua efetividade.

    A hesitação vacinal tem sido apontada como um dos principais entraves ao sucesso das campanhas de imunização. Em muitos casos, a disseminação de notícias falsas e a falta de orientação adequada contribuem para a formação de um cenário de insegurança entre pais e responsáveis, exigindo dos profissionais de saúde não apenas competência técnica, mas também sensibilidade comunicacional e atuação interprofissional. Nessa perspectiva, torna-se fundamental compreender como as equipes de saúde da família, em articulação com outros setores sociais, podem elaborar estratégias interdisciplinares que promovam o acesso e a adesão à vacinação, considerando o contexto sociocultural de cada território (Sato, 2018).

    Diante desse panorama, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a importância da vacinação infantil no contexto da Atenção Básica, discutindo os principais desafios enfrentados pelas equipes de saúde e as estratégias interdisciplinares que podem ser adotadas para superar as barreiras à imunização. O problema que orienta este estudo está centrado na seguinte questão: quais os principais obstáculos que comprometem a adesão à vacinação infantil e de que forma a atuação interdisciplinar pode contribuir para superá-los no âmbito da atenção primária?

    Assim, justifica-se esta investigação pela urgência em garantir a manutenção de elevadas coberturas vacinais e pela necessidade de fortalecer ações colaborativas entre diferentes áreas do conhecimento, no intuito de assegurar o direito à saúde das crianças e a proteção coletiva da população. Além disso, trata-se de um tema que reflete a vivência cotidiana dos profissionais da enfermagem e das demais categorias inseridas na atenção básica, que convivem com os impactos da baixa vacinação e suas repercussões na saúde pública.

    2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

      2.1 HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO INFANTIL

      A vacinação infantil representa um marco histórico na luta contra doenças infecciosas que, por séculos, acometeram e dizimaram populações ao redor do mundo. O desenvolvimento das primeiras vacinas remonta ao século XVIII, com as experimentações de Edward Jenner, que, em 1796, aplicou o conceito da inoculação usando o vírus da varíola bovina para conferir imunidade contra a varíola humana, uma doença altamente letal na época. Este avanço pioneiro inaugurou uma nova era na medicina preventiva, cuja evolução contínua possibilitou a criação de vacinas contra inúmeras doenças que antes eram consideradas inevitáveis (Barbosa; Silva, 2017).

      Segundo Fine et al. (2011), as campanhas de imunização infantil contribuíram significativamente para a erradicação da varíola em 1980 e para a drástica redução da incidência de poliomielite, sarampo, difteria, entre outras enfermidades. O impacto das vacinas na saúde pública é amplamente reconhecido pela comunidade científica e órgãos internacionais. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é um exemplo de política pública que elevou as taxas de cobertura vacinal, promovendo uma melhoria substancial nos indicadores de saúde infantil e na expectativa de vida da população (Domingues et al., 2020).

      Os princípios básicos da imunização se fundamentam na capacidade do sistema imunológico de reconhecer agentes infecciosos e desenvolver uma resposta protetora duradoura. As vacinas introduzem no organismo antígenos atenuados, inativados ou fragmentados, que estimulam a produção de anticorpos específicos sem causar a doença (Sato, 2018). Esse processo confere imunidade ativa, que pode ser individual, protegendo a criança vacinada, e coletiva, ao impedir a circulação do agente infeccioso na comunidade, fenômeno conhecido como imunidade de rebanho (Andrade; Pereira, 2019). Dessa forma, a vacinação infantil se apresenta como um instrumento essencial para a promoção da saúde, prevenindo doenças graves, reduzindo internações hospitalares e contribuindo para o desenvolvimento pleno das crianças.

      2.2 PROGRAMAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DE VACINAÇÃO

      Segundo Domingues et al. (2020), o PNI oferece gratuitamente um calendário amplo de vacinas para crianças, adolescentes, adultos e idosos, consolidando-se como uma política pública essencial para a promoção da saúde coletiva. O programa é responsável pela coordenação de campanhas nacionais, monitoramento da cobertura vacinal e atualização constante do calendário vacinal, considerando avanços científicos e epidemiológicos.Os programas de vacinação representam estratégias fundamentais para o controle e a erradicação de doenças imunopreveníveis, sendo desenvolvidos em diferentes níveis governamentais com o objetivo de garantir o acesso universal às vacinas. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), instituído em 1973, destaca-se como uma das maiores conquistas do Sistema Único de Saúde (SUS). 

      De acordo com a OMS (2022), suas diretrizes incluem a definição de metas globais de cobertura vacinal, o incentivo à introdução de novas vacinas, a garantia da segurança dos imunizantes e o fortalecimento dos sistemas de vigilância epidemiológica. A OMS também promove campanhas de erradicação, como a da poliomielite, e articula parcerias com instituições governamentais e não governamentais para ampliar o acesso e a aceitação das vacinas. No âmbito internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desempenha papel central na orientação e suporte aos países para a implementação de programas eficazes de imunização. 

      A cobertura vacinal, medida pela proporção da população-alvo imunizada, é um indicador fundamental para avaliar o sucesso dos programas de vacinação. Conforme Andrade e Pereira (2019), a meta ideal é atingir e manter uma cobertura superior a 95%, garantindo a imunidade coletiva necessária para interromper a circulação dos agentes infecciosos. Entretanto, diversos fatores, como dificuldades logísticas, resistência social e desigualdades regionais, influenciam negativamente esses índices, exigindo estratégias específicas para sua melhoria. O monitoramento constante dos indicadores permite identificar áreas de vulnerabilidade, orientar intervenções e planejar campanhas direcionadas, assegurando a efetividade das ações de imunização na Atenção Básica.

      2.3 DESAFIOS ATUAIS DA VACINAÇÃO INFANTIL

      Segundo Domingues et al. (2020), essa redução está associada a fatores multifatoriais, como a desinformação, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, e o surgimento de movimentos antivacina, que impactam diretamente na proteção das crianças contra doenças preveníveis. Apesar dos avanços significativos conquistados nas últimas décadas, a vacinação infantil enfrenta atualmente diversos desafios que comprometem a manutenção de altas coberturas vacinais e colocam em risco a saúde pública. Um dos principais problemas observados é a queda na cobertura vacinal, fenômeno que tem sido registrado em vários países, inclusive no Brasil. 

      A hesitação vacinal, entendida como a dúvida ou recusa em aceitar vacinas apesar da disponibilidade dos serviços, é um aspecto central nesse cenário e tem despertado atenção na literatura científica. Larson et al. (2014) definem a hesitação vacinal como um fenômeno complexo que envolve influências socioculturais, psicológicas e contextuais, incluindo a confiança nas vacinas, nos profissionais de saúde e nas instituições responsáveis. Aspectos como o medo de efeitos adversos, crenças pessoais, influências de redes sociais e informações errôneas contribuem para a formação dessa resistência, que afeta não apenas o indivíduo, mas a coletividade, ao comprometer a imunidade de rebanho (Sato, 2018).

      Conforme Andrade e Pereira (2019), a distribuição desigual de recursos, a precariedade da infraestrutura de saúde em áreas rurais e periféricas, bem como as dificuldades socioeconômicas das famílias, dificultam o alcance completo das ações vacinais. Essas disparidades resultam em áreas com baixa cobertura, onde surtos de doenças ainda são frequentes, evidenciando a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades locais e promovam a equidade no acesso à imunização. Além disso, as barreiras de acesso e as desigualdades regionais configuram-se como obstáculos significativos à ampliação da vacinação infantil. 

      2.4 ESTRATÉGIAS INTERDISCIPLINARES NA ATENÇÃO BÁSICA PARA PROMOÇÃO DA VACINAÇÃO

      Conforme ressalta Oliveira et al. (2019), o trabalho conjunto potencializa as ações de imunização, permitindo o compartilhamento de responsabilidades e o cuidado integral do paciente. O enfermeiro, em especial, exerce uma função estratégica ao organizar o calendário vacinal, realizar o acolhimento e o esclarecimento das dúvidas das famílias, além de monitorar a atualização das vacinas. A promoção da vacinação infantil na Atenção Básica requer uma abordagem interdisciplinar que envolva a colaboração ativa de diferentes profissionais da saúde, com o objetivo de garantir o acesso, a adesão e o acompanhamento adequado das crianças. A equipe multiprofissional, composta por enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde, dentistas e outros trabalhadores, desempenha papel fundamental nesse processo. 

      De acordo com Silva e Souza (2021), campanhas educativas e rodas de conversa promovidas na comunidade contribuem para fortalecer o vínculo entre os profissionais e a população, aumentando a confiança e o engajamento dos pais e responsáveis na imunização das crianças. O uso das tecnologias da informação também tem sido incorporado como ferramenta para disseminar informações confiáveis e combater as fake news. Outro aspecto essencial para o sucesso das estratégias vacinais é a educação em saúde, que deve ser planejada para enfrentar a desinformação e os mitos que cercam o tema. Para tanto, a comunicação efetiva e a utilização de linguagem acessível são indispensáveis. 

      Além disso, a integração entre os serviços de saúde, as escolas e a comunidade é uma estratégia que amplifica o alcance das ações de vacinação. Conforme apontam Lima e Fernandes (2020), parcerias entre equipes de saúde da família e instituições educacionais permitem a identificação precoce de crianças com vacinação incompleta e a promoção de campanhas locais que envolvem famílias, educadores e líderes comunitários. Essa articulação intersetorial facilita a construção de um ambiente favorável à vacinação, assegurando a continuidade do cuidado e o fortalecimento das redes de proteção social.

      2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA FORTALECIMENTO DA VACINAÇÃO INFANTIL

      Segundo Domingues et al. (2020), campanhas de mobilização social configuram-se como ferramentas estratégicas para sensibilizar a população sobre a importância da imunização, alcançando diferentes segmentos e reduzindo as barreiras culturais e informacionais. Essas campanhas costumam envolver veículos de comunicação, eventos comunitários e parcerias com lideranças locais, promovendo maior adesão e engajamento das famílias. As políticas públicas desempenham papel central na consolidação e fortalecimento da vacinação infantil, sendo responsáveis por estabelecer diretrizes, assegurar recursos e promover ações que ampliem a cobertura vacinal. 

      Conforme Silva e Souza (2021), aplicativos de monitoramento, sistemas informatizados de registro vacinal e plataformas de comunicação direta com os usuários contribuem para o acompanhamento em tempo real das coberturas e para o envio de alertas sobre vacinas pendentes. Essas ferramentas facilitam a organização das equipes de saúde e estimulam a participação ativa das famílias no cuidado das crianças, ampliando a efetividade das ações vacinais. Além das estratégias tradicionais, o uso de tecnologias digitais tem ganhado destaque como aliado fundamental na gestão e educação em saúde. 

      Experiências exitosas em diferentes contextos reforçam a importância da articulação entre políticas públicas e estratégias inovadoras para o enfrentamento dos desafios da vacinação infantil. Lima e Fernandes (2020) destacam programas que integraram ações de educação popular, capacitação profissional e mobilização comunitária, resultando em aumento significativo da cobertura vacinal e fortalecimento do vínculo entre serviços e usuários. Essas lições evidenciam que, para além do fornecimento das vacinas, é imprescindível promover um ambiente favorável que envolva conscientização, acesso facilitado e responsabilidade compartilhada, garantindo a proteção integral da infância.

      3. METODOLOGIA 

        Este estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo é reunir e sintetizar evidências científicas disponíveis sobre a importância da vacinação infantil, bem como os desafios e estratégias interdisciplinares na Atenção Básica. A revisão integrativa permite a análise abrangente de pesquisas quantitativas e qualitativas, proporcionando uma compreensão aprofundada do tema e subsidiando práticas e políticas de saúde (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

        A busca dos dados foi realizada entre os meses de abril e junho de 2025, nas bases de dados eletrônicas PubMed, Scielo, LILACS e Web of Science, utilizando-se os descritores controlados em português e inglês: “vacinação infantil”, “atenção básica”, “imunização”, “desafios da vacinação”, “estratégias interdisciplinares” e seus correspondentes em inglês (“child vaccination”, “primary care”, “immunization”, “vaccination challenges”, “interdisciplinary strategies”). A escolha desses descritores buscou abranger os principais aspectos do tema de forma precisa e ampla.

        Foram aplicados critérios de inclusão para selecionar estudos publicados nos últimos 10 anos (2015-2025), em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, que abordassem aspectos relacionados à vacinação infantil no contexto da atenção primária à saúde, incluindo pesquisas empíricas, revisões sistemáticas e documentos oficiais. Estudos que não abordavam diretamente o tema proposto, artigos opinativos, relatos de caso e publicações duplicadas foram excluídos da análise para garantir a qualidade e relevância das evidências coletadas.

        A seleção dos estudos ocorreu em três etapas: inicialmente, a leitura dos títulos e resumos para identificação da pertinência; em seguida, a leitura integral dos textos selecionados; e, por fim, a extração dos dados relevantes para a construção do referencial teórico. A coleta foi realizada de forma sistematizada por meio de uma planilha eletrônica contendo informações sobre autores, ano de publicação, tipo de estudo, objetivos, métodos e principais achados. Essa metodologia assegura a organização, transparência e reprodutibilidade do processo de revisão, possibilitando uma análise crítica e fundamentada sobre o tema investigado.

        4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

          A análise dos estudos selecionados nesta revisão integrativa revelou que a vacinação infantil continua sendo um dos pilares essenciais para a promoção da saúde pública, contribuindo significativamente para a redução da morbimortalidade infantil. Conforme demonstrado por Domingues et al. (2020), os programas de imunização, quando efetivamente implementados, são capazes de interromper a transmissão de doenças infecciosas e evitar surtos que comprometem a saúde coletiva. Entretanto, os resultados também indicam uma preocupante tendência de queda na cobertura vacinal em diversas regiões, o que tem sido atribuído a múltiplos fatores, incluindo a hesitação vacinal, barreiras socioeconômicas e fragilidades nos sistemas de saúde (Larson et al., 2014; Sato, 2018).

          A hesitação vacinal, conforme discutido por Silva e Souza (2021), emerge como um dos principais obstáculos enfrentados pelas equipes de Atenção Básica. Essa resistência não está restrita a um único perfil social, abrangendo desde grupos com acesso restrito à informação até segmentos que, apesar da disponibilidade do serviço, apresentam desconfiança em relação às vacinas. Tal fenômeno ressalta a importância das estratégias interdisciplinares, que devem incluir ações educativas, acolhimento individualizado e o fortalecimento do vínculo entre profissionais e usuários. A comunicação efetiva, adaptada ao contexto sociocultural das famílias, mostrou-se fundamental para superar resistências e aumentar a adesão (Oliveira et al., 2019).

          Os desafios de acesso também foram amplamente evidenciados, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas, onde a precariedade da infraestrutura e as desigualdades sociais dificultam o alcance das campanhas vacinais (Andrade; Pereira, 2019). A articulação entre serviços de saúde, escolas e comunidade mostrou-se uma estratégia eficaz para mitigar essas barreiras, promovendo a inclusão e o engajamento dos diversos atores sociais (Lima; Fernandes, 2020). Além disso, o uso de tecnologias digitais, como sistemas informatizados de registro e aplicativos de lembrete, tem contribuído para o monitoramento em tempo real e para o estímulo à continuidade do esquema vacinal, evidenciando o papel das inovações no fortalecimento das ações de imunização (Silva; Souza, 2021).

          Por fim, as experiências exitosas analisadas reforçam que as políticas públicas devem ser contínuas, adaptativas e baseadas na participação comunitária para garantir a efetividade da vacinação infantil. Campanhas de mobilização social, aliadas a uma atuação interdisciplinar integrada, promovem não apenas a vacinação em si, mas também o fortalecimento da saúde coletiva, refletindo-se na melhoria dos indicadores epidemiológicos e na redução das desigualdades no acesso à saúde (Domingues et al., 2020; Lima; Fernandes, 2020).

          5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A vacinação infantil permanece como uma das intervenções mais eficazes para a promoção da saúde e prevenção de doenças infecciosas, constituindo um direito fundamental das crianças e uma responsabilidade coletiva. No entanto, a manutenção de altas coberturas vacinais enfrenta desafios complexos, que vão desde a hesitação vacinal, motivada por fatores socioculturais e desinformação, até barreiras de acesso e desigualdades regionais. Esses obstáculos ressaltam a necessidade de estratégias integradas, que envolvam a atuação interdisciplinar das equipes de Atenção Básica, a educação em saúde adaptada ao contexto da população e a articulação entre serviços de saúde, escolas e comunidade.

            Além disso, políticas públicas consistentes, que incorporem tecnologias digitais e campanhas de mobilização social, são fundamentais para fortalecer o sistema de imunização e garantir o alcance universal das vacinas. A experiência mostra que o sucesso da vacinação infantil depende não apenas da oferta do serviço, mas da construção de vínculos de confiança e da promoção do conhecimento, capazes de superar resistências e ampliar a adesão das famílias.

            Portanto, este trabalho evidencia que o enfrentamento dos desafios atuais da vacinação infantil requer um olhar atento às especificidades locais e um compromisso coletivo com a saúde pública, reforçando que a imunização é um instrumento indispensável para a proteção da infância e o desenvolvimento sustentável das sociedades.

            REFERÊNCIAS

            ANDRADE, M. M.; PEREIRA, A. C. Desigualdades regionais e acesso à vacinação infantil no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Pública, v. 53, p. 1-10, 2019.

            BARBOSA, L. C.; SILVA, R. F. A história da vacinação e sua importância na saúde pública. Revista de Ciências da Saúde, v. 15, n. 2, p. 45-52, 2017.

            DOMINGUES, C. M. A. S. et al. Cobertura vacinal no Brasil: desafios e estratégias para a Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 1, p. 19-30, 2020.

            FINE, P.; EGAN, W.; PATEL, A. Impacto das vacinas na saúde pública mundial. Journal of Immunology, v. 7, n. 4, p. 210-218, 2011.

            LARSON, H. J. et al. The state of vaccine confidence 2014: global insights through a 67-country survey. EBioMedicine, v. 12, p. 295-301, 2014.

            LIMA, S. R.; FERNANDES, A. C. Estratégias de integração entre saúde e educação para a ampliação da vacinação infantil. Revista de Saúde da Família, v. 8, n. 3, p. 85-92, 2020.

            OLIVEIRA, T. A. et al. Papel da equipe multiprofissional na promoção da vacinação infantil. Enfermagem em Foco, v. 10, n. 1, p. 35-41, 2019.

            SATO, A. R. A hesitação vacinal: desafios e perspectivas na Atenção Primária à Saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 21, n. 2, p. e180022, 2018.

            SILVA, F. M.; SOUZA, M. R. Tecnologias digitais no monitoramento da vacinação infantil. Saúde e Tecnologia, v. 5, n. 2, p. 102-110, 2021.

            SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), v. 8, n. 1, p. 102-106, 2010.


            1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Fametro e-mail: maddunascimento319@gmail.com

            2Enfermeira da APS da Sec. Saúde de Hidrolândia formada pelo Centro Universitário Inta – UNINTA, E-mail: victoriapontes2014@hotmail.com

            3Enfermeira, Mestre em Enfermagem, na linha de pesquisa em Gerenciamento em Enfermagem e Ciências da Saúde pela Universidade  Estadual Paulista – UNESP (2014), Email: bauruelda@yahoo.com.br

            4Graduação em Enfermagem Unesp Botucatu, Mestrado em enfermagem Unesp Botucatu Prefeitura Municipal de Bauru, E-mail: heloisa.inacio@unesp.br

            5Enfermeira, Professora UNINASSAU de  Brasília, Especialista, E-mail: betinha.shel@gmail.com

            6Enfermeira. Mestranda – IFPI E-mail:  moren.afc@hotmail.com

            7Enfermeira. Doutoranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: juliana.mineu@aluno.uece.br

            8Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: jam.mineu@gmail.com

            9Enfermeira. Pós-doutora em Enfermagem pela Universidade de Ribeirão Preto.E-mail: celia.freitas@uece.br

            10Enfermeira, Universidade Sagrado Coração, Mestrado, Secretaria Municipal de Saúde de Bauru e Instituto Lauro de Souza Lima Email:cassiahoelz@bauru.sp.gov.br