A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO CONTRA RAIVA EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202409192320


Alan de Souza Cerqueira1
Beatriz Pereira Tetto dos Passos1
Milena Pupulin dos Santos1
Thawane Andrade Sousa1
Silvio Luís Pereira de Souza2


RESUMO 

Introdução: A raiva é uma zoonose grave com alta taxa de letalidade, transmitida  principalmente pela saliva de animais infectados através de mordeduras ou arranhaduras. O  vírus da raiva, pertencente à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus, apresenta variações  antigênicas que influenciam a sintomatologia e a transmissão da doença entre diferentes  espécies. Objetivo: Este estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento da população sobre  a importância da vacinação contra a raiva. Materiais e Métodos: Para isso, foi realizada uma  revisão da literatura e aplicado um questionário via Google Forms a 308 participantes, entre 17  e 21 de abril de 2023. Resultados: Embora 88,2% dos participantes possuíam conhecimento  sobre a raiva e 78,5% vacinaram seus pets, foram encontradas lacunas significativas na  compreensão dos sintomas e práticas de vacinação. Quase 43% estavam equivocados sobre os  mecanismos de transmissão e 40% acreditam incorretamente que a raiva é curável após o  início dos sintomas. As mudanças nas estratégias de vacinação também contribuíram para uma  comunicação inadequada. Conclusão: A pesquisa destacou a necessidade urgente de programas  educativos mais robustos para melhorar a compreensão pública e a adesão às práticas de  prevenção. A quase totalidade dos participantes (99,7%) considera essencial a implementação  de um programa mais amplo de conscientização sobre a vacinação antirrábica. Esses resultados  indicam a importância de estratégias de saúde pública mais eficazes e campanhas educativas  para prevenir a disseminação da raiva. 

Palavras-chave: raiva; vírus; vacinação; variante; ciclo epidemiológico. 

SUMMARY 

Introduction: Rabies is a severe zoonosis with a high mortality rate, primarily transmitted  through the saliva of infected animals via bites or scratches. The rabies virus, belonging to the  Rhabdoviridae family and Lyssavirus genus, exhibits antigenic variations that affect the  disease’s symptoms and transmission among different species. Objective: This study aimed to  assess the public’s awareness of the importance of rabies vaccination. Materials and Methods: A literature review was conducted, and a questionnaire was administered via Google Forms to  308 participants between April 17 and 21, 2023. Results: While 88.2% of participants were  aware of rabies and 78.5% vaccinated their pets, significant gaps were found in understanding  symptoms and vaccination practices. Nearly 43% were misinformed about transmission  mechanisms, and 40% incorrectly believed that rabies could be cured once symptoms appeared.  Changes in vaccination strategies also contributed to inadequate communication. Conclusion: The study underscores the urgent need for more robust educational programs to enhance public  understanding and adherence to preventive practices. Almost all participants (99.7%) deemed  it essential to implement a broader awareness program on rabies vaccination. These findings  highlight the need for more effective public health strategies and educational campaigns to  prevent rabies dissemination. 

Keywords: rabies; virus; vaccination; variant; epidemiological cycle.

1 – INTRODUÇÃO 

A raiva é uma zoonose de relevância global, com impactos significativos na saúde  pública e uma taxa de letalidade quase total. Trata-se de uma enfermidade aguda que  compromete o sistema nervoso central, ocasionando encefalomielite. A transmissão do  vírus da raiva ocorre através da inoculação da saliva de animais infectados, por meio de  mordeduras, arranhaduras ou lambeduras de mucosas. A via de infecção é crucial para a  propagação do vírus, sendo que o contato direto com fluidos corporais contaminados é o  principal mecanismo de transmissão da doença para humanos e animais (Kotait et al.,  2009; Acha; Szyfres, 2003).  

Após o contato com um animal infectado pelo vírus da raiva, o patógeno permanece  inicialmente no local da lesão durante o período de incubação, que pode variar de dias a  vários anos em humanos (Couto & Brandespim, 2020). Em cães domésticos, o período  de incubação varia de 40 a 120 dias, enquanto em herbívoros é de 25 a 90 dias. Para  animais silvestres, não há estimativas precisas devido à falta de dados específicos (Brasil,  2008). Esse período é influenciado pela localização e gravidade da lesão, pela distância  entre o local da inoculação e o sistema nervoso central, e pela quantidade de vírus  inoculada (Jackson, 2010). Após a inoculação, o vírus se propaga centrifugamente,  afetando vários órgãos e glândulas salivares, onde continua a se replicar e é excretado na  saliva, aumentando o risco de transmissão (Acha & Szyfres, 2003). 

O vírus da raiva (VRA) pertence à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus, trata se de um vírus de RNA, envolvido por uma cápsula lipídica, com uma morfologia que se  assemelha a um projétil, apresentando uma extremidade côncava e outra convexa. Sua  estrutura é composta por proteínas, lipídios e carboidratos (Carnieli Júnior et al., 2009;  Jorge et al., 2010; Macedo et al., 2010). Devido à sua estrutura lipídica, o VRA é  susceptível a agentes desinfetantes e solventes lipídicos, o que compromete sua  estabilidade fora do hospedeiro (Greene & Appel, 2011; Quevedo et al., 2020). O vírus  demonstra uma notável capacidade de adaptação, conhecida como “spillover”, que  descreve a habilidade do patógeno de transitar e adaptar-se entre diferentes espécies  hospedeiras (Wada et al., 2011). 

O gênero Lyssavirus é representado por sete genótipos distintos, dos quais apenas o  Rabies vírus (RABV) está registrado em circulação no Brasil. Este genótipo é o causador da raiva tanto em mamíferos voadores, como os morcegos, quanto em mamíferos  terrestres (Kotait et al., 2007, 2009). O RABV apresenta uma diversidade de variantes  antigênicas, identificadas por meio de um painel desenvolvido pelo Centers for Disease  Control (CDC) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) durante o processo  de isolamento do vírus (Favoretto et al., 2013). 

No Brasil, foram identificadas várias variantes antigênicas do vírus da raiva. Entre  elas, AgV1 e AgV2 estão associadas a cães domésticos, sendo que AgV2 também está  relacionada a canídeos silvestres, como o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous). A  variante AgV3 é encontrada em morcegos hematófagos, especificamente o Desmodus  rotundus. As variantes AgV4 e AgV6 estão associadas a morcegos insetívoros, com  AgV4 identificada em Tadarida brasiliensis e AgV6 em Lasiurus cinereus. A variante  AgVNC foi detectada em saguis-de-tufo-branco (Callithrix jacchus) (Kotait et al., 2009;  Favoretto et al., 2013; Silva et al., 2021; Vieira, 2023; Wada et al., 2011). 

Cada uma dessas variantes antigênicas tem uma predileção por espécies específicas de  hospedeiros. Contudo, o fenômeno denominado “spillover” possibilita que variantes  específicas, normalmente restritas a um reservatório primário, possam infectar outras  espécies de mamíferos. Esse processo pode permitir que a variante permaneça em  circulação por períodos prolongados, ampliando o escopo de sua disseminação (Favoretto  et al., 2013; Velasco-Villa et al., 2017). Com isso, a variabilidade dos sintomas está  diretamente associada à variante viral específica que causa a infecção (Carnieli Júnior et  al., 2008; Costa, 2000; Kotait et al., 2009). A apresentação clínica pode variar entre a  forma furiosa, caracterizada por alterações comportamentais significativas, incluindo  agressividade extrema e excitação psicomotora, e a forma paralítica, que se manifesta por  uma paralisia progressiva que inicia nas extremidades e pode avançar para o tronco e  outras regiões corporais, incluindo a musculatura respiratória (Fèvre et al., 2006; Jorge et  al., 2010; Rupprecht et al., 2002; Velasco-Villa et al., 2017). 

A interconexão entre animais, seres humanos e o meio ambiente é um aspecto crucial  para a compreensão da raiva. O conceito de saúde única é particularmente pertinente para  a vigilância dessa doença, dada sua natureza multifatorial que exige um esforço  colaborativo, intersetorial e interdisciplinar (Aggarwal; Ramachandran, 2020). 

O ciclo epidemiológico da raiva inclui quatro principais modalidades de transmissão, urbano, rural, silvestre e aéreo. Cada um desses ciclos é interdependente, o que significa que a transmissão pode ocorrer entre diferentes ciclos, facilitando a propagação do vírus  e aumentando o risco de infecção para os humanos, que podem contrair a doença de  qualquer um dos transmissores envolvidos (Badrane & Tordo, 2001). 

O ciclo urbano é de particular importância para a saúde pública devido ao contato  próximo entre humanos e animais domésticos. Nesse ciclo, cães e gatos são os principais  vetores do vírus da raiva. A transmissão também pode ocorrer através de morcegos, o que  destaca a necessidade de vigilância contínua e controle tanto em animais de companhia  quanto em populações de morcegos (Favoretto et al., 2013; Velasco-Villa et al., 2017). 

O ciclo rural abrange principalmente animais de produção, incluindo equinos,  caprinos, ovinos, suínos e bovinos. O principal transmissor para esses animais é o  morcego hematófago Desmodus Rotundus, que é conhecido por sua capacidade de  sobreviver em abrigos permanentes e realizar sua alimentação noturna (Megid et al.,  2016). 

No ciclo silvestre terrestre, canídeos silvestres, como raposas e cachorros-do-mato  (Cerdocyon thous), bem como outros animais como capivaras e guaxinins, são  considerados importantes transmissores da doença (Favoretto et al., 2013). 

Os morcegos desempenham um papel crucial no ciclo aéreo, esses animais, incluindo  tanto morcegos hematófagos quanto não hematófagos, são responsáveis pela manutenção  e dispersão do vírus na natureza. Estudos documentam que a transmissão da raiva por  morcegos é uma preocupação global, refletida em relatos de diversos países (Šimić et al.,  2018). 

Figura 1: Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva. 

Fonte: (Deidt, 2021, p. 112). 

No Brasil, a abordagem para vigilância da raiva é composta por quatro principais  componentes: campanhas anuais de vacinação para cães e gatos, profilaxia humana (tanto pré-exposição quanto pós-exposição), diagnóstico laboratorial e programas de educação  em saúde (Brasil, 2022). No estado de São Paulo, a situação epidemiológica da raiva  apresenta características específicas. O último caso humano da variante furiosa foi  registrado em 1997, e o último caso de raiva em animais pela mesma variante ocorreu em  1998. Desde então, todos os casos de raiva, tanto em humanos quanto em animais, têm  sido associados a variantes de morcegos (CRMV-SP, 2023). 

O Ministério da Saúde orienta que em áreas onde as variantes predominantes são as  associadas a morcegos, como São Paulo, a vacinação deve seguir estratégias de bloqueio  de foco. Este método é recomendado devido à menor taxa de disseminação e adaptação  das variantes associadas a morcegos (Brasil, 2019). Segundo a Organização Pan Americana da Saúde, São Paulo está classificado no grupo 1, que inclui regiões que têm  estado livres de raiva canina por mais de uma década, com elevada cobertura vacinal. Em  tais regiões, a vacinação anual é considerada uma medida de emergência para situações  endêmicas ou epidêmicas (Redipra17, 2023). 

A Deliberação CIB nº 169, datada de 15 de dezembro de 2021 e aprovada pela  Comissão Intergestores Bipartite, estipula que a vacinação antirrábica deve ser realizada  de forma contínua, com ênfase na imunização de animais que tenham tido contato com  morcegos e na realização de bloqueio de foco conforme necessário (Reichmann, Pinto &  Nunes, 1999). A partir de 2022, as campanhas anuais de vacinação foram descontinuadas;  no entanto, é crucial destacar que não há problemas com o repasse de vacinas pelo  Ministério da Saúde. A mudança na estratégia de vacinação antirrábica não implica em  dificuldade no fornecimento de vacinas ou na qualidade delas. As doses continuam sendo  disponibilizadas mensalmente para os municípios, permitindo a continuidade das  atividades de vacinação de rotina e a imunização de animais que tiveram contato com  morcegos (Brasil, 2019). 

Com base na situação epidemiológica atual, a vacinação deve ocorrer ao longo do ano,  com períodos e horários estabelecidos previamente, e pode ser agendada. A vacinação de  animais que tiveram contato com morcegos e a execução de bloqueio de foco devem ser  priorizadas. O Ministério da Saúde mantém o fornecimento regular de vacinas,  disponibilizando doses mensalmente para tanto as estratégias de rotina quanto para a  vacinação de animais que tiveram contato com morcegos (Brasil, 2019). A  responsabilidade pela implementação dessas estratégias recai sobre os municípios, que devem solicitar vacinas ao Instituto Pasteur e enviar amostras para diagnóstico  laboratorial (Reichmann, Pinto & Nunes, 1999). Proprietários de animais são  responsáveis por assegurar a saúde de seus pets e, na ausência de campanhas públicas,  devem buscar a vacinação em postos fixos ou clínicas veterinárias privadas (Brasil, 2019). 

A possibilidade de reintrodução da raiva urbana por meio dos ciclos silvestres é uma  preocupação relevante, considerando o sucesso adaptativo do vírus rábico, que pode  infectar cães e gatos domésticos por meio de mutações. A falta de dados precisos sobre a incidência e prevalência da doença neste ciclo de transmissão sublinha a necessidade de  uma vigilância contínua e aprimorada (Acha; Szyfres, 2003; Vercautteren et al., 2012;  Who, 2013). 

2 – OBJETIVO  

O objetivo deste trabalho é de avaliar o nível de conhecimento sobre a importância da  vacinação contra a raiva, obtendo assim o real conhecimento da população. 

3 – MATERIAIS E MÉTODOS 

Para a realização deste estudo, foi conduzida uma revisão da literatura científica  através da plataforma Google Acadêmico, a fim de estabelecer uma base sólida de  conhecimentos sobre a raiva. Essa revisão permitiu a formulação de perguntas coerentes  e pertinentes ao tema da pesquisa, que foram aplicadas por meio do Google Forms. 

A pesquisa foi realizada entre 17/04/2023 e 21/04/2023. Abaixo estão os principais  aspectos da metodologia: 

Revisão da Literatura: Foram revisados artigos científicos relevantes para a  compreensão da raiva e suas implicações para a saúde pública e animal. 

Formulação do Questionário: Com base na revisão da literatura, foram  elaboradas perguntas para avaliar o conhecimento da população sobre a raiva.

Aplicação do Questionário: O questionário foi distribuído por meio do Google  Forms e continha as seguintes perguntas: 

– O indivíduo é estudante da área da saúde ou profissional da saúde?

– O indivíduo sabe o que é a raiva em animais domésticos? 

– O indivíduo costuma vacinar seu animal contra a raiva? 

– O indivíduo tem receio de vacinar seu animal em campanhas de  vacinação? 

– Em seu bairro há campanha de vacinação contra a raiva? 

– Quais os principais sintomas da raiva em animais domésticos? 

– O indivíduo acha que a raiva pode ser transmitida por? 

– O indivíduo acredita que a raiva tenha cura? 

– O indivíduo acha necessária uma conscientização sobre a importância da  vacinação? 

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Foram alcançados 308 participantes, e as respostas fornecidas no formulário foram  escritas de forma objetiva e sem a utilização de jargões técnicos, para garantir uma fácil  compreensão. Dentre os participantes, 48,4% eram estudantes ou profissionais da área da  saúde, enquanto 51,6% eram pessoas sem conhecimento específico na área da saúde  conforme ilustrado no Gráfico 1. 

Gráfico 1 – Identificação do Público-Alvo.  

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

Os dados da pesquisa mostram que 88,2% dos participantes possuem algum  conhecimento sobre a raiva em animais domésticos conforme ilustrado no Gráfico 2. Este  resultado é positivo e indica um nível razoável de conscientização sobre a doença. No  entanto, é importante observar que a compreensão detalhada dos sintomas e das formas  de transmissão da raiva ainda apresenta lacunas significativas. Desde 1998, a forma  furiosa da raiva não tem sido notificada no estado de São Paulo, e atualmente a maioria  dos casos registrados está associada à forma paralítica da doença, transmitida por  morcegos a qual tem se adaptado para afetar também cães e gatos.  

Gráfico 2 – Conhecimento do público sobre a Raiva. 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

A análise dos dados sobre práticas de vacinação revelou que 78,5% dos participantes  que possuem animais de estimação vacinam seus animais contra a raiva conforme ilustrado  no Gráfico 3. Este dado sugere uma adesão positiva às práticas recomendadas, alinhadas  com as estratégias de saúde pública que enfatizam a vacinação como método essencial de  controle da doença. No entanto, a resposta de 6,5% dos participantes que não vacinam seus  animais destaca a persistência de desafios na implementação universal dessas práticas  preventivas. 

Gráfico 3 – Taxa de vacinação de animais pelo Público 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023).

A pesquisa revelou uma percepção diversificada sobre a presença e a divulgação dos  programas de vacinação contra a raiva em São Paulo conforme ilustrado no Gráfico 4.  Dentre os participantes, 44,6% relataram ter conhecimento sobre campanhas de vacinação  em seus bairros, enquanto 35,8% afirmaram que não há campanhas e 19,5% estavam  incertos quanto à existência dessas iniciativas em suas áreas. Esta variabilidade nas  respostas pode ser atribuída a vários fatores relacionados à recente mudança nas  estratégias de vacinação e à comunicação deficiente. 

A recente alteração na abordagem das campanhas de vacinação, que incluiu a  descontinuação das campanhas anuais e a adoção de estratégias de bloqueio de foco, pode  ter contribuído para a falta de clareza e uniformidade nas informações. A nova estratégia,  focada na vacinação de animais que tiveram contato com morcegos e na execução de  bloqueio de foco, pode não ter sido amplamente comunicada ou compreendida pela  população.  

Gráfico 4 – Conhecimentos sobre campanhas de vacinação. 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

Sobre o receio em relação à vacinação, a pesquisa revelou que 63,8% dos participantes  não têm receio de vacinar seus animais contra a raiva, enquanto 23,8% expressaram  algum nível de preocupação conforme ilustrado no Gráfico 5. Esse receio pode ser  atribuído à falta de informações claras e precisas sobre a segurança e eficácia da vacina,  o que pode gerar dúvidas e hesitação. Proprietários de animais podem ter preocupações  baseadas em informações incorretas ou incompletas sobre os efeitos da vacina. Além  disso, experiências pessoais negativas com vacinas ou preocupações com possíveis  efeitos colaterais podem influenciar a disposição dos proprietários para vacinar seus  animais. Fornecer informações detalhadas e tranquilizadoras pode ajudar a mitigar esses  receios. 

Gráfico 5 – Prevalência de receio em relação à vacinação contra a raiva 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

A pesquisa revelou que 50,3% dos participantes identificaram corretamente sintomas  como agressividade e salivação excessiva, que são características da forma furiosa da  raiva, a qual não está mais prevalecendo desde 1998 no estado de São Paulo. Em contraste,  36% dos participantes mencionaram sintomas associados à forma paralítica, como  dificuldade de deglutição, sialorreia, ataxia e paralisia dos membros conforme ilustrado  no Gráfico 6. Essa discrepância entre o conhecimento sobre sintomas da forma furiosa e  a realidade atual dos casos indica a necessidade urgente de uma educação mais eficaz e  direcionada. Além disso, 12,7% dos participantes não conseguiram identificar os sinais  clínicos da doença, o que reforça a importância de melhorar a compreensão sobre os  sintomas da forma furiosa e as manifestações atuais da raiva. 

Gráfico 6 – Conhecimento sobre a sintomatologia da raiva. 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

Os dados sobre a percepção da transmissão da raiva indicam que 41,2% dos  participantes reconhecem corretamente que a doença pode ser transmitida por cães e gatos  conforme ilustrados no Gráfico 7. Contudo, a preocupação surge com 42,9% dos  participantes que erroneamente acreditam que humanos podem ser transmissores da  doença, evidenciando uma necessidade de esclarecimento sobre a dinâmica da  transmissão. 

Gráfico 7 – Percepção sobre mecanismos de transmissão da raiva. 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023). 

Os resultados da pesquisa revelam uma preocupação significativa em relação à  compreensão da cura da raiva. Notavelmente, 39,7% dos participantes acreditam  erroneamente que a raiva pode ser curada após o início dos sintomas conforme ilustrado  no Gráfico 8. Esta concepção errônea é alarmante, visto que a raiva é uma doença quase  invariavelmente fatal uma vez que os sintomas se manifestam. Por outro lado, 35,5% dos  participantes identificaram corretamente a doença como incurável após o início dos  sintomas, o que demonstra uma compreensão precisa entre uma parcela da amostra. 

Além disso, a falta de certeza sobre a cura, evidenciada por 24,6% dos participantes  que não sabem se a raiva é curável, destaca a necessidade urgente de campanhas  educativas mais abrangentes. Estas campanhas devem esclarecer a gravidade da doença e  enfatizar a importância das intervenções preventivas, como a vacinação precoce e a  profilaxia pós-exposição, para evitar o desenvolvimento de sintomas. A disseminação de  informações corretas e a educação contínua são cruciais para garantir que o público esteja  ciente da natureza letal da raiva e da importância da prevenção antes que a doença se  manifeste. 

Gráfico 8 – Percepção sobre a Curabilidade da Raiva 

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023).

Por fim, a quase totalidade dos participantes (99,7%) considera essencial a  implementação de um programa mais amplo de conscientização sobre a importância da  vacinação contra a raiva conforme ilustrado no Gráfico 9. Este consenso sublinha a  necessidade urgente de estratégias educativas que abordem não apenas o conhecimento  geral sobre a raiva, mas também práticas preventivas e conceitos corretos sobre a  transmissão e tratamento da doença. A integração de campanhas educativas em escolas,  clínicas veterinárias e meios de comunicação pode ser uma abordagem eficaz para  melhorar a compreensão e adesão às práticas de vacinação. 

Gráfico 9 – Conscientização.

Fonte: Arquivo pessoal, GoogleForms (2023).  

Embora a pesquisa indique um nível razoável de conscientização e práticas corretas de  vacinação, ainda existem áreas críticas que necessitam de atenção, particularmente no que  diz respeito à transmissão da doença, a percepção sobre a cura e a necessidade de  programas educativos mais robustos. Esses insights são essenciais para a formulação de  estratégias de saúde pública mais eficazes e para a promoção de práticas preventivas  adequadas.

5 – CONCLUSÃO 

A pesquisa realizada sobre o conhecimento da população em relação à vacinação  contra a raiva evidenciou tanto pontos positivos quanto áreas que necessitam de  aprimoramento. A maioria dos participantes (88,2%) demonstrou algum nível de  compreensão sobre a doença, e uma alta taxa de vacinação (78,5%) foi observada entre  os proprietários de animais de estimação. No entanto, a pesquisa também revelou lacunas  significativas, como a compreensão inadequada dos mecanismos de transmissão e a  crença incorreta na curabilidade da raiva após o início dos sintomas. 

Os resultados indicam a necessidade de estratégias de comunicação mais eficazes e  campanhas educativas direcionadas. A recente alteração nas estratégias de vacinação, que  envolveu a descontinuação das campanhas anuais e a implementação de bloqueios de  foco, pode ter contribuído para uma falta de clareza e consistência nas informações  disponíveis ao público. Este fato ressalta a importância de garantir que todas as mudanças  nas políticas de saúde sejam acompanhadas de uma comunicação clara e acessível para a população. 

A pesquisa também revelou um consenso substancial sobre a importância de  programas de conscientização mais abrangentes, com 99,7% dos participantes  reconhecendo sua necessidade. Isso destaca a relevância de campanhas educativas  eficazes para melhorar a compreensão sobre a raiva, promover práticas de vacinação  adequadas e, assim, auxiliar na prevenção da doença. 

Entre as limitações do estudo, observa-se a dependência de um questionário online, o  que pode ter restringido a diversidade de respostas e a profundidade das informações  coletadas. Além disso, o período específico em que a pesquisa foi conduzida pode não  refletir mudanças nas percepções e práticas ao longo do tempo. 

Para futuras pesquisas, seria vantajoso explorar métodos adicionais de coleta de dados,  como entrevistas presenciais ou grupos focais, para obter uma compreensão mais  detalhada das percepções e práticas da população. Estudos longitudinais também podem  ser úteis para monitorar a eficácia das campanhas educativas e as mudanças nas práticas  de vacinação ao longo do tempo. 

Os resultados da pesquisa fornecem uma base sólida para a formulação de estratégias  de saúde pública mais eficazes e para o desenvolvimento de programas educativos que  possam contribuir significativamente para o controle da raiva e a proteção da saúde  pública.

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1Discente, Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário das Américas – FAM
2Docente, Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário das Américas – FAM