The Importance of Oral Health and Nutritional Care for Children with Autism Spectrum Disorder
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411301023
CRISTIANE DAMASCENO AGUIAR¹
FERNANDA VIEIRA HEIMLICH²
Resumo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta diversos aspectos do desenvolvimento infantil, incluindo a saúde bucal e os hábitos alimentares. Crianças com TEA frequentemente apresentam comportamentos alimentares seletivos e sensibilidades sensoriais que impactam diretamente sua higiene oral e nutrição. Este estudo de revisão bibliográfica busca analisar os principais fatores que influenciam a saúde bucal e os cuidados nutricionais de crianças com TEA, ressaltando a importância de intervenções precoces e multidisciplinares para garantir uma qualidade de vida adequada. Foram utilizados artigos publicados nas últimas décadas em bases de dados renomadas para oferecer uma visão abrangente sobre o tema. A pesquisa conclui que a combinação de um acompanhamento odontológico especializado e de um planejamento nutricional adequado pode contribuir significativamente para a melhora do bem-estar dessas crianças.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista, saúde bucal, nutrição, intervenção precoce, seletividade alimentar.
abstract
Autism Spectrum Disorder (ASD) is a condition that affects various aspects of child development, including oral health and eating habits. Children with ASD often exhibit selective eating behaviors and sensory sensitivities that directly impact their oral hygiene and nutrition. This literature review study aims to analyze the main factors influencing the oral health and nutritional care of children with ASD, highlighting the importance of early and multidisciplinary interventions to ensure an adequate quality of life. Articles published in recent decades from reputable databases were used to provide a comprehensive view of the topic. The study concludes that combining specialized dental care with proper nutritional planning can significantly improve the well-being of these children.
Keywords: Autism Spectrum Disorder, oral health, nutrition, early intervention, selective eating.
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que emerge na primeira infância e faz parte de um conjunto de condições denominadas Transtornos do Desenvolvimento Invasivos. O diagnóstico é essencialmente clínico e se baseia em dificuldades na interação social, interesses limitados, comportamentos repetitivos e problemas de comunicação. A apresentação clínica do TEA varia em termos de gravidade, influenciada por fatores como nível educacional, habilidades individuais e temperamento (TAHRIRIAN et al., 2021).
No contexto da saúde bucal, embora as crianças com TEA não apresentem diferenças estruturais significativas nos dentes em comparação com crianças neurotípicas, elas enfrentam desafios específicos. Características como o consumo excessivo de alimentos doces, fraqueza nos músculos ao redor da boca, tendência a manter alimentos na boca por períodos prolongados, dificuldades na escovação, pouca comunicação verbal sobre dor, boca seca causada por medicamentos e desgaste do esmalte dental devido a episódios de vômito são fatores que aumentam a prevalência de cáries e problemas gengivais nessas crianças (SANT’ANNA et al., 2017).
As dificuldades na comunicação social e os desafios comportamentais tornam a atenção à saúde bucal dessas crianças especialmente complexa. Elas muitas vezes resistem ao contato físico e podem ter dificuldade em permanecer quietas durante procedimentos odontológicos, o que demanda uma abordagem diferenciada (CHAMARTHI; ARANGANNAL, 2023). Além disso, crianças com TEA costumam enfrentar problemas nutricionais decorrentes da seletividade alimentar, recusando certos alimentos e comprometendo a ingestão adequada de micronutrientes essenciais. Essa situação pode levar a problemas gastrointestinais, como dores abdominais, constipação e diarreia, além de alterações na microbiota intestinal (MAGAGNIN et al., 2021).
Os desafios alimentares são uma realidade entre os autistas, e isso afeta negativamente a qualidade de vida dessas crianças. Portanto, o acompanhamento nutricional precoce é fundamental para o desenvolvimento de um plano alimentar equilibrado e nutritivo, que minimize esses efeitos (BOTTAN et al., 2020). A resistência a novos sabores e texturas, além da dificuldade em alterar a rotina alimentar, afeta diretamente a saúde e o desenvolvimento da criança com TEA (BRASIL, 2014; LEAL et al., 2015).
Diante dessa realidade, um problema importante a ser abordado é como a intervenção nutricional pode influenciar a saúde bucal de crianças com TEA, minimizando as alterações de pH que tornam a cavidade oral propícia a doenças. A resposta a esse problema passa por uma abordagem que integre hábitos alimentares menos cariogênicos com o acompanhamento odontológico, considerando as especificidades de cada paciente (TAHRIRIAN et al., 2021).
A atuação do dentista vai além da intervenção curativa, sendo crucial na orientação de pais e cuidadores sobre a importância da prevenção e manutenção da saúde bucal. Junto aos cuidadores, é possível implementar uma abordagem de cuidado apropriada, que evite danos psicológicos à criança (DIAS et al., 2009). A participação ativa dos cuidadores é essencial para a manutenção da saúde bucal dos pacientes com TEA, especialmente em face das dificuldades de aceitação ao contato físico que muitas vezes ocorre (GONÇALVES et al., 2016).
A diversidade no espectro do autismo exige uma abordagem personalizada tanto no diagnóstico quanto na intervenção. As subcategorias, como o autismo clássico e a Síndrome de Asperger, apresentam diferentes níveis de funcionalidade e desafios, o que reforça a necessidade de um atendimento odontológico e nutricional individualizado (SANTANA et al., 2020). Além disso, a gravidade do TEA pode ser classificada em três níveis, que determinam o quanto de apoio cada indivíduo necessita para realizar suas atividades cotidianas. Crianças com TEA no nível 1 conseguem realizar suas atividades de maneira independente, porém com dificuldades na compreensão de interações sociais sutis e na organização. No nível 2, as dificuldades de comunicação e interação social tornam-se mais evidentes e interferem no funcionamento social. Já no nível 3, a fala pode ser ausente, e há uma grande dependência de padrões fixos de comportamento, além de resistência intensa a mudanças (CERVI, 2020).
Considerando todos esses aspectos, o objetivo deste trabalho é explorar as possibilidades de um melhor cuidado tanto na saúde bucal quanto na alimentação das crianças com TEA, com foco em intervenções preventivas e educativas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O termo “autismo” tem origem na palavra alemã autismus, que combina o prefixo grego auto (relativo a si mesmo) com o sufixo ismos, denotando um estado ou ação. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), também conhecido como “autismo clássico”, é uma condição de neurodesenvolvimento caracterizada por deficiências significativas na comunicação social, na linguagem, no comportamento e nas funções cognitivas (CHAMARTHI; ARANGANNAL, 2023; MANGIONE et al., 2020). O entendimento da origem e complexidade do termo autismo é essencial para compreender a diversidade de manifestações que fazem parte do espectro.
Estudos epidemiológicos revelam que a prevalência do autismo clássico varia entre 10 a 20 casos para cada 10.000 nascimentos, com uma proporção de três homens para cada mulher diagnosticada. Esses estudos destacam que o TEA afeta indivíduos de todas as origens e contextos sociais, sem associação com fatores como raça, status socioeconômico ou nível educacional dos pais, o que reforça a importância de uma abordagem inclusiva nos cuidados odontológicos e de saúde (CHAMARTHI; ARANGANNAL, 2023; MANGIONE et al., 2020).
No que diz respeito à nutrição, a alimentação inadequada é comum entre crianças com TEA, em comparação às crianças neurotípicas. Estudos mostram uma ingestão reduzida de cálcio e proteínas, nutrientes essenciais para a formação da massa óssea e o desenvolvimento saudável (DE MORAES et al., 2021; MAGAGNIN et al., 2019). A deficiência desses nutrientes pode resultar em maior irritabilidade, atenção reduzida e outros problemas físicos e comportamentais, demonstrando a importância de uma intervenção nutricional adequada para melhorar a qualidade de vida dessas crianças.
Na primeira infância, as crianças experimentam novos alimentos, gostos e texturas, mas a seletividade alimentar é uma característica comum entre crianças com TEA. Esta seletividade pode persistir além do período típico de desenvolvimento, tornando-se ainda mais restritiva e afetando diretamente a saúde nutricional e bucal dessas crianças (CERMAK et al., 2010).
Do ponto de vista odontológico, crianças com TEA apresentam patologias orais semelhantes às de crianças neurotípicas, porém com maior prevalência de cáries, gengivite e má oclusão. Esses problemas são agravados por fatores como má higiene bucal, dietas cariogênicas, medicação xerostomizante e hábitos parafuncionais (ZANELLI et al., 2015). A seletividade alimentar, relacionada a estímulos sensoriais exacerbados, limita a ingestão de alimentos variados e saudáveis, contribuindo para o desenvolvimento dessas condições bucais. Além disso, atrasos nas habilidades motoras orais podem tornar a mastigação um desafio para essas crianças, reforçando padrões restritivos de alimentação (MONTEIRO, 2018).
Os desafios interpessoais das crianças autistas manifestam-se desde a infância, com dificuldade em buscar a atenção dos cuidadores, manter contato visual ou envolver-se em interações sociais simples, como compartilhar objetos ou jogos de imitação (MANGIONE et al., 2020). À medida que crescem, essas dificuldades se intensificam, resultando em um desinteresse pela socialização, o que impacta sua capacidade de estabelecer amizades e participar de atividades coletivas (FULCERI et al., 2023).
A importância de uma rotina de higiene bucal meticulosa e precoce nas crianças autistas é enfatizada por diversos estudos. A escovação diária, feita de forma metódica e adaptada às necessidades sensoriais dessas crianças, pode contribuir significativamente para o controle da placa bacteriana e a prevenção de doenças como cáries e gengivite (MULLER-BOLLA et al., 2011; GANDHI; KLEIN, 2014).
Embora a causa do TEA ainda não seja totalmente esclarecida, é amplamente aceito que se trata de uma condição com bases genéticas e ambientais, e não psicológicas (SOUSA, 2019). O diagnóstico é complexo e envolve uma abordagem multidisciplinar, com a aplicação de critérios clínicos e observacionais estabelecidos por manuais como o DSM-5 e a CID-10 (SANTOS, 2019; SOUSA, 2019).
O processo de diagnóstico inclui a coleta de informações detalhadas sobre o histórico médico e desenvolvimento da criança, além da observação direta em diferentes contextos, como escolas e lares. Profissionais de várias áreas, como pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, trabalham em conjunto para fornecer uma avaliação precisa e abrangente das necessidades da criança (FULCERI et al., 2023).
A exclusão de outras condições médicas ou psiquiátricas é essencial para garantir um diagnóstico correto de TEA, e o envolvimento dos pais ou cuidadores na observação dos marcos de desenvolvimento é fundamental. O diagnóstico precoce permite que intervenções terapêuticas especializadas sejam iniciadas o mais cedo possível, melhorando as perspectivas de desenvolvimento da criança (MANGIONE et al., 2020; TULIO et al., 2013).
É importante destacar que o diagnóstico do TEA não é estático; ele pode ser ajustado conforme a criança cresce e seu desenvolvimento avança. A inclusão e aceitação dessas crianças no meio social, respeitando seus limites e necessidades, é fundamental para promover seu aprendizado e desenvolvimento contínuo.
metodologia
A metodologia para a realização deste estudo de revisão bibliográfica sobre a saúde bucal e a alimentação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi estruturada de maneira a garantir rigor científico e abrangência temática. Utilizou-se o método de raciocínio dedutivo, partindo de teorias e pesquisas já consolidadas sobre o tema para chegar a conclusões específicas acerca da importância da intervenção precoce e suas implicações no manejo odontológico e nutricional de pacientes com TEA. O estudo se configura como uma revisão bibliográfica, onde foi realizada uma análise crítica das literaturas publicadas em revistas científicas, artigos, teses e dissertações.
Optou-se por uma abordagem qualitativa e descritiva, com o objetivo de entender os múltiplos fatores que influenciam a saúde bucal e a nutrição em crianças com TEA, abrangendo desde os aspectos clínicos até os fatores sensoriais e comportamentais. A coleta de dados foi realizada por meio de uma busca sistemática em bases de dados acadêmicas renomadas, como PubMed, Scopus, Google Scholar e SciELO. Utilizamos palavras-chave como “TEA”, “saúde bucal”, “alimentação seletiva”, “tratamento odontológico” e “diagnóstico precoce” para filtrar os estudos mais relevantes, limitando a busca a publicações em inglês e português.
Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos vinte anos para garantir atualidade, estudos que abordam tanto os aspectos odontológicos quanto nutricionais em crianças com TEA, e pesquisas que passaram por revisão por pares, assegurando a qualidade científica. Os critérios de exclusão foram: estudos que não focam especificamente em crianças com TEA, artigos que não foram publicados em revistas científicas reconhecidas, ou que se baseiam unicamente em relatos de caso.
Após a coleta, foi realizada uma análise crítica e síntese dos artigos selecionados, identificando temas comuns, comparando resultados e métodos, e avaliando a qualidade e relevância de cada estudo. Os dados foram então organizados em categorias temáticas, como saúde bucal, alimentação seletiva, e manejo sensorial, facilitando a discussão e a apresentação dos resultados. Assim, a metodologia adotada visa oferecer uma revisão abrangente e rigorosa da literatura sobre o impacto do TEA na saúde bucal e nutricional, destacando a importância de intervenções precoces e personalizadas para um cuidado mais eficaz dessas crianças.
Resultados e discussões
Os dados coletados revelam que pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enfrentam desafios consideráveis na manutenção da saúde bucal, impactando diretamente sua qualidade de vida. Um dos principais fatores observados é a dificuldade em manter uma rotina adequada de higiene bucal devido às sensibilidades sensoriais e aversões a certos estímulos, como sabores, texturas e a própria escovação. Esse cenário aumenta a prevalência de cáries e doenças gengivais, confirmando achados de estudos anteriores (SANT’ANNA et al., 2017).
Além disso, foi constatado que o bruxismo e o apertamento dos maxilares, comuns em pacientes autistas, provocam desgaste dentário excessivo. Esses fatores podem resultar em dor e desconforto, agravados pela dificuldade de comunicação, que limita a expressão de sintomas como dor, tornando o diagnóstico e o tratamento mais complicados para os profissionais de odontologia (FULCERI et al., 2023).
Outro aspecto relevante é a alimentação seletiva, característica frequente em pacientes com TEA. Esse comportamento afeta a ingestão de nutrientes essenciais, como cálcio e proteínas, comprometendo tanto a saúde geral quanto a saúde bucal. A seletividade alimentar foi amplamente citada como um fator que contribui para o desenvolvimento de cáries, devido à preferência por alimentos cariogênicos e à menor ingestão de alimentos nutritivos, que auxiliam na manutenção da estrutura dentária. Tais dados corroboram estudos como os de Monteiro (2018), que destacam a relação entre hábitos alimentares restritivos e problemas odontológicos em pacientes autistas.
Além dos desafios nutricionais, os dados mostraram que a ansiedade causada por estímulos sensoriais durante o atendimento odontológico, como sons e luzes, representa um grande obstáculo à realização de procedimentos. Esses estímulos exacerbam o desconforto e muitas vezes levam os pacientes a resistirem ao tratamento, dificultando o trabalho dos cirurgiões-dentistas e tornando a experiência ainda mais desafiadora para os pacientes.
Esses achados estão em consonância com pesquisas anteriores, que ressaltam as dificuldades no manejo odontológico de pacientes com TEA. Chamarthi e Arangannal (2023) já haviam relatado que a resistência ao contato físico e a dificuldade de permanecerem quietos em cadeiras odontológicas são desafios recorrentes enfrentados por profissionais da área. O presente estudo reforça essa constatação, observando que a ansiedade gerada pelo ambiente odontológico pode agravar ainda mais as sensibilidades sensoriais, criando um ciclo que impede o tratamento eficaz.
Outro ponto relevante destacado é o bruxismo, associado ao TEA, que também se alinha com os achados de Zanelli et al. (2015), que mencionam uma maior prevalência desse hábito parafuncional entre autistas, afetando a saúde dentária a longo prazo. Além disso, a conexão entre alimentação seletiva e deficiências nutricionais observada neste estudo é consistente com os achados de De Moraes et al. (2021), que enfatizam a necessidade de um acompanhamento nutricional especializado para garantir a ingestão adequada de cálcio e proteínas.
Esses dados apontam para a necessidade urgente de um atendimento odontológico especializado e adaptado para pacientes com TEA, incluindo a criação de um ambiente mais acolhedor, que minimize os estímulos sensoriais desagradáveis. Além disso, destaca-se a importância de uma abordagem interdisciplinar, com a participação ativa de nutricionistas para monitorar a ingestão alimentar e de cirurgiões-dentistas capacitados para lidar com as sensibilidades sensoriais desses pacientes (CERMAK et al., 2010).
O papel dos cuidadores também é crucial, como ressaltado por Gonçalves et al. (2016). A orientação adequada para pais e responsáveis pode ser a chave para garantir que práticas preventivas sejam implementadas no dia a dia, reduzindo os impactos das sensibilidades e da alimentação seletiva na saúde bucal dos pacientes (SANT’ANNA et al., 2017). Assim, os dados evidenciam a importância de uma intervenção precoce e contínua, visando a melhorar a saúde bucal e, consequentemente, a qualidade de vida das crianças com TEA.
A relevância desses achados se estende à saúde pública. O relatório do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), publicado em março de 2023, apontou que 1 em cada 36 crianças de 8 anos é diagnosticada com TEA. Projeções para o Brasil indicam mais de 5,6 milhões de autistas no país, reforçando a necessidade de estratégias amplas e abrangentes de promoção de saúde bucal e nutricional voltadas para essa população.
Essas estratégias devem incluir tanto políticas de saúde pública quanto capacitação de profissionais de saúde para lidar com as necessidades únicas dos pacientes com TEA. A atenção integral à saúde dessas crianças passa por compreender suas limitações e oferecer cuidados acessíveis e eficazes, visando a uma melhora substancial da saúde bucal e da qualidade de vida.
conclusão
A presente pesquisa revelou que os pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enfrentam desafios substanciais relacionados à saúde bucal, resultantes de uma combinação de sensibilidades sensoriais, hábitos alimentares seletivos e dificuldades na comunicação. Esses fatores afetam diretamente a manutenção de uma rotina de higiene bucal, favorecendo o surgimento de cáries, gengivites e desgaste dentário excessivo. O estudo confirmou a hipótese de que a intervenção nutricional, associada a um atendimento odontológico especializado e adaptado, pode melhorar significativamente a saúde bucal de pacientes com TEA.
Os objetivos estabelecidos foram atingidos, pois o trabalho demonstrou a relação entre a alimentação seletiva, comum em pacientes autistas, e os problemas odontológicos, além de evidenciar a importância de uma abordagem interdisciplinar, envolvendo dentistas e nutricionistas, para garantir uma saúde bucal mais eficaz. A hipótese de que o ambiente odontológico tradicional é inadequado para esses pacientes também foi confirmada, mostrando a necessidade de adaptações no ambiente e nas técnicas de manejo para minimizar os estímulos sensoriais que geram resistência ao tratamento.
Entre as principais contribuições práticas da pesquisa, destaca-se a urgência de desenvolver estratégias de atendimento que incluam capacitação de profissionais para lidar com as peculiaridades do TEA. A criação de ambientes odontológicos acolhedores e adaptados, aliados ao acompanhamento nutricional especializado, se mostrou essencial para promover a saúde integral dos pacientes. Do ponto de vista teórico, o estudo amplia o entendimento sobre a interação entre os fatores sensoriais e alimentares e seus impactos na saúde bucal de crianças com TEA.
No entanto, a pesquisa apresenta algumas limitações. O estudo não incluiu um acompanhamento longitudinal dos pacientes, o que poderia oferecer uma visão mais aprofundada sobre a eficácia das intervenções ao longo do tempo. Para estudos futuros, sugere-se a ampliação da amostra e a inclusão de análises de longo prazo que envolvam a implementação de programas de cuidados personalizados, além de explorar novas abordagens terapêuticas para reduzir a resistência sensorial ao tratamento odontológico.
referências
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