A IMPORTÂNCIA DA RECEPÇÃO DE ÓVULOS DOADOS EM MULHERES COM IDADE MATERNA AVANÇADA

THE IMPORTANCE OF RECEIVING DONATED EGGS IN WOMEN OF ADVANCED MATERNAL AGE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411261323


Cruz, Amanda Dos Santos1
Mathias, Leonardo Keller Guimarães1
Assalim, Amanda Pereira2


RESUMO

Atualmente com o aumento das mulheres no mercado de trabalho, iniciar a maternidade jovem é postergada, e diante dessa escolha acabam enfrentando dificuldades de engravidar por métodos naturais, tendo que recorrer a Reprodução Humana Assistida (RHA). Mesmo utilizando as técnicas de RHA, por conta da idade materna avançada, as taxas de insucesso na formação de embriões viáveis são mais altas devido às alterações cromossômicas dos gametas produzidos, nesses casos, é indicado o tratamento de recepção de óvulos doados. Neste artigo, iremos abordar quais são os requisitos para ser doadora de óvulos segundo as normas da Agência nacional de vigilância sanitária (ANVISA) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), mostrar quais são os exames sorológicos obrigatórios para a doação de óvulos, o processo da coleta folicular e a fertilização in vitro.

Palavras-chaves: recepção de óvulos, idade materna avançada, reprodução humana assistida.

ABSTRACT

Currently, with the increase of women in the job market, starting motherhood at a young age is being postponed, and due to this choice, they end up facing difficulties in getting pregnant through natural methods, having to resort to Assisted Human Reproduction (AHR). Even using AHR techniques, due to advanced maternal age, the failure rates in the formation of viable embryos are higher due to chromosomal alterations in the gametes produced, in these cases, treatment by receiving donated eggs is indicated. In this article, we will discuss the requirements to be an egg donor according to the standards of the National Health Surveillance Agency (ANVISA) and the Federal Council of Medicine (CFM), show which serological tests are mandatory for egg donation, the process of follicular collection and in vitro fertilization.

Keywords: egg reception, advanced maternal age, assisted human reproduction..

INTRODUÇÃO     

Em julho de 1978, na Inglaterra, aconteceu um marco muito importante na Reprodução Humana Assistida (RHA), o nascimento do primeiro “bebê de proveta” no mundo, utilizando técnicas no qual o processo de fertilização dos gametas femininos (oócitos) e masculinos (espermatozoides) acontecem dentro de um laboratório, ou seja, os processos fisiológicos: maturação folicular, fertilização e o desenvolvimento embrionário, são realizados in vitro, com intuito de obter uma gestação em casos de infertilidade. No Brasil, o primeiro nascimento gerado pela fertilização in vitro aconteceu em 19841

As duas técnicas mais utilizadas no processo de fertilização são a fertilização in vitro clássica (FIV) e a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). A fertilização in vitro clássica se originou em 1978, este processo ocorre em uma placa de Petri, onde é colocado os oócitos e os espermatozoides e a fertilização ocorre de forma natural, porém dentro de um laboratório. Já na injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), introduzida em 1992, utilizada principalmente em casos de infertilidade masculina devido à diminuição na motilidade ou concentração dos espermatozoides, consiste em injetar um único espermatozoide, sem morfologia alterada nos óvulos, captados através de uma aspiração folicular. Após a fertilização, os embriões viáveis que se formaram são transferidos para a cavidade uterina da mulher. Um dos fatores que mais impactam o sucesso no tratamento de Reprodução Humana Assistida, é a infertilidade feminina pelo fator da idade materna avançada2.

Pelo aumento na inserção das mulheres no mercado de trabalho, no início da década de 70, as taxas de mulheres iniciando a maternidade jovem diminuíram, tendo como prioridade a carreira profissional e estabilidade financeira. O percentual de mulheres a partir dos 30 anos iniciando a maternidade ampliou de 8% para 40% entre os países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e alguns países da Europa Ocidental e do Norte. Com isso, a procura de métodos contraceptivos aumentaram dando mais autonomia às mulheres nas suas escolhas reprodutivas, porém essa escolha de postergar a maternidade, pode resultar na dificuldade em engravidar por meios naturais, devido alterações quantitativas da reserva ovariana e qualitativas dos oócitos produzidos nos folículos por alterações hormonais pela questão da idade materna avançada3.

Os folículos ovarianos se formam antes do nascimento, esse processo se inicia através das células germinativas primordiais que se encontram no saco vitelino, em uma estrutura chamada endoderma, essas células passam para a crista gonadal, onde ocorre os processos das divisões mitóticas. Quando as células germinativas chegam na crista gonadal, as oogônias entram na prófase fazendo a primeira divisão meiótica e formam-se os oócitos primários4. Depois da primeira divisão, há um conjunto de células somáticas que se formaram na gônada primitiva. Estas células são epiteliais, da granulosa folicular, intersticiais, fibroblastos e este conjunto de células envolvem a ovogônia gerando os folículos ovarianos4,5

Os oócitos ficam grudados nesses folículos no estágio de meiose I ou estágio diplóteno, neste estágio os oócitos tem um núcleo intacto chamado de vesícula germinativa (VG), permanecem inativos e compõem a reserva folicular ovariana. Durante a puberdade, se inicia a fase reprodutiva feminina, com a chegada do ciclo menstrual, os oócitos começam a se desenvolver no crescimento e na maturação4-5

A partir do ciclo menstrual, o processo de desenvolvimento dos folículos é dividido em duas partes: a fase folicular e a fase lútea. Na fase folicular, o hormônio produzido na hipófise, o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) induz a liberação dos hormônios FSH (hormônio folículo-estimulante) e o LH (hormônio luteinizante). Quando há um aumento do LH, induz a produção do estrogênio retomando a maturação meiótica dos folículos que estão em desenvolvimento, ou seja, o ovócito dominante que estava inativo retorna o seu processo de divisão meiótica atingido o estágio de maturação nuclear, onde metade dos cromossomos são expelidos para um corpo polar, estabelecendo a metáfase da segunda divisão meiótica, se tornando um óvulo maduro (MII). É importante para que o oócito chegue neste estágio porque o citoplasma atinge a maturidade nuclear onde poderá ocorrer a fertilização, enquanto a célula secretora do folículo, que foi rompido durante o processo de ovulação, se torna-se um corpo lúteo e começa a produzir progesterona6-9.

Na fase lútea ocorre uma diminuição do estrogênio e aumenta a concentração de progesterona auxiliando no espessamento do endométrio para que o óvulo fertilizado com o espermatozoide se implante e sendo essencial na manutenção da gestação. Porém, se o óvulo liberado não for fertilizado, o corpo lúteo começa a se degenerar, ocorrendo uma redução nos níveis de concentração da progesterona e estrogênio, sendo assim, o revestimento uterino se desprende iniciando um novo ciclo menstrual6-8,10,11.

A cada ciclo menstrual, o estoque de folículos antrais da reserva ovariana pode ter alterações e com o fator da idade materna avançada causa um declínio na fertilidade, ou seja, acontece uma diminuição da qualidade e quantidade oocitária pela baixa concentração do fluxo sanguíneo devido à redução dos efeitos da progesterona gerando um impacto diretamente nos oócitos produzidos9,12-15.

No organismo feminino, o envelhecimento reprodutivo ocorre, devido a diminuição na produção dos hormônios ovarianos (estrogênio e progesterona), os oócitos liberados na ovulação são mais propensos a terem anormalidades por conta de erros no fuso meiótico e a perda do DNA mitocondrial por sofrerem a não disjunção durante a gametogênese, alterando os números de cromossomos devido à perda gradual da compactação do cinetócoro durante o processo meiótico9,12-15.

Nesses casos, mulheres com a idade materna avançada não conseguem ter bons resultados utilizando oócitos próprios, devido insuficiência ovariana ou pela baixa qualidade oocitária, além de terem mais chances de resultar em abortamentos espontâneos, redução de oócitos maduros, morfologia alterada dos oócitos produzidos, baixo potencial de fertilização, menores taxas de blastulação e principalmente aneuploidias embrionárias9,12-14,16.

Como opção de tratamento para esses casos, a recepção de óvulos doados tem sido indicada por mostrar melhores resultados, além de já ser indicado para pacientes que possuem alguma doença autoimune, tratamento de câncer utilizando radioterapia e quimioterapia ou por doenças genéticas hereditárias17

JUSTIFICATIVAS

Com a diminuição da qualidade oocitária e da reserva ovariana, as mulheres enfrentam dificuldades de engravidar pelos métodos naturais ou realizam vários ciclos de tratamentos de Reprodução Humana Assistida com óvulos próprios sem conseguir o resultado esperado, o Beta-HCG positivo. Sendo assim, o objetivo deste estudo baseado em artigos científicos, é mostrar que a recepção de oócitos doados por mulheres mais jovens, acaba aumentando as chances de terem embriões saudáveis, mais chances de implantação embrionária e compararmos as taxas de aneuploidias de acordo com o avanço da idade materna.

OBJETIVOS

O objetivo principal deste artigo de revisão de literatura, é mostrar a recepção de oócitos doados por mulheres mais jovens sendo uma forma de tratamento eficaz para mulheres com a idade materna avançada que já tentaram todos os tipos de tratamentos e não conseguem ter embriões saudáveis utilizando os oócitos próprios. E os objetivos secundários são mostrar como funciona todo o processo de doação de óvulos seguindo a norma da RDC N° 771, de 26 de Dezembro de 2022 e do Conselho Federal de Medicina (CFM).

MÉTODOS   

O método utilizado trata-se de uma revisão de literatura de artigos científicos nos bancos de dados PubMED, Google Acadêmico e SCIELO (Scientific Electronic Library Online), com temas voltados à Reprodução Humana Assistida, Idade materna avançada, qualidade oocitária, aneuploidias e doação de óvulos. 

Os critérios de exclusão foram baseados em temas que não correspondem à idade materna avançada e fatores de infertilidade masculina. Os critérios de inclusão foram baseados em artigos com temas referentes à diminuição da reserva ovariana e a doação de óvulos, em um período de pesquisa publicados entre 1890 e 2022, utilizando artigos científicos publicados em língua portuguesa e língua inglesa. Foram utilizadas palavras chaves “Egg donation, cycle menstrual, quality oocytes, idade materna avançada, reprodução humana assistida e fertilização in vitro”.

CONSIDERAÇÕES GERAIS 

No ano de 1890, ocorreu o primeiro caso de doação de embriões em mamíferos pelo Walter Heape, embriões de uma coelha angorá foram transferidos para uma lebre belga que teve uma gravidez bem-sucedida após a doação. Os estudos foram expandidos em outras espécies de mamíferos em 1980, onde foram utilizados gametas e embriões doados e obteve sucesso em 14 espécies de mamíferos e 2 espécies de primatas, mas somente em 1983, na Austrália, foram relatadas as primeiras gestações com nascidos vivos em humanos por óvulos e embriões doados18-24.

Com o avanço da tecnologia na Reprodução Humana Assistida, as mulheres que enfrentam dificuldade de ter uma gestação viável, principalmente devido a idade materna avançada, onde se tem como principais causas de infertilidade a insuficiência ovariana e a baixa qualidade oocitária, através da doação de óvulos conseguem alcançar tão sonhada a gestação. Se compararmos nos Estados Unidos, em 1995, em um período anual, em todos os tratamentos realizados de Reprodução Humana Assistida cerca de 8% eram de doação de óvulos, em média 4.783 de casos realizados. Já em 2014 e 2015 mostram um aumento significativo, onde foram iniciados mais de 9.000 ciclos de doações de óvulos25-27.

REQUISITOS PARA A SELEÇÃO DE DOADORAS NO BRASIL

No Brasil, o primeiro caso de doação compartilhada de óvulos aconteceu no ano de 1993, na Clínica Centro de Endoscopia e Assistência à Fertilização – CENAFERT, localizada em Brasília27. Existem três formas de doação de óvulos: a doação compartilhada, a doação voluntária e a doação familiar. Na ovodoação compartilhada, uma mulher jovem com boa produção ovariana, precisa realizar a fertilização in vitro por outros fatores que não estão associados a qualidade oocitária, doa metade dos oócitos para a receptora de forma anônima e fica com a outra metade para o seu próprio tratamento. 

Já na ovodoação voluntária, a doação é realizada anonimamente por mulheres voluntárias onde doam todos os seus oócitos captados naquele ciclo, ou seja, a mulher doadora não está realizando nenhum tipo de tratamento para engravidar e na ovodoação familiar onde um parente até 4º (quarto) grau, sem ter consanguinidade, pode doar os óvulos para o casal que deseja engravidar28

Para seleção da doadora é considerada compatível quando se mantém a compatibilidade sanguínea e fenótipo da receptora, além disso, para poder realizar a doação de óvulos é necessário cumprir alguns requisitos determinados segundo o Conselho Federal de Medicina na (Resolução nº 2.320/2022)28,29:

1- A doação não pode ter caráter lucrativo ou comercial;

2- Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto na doação de gametas ou embriões para parentesco de até 4º (quarto) grau, de um dos receptores (primeiro grau:  pais e filhos; segundo grau:  avós e irmãos; terceiro grau:  tios e sobrinhos; quarto grau: primos), desde que não incorra em consanguinidade;

2.1- Deve constar em prontuário o relatório médico atestando a adequação da saúde física e mental de todos os envolvidos;

2.2- A doadora de óvulos ou embriões não pode ser a cedente temporária do útero;

3- A doação de gametas pode ser realizada a partir da maioridade civil, sendo a idade limite de 37 (trinta e sete) anos para a mulher e de 45 (quarenta e cinco) anos para o homem;

3.1- Exceções ao limite da idade feminina podem ser aceitas nos casos de doação de oócitos previamente congelados, embriões previamente congelados e doação familiar conforme descrito no item 2, desde que a receptora/receptores seja(m) devidamente esclarecida(os) sobre os riscos que envolvem a prole;

4- Deve ser mantido, obrigatoriamente, sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores, com a ressalva do item 2 do Capítulo IV. Em situações especiais, informações sobre os doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas exclusivamente aos médicos, resguardando a identidade civil do(a) doador(a);

5- As clínicas, centros ou serviços onde são feitas as doações devem manter, de forma permanente, um registro com dados clínicos de caráter geral, características fenotípicas, de acordo com a legislação vigente;

6- Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) tenha produzido mais de 2 (dois) nascimentos de crianças de sexos diferentes em uma área de 1 (um) milhão de habitantes.  Exceto quando uma mesma família receptora escolher um(a) mesmo(a) doador(a), que pode, então, contribuir com quantas gestações forem desejadas; 

7- Não é permitido aos médicos, funcionários e demais integrantes da equipe multidisciplinar das clínicas, unidades ou serviços serem doadores nos programas de reprodução assistida;

8- É permitida a doação voluntária de gametas, bem como a situação identificada como doação compartilhada de oócitos em reprodução assistida, em que doadora e receptora compartilham tanto do material biológico quanto dos custos financeiros que envolvem o procedimento;

9- A escolha das doadoras de oócitos, nos casos de doação compartilhada, é de responsabilidade do médico assistente.  Dentro do possível, o médico assistente deve selecionar a doadora que tenha a maior semelhança fenotípica com a receptora, que deve dar sua anuência à escolha;

10- A responsabilidade pela seleção dos doadores é exclusiva dos usuários quando da utilização de banco de gametas ou embriões;

11- Na eventualidade de embriões formados por gametas de pacientes ou doadores distintos, a transferência embrionária deverá ser realizada com embriões de uma única origem para a segurança da prole e rastreabilidade29.

SOROLOGIAS OBRIGATÓRIAS

Após a seleção da doadora, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), exige na atual RDC Nº 771, no Art. 97, de 26 de dezembro de 2022, que os oócitos doados com destino a criopreservação, devem realizar os seguintes testes laboratoriais até 30 (trinta) dias antes da coleta folicular30

I – HIV 1 e 2: detecção de anticorpo contra o HIV ou detecção combinada do anticorpo contra o HIV + antígeno p24 do HIV; 

II – Hepatite B: HBsAg (detecção do antígeno de superfície do vírus da hepatite B) e Anti-HBc (detecção de anticorpos contra o capsídeo do HBV, IgG ou IgG + IgM); 

III – Hepatite C: HCV-Ab (detecção do anticorpo contra o vírus da hepatite C (HCV) ou detecção combinada de anticorpo + antígeno do HCV); 

IV – Sífilis: teste para detecção do anticorpo anti-treponêmico ou não-treponêmico; 

V – Vírus Zika: teste para detecção de anticorpo IgG e IgM; 

VI – “Neisseria gonorrhoeae”: detecção de ácido nucleico (NAT) em amostra de urina;

VII – “Chlamydia trachomatis”: detecção de ácido nucleico (NAT) em amostra de urina; 

VIII – Cariótipo;  

IX – Traços falciformes30

Após a coleta, as amostras dos oócitos doados que foram congelados ficam em quarentena e não menos que 180 (cento e oitenta) dias depois da coleta, a doadora precisa coletar uma nova amostra dos exames sorológicos: HIV I e II, Hepatite B (HBsAg, Anti-HBc IgG e IgM) e Hepatite C (HCV). Os oócitos são liberados para utilização, quando o resultado das sorologias para não-reagentes. Porém, em casos que as sorologias foram coletadas pelo método de detecção de ácido nucléico (NAT) no mesmo momento em que todos os outros exames obrigatórios forem coletados, não é necessário os oócitos ficarem em quarentena ou retestagem30.

Quando os testes laboratoriais a seguir forem reagentes, a RDC define30:

§ 6º Resultados reagentes ou positivos dos testes previstos nos incisos I, II, III do caput deste artigo são critérios de exclusão definitiva da doadora;

§ 7º Resultados alterados dos testes previstos nos incisos VIII e IX do caput deste artigo são critérios de exclusão definitiva da doadora;

§ 8º Resultados reagentes ou positivos dos testes previstos nos incisos de IV, V, VI e VII do caput deste artigo são critérios de exclusão temporária da doadora, e somente resultados não reagentes ou negativos habilitam a doação30.

No Art. 98 da RDC, os oócitos doados através da doação a fresco, ou seja, fertilização no mesmo dia da coleta oocitária, obrigatoriamente deve realizar os seguintes testes laboratoriais até 30 (trinta) dias antes da coleta folicular30:

I – HIV 1 e 2: detecção de anticorpo contra o HIV ou detecção combinada do anticorpo contra o HIV + antígeno p24 do HIV; 

II – Teste de detecção de ácido nucleico para HIV; 

III – Hepatite B: HBsAg (detecção do antígeno de superfície do vírus da hepatite B) e Anti-HBc (detecção de anticorpos contra o capsídeo do HBV, IgG ou IgG + IgM); 

IV – Teste de detecção de ácido nucleico para HBV; 

V – Hepatite C: HCV-Ab (detecção do anticorpo contra o vírus da hepatite C (HCV) ou detecção combinada de anticorpo + antígeno do HCV); 

VI – Teste de detecção de ácido nucleico para HCV; 

VII – Sífilis: teste para detecção do anticorpo anti-treponêmico ou não-treponêmico; 

VIII – Vírus Zika: teste para detecção de anticorpo IgG e IgM; 

IX – “Neisseria gonorrhoeae”: detecção de ácido nucleico (NAT) em amostra de urina; 

X – “Chlamydia trachomatis”: detecção de ácido nucleico (NAT) em amostra de urina; 

XI – Cariótipo;  

XII – Traços falciformes30.

Quando os testes laboratoriais a seguir forem reagentes, a RDC define30:

§ 2º Resultados conclusivos, reagentes ou positivos, dos testes previstos nos incisos I, II, III, IV, V e VI do caput deste artigo são critérios de exclusão definitiva da doadora;

§ 3º Resultados alterados dos testes previstos nos incisos XI e XII do caput deste artigo são critérios de exclusão definitiva da doadora;

§ 4º Resultados reagentes ou positivos dos testes previstos nos incisos de VII, VIII, IX e X do caput deste artigo são critérios de exclusão temporária da doadora, e somente resultados não reagentes ou negativos habilitam a doação30.

ESTIMULAÇÃO OVARIANA E A FERTILIZAÇÃO IN VITRO

Após o processo de seleção da doadora de óvulos, ela realiza exames de avaliação como: FSH, LH, estradiol, hormônio anti-mulleriano (AMH) e contagem de folículos antrais. Com os resultados, estando normais, começa a estimulação ovariana controlada através da realização de ultrassons transvaginal, utilizando gonadotrofinas para estimular o crescimento dos folículos. Após 06 dias da estimulação, usa-se um hormônio antagonista do GnRH e em seguida por um agonista de GnRH que induz a maturação final do oócito. Quando os folículos atingem o tamanho ideal, por volta de 20mm, é no laboratório de Reprodução Humana Assistida que é realizada a aspiração folicular da doadora e os óvulos captados são doados para a receptora31,32.

Após essa doação dos óvulos, com sêmen do parceiro da receptora ou com um sêmen de doador é realizado o procedimento de fertilização in vitro clássica (FIV) ou pela injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). Para que ocorra a fertilização, o espermatozoide induz um sinal interrompendo a parada do oócito maduro (MII), ocorrendo a extrusão do segundo corpo polar, gerando a formação de pronúcleos haploides masculinos e femininos. Após 18 horas do processo de fertilização in vitro, o embriologista verifica se houve a fertilização dos oócitos e depois de 24/48 horas após a fertilização, o embriologista acompanha todo o desenvolvimento embrionário32

Quando o embrião chega no estágio chamado de blastocisto, o embrião apresenta entre 32 e 64 células, possui as melhores taxas de sucesso para implantação e o estágio máximo que se mantém em cultivo no laboratório, sendo assim é iniciado o preparo endometrial da receptora para a transferência embrionária. Cerca de dez dias após a transferência é realizado o primeiro exame de sangue quantitativo de Beta-HCG e após 4 semanas da data da transferência, é realizada uma ultrassonografia transvaginal para confirmar a gravidez clínica pela visualização do saco gestacional, vesícula vitelínica, embrião e batimento cardíaco31,32.

Contudo, para as mulheres com idade materna avançada, a recepção de oócitos doados por mulheres mais jovens é indicada, devido à baixa qualidade oocitária e os oócitos produzidos possuem defeitos na estrutura do fuso, que é uma das causas mais importante para a segregação cromossômica errônea e para identificar alterações cromossômicas do embrião, é realizado teste genético pré-implantacional, do inglês Preimplantation genetic testing (PGT). Através da biópsia do trofectoderma em embriões em estágio de desenvolvimento em blastocisto que permite a análise de um maior número de células, é possível identificar embriões com alterações cromossômicas e com intuito de aumentar as chances de gravidez e diminuir o risco de aneuploidia fetal33-34.

RESULTADOS

Em um estudo, realizado em cinco receptoras com idade média de 38,6 anos e com as respectivas doadoras de óvulos que participaram espontaneamente tinham menos de 35 anos, com estado de saúde perfeito e com sorologias negativas, os dados mostraram que a taxa média do desenvolvimento embrionário no estágio de clivagem foi de 80,2% e a gestação clínica, identificado pelos batimentos cardíacos e do saco gestacional ocorreu em 57,1% dos ciclos, conforme a figura 1 abaixo35:

FIGURA 1

Tabela

Descrição gerada automaticamente

Figura 1 – Franco Júnior, J. G., Baruffi, R. L. R., Mauri, A. L., Pertersen, C. G., Campos, M. S., & Oliveira, J. B. A. (1994)

CASO I AP – a paciente engravidou na segunda transferência embrionária, a partir de óvulos e espermatozoides doados;

CASO II AL – a paciente engravidou na primeira transferência embrionária;

CASO III MK – a paciente engravidou na primeira transferência embrionária;

CASO IV DH – a paciente engravidou na segunda transferência embrionária;

CASO V NM – a paciente não engravidou na primeira transferência embrionária. 

No segundo estudo mostra que foram realizados os testes genéticos em mais de 15 (quinze) mil embriões, e as taxas mostraram que pacientes até 36 anos, cerca de 20 a 30% dos embriões tinham alterações cromossômicas e a partir dos 37 anos tiveram 50% de embriões com aneuploidia, já as pacientes com 38 e 41 anos, teve um aumento aproximado de 70%. Conforme a figura 2 listada abaixo33:

FIGURA 2

Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

Neste mesmo estudo realizado, é possível verificar de acordo com a chegada da idade materna avançada, a diminuição dos oócitos que são recuperados durante a coleta folicular e as taxas de embriões geneticamente saudáveis, sendo assim a recepção de oócitos doados de mulheres mais jovens conseguem ter mais chances de embriões euplóides, conforme a figura 3 abaixo33:

FIGURA 3

Figura 3 – Franasiak. Aneuploidy versus age. Fertil Steril 2014

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em mulheres acima dos 35 anos observa-se uma queda acentuada da reserva ovariana e da qualidade dos oócitos produzidos, dificultando uma gravidez por métodos naturais, além de maiores chances de abortamentos espontâneos devido às alterações genéticas dos embriões. Mesmo com o avanço das técnicas de Reprodução Humana Assistida e da Medicina, ainda não temos tratamento comprovado cientificamente que melhorem a qualidade e quantidade dos oócitos com a chegada da idade materna avançada. 

As pacientes podem realizar diversos ciclos de estimulação ovariana para ter maior quantidade de oócitos captados, mas devido à idade avançada, aumentam os percentuais dos embriões não se desenvolverem até o estágio de blastocisto ou ter algum tipo de alteração cromossômica sendo inviável para a transferência embrionária. Então, após análise dos artigos científicos e estudos apresentados, com a recepção de oócitos doados de mulheres mais jovens e sem histórico de doenças genéticas conhecidas, as chances de terem uma maior quantidade e qualidade dos embriões, mesmo após a realização de biópsia embrionária aumentam.

Atualmente ainda ocorre muito preconceito referente a doação de óvulos e as pacientes não aceitam ou não sabem informações necessárias de como funciona o tratamento de Reprodução Humana Assistida através da doação de óvulos. É um assunto de alta relevância e precisa ser mais discutido e compartilhado para ajudar as mulheres a conseguirem realizar o sonho de ter uma gestação.

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1Graduandos de Biomedicina do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, Brasil
2Biomédica, pela Universidade Anhembi Morumbi – UAM, Brasil