THE IMPORTANCE OF PREVENTING POLYPHARMACY IN THE ELDERLY POPULATION OF BASIC HEALTH UNITS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202407311149
Maria Eduarda Caineli da Silva; Bianca dos Santos Bueno; Gabriela Silva Amaral; Mariá Milesi Ortiz; Larissa Farah de Oliveira; Isadora Pasquarelli Staut; Lucas Valadão Ferreira De Lira; Marcelo Erik Bolgenhagen Lotario; Sara Giacomin da Fonseca; Orientador: Lucas Pires Ventura
RESUMO:
Objetivo: Caracterizar a relevância da prevenção das polifarmácias na população idosa. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com artigos selecionados no período de 2021 a 2024, com textos completos em língua portuguesa. A pergunta norteadora usada foi: Qual a importância da prevenção da polifarmácia para os idosos das Unidades Básicas de Saúde? Para a escolha dos artigos, foram usados os descritores(DeCS): Efeitos colaterais e Reações adversas relacionados a medicamentos, Polimedicação e Envelhecimento nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e National Institutes of Health (NIH, PubMED). Resultados: 6 artigos comprovaram que o uso de múltiplos fármacos por idosos podem aumentar o risco de morbimortalidade, porém, se feita a prevenção, aumentará a sobrevida dessa população. Conclusão: Nota-se então, que são necessárias políticas para prevenção de polifarmácias, principalmente para idosos, que têm menor adesão ao tratamento e maior fragilidade.
Palavras-chave: Efeitos colaterais e Reações adversas relacionados a medicamentos. Polimedicação. Envelhecimento.
INTRODUÇÃO:
Pela Política Nacional do Idoso, define-se idoso a pessoa maior de 60 anos de idade (BRASIL 1994). Esta faixa etária é válida para países em desenvolvimento, subindo para 65 anos quando se refere a países desenvolvidos (IBGE, 2004).
No Brasil, a população está passando por um período de envelhecimento, em que pessoas com 65 anos ou mais representavam 10,9% da população em 2022, aumentando 57,4% com relação a 2010 e a parcela com 14 anos ou menos está diminuindo, o que está causando uma inversão na pirâmide etária brasileira, principalmente no Sul e no Sudeste (IBGE, 2023).
Essa inversão leva a diferentes condições, habilidades e necessidades da sociedade de um país (BLOOM E LUCA, 2016). Ademais, idosos tendem a apresentar mais patologias e necessitam de mais cuidado em saúde, de maneira longitudinal e a longo prazo, principalmente doenças crônicas não transmissíveis (NORTON, 2016). Dessa maneira, evidencia-se a grande necessidade de aumentar a atenção à saúde dos idosos com essa condição e de medicar somente quando necessário, evitando a iatrogenia, essencialmente quando for usada a polifarmácia.
Polifarmácia é definida como o uso concomitante de dois ou mais medicamentos ou a utilização desnecessária de pelo menos um medicamento. (HANLON et al., 1997). Alguns autores consideram também polifarmácia como o tempo de consumo exagerado, pelo menos 60 a 90 dias (BERMUDEZ, 2010).
A polifarmácia é multifatorial e tem causas complexas. Alguns fatores que levam ao uso da polifarmácia em idosos estão relacionados a presença de mais de uma doença crônica no idoso, a vários médicos atendendo e prescrevendo ao mesmo paciente, à medicalização de queixas de maneira indiscriminada, à dificuldade do idoso ou cuidador especificar quais remédios estão em uso e a facilidade de obtenção de medicamentos (CORREIA et al, 2020; OLIVEIRA E PINTO, 2021).
Estudos demonstram que as alterações fisiológicas na população geriátrica, como a diminuição da função renal e hepática, essenciais para a metabolização de medicamentos, podem mudar a farmacocinética e a farmacodinâmica dos medicamentos, o que pode gerar efeitos muito acentuados ou efeitos adversos nos idosos (SILVA E SCHMIDT, 2012). Além das consequências clínicas no paciente, a polifarmácia também gera um impacto nos custos nos sistemas de saúde, ao representar a retirada de fármacos inadequados ou desnecessários, aumento da necessidade de cuidados médicos, elevação nas internações hospitalares e crescimento da morbimortalidade (CORREIA et al, 2020). Assim, urge melhorias na prevenção da polifarmácia em idosos nas unidades básicas de saúde, já que há muitas consequências negativas e evitáveis decorrentes deste ato.
METODOLOGIA:
Trata-se de uma revisão integrativa na literatura, com artigos publicados entre 2021 a 2024, nos seguintes idiomas: português e inglês, com texto completo disponível. Utilizou-se como questão norteadora: “Qual o impacto da polifarmácia na população idosa?” A pesquisa bibliográfica foi realizada em abril de 2024, sendo realizada busca nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e National Institutes of Health (NIH, PubMED).
Foram utilizados para o levantamento de artigos científicos, os seguintes descritores (DeCS): Efeitos colaterais e Reações adversas relacionados a medicamentos, Polimedicação e Envelhecimento.
RESULTADO:
Foram encontrados 8236 artigos nas bases de dados LILACS e PubMED, sendo 8230 excluídos, 1727 por estarem incompletos, 3622 por não se adequarem aos critérios de inclusão e 2875 por estarem fora do período de 2021 a 2024 ou estarem repetidos como demonstrado na Figura 1.
Figura 1: fluxograma do método de escolha dos artigos
Demonstra-se pelo Quadro 1 os artigos selecionados para a amostra final, contendo autor, ano de publicação e os principais achados resumidos.
Quadro 1: Panorama dos artigos usados nesta revisão integrativa
DISCUSSÃO:
Concomitante ao processo do envelhecimento, temos uma diminuição na reserva funcional do corpo humano, o qual torna-se mais suscetível às agressões ambientais. Com o avanço tecnológico na área da Medicina, foi possível contornar algumas das comorbidades associadas à idade, e assim, aumentar a expectativa de vida da população geral. Para atingir tal objetivo, a maior ferramenta a qual os médicos dispõem são os medicamentos, o que explica o motivo de a população idosa ser a mais medicalizada na sociedade, e também a prevalência da polifarmácia nesse grupo (RODRIGUES MES, 2023).
Acerca do conceito de polifarmácia, não há um consenso sobre sua definição específica, porém, a maioria dos estudos levam em consideração que trata-se do uso concomitante de cinco ou mais medicamentos, podendo também ser referido como “polifarmácia excessiva” nos casos de uso concomitante de dez ou mais medicamentos (OLIVEIRA, 2019). Sendo assim, um estudo realizado pela PNAUM (Pesquisa Nacional sobre o Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil) revelou a prevalência de 60% da polifarmácia entre idosos com quatro ou mais doenças, apontando a importância da discussão do tema na população brasileira.
Nesse sentido, o uso de múltiplas drogas na população idosa para tratamento de mais de uma comorbidade, torna-se um problema atual, pois gera dificuldades na adesão e no abandono do tratamento, em comparação com a população mais jovem. Inúmeros fatores explicam esse dado, como o esquecimento acerca da tomada da medicação, confusão entre os inúmeros medicamentos, valor dos fármacos, e questionamentos sobre possíveis efeitos colaterais. Assim, torna-se função da Atenção Básica em Saúde buscar meios para facilitar e aprimorar a adesão dos pacientes idosos ao tratamento (RODRIGUES MES, 2023), podendo serem usadas ferramentas como esquemas lúdicos, que auxiliem os pacientes a entender qual fármaco deve ser ingerido em qual período do dia, de modo que não haja confusão em meio aos inúmeros medicamentos prescritos.
Outro ponto importante a ser abordado é o risco que a polifarmácia tem ao indivíduo idoso, pelas possíveis interações medicamentosas e reações adversas, risco de quedas, fraturas, e hospitalizações. Tais riscos encontram-se ampliados na população idosa pelas próprias características da senescência, isto é, redução da mobilidade, visão, audição e cognição, além de uma diminuição da função renal e hepática, e da massa magra corpórea (OLIVEIRA, 2019), o que explica a maior vulnerabilidade dessa população à farmacoterapia.
Nesse sentido, dentre as condições patológicas mais frequentes observadas em indivíduos com multimorbidade estão as doenças cardiovasculares, dificuldades de deambulação e mobilidade, redução da capacidade auditiva, visual e cognitiva, além de condições próprias do processo de envelhecimento, como perda de equilíbrio, redução da força e massa magra corporal e rigidez articular, que corroboram com uma maior risco de hospitalizações, eventos adversos, e um aumentado risco de queda (SUSSUARANA, 2022).
Rezende, et al (2021) refere que a multimorbidade, isto é, a coexistência de duas ou mais comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica, osteoporose, diabetes mellitus e problemas cardíacos, é um fator de risco para pacientes idosos, e pode causar menor independência por conta da alta prevalência de polifarmácia, gerando sedentarismo, e futuramente mais medicações prescritas. Em contrapartida, foi analisado por Bongiovani, et al (2021) que idosos com companheiros apresentam fator protetivo para situações adversas visto o apoio mútuo e menor risco de desenvolver depressão, representando a população envelhecida com menor prevalência de polifarmácia.
Segundo Insani WN, a estimativa de prevalência global de reações adversas a medicamentos na Atenção Primária à Saúde (APS) é de 8%, e está associada à maior quantidade de medicamentos utilizados simultaneamente. Um estudo realizado mostrou que 74% dos participantes em polifarmácia observaram potenciais interações medicamentosas, sendo a maioria de gravidade alta e com qualidade da informação regular, mais prevalentes em idosos, com estado de saúde ruim, multimorbidade (presença de duas ou mais doenças crônicas, podendo elas serem físicas ou mentais, em um indivíduo) e indivíduos que foram previamente hospitalizados (TIGUMAN, 2019).
Ademais, segundo estudo dirigido na população idosa registrada no departamento de saúde municipal da cidade de Rio Branco (AC, Brasil), evidenciou alto uso de medicações com efeitos adversos como tontura, vertigem, hipotensão postural e visão embaçada, fatores os quais contribuem para o aumentado risco de queda em idosos em polifarmácia. Tal risco de queda, em idosos em polifarmácia, teve uma taxa de 55% de acometimento dentre a população observada no estudo realizado em Rio Branco (AC).
Concomitantemente, foi relatado maior risco de queda entre mulheres do que em homens, em uso dos fármacos com os efeitos descritos acima, o que mostra a relação intrínseca do gênero em casos de queda por efeitos adversos medicamentosos (SUSSUARANA, 2022). Esse dado maior dentre as mulheres também se deve ao fato destas buscarem mais o serviço de saúde com seus diagnósticos, e consequentemente, possuírem mais medicações prescritas (BONGIOVANI, 2021).
CONCLUSÃO:
Conclui-se, portanto, ser necessário que haja melhorias na prevenção da polifarmácia em idosos nas unidades básicas de saúde, uma vez que essa conjuntura gera dificuldades na adesão do tratamento, maior risco de interações medicamentosas e aumento do risco de quedas, fraturas, e hospitalizações, levando ao aumento da fragilidade da população idosa e custos desnecessários ao Sistema Único de Saúde.
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