A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA CLÍNICA DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma1020230903


Ana Beatriz Araujo De Souza1
Letícia Gomes Oliveira2


Resumo

A formação de psicólogos é um processo complexo que requer uma base teórica sólida, juntamente com experiências práticas significativas. Este artigo é uma pesquisa bibliográfica realizada por duas estudantes de psicologia que realizou triagens e atendimentos psicológicos na clínica escola da Universidade São Lucas de Porto Velho, tem como objetivo abordar a relevância da prática clínica na formação de estudantes de psicologia, enfatizando seu papel na construção de profissionais independentes e competentes.

Palavras-chave: Clínica escola, triagem, atendimento psicológico.

Abstract

The training of psychologists is a complex process that requires a solid theoretical basis, together with significant practical experience. This article is a bibliographical survey carried out by two psychology students who carried out psychological screenings and consultations at the school clinic of the São Lucas University in Porto Velho. It aims to address the relevance of clinical practice in the training of psychology students, emphasizing its role in building independent and competent professionals.

Keywords: School clinic, sorting, psychological support.

1.Introdução

A prática clínica desempenha um papel crucial para permitir que os estudantes apliquem e aprimorem seus conhecimentos teóricos em cenários do mundo real. O contato direto com os pacientes fornece uma compreensão mais profunda das nuances da interação humana, das manifestações de saúde mental e das diversas abordagens terapêuticas. Isso ajuda os estudantes a desenvolver habilidades interpessoais essenciais, como empatia, escuta ativa e comunicação eficaz.

Além disso, a prática clínica expõe os estudantes a uma ampla gama de casos, enriquecendo sua bagagem de experiências e preparando-os para lidar com situações desafiadoras e complexas. O presente artigo ainda propõe abordar a importância do serviço de psicologia das faculdades para comunidade, visto que, os dispositivos públicos existentes não conseguem acolher toda a demanda da população.

2.Referencial Teórico

2.1 Clínica Escola

O objetivo da clínica escola é de proporcionar a prática de acadêmicos de psicologia e futuros profissionais através de uma atuação supervisionada em que os alunos possam, exercitar utilizando os conhecimentos apreendidos durante as disciplinas teóricas e aprender de forma prática a atuação da psicologia. Ademais, as clínicas de universidades tem uma grande importância social, visto que os serviços públicos de atendimentos psicossocial, infelizmente não conseguem abarcar toda a demanda social. Algumas clínicas escola realizam atendimento e cobram um valor social (Herzeberg, 1996). O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), da Universidade São Lucas de Porto Velho (RO), realiza o atendimento gratuito para a comunidade interessada, pois entendem que existem diversas realidades sociais, e que infelizmente é um privilégio algumas pessoas poderem pagar por um atendimento psicológico frente todas as outras necessidades.

Herzberg e Cerioni pontua alguns objetivos importantes característicos dos serviços de clínica escola:

Estudos apontam que há um consenso de que os serviços escola das faculdades de Psicologia existem para cumprir três objetivos: ensino, formando profissionais para contextos regionais e culturais diversificados, que se integram a rede pública e privada de saúde, às comunidades carentes, as organizações e as instituições e extensão; atendimento a comunidade promovendo, a partir de atuação fundamentada em conhecimentos teóricos e em princípios éticos e humanistas, a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar individual e coletivo; e pesquisa, desenvolvendo estudos de relevância social e científica. (Cerioni e Herzeberg, pg 598, 2016)

Pode-se dizer que as clínicas-escola é o primeiro contato, de fato, que os alunos têm com os pacientes, apesar de serem supervisionados, exige do estudante uma postura ativa como profissional, pois é apenas ele e o paciente na sala de atendimento. (Cerioni e Herzeberg, 2016)

Dessa forma é de extrema importância essa prática para os alunos antes da formação, pode se dizer que é nesse momento que o acadêmico está se construindo como profissional, sua forma de manejo dentro da sua abordagem, e sua autenticidade como psicólogo único.

2.2 Supervisão como um espaço de orientação

O atendimento psicológico realizado por alunos é sempre supervisionado por profissionais formados. As supervisões ocorrem a fim de acolher as angústias dos alunos frente a atuação, orientar como deve manejar o atendimento e refletir sobre o caso. Nas supervisões é possível observar, principalmente nos primeiros atendimentos, uma inquietação dos estagiários e uma grande vontade desse momento com o supervisor. Muitas questões são levantadas nesse momento, se o manejo foi correto; que interpretação pode se dar sobre a angústia do paciente; qual a queixa principal; como transcrever de forma correta os 50 minutos de atendimento com o paciente; como fazer e quando fazer os encaminhamentos; como fazer o manejo do atendimento com criança ou adolescente; o que pode ou não pode falar; questões essas que podem notar como é essencial a supervisão como orientação do formando. Além de todas essas questões técnicas da prática, muitos relatos dos pacientes podem atravessar questões pessoais dos estagiários, causando desconforto emocional aos acadêmicos, o que é comum ocorrer na clínica, conteúdos que provoque questões pessoais do estudante.

Os acadêmicos nesse período procuram bibliografias que possam orientar a sua prática; ajudar a entender os pacientes e que intervenções tomar em cada caso específico. A insegurança e vontade de os estudantes serem efetivos no seu objetivo perpassa a necessidade da comunidade que precisa do atendimento. (Cerioni e Herzeberg, 2016).

Sendo assim, o serviço de psicologia possui uma dupla importante função que é fornecer prática para os estudantes a fim de formar bons profissionais e permitir o acesso de serviços psicológicos à população que não possui condições de pagar por um atendimento, promovendo a saúde mental da comunidade.

Pesquisas apontam que realizar uma triagem pode ser sim mais que um acolhimento, uma escuta, sem um momento devolutivo, é claro, mas também uma intervenção que perpassa a passividade do psicólogo. Normalmente a instituição pergunta ao paciente, o que este espera do serviço de acompanhamento psicológico. A fim de compreender qual o imaginário do paciente sobre a triagem e esclarecer qual a finalidade daquele primeiro contato.

A triagem interventiva não tem como objetivo apenas alimentar os dados da faculdade, mas em, certas situações, a entrevista pode ser um lugar onde se encaminha o paciente para outros profissionais da saúde, além de fazer o paciente se ouvir no acolhimento e adotar uma postura ativa e de responsabilização do processo terapêutico (Cerioni et al., 2016).

A escuta única, realizada na triagem, mostra que o paciente não compreende o que é um atendimento psicológico, e nem uma triagem. Não imaginam que pode ser um processo de longo período que não resolve questões em um ou dois meses. É comum a manifestação de dúvidas sobre questões da própria personalidade, possíveis transtornos, esperando uma resposta dos acadêmicos. Em alguns casos pacientes são encaminhados, mas não entendem ao certo o motivo do encaminhamento; em outros momentos apresentam um problema latente sem conhecer razões profundas do seu sofrimento e atividade psíquica (Herzeberg e Chammas, 2009).

Os serviços de psicologia de instituições universitárias geralmente oferecem os serviços para crianças, delimitando uma faixa etária. Buscando abarcar a demanda infantil que aparece com queixas e recomendações da escola e dos próprios pais. O que permite o acolhimento de crianças e experiências dos alunos na clínica infantil que possui diferenças importantes da clínica com o público adulto.

Quando se refere a atendimentos de crianças e a abordagem psicanalítica, a ação de brincar tem um importante papel na clínica infantil. Melanie klein apresentou uma técnica para atendimento de crianças com o brincar, em que ela relacionava o ato de brincar das crianças a associação livre de adultos ( Bueno, 2004), Winnicot também aborda sobre o brincar da criança como um lugar de potência. Adaptações das técnicas, entretanto, pode e é comum que ocorra, a fim de atingir a eficácia da análise, com uma base teórica mas com uma atualização e adaptação de acordo com o profissional e o analisando. Em muitos momentos até recriando a teoria. (França e Passos, 2019) Sendo assim, pode-se considerar um desafio, o primeiro contato com um paciente criança, visto que os acadêmicos ainda estão inseguros em relação ao manejo, com muito receio de fazer algo errado, sem basamento teórico. É importante que nos atendimentos de crianças existam recursos lúdicos como brinquedos, materiais para se produzir desenhos, jogos e outros.

3.Considerações Finais

De acordo com pesquisas bibliográficas e experiência pessoal, o Serviço de Psicologia nas universidades de fato, não é apenas um dispositivo que se integra ao serviço público de saúde mental para a comunidade, mas além do seu caráter social, possui uma importância fundamental na formação dos futuros profissionais de psicologia. O suporte que é oferecido pela instituição representada pela responsável técnica, a assistente e a supervisora de estágio foi de grande importância para que se reduzisse a insegurança nos primeiros atendimentos de cada estagiário.

O estágio na clínica é uma oportunidade para que o estudante possa compreender dificuldades pessoais, quais pacientes têm a maior facilidade de manejar e como aplicar a teoria na prática. É possível observar também que a maioria dos pacientes, não entendem o que é uma triagem, e nem um processo terapêutico.

Com a experiência, é despertado uma grande afinidade com alguns temas e público. Percebendo que alguns conteúdos são mais difíceis que outros. Os atendimentos na clínica escola, motiva os discentes a estudar sobre diferentes assuntos e as supervisões que são ofertadas durante o estágio na clínica escola, promovendo segurança aos alunos. Por conseguinte, os futuros profissionais de psicologia saem da formação com conhecimento e habilidades de manejos de determinadas demandas como, demanda de luto, infantil, ansiedade e outros.

Referências

Herzberg, E., & Chammas, D.. (2009). Triagem estendida: serviço oferecido por uma clínica-escola de psicologia. Paidéia (ribeirão Preto), 19(Paidéia (Ribeirão Preto), 2009 ,19(42)), 107–114. Disponíve em: <https://www.scielo.br/j/paideia/a/qGvXNH5DDRWynL4MhvSbQFx/abstract/?lang=pt >. Acesso em 28/08/2023.

França, R. M. P., & Passos, M. C.. (2019). Ensaio sobre o método clínico na psicanálise com crianças. Revista Latinoamericana De Psicopatologia Fundamental, 22(Rev. latinoam. psicopatol. Fundam., 2019 22(4)), 749–767. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rlpf/a/y7HgDGn6xKH4VwNGbDNVvFx/?lang=pt>. Acesso em: 28/08/2023.

Bueno, D. S; (2004). Melanie Klein é Freudiana. Revista Latino Americana de Psicopatologia fundamental, ano VII, N. 4, dez 2004. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rlpf/a/RV4XFnjZ7CyPTCRkbPkk9nr/?lang=pt>. Acesso em: 28/08/2023.


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