A IMPORTÂNCIA DA ODONTOLOGIA NA BUSCA DO CONHECIMENTO SOBRE AS ANOMALIAS CONGÊNITAS CRÂNIOFACIAIS (FISSURA LABIOPALATINA): UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412071539


Iolanda Da Silva Melo
Katrine Rodrigues Dos Santos Soares
Orientador (a): Prof. Carolina Sousa Freire da Silva
Coorientador (a):Dra. Me. Nicole Patrícia de Lima Vinagre


RESUMO

As fissuras lábio palatinas são consideradas uma malformação que ocorre devido ao não fechamento da fissura central da maxila (céu da boca), incluindo ou não o tecido mole e duro, estendendo- se para a região dos lábios. Por apresentar característica de anomalia incomum, ela está relacionada com possíveis distúrbios ocorridos na gestação que estariam ligados à ausência de proteínas, uso de medicamentos, fatores nutricionais e genéticos causando então, uma interferência no desenvolvimento na vida embrionária. Essa descontinuidade nas estruturas craniofaciais ocasionam uma série de problemas, sejam eles estéticos, funcionais e psicossociais. As alterações funcionais estão relacionadas rigorosamente com o sistema fisiológico, que inclui a fala, a mastigação e deglutição, principalmente na amamentação, cujo a funcionalidade do lábio além de selar é realizar os movimentos de sucção. O que ocasiona deformidade na face, problemas na audição e complicações dentárias. As Fissuras Lábio Palatina (FLP) estão incluídas como uma das complicações de maior complexidade. Diante dessa problemática, os profissionais de saúde atuam de forma conjunta, e atualmente a odontologia se faz presente integralmente dentro da equipe multidisciplinar, desenvolvendo um papel importante na realização exploratória de um diagnóstico, a fim de elucidar e definir o melhor plano de tratamento para o paciente fissurado.

PALAVRACHAVE: Anomalias, Fissura lábio palatina, Odontologia.

ABSTRACT

Cleft lip and palate are considered malformations that occur due to the failure of the central cleft of the maxilla (roof of the mouth) to close, which may involve the soft and/or hard tissues, extending to the lip region. Since it presents as an unusual anomaly, it is associated with potential disorders during pregnancy, such as protein deficiencies, medication use, nutritional and genetic factors, all of which can interfere with embryonic development. This discontinuity in the craniofacial structures causes a range of problems, whether aesthetic, functional, or psychosocial. Functional alterations are closely linked to the physiological system and include difficulties with speech, chewing, and swallowing—especially during breastfeeding, where the lips play a key role in sealing and performing sucking movements. These challenges may lead to facial deformity, hearing problems, and dental complications. Cleft lip and palate (CLP) are among the most complex conditions. In response to this issue, health professionals work collaboratively, with dentistry playing a vital role within the multidisciplinary team, contributing to the exploratory diagnosis and helping to determine the best treatment plan for the cleft patient.

KEYWORD: Anomalies, Cleft lip and palate, Dentistry.

INTRODUÇÃO

No Brasil, com sua ampla territorialidade, o quantitativo populacional conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 é de 203.080.756 de habitantes. Conforme o Ministério da Saúde

A saúde no Brasil tem avanços históricos como a descentralização, a municipalização de ações e serviços, a melhoria e a ampliação da atenção à saúde, o fomento à vigilância em saúde e sanitária e o controle social com a atuação dos conselhos de saúde.

Mas ainda é pertinente o questionamento da falta de mecanismos, assistência e aplicabilidade de meios e serviços essenciais para a população em geral, como nas áreas de saneamento, educação, segurança, alimentação e principalmente as áreas que envolvem a saúde. Diante desse fator, é evidente que uma grande quantidade de indivíduos necessita de um atendimento voltado necessariamente para suas mazelas, e não recebem, por diversos motivos, um atendimento adequado, podendo assim, ser citado indivíduos que possuem algum tipo de anomalia e que carecem de procedimentos cirúrgicos e assistenciais contínuos, direcionando essa observação para as pessoas portadoras do lábio leporino e a fissura lábio palatal.

O lábio leporino e a fissura lábio palatal consiste, respectivamente em uma malformação do lábio superior, no qual o mesmo em seu desenvolvimento origina-se uma fenda que por muitas vezes se estende até a base do nariz, já a fissura lábio palatal é caracterizada por uma fissura no palato envolvendo tecido ósseo do indivíduo.

No geral, são anomalias que surgem durante a gestação e por mais que as denominações sejam distintas em cada uma delas citadas anteriormente, os problemas, tratamentos e cuidados que as pessoas portadoras dessa anomalia recebem, de forma geral, são os mesmos.

Conforme é reiterado pelo Portal Drauzio Varella site (UOL 2020)

O Lábio leporino e fenda de palatina são malformações congênitas que ocorre durante o desenvolvimento do embrião. O tratamento requer abordagem multidisciplinar, isto é, a participação de especialistas de várias áreas.

De maneira sucinta, os indivíduos que apresentam a fissura labiopalatina, também assim denominada, enfrentam as seguintes etapas de tratamento: identificação de qual é a fissura e a sua extensão, intervenções cirúrgicas, tratamentos com diversos especialistas (equipe/ tratamento multidisciplinar) incluindo cirurgiões dentistas, além de outros. Vale ressaltar que o procedimento cirúrgico gratuito realizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) foi aprovado em 17 de outubro de 2023 e tem como Projeto de Lei (PL) Nº3.526/2019, onde dispõe da seguinte colocação, estabelece a obrigatoriedade da prestação de cirurgia plástica reconstrutiva de lábio leporino ou fenda palatina pelo Sistema Único de Saúde.

Como coloca Albuquerque (2015)

O SUS tem como sustentáculo princípios e diretrizes, descritos em seu arcabouço legal, que se constituem de forma inequívoca na base para a sua construção e, consequentemente, operacionalização. Portanto, tem regras, tem legitimidade, ou seja, o SUS representa uma expressão política, jurídica e organizacional, enquanto política de Estado para a saúde, e não de governo.

Dessa forma, torna-se propício o seguinte questionamento: “Qual é a importância dos dados epidemiológicos das anomalias e doenças congênitas crânio faciais para a odontologia mensurando os estudos quantitativos dos casos com maior e menor incidência presente no Estado do Pará”?

Acredita- se que o presente estudo sobre os tipos de anomalias e doenças congênitas colabore na identificação e supervisão aos profissionais da odontologia, dessa maneira sendo esclarecedor e relevante para a comunidade em geral.

OBJETIVOS

Primário

Verificar a ocorrência de fissuras labiopalatinas no estado do Pará, no período de 2017 a 2021.

Secundário

Evidenciar quais os tipos dessa anomalia são mais prevalentes por CID-10;

Identificar os anos com maior ocorrência da condição.

Elaborar material informativo (folder).

METODOLOGIA

Para Silva e Paiva (2022), “no aspecto acadêmico, a metodologia vai organizar a pesquisa científica, estabelecendo os caminhos a serem seguidos para que se atinja os objetivos propostos”.

“A metodologia define o tipo de pesquisa a ser desenvolvida, que, por sua vez, segue a evolução do pensamento científico, dos paradigmas científicos orientadores da sociedade em cada momento histórico” (SILVA; PAIVA. 2022).

Metodologicamente, o trabalho iniciou-se através de pesquisas quantitativas, apresentando destreza em sua compreensão, com o foco e estudo na retrospectiva de dados já disponibilizados, fazendo o uso da ação descritiva para apresentar um estudo observacional da pesquisa abordada.

Assim como coloca Fonseca (2002)

A pesquisa quantitativa tem como foco a objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base em análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros, como o DataSUS.

A amostra do estudo consiste em dados disponibilizado pelo site DataSUS sobre anomalias ou defeito congênitos, que correspondem ao período de cinco anos e que intercalam no tempo os anos de 2017 a 2021.

A pesquisa volta-se para a região norte, mais propriamente para o estado do Pará e converge seu objetivo principal para os casos de anomalias que se manifestaram no grupo de amostra, citado anteriormente.

Em primeiro momento, a pesquisa consiste em buscar informações bibliográficas constituídas por livros, artigos, dados disponíveis eletronicamente e outros, para que assim possa ter a obtenção de conhecimentos epidemiológicos e científicos que direcionem o percurso, acerca da pesquisa a ser seguida.

Em segundo momento, o trabalho consiste na observação de todos os dados coletados e a explanação do que foi analisado através da averiguação das informações relevantes, e que obtinham o foco da pesquisa em sua essência, com objetivo de demostrar as fissuras de maior e menor incidência.

ORIGEM DAS ANOMALIAS CONGÊNITAS CRANIOFACIAL: A FISSURA LABIOPALATINA.

A identificação da anomalia congênita craniofacial, também nomeada como lábio leporino e/ou fenda palatal, é identificada nos primeiros meses de vida intrauterina da mulher, através de exames de imagem, como a ultrassonografia, sendo realizada a partir da 14º semana da gestação.

Figura 01- Evolução fetal
Fonte: 6 Weeks Pregnant: Morning Wellness – Spinning Babies

Mas é importante ressaltar que a identificação na imagem realizada pelo exame só será possível se a anomalia for visível, e se o feto estiver em uma posição que facilite a visualização da fenda, assim como, a experiência profissional no momento do exame.

Figura 02- Exame de ultrassom ecografia 3 D
Fonte: Momtrics (2019)

A anomalia descrita acima, conforme Shibukawa et al. (2019), pode ser associada a alguns fatores genéticos como também a fatores externos durante a gravidez; como o uso de bebidas alcóolicas, uso de medicamentos como trimetropim (antibiótico) e triantereno (diurético) implicam na evolução embrionária. Esses medicamentos não são recomendados durante os três primeiros meses da gestação, pois atuam inibindo o efeito do ácido fólico dificultando o pleno desenvolvimento do tubo neural, e reduz e/ou anula os nutrientes como (ácido fólico, vitamina D e E, magnésio, B6, B9, B12) e tantas outras, que são necessários durante esse período gestacional.

Conforme é afirmado por (NEVILLE et al., 2009), existe uma complexidade nas causas do lábio leporino, que podem ter o envolvimento de fatores genéticos, como de fatores ambientais. Quanto aos fatores genéticos há grandes chances dessas anomalias ocorrerem devido a incompatibilidade sanguínea, complicações hereditárias, fator idade e sexo.

Dentro da área da medicina, as doenças de forma geral são classificadas por meio de uma nomenclatura que consiste em uma conjunção de letras e números, que permite uma formalização das enfermidades no qual é denominado CID 10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Ele vale para anomalias e doenças congênitas. Com isso, o CID Q37 contém como referência a malformação congênita, conhecida como lábio leporino e fenda palatal, mas é valido ressaltar que existem vários tipos de fissuras que afetam diversas partes do crânio. Sendo assim, existindo um CID para cada tipo já identificado.

As estruturas anatômicas da face correspondem à quatorze ossos, sendo seis pares e dois ímpares. Essas estruturas são encaixes perfeitos que se ajustam no desenvolvimento embriológico específico. Esses ossos apresentam formas que se equilibram dando característica a parte anterior da face.

De forma mais específica, a maxila sofre mudanças em todo o seu processo de formação embriológica, e é a partir do 21º dia que a proeminência nasal se torna evidenciada, projetando a formação das conchas nasais e os tecidos do epitélio olfatório. Essa evolução embriológica mostra as transformações a princípio da ossificação, sendo classificada como intramembranosa, por não ocorrer a conversão da cartilagem, esse crescimento ocorre em duas etapas: por aposição e por remodelação superficial.

Figura 03- Aposição óssea
Fonte: Crescimento da Mandíbula e Maxila | VIAGEM PELA ORTODONTIA

Através das modificações e transposições ósseas por meio de movimentos para cima e para a trás, como se fossem pequenos caixotes de partículas ósseas, assim ocorrendo a iniciação do desenvolvimento do crânio facial originando os processos maxilares surgindo o palato primário.

Figura 04- Remodelação óssea
fonte: Essentials of facial growth, 2008.

A partir da sétima e oitava semana, essa evolução das estruturas anatômicas ocorrerá o fechamento total do processo zigomático, propriamente na sutura palatina transversa, surgindo o palato secundário. Quando essas estruturas não fusionam (quer dizer que ocorreu uma falha na comunicação do sistema neurofuncional implicando no aparecimento da fissura lábio palatal).

As células responsáveis por essa evolução são chamadas de odontoblastos que por sua vez, são responsáveis pela remodelação celular óssea, porém o sistema de neurotransmissores deve estar suprido de energia como os aminoácidos e tantos outros componentes fortalecendo as pequenas células das estruturas, assim diminuindo as chances do aparecimento da fissura.

De acordo com Victor Spina 1972, faz-se referência ao forame nasopalatino ou incisivo, localizado na direção da linha média no palato duro, que na evolução embriológica ocorre no palato primário, apresentando pouca estrutura óssea e uma forma triangular. A incorreta fusão dessa união entre as estruturas da maxila desenvolve as fissuras. Entretanto, observou – se que o forame torna- se um guia, auxiliando o profissional na identificação da fissura, e assim elaborando o melhor plano cirúrgico para o paciente com FLP.

Na imagem abaixo, podemos observar com exatidão o ponto de referência citado por Spina, como a abertura da fissura, sejam elas unilateral ou bilateral, dessa maneira podemos direcionar o diagnóstico para outros tipos de fissuras.

Figura 05- Ponto de referência (forame nasopalatino).
Fonte Spina et al 1972.

TRATAMENTO

O tratamento de pacientes com deformidades faciais como as fissuras lábio palatinas, exigem um diagnóstico pertinente quanto a descoberta precoce. Essa investigação para a classificação da fenda, torna compreensivo o percurso e direciona o profissional a um plano de tratamento individualizado, proporcionando ao paciente um desenvolvimento mais adequado.

O tratamento consiste no diagnóstico, elaboração de prontuário, fotografias iniciais, orientação e cuidados básicos, como adequação bucal, equilíbrio nutricional e condicionamento social, não só do próprio paciente, mas da família como um todo.

IDADE PRÉ CIRÚRGICA:

Em geral, existe um preparo cirúrgico preconizando o condicionamento do paciente para que ele seja submetido a tal procedimento invasivo, que é a cirurgia. Isso envolve o período entre 2 a 4 meses de vida para que a criança seja inserida a técnica cirúrgica.

Na fase de preparo da pré – cirurgia, é necessário que a criança alcance peso ideal através da alimentação natural (amamentação). Sabemos que a fenda é um dos motivos pelo qual dificulta o ganho de massa corpórea do paciente, devido à dificuldade de alimentar-se. O que justifica, muitas vezes, o tratamento cirúrgico não ser realizado no período ideal, sendo postergado a períodos maiores.

Tabela 1- Sequência do tratamento em pacientes fissurados, abaixo descrita por Rocha (2015)

Fonte: Tabela extraída do artigo Orto Science.

Ao avaliar a tabela descrita acima, é notório observar que a relação interdisciplinar dos profissionais de odontologia ocorra a longo prazo, visto que as técnicas aplicadas intervêm de acordo com o crescimento e evolução após a realização da cirurgia.

Como afirma Melo (2007): “O tratamento odontológico do fissurado envolve várias especialidades, iniciando com a ortopedia funcional dos maxilares, odontopediatria, ortodontia, prótese, cirurgia buco- maxilo-facial e implantodontia”. Pode- se dizer que o tratamento inicial necessita de uma equipe de profissionais da odontologia, que possam alinhar e intervir em futuros prognósticos na qualidade de vida do paciente.

PROTOCOLO PRÉ- CIRÚRGICO

Tabela 03- Protocolo Pré- Cirúrgico

Fonte- elaborada pela autora.

TÉCNICAS CIRÚRGICA PRIMÁRIAS.

Queiloplastia

A técnica de reparação labial é conhecida como queiloplastia, é um procedimento cirúrgico que consiste na reconstituição do lábio devolvendo as funcionalidades e estética da face. Esteticamente, a cicatriz no lábio torna- se minimamente visível, ou quase imperceptível quando o cirurgião plástico realiza

técnicas de suturas que favoreçam a perfeita junção do tecido, minimizando as discrepâncias na assimetria e devolvendo o equilíbrio no desenho dos lábios. É claro que a cicatriz pode ter um efeito reverso, pois dependendo da forma que a técnica cirúrgica foi realizada, implicará em falhas na primeira tentativa, ocorrendo a necessidade de realizar novamente um reparo. Torna-se pertinente que a cicatrização depende do tipo de tecido, etnia do paciente, quantidade de estrutura remanescente, habilidade e experiência do cirurgião plástico. Em casos de reparos, poderá ocorrer a fibrose tecidual ou queloide limitando a aparência original do lábio.

Figura 05- Reabilitação por Queiloplastia
Fonte: slideshare.net (2024)

Técnica adotada e modificada por Victor Spina, certamente, a técnica em Z modificada descrita por Spina 1959, enfatiza uma reconstrução do tecido labial apresentando melhores condições no reposicionamento do tecido. E antes, a técnica era preconizada somente em tecido superficial como a pele, devida sua cicatrização ser bem positiva, a técnica passou a ser adotada em camadas mais profundas dos tecidos.

Figura 06- Técnica em Z
Fonte: https://doi.org/10.5935/2177-1235.2021RBCP0029

Em 1955, a técnica cirúrgica descrita por D Ralp Millard (cirurgião plástico renomado que apresentou o primeiro caso em um Congresso de cirurgia plástica), passou a ser utilizada em 85% do mundo, influenciando na reparação da fissura lábio palatina. Nos dias de hoje essa técnica é utilizada e modificada de acordo com o diagnóstico de cada fissura labial.

MILLARD (1955) foi o primeiro cirurgião que apresentou a técnica de retalhos de avanço de rotação, ele acredita que a rotação em linha curva atua na simetria das estruturas da fibra, como altura, largura e forma. Principalmente, na conservação do arco do cupido pois é uma referência quando se fala em estética de lábios.

Figura 07- Técnica de Millard
Fonte: DOI:10.5935/2177-1235.2018RBCP0012

Palatoplastia

A palatoplastia é um procedimento comumente realizado ainda nos primeiros meses de vida do paciente com fissura palatina, seu objetivo principal é devolver hábitos fisiológicos que foram comprometidos pela fenda no céu da boca (fenda palatina), e com ela, ocorrendo inúmeras complicações ao bebê.

Os maiores problemas enfrentados pela fenda palatal envolvem a dificuldade no processo da respiração, ocorrendo o escape de ar nasal, insuficiência velo faríngea, distorção no desenvolvimento dos arcos dentários e respiração bucal. A anomalia de palato implica diretamente no desenvolvimento crânio facial, assim como a audição, fala, complicações dentárias (como dentes ausentes, ósseo impactados e apinhamentos) e o convívio social.

Conforme Freitas (2001), há cinco tipos de fissuras isoladas de palato, sendo divididas na seguinte classificação: submucosa, úvula, completa, palato mole e palato duro parcial, as duas últimas ocorrem com mais frequência quando se trata de fissura isolada de palato.

Os protocolos cirúrgicos e a técnica ideal são constantementes discutidos na literatura. Mas no decorrer dos anos, elas tornaram-se favoráveis em amplo aspecto aos pacientes com fissura de palato.

Figura 08- Demonstração da palatoplastia
Fonte: Fonte: slideshare.net (2024)

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

A equipe multidisciplinar está inserida em cada caso, e atua de forma conjunta desempenhando o atendimento de qualidade. Dentre os profissionais que formam essa rede de apoio estão incluídos, médicos de várias especialidades (otorrinolaringologista, pediatras, cirurgião geral, cardiologista, anestesiologista e outros), assim como, dentistas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, e assistente social. A equipe deve ser capacitada e experiente para desenvolver um atendimento holístico. Cada profissional atua dentro de suas habilidades e competências desempenhando uma atenção continuada.

RESULTADOS

DADOS OBSERVACIONAIS.

Conforme dados disponíveis no site DataSUS, no Ministério da Saúde, possuindo como referência um intervalo de tempo de 05 anos. O sistema mostra o quantitativo de indivíduos nascidos vivos entre o período de 2017 a 2021, como a presença de anomalias e defeitos congênitos presentes no estado do Pará.

A amostra não possui distinção de sexo e nem de idade, somente a identificação por CID 10. Aos quais foram citados abaixo, demonstrando suas respectivas categorias:

Tabela 01- Anomalias e defeitos congênitos presentes no estado do Pará

Fonte: elaborada pela autora

Na observação dos dados disponíveis obteve-se as seguintes informações, de que as anomalias e defeitos congênitos em nascidos vivos no estado do Pará, a média

foi de 77,6 % casos, sendo que para cada ano há um quantitativo de casos no geral, mas que não possuem um crescimento análogo uniforme. Em outras palavras, o número de casos apresentados não segue um padrão crescente ou decrescente. Conforme podemos ver na tabela abaixo:

Tabela 02: Total de casos em nascidos vivos no Pará
Fonte: Elaborado pela autora.

De acordo com a tabela acima, é verificado que no período temporal de 05 anos, nos quais englobam de 2017 a 2021, o volume total de casos foi de 388, referentes a um total de 16 tipos de CID que envolvem a fissura lábio palatino e/ou fenda palatina.

A tabela abaixo mostra a quantidade exata de números de caso por CID e respectivamente por ano.

Tabela 03- dados totais das amostras do DataSUS.
Fonte: tabela elaborado pela autora.

Conforme o quadro acima, foi averiguado a relação de casos de fendas palatinas que no período de cinco anos, que foram notificadas como fissuras de menor e maior prevalência. O CID: Q353 Fenda de palato mole apresentou- se zerado, já o CID: Q357 Fenda da úvula, apresentou 01 caso de nascido vivo correspondente a anomalia. E com maior incidência o CID: Q359 Fenda palatina não especificada totalizando 142 casos em nascidos vivos. No entanto, o que se pode analisar é que dos 142 casos relatados, os agravos para essa condição podem estar relacionados a fatores externos, como valores nutricionais, medicamentos e uso de substâncias ilícitas e fatores genéticos (incompatibilidade sanguínea, alteração dos genes, hereditariedade).

Tabela 04- Incidências </> de amostras coletadas
Fonte:Tabela elaborada pela autora.

CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS POR GRUPO.

De acordo com Spina et al 1972, as fendas labiopalatinas foram divididas e classificadas em grupos para que o diagnóstico ocorresse de forma clara e sucinta.

Tabela 05- divisão da classificação por grupo
Fonte: elaborada pela autora

Conforme os resultados obtidos na pesquisa epidemiológica, foram identificadas as seguintes classificações:

G3- Fissuras pós- forame incisivo, abrange a região anatômica dos tecidos do palato mole e duro, que por sua vez integram o mesmo subgrupo, e para que não ocorra uma imperícia na identificação da fenda se faz necessário um diagnóstico cauteloso sobre os aspectos que correspondem a classificação da anomalia que está envolvida. Portanto o exame deve ser realizado separadamente, a fim de identificar a relação do tecido submucoso.

O CID Q353 e Q357 tem como característica ocorrer na mesma interação tecidual, a diferença está na sua posição e localização. O CID Q353 abrange a região de palato duro, enquanto a Q357 envolve a extensão do palato mole como é o caso da úvula, ambas fazem parte do tecido submucoso.

Segundo Spina et al 1972, o CID 10 Q:359 fendas palatinas não específicas correspondem a indiferentes fatores teratogênicos que implicam no seu surgimento, e que não se sabe ao certo como distinguir a sua principal causa. Ela pode ser descrita isoladamente ou associadas a outras anomalias da face. Sendo assim, podemos agrupar o CID Q359 no G1 fissura pré- forame incisivo, pois envolve estruturas delicadas como a região de lábio, palato e face. Mas, a avaliação deve ocorrer de forma criteriosa afim de identificar a sua verdadeira classificação.

Na imagem abaixo observaremos que o Q359 envolve delicadas estruturas anatômicas.

Figura 09. ilustração referente as fissuras em tecido submucoso
Fonte: Fenda palatina – causas e tratamento

DISCURSÃO

De fato, a pesquisa epidemiológica é extremamente fundamental para a compreensão e planejamento em Saúde, principalmente sobre as problemáticas que envolvem a população em um espaço de tempo.

A plataforma DataSUS permitiu de forma esclarecedora a relação dos dados encontrados facilitando com que a pesquisa nos direcionasse para a elaboração das tabelas descritivas e assim pudéssemos alinhar a conduta a ser seguida.

Conforme o entendimento do DataSUS a coleta de dados foi organizada em forma de tabela para que facilitasse a compreensão do material ano a ano sobre as anomalias congênitas fissuras labiopalatinas craniofaciais, descrevendo as suas classificações e grupos específicos, possibilitando a relação de fatores teratogênicos que contribuem para o surgimento das fissuras envolvendo as estruturas anatômicas delicadas da face, e através da pesquisa alcançar os resultados positivos sobre as maiores e menores incidências ocorridas no Estado do Pará.

De maneira sucinta, existe uma constante indagação na busca por informações que retratem o real motivo para o surgimento das fissuras labiopalatinas, e apesar das observações nos dados coletados serem positivas quanto a quantidade de casos, existe a preocupação quanto a gênero, idade e classe social que não foram contabilizados durante esse período. É notório que a ausência das informações encontradas na literatura dificulte o andamento e na evolução para identificar a principal causa do aparecimento das anomalias, e que de alguma forma ainda se encontra em escassez implicando no direcionamento de futuras pesquisas.

Dessa maneira, a pesquisa torna – se relevante e poderá redirecionar outros pesquisadores em extrair os dados já coletados em cinco anos, pois apresenta uma estrutura elaborada e de fácil compreensão através de demonstrativos como as tabelas descritivas.

Acreditasse que esta pesquisa contribua de maneira simplificada através das principais anomalias congênitas encontradas entre os anos de 2017 e 2021 evidenciando para que as ações de políticas públicas sejam organizadas e direcionadas seguindo as necessidades de uma população específica, mais precisamente na descrição de uma situação epidemiológica como esta. Embora, a saúde como um todo necessita de cuidados, os fortalecimentos de ações voltadas na atenção direcionada como pré-natal odontológico, acompanhamento multidisciplinar e todo o suporte de saúde que as famílias necessitam possam conduzir para uma saúde de qualidade e um tratamento público supervisionado e continuado.

Apesar de haver centros de apoio que fazem esse acompanhamento, a rede pública é outro fator que deve ser levado em consideração, pois existem situações como recursos e estruturas assistenciais que precisam ser examinadas com mais atenção.

De fato, a pesquisa epidemiológica descrita implicou apenas em concentrar nos números de indivíduos nesse período, limitando na identificação por gênero, etnia e classe social. Então, a busca por mais dados como esse poderá ajudar na acessibilidade para novas investigações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo geral mostrar os tipos de anomalias congênitas FLP que prevaleceram nos anos de 2017 a 2021 no Estado do Pará. Com base nos resultados encontrados no desenvolvimento da pesquisa, pode-se dizer que o objetivo proposto foi alcançado.

Em segundo momento, através dos dados coletados na plataforma DataSUS foi observado as informações mais relevantes quanto aos índices da pesquisa, atribuindo um desfecho positivo por meio das maiores e menores prevalências correlatas dentre os cinco anos citados.

  • Tempo
  • Classificação por CID;
  • Identificação;
  • Grupo
  • Quantidade;
  • Prevalência;
  • Tratamento.

A pesquisa mostrou- se satisfatória, pois realizar uma busca significativa como esta, sobre as fissuras labiopalatinas revela o quanto é válido e necessário a participação e inclusão dos fissurados dentro da rede de apoio, facilitando a revelação na busca dos dados epidemiológicos concisos, assim, conseguir elucidar as amostras sobre as FLP contribuindo imensamente para as futuras pesquisas.

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