A IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO NA TERAPIA COMPLEMENTAR AO TRATAMENTO DE PACIENTES ONCOLÓGICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503151412


Elaine Monteiro Costa¹,
Enderson Cleyton Santos Costa²


RESUMO

INTRODUÇÃO: O câncer representa uma das principais causas de morte no mundo e constitui um grande desafio para os sistemas de saúde, impactando diretamente a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento oncológico convencional, como a quimioterapia e a radioterapia, pode ocasionar efeitos adversos severos, incluindo a desnutrição, que é comum entre os pacientes oncológicos e pode reduzir a eficácia dos tratamentos. METODOLOGIA: Este estudo foi conduzido por meio de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), com o objetivo de sintetizar as evidências sobre o papel da nutrição como terapia complementar no tratamento de pacientes oncológicos. RESULTADOS: Foram selecionados quatro estudos que abordaram diferentes aspectos da nutrição no tratamento oncológico. Os resultados mostraram que a intervenção nutricional adequada melhora a resposta ao tratamento, prolonga a sobrevida e contribui para uma melhor qualidade de vida. As categorias principais identificadas foram: benefícios da terapia nutricional no tratamento oncológico, terapia nutricional com vitaminas antioxidantes e terapia nutricional em cuidados paliativos. Os estudos indicaram que a nutrição adequada tem um impacto significativo na tolerância ao tratamento e na recuperação do paciente, além de auxiliar na prevenção da perda de peso excessiva e na modulação do sistema imunológico. DISCUSSÃO: Os achados da revisão indicam que a nutrição desempenha um papel estratégico no tratamento oncológico, não apenas corrigindo deficiências nutricionais, mas também otimizando a resposta ao tratamento e melhorando a qualidade de vida. As evidências reforçam que a nutrição enteral e parenteral é eficaz em pacientes com dificuldades alimentares severas, enquanto dietas com antioxidantes e compostos bioativos podem contribuir para a modulação do estresse oxidativo e da inflamação, fatores críticos no câncer. A integração da nutrição com outras terapias complementares, incluindo o suporte psicológico, é essencial para um cuidado holístico. No contexto de cuidados paliativos, a nutrição desempenha um papel crucial na manutenção do bem-estar e no alívio de sintomas associados ao tratamento. CONCLUSÃO: A revisão integrativa confirma a importância da nutrição como uma terapia complementar essencial no tratamento de pacientes oncológicos, melhorando a resposta ao tratamento, prolongando a sobrevida e promovendo o bem-estar geral dos pacientes. A intervenção nutricional adequada não apenas ajuda a reduzir efeitos adversos, como fadiga e desnutrição, mas também contribui para a modulação do sistema imunológico e controle da inflamação. A implementação de estratégias nutricionais personalizadas, em conjunto com terapias convencionais, é fundamental para otimizar os resultados do tratamento oncológico, reforçando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar no cuidado integral dos pacientes com câncer.

Palavras-Chave: Nutrição; Câncer; Tratamento Oncológico.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Cancer is one of the leading causes of death worldwide and poses a significant challenge to healthcare systems, directly impacting patients’ quality of life. Conventional cancer treatments, such as chemotherapy and radiotherapy, can cause severe adverse effects, including malnutrition, which is common among cancer patients and may reduce treatment effectiveness. METHODOLOGY: This study was conducted through an Integrative Literature Review (ILR), aiming to synthesize the evidence regarding the role of nutrition as a complementary therapy in the treatment of cancer patients. RESULTS: Four studies were selected, addressing different aspects of nutrition in oncological treatment. The results showed that adequate nutritional intervention improves treatment response, prolongs survival, and contributes to better quality of life. Key categories identified included the benefits of nutritional therapy in cancer treatment, nutritional therapy with antioxidant vitamins, and nutritional therapy in palliative care. Studies indicated that proper nutrition has a significant impact on treatment tolerance, patient recovery, prevention of excessive weight loss, and immune system modulation. DISCUSSION: The findings suggest that nutrition plays a strategic role in cancer treatment, not only correcting nutritional deficiencies but also optimizing treatment response and improving quality of life. The evidence reinforces that enteral and parenteral nutrition is effective in patients with severe feeding difficulties, while diets rich in antioxidants and bioactive compounds may help modulate oxidative stress and inflammation, critical factors in cancer. The integration of nutrition with other complementary therapies, including psychological support, is essential for holistic care. In palliative care, nutrition plays a crucial role in maintaining well-being and alleviating symptoms associated with treatment. CONCLUSION: The integrative review confirms the importance of nutrition as a crucial complementary therapy in cancer treatment, enhancing treatment response, prolonging survival, and promoting patients’ overall well-being. Proper nutritional intervention helps reduce adverse effects such as fatigue and malnutrition while contributing to immune system modulation and inflammation control. The implementation of personalized nutritional strategies, alongside conventional therapies, is key to optimizing oncological treatment outcomes, reinforcing the need for a multidisciplinary approach in the comprehensive care of cancer patients.

Keywords: Nutrition, Cancer, Oncological Treatment.

INTRODUÇÃO

O câncer é uma das principais causas de mortalidade no mundo, representando um grande desafio para os sistemas de saúde e para a qualidade de vida dos pacientes acometidos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que em 2020 tenham ocorrido cerca de 19,3 milhões de novos casos de câncer e aproximadamente 10 milhões de óbitos em decorrência da doença (Donaldson, 2004). O tratamento oncológico convencional inclui procedimentos cirúrgicos, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapias-alvo, que, apesar de eficazes, frequentemente estão associados a efeitos colaterais severos, como fadiga, imunossupressão, perda de peso e caquexia. Nesse contexto, a nutrição tem sido amplamente estudada como uma estratégia complementar fundamental para melhorar a resposta ao tratamento e minimizar complicações decorrentes da progressão da doença.

A desnutrição é uma condição comum entre pacientes oncológicos, com prevalência variando entre 40% e 80%, dependendo do tipo e estágio do câncer, bem como da intensidade do tratamento empregado associada ao câncer é uma síndrome multifatorial caracterizada por perda de peso involuntária, sarcopenia, inflamação sistêmica e disfunções metabólicas, fatores que impactam negativamente a qualidade de vida e o prognóstico dos pacientes (Bozzetti, 2013). Além disso, estudos indicam que a desnutrição pode reduzir a tolerância aos tratamentos oncológicos, aumentar o risco de complicações infecciosas e prolongar o tempo de internação hospitalar, resultando em uma pior resposta terapêutica e maior taxa de mortalidade (Fruchtenicht et al., 2015).

Diante desse cenário, estratégias nutricionais adequadas podem desempenhar um papel crucial na preservação da massa muscular, na modulação do sistema imunológico e na melhoria do estado inflamatório dos pacientes. Segundo uma revisão sistemática conduzida por Borges et al. (2010), intervenções nutricionais personalizadas, incluindo suporte nutricional enteral e parenteral, são essenciais para prevenir a perda de peso excessiva e otimizar a resposta ao tratamento. Além disso, dietas ricas em antioxidantes e compostos bioativos, como polifenóis, flavonoides e ácidos graxos ômega-3, têm demonstrado efeitos positivos na redução do estresse oxidativo e na modulação da resposta inflamatória, contribuindo para o bem-estar dos pacientes (Arends et al., 2017).

Outro aspecto relevante da nutrição na oncologia está relacionado à microbiota intestinal e sua influência no tratamento do câncer. Estudos recentes apontam que a composição da microbiota pode afetar a eficácia da quimioterapia e da imunoterapia, uma vez que bactérias intestinais desempenham um papel importante na modulação do sistema imunológico e na metabolização de compostos bioativos presentes na dieta (D’Almeida et al., 2020). Dessa forma, a adoção de uma alimentação equilibrada, associada ao consumo de probióticos e prebióticos, pode favorecer um ambiente intestinal mais saudável e potencializar os efeitos terapêuticos no paciente oncológico (Sung et al., 2021).

Além dos benefícios fisiológicos, a nutrição adequada também exerce um impacto significativo no bem-estar psicológico e social dos pacientes com câncer. A perda de apetite, as alterações no paladar e os desconfortos gastrointestinais são efeitos colaterais comuns durante o tratamento, podendo levar a quadros de ansiedade, depressão e isolamento social (Sung et al., 2021). Nesse sentido, a abordagem nutricional deve ser conduzida de forma individualizada e multidisciplinar, integrando profissionais da oncologia, nutrição, psicologia e assistência social para garantir um suporte humanizado e eficaz.

Diante do exposto, este estudo tem como objetivo investigar a importância da nutrição na terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos, analisando suas contribuições para a evolução clínica dos indivíduos, suas interações com as terapias convencionais e as evidências científicas que embasam essa abordagem. A pesquisa busca reforçar a necessidade de um olhar multidisciplinar sobre o câncer, no qual a nutrição desempenha um papel estratégico para otimizar os resultados terapêuticos, minimizar efeitos adversos e proporcionar uma melhor qualidade de vida. Assim, espera-se contribuir para a disseminação de conhecimento sobre práticas baseadas em ciência e direcionadas ao cuidado integral dos pacientes oncológicos.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), uma metodologia que permite a síntese crítica e abrangente de conhecimentos provenientes de estudos já publicados, com o objetivo de fornecer uma visão aprofundada sobre a importância da nutrição como terapia complementar no tratamento de pacientes oncológicos (Mendes; Silveira; Galvão, 2008). A execução da revisão seguiu as etapas delineadas por Whittemore e Knafl (2005), que são: identificação do problema, definição dos critérios de inclusão e exclusão, busca na literatura, categorização dos estudos, análise e interpretação dos dados e apresentação da síntese do conhecimento.

A questão norteadora da pesquisa foi formulada da seguinte maneira: “Qual a importância da nutrição na terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos?”. A formulação da questão seguiu a estratégia PICO (Population, Intervention, Comparison, Outcome), que possibilita estabelecer critérios claros para a busca e seleção dos artigos (Santos; Pimenta; Nobre, 2007).

Para assegurar a qualidade e relevância dos estudos selecionados, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos científicos publicados nos últimos 5 anos (2019-2024); estudos que abordam a nutrição como terapia complementar no tratamento de pacientes oncológicos; artigos originais, publicados em texto completo, em língua portuguesa ou inglesa; e publicações disponíveis integralmente e gratuitamente. Quanto aos critérios de exclusão, foram considerados: artigos incompletos ou não disponíveis gratuitamente; publicações com mais de 10 anos de publicação; e estudos que não tratavam diretamente da nutrição como terapia complementar ao tratamento oncológico.

A busca bibliográfica foi realizada em fevereiro de 2025, utilizando as bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Google Scholar, e SciELO. Os descritores utilizados foram selecionados a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e combinados com operadores booleanos para otimizar a busca. Os termos selecionados foram: “Nutrição” AND “Tratamento Oncológico” AND “Terapia Complementar” AND “Câncer”, garantindo precisão e abrangência na pesquisa (Souza; Silva; Carvalho, 2010).

Os estudos identificados foram exportados para o software Rayyan QCRI, que auxiliou na triagem inicial e na eliminação de duplicatas. Em seguida, foi realizada a leitura dos títulos e resumos, seguida da leitura integral dos artigos selecionados. A análise dos dados foi organizada em uma matriz de análise contendo os seguintes elementos: autores, ano de publicação, objetivos, metodologia, principais resultados e conclusões (Ursi; Galvão, 2006).

A análise dos dados seguiu a abordagem de análise de conteúdo temática, conforme o método proposto por Bardin (2016). Os artigos foram agrupados em categorias temáticas emergentes da literatura, como os benefícios da nutrição no tratamento oncológico, os tipos de dietas utilizadas, os efeitos da nutrição no controle de efeitos colaterais do tratamento, e a integração da nutrição com outras terapias complementares. Essa abordagem possibilitou a identificação de padrões, limitações e inovações, permitindo uma interpretação crítica das evidências disponíveis sobre a importância da nutrição na terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos.

Os resultados foram organizados de forma descritiva e analítica, apresentando as principais evidências sobre a contribuição da nutrição na terapia complementar de pacientes oncológicos. A discussão foi realizada com base nas evidências científicas disponíveis, considerando as implicações para a prática clínica, os benefícios nutricionais na recuperação e bem-estar do paciente, e as possíveis contribuições para o sucesso do tratamento oncológico.

RESULTADOS

A partir da Revisão Integrativa da Literatura, foram selecionados 4 estudos que atenderam aos critérios de inclusão, fornecendo evidências robustas sobre a importância da nutrição na terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos. Os resultados demonstraram que a intervenção nutricional adequada pode impactar positivamente a resposta ao tratamento, a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes. Os achados foram organizados em três categorias principais: (1) benefícios da Terapia Nutricional no Tratamento Oncológico, (2) terapia Nutricional com Vitaminas Antioxidantes, e (3) terapia Nutricional em Cuidados Paliativos.

Os estudos foram agrupado e estão destacados no Quadro 1, abaixo:

Quadro 1: Artigos selecionados como amostra final para a Revisão Integrativa da Literatura (RIL)

AUTORESANOOBJETIVOMETODOLOGIAPRINCIPAIS RESULTADOS
Scorojanu, I. A.2025Avaliar o impacto da intervenção nutricional na sobrevida e qualidade de vida de pacientes oncológicos.Revisão bibliográficaPacientes que recebem atenção nutricional adequada melhoram sua sobrevida em 30%, além de apresentarem melhor tolerância e resposta aos tratamentos oncológicos.
Costa et al.2021Avaliar os benefícios da terapia nutricional enteral em pacientes oncológicos.Estudo descritivoA terapia nutricional enteral adequada está associada à melhoria do estado nutricional e qualidade de vida de pacientes oncológicos.
Silva Júnior, M. F.2023Abordar o uso da nutrição enteral, parenteral e a hidratação nos cuidados paliativos de pacientes oncológicosRevisão integrativaA terapia nutricional adequada melhora a qualidade de vida e pode prolongar a sobrevida de pacientes em cuidados paliativos.
Barbosa Silva, M. P.2020Avaliar a importância da terapia nutricional em pacientes oncológicos em cuidados paliativos.Revisão integrativaA terapia nutricional ajuda a reduzir os sintomas relacionados ao tratamento, bem como na perda de peso, prolongando a sobrevida e melhorando a qualidade de vida do paciente.

Fonte: Autoria própria (2025).

DISCUSSÃO

A revisão integrativa realizada indicou de forma clara o papel crucial da nutrição no tratamento oncológico, tanto no contexto da terapêutica ativa quanto nos cuidados paliativos. Os resultados dos estudos revisados enfatizam a importância da terapia nutricional como uma intervenção que vai além da simples correção de deficiências alimentares, sendo um fator chave na melhora da qualidade de vida e na otimização da resposta ao tratamento. Cada um dos estudos revisados aponta para diferentes aspectos dessa intervenção, seja em relação à melhora da sobrevida, à eficácia dos tratamentos ou ao alívio de sintomas. A seguir, discutimos as três categorias principais emergentes dessa revisão: (1) benefícios da Terapia Nutricional no Tratamento Oncológico, (2) terapia Nutricional com Vitaminas Antioxidantes e (3) terapia Nutricional em Cuidados Paliativos.

Benefícios da Terapia Nutricional no Tratamento Oncológico

O estudo de Scorojanu (2025) é um exemplo claro de como a intervenção nutricional impacta positivamente na sobrevida e na qualidade de vida de pacientes oncológicos. A pesquisa revela que pacientes que recebem suporte nutricional adequado têm uma chance 30% maior de sobreviver ao câncer, além de apresentarem melhor tolerância aos tratamentos convencionais como quimioterapia e radioterapia. Esse dado é de grande relevância, pois a nutrição desempenha um papel essencial na preservação da massa muscular e na melhora da função imunológica, que são fatores críticos para a resposta ao tratamento. Pacientes com um estado nutricional adequado têm maior resistência aos efeitos adversos do tratamento, o que pode resultar em ciclos terapêuticos mais bem tolerados e maior eficácia na luta contra o câncer.

Além disso, a terapia nutricional não se limita apenas a sustentar o estado físico do paciente, mas também contribui para a sua disposição mental e emocional. Costa et al. (2021) confirmam que a terapia nutricional enteral, muitas vezes indicada quando o paciente não consegue se alimentar adequadamente por via oral, melhora substancialmente o estado nutricional e, consequentemente, a qualidade de vida. Ao combater a desnutrição e a perda de peso involuntária, dois fatores frequentemente observados em pacientes oncológicos, a nutrição contribui para o aumento da energia e da força, elementos essenciais para que o paciente consiga manter suas atividades diárias e sua autonomia, mesmo enquanto enfrenta os efeitos do câncer e do tratamento.

Estudos adicionais indicam que a nutrição também exerce um papel fundamental na melhoria da função imunológica dos pacientes oncológicos. A quimioterapia e outros tratamentos podem resultar em imunossupressão significativa, o que aumenta o risco de infecções e outras complicações. A ingestão adequada de nutrientes essenciais, como proteínas, vitaminas e minerais, fortalece o sistema imunológico, ajudando a proteger o paciente contra essas complicações. Portanto, a intervenção nutricional no tratamento oncológico não é apenas uma medida paliativa, mas uma estratégia ativa que pode aumentar a eficácia dos tratamentos convencionais e melhorar os resultados a longo prazo.

Além disso, Nutritotal (2023) destaca que a terapia enteral, a escolha da fórmula nutricional é fundamental para atender às necessidades específicas de cada paciente. As dietas poliméricas contêm macronutrientes em sua forma intacta, como proteínas não hidrolisadas, carboidratos complexos e lipídios de cadeia longa e média. Essas fórmulas são indicadas para pacientes com função gastrointestinal preservada, pois requerem capacidade digestiva adequada para a absorção eficiente dos nutrientes. Já as dietas oligoméricas, ou semi-elementares, apresentam nutrientes parcialmente hidrolisados, como proteínas na forma de oligopeptídeos, carboidratos como oligossacarídeos e lipídios na forma de triglicerídeos de cadeia média (TCM). Essas fórmulas facilitam a digestão e são recomendadas para pacientes com comprometimento moderado da função gastrointestinal. Por fim, as dietas monoméricas, também conhecidas como elementares, contêm nutrientes totalmente hidrolisados, com proteínas na forma de aminoácidos livres, carboidratos simples e lipídios de fácil absorção, sendo indicadas para pacientes com severas dificuldades de digestão e absorção

Em pacientes oncológicos, a intervenção nutricional no período perioperatório é crucial para melhorar os desfechos clínicos. No pré-operatório, a suplementação com dietas imunomoduladoras, enriquecidas com nutrientes como arginina, ácidos graxos ômega-3 e nucleotídeos, tem mostrado reduzir complicações pós-operatórias, especialmente infecções. Estudos indicam que a administração dessas dietas por cinco a sete dias antes da cirurgia pode atenuar a resposta inflamatória sistêmica e modular a resposta imunológica, contribuindo para uma recuperação mais rápida. No pós-operatório, a continuidade da terapia nutricional adequada é essencial para manter o estado nutricional, promover a cicatrização e reduzir o risco de complicações. A Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabólica (ESPEN) recomenda que pacientes cirúrgicos com câncer gastrointestinal recebam terapia nutricional, incluindo dietas imunomoduladoras, para melhorar a condição nutricional e os resultados clínicos (Nutritional, 2023).

Por fim, a terapia nutricional também está associada à redução dos efeitos colaterais do tratamento oncológico, como a fadiga e a perda de apetite, condições que afetam negativamente a qualidade de vida dos pacientes. Costa et al. (2021) mostram que pacientes que recebem suporte nutricional adequado têm menos chances de desenvolver essas condições debilitantes, o que impacta diretamente na sua capacidade de se manter ativo e engajado no tratamento. A nutrição entra como um fator essencial não apenas para a recuperação física, mas para a manutenção do equilíbrio emocional do paciente, ajudando a promover um melhor estado geral e a melhorar a sua perspectiva de vida durante o tratamento.

Terapia Nutricional com Vitaminas Antioxidantes

Embora a nutrição antioxidante não tenha sido o foco principal da maioria dos estudos analisados, ela é uma área de crescente interesse e um complemento importante para a terapia nutricional no tratamento oncológico. Vitaminas como C e E possuem potentes propriedades antioxidantes, ajudando a neutralizar os radicais livres que são produzidos durante a quimioterapia e a radioterapia. O estresse oxidativo causado por esses radicais livres é uma das principais causas de danos celulares, o que pode prejudicar a recuperação dos pacientes e aumentar a toxicidade do tratamento. A terapia nutricional que inclui antioxidantes pode, assim, oferecer uma proteção adicional, reduzindo esses danos e promovendo a regeneração celular.

Em algumas pesquisas, o uso de antioxidantes tem mostrado a capacidade de reduzir os efeitos adversos da quimioterapia, como náuseas, vômitos e danos aos tecidos saudáveis. Essas vitaminas têm a capacidade de mitigar os efeitos inflamatórios, que são exacerbados durante o tratamento oncológico, ajudando a diminuir a dor e a melhorar o bem-estar geral do paciente. No entanto, é importante destacar que a suplementação com antioxidantes deve ser cuidadosamente monitorada, pois, em algumas situações, ela pode interferir na eficácia dos tratamentos. O uso excessivo de antioxidantes pode, por exemplo, reduzir os efeitos da quimioterapia ao proteger as células cancerígenas dos danos causados pela terapia.

O uso de antioxidantes no tratamento de câncer também é importante porque contribui para a modulação do sistema imunológico. Durante o tratamento oncológico, o sistema imunológico do paciente é frequentemente comprometido, tornando-o mais vulnerável a infecções. A suplementação com antioxidantes pode, portanto, ajudar a fortalecer as defesas naturais do corpo, auxiliando o paciente na luta contra infecções e complicações. Além disso, a suplementação com antioxidantes tem sido associada à melhora no controle da inflamação sistêmica, um fator que pode melhorar tanto a resposta ao tratamento quanto a qualidade de vida do paciente.

Embora a utilização de antioxidantes seja promissora, é necessário mais estudo sobre a dosagem ideal e a combinação com outras terapias. Alguns estudos apontam que a suplementação indiscriminada pode ser contraproducente. Scorojanu (2025) sugere que os antioxidantes, quando usados de forma personalizada e sob supervisão médica, podem ser benéficos para melhorar a resposta ao tratamento, mas a abordagem deve ser cuidadosamente ajustada para não interferir nas estratégias terapêuticas convencionais. Por essa razão, a terapêutica nutricional antioxidante deve ser parte de um plano integrado e individualizado de tratamento oncológico.

Terapia Nutricional em Cuidados Paliativos

Nos cuidados paliativos, a nutrição adquire uma importância ainda maior, pois seu principal objetivo é garantir que o paciente tenha a melhor qualidade de vida possível, minimizando os sintomas dolorosos e garantindo conforto. Silva Júnior (2023) destaca que a nutrição enteral e parenteral desempenha um papel fundamental nesse processo, fornecendo os nutrientes necessários para o paciente quando a ingestão oral não é viável. Pacientes em estágios avançados de câncer muitas vezes enfrentam dificuldades com a alimentação, seja por obstrução do trato gastrointestinal, perda de apetite severa ou fadiga extrema. A terapia nutricional adequada, nesses casos, oferece uma solução vital para garantir que o paciente receba os nutrientes essenciais, mesmo quando a alimentação oral não é mais possível.

A nutrição nos cuidados paliativos não visa apenas suprir as necessidades nutricionais básicas, mas também aliviar sintomas como a perda de peso involuntária, a desidratação e a malnutrição. Barbosa Silva (2020) sublinha que a intervenção nutricional adequada pode reduzir significativamente esses sintomas, prolongando a sobrevida e melhorando a qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos. A perda de peso é um sintoma comum em pacientes com câncer avançado, e a intervenção nutricional tem mostrado eficácia na prevenção dessa perda, além de auxiliar na manutenção da massa muscular, que é essencial para a mobilidade e independência do paciente.

Outro benefício importante da terapia nutricional em cuidados paliativos é a redução de sintomas emocionais e psicológicos, como a ansiedade e a depressão, que são comuns em pacientes com câncer terminal. A alimentação adequada pode proporcionar uma sensação de bem-estar e controle sobre o corpo, o que é fundamental para a saúde mental do paciente. Além disso, o conforto proporcionado pela nutrição enteral ou parenteral permite que o paciente se concentre mais em sua qualidade de vida e em seus desejos pessoais, em vez de lutar contra a desnutrição e suas consequências.

Silva Júnior (2023) conclui que a nutrição em cuidados paliativos pode também ser um componente de uma abordagem holística, que inclui cuidados médicos, psicológicos e sociais. A nutrição entra como um elemento integrador que contribui para o conforto físico e emocional do paciente, colaborando com os demais cuidados paliativos para garantir que a experiência do paciente seja a mais tranquila possível, respeitando seus desejos e proporcionando dignidade até o fim da vida. Esse enfoque multidisciplinar é fundamental para otimizar a experiência do paciente e melhorar a sua qualidade de vida nos últimos estágios da doença.

CONCLUSÃO

Com base nos estudos analisados, fica evidente que a nutrição desempenha papel essencial na terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos, contribuindo para a redução dos efeitos adversos da doença e dos tratamentos, o fortalecimento do sistema imunológico e a melhoria da qualidade de vida. A implementação de dietas equilibradas, suplementação nutricional quando necessária e o suporte multidisciplinar são estratégias fundamentais para otimizar os resultados terapêuticos.

A nutrição não deve ser considerada apenas um suporte, mas sim um componente estratégico do plano terapêutico oncológico. Diante da crescente evidência sobre o impacto positivo da dieta na resposta ao tratamento, é imprescindível que os profissionais de saúde promovam uma abordagem integrativa, baseada em evidências, garantindo uma melhor qualidade de vida e prognóstico para os pacientes.

Futuras pesquisas devem focar na padronização de protocolos nutricionais e no desenvolvimento de ensaios clínicos robustos para melhor compreender os mecanismos subjacentes e potencializar os benefícios da nutrição no tratamento do câncer. A ampliação de estudos sobre a interação entre microbiota intestinal e tratamento oncológico também se faz necessária para avançar nas estratégias terapêuticas.

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1Nutricionista graduada pelo Centro Universitário da Amazônia (UNIESAMAZ). Especialista em Obesidade e Sobrepeso pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

2Médico. Formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Medicina Tropical pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutorando em Biologia Parasitária na Amazônia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).