REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8008333
Breno Santos Oliveira;
Vagner de Santana Jesus;
Flávio Simas Moreira Neri.
RESUMO
A compreensão da investigação de resistência bacteriana na padronização de antimicrobianos em um hospital é essencial para garantir que os medicamentos essenciais ao tratamento dos pacientes sejam eficazes e atendam às necessidades da unidade assistencial. Neste contexto, este artigo tem como objetivo discorrer sobre a importância da investigação de resistência bacteriana na padronização de antimicrobianos em âmbito hospitalar, uma vez que o aparecimento de cepas bacterianas resistentes. A metodologia utilizada neste trabalho consiste em uma revisão de literatura do tipo narrativa, a partir de análises qualitativa e exploratória, fazendo-se buscas em bases de dados como, LILACS, Scopus, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scielo e PubMed. É possível concluir-se que a realização da investigação de resistência bacteriana torna-se fundamental para garantir que os medicamentos antimicrobianos padronizados sejam capazes de atender às farmacoterapias propostas pela equipe médica e, consequentemente, apresentarem eficácia.
Palavras-chave: Hospital; Investigação epidemiológica; Padronização de Medicamentos; Resistência bacteriana.
ABSTRACT
Understanding the investigation of bacterial resistance in the standardization of antimicrobials in a hospital is essential to ensure that essential drugs for the treatment of patients are effective and meet the needs of the care unit. In this context, this article aims to discuss the importance of investigating bacterial resistance in the standardization of antimicrobials in hospitals, since the emergence of resistant bacterial strains. The methodology used in this work consists of a literature review of the narrative type, based on qualitative and exploratory analyses, searching databases such as LILACS, Scopus, Virtual Health Library (BVS), Scielo and PubMed. It is possible to conclude that conducting the investigation of bacterial resistance becomes essential to ensure that standardized antimicrobial drugs are able to meet the pharmacotherapies proposed by the medical team and, consequently, are effective.
Keywords: Hospital; Epidemiological investigation; Standardization of Medicines; Bacterial resistance.
INTRODUÇÃO
Os Hospitais consistem em instituições de saúde essenciais aos dias atuais, em virtude da capacidade de prestação de serviços em diferentes níveis de complexidade, a partir da disposição de uma equipe multiprofissional, juntamente com recursos materiais e tecnológicos que podem encerrar em sua estrutura, solucionando problemas que em outros níveis de atenção à saúde seriam inviáveis (BRASIL, 2013).
Entre as patologias que se destacam na assistência prestada pelas unidades hospitalares, pode-se citar as infecções bacterianas, seja aquelas adquiridas na comunidade, seja aquelas adquiridas em ambiente hospitalar. Independente da origem da infecção, a preocupação e o estudo sobre estas patologias ocorrem há décadas (KOLLEF, 2000; PEYRANI et al., 2019). O impacto social, econômico e sanitário destas patologias pode ser corroborado pelo número de mortes estimados em 4,95 milhões de mortes em 2019 (DOLECEK et al., 2022).
Um dos fatores que tem ocasionado o aumento no número de mortes por infecções bacterianas é a capacidade destas de desenvolverem resistência frente aos fármacos disponíveis ao seu combate (WILSON, 2014). Segundo McCollum et al. (2022), até 2050, há previsão de 10 milhões de mortes por ano em todo o mundo, ocasionadas por infecções bacterianas resistentes. Por isso, a resistência bacteriana tem se tornado um problema de saúde pública a nível mundial, uma vez que o desenvolvimento de tratamentos farmacológicos não tem acompanhado o avanço das bactérias em seus mecanismos de defesa (DOLECEK et al., 2022).
A utilização de antimicrobianos nas unidades hospitalares ocorre de forma habitual e intensa, seja em situações que envolvam medidas profiláticas, a fim de que o paciente não seja infectado, seja para a recuperação dos pacientes com quadros infecciosos (WOOD; SWANSON, 2007; SAIED et al., 2015). Neste contexto, a fim de garantir a acessibilidade dos medicamentos para atendimento das necessidades farmacoterapêuticas dos pacientes, os hospitais possuem uma relação de medicamentos essenciais para resolução dos quadros patológicos daquela unidade, constituídos a partir de uma padronização (MEINERS; BERGSTEN-MENDES, 2001; PEREIRA et al., 2012). Estes, por sua vez, comporão o arsenal terapêutico selecionado para atendimento das demandas internas de um hospital, facilitando o processo de obtenção dos mesmos (AMARAL et al., 2020).
No intuito de subsidiar as necessidades assistenciais dos hospitais, bem como não comprometer o orçamento e evitar desperdícios, a compreensão de critérios técnicos, financeiros e epidemiológicos consistirá na efetividade do processo de seleção, uma vez que encerrará informações capazes de direcionar na melhor escolha (SANTANA et al., 2014; SANTANA et al., 2018). Apesar de realizada, normalmente, na abertura de uma unidade hospitalar, a padronização dos antibacterianos deve ser revista e atualizada, em virtude de mudanças no perfil epidemiológico das infecções bacterianas, assim como do aparecimento de bactérias resistentes às opções farmacoterapêuticas disponíveis na unidade (FERREIRA, 2019).
Desta maneira, este trabalho objetiva discorrer acerca da importância da investigação de resistência bacteriana na padronização de antimicrobianos em âmbito hospitalar, uma vez que o aparecimento de cepas bacterianas resistentes tem se intensificado e, medicamentos que outrora eram eficazes, possam ter se tornado ineficazes. Justifica-se a elaboração deste trabalho, uma vez que se torna necessário estabelecer a orientação na padronização de medicamentos a fim de promover o uso racional de medicamentos.
METODOLOGIA
A metodologia adotada nesta pesquisa compreende a revisão de literatura do tipo narrativa, a partir de análises qualitativa e exploratória sobre a importância da investigação de resistência bacteriana na padronização de antimicrobianos em âmbito hospitalar (CORDEIRO et al., 2007). Neste sentido, fez-se buscas sobre artigos científicos que abrangessem em suas abordagens assuntos relacionados à temática proposta. Assim, a partir de bases de dados como, LILACS, Scopus, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scielo e PubMed, pode-se realizar a seleção do artigos baseados nos seguintes termos: resistência bacteriana e padronização de medicamentos antibacterianos.
Foram definidos critérios de inclusão e exclusão para garantir a seleção de estudos relevantes ao objetivo de pesquisa. Os critérios de inclusão foram: estudos que abordem a resistência bacteriana e a padronização de antimicrobianos em ambiente hospitalar; estudos publicados em língua portuguesa, inglesa ou espanhola; estudos publicados em periódicos científicos revisados por pares. Em contrapartida, os critérios de exclusão, por sua vez, foram: estudos que fogem ao escopo da pesquisa; artigos incompletos; estudos não revisados por pares e; pesquisas com metodologia inadequada. Por se tratar de uma revisão narrativa e não haver a participação de seres humanos, foi dispensada a submissão desse trabalho ao CEP.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Investigação de resistência bacteriana em âmbito hospitalar
As infecções hospitalares consistem em contaminação por um agente infeccioso, isto é, bactérias e fungos, principalmente, ou suas respectivas toxinas, que pode se manifestar em até 48 horas após a internação (BRASIL, 1998; SILVA; BARROS; DA SILVA, 2022). O processo de infecção ocorre a partir do contato com superfícies contaminadas por micro-organismos (leitos, maçanetas e equipamentos, por exemplo), como também por contaminação cruzada, entre pacientes (DORON; GORBACH, 2008). Um ponto de destaque é a falta de higienização das mãos, tanto por parte dos profissionais de saúde (os quais podem tocar em pacientes contaminados e infectar outros pacientes), quanto dos pacientes, o que representa um fator crítico na disseminação dessas infecções (MATHUR, 2011).
Existem diversas medidas que podem ser adotadas para promover o controle de infecções hospitalares, que são essenciais para prevenir a disseminação de infecções nos ambientes de assistência à saúde, podendo-se destacar: higienização das mãos, uso de Equipamentos de Proteção Individual, limpeza e desinfecção de superfícies utilizadas para preparo de medicações, isolamento de pacientes em estado crítico e que apresentam infecção bacteriana de difícil controle e, treinamento constante da equipe multidisciplinar (MATHUR, 2011; LI; WEBSTER, 2017; SACCUCCI et al., 2018).
Associada à infecções hospitalares, deve-se destacar a existência de resistência aos antibacterianos, o que consiste em um sério problema, pois algumas infecções hospitalares são causadas por bactérias resistentes a múltiplos medicamentos, tornando o tratamento mais desafiador (LI; WEBSTER, 2017). A crescente resistência aos antimicrobianos representa um desafio global para a saúde pública, exigindo a implementação de medidas abrangentes em níveis local, nacional e internacional. Essa preocupante tendência compromete a eficácia de muitos tratamentos, tanto devido à mutação bacteriana como ao uso inadequado de antibióticos (ARAÚJO et al., 2022). A resistência bacteriana pode levar a consequências graves, já que infecções que anteriormente eram facilmente tratáveis com antibióticos de pequeno espectro, agora podem se tornar mais difíceis de tratar. Isso resulta em um aumento da morbidade, mortalidade e custos de saúde (SILVA, 2008; MELANDER; ZURAWSKI; MELANDER, 2018).
A fim de garantir o controle de possíveis infecções hospitalares, bem como garantir a segurança dos pacientes e da equipe multidisciplinar, nas unidades hospitalares são instaladas Comissões de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH’s), as quais são responsáveis pela implementação dos programas de controle de infecções em ambiente hospitalar, incluindo intervenções na farmacoterapia (DA COSTA et al., 2020). Essas comissões desempenham as principais atividades executivas com o apoio de setores-chave, como laboratório de análises clínicas e farmácia, e também estimulam a criação de comitês específicos compostos por profissionais de áreas afins, tais como infectologistas, epidemiologistas, representantes de clínicas médicas e cirúrgicas, microbiologistas e administradores para garantir a segurança na utilização de antimicrobianos, assim como, mitigar o aparecimento de possíveis infecções hospitalares (SILVA, 2008).
Padronização de medicamentos no âmbito hospitalar
A Assistência Farmacêutica (AF) compreende um conjunto de ações essenciais para garantir a promoção, prevenção e recuperação da saúde das pessoas, sendo o medicamento o instrumento chave no processo (BRASIL, 2004). Deve-se destacar que, entre as ações pertinentes à AF na rotina hospitalar, o ciclo da Assistência Farmacêutica, isto é, seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação, são preponderantes para o funcionamento assistencial prestado, pois garantirá a acessibilidade dos medicamentos aos pacientes, desde a escolha até a administração no paciente (SILVA, 2022).
Entre as etapas pertencentes ao ciclo, o ponto de partida é a seleção, a qual consiste na escolha adequada dos medicamentos que pertencerão ao elenco principal do hospital, ou seja, serão padronizados para garantir que a equipe de profissionais prescritores tenha definida a relação do arsenal farmacoterapêutico que poderá usar na rotina e, consequentemente, estabelecer protocolos clínicos no atendimento de diferentes patologias (MAGARINOS-TORRES et al., 2011). Estabelecer a seleção, assim como a padronização, a equipe multidisciplinar deve, na Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) e na Comissão de Padronização, sendo que está pode estar inserida na CFT, basear-se em critérios técnicos, econômicos e epidemiológicos (MARTINS et al., 2012). Em se tratando dos antimicrobianos, a participação da CCIH é fundamental no processo de padronização, pois compreenderão o perfil epidemiológico do hospital (BRASIL, 1998).
Neste contexto, os critérios técnicos e epidemiológicos destacam-se na escolha dos antimicrobianos, uma vez que as bactérias apresentam diferenças na sensibilidade aos antibacterianos e pela variedade destes fármacos, subdivididos em classes, que apresentam mecanismos de ação diferentes (FIGUEIREDO; SCHRAMM; PEPE, 2014; SILVA, 2020). Ao se tratar de critérios técnicos, entende-se pelas características dos medicamentos, já quando se refere aos critérios epidemiológicos, percebe-se a caracterização de dados populacionais, assim como as principais patologias e, em se tratando dos antibacterianos, os principais e possíveis casos de infecção (YAMAUTI et al., 2017).
A padronização de antibacterianos e a necessidade de liberação prévia para dispensação tem o potencial de gerar reduções imediatas e significativas no uso e custo de antimicrobianos e podem ser benéficas como parte de uma resposta sistêmica aos casos de infecção hospitalar (SILVA, 2020). No entanto, a utilidade da autorização prévia como forma de controlar a resistência microbiana é menos clara, uma vez que existem poucos estudos longitudinais de longo prazo disponíveis. Além disso, em certas circunstâncias, a substituição de um medicamento por outro pode reduzir a resistência à primeira, mas aumentar em relação à segunda (SILVA, 2008).
Importância da investigação de resistência bacteriana na padronização de antibacterianos em âmbito hospitalar
O entendimento do perfil bacteriano de um Hospital, assim como avaliar os principais casos de infecções tratados na unidade são pontos importantes para manter a relação de medicamentos antibacterianos atualizada e garantir a eficácia nas farmacoterapias e também o uso racional de medicamentos, visto que bactérias resistentes promovem o aumento no número na morbimortalidade dos pacientes (STRUELENS, 1998; ABRAMOVICIUS et al., 2012).
A realização da investigação de resistência bacteriana no âmbito hospitalar é uma atividade estratégica e desenvolvida pela equipe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, a qual tem como uma de suas competências avaliar e realizar atividades relacionadas à investigação epidemiológica, o que inclui casos associados à bactérias (BRASIL, 1998; KADOSAKI; DE SOUSA; BORGES, 2012). O avanço de novas cepas bacterianas resistentes e a limitação no desenvolvimento de novo fármacos com ação antibacteriana consistem em fatores alarmantes, mas que necessitam de atenção especial, a fim de garantir medidas que não deixem os hospitais sem arsenal farmacoterapêutico úteis à assistência de saúde nas unidades hospitalares, tornando, assim, a revisão periódica da padronização dos medicamentos, principalmente do antibacterianos, fundamental e indispensável (MENDES; DA SILVA; CAVALCANTI, 2015; DA COSTA et al., 2020; LEITE et al., 2020; MIETHKE et al., 2021).
De acordo com estudos recentes, a padronização de antimicrobianos requer atenção especial devido ao aumento do número de cepas resistentes, o que pode tornar o tratamento ineficaz em certos casos. Neste contexto, cada hospital possui um conjunto de bactérias que colonizam este ambiente, o que perpassa pelas características locais e que necessitam de monitoramento e mapeamento de acordo com as diferentes áreas do hospital, como, por exemplo, centro cirúrgico, enfermarias, unidade de tratamento intensivo e enfermarias (STRUELENS, 1998; PEREIRA et al., 2022). Por isso, a investigação periódica da presença de possíveis bactérias resistentes é essencial, pois os antibacterianos podem ser ineficazes, ocasionando possíveis aumentos de morbimortalidades (MENDES; DA SILVA; CAVALCANTI, 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de infecções em ambientes hospitalares é um fato comum e preocupante nos dias atuais, tendo em vista o desenvolvimento, por parte das bactérias, de processos de resistência aos antibacterianos disponíveis. Os riscos do aumento de morbimortalidades ocasionadas por conta de cepas bacterianas resistentes promove impacto econômico e social, tornando-se essencial o processo de investigação de casos da presença de cepas no âmbito hospitalar. A efetiva participação da equipe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar é essencial para garantir o controle do desenvolvimento de resistências bacterianas hospitalares. Estas informações auxiliam na padronização de medicamentos antibacterianos, pois evita o uso incorreto de medicamentos.
Neste contexto, constata-se que a investigação de resistência bacteriana é importante para garantir a presença de arsenal farmacoterapêutico capaz de atender as necessidades da unidade assistencial. Assim, a revisão periódica da padronização, com a participação de toda a equipe multidisciplinar, estará vinculada aos processos de infecção e possíveis bactérias resistentes. É crucial considerar a microbiota específica de cada hospital e atualizar regularmente a padronização, levando em conta a eficácia terapêutica recomendada, a epidemiologia das infecções com a disponibilidade dos antimicrobianos no mercado. Diante do exposto, é preciso a realização de novas pesquisas para se compreender melhor sobre o impacto da investigação de bactérias resistentes na padronização de antibacterianos.
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Breno Santos Oliveira
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