REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102491315
Laury Frantzcesca Lavilette1
Maricélia M. Cantanhêde dos Santos2
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão sistemática sobre a importância da fitoterapia no período pós-parto entre mulheres haitianas. A pesquisa explora como práticas tradicionais de uso de plantas medicinais desempenham um papel significativo na recuperação pós-parto, influenciadas pela rica herança cultural do Haiti. A fitoterapia, profundamente enraizada nas tradições haitianas, é frequentemente utilizada para promover a saúde e bem-estar das mães após o parto, oferecendo benefícios como a aceleração da cicatrização, alívio de dores e ingurgitamento mamário. O estudo também destaca a importância dessas práticas no contexto social e cultural, onde o uso de remédios fitoterápicos é transmitido de geração em geração. A pesquisa identifica e analisa as principais plantas utilizadas, seus efeitos terapêuticos reconhecidos, e a percepção das mulheres haitianas em relação à eficácia desses tratamentos. Além disso, a revisão aborda os desafios enfrentados pela comunidade haitiana ao integrar esses conhecimentos tradicionais com práticas médicas modernas, sugerindo a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e respeitosa por parte dos profissionais de saúde. A partir deste estudo é possível concluir que a fitoterapia no pós-parto não só oferece benefícios físicos, mas também promove o fortalecimento da identidade cultural entre as mulheres haitianas, sublinhando a importância de integrar essas práticas tradicionais ao sistema de saúde para melhor atender as necessidades dessa população.
Palavras Chaves: Fitoterapia; Puerpério; Cultura Haitiana.
REZIME
Atik sa prezante yon revizyon sistematik de enpòtans medikaman fèy aprè akouchman nan mitan fanm ayisyenn yo. Rechèch sa eksplore koman pratik tradisyonal itilizasyon medikaman fèy yo gen gro enpòtans nan rekuperasyon aprè akouchman, son bagay ki vini de yon richès eritaj kiltirel Ayiti. Medikaman fèy yo gen yon rasin fon nan tradisyon ayisyenn nan, souvan itilize pou amelyore sante ak byennèt manman apre akouchman an, ki pote benefis kom akselere sikatrizasyon, soulaje doulè e ede lèt nan tete a desann. Etid sa montre inpòtans pratik sa yo nan kesyon sosyal e kiltirel, kote itilizasyon remèd fèy sa yo transmèt de jenerasyon an jenerasyon. Rechèch sa idantifye e analize prinsipal fèy yo itilize yo, efè yo pote yo e ak pèsepsyon fanm ayisyenn yo konsènan efikasite tretman sa yo. Anplis de sa, revizyon an abòde defi kominote ayisyenn yo ap rankontre nan mete konesans tradisyonèl sa yo kom pratik medikal modèn, ki sijere nesesite pou yon apwòch plis enklizif e respektye de kote pa pwofesyonèl swen sante yo. A pati de etid sa li posib pou konkli ke medikaman fèy yo apre akouchman an non sèlman ofri benefis fizik, men tou, li ranfòse idantite kiltirèl nan mitan fanm ayisyenn yo, konsa mete aksan sou enpòtans pou enkli pratik tradisyonèl sa yo nan sistèm sante a pou pi byen satisfè bezwen popilasyon sa.
Pawòl kle: Medikaman fèy, fanm aprè akouchman, kilti ayisyenn.
RESUMÉ
Cet article présente une revue systématique sur l’importance de la phytothérapie dans la période post-partum chez les femmes haïtiennes. La recherche explore comment les pratiques traditionnelles d’utilisation des plantes médicinales jouent un rôle important dans le rétablissement post-partum, influencé par le riche patrimoine culturel d’Haïti. La phytothérapie, profondément ancrée dans les traditions haïtiennes, est souvent utilisée pour affermir la santé et le bien-être des mères après l’accouchement, offrant des bienfaits tels qu’une cicatrization accélérée, un soulagement de la douleur et de l’engorgement des seins. L’étude souligne également l’importance de ces pratiques dans le contexte social et culturel, où l’usage des plantes médicinales se transmet de génération en génération. La recherche identifie et analyse les principales plantes utilisées, leurs effets thérapeutiques et la perception des femmes haïtiennes quant à l’efficacité de ces traitements. En outre, l’étude aborde les défis auxquels est confrontée la communauté haïtienne dans l’intégration de ces connaissances traditionnelles aux pratiques médicales modernes, suggérant la nécessité d’une approche plus inclusive et respectueuse de la part des professionnels de la santé. De cette étude il est possible de conclure que la phytothérapie post-partum offre non seulement des bienfaits physiques, mais favorise également le renforcement de l’identité culturelle chez les femmes haïtiennes, soulignant l’importance d’intégrer ces pratiques traditionnelles dans le système de santé pour mieux répondre aux besoins de cette population.
Mot-clé: Phytothérapie, Post-partum, Culture Haitienne.
INTRODUÇÃO
A história das plantas medicinais remonta a de milhares de anos atrás, com evidências de seu uso pelos antigos egípcios, chineses e romanos. Na Grécia, por exemplo, foram compiladas pelo filósofo Hipócrates (460-370 a.C), considerado o “pai da medicina” em sua obra Corpus Hippocraticum, assinalada a mais clara e completa da antiguidade no que se refere a utilização da fitoterapia, contendo cerca de 70 livros, com sugestão de um remédio vegetal para cada doença (SILVEIRA E.R. et. al 2019). Porém, a partir da metade do século XX, a substituição das plantas medicinais por medicamentos sintéticos, consequentes do desenvolvimento da química, ocorreu de forma abrupta. Contudo, nas últimas décadas houve um retorno da popularização do uso delas. Práticas enfatizadas com o aparecimento de multirresistências, de vários tipos de microrganismos e doenças a nível global (GOMES A.R. et. al 2008). Dessa forma, as plantas medicinais correspondem às mais antigas formas de prevenção e promoção a saúde do tratamento de várias doenças, sendo durante séculos a única alternativa ao homem, que dependia totalmente da natureza para a sua sobrevivência e cura.
A pesquisa científica com a fitoterapia começou com o conhecimento botânico após o estudo da sua composição e, em seguida, sua ação farmacológica, sobre sua execução terapêutica e inexistência de toxicidade (PAULO, P. T. C. et al. 2009). Um dos fatores que influenciaram neste crescente interesse, foi ascensão na área científica, que tornou possível a manipulação fitoterápico comprovadamente seguros e eficazes (BRUNING, M.C.R. et. al 2012). O termo fitoterapia foi dado à terapêutica que utiliza os medicamentos derivados de plantas e que se originaram através do conhecimento do uso popular (BRASIL, 2012). O uso de fitoterápicos teve reconhecimento oficial pela OMS somente em 1978 através da Declaração de Alma-Ata, quando recomendou mundialmente a necessidade do conhecimento para o seu uso. Com isso, a OMS publicou várias resoluções com o objetivo de expressar a posição do organismo a respeito da necessidade da valorização do uso desses medicamentos (BRASIL, 2006a). A OMS incentiva a utilização da fitoterapia, ressaltando sua importância nos cuidados a saúde, recomendando a criação de programas mundialmente com objetivo de identificar e validar a utilização delas na medicina tradicional, bem como garantir o controle, a qualidade e a segurança (OLIVEIRA A.B.et al., 2007).
É importante destacar que, desde 2006, o SUS possui políticas sobre o uso de plantas medicinais. A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), por meio do Decreto N° 5.813, de 22 de junho de 2006, a qual define o que é a planta medicinal e que também estabeleceu umas ações voltadas para garantir o acesso seguro e uso racional da fitoterapia no Brasil. E ainda em 2006, foi aprovada a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que possibilitou tornar disponíveis plantas medicinais e/ou fitoterápicos nas unidades de saúde (BRASIL 2006b).
A cultura haitiana, por ter uma grande influência da região oeste da África, as plantas medicinais sempre estivem presente no seu cotidiano, seja para uso ritualístico como a religião do vodu, por exemplo, ou para uso terapêutico. Sabendo que o pós-parto é um período de intensas mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais, e apesar de alguns dessas mudanças sejam consideradas normais, podem ocasionalmente originar sintomas desagradáveis a mulher, com isso as mulheres haitianas, frequentemente fazem uso dessas plantas com capacidades medicinais para aliviar desconfortos e sintomas que surgem nesse período. Embora em muitos casos, a eficácia e o mecanismo de ação terapêutico não tenham sido cientificamente testados e comprovados, geralmente o efeito tende a ser benéfico devido aos componentes bioativos presentes nos extratos utilizados, mas o que não inibe o risco que pode trazer para a saúde (FARZANEH, V. et al.,2014). Portanto, é necessário descobrir a origem do conhecimento popular das plantas medicinais visto que, os conhecimentos se perpetuam, geralmente, apenas através da memória e da história oral. Sendo, portanto, esse instrumento o principal meio de divulgação do conhecimento entre elas (PEREIRA B.E et. al 2010). A forma como as pessoas das comunidades tradicionais africanas, quilombolas, indígenas e haitianas utilizam os recursos naturais disponíveis em seus territórios, é uma especificidade adquirida ao longo de sua trajetória histórica e social, tornando-se parte de sua identidade e herança cultural transmitida pelos seus antepassados permitindo dessa maneira, a transferência continuada de geração em geração (FERREIRA A.L.S et. al 2015).
AMORIM M.M et. al 2013, ressaltam os fatores que podem estar relacionados para o uso da fitoterapia é que muitas vezes elas são as únicas alternativas viáveis para muitas comunidades ou simplesmente pela falta de conhecimento sobre os riscos das plantas, a superstição de certas comunidades de acreditar que, por ser natural, são seguras por isso estão isentas de riscos. Assim, acabam ignorando as ameaças que o uso das plantas medicinais pode trazer para suas saúdes, uma vez que muitas destas plantas têm um grande potencial de toxicidade que pode causar risco a saúde, principalmente quando utilizadas em período de vulnerabilidade, como no caso do pós-parto (OLIVEIRA E.P et. al 2013). Além disso, também é corrente o seu uso pelo baixo custo, fácil acesso, carência económica e dificuldade de recurso à assistência médica em países subdesenvolvidos, como no caso do Haiti, já que o acesso a cuidados de saúde médica não está ao alcance de toda a população.
Por outro lado, destaca-se que são escassos os estudos sobre plantas medicinais utilizadas no pós-parto, ainda menos no que se refere às mulheres haitianas. Associada a isso, está a importância de registrar o conhecimento sobre o uso delas em comunidades haitianas, levando em conta que estes conhecimentos devem ser preservados para enriquecimento cultural e dispersão dos saberes tradicionais e populares. Considerando o grande número de imigrantes registradas no Brasil, que embora estejam em outros países continuam desenvolvendo suas práticas de manejo e conservação de espécies de grande importância na vida de suas famílias e parentes de modo geral. (CAMPOS P.S.S et al., 2020). Nesta perspectiva, considerando a importância desse resgate de informações, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de realizar um levantamento etnobotânico e práticas fitoterápicas utilizadas pelas mulheres haitianas no pós-parto, apontando as principais formas de uso e os principais benefícios e complicações dessas práticas para a saúde da mulher.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida por meio de revisão bibliográfica qualitativa, descritiva exploratória, relacionando as variações de temas e ampliando o conhecimento sobre as plantas medicinais utilizadas no pós-parto pelas mulheres haitianas, analisando as características de uma população específica.
Segundo (MINAYO, M.C.S. 2001) O caráter qualitativo possibilita uma abordagem dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que se referem a um espaço mais profundo das relações e de processos que não poderiam ser identificados nas variáveis quantitativas.
As pesquisas foram realizadas utilizando as plataformas, banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Eletronic Libary Online (SciELO), Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILICS) e Google acadêmico, onde foram selecionados diferentes artigos científicos utilizando as palavras-chave: saúde da mulher, pós-parto, fitoterapia, plantas medicinais, entre outras.
A identificação e validação dos manuscritos, foram realizadas utilizando critérios de inclusão e exclusão, sendo excluídos trabalhos que não estejam completamente disponíveis, que não apresentaram resumos, que não se encaixaram ao assunto principal da pesquisa e que não estejam contemplados no período estabelecido dos últimos 5 anos (2019 – 2024).
Foi realizado também estudo do tipo observacional não participativo sistêmico para observação do processo da utilização da fitoterapia, identificação das principais plantas medicinais utilizadas pelas mulheres haitianas no pós-parto.
HISTÓRICO DO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS
Desde a pré-história, o homem já fazia uso dos recursos naturais para realização de suas atividades básicas, como a alimentação. Entre esses recursos estão as plantas, que sempre foram utilizadas com essa finalidade, que ao longo do tempo passaram a ser utilizadas na confecção de roupas, em construções, como abrigo, ferramentas, entre outros (BRAGA, C.M. 2011). A utilização das plantas na pré-história baseia-se em uma perspectiva mágico simbólica, atribuindo aos espíritos e aos elementos naturais a responsabilidade pelas doenças. Nesse período, era comum a utilização das plantas medicinais em rituais religiosos que buscavam aproximar o ser humano do divino, almejando à cura as inúmeras moléstias (BARROS, J.A. 2002; CRUZ, M.M. 2014).
Já a antiguidade é marcada por um momento de transição da medicina mágico-simbólica para a empírico-racional, que compreende a busca por explicações não sobrenaturais para o surgimento do universo e da vida, assim como para o processo saúde-doença. E ainda com o surgimento da escrita, a propagação dos conhecimentos eruditos torna-se comum. O conhecimento erudito mais antigo são os escritos de Shen Nong (2800 anos a.C.), que relata o uso de diversas plantas medicinais no tratamento de várias patologias (ALMEIDA, M.Z. 2011). Além disso, dentre os médicos mais relevantes da época, se encontram o Hipócrates (460-370 a.C), considerado o pai da medicina moderna, fazia uso de 364 espécies vegetais bioativas (FIRMO, W.C.A et al, 2011).
Na idade média, o monopólio do conhecimento sobre plantas medicinais, seu cultivo e uso terapêutico foram concedidas aos monastérios, sendo estes os responsáveis pela retomada gradual da evolução terapêutica por meio da utilização dos conhecimentos greco-latinos junto ao uso das plantas por eles cultivadas (CUNHA, A.P. 2005; PETROVSKA, B.B.2014). Já na idade moderna, por volta do século XV, grande parte do conhecimento médico estava em posse das instituições religiosas, sendo uma das mais conceituadas a Ordem Benedinita, que partir da medicina monástica, ou seja, aquela realizada no interior dos monastérios, serviu de facilitador para abertura de várias enfermarias, boticas e jardins botânicos (DIAS, J.P 2005)
Sendo assim, as plantas medicinais fizeram-se presente ao longo da história e ainda integram boa parte dos procedimentos clínicos tradicionais, mesmo com o avanço da medicina alopática na metade do século XX, contudo ainda existem desafios no uso deste pelas comunidades carentes que variam desde a dificuldade de acesso a estabelecimentos médico-hospitalares à obtenção de exames e medicação. O grande uso das plantas medicinais em substituição aos medicamentos sintéticos em países em desenvolvimento deve aos costumes próprios de cada população, a facilidade de acesso as plantas e pôr fim a propaganda midiática em torno de produtos à base de espécies vegetais bioativas. Por outro lado, a redução do uso dos fitoterápicos em detrimento dos fármacos sintéticos ao longo da evolução industrial também é relativa ao controle dos processos envolvidos na produção dos medicamentos, que para os sintéticos são controlados, diferentemente dos naturais onde sua produtividade depende do clima, solo, pragas e doenças (VEIGA, V.F.G et al, 2005).
Apesar disso, no final do século XX houve uma retomada no uso das plantas medicinais em substituição aos medicamentos sintéticos, que se deve tanto as reações adversas causadas por estes, quanto ao desconhecimento dos possíveis efeitos negativos causados pelas plantas. (BATISTA, M.L. et al, 2012). Essa redescoberta pode ser evidenciada pelo aumento do número de estabelecimentos com ênfase na comercialização de produtos naturais, como também pelo reaparecimento de ocupações ditas tradicionais, como os raizeiros, em grandes mercados (LUZ, M.T.2005). Através da compreensão do contexto histórico do uso da fitoterapia, que hoje são possíveis a criação e implementação de políticas de âmbito internacional com objetivo de validar cientificamente a eficácia e segurança do uso das plantas medicinais e produtos fitoterápicos (FIGUEIREDO, C.A. et al, 2014).
HISTÓRICO E CULTURA HAITIANA
A história do Haiti se diferencia da maioria das regiões da América Latina no contexto colonizador, sendo ocupado por Colombo em 1492 na procura de cultivo e ouro em uma terra rica em metal amarelo, passando para o domínio francês no final do século XVIII, sendo o território francês que mais prosperou quando ainda se chamava São Domingos, e como consequência das explorações europeias, das ideias e episódios que levaram à Revolução Francesa –ganhando maior autonomia e representatividade, desencadeando disputas internas entre brancos e negros no período de 1971. Logo, levando em consideração todo o feito e o resultado de ter a região legitimada como o primeiro país negro fora de África -única revolução escrava e negra vitoriosa do mundo moderno, compreende-se, naquele período em que foi o segundo país das Américas a se tornar independente com Jaccques Dessalines, no ano de 1804, o impacto que foi gerado no sistema que dirigia as regiões (SANTOS, L. 2018).
A República do Haiti faz parte das Grandes Antilhas, o país caribenho tem a sua localização no mar do Caribe e o Oceano Atlântico. Ocupa a parte Oeste da Ilha Hispaniola, e faz divisão terrestre com a República Dominicana. Possui um clima tropical, depois de Cuba, vem em segundo lugar como país de maior costa litoral no Caribe. Possui uma superfície de 27.750 km², ¾ de suas terras é montanhosa, com uma população aproximadamente de 10 milhões de habitantes, sua capital é Porto Príncipe (em francês Port-au-Prince e Pòtoprens em crioulo haitiano), possui duas línguas oficiais: O Francês e o crioulo. Haitiano sendo o crioulo a língua mais falada. É na contemporaneidade o país mais pobre do continente americano. Essa pobreza da nação em grande parte tem sua origem na corrupção e na má governança de seus líderes desde muito tempo. (JEAN CHARLES, C. 2020).
A cultura haitiana é uma mistura principalmente de elementos franceses, africanos e taínos, com influência dos espanhóis do período colonial. Os costumes do país são essencialmente uma mistura de crenças culturais que derivam dos vários grupos étnicos que habitaram a ilha de Hispaniola ao longo do tempo. No entanto, em quase todos os aspectos da sociedade haitiana moderna os elementos africanos e europeus predominam como é notável em sua música, religião e linguagem. O Haiti possui um território bem definindo, e como se caracteriza seu território, de modo a poder esclarecer a hipótese que consiste em ser o território fator relevante para a definição de sua cultura e de sua história. O próprio nome do país, que possui pelo menos duas representações linguísticas de origens distintas, a primeira de origem Arawak, tribo nativa da região, com o significado de terras altas (MATIJASCIC, V. B. 2014, p. 42), e a segunda derivada da palavra ayiti, a qual, em créole, significa terra das montanhas (CÉSAR, I. F.2017, p. 16), dá conta de descrever o relevo local.
O uso da fitoterapia na cultura haitiana teve início na população através da religião do vodu, que é uma parte importante da cultura haitiana, que acreditam na existência dos seres espirituais que vivem na natureza. a despeito dos mitos e lendas sobre sua prática, representa o sincretismo entre uma religião politeísta emprestada da África ocidental com o misticismo católico da França dos séculos XVII e XXVIII. Muitos proprietários franceses, seguindo uma paixão francesa pelo ocultismo na época, faziam encantamentos e rituais ocultistas em suas plantações na presença de seus escravos. Muitas dessas práticas foram absorvidas nas cerimônias vodus junto com as tradições religiosas dos ancestrais africanos. Mesmo depois da independência do Haiti, o vodu continuou uma religião proscrita, ainda que haja rumores de que era praticada pela maioria dos líderes em secreto. Toussaint Louverture, Jean-Jacques Dessalines, Henri Christophe e Jean-Pierre Boyer condenavam publicamente as cerimônias vodu, que só foram liberadas em 1846. E depois mais uma vez proibidas com a invasão dos EUA em 1915. (HURBON, L. 1972). Sendo assim a região oeste da África tem um grande impacto na herança cultural dos haitianos em relação ao uso das plantas medicinais.
A FITOTERAPIA NO PUERPÉRIO DA MULHER HAITIANA USOS E COSTUMES
Os cuidados às mulheres no pós-parto são considerados como práticas e avaliações de cuidados preventivos de rotina que são planejados para identificar, gerenciar ou encaminhar complicações materna. Tais cuidados, quando prestados de maneira adequada, impactam positivamente na saúde e qualidade de vida das puérperas, com redução de vários desconfortos, pois o pós-parto é um período de intensas mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que são inerentes ao período, que, embora alguns sejam consideradas normais, podem ocasionalmente originar sintomas desagradáveis a mulher, levando assim, à utilização de medicamentos para atenuar o incômodo. (BARATIERI, T. et al. 2020)
Sabendo-se que a atual política nacional de saúde haitiana afirma garantir os princípios de universalidade, integralidade e equidade na atenção à saúde, fornecendo um pacote mínimo de serviços à população do país. Contudo, o sistema de saúde haitiano apresenta graves problemas de funcionamento, de organização e de gestão, o que resulta em uma oferta de cuidados fragmentada, com acesso restrito e baixa qualidade. A cobertura da população não chega aos 60%, e os recursos humanos são insuficientes e têm baixa qualificação. Isso inclui a disponibilidade de pessoal de saúde, infraestrutura, equipamentos de saúde, eletricidade, bem como barreiras relacionadas à acessibilidade geográfica e financeira. Esses fatores desempenham um papel crucial para garantir a qualidade do atendimento, consequentemente a segurança da população. Com isso o que contribuiu para o crescente uso das plantas medicinais na população (DUBUCHE G. 2015).
No entanto, no que diz respeito, sobretudo das mulheres haitianas sobre o uso da fitoterapia, elas são detentoras de um vasto de práticas, conhecem as propriedades curativas, a maneira de cultivo e de preparo delas e buscam manter-se sempre atualizadas. A maioria delas tem em seus quintais muitas plantas que utilizam para tratamentos de diversas doenças. Embora cada uma delas tenha sua forma de cultivo, a eficácia para elas permanece a mesma. Percebendo dessa forma que o conhecimento passado através de gerações é importante para a perpetuação de métodos de cura através de plantas medicinais usadas por povos antepassados, para que esse legado transmitido pela tradição oral, permaneça ativo, mesmo que seus benefícios e malefícios não sejam cientificamente comprovados (PIMENTA, T.S. 2022). Com isso, frequentemente as mulheres haitianas fazem uso de certas plantas medicinais no período do pós-parto para o alívio de alguns sintomas. Dentre eles, podemos citar dores no períneo, aumento do tamanho do abdômen, ingurgitamento mamário, cefaleia, dentre outras condições físicas que elas acham necessários como: cicatrização das paredes do útero, rejuvenescimento vaginal, relaxamento muscular, anemia, calafrios, dentre outras. Elas usam os elementos de forma natural, sem manipulação farmacêutica e asseguram sua eficácia, garantindo a cura ou alívio desses sintomas e outras complicações durante esse período.
De acordo com PASA F.R 2011; SILVA N. C. B. et. al 2012 & VALERIANO et. al 2020, encontram-se maior uso das folhas e das cascas. Esta significativa maioria do uso deve-se, provavelmente, a maior disponibilidade de folhas ao longo do ano, diferentemente do que ocorre com flores e frutos que estão presentes em épocas definidas. Geralmente são usados folhas, frutos, raízes, galhos, casca de árvores e todas as outras partes das plantas. Os extratos brutos obtidos destas plantas são tradicionalmente utilizados para a produção de chás, banhos, sumos, garrafadas e banho de assento ou de vaporização que consiste em sentar-se sobre um recipiente com água quente misturada com ervas, permitindo que a região genital receba o vapor e por fim no preparo de uma alimentação particularizada para esse período. São cautelosas com os cuidados, pois entendem que é um período de muitas mudanças principalmente fisiológicas e que essas mudanças podem influenciar no corpo não somente no presente como recém mãe, mas também no futuro como mulher. Desta forma buscam ter um cuidado mais precavido com o corpo e ajuda-o a retorna o mais original possível.
RESULTADOS/DISCUSSÕES
Para coleta de dado por meio da revisão bibliográfica e observação não participativa de mulheres haitianas puérperas que fazem uso de plantas medicinais com a finalidade curativa e mantendo a tradição e cultura do seu povo.
As formas de utilização são as mais variadas e após registro das formas de uso observadas, os dados foram tabulados e consultados por meio de bibliografias específicas. Durante a elaboração deste artigo contatou-se a importância da fitoterapia e utilização de plantas medicinais na comunidade Haitiana e que, para estas mulheres, são consideradas efetivas. Ou seja, mesmo após receberem os cuidados médicos nos hospitais e regressarem para seus lares, elas retornam aos cuidados tradicionais e/ou geracionais, reproduzindo essa prática como forma de ressignificação do patrimônio cultural dos cuidados femininos do pós parto. Entende-se que, mesmo inseridas num contexto de modernidade, e mesmo longe da sua terra natal essas práticas continuam sendo desenvolvidas tendo grande importância na vida de suas famílias e parentes de modo em geral.
Os dados coletados nos artigos utilizados nesta pesquisa foram organizados e compilados em tabela destacando nome popular, nome científico, parte da planta utilizada e os benefícios relacionados.
PLANTAS MEDICINAIS | NOME CIENTÍFICO | PARTE DA PLANTA UTILIZADA | BENEFÍCIOS À SAÚDE |
Abacate | (Persea americana) | Folhas | Cicatrizar as paredes do útero |
Capim- santo | Cymbopogon citratus (DC) Stapf | Folhas | Calmante |
Camomila | Matricaria chamomilla | Folhas | Calmante |
Espinafre | Spinacea oleracea L. | Folhas | prevenir anemia |
Erva cidreira | Lippia alba | Folhas | Calmante |
Goiabeira | Psidium guajava L | Folhas | Relaxante muscular |
Hortelã | Mentha piperita | Folhas | Eliminar toxinas no sangue |
Laranja | Citrus spp. | Folhas | Relaxante muscular |
Mamão | Carica papaya L. | Folhas | evitar ingurgitamento mamário |
Melão-são Caetano | Momordica charantia L. | Folhas | Relaxante muscular |
Rícino | Ricinus communis | Folhas | Rejuvenesci. vaginal |
Pinha | Annona squamosa | Folhas | Relaxante muscular |
Soursop – graviola | (Annona muricata L.) | Folhas | Relaxante muscular |
A partir dos resultados descritos, foi possível descrever as principais plantas medicinais utilizadas no pós-parto pelas mulheres haitianas, as principais formas de utilização e por fim verificar quais os principais sintomas combatidos pelas plantas utilizadas, as quais foram: dor muscular, anemia, cicatrização das paredes do útero, ingurgitamento mamário, rejuvenescimento vaginal e eliminação de toxinas no sangue. Outra observação importante da pesquisa se deu no âmbito da relação doença/plantas medicinais que os usuários fazem, pois ficou evidente que para uma mesma doença podem ser utilizadas plantas diferentes. Do mesmo jeito que as plantas medicinais são usadas em combinações umas com as outras na preparação dos remédios.
O uso de plantas medicinais se correlaciona diretamente com conhecimento tradicional repassado de geração em geração. Por certo, o emprego de plantas medicinais nesses períodos (pós-parto) está associado ao fator tradicional e cultural dessas mulheres, uma vez que essa é uma prática comum na comunidade haitiana (GOMES, M. B. A, M. B. A et. al 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi observado neste estudo, podemos afirmar que as plantas medicinais têm importância fundamental para a saúde das mulheres haitianas e seus familiares, que fazem uso das espécies sempre que necessitam, principalmente no período do pós-parto. O estudo realizado acerca do tema teve a pretensão de entender e demonstrar o conhecimento concernente à origem dos saberes e das práticas sobre o uso terapêutico das plantas medicinais pela comunidade haitiana. Já que o cultivo dessas espécies realizado por elas, é considerado como acesso mais rápido, seguro e eficaz no tratamento desses sintomas que possam vir a acometê-las. Além disso, como percebido anteriormente, o contexto da utilização de plantas para fins medicinais, constata que o conhecimento tradicional e seus usos pelas mulheres haitianas é um traço marcante na cultura delas, uma sabedoria que era exclusiva dos seus antecedentes transmitido de geração em geração, mas com uma nova configuração social. Nesse cenário, constata-se que a influência da figura da mulher ganha destaque na transmissão desses conhecimentos, visto que ela é quem realiza a procura das plantas e efetiva o preparo dos cuidados, assim continuando com a transmissão desses conhecimentos e dessas práticas complementares de cuidados à sua saúde e de sua família.
Sendo assim acredita-se que o uso da fitoterapia e seu poder curativo não deve ser apenas considerado como uma tradição passada de mães para filhas, mas sim, um conhecimento que deve ser estudado, valorizado e aperfeiçoado, a fim de replicá-lo de forma segura e eficaz por profissionais da saúde, aumentando a disseminação dos conhecimentos acerca das plantas medicinais, para que se possa ampliar o tratamento de doenças na saúde pública.
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1 Acadêmicas do curso de Enfermagem da Faculdade da Amazônia – UNAMA/RO
2 Orientadora/Docente do curso de Enfermagem da Faculdade da Amazônia – UNAMA/RO