A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

THE IMPORTANCE OF ERGONOMICS IN CIVIL CONSTRUCTION

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12687248


Larissa Faria dos Reis¹
Wanessa Ribeiro Pereira¹
Orientadora: Maria Terezinha Silva Neta¹


RESUMO

A ergonomia é uma área essencial em todas as atividades produtivas e se relaciona diretamente à segurança do trabalho. Algumas áreas, no entanto, diante de suas características que apontam para a maior existência de riscos à saúde e à integridade física do trabalhador, a ergonomia evidencia sua relevância. O presente trabalho teve como tema a importância da ergonomia na construção civil. O objetivo geral foi identificar as contribuições da ergonomia no sentido da redução do número de acidentes de trabalho. Foi realizada uma revisão narrativa de literatura em livros, artigos científicos, teses e dissertações, principalmente nas plataformas Google Acadêmico, Scielo e Portal de Periódicos Capes. Os resultados indicam a elevada quantidade de acidentes de trabalho na construção civil, representada pelos altos percentuais em relação ao total de ocorrências, nas diferentes áreas profissionais. A ergonomia é a área do conhecimento voltada à identificação da origem dos comportamentos, acidentes, doenças e sobrecarga de trabalho, bem como das motivações para estas ocorrências, sendo um arcabouço teórico-prático que pode contribuir sobremaneira para a prevenção de acidentes de trabalho na construção civil. Ressalta-se que a ergonomia diz respeito às políticas de prevenção aos acidentes por meio do estudo das características do ambiente de trabalho, envolvendo outras áreas, como a antropometria, a fisiologia e a biomecânica. A efetividade das posturas inerentes à ergonomia na construção civil depende, entre outros aspectos, de elementos relacionados ao treinamento dos profissionais e à observação holística destes e dos postos de trabalho, considerando suas especificidades, riscos e potencialidades.

Palavras-chave: Ergonomia. Construção Civil. Segurança no Trabalho.

ABSTRACT

Ergonomics is an essential area in all production activities and is directly related to workplace safety. However, in some areas, given their characteristics that point to the existence of greater risks to the health and physical integrity of workers, ergonomics highlights its relevance. The theme of this work was the importance of ergonomics in construction. The general objective was to identify the contributions of ergonomics towards reducing the number of workplace accidents. A narrative literature review was carried out in books, scientific articles, theses and dissertations, mainly on the Google Scholar, Scielo and Portal de Periódicos Capes platforms. The results indicate the high number of work accidents in construction, represented by high percentages in relation to the total number of occurrences, in the different professional areas. Ergonomics is the area of ​​knowledge focused on identifying the origin of behaviors, accidents, illnesses and work overload, as well as the motivations for these occurrences, being a theoretical-practical framework that can greatly contribute to the prevention of work accidents in construction civil. It is noteworthy that ergonomics concerns accident prevention policies through the study of the characteristics of the work environment, involving other areas, such as anthropometry, physiology and biomechanics. The effectiveness of postures inherent to ergonomics in construction depends, among other aspects, on elements related to the training of professionals and the holistic observation of these and their jobs, considering their specificities, risks and potential.

Keywords: Ergonomics. Construction. Safety at Work.

1 INTRODUÇÃO

A ergonomia representa um conjunto de subsídios de grande importância no contexto da Segurança no Trabalho.  Conforme Diniz, Lima e Simões (2024), a ideia de ergonomia volta-se principalmente nos trabalhadores, no dia a dia de sua atividade laboral, com a finalidade de identificar a origem dos comportamentos, acidentes, doenças e sobrecarga de trabalho, diante das motivações para tais ocorrências. Essa abordagem adota uma postura que possibilita a compreensão a respeito das causas fundamentais desses fenômenos. 

Trata-se do atendimento a uma demanda pelo aporte de segurança nas diversas atividades produtivas, considerando, inclusive, que em algumas áreas os riscos se mostram ainda mais evidentes. Um exemplo nesse contexto trata-se da Construção Civil, em suas diversas atividades que, na maioria, se caracterizam pelos riscos proporcionados aos trabalhadores. Takahashi et el. (2012) consideram que as iniciativas voltadas à proteção ao trabalhador da construção civil são incipientes, o que resulta no elevado número de ocorrências desses eventos adversos.

 A fragilidade das políticas de prevenção contra acidentes na construção civil pode ser sugerida a partir dos indicadores citados por Oliveira (2024), que afirma que em 2023 apresentou 20.224 afastamentos previdenciários, por diversos motivos. Os dados colocam a construção civil entre os setores nos quais ocorre a maior prevalência de acidentes de trabalho, ensejando ações efetivas. 

Nesse cenário, a observação e atenção quanto aos componentes que se relacionam à ergonomia podem subsidiar a melhoria quanto à segurança do trabalho na construção civil. Evidencia-se a relevância de que as iniciativas considerem a variedade de ocupações e condições inerentes às atividades, bem como a heterogeneidade do perfil dos colaboradores. 

A ergonomia tem como objeto de estudo a relação do ser humano com o ambiente de trabalho, bem como com sua profissão. Trata-se da área do conhecimento que tem como finalidade a aplicação de conhecimento teórico, dos princípios, dados e métodos para o aprimoramento do bem-estar do ser humano. Essas iniciativas incluem a melhoria da dinâmica que se relaciona ao desenvolvimento das atividades laborais (Brasil, 2020). Diante da definição de ergonomia e das necessidades que se relacionam à segurança do trabalho na construção civil, pergunta-se: Pergunta-se: em quais aspectos a ergonomia demonstra sua importância para a redução de acidentes de trabalho, inclusive adoecimentos profissionais, na construção civil?

O objetivo geral do trabalho foi identificar as contribuições da ergonomia no sentido da redução do número de acidentes de trabalho. Os objetivos específicos foram conceituar a ergonomia e a segurança do trabalho, contextualizar a construção civil no Brasil, diante de dados quali-quantitativos e indicar a importância da ergonomia na construção civil.

O presente trabalho se caracteriza como revisão narrativa de literatura em livros, artigos científicos, teses e dissertações, principalmente nas plataformas Google Acadêmico, Scielo e Portal de Periódicos Capes. As palavras-chave utilizadas no trabalho foram “ergonomia”, “construção civil” e “segurança no trabalho”. Conforme Marconi e Lakatos (2017), esse tipo de pesquisa se fundamenta em material já publicado sobre determinado assunto. 

Quanto aos objetivos, a pesquisa é classificada como pesquisa descritiva. A coleta de dados ocorrera por meio da pesquisa bibliográfica. Obtidas as constatações e à luz do referencial pesquisado, passou-se à identificação do conteúdo voltado ao cumprimento dos objetivos do trabalho, bem como a resposta à problemática proposta. 

A partir da submissão das palavras-chave aos mecanismos de busca, passou-se à análise dos resultados, em conformidade com os critérios estabelecidos. Diante da escolha do referencial a ser utilizado, a próxima etapa foi a organização dos textos das publicações e a redação do texto. Os critérios de inclusão adotados foram a pertinência ao tema proposto, a completude do material e o idioma, português ou inglês. Os critérios de exclusão consideraram os resumos e trabalhos com abordagens distintas da proposta. 

2 ERGONOMIA E SEGURANÇA NO TRABALHO

A palavra ergonomia tem origem da fusão entre a palavra ergon, do idioma grego, que tem como significado trabalho, e nomos, também um vocábulo grego, que significa regras ou normas. O estudo da Ergonomia é dividido em Ergonomia Física, Cognitiva e Organizacional. As características destas perspectivas são distinções à forma como deve ocorrer a abordagem na prática cotidiana dos ambientes de trabalho. Assim, a Ergonomia Física tem relação com as características anatômicas do ser humano, bem como com a antropometria, e biomecânica e a fisiologia. A Ergonomia Física tem como objeto de análise as interações do ser humano com relação à postura no trabalho, aos movimentos repetitivos, manuseio de materiais, saúde e segurança (Masculo; Vidal, 2013).

A Ergonomia Cognitiva diz respeito aos processos mentais como um todo, bem como aos processos específicos como memória, percepção, resposta motora e raciocínio compreendendo o estudo acerca da interação entre o homem e os equipamentos, tomada de decisão, carga mental de trabalho e outros. A ergonomia Organizacional compreende as estruturas políticas e os processos e organizacionais, sendo exemplos as comunicações, a organização temporal do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, gestão da qualidade e trabalho em rede (Masculo; Vidal, 2013).

Diniz, Lima e Simões (2024) consideram que as contribuições da ergonomia para a segurança se dividem em grandes áreas, sendo que uma delas refere-se à investigação direta do fator humano, buscando compreender como ocorrem os erros humanos e reconhecer, inclusive, o papel dos operadores humanos na confiabilidade dos sistemas técnicos. Outra área que é considerada como uma contribuição da ergonomia refere-se à participação na concepção das condições físicas do trabalho, como o ambiente de trabalho, ferramentas e equipamentos, promovendo a integração entre a atividade laboral e sistemas informatizados, mormente com o avanço da automação e inteligência artificial. 

Por derradeiro, tem-se a contribuição para a esfera da organização e gestão, compreendendo como os processos e estruturas organizacionais influenciam a atividade dos trabalhadores em todos os níveis hierárquicos. Isso inclui a criação de dispositivos organizacionais que promovam a retroalimentação e aprendizado para prevenir os acidentes de trabalho (Diniz; Lima; Simões, 2024).

As condições de trabalho podem causar desconforto, fadiga e lesões devido a posturas inadequadas e esforços repetitivos. A ergonomia busca analisar e adaptar o trabalho às capacidades humanas para evitar esses problemas. Originariamente combinando ciências biológicas e engenharia, hoje a ergonomia abrange várias áreas do conhecimento e é aplicada em diversos produtos. Seus objetivos incluem garantir conforto, prevenir danos à saúde e alinhar o design às capacidades humanas, em vez de forçar a adaptação do usuário (Corrêa; Boletti, 2015).

Outro conceito importante no âmbito da segurança do trabalho refere-se à antropometria, fundamental para a ergonomia na segurança do trabalho. Esta área concentra-se no estudo das dimensões mensuráveis do corpo humano, incluindo as medidas físicas e a análise dos ângulos de movimento das partes do corpo para evitar danos. Compreender as necessidades do corpo humano no ambiente de trabalho é essencial para desenvolver medidas de trabalho, bem como para a criação e aprimoramento de máquinas e equipamentos de modo que estes sejam ergonomicamente adequados, promovendo a segurança e o bem-estar dos trabalhadores (Vieira, 2008).

Por derradeiro, é importante destacar o conceito de acidente de trabalho que, conforme Barbosa Filho (2015), é aquele que ocorre durante a execução das atividades profissionais para a empresa, resultando em lesão corporal ou incapacidade funcional que pode levar à morte, à perda ou redução permanente ou temporária da capacidade de trabalho, sejam eles acidentes típicos, de trajeto ou equiparados. Portanto, o Sistema de Saúde e Segurança do Trabalho implementado nas organizações deve tomar medidas para garantir a integridade não apenas dos trabalhadores, mas de todos aqueles que possam ser afetados por eventos indesejados originados nas condições em que determinadas tarefas são executadas.

3 A CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL: DADOS QUALI-QUANTITATIVOS

A construção civil, ao longo da história, possui significativa importância social e econômica, principalmente em épocas de crise. Trata-se de um setor que congrega uma cadeia produtiva variada, proporciona crescimento econômico e geração de empregos de modo rápido e é responsável por uma significativa parcela na geração de riquezas no Brasil. O setor tem como característica também o grande número de postos de trabalho e uma considerável participação na geração de renda para a população (Masuero, 2021). No entanto, outra característica da construção civil são as elevadas taxas de acidentes de trabalho.

Conforme Peinado (2019), os componentes que fazem com que a construção civil seja uma atividade com tantos riscos são diversos, como a elevada quantidade de mão de obra terceirizada, as modificações no tipo de serviço de acordo com a demanda apresentada, os efeitos do clima. A necessária exposição aos riscos para a execução das atividades, como o trabalho em altura e os riscos de desabamentos, choques elétricos e outros, são também elementos que favorecem a existência de riscos. Além disso, a pouca qualificação de mão de obra e a grande rotatividade profissional fazem com que os trabalhadores apresentem menos experiência na rotina específica do local de trabalho, favorecendo a ocorrência de acidentes de trabalho.

Em 2017, segundo Diniz (2018), 10,6% dos acidentes de trabalho registrados foram devido a quedas, totalizando 37.057 ocorrências em um total de 349.579 comunicações. Os setores mais afetados foram a construção civil, o transporte de cargas, o comércio e os hospitais.

Analisando os relatórios sobre acidentes de trabalho neste setor, Oliveira (2024) afirma que as principais causas incluem quedas de altura (36%), impactos contra pessoas/objetos (18,7%), envolvimento com veículos de transporte (13,2%), quedas no mesmo nível (8,79%), e incidentes com máquinas e equipamentos (7,69%). Quanto às partes do corpo mais frequentemente afetadas entre os trabalhadores da construção civil em 2022, notam-se o dedo (20,8%), o pé (12%), a mão (6,77%), a perna (4,98%) e o joelho (4,5%). Em relação às lesões mais comuns, destacam-se fraturas (25,4%), cortes, lacerações, feridas contusas e puncturas (18,9%), lesões imediatas (11,5%), escoriações e abrasões (9,45%), e contusões e esmagamentos (8,26%).

Conforme Iida e Buarque (2016), verifica-se a importância da prevenção aos acidentes e adoecimentos profissionais, sendo que no âmbito das iniciativas, metodologias e conceitos relacionados à segurança do trabalho situa-se a Ergonomia, que, conforme citado no presente trabalho, é a área do conhecimento que compreende o relacionamento entre o homem e o seu trabalho, seu equipamento e ambiente, inclusive com a utilização dos conceitos de anatomia, fisiologia e psicologia na prevenção e tratamento dos distúrbios porventura ocasionados.

Os dados que se relacionam aos acidentes de trabalho na construção civil, considerando os anos de 2019 a 2021, indicam as ocorrências de acidentes típicos, de trajeto e os adoecimentos profissionais (Figura 1):

Figura 1 – Acidentes de trabalho – Construção Civil – CNAE 4120

Fonte: Adaptado de Brasil (2023)

Observa-se que as variações foram significativas na quantidade de ocorrências, se considerada a diferença entre o ano de 2021 e os demais anos pesquisados. Esta diferença pode ser atribuída principalmente à redução e, em alguns casos, à interrupção das atividades devido à pandemia do Covid-19. A observação a respeito da dimensão dos acidentes de trabalho na construção civil pode ser complementada pelo entendimento de sua representatividade no cenário das ocorrências totais no país. Considerando todas as categorias profissionais, os dados identificados no período entre 2019 e 2021 podem ser observados na Figura 2:

Figura 2 – Percentual de Acidentes de trabalho em relação aos demais setores– Construção Civil – CNAE 4120

Fonte: Adaptado de Brasil (2023)

A análise dos dados indicados sugere a participação muito significativa da construção civil principalmente no que se refere aos acidentes típicos, ainda que nos acidentes de trajeto e nas doenças do trabalho os dados também não sejam desprezíveis. Conforme Corrêa e Boletti (2015), há muito anos, os setores da construção civil e dos transportes têm registrado os maiores números de acidentes, apesar da constante supervisão nessas áreas.

Segundo Halpin e Woodhead (2017), uma lesão grave ou fatal ocorrida no local de trabalho pode ter consequências negativas em diversas áreas da operação. Os acidentes não só geram custos financeiros, mas também afetam a moral dos trabalhadores. Devido à natureza do trabalho na construção, há muitos riscos tanto para os trabalhadores quanto para o público em geral. Por isso, a questão da segurança representa uma área de interesse mútuo sem controvérsias entre os gerentes e a equipe. É amplamente reconhecido que a promoção de operações seguras e a prevenção de acidentes são essenciais para preservar vidas e garantir um ambiente de trabalho seguro.

Takahashi et al. (2012) afirmam que pesquisas mostram a eficácia dos treinamentos e das medidas de prevenção de acidentes. No entanto, eles observam que, apesar da percepção elevada dos trabalhadores sobre os riscos, a implementação de medidas de segurança pode dificultar o trabalho. Eles destacam que nos canteiros de obras, há múltiplas empresas trabalhando juntas, muitas vezes subcontratando à margem da legislação. Além disso, na construção civil, há uma proporção significativa de trabalhadores informais, especialmente após a Reforma Trabalhista de 2017, que tornou mais precárias as relações de trabalho nesse setor.

Apesar dos esforços dedicados a proteger a segurança dos trabalhadores durante suas atividades laborais, acidentes podem ocorrer, resultando em lesões de diversos níveis, temporárias ou permanentes, e em casos extremos, até mesmo em fatalidades, afetando não apenas os trabalhadores diretamente envolvidos, mas também terceiros, com ou sem ligação direta com o ambiente produtivo onde tais atividades ocorrem (Barbosa Filho, 2015).  Nesse contexto, as ações voltadas à prevenção contra acidentes de trabalho contam com iniciativas variadas, como exemplo da ergonomia.

4 A IMPORTÂNCIA DA ERGONOMIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A ergonomia evidencia sua relevância nos diversos tipos de atividade laboral, destacando-se na construção civil que, em várias funções por ela apresentadas, se caracteriza como um trabalho pesado. Nesse sentido, importa compreender que a natureza do trabalho exercido assim o caracteriza. Segundo Kroemer e Grandjean (2007), o trabalho pesado refere-se a atividades que exigem grande esforço físico, resultando em alto consumo de energia e exigências significativas do coração e pulmões. Mesmo que a mecanização tenha reduzido a necessidade de força física em algumas áreas, ainda existem setores, como mineração, construção, agricultura, atividades florestais e transporte, onde o trabalho pesado é comum. Tais atividades podem resultar em sobrecarga física para os trabalhadores e são um desafio significativo para a ergonomia, principalmente nos países em desenvolvimento. O desempenho nessas tarefas é frequentemente avaliado com base no consumo de energia e esforço cardíaco.

A extensa carga horária na construção civil leva os trabalhadores a enfrentar os perigos dos ambientes e processos produtivos, contribuindo para os acidentes frequentes, muitos deles trágicos. Embora haja avanços tecnológicos, certas práticas prejudicam os trabalhadores. A modernização e automação em vários setores resultam em tarefas repetitivas e monótonas, afetando a satisfação no trabalho, pois cada vez mais os trabalhadores executam atividades semelhantes em busca de aprimoramento (Barbosa Filho, 2015, Velasco; Carvalho, 2016).

Incentivar eficazmente o uso de EPIs pode contribuir para a redução dos acidentes de trabalho na construção civil, tais como cortes, lacerações, exposição a ruídos excessivos, lesões por esforços repetitivos, picadas de animais peçonhentos e insetos. Esses acidentes, quando não fatais, podem acarretar lesões graves e incapacitantes para o trabalho. É mais provável que os trabalhadores usem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que sejam confortáveis e que atendam às suas preferências. No entanto, enfrentamos grandes desafios quando os profissionais resistem ao seu uso ou não os utilizam adequadamente, o que é essencial para prevenir exposição a agentes prejudiciais à saúde. A Engenharia de Segurança do Trabalho desempenha um papel essencial na implementação e fiscalização da segurança laboral, embora a responsabilidade deva ser compartilhada entre várias áreas, incluindo a Engenharia Civil (Montenegro; Santana, 2012, Carvalho, 2017).

Nesse contexto, a ergonomia busca gerar um corpo de conhecimento que possa ser aplicado para transformar as situações de trabalho, incluindo sistemas organizacionais e equipamentos técnicos. Dentro desse âmbito de atuação, surgem diversas demandas e desafios relacionados à segurança (Diniz; Lima; Simões, 2024).  Na construção civil, as exigências relacionadas à segurança são muito significativas, e envolvem desde os aspectos eminentemente operacionais à própria forma como se organiza a retaguarda compreendida pela gestão administrativa, projetos e organização operacional.

A repetitividade que caracteriza algumas atividades na construção civil está ligada aos elementos ergonômicos, enquanto a falta de variedade se enquadra nos aspectos psicológicos do trabalho, podendo aumentar a fadiga e induzir à sonolência, bem como prejudicar a concentração e desmotivar. Esses efeitos geralmente se manifestam em ambientes carentes de estímulos. Embora a repetição de tarefas seja muitas vezes necessária no ambiente de trabalho, muitas vezes não são tomadas medidas para minimizar os impactos negativos, o que geralmente resulta em problemas de saúde ocupacional e doenças relacionadas ao trabalho (Iida; Buarque, 2016).

Observa-se que o uso de equipamentos de proteção individual em certos setores industriais, como na construção civil, ainda é negligenciado, embora seja indispensável. Na construção, os principais itens de proteção incluem para cabeça, audição, respiração, olhos e face, tronco, membros superiores e inferiores, e contra quedas. A adaptação dos equipamentos para cada ambiente de trabalho e o planejamento da proteção coletiva são essenciais, conforme o PPRA. A atenção às doenças ocupacionais é essencial, articulando o PCMAT com o PPRA e PCMSO, além da análise ergonômica dos postos de trabalho. Considerar agentes físicos, químicos, biológicos e condições ambientais é importante ao identificar os riscos de doenças ocupacionais (Anjos; Stocco, 2017, Peinado, 2019).

Antes de esperar que os colaboradores usem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de forma adequada, no entanto, é necessário fornecer treinamento sobre o uso correto de cada EPI conforme a atividade e o tipo de risco envolvido. Além disso, é importante familiarizá-los com os procedimentos de armazenamento e manutenção de cada tipo de EPI, incentivando a solicitação de substituição quando necessário. As normas relacionadas à segurança no trabalho estão alinhadas com a legislação geral, estabelecendo direitos e responsabilidades tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. Elas indicam quais são as medidas de proteção, incluindo o uso de Equipamentos de Proteção Coletiva e EPIs, regulamentam os procedimentos e instruções para o uso adequado dos EPIs, e aplicam penalidades por irregularidades. O objetivo é promover o bem-estar de todos, por meio da busca pela redução de acidentes de trabalho (Barsano; Barbosa; Soares, 2014).

Em determinados setores industriais, bem como na construção civil, a falta de uso de equipamentos de proteção individual é ainda comum, apesar de sua óbvia importância. O PCMAT visa prevenir riscos, integrando segurança, projeto e execução de obras, conforme a NR 18. Ele identifica e previne riscos durante a execução da obra, recomendando medidas de proteção e técnicas de execução seguras. O PPRA, derivado das diretrizes da NR9, também é essencial. Suas etapas incluem análise de projetos, reconhecimento e avaliação de riscos ambientais, implementação de medidas de controle e avaliação sistemática da exposição ao risco, além de programas de treinamento (Fiocruz, 2010). 

O plano de segurança no trabalho, que deve ser comunicado à Delegacia Regional do Trabalho, contém informações como endereço da obra, tipo e datas previstas para início e término, e número máximo de trabalhadores. A obra só pode iniciar após inspeção e possível emissão do Certificado de Aprovação das Instalações pelo órgão regional do Ministério do Trabalho. Em caso de embargo ou interdição, os trabalhadores têm direito à remuneração como se estivessem em atividade (Fiocruz, 2010). Além dos aspectos que se relacionam ao planejamento das medidas de segurança e sua documentação, é imprescindível a adoção de políticas internas que possam contribuir para uma cultura de segurança, como exemplo do incentivo ao uso de equipamentos de proteção individual.

Outro aspecto importante a considerar é garantir que as condições de trabalho sejam adequadas e propiciem a motivação dos profissionais. De acordo com Castro, Souza e Santos (2010), condições insatisfatórias de trabalho podem resultar na redução total ou parcial da capacidade laboral, levando a afastamentos temporários ou permanentes devido a doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. A implementação de medidas preventivas no ambiente de trabalho é essencial para minimizar a incidência de acidentes e doenças ocupacionais.

A efetivação das determinações intrínsecas ao conhecimento em ergonomia envolve a supervisão. Essa atividade deve ser realizada por profissionais qualificados. Conforme Mascia (2018), a supervisão desempenha um papel imprescindível, ao alinhar as decisões da alta gestão com a realidade operacional. No entanto, os supervisores frequentemente enfrentam limitações de tempo para analisar desafios diários. Esta falta de reflexão pode prejudicar o aprendizado organizacional e levar a consequências negativas, como a repetição de erros e a falta de melhoria contínua. Um estudo na construção civil destacou como incidentes e atividades operacionais muitas vezes passam despercebidos, resultando em oportunidades perdidas para aprimorar as práticas e a qualidade do trabalho.

Nesse contexto, um importante subsídio é a NR-17, que tem como objetivo estabelecer parâmetros que possibilitem a adaptação do ambiente de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, levando à obtenção do máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Acerca das condições de trabalho, a norma citada define que estas correspondem às variáveis inerentes ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, às condições ambientais do posto de trabalho e aos equipamentos, bem como à própria organização do trabalho (Brasil, 2021).

O trabalho manual, às vezes realizado sem consideração pelos princípios ergonômicos, como postura adequada e distribuição correta da força, pode resultar em danos à saúde dos trabalhadores. Em 1978, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) aprovou a Norma Regulamentadora 17 (NR-17), parte do Capítulo V, Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, que aborda Segurança e Medicina do Trabalho. Esta norma não apenas regula questões ergonômicas, mas também estabelece diretrizes para adaptar as condições de trabalho às características físicas e psicológicas dos trabalhadores, visando proporcionar conforto, segurança e eficiência. Além disso, ela especifica várias formas de adaptar o ambiente de trabalho, como transporte manual de cargas e uso de móveis adequados à anatomia corporal. Os anexos da norma consideram diferentes ocupações, como operadores de caixa e telemarketing, ressaltando a importância da educação e conscientização dos princípios ergonômicos, com incentivo dos empregadores e comprometimento dos profissionais. Portanto, é essencial conhecer e entender essa norma para garantir atividades realizadas com saúde e segurança (Silva et al., 2011). 

Conforme Halpin e Woodhead (2017), mesmo que nos últimos anos tenha havido uma redução na taxa de acidentes fatais na construção, os registros de acidentes na indústria ainda estão significativamente atrás de outras indústrias de alto risco em termos de melhoria. É incumbência do empreiteiro assegurar que todos os esforços estejam sendo feitos para proporcionar um ambiente de trabalho seguro, tanto para os trabalhadores quanto para o público em geral. Os principais impulsionadores de práticas seguras no local de trabalho incluem preocupações humanitárias, considerações econômicas e benefícios associados, bem como exigências legais e regulamentares. Dada a alta probabilidade intrínseca de acidentes na indústria da construção, a sociedade defende que os empreiteiros devem aceitar as responsabilidades relacionadas aos ambientes perigosos e se comprometerem com a implementação de práticas seguras e prevenção de acidentes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ergonomia representa um campo de estudo e um conjunto de práticas essenciais no contexto da Segurança no Trabalho, indicando as variáveis que influenciam a segurança e o bem-estar dos trabalhadores. Ao explorar a ergonomia física, cognitiva e organizacional, pode-se compreender melhor as interações entre os seres humanos e seu ambiente de trabalho, os processos mentais envolvidos nas tarefas laborais e as estruturas organizacionais que fazem parte das atividades laborais.

No setor da Construção Civil, onde os riscos ocupacionais são particularmente evidentes, a ergonomia mostra-se como uma ferramenta necessária para a redução dos perigos enfrentados pelos trabalhadores. A ausência de políticas eficazes no campo da prevenção de acidentes na construção civil é alarmante, sendo essa afirmação fundamentada pelos altos índices de ocorrências, se comparadas com o total de acidentes de trabalho no Brasil. No entanto, por meio da aplicação dos princípios ergonômicos, pode-se melhorar significativamente as condições de trabalho e, consequentemente, reduzir o número de acidentes.

Entre os pontos principais da ergonomia na Construção Civil encontra-se a adaptação do trabalho às capacidades humanas, com a finalidade de evitar desconforto, fadiga e lesões decorrentes de posturas inadequadas e esforços repetitivos. Essas iniciativas envolvem a consideração das dimensões físicas do corpo humano e os processos mentais e das estruturas organizacionais que têm influência na execução das tarefas laborais.

Portanto, a ergonomia pode contribuir significativamente para a promoção da segurança e saúde no trabalho na indústria da Construção Civil. Servindo-se da integração dos princípios ergonômicos nas políticas de segurança e nas práticas laborais, podem ser criados ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e produtivos para todos os envolvidos.

A conscientização sobre a importância do uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual é fundamental para garantir a segurança dos trabalhadores. No entanto, é necessário fornecer treinamento adequado sobre o uso correto desses equipamentos e implementar políticas internas que incentivem sua utilização. A supervisão qualificada também desempenha um papel crucial na implementação eficaz das medidas de ergonomia e segurança no trabalho. É essencial que os supervisores estejam capacitados para identificar e corrigir potenciais riscos ocupacionais, promovendo um ambiente de trabalho seguro e saudável para todos os colaboradores. A legislação trabalhista, incluindo normas como a NR-17, evidencia-se como um conjunto de determinações que possuem papel importante na promoção da segurança e saúde no trabalho, definindo as diretrizes para a adaptação do ambiente de trabalho às necessidades dos trabalhadores. 

REFERÊNCIAS

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