REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11517185
Caroline Poeis da Fonseca Madeira1;
Danielle Castro Hoffmann2
Resumo
Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura a respeito da importância de uma alimentação balanceada e saudável desde a primeira infância para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis. O presente estudo tem por objetivo investigar a relação entre uma alimentação adequada na infância e a prevenção das DCNT assim como correlacionar o consumo precoce de alimentos industrializados, ricos em açúcar e gorduras com as DCNT e a importância de uma alimentação saudável para a prevenção de doenças crônicas. Foram selecionados e analisados 9 artigos, sendo possível afirmar que os estudos mostraram como a alimentação é importante para prevenção de DCNT e que os bons hábitos alimentares começam na infância. Foi elaborada uma tabela onde se destaca as principais informações dos trabalhos, como, autor, tema, objetivo, participantes, método e resultados. Pode-se concluir que é necessário o cuidado com alimentação desde a introdução alimentar, uma vez que a obesidade e outras doenças crônicas podem ser consequências de uma alimentação rica em alimentos industrializados, que por sua vez são ricos em carboidratos simples e gorduras saturadas atrelado a baixa oferta de vitaminas e minerais.
Palavras-chave: Educação Nutricional; Alimentação Saudável; Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
1. Introdução
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são condições crônicas, com múltiplas causas e são marcadas por ter uma duração longa e indefinida. De acordo com a OMS são responsáveis por 74% dos óbitos ocorridos no Brasil e 63% das mortes no mundo. A maioria das doenças crônicas pode ser prevenida ou controlada após o diagnóstico, existem algumas intervenções que permite melhora da qualidade de vida (Becker e Heidemann, 2021).
Sabe-se que nas últimas décadas ocorreram mudanças no perfil alimentar, causando grande impacto nos índices de obesidade no país, essa mudança no estilo de vida está associada às DCNT. Em 2022, no Brasil, cerca de 14,2% das crianças de até cinco anos apresentam excesso de peso e
31,2% dos adolescentes têm sobrepeso ou obesidade. O excesso de peso em 2022 afetou uma em cada 10 crianças brasileiras e um em cada três adolescentes (10 a 18 anos) (Fiocruz, 2023).
A mudança de hábitos alimentares por meio da educação alimentar e nutricional (EAN) tem por objetivo promover saúde através de uma alimentação balanceada. O cuidado com a alimentação deve começar ainda na gestação, passando para uma introdução alimentar adequada durante toda a primeira infância visto que suas escolhas alimentares são moldadas nessa fase (Lopes, et al., 2018).
O presente estudo tem por objetivo investigar a relação entre uma alimentação adequada na infância e a prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis assim como correlacionar o consumo precoce de alimentos industrializados, ricos em açúcar e gorduras com as DCNT e a importância de uma alimentação saudável para a prevenção de doenças crônicas.
2. Materiais e Métodos
2.1 Tipo de revisão
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura a respeito da importância de uma alimentação balanceada e saudável desde a primeira infância para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
2.2 Estratégia de busca
Foi realizada uma busca de artigos científicos em sites oficiais e na base de dados como SCIELO, INCA, Biblioteca Virtual em Saúde, Ministério da Saúde, Revista Online, PUBMED, durante março de 2024. Foram utilizados os seguintes descritores: Alimentação Saudável; Hábitos Alimentares; Nutrição; Doenças Crônicas Não Transmissíveis; EAN; Foram selecionados os artigos com o tema de interesse publicado entre 2019 e 2024, em português ou inglês.
2.3 Critérios de inclusão
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos científicos foram estabelecidos após uma busca minuciosa em diversas fontes confiáveis, incluindo sites oficiais e bases de dados renomadas. Foram selecionados somente os arquivos publicados nos últimos 5 anos e que tivessem como assunto EAN na infância de DCNT.
2.4 Critérios de exclusão
Os critérios de exclusão foram não pertencer à temática de interesse, os que não estavam disponíveis gratuitamente e os publicados antes de 2019.
2.5 Extração e síntese dos dados
Inicialmente foi realizada uma seleção dos estudos através dos títulos, posteriormente foi realizada a leitura do resumo e aqueles que abordavam a temática de interesse foram selecionados para serem lidos na íntegra, após a leitura, 09 artigos foram escolhidos e analisados para confecção de uma tabela onde se destaca as principais informações dos trabalhos, como, autor, tema, objetivo, participantes, método e resultados.
2.6 Riscos e benefícios da pesquisa
A presente pesquisa não apresenta risco, visto que os artigos selecionados para a pesquisa são recentes, reduzindo as chances dos resultados serem contraditórios ou equivocados. Como benefício, o estudo oferece possibilidade de gerar conhecimento a fim de entender, prevenir e/ou reduzir um problema do coletivo.
2.7 Avaliação da qualidade dos estudos
Conforme destacado por Souza e Oliveira (2017), a seleção criteriosa dos artigos é fundamental para garantir a qualidade e confiabilidade da revisão. Os artigos selecionados foram submetidos a uma análise crítica, identificando os principais achados, lacunas de conhecimento e tendências na literatura. Foram selecionados artigos encontrados nas bases de dados confiáveis e somente artigos científicos, teses de mestrado ou doutorado e material produzido por organizações profissionais e acadêmicas foram selecionados para a primeira seleção.
2.8 Estratégia para minimizar viés
Inicialmente os estudos foram escolhidos de acordo com o título, aqueles pertencentes ao tema de interesse foram selecionados para leitura do resumo e em sequência aqueles que estavam dentro do assunto foram lidos na íntegra, aqueles estudos com desfecho esperado foram utilizados para a pesquisa.
3. Resultados
Foram selecionados e analisados 9 artigos, sendo possível afirmar que os estudos mostram como a alimentação é importante para prevenção de DCNT e que os bons hábitos alimentares começam na infância. Para síntese dos achados foi elaborado um quadro com as informações de cada estudo (Quadro 1).
Quadro 1. Síntese dos artigos selecionados para a pesquisa.
AUTOR (ANO) | TEMA | OBJETIVO | MÉTODO | RESULTADOS |
Oliveira, et al., 2023 | A importância da formação de bons hábitos alimentares na infância como prevenção e tratamento da obesidade. | Analisar e identificar a formação dos hábitos alimentares em crianças até os 09 anos; Demonstrar a importância da alimentação na primeira infância | Revisão bibliográfica | A introdução alimentar é imprescindível para a adesão de bons hábitos no decorrer da vida, visto que o padrão alimentar da criança reflete diretamente em sua saúde. |
Zamoner, 2022. | A Importância da Alimentação Correta na Prevenção das Doenças Crônicas Não Transmissíveis | Apresentar quais são as Doenças Crônicas Não Transmissíveis mais prevalentes no mundo, bem como apresentar intervenções para a prevenção destas a partir de políticas públicas que promovam dietas mais equilibradas, contribuindo para a promoção da qualidade de vida. | Revisão bibliográfica | A pesquisa mostrou que as DCNT são divididas em quatro grandes grupos, como, as doenças cardiovasculares, as respiratórias, o diabetes e o câncer, e podem levar à morte. Atualmente, as DCNT são as que mais provocam mortalidade em todo o mundo, causando grandes impactos econômicos. As políticas públicas podem ser o caminho mais eficaz para a redução destas doenças, no entanto precisam abranger toda a sociedade e não apenas os escolares como ocorre. |
Silva, et al., 2022 | Impacto e consequências do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde infantil | Relacionar o consumo de alimentos ultraprocessados e as consequências na saúde infantil. | Revisão bibliográfica | Os estudo mostrou que existem consequências do consumo de alimentos |
Kuhn, Merheb e Garcia, 2021 | A importância da alimentação saudável e adequada na primeira infância para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis uma revisão da literatura | Investigar a importância da alimentação adequada para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis. | Revisão bibliográfica | O estudo mostrou que bons hábitos alimentares devem ser iniciados na primeira infância, pois reflete o padrão alimentar ao longo da vida, sendo favorável para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis e para promover qualidade de vida. |
Louzada, et al., 2021 | Impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde de crianças, adolescentes e adultos: revisão de escopo | Realizar uma revisão de escopo da literatura acerca da relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e os impactos na saúde. | Revisão escopo | O estudo mostrou que existem evidências consistentes para relação dos hábitos alimentares das crianças com a obesidade em adultos. Grandes estudos de coorte analisados nesse estudo relacionam o consumo de ultraprocessados com o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer. Além disso, mostrou relação do consumo de alimentos ultraprocessados com depressão e mortalidade por todas as causas, o que traz importantes implicações para a saúde pública. |
Rocha, et al., 2021 | Influência dos alimentos funcionais na incidência das doenças crônicas não transmissíveis (dcnt). | Analisar o consumo de alimentos funcionais com a redução na incidência de DCNT, tais como: Diabetes Mellitus, Doenças Cardiovasculares, Hipertensão e Cânceres. | Pesquisa bibliográfica e exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa doenças crônicas. | O consumo de alimentos funcionais, são benéficos aos consumidores, tornando-se assim uma estratégia para a promoção de saúde e auxílio para reduzir as |
Faria, et al., 2020 | Cenário nutricional e análise da alimentação de escolares no Brasil: uma revisão de literatura. | Investigar o cenário nutricional e analisar na literatura os efeitos da educação alimentar e nutricional no Brasil. | Revisão bibliográfica | O estudo mostrou que é importante intervir nas práticas nutricionais nas escolas através do diagnóstico e o acompanhamento do estado nutricional, tornando imprescindível a longo prazo para a promoção da saúde e prevenção de futuras DCNT’s. |
Pereira, et al., 2020 | A importância da educação alimentar e nutricional para alunos de séries iniciais | Apresentar práticas pedagógicas realizadas no ambiente escolar que promovam a educação alimentar e nutricional dos estudantes. | Revisão de literatura | A formação dos hábitos alimentares são construídos na infância, sendo a escola um ambiente propício a implementar ações de educação nutricional. Sabe-se que a promoção da alimentação saudável é um método eficaz no combate e prevenção à obesidade e à desnutrição. As melhores estratégias são aquelas que podem estimular a participação e interação de todos, uma forma é inserir em algo que a criança já tenha interesse. |
Lemos e Pereira, 2019. | Educação alimentar e nutricional no ambiente escolar: uma revisão da literatura. | Analisar a importância e influência da educação alimentar e nutricional no âmbito escolar. | Revisão bibliográfica | A mudança no comportamento alimentar e o aumento de alimentos ultraprocessados contribuem para maus hábitos alimentares, elevando a prevalência da obesidade, que atualmente acomete até o público infantil. Se tornando um problema de saúde pública, visto que está associado ao aumento de diversas DCNT. |
FONTE: Elaboração própria, 2024.
4. Discussão
O atual modelo de alimentação da população consiste em um aumento no consumo de alimentos processados e ultraprocessados, segundo Louzada et al., (2021) o consumo de alimentos in natura é cada vez menor e esse atual cenário está relacionado com aumento de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) e aumento da mortalidade, gerando implicações para a saúde pública. Dados semelhantes foram encontrados no estudo realizado por Silva, et al., (2022) que mostrou que os hábitos alimentares dos brasileiros sofreram grandes alterações e que o consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez maior, esse aumento foi relacionado ao custo dos produtos e praticidade que eles oferecem, consequentemente as crianças acabam tendo alimentos ultraprocessados logo na sua introdução alimentar.
Sabe-se que atualmente o desenvolvimento de DCNT já é considerado uma pandemia e entre a população infantil a obesidade pode ser relacionada com o desmame precoce e a introdução de alimentos industrializados. A introdução de dietas obesogênicas logo nos primeiros anos de vida possuem efeitos negativos a longo prazo para as crianças, aumentando os riscos de uma doença crônica também na fase adulta
Dados esses que corroboram com o encontrado no estudo realizado por Pereira, et al., (2020) e Kuhn, Merheb e Garcia, (2021) onde mostrou a importância do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e uma introdução alimentar de qualidade com alimentos in natura, visto que os hábitos alimentares são formados na primeira infância. Pereira, et al., (2020) ainda afirma que o ambiente escolar é propício a implementar ações de educação nutricional. Visto que a promoção da alimentação saudável é um método eficaz no combate e prevenção à obesidade e à desnutrição. Para Coelho, et al., (2019) a promoção de uma alimentação balanceada pode ocorrer dentro dos colégios através da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) sobre lanches domésticos ou comprados na própria escola voltadas para o público infantil. É
uma ferramenta de promoção de saúde que visa prevenir e controlar as Doenças Crônicas não transmissíveis e deficiências nutricionais.
De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 02 anos (2019), os primeiros anos de vida são os mais importantes para um crescimento saudável e pode repercutir ao longo da vida do indivíduo. Sabe-se que o ambiente sociofamiliar e escolar tem um papel indispensável para a saúde de uma criança e os bons hábitos alimentares devem ser desde a introdução alimentar.
Na pesquisa realizada por Giesta et al, (2019) em um hospital terciário de Porto Alegre, os resultados chamam atenção, visto que os primeiros anos de vida, período intrauterino e primeiros dois anos de vida, são mais sensíveis aos fatores metabólicos e podem causar consequências a curto e longo prazo na saúde. Sendo assim, a alimentação inadequada pode causar obesidade infantil e DCNT na fase adulto, considerando que alimentos ultraprocessados geram grandes impactos sobre a saúde.
Ainda que sendo possível afirmar os danos que os alimentos ultraprocessados podem causar, o estudo realizado por Zamoner, (2022) e Oliveira, et al., (2023) afirmam que a introdução alimentar é imprescindível para a adesão de bons hábitos no decorrer da vida, visto que os hábitos alimentares são formados na infância.
Os hábitos alimentares são formados pelo ambiente social, escolar e familiar em que a criança está inserida, por isso, é de extrema importância que logo na introdução alimentar seja adotado um padrão alimentar saudável. O estudo realizado por Cainelli, (2020) mostrou que os pais que possuem uma alimentação saudável tendem a ter filhos com uma alimentação mais saudável, uma vez que o círculo familiar desempenha grande influência na alimentação dos filhos.
O estilo de vida das crianças está associado a obesidade infantil, alguns fatores podem contribuir, como, consumir as refeições fora do domicílio, ausência dos pais durante a alimentação, brinquedos e tecnologia, a falta de tempo para preparar alimentos, o retorno da mãe para a jornada de trabalho, acesso aos alimentos industrializados de forma precoce, necessidade de deixar a criança com um parente ou creche (Lopes, et al., 2018).
Para Fisberg et al., (2016) um lanche com nutrientes necessários é composto por uma porção de carboidrato, uma de proteína, uma fruta, uma bebida sem adição de açúcar, priorizando sempre o alimento in natura e conscientizando os riscos de consumir alimentos industrializados. Dados esses que são confirmados na pesquisa realizada por Louzada, et al., (2021) que demonstrou que o alto consumo de alimentos industrializados por pré escolares e a baixa ingestão de frutas e verduras estão relacionados com o risco de sobrepeso e obesidade.
Outro estudo elaborado por Lopes et al., (2018) mostrou que os pré escolares consomem mais doces, refrigerantes, guloseimas e sal, por outro lado o consumo de frutas, legumes, carnes e verduras são menores. Cabe ressaltar que o estilo de vida é um fator determinante para a saúde e que as crianças não detêm poder de compra, sendo escolha dos pais a alimentação. Ademais, o consumo elevado de alimentos industrializados com um alto teor energético, rico em carboidratos simples e gorduras saturadas, atrelado a baixa oferta de vitaminas e minerais está prejudicando o desenvolvimento e o estado nutricional das crianças (Boff, Piasetzki, 2018).
5. Conclusão
Pode-se concluir que é necessário o cuidado com alimentação desde a introdução alimentar, uma vez que a obesidade e outras doenças crônicas podem ser consequências de uma alimentação rica em alimentos industrializados, que por sua vez são ricos em carboidratos simples e gorduras saturadas atrelado a baixa oferta de vitaminas e minerais.
Vale ressaltar que a família e escola desempenham papel importante para construção de bons hábitos alimentares, consequentemente são capazes de prevenir DCNT, dessa forma, a escola deve promover ações de educação nutricional a fim de garantir que os pais sejam conscientizados do impacto que uma boa alimentação pode causar na vida de um indivíduo.
6 Referências
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1Centro Universitário Redentor (UniREDENTOR), Itaperuna, RJ, Brasil;
2Centro Universitário Redentor (UniREDENTOR), Itaperuna, RJ, Brasil, Endereço Institucional: Avenida Presidente Dutra, 1155 – Cidade Nova, Itaperuna, RJ, Brasil