A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA NOS CUIDADOS A PACIENTES PORTADORES DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7982918


Maria Crisllane Duarte da Silva1
Esp. Laynara Santos Silva2


RESUMO:

O atendimento diferenciado à criança com transtorno do espectro do autismo (TEA) confere ao farmacêutico uma contribuição significativa no manejo do tratamento e no desenho do perfil farmacoterapêutico, além de fornecer esclarecimentos básicos à família da criança autista que estará com ela todos os dias e será responsável pela administração de medicamentos quando necessário. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é relatar sobre a importância da atenção farmacêutica nos cuidados de pacientes com Transtorno do Espectro Autista. Este estudo é uma revisão bibliográfica, qualitativa e descritiva. A coleta de dados foi realizada mediante busca eletrônica, nas bases de dados National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para compor a buscas dos dados, foram utilizados os Descritores de Ciências da Saúde (DeCS). Portanto, dada a importância do tema, o farmacêutico tem um papel de extrema importância no acompanhamento do paciente e na informação sobre os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, pois é na assistência farmacêutica ao paciente com TEA que ele pode intervir neste acompanhamento com instruções. uso apropriado de medicamentos, coordenação terapêutica, revisão, monitoramento e dosagem.

Palavras-chave: Autismo. Atenção farmacêutica. Farmácia.

ABSTRACT:

Differentiated care for children with autism spectrum disorder (ASD) gives the pharmacist a significant contribution in managing the treatment and designing the pharmacotherapeutic profile, in addition to providing basic information to the family of the autistic child who will be with him every day and will be responsible for administering medication when needed. In this sense, the objective of this study is to report on the importance of pharmaceutical care in the care of patients with Autistic Spectrum Disorder. This study is a bibliographical, qualitative and descriptive review. Data collection was performed by electronic search in the National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) databases. To compose the data searches, the Health Sciences Descriptors (DeCS) were used. Therefore, given the importance of the topic, the pharmacist has an extremely important role in patient monitoring and information about the possible side effects of medications, as it is in pharmaceutical care for patients with ASD that they can intervene in this monitoring with instructions. appropriate use of medications, therapeutic coordination, review, monitoring and dosing.

Keywords: Autism. Pharmaceutical attention. Pharmacy.

1 INTRODUÇÃO

O atendimento diferenciado à criança com transtorno do espectro do autismo (TEA) confere ao farmacêutico uma contribuição significativa no manejo do tratamento e no desenho do perfil farmacoterapêutico, além de fornecer esclarecimentos básicos à família da criança autista que estará com ela todos os dias e será responsável pela administração de medicamentos quando necessário, evitando possíveis erros de administração e interações medicamentosas. Além dos cuidados de gestão do tratamento e do desenho de um perfil farmacoterapêutico, a prática da atenção farmacêutica à criança com autismo inclui as seguintes etapas: identificação do problema, prescrição do tratamento, desenvolvimento de um tratamento planejar e terminar fornecendo monitoramento e rastreamento (FERNANDES et al., 2017).

A causa do TEA ainda não é totalmente compreendida. A investigação científica centra-se no estudo da suscetibilidade genética, na análise das mutações espontâneas que podem ocorrer durante o desenvolvimento fetal e na herança genética de pais para filhos. No entanto, já existem evidências de que as causas genéticas explicam apenas metade do risco de TEA. Fatores ambientais que afetam o feto, como estresse, infecção, exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos, além de outros, como disfunção mitocondrial e neuro inflamação, aumentam a probabilidade de doença (COSTA et al., 2021)

Os tratamentos farmacológicos incluem psicoestimulantes, antipsicóticos atípicos, antidepressivos e agonistas dos receptores alfa-2. Esses medicamentos fornecem alívio sintomático parcial dos principais sintomas do TEA ou controlam os sintomas de condições concomitantes. Mais do que medicamentos, o uso de vitaminas, remédios fitoterápicos e suplementos nutricionais em combinação com terapias farmacológicas e comportamentais demonstrou melhorar os sintomas do TEA, embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar esses benefícios. Portanto, a terapia medicamentosa é selecionada dependendo da condição individual do paciente, mas não há critérios de testes objetivos ou biológicos para avaliar a eficácia da terapia medicamentosa nestes pacientes (PAULA; CAMPO; SOUZA, 2021).

Nesse sentido, o objetivo desse estudo é relatar sobre a importância da atenção farmacêutica nos cuidados de pacientes com Transtorno do Espectro Autista.

Diante do exposto, esse trabalho se justifica por contribuir com informações relevantes sobre a atuação do profissional farmacêutico e a atenção farmacêutica em pacientes com Transtorno do Espectro Autista, para tal, esse profissional deverá usar toda sua técnica para executar as atividades de assistência em tempo integral, bem como compreender a importância de orientar a família dos pacientes corretamente, além da sua própria qualificação. Para a comunidade acadêmica e sociedade os dados elencados serão fundamentais para servir como base de pesquisa, pois trará estudos recentes e de alto impacto para discussão. Assim, as informações organizadas poderão ser usadas para palestras em faculdades, aulas e distribuição de conteúdo através de redes de comunicação.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O transtorno de autismo é o conjunto de condições com manifestações comportamentais que se comprometem no desenvolvimento sociocomunicativo e comportamentos estereotipados (repetitivos). Com sintomas que dificultam o funcionamento de quem têm (RUTTER, 2011).

O seu início pode ser manifestado pela variação na intensidade e sintomas que identificam diversas características e manifestações clínica distinta um do outro. Baseando na apresentação de relato e desenvolvimento que indiciam esse caso (FOMBONNE, 2009, P. 591).

Segundo DSM-5 (APA,2013), as primeiras identificações ocorrem antes de dois anos, com alguns sinais que podem surgir até menos de 12 meses de idade da criança, como exemplo de sintomas, pode ocorrer em alguns a falha no contato ocular (CHAWARSKA ET AL., 2007, P. 62)

Na literatura a intervenção da educação, quando ocorrida precocemente, minimiza o impacto de alterações do TEA, abrangendo o desenvolvimento e trabalho cerebral para obter resultados de fatores protetores nesses casos (MANDELL ET AL., 2009, P. 493). Existem causas que pode retardar a identificação desses comportamentos da criança, sendo grande parte dos diagnósticos serem constatado após cinco anos de idade.

Siklos e Kerns (2007, p. 9), ressalta sobre alguns fatores que podem atrasar a identificação de diagnóstico. Sendo eles:

1) Variabilidade dos sintomas do TEA.

2) Limitações da avaliação das crianças pré-escolares.

3) Falta de profissionais treinados, habilitados para reconhecer as manifestações precoces do transtorno.

4) Escassez dos serviços especializados.

Diante a isso, assim que a criança comprovar atrasos e desvio nos desenvolvimentos psicomotor, deve ser encaminhada para avaliação, assim podendo agir para intervir de maneira positiva no desenvolvimento.

Na participação escolar, os professores em convívio cotidiano, pode observar a dificuldade de quem tem o autismo em se relacionar aos demais. Podendo até mesmo ser difícil a comunicação com a própria professora (Gray & Tonge, 2001, p. 221). O déficit varia de forma cognitiva, alguns casos mais graves são de fácil identificação, porém a casos que quem tem apresenta desenvolvimento motor normal, mas se comportam de maneira reclusa e inadequada (CHAKRABARITI, 2009).

Alguns sintomas podem ser classificados também pela falta de apego, sendo caracterizado pela irritabilidade até mesmo em ambientes familiar. Assim variam conforme cada um. Pelos pais o principal sintoma é o do atraso na comunicação, e assim as formas de simbolização motora. Como nas brincadeiras, alimentações, alterações de sonos e entre outros. (JOHNSON, 2008, P. 86)

Houve um estudo feito por Werner e Saint Georges que relatam o estudo de três grupos distintos, onde puderam observar o Desenvolvimento típico, atraso de linguagem e TEA indiciou que os comportamentos sociais são os melhores indicadores para o diagnóstico diferencial entre os quadros, uma vez que as crianças com TEA apresentaram sintomas como pouco contato ocular, falta de orientação ao ser chamado pelo nome e falta de engajamento nas interações sociais principalmente na atividade de atenção compartilhada.

Muitas coisas podem ser identificadas para variação dos diagnósticos, sendo alguns identificado no olhar, sorriso sociável, falas a partir de seis meses. As habilidades requerem atenção compartilhada nos sinais precoces, sendo capaz de evidenciar nos detalhes a diferença entre as demais crianças.

Os autistas tendem a ser aptos a situações de inabilidade, sendo conforme a saber como agir em determinadas situações, quando alteradas não conseguem ter concepções para reagir e se adaptar ao novo surgimento, assim uma dificuldade de nível acentuado e preocupante, pois as estratégias fazem tornar-se limitadas ao conhecimento deles (AARONS & GITTENS, 1992, P. 38).

A maioria se mantém a estimulações especificas, podendo ser traduzida como obsessão de manutenção do mesmo jeito que se colocam ou fazem as coisas, repetindo várias vezes e tornando os interesses cognitivos aos períodos anteriores, em sobreposição do modo sensorial que tem. (KANNER 1943, P. 245)

Em modo geral a sua conduta cognitiva detém do déficit no aprendizado, pois se restringem a obter divergentes concepções e modos de pensar sobre a situação, sendo um enquadramento que não evolui, ocorrendo o atraso coeminente de comportamento, em deriva da falta imaginativa pelo que possuem, sendo considerável a manifestação dos polos, para produzir mecanismos que desenvolvam esses pontos.

2.1 Políticas públicas

Quanto às políticas públicas, é importante observar que as pessoas com TEA têm os mesmos direitos que todos os cidadãos do país garantidos pela nossa carta magna e todas as outras leis nacionais. Portanto, crianças e adolescentes com autismo têm todos os direitos previstos no Estatuto da criança e do adolescente (Lei nº8.069/90), enquanto os idosos com mais de 60 anos estão protegidos pelo Estatuto dos Idosos (Lei nº10.741/2003)

2.2 Epidemiologia

De acordo com pesquisadores e avanços da ciência, o autismo não é considerado um transtorno de contato válido, mas sim um transtorno do desenvolvimento, conforme relatado no mundo, de acordo com dados coletados em 2006, 1 em cada 110 crianças sofrem de autismo. A doença afeta principalmente meninos em 1 em 70 porque as meninas estão em menor risco, 1 em 315 e 1 em 5 meninos. (JUNIOR, RIBEIRO, 2010; VOLKMAR; WIESNER, 2019; KITAOKA et al, 2020).

A prevalência do transtorno do espectro do autismo aumentou constantemente nas últimas duas décadas e atualmente estima-se que atinja 1 em 36 crianças. Fatores genéticos, história parental de doença mental, parto prematuro e exposição fetal a psicofármacos ou pesticidas estão associados a um risco aumentado de TEA.(SHARMA; GONDA; TARAZI, 2018).

Há muitas explicações para esse aumento, incluindo a conscientização sobre o tema, a expansão dos critérios diagnósticos, além da melhora nas ferramentas que diagnosticam o transtorno.

2.3 Principais Formas De Tratamento

Crianças com TEA necessitam de terapia medicamentosa porque a farmacologia de cada indivíduo com TEA precisa ser cuidadosamente e individualmente avaliada para entender as necessidades terapêuticas para selecionar a terapia medicamentosa adequada que minimize os efeitos adversos putativos. (MADRUGA, 2012).

Durante a infância e adolescência, o uso de medicamentos recém-disponíveis é cada vez mais frequente à medida que o diagnóstico preciso da doença aumenta nessa faixa etária, promovendo o conhecimento. (ROCHA; BATISTA; NUNES, 2004).

A farmacologia extensiva envolvendo pacientes com TEA às vezes é necessária. Muitas vezes, o diagnóstico é feito na infância, cabendo à mãe ou responsável o manejo de todas as múltiplas medicações que podem interferir na adesão ou não do paciente ao tratamento. No entanto, o profissional mais capaz de conduzir o tratamento farmacológico a fim de evitar interações medicamentosas indesejáveis é o farmacêutico, que tanto no consultório clínico, como numa equipe multidisciplinar hospitalar, pode recomendar a melhor gestão do tratamento, evitando os problemas relacionados com o uso da ampla farmacoterapia (FERNANDES et al, 2017).

Os fármacos mais utilizados após o diagnóstico de TEA, são as classes de psicotrópicos, psiquiátricos, ansiolíticos, antidepressivos, antimaníacos ou estabilizadores de humor, neurolépticos ou antipsicóticos que se dividem para o tratamento do autismo (BALDESSARINI, 2005; SHARMA; GONDA; TARAZI, 2018).

A prescrição médica se torna uma ferramenta essencial para indicação do tratamento, consultando dados de identificação do paciente e do tratamento que será realizado, como posologia, dosagem e a duração do tratamento adequado a cada paciente com o quadro de saúde que se encontra (NASCIMENTO, 2017).

2.4 Assistência farmacêutica x Atenção farmacêutica

A ajuda medicamentosa é uma atividade dinâmica e multidisciplinar que tem como objetivo fundamental garantir que as pessoas tenham acesso a medicamentos essenciais de qualidade, promovendo assim o seu uso racional. (COSTA et al, 2021)

Os termos cuidado com medicamentos e enfermagem são muitas vezes confundidos devido às suas semelhanças, mas cuidado com medicamentos é o conjunto de atividades relacionadas a um medicamento em que o farmacêutico atua em todas as etapas desde a pesquisa de um novo medicamento até o alcance dos usuários. , O atendimento farmacêutico é uma série de ações realizadas pelo farmacêutico para orientar e monitorar o uso correto do medicamento, coordenação do tratamento, revisão do medicamento, que é uma ação no atendimento farmacêutico. (COSTA et al, 2021; ARAUJO et al, 2017; BRASIL ,2009).

O uso inadequado de medicamentos pode levar a interações medicamentosas que tornam os pacientes vulneráveis ​​a esses efeitos adversos, colocando-os em risco. (PAULA; CAMPO; SOUZA, 2021).

O uso de vários medicamentos está se tornando mais prevalente na prática clínica e entre pacientes com doenças que requerem cuidados paliativos, pois esse crescimento é composto por vários fatores, incluindo o aumento das expectativas mais altas para diferentes condições de saúde, disponibilidade de medicamentos em combinações recomendadas. (NASCIMENTO, 2017).

A assistência medicamentosa na Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) é definida como uma ação dentro da assistência medicamentosa e é vista como um modelo de prática realizada pelos farmacêuticos. Politicamente, os modos de ação incluem a ação direta dos farmacêuticos contra os pacientes, com o objetivo de fornecer uma farmacoterapia racional e obter resultados clínicos estipulados e determináveis, além de conceber essa atividade como importante para a plenitude das ações de saúde (ARAUJO ET AL, 2017; COSTA, 2021).

Não raro o paciente com TEA receba múltiplas medicações. Por vezes, os medicamentos são acrescentados conforme surgem novos sintomas ou problemas. Em outros casos uma segunda medicação pode ser acrescentada para controlar os efeitos colaterais da primeira. Outros profissionais da área médica também podem prescrever medicamentos como os odontologistas, e é importante que o provedor de cuidados primários se mantenha informado sobre essa farmacoterapia (VOLKMAR; WIESNER, 2019).

A atenção farmacêutica para o paciente com transtorno autista, não envolve somente o tratamento farmacológico, mas sim a orientação para o uso correto e monitoramento quanto à dosagem e via de administração (BISSON, 2007; BRASIL, 2009).

3 METODOLOGIA

Este estudo é uma revisão bibliográfica, qualitativa e descritiva a respeito da atenção farmacêutica para o tratamento de pacientes portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de obras já publicadas em plataformas digitais e que abordam o tema a ser discutido, a pesquisa é uma diversidade de ideologia que enriquecem na construção do conhecimento. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL, 2002).

Como critérios de inclusão, foram citados a utilização de trabalhos científicos (artigos, dissertações e teses) publicados a partir de 2015. Os sujeitos da pesquisa foram artigos, sites e revistas que abordam o tema escolhido. Ressalta-se ainda, a utilização de manuais do Ministério da Saúde do Brasil como fonte de dados. Os critérios de exclusão foram artigos duplicados, fora da linha temporal, capítulos de livros, resumos publicados em anais de congressos e que não sigam o eixo temático escolhido.

A coleta de dados foi realizada mediante busca eletrônica, nas bases de dados National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para compor a buscas dos dados, foram utilizados os Descritores de Ciências da Saúde (DeCS): Autismo, atenção farmacêutica e farmácia. Os operadores booleanos OR e AND também são usados ​​junto aos descritores.

Assim, para análise de conteúdo e classificação dos artigos foram seguidos os seguintes passos, segundo Bardin (1997):

a) Pré-análise: leitura flutuante do material coletado; constituição do corpus da pesquisa;

b) Exploração do material: recorte em unidades de registro de contexto; codificação e classificação segundo categorias empíricas e teóricas;

c) Tratamento dos dados e interpretação: análise final dos dados obtidos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme manual que trata sobre linha de cuidados para pessoas autistas, o Ministério da Saúde pontua que os Transtornos do Espectro Autista estão incluídos entre os transtornos mentais de início na infância, sendo que estes são definidos por uma expressão clínica mental, ou seja, “por alterações da experiência subjetiva e do comportamento que se manifestam independentemente das causas subjacentes, sejam estas biológicas, psicológicas ou sociais” (BRASIL, 2015).

Dentre as várias manifestações que devem ser observadas, Pinto et al. (2016) abordam os prejuízos qualitativos da comunicação verbal e não verbal, na interatividade social e na restrição do seu ciclo de atividades e interesses, considerando as manifestações clínicas com sinais as que possuem expressividade variável e tem início antes dos três anos de idade. Além dessas, os autores também incluem movimentos estereotipados e maneirismos, padrão de inteligência variável e temperamento extremamente lábil.

Argumentam que comumente as manifestações clínicas são observadas por pais, cuidadores e familiares, sendo que o reconhecimento da sintomatologia manifestada pela criança com autismo é de suma importância para a obtenção do diagnóstico precoce (PINTO et al., 2016). Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde frisa ser necessária a associação da condição clínica com algum prejuízo funcional para que uma condição clínica seja considerada um transtorno mental, e que os transtornos globais do desenvolvimento que correspondem aos TEA afetam uma ampla gama de funções psíquicas, considerando estes transtornos como invasivos ou abrangentes do desenvolvimento (BRASIL, 2015).

Fernandes et al. (2017) corroboram com o estudo das manifestações clínicas ressaltando que geralmente o transtorno está associado com outros problemas neuronais como o retardo mental e crises convulsivas, frisando que as convulsões podem trazer sérios riscos ao paciente, sendo a mesma uma desordem da atividade cerebral acontecendo de forma descoordenada e exacerbada.

Neste cenário, é discutido pelo Ministério da Saúde (2015) que o autismo infantil é mais prevalente em meninos e sempre se instala antes dos três anos de idade, sendo incluídos nos critérios para diagnóstico os prejuízos persistentes em três áreas: interação social recíproca, comunicação verbal e não verbal, e repertório de interesses e atividades.

No que tange a interação social recíproca, destaca-se o fato da criança poder recusar o contato físico, visual, não ter iniciativa para se aproximar das pessoas, manter-se isolada e não atender quando chamam pelo seu nome. Já na comunicação verbal e não verbal, estão ausentes o uso da linguagem e das expressões faciais objetivando a comunicação; surgimento da fala pode estar atrasado e as que falam costumam não usar a primeira pessoa “eu”, se referindo apenas na terceira pessoa; entonação e ritmo da fala podem ser estranhos; dificuldade para entender o duplo sentido, o humor e a ironia (BRASIL, 2015).

Tratando-se do repertório de interesses e atividades, o mesmo se apresenta como restrito e estereotipado, com jogos comumente ausentes; pode haver apego e manipulação de objeto selecionado; há preocupação com a manutenção de rotinas, rituais e ordenação de brinquedos; em casos mais graves, podem existir vocalizações e movimentos corporais repetitivos (BRASIL, 2015).

Embora o diagnóstico definitivo para TEA só possa ser firmado após os três anos de idade, a identificação dos riscos pode e deve ser realizada precocemente, sendo um dever do Estado, pois a prevenção dos agravos, a promoção e proteção da saúde integram os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2015). Diante disso, o Ministério da Saúde (2015), no manual de cuidado para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), elaborou um quadro com características para ajudar na detecção precoce da patologia, podendo o mesmo ser utilizado por profissionais de diversas áreas, inclusive a farmacêutica, bem como por familiares que percebam alguma característica diferente na criança.

Quadro1 – Características Clínicas de Crianças com Risco para TEA

De 6 a 8 mesesDe 12 a 14 mesesPor volta de 18 meses
Não apresentam iniciativa em começar, provocar e sustentar interações com os adultos próximos (por exemplo: ausência da relação olho a olho).Não respondem claramente quando são chamados pelo nome.Não se interessam por jogos de faz- de-conta.
Não se interessam pelo prazer que podem provocar no outro.Não demonstram atenção compartilhada.Ausência da fala ou fala sem intenção comunicativa.
Silenciamento de suas manifestações vocais, ausência do balbucio, principalmente em resposta ao outro.Ausência do apontar protodeclarativo, na intenção de mostrar algo a alguém.Desinteresse por outras crianças: preferem ficar sozinhas e, se ficam sozinhas, não incomodam ninguém.
Ausência de movimentos antecipatórios em relação ao outro.Não há ainda as primeiras palavras ou os primeiros esboços são de palavras estranhas.Caso tenham tido o desenvolvimento da fala e interação, podem começar a perder essas aquisições.

Não se viram na direção da fala humana a partir dos quatro primeiros meses de vida.

Não imitam pequenos gestos ou brincadeiras.
Já podem ser observados comportamentos repetitivos e interesses restritos e estranhos (por exemplo: por ventiladores, rodas de carrinhos, portas de elevadores).
Não estranham quem não é da família mais próxima, como se não notassem diferença.Não se interessam em chamar a atenção das pessoas conhecidas e nem lhes provocar gracinhas.Pode aumentar seu isolamento.

Fonte: BRASIL, 2015.

Portanto, diante do quadro percebe-se que no Brasil já existem instrumentos que ajudam os profissionais da saúde a identificarem os fatores de risco para o TEA, norteando os atendimentos clínicos em crianças até três anos de idade, podendo ser identificado os sinais precoces, bem como as dificuldades existentes nos campos da interação social recíproca, comunicação verbal e não verbal, e repertório de interesses e atividades (BRASIL, 2015).

O Ministério da Saúde também enfatiza que o processo envolvendo o diagnóstico deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, pois está equipe deve estar com a criança em diversos processos do atendimento e acompanhamento, tais como: atendimentos individuais, atividades livres e acompanhamento farmacoterapêutico. Sem a presença dessa equipe, corre-se o risco de reduplicação da problemática, causando problema na estrutura familiar e adiando o início do tratamento (BRASIL, 2015).

Oliveira et al. (2015) enfatizam que a abordagem medicamentosa não deve se constituir como a única abordagem terapêutica, mas deve ser parte de um programa abrangente de tratamento a ser realizado por uma equipe multiprofissional, pois nem todos os portadores do transtorno necessitaram de medicamentos.

Os medicamentos existentes para o autismo não agem sobre o TEA, são destinados aos sintomas-alvos da patologia, sendo o uso destes ainda de forma incipiente, devendo-se levar em consideração os efeitos adversos em decorrência da droga utilizada (OLIVEIRA et al., 2015).

Os psicofármacos disponíveis não produzem melhoras nas características centrais que incluem as dificuldades de comunicação, sociais, os interesses e limitações, apenas atuam em certos sintomas que prejudicam intensamente a convivência da criança com autismo, agindo nas condutas agressivas, na inquietude, raiva, descontrole e sono (BRASIL, 2015).

Outras estratégias de cuidado devem ser inseridas juntamente com os medicamentos, devendo a introdução de psicofármacos ser discutida em equipe multiprofissional, bem como a retirada de algum medicamento deve fazer parte do projeto terapêutico do paciente e ser discutido com a família (BRASIL, 2015).

Dentre as principais categorias de psicofármacos utilizados, estão os ansiolíticos-sedativos, antidepressivos, estabilizadores do humor e os antipsicóticos. Destes, os mais utilizados no tratamento do autismo infantil são os Antidepressivos e os Antipsicóticos, porém outros são utilizados para agirem em diversas áreas do transtorno, ajudando o paciente diante dos sintomas-alvos característicos da patologia (OLIVEIRA et al., 2015).

Quadro2 – Principais psicofármacos utilizados no tratamento do TEA infantil

CATEGORIASUSOCLASSESFÁRMACOS


Ansiolíticos-sedativos

Distúrbios da ansiedade e sonolência
Benzodiazepínicos,Dizepan, Clonazepan, etc.
Azapironas,Buspirona
CiclopirrolonasZopiclona, etc.




Antidepressivos




Elevam o humor
Tricíclicos,Amitriptilina, Imipramia, etc.
IMAOs,Iproniazida, Fenelzina, etc.
ISRSsNortriptlina, Fluoxetina, etc.

Estabilizadores dohumor
Distúrbios afetivos ou do humor e condições relacionadaLítio+,Carbonato de lítio,
Antiepiléticos / anticonvulsivantesCarbamazepina, Ácido Valpróico, Gabapentina, etc.



Antipsicóticos ouneurolépticos



Tratamento das psicoses e as manias
FenotiazinasClorpromazina, Tioridazina, etc.
TioxantenosClorprotixeno, Tiotixeno,

Heterocíclicos
Clozapina, Haloperidol, Olanzapinas, Rispridona, etc.

Fonte: OLIVEIRA et al. (2015).

Diante dos medicamentos utilizados, Oliveira et al. (2015) pontuam que os psicofármacos são necessários, porém trazem inúmeros efeitos colaterais e podem ocasionar dependência. Dentre as reações adversas, os autores citam: vômito, cefaleia e edema. Também enfatizam que as falhas terapêuticas neste processo se devem principalmente a dosagem inadequada, falta de adesão e duração insuficiente do tratamento.

Neste cenário, a ampla farmacoterapia em alguns casos se torna necessária e o acompanhamento farmacoterapêutico torna-se essencial, pois os pais geralmente são os que administram o medicamento e podem interferir na adesão terapêutica do paciente, sendo importante ter o acompanhamento pelo farmacêutico, pois é o profissional que conhece os medicamentos e suas interações, bem como é ele que pode sugerir a melhor conduta no manejo terapêutico (FERNANDES et al., 2017).

Luleci et al. (2016) pactuam desta linha de pensamento e pontuam que embora existam essas barreiras, as mesmas podem ser superadas através da familiarização do profissional com TEA, com os recursos disponíveis à população e em relação à farmacoterapia. Além disso, o farmacêutico pode ser um protagonista no desenvolvimento da consciência pública sobre o autismo e atuar em uma questão social presente na vida dos portadores do TEA: a estigmatização.

Neste aspecto, estando o profissional empoderado sobre o TEA, destaca-se à atuação do farmacêutico no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. Embora não existam muitas pesquisas que discorram sobre a abordagem farmacêutica ao paciente com TEA no SUS, salienta-se que este campo de atuação profissional é um importante caminho para o desenvolvimento de ações educativas e de orientação sobre o autismo, bem como no combate à estigmatização do autista. No SUS projetos terapêuticos são realizados e necessitam de abordagem que envolvam vários profissionais, dentre eles, o farmacêutico (BRASIL, 2015).

Tendo em vista que o autismo está presente nas famílias de todos os níveis socioeconômicos, o farmacêutico atuante na política pública de saúde pode desenvolver atividades como: atenção farmacêutica; abordagem medicamentosa; monitoramento e acompanhamento do paciente; palestras e discussões educativas isentas de preconceito de todo o processo de assistência à saúde ao indivíduo com TEA, disseminando o conhecimento e buscando evitar a prática da estigmatização (LULECI et al., 2016).

No que tange à abordagem medicamentosa, monitoramento e acompanhamento do paciente, o farmacêutico, em uma abordagem multiprofissional colabora para que seja traçado um plano terapêutico específico a cada paciente que priorize suas necessidades individuais. Assim, neste plano, serão levadas em consideração questões cruciais como a identificação, resolução e prevenção de algum problema relacionado ao uso do medicamento, ajudando assim o autista e sua família (LULECI et al., 2016).

6 CONCLUSÃO

O autismo afeta várias habilidades: relações sociais, comunicação, verbal e não verbal, comportamento com gestos estereotipados e repetitivos, rituais, interesses limitados. É basicamente definida por distúrbios de comunicação e linguagem que afetam a comunicação, a comunicação e o comportamento. Existem vários estudos que mostram a evolução de crianças com transtornos autistas durante o tratamento precoce, o que pode levar a uma vida com qualidade na vida adulta. Esses distúrbios aparecem precocemente e persistem na idade adulta, apesar de vários tratamentos. Manifestam-se, entre outras coisas, com a capacidade de gerir as relações com outras pessoas, problemas comportamentais, estereótipos, isolamento, distúrbios de sensibilidade, etc.

Portanto, dada a importância do tema, o farmacêutico tem um papel de extrema importância no acompanhamento do paciente e na informação sobre os possíveis efeitos colaterais dos medicamentos, pois é na assistência farmacêutica ao paciente com TEA que ele pode intervir neste acompanhamento com instruções. uso apropriado de medicamentos, coordenação terapêutica, revisão, monitoramento e dosagem. Este estudo fornece um quadro teórico para profissionais, estudantes e público em geral sobre o desempenho no atendimento e inclui orientações sobre o acesso à aprendizagem; contribui com suporte teórico para implementação de políticas públicase oferece novas perspectivas a serem exploradas em pesquisas futuras.

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmico(s) do curso de Farmácia da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN, endereço eletrônico.

2 Orientador, Titulação, Professor do curso… da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN, endereço eletrônico.