A IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À PUÉRPERA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12205176


Helena Fernandes Rodrigues 
Stefany Ribeiro Corsini
Andreia Majella da Silva Duarte Esteves


Resumo 

Introdução: O puerpério é o período do ciclo gravídico-puerperal que corresponde à involução física da gravidez e à transição para a maternidade. Começa logo após a expulsão da placenta e termina cerca de seis semanas após o nascimento do bebê. Objetivo: investigar a importância da assistência de enfermagem à puérpera. Metodologia: Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL). A busca pelos artigos foi realizada no mês de abril de 2024 nas seguintes bases de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google Scholar, no qual foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais disponíveis na íntegra, publicados nas línguas portuguesa e inglesa, entre os anos de 2014 e 2024. Foram empregados, como critérios de exclusão: estudos que não englobavam a temática escolhida, que estavam repetidos nas bases de dados, teses e dissertações. Os artigos selecionados para compor o estudo foram captados a partir da utilização de uma estratégia de busca elaborada por meio de descritores consultados previamente nos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e no (MeSH) e conectados por meio dos conectores booleanos “AND” e “OR”. Discussão: O enfermeiro é considerado profissional em tempo integral na assistência à puérpera. Esses cuidados vão além da avaliação rotineira e permeiam o bem-estar físico e emocional, as redes de apoio familiar, o histórico materno pregresso e as orientações pós-alta, como também inclui o planejamento reprodutivo. Além disso, como líderes de enfermagem, os enfermeiros possuem habilidades e competências para atuar no manejo clínico e no ensino do pós-parto. Portanto, a criação do vínculo entre o enfermeiro e a puérpera é essencial no cuidado pós-parto, tendo em vista que é a partir de uma relação dialógica que serão construídos instrumentos facilitadores para a adesão de boas práticas em saúde. Considerações finais: Identificou-se maior escassez de materiais que tratassem sobre a assistência do enfermeiro no ambiente hospitalar, refletindo assim na necessidade de se pensar em novos estudos, bem como elevar os olhares voltados à temática. 

INTRODUÇÃO 

O puerpério é o período do ciclo gravídico-puerperal que corresponde à involução física da gravidez e à transição para a maternidade. Começa logo após a expulsão da placenta e termina cerca de seis semanas após o nascimento do bebê. Este período tem várias características, como mudanças físicas e adaptações emocionais que podem gerar desafios que prejudicam a relação mãe-filho. Embora se espere que este seja um período saudável, podem surgir problemas físicos, subjetivos e sociais. As profundas transformações vividas durante este ciclo podem expor as mulheres a problemas específicos de morbilidade e mortalidade materna (Castiglioni et al., 2020). 

Assim, o acompanhamento da puérpera é de suma importância, uma vez que essa sofre com uma série de mudanças significativas na sua vida, seja com as alterações ocorridas no seu corpo, ou com as dificuldades enfrentadas na aquisição da nova realidade de ser mãe. Sabe-se que grande sofrimento e ansiedade podem surgir na passagem do período puerperal, tais sentimentos não acometem somente à mulher, mas também à família e amigos, podendo intensificar ainda mais as dificuldades enfrentadas até então (Alves; Lovadini; Sakamoto, 2021). 

Observa-se que, especialmente no Brasil, a saúde materno-infantil está cada vez mais em pauta, por conta das dificuldades relacionadas ao cuidado de “mulheres plurais” e seus futuros bebês. Essas dificuldades acabam se arrastando desde a concepção, passando pela gravidez e, sendo observadas até o momento do pós-parto (Castro et al., 2021). Com isso, quando se chega ao puerpério observam-se desfechos bastante prejudiciais que reduzem o bem-estar e a saúde das mães e de seus bebês, por conta da falta do apoio necessário durante esse período de grande sensibilidade (Castiglioni et al., 2020). 

Observa-se que a saúde puerperal é um assunto relativamente novo (alguns autores, apontam para o surgimento de normativas relacionadas à questão somente na década de 70) que carrega uma série de lacunas relacionadas ao processo de acolhimento e informação às puérperas (Silva; Krebs, 2021), o que justifica o investimento em novas pesquisas e no desenvolvimento de boas práticas no cuidado das puérperas. Com isso, é possível promover o aprimoramento da prática profissional, especialmente da enfermagem (que tem contato direto com as pacientes). 

Por esse motivo, no presente estudo visa investigar a importância da assistência de enfermagem à puérpera. 

2 METODOLOGIA  

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL) na qual foi elaborada seguindo seis passos metodológicos: 1) Elaboração da pergunta norteadora; 2) Busca ou amostragem na literatura; 3) Coleta de dados; 4) Análise crítica dos estudos incluídos; 5) Discussão dos resultados; 6) Apresentação da revisão integrativa (Mendes; Silveira; Galvão, 2008). 

A pergunta de pesquisa utilizada no presente estudo foi elaborada segundo a estratégia PICo, na qual, P = População, I = Intervenção, Co = Contexto, no qual se estruturou da seguinte forma: P – puérperas; I – assistência de enfermagem; e Co–assistência de enfermagem no período puerperal. Dessa forma, a pergunta norteadora do estudo foi a seguinte: Qual a importância da assistência de enfermagem à puérpera? 

A busca pelos artigos foi realizada no mês de abril de 2024 nas seguintes bases de dados: Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google Scholar, no qual foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais disponíveis na íntegra, publicados nas línguas portuguesa e inglesa, entre os anos de 2014 e 2024. Foram empregados, como critérios de exclusão: estudos que não englobavam a temática escolhida, que estavam repetidos nas bases de dados, teses, dissertações. 

Os artigos selecionados para compor o estudo foram captados a partir da utilização de uma estratégia de busca elaborada por meio de descritores consultados previamente nos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e no (MeSH) e conectados por meio dos conectores booleanos “AND” e “OR”.

Na primeira etapa da aplicação metodológica, foi realizado o cruzamento com os descritores citados acima, sendo encontrados 1.341 artigos. Na segunda etapa, foram aplicados os critérios de inclusão. Assim, foram excluídos 491, restando 850 artigos. Na terceira etapa, foram aplicados os critérios de exclusão, realizada a leitura superficial dos artigos, foram excluídos 829 artigos, restando 21 artigos. Na quarta e última etapa, foi realizada leitura criteriosa de todos os artigos que convergiam para o problema de pesquisa e objetivos do presente estudo, conforme apresentado no Fluxograma 1.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A amostra final da presente revisão foi constituída por 11 artigos. As informações dos estudos selecionados após a leitura na íntegra foram distribuídas no Quadro 1, de modo a facilitar a compreensão do leitor. Para tal, foram extraídas as seguintes informações: autor, título do manuscrito, ano de publicação e principais achados dos estudos conforme apresentado abaixo (Quadro 1). 

Quadro 1 – Título do autor, título, ano e principais achados dos artigos selecionados. 

AUTOR TÍTULO ANO PRINCIPAIS ACHADOS 
Coelho et al.,  Assistência à mulher puérpera: a importância da enfermagem obstétrica. 2024 A assistência de enfermagem às puérperas devem ser pautadas na escuta como instrumento de ação terapêutica, permitindo que todo o cuidado assistencial seja prestado com base nas necessidades expressas pelas pacientes, nos aspectos psicológico, fisiológico e social. Além disso, o repasse das informações, as orientações sobre todos os aspectos dos cuidados durante o puerpério acabam sendo uma das principais contribuições que o enfermeiro pode dar às puérperas. Portanto, o enfermeiro tem um papel fundamental para que o período gravídico puerperal seja saudável, orientando, tirando dúvidas, repassando informações sobre aleitamento materno, planejamento familiar, nos cuidados pós-parto  imediato, sobretudo nos aspectos emocionais da puérpera visto que são comuns problemas de saúde mental durante esse período.  
Silva et al.,  Práticas respeitosas realizadas por enfermeiras no período puerperal. 2023 A assistência de enfermagem inclui práticas respeitosas no puerpério como a escuta qualificada, o suporte físico e emocional, o cuidado holístico e o atendimento às necessidades da puérpera e recém nascido. A assistência humanizada consiste em condutas acolhedoras como ouvir as queixas da puérpera permitindo que ela expresse suas preocupações e angústias. Além disso, a assistência também inclui o exame físico puerperal de forma integral, considerando aspectos físicos e psíquicos, atenção para prevenção de hemorragias pós-parto. 
Silva, Rocha & Souza Cuidados de enfermagem no puerpério e com recém-nascido. 2021 O enfermeiro deve tratar a puérpera como uma existência individualizada com características próprias, sem considerar o período de transição, mas se descrever mais como parte de um processo de aprendizagem de vida maduro e intenso. No período imediato o enfermeiro deve estar sempre atento aos sinais vitais do paciente, identificando assim problemas e obtendo resultados. Nesse período deve ocorrer a deambulação da puérpera, prevenindo de tal modo doenças. O puerpério remoto no período posterior é o estágio básico da rede. A consulta pósparto é fundamental, durante o processo de consulta observar se a mulher recomeçou a menstruação, se já fez sexo, situação da amamentação e orientações.  
Brandão et al., Atuação do enfermeiro no puerpério imediato em uma maternidade hospitalar no Pará 2020 A atuação do enfermeiro no puerpério imediato abrange: avaliar os sinais vitais, observar a loquiação, identificar a formação de globo de segurança de Pinard e orientar sobre a amamentação. Na perspectiva do atendimento integral é dever do profissional acolher com dignidade a puérpera, os cuidados devem focar na prevenção de complicações, conforto físico e emocional e a necessidade de um grande envolvimento em qualquer instância do profissional assistencial. Portanto, o cuidado pelo enfermeiro no puerpério imediato tem como finalidade auxiliar a adaptação às mudanças advindas da maternidade marcadas por modificações biológicas e psicossociais que ocorrem no organismo da mulher pelo retorno do seu corpo ao estado anterior à gestação. 
Castiglioni et al.,  Práticas de cuidado no puerpério desenvolvidas por enfermeiras em Estratégias de Saúde da Família. 2020 Ressalta-se que o enfermeiro apresenta papel importante no cuidado do puerpério no que se refere à realização da consulta puerperal de enfermagem, ação que possibilita orientações, intervenções e ações de prevenção e cuidado que minimizam riscos e contribuem para o bem-estar materno e infantil. Nesse sentido, como peça fundamental das práticas de cuidado à puérpera na Atenção Primária esses profissionais precisam prestar assistência de modo a contribuir de maneira significativa para a redução dos índices de mortalidade materna e perinatal. Dentre suas ações importantes, é possível destacar o fornecimento de orientações sobre o autocuidado e a avaliação do estado psicológico materno, cuidados com o RN e acolhimento e esclarecimento de angústias, receios, desejos e necessidades individuais de cada mulher.  
Santana et al., Nurses’ actions in caring for women in the immediate puerperium. 2020 A atenção voltada à mulher no pós-parto imediato está voltada para a avaliação clínico-ginecológica como: verificação dos sinais vitais, análise do estado psíquico da mulher, observação do estado geral (pele, mucosas, presença de edema), cicatriz – parto normal com episiotomia ou laceração/cesárea e membros inferiores), exame das mamas, abdômen, períneo e genitália externa, observando possíveis sinais de infecção, presença e características de lóquios, retirada dos pontos cicatriciais cirúrgicos. É necessário orientar sobre os cuidados locais, educar sobre a amamentação para garantir o correto posicionamento e fixação da aréola, verificar possíveis complicações e, por fim, identificar problemas/necessidades da mulher e do recém nascido. Orientações sobre cuidados com as mamas, recuperação pós-parto e cuidados com o bebê são itens considerados essenciais na assistência pós-parto, como parte do preparo da mulher para a amamentação, demais cuidados com a criança e autocuidado puerperal. 
Ferreira Júnior et al., Atuação do enfermeiro na visita domiciliar puerperal: perspectivas sobre o papel profissional. 2019 A atuação da enfermagem deve ser ampliada nos ambientes institucionais e domiciliares com o entendimento sobre a importância das orientações prestadas em diversos âmbitos, com o intuito de reforçar o cuidado e a vinculação construída entre profissional e usuária desde o pré-natal. Isso contribui para a melhora da saúde da mulher e do RN, da organização do ambiente domiciliar para o desenvolvimento da criança e para a estimulação da interação familiar. 
Teixeira et al.,  Cuidados de enfermagem no período pós-parto: Um enfoque na atuação do enfermeiro diante das complicações puerperais. 2019 Os cuidados relacionados à hemorragia pós-parto referem-se à avaliação do tônus uterino, separação da ocitocina, amamentação, avaliação do globo de segurança de Pinard e avaliação dos lóquios. Outra complicação de grande ocorrência é a cefaleia pósraquidiana, o tratamento e cuidados envolvidos correspondem à: hidratação através da administração intravenosa de ringer/lactato, uso de fármacos analgésicos de acordo com prescrição médica e tamponamento sanguíneo epidural. Outras intervenções de enfermagem frente às complicações puerperais: orientar deambulação com auxílio, orientar amamentação em livre demanda, observar sangramento (lóquios) e orientar higiene da ferida cirúrgica; orientação nos cuidados com a mama e higienização do sítio cirúrgico. Além dos cuidados em geral, existem os cuidados específicos para alguns pacientes, estes incluem a administração de imunoglobulina anti-D que deve ser oferecida para todas as mulheres Rh negativas não sensibilizadas em até 72 horas após o parto, se o recém-nascido for Rh positivo. Outra complicação puerperal é a mastite, onde os enfermeiros podem utilizar de estratégias que previnam o problema, como: realizar orientações, ordenha, revezamento da mama, hidratação, uso do sutiã correto e amamentação em livre demanda. 
Azevedo et al., Período puerperal e atuação do enfermeiro: uma revisão integrativa. 2018O enfermeiro é um profissional atuante durante o período puerperal e, dentre atribuições estão: monitorização, cuidados diversos, administração de fármacos e fluidos, transmissão de informações necessárias e incentivo ao aleitamento materno correto. Além disso, este profissional, inserido em uma equipe multiprofissional, encaminha as puérperas aos setores responsáveis, quando observa aspectos de incontinência urinária ou distúrbios comportamentais, pois sabem que estes e outros agravos limitam a relação mãe-prole. Sem este profissional capacitado, atuante e observador, a probabilidade de agravos durante as fases do puerpério pode aumentar significativamente. 
Gomes & SantosAssistência de enfermagem no puerpério. 2017 Os cuidados de enfermagem no puerpério imediato são: verificar a cada 15 minutos os sinais vitais ou a cada 30 minutos com redução do tempo quando tiver necessidade, palpar o globo de segurança de Pinard, estimular a puérpera a se movimentar no leito, realizando exercícios e verificar os sinais de Homan. Além das técnicas e procedimentos, a enfermagem deve ter atitudes harmoniosas, lidando com as situações de forma tranquila e de bom humor. Ademais, a enfermagem deve realizar orientações sobre alterações fisiológicas esperadas, autocuidado e os cuidados ao recém-nascido, assim como anticoncepção e os meios mais adequados. Na atenção básica, o enfermeiro é o principal responsável pela educação em saúde durante todo o período pré-natal e puerperal. Na visita puerperal, o enfermeiro deve avaliar o cartão da gestante, a condição da gestação e do atendimento ao parto e ao recém-nascido, além disso deve observar o estado geral, examinar mamas, abdômen, períneo e genitais externos da puérpera, involução uterina, eliminações dos lóquios, distensão da musculatura abdominal, diminuição do volume sanguíneo, risco de retenção uterina, diminuição da motilidade gastrointestinal e lactação. 
Lima et al.  Nursing Assistance at the Puerperium: Integrative Review. 2017 Os cuidados de enfermagem no puerpério imediato devem ser baseados na prevenção de complicações, conforto físico e emocional, além de ações educativas que possam ser ministradas à mulher. Essas ações devem ser permeadas pela escuta sensível e pela valorização das especificidades das demandas femininas. Dentre as orientações fornecidas às mães durante a permanência no alojamento conjunto, estão os cuidados adequados com o coto umbilical, importância da imunização materna e neonatal, aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança, orientação para encaminhamento do neonato ao serviço de puericultura, orientações à mãe sobre planejamento reprodutivo, entre outras. 
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024. 

De modo a facilitar o entendimento acerca do assunto em tela, a discussão foi dividida por tópicos, garantindo assim uma melhor apresentação dos dados e clara compreensão por parte do leitor, como pode ser observado a seguir. 

3.1 Assistência de enfermagem à puérpera no ambiente hospitalar  

O puerpério é um período que abrange características hormonais, genitais e emocionais, por isto é considerado um período delicado, no qual a puérpera se encontra mais suscetível a alguns agravos. O puerpério se divide em imediato (até o término da 2ª hora do pós-parto), mediato (do início da 3ª hora até o final do 10º dia pós-parto) e tardio (do início do 11º dia até o retorno da menstruação ou até a 6ª a 8ª semana nas lactantes). O puerpério imediato é considerado um dos períodos mais delicados e a enfermagem precisa estar atenta a possíveis complicações que possam surgir, como: cefaleia pós-raquidiana, mastite, infecção da ferida operatória, doença hipertensiva específica da gestação e hemorragia pós-parto (Teixeira et al., 2019). 

Um dos procedimentos realizados nesse primeiro período do pós-parto é a palpação do globo de segurança de Pinard, isto é, checar se o útero está contraído adequadamente, caso não esteja, o enfermeiro precisa estar atento para prevenir possíveis complicações desencadeada pela hipotonia ou atonia uterina (Teixeira et al., 2019). A atonia e hipotonia uterina referem-se à incapacidade do útero de se contrair e são as maiores causas de hemorragia pós-parto. O achado de útero amolecido e levemente contraído sugere atonia como fator causal. Se o sangramento continuar e o útero estiver se contraindo bem, outros fatores deverão ser considerados, como por exemplo, as lacerações. O enfermeiro deve realizar uma minuciosa avaliação do canal do parto para descartar as lacerações (Azevedo et al., 2018). 

Além disso, deve-se enfatizar a verificação dos sinais vitais a cada 15 minutos nas primeiras duas horas, pois é nessa fase que ocorre a maioria dos casos de sangramento, comprometendo o estado geral da paciente e podendo levar ao óbito. Ademais, é importante que a enfermagem oriente as puérperas a caminhar após o parto, que pode ser estabelecido após quatro horas para parto normal e seis horas para partos com anestesia peridural e raquidiana, pois isso, além de melhorar o funcionamento da bexiga e do intestino, também ajuda a reduzir o risco de trombose e contribui para a involução uterina através da descida dos lóquios (Gomes & Santos, 2017). 

Outra conduta realizada pelos profissionais da enfermagem é a orientação quanto a amamentação, pois um dos maiores problemas enfrentados pelas puérperas é quanto ao aleitamento materno. As complicações mais comuns são: dor mamária, trauma mamilar, ingurgitamento mamário, dificuldade na pega e posicionamento, mastite, insegurança, desejo insuficiente de amamentar e falta de apoio familiar. Para problemas como esses, a enfermagem pode prestar assistência ao fornecer informações sobre a importância do aleitamento materno exclusivo, ajudando as puérperas a iniciarem a amamentação na primeira meia hora de vida do bebê, encorajando-a a iniciar e manter o aleitamento materno, abordando os cuidados com a mama, esclarecendo dúvidas e garantindo que as mães e os recém-nascidos fiquem juntos no alojamento conjunto (Azevedo et al., 2018). 

Entende-se, portanto, que é fundamental uma assistência qualificada baseada na prevenção dessas complicações, no conforto físico e emocional, além de atividades educativas que possam ser oferecidas às mulheres. Estas ações devem ser informadas pela escuta sensível e pela compreensão da especificidade das necessidades das mulheres, que se sabe serem influenciadas pelas expectativas sociais associadas ao exercício da maternidade. É preciso ressaltar que, por ser o puerpério um período de insegurança, seja ela primigesta ou não, o enfermeiro deve ter sensibilidade suficiente para identificar quais são as verdadeiras necessidades da mãe (Lima et al., 2017).  

Com isso, os cuidados de enfermagem são considerados importantes para uma assistência pós-parto de excelência. Acredita-se que valorizar a individualidade de cada mulher visa proporcionar um cuidado humano e seguro. Numa perspectiva de cuidado holístico, os profissionais têm a responsabilidade de acolher a mulher com dignidade. O cuidado deve focar na prevenção de complicações, no conforto físico e emocional e no forte envolvimento dos profissionais de enfermagem em todas as situações (Brandão et al., 2020). Nesse sentido, acredita-se que uma das principais contribuições que a enfermagem pode oferecer no período puerperal é o repasse de informações e orientações sobre todos os aspectos de cuidados no pós-parto (Coelho et al., 2014). 

3.2 Assistência de enfermagem à puérpera na atenção primária  

O enfermeiro é considerado profissional em tempo integral na assistência à puérpera. Esses cuidados vão além da avaliação rotineira e permeiam o bem-estar físico e emocional, as redes de apoio familiar, o histórico materno pregresso e as orientações pós-alta, como também inclui o planejamento reprodutivo. Além disso, como líderes de enfermagem, os enfermeiros possuem habilidades e competências para atuar no manejo clínico e no ensino do pós-parto (Silva et al., 2023). 

Destaca-se a importância dos enfermeiros como educadores em saúde e a necessidade de diálogo e melhor apoio às puérperas devido às dificuldades que enfrentam. As mulheres no pós-parto correm menos risco de complicações se estiverem bem informadas e preparadas para cuidar do seu bebé e recuperar após o parto. Contudo, para alcançar esse resultado, a assistência profissional deve ser baseada na interação, confiança e respeito (Azevedo et al., 2018).  Portanto, a educação em saúde parece ser uma ferramenta importante no atendimento clínico à mulher durante a gestação e o parto. A enfermagem considera a ação educativa como um dos principais norteadores nas diversas áreas de atuação, especialmente nos serviços de Atenção Primária à Saúde (Lima et al., 2017). 

Na Atenção Primária, durante a visita puerperal, o enfermeiro deve realizar algumas práticas importantes, como a verificação do cartão da gestante e observar informações relevantes sobre a gestação e o atendimento ao parto e ao recém-nascido. A avaliação clínica ginecológica também é realizada nesse período, sendo importante observar o estado geral da puérpera e examinar mamas, abdômen, períneo e genitais externos. Nessa visita, também é observado se a mulher já voltou a menstruar, se já teve relações sexuais e como está a amamentação (Gomes; Santos, 2017). 

Além disso, durante a visita puerperal é de extrema importância que o enfermeiro conscientize a puérpera sobre o leite materno como a melhor fonte de energia, assim como as formas seguras de amamentação que sejam favoráveis para a mãe e o recém-nascido (Silva; Rocha; Souza, 2021). É importante que a orientação sobre o processo de amamentação envolva desde a estimulação da mama até o aparecimento de possíveis intercorrências mamárias. Sendo assim, percebe-se que o apoio às mulheres que desejam amamentar precisa começar desde o pré-natal, para que a experiência desse período se dê da melhor maneira possível, visto que a compreensão da mãe sobre os benefícios dessa prática e a preparação para as dificuldades que possam ocorrer fortalecem a sua manutenção (Castiglioni et al., 2020). 

Observa-se que os cuidados no puerpério esclarecidos durante a visita domiciliar se caracterizam como uma assistência mais ampla quando comparada com a assistência hospitalar, uma vez que o período no qual o binômio mãe-filho passa internado é curto e limitado (Gomes; Santos, 2017). Assim, é importante que o enfermeiro realize mais visitas domiciliares, focadas tanto nos aspectos do exame físico, como também na criação do vínculo profissional qualificado que transpareça confiança para que as mães se sintam à vontade e assim compartilhem suas dificuldades, ansiedades, medos e que podem ser superados (Lima et al., 2017). 

Os profissionais de saúde que se dedicam ao cuidado da puérpera e de sua família precisam reconhecer a labilidade e/ou instabilidade emocional, orientar as ações de enfermagem e ajudar as famílias a enfrentarem e superar as dificuldades dos momentos de transição do ciclo vital. A falta de apoio e orientação pós-parto pode impactar as práticas de cuidado das mulheres no pós-parto, apresentando riscos potenciais à sua saúde (Castiglioni et al., 2020). 

Portanto, a criação do vínculo entre o enfermeiro e a puérpera é essencial no cuidado pós-parto, tendo em vista que é a partir de uma relação dialógica que serão construídos instrumentos facilitadores para a adesão de boas práticas em saúde. É durante as consultas de pré-natal que serão construídos o vínculo e um ambiente favorável para uma boa consulta puerperal, contribuindo para a melhora da saúde da mulher e do RN, da organização do ambiente domiciliar para o desenvolvimento da criança e para a estimulação da interação familiar (Ferreira Júnior et al., 2019). 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

O estudo permitiu investigar a importância do trabalho do profissional enfermeiro na assistência puerperal, tanto no ambiente hospitalar, quanto na atenção primária à saúde. Além disso, apontou complicações que podem ocorrer nesse período, assim como abordou outras atribuições que são de responsabilidade do profissional enfermeiro que vão além de sua assistência. 

Ademais, embora o tema já seja bastante abordado, identificou-se maior escassez de materiais que tratassem sobre a assistência do enfermeiro no ambiente hospitalar, refletindo assim na necessidade de se pensar em novos estudos, bem como elevar os olhares voltados à temática. 

Assim, o estudo sugere que outros estudos devam ser realizados quanto ao tema, de modo a fortalecer o papel do enfermeiro nesse processo, bem como reforçar a importância da assistência de enfermagem e solidificar as informações acerca do tema. 

REFERÊNCIAS 

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