A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA PACIENTES COM DISTÚRBIOS NA TIREOIDE

THE IMPORTANCE OF HEALTHY EATING FOR PATIENTS WITH THYROID DISORDERS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249301133


Délis Silva Viana1
Priscila Brito Santos2
Lillian Tavares de Lima3
Ronildo Oliveira Figueiredo4


RESUMO

Doenças de tireoide possuem uma patogênese bastante complexa, pois envolve fatores genéticos e ambientais ainda não totalmente compreendidos pela ciência. Este estudo tem como objetivo central verificar na literatura a importância da alimentação saudável para pacientes com distúrbios na tireoide. Foi realizada uma revisão bibliográfica utilizando associação entre seguintes descritores: “alimentação”, “nutrição”, “tireoide”, “glândulas de tireoide”, “tireoide de Hishimoto”, “terapia dietética”, “orientações nutricionais”.  na base de dados Scielo, PubMed, LILACs e BIREME, no período de 2017 a 2024. Foram encontrados 87 artigos e eleitos 14 para análise. Os resultados indicam que a dieta saudável e educação nutricional são fundamentais no processo de tratamento de tireoide. Um dos principais fatores de risco é a deficiência ou excesso de ingestão de iodo, também podendo ser relacionada a falta de vitamina D. Recomenda-se a ingestão adequada de iodo, associado ao consumo de micronutrientes como Zinco, Ferro e Selênio. Uma das maneiras de minimizar seus efeitos é adoção de hábitos alimentares saudáveis. Conclui-se que as recomendações nutricionais são consideradas essenciais para saúde de pacientes com distúrbios na tireoide.

Palavras-chave: Tireoide; Alimentação saudável; Educação nutricional. Micronutrientes.

ABSTRACT

Thyroid diseases have a very complex pathogenesis, as they involve genetic and environmental factors that are not yet fully understood by science. This study aims to verify in the literature the importance of a healthy diet for patients with thyroid disorders. A literature review was carried out using the following descriptors: “diet”, “nutrition”, “thyroid”, “thyroid glands”, “Hishimoto thyroid”, “dietary therapy”, “nutritional guidelines”. The authors searched the Scielo, PubMed, LILACs and BIREME databases from 2017 to 2024. A total of 87 articles were found and 14 were selected for analysis. The results indicate that a healthy diet and nutritional education are essential in the thyroid treatment process. One of the main risk factors is a deficiency or excess intake of iodine, which may also be related to a lack of vitamin D. Adequate iodine intake is recommended, associated with the consumption of micronutrients such as zinc, iron and selenium. One way to minimize its effects is to adopt healthy eating habits. It is concluded that nutritional recommendations are considered essential for the health of patients with thyroid disorders.

Keywords: Thyroid; Healthy eating; Nutritional education. Micronutrients.

1 INTRODUÇÃO

Os hormônios tireoidianos estão entre os hormônios mais importantes no crescimento e metabolismo do ser humano, pois estão relacionados com a regulação de múltiplos processos fisiológicos como a manutenção óssea e funcionamento adequado do coração, metabolismo corporal, trato gastrointestinal e músculos, assim como produz efeitos nas funções outras glândulas. Deficiências desses hormônios são prejudicais à saúde do indivíduo, pois geram impactos em vários sistemas orgânicos, ocasionando diversas manifestações clínicas (Wani et al., 2024).

Doenças autoimunes da tireoide (DAIT), incluindo tireoide de Hashimoto (TH) são causadas por células T anormais. A primeira produz anticorpos atitireoglobulina (anti-TG) e antiperoxidase tireoidiana (anti-TPO), e a segunda produz anticorpos antiestimulantes da tireoide (TRAb) patognomônicos (Czubek et al., 2022). Afeta de forma negativa a qualidade de vida do indivíduo, porque os hormônios tireoidianos são responsáveis pela taxa de metabolismo basal, metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos. Em decorrência disso, atinge as funções do sistema cardiovascular, pulmonar, gastrointestinal, hematopoiético e reprodutivo (Mikulska et al., 2022).

A doença tem maior probabilidade de afetar indivíduos do sexo feminino do que masculino, sendo mais frequente na idade de 30 a 60 anos, e o risco do seu desenvolvimento aumenta de acordo com a idade. Para tanto, ressalta-se que essa disfunção da glândula tireoide pode ser diagnosticada em pacientes de qualquer idade, incluindo crianças (Ihnatowicz et al., 2020).

Estudos indicam que as doenças autoimunes da tireoide são bastantes comuns. Sua patogênese é bastante complexa, levando os pacientes a buscarem diversas maneiras de aliviar seus efeitos, uma delas é a mudança na dieta (Czubek et al., 2022). É uma doença que possui etiologia genética e ambiental, o que envolve gênero, paternidade e idade. Os fatores genéticos incluem os principais genes de histocompatibilidade, proteínas que regulam o sistema imunológico e genes específicos da tireóide (Ihnatowicz et al., 2020).

Mudanças na dieta podem impactar a microbiota intestinal, levando não apenas à disbiose e deficiências de micronutrição, mas alterações na função da tireoide por meio da regulação imunológica, absorção de nutrientes e mudanças epigenéticas. O desequilíbrio nutricional pode ocasionar disfunções ou distúrbios da tireoide como hipotireoidismo e hipertireoidismo, doenças autoimunes da tireoide e câncer de tireoide (Shulhai et al., 2024).

A orientação nutricional é fundamental para diminuir o risco de doença da tireoide e para gerenciar a doença quando surge, prescreve-se dietas ricas em micronutrientes como iodo, selênio, ferro, zinco e vitaminas B12, D3 e A. A maioria dos micronutrientes são antioxidantes, construindo um perfil anti-inflamatório, reduzindo autoanticorpos da tireoide e gordura corporal, melhorando suas respectivas funções (Duntas, 2023). A implementação de uma dieta é um método não invasivo por causar diversos benefícios ao paciente (Osowiecka; Myszkowska-Ryciak, 2023).

A influência dos nutrientes na função tireoidiana ainda possui diversos questionados no campo científico, fato este que indica a necessidade que realizar novos estudos que possam contribuir para elaboração de medidas preventivas ou de apoio ao tratamento para pacientes de tireoide (Mezzamo; Nadal, 2016).

Visando ampliar os conhecimentos a respeito do tema, este estudo de caráter revisional tem como objetivo geral verificar na literatura a importância da alimentação saudável para pacientes com distúrbios na tireoide. E os objetivos específicos são: identificar os fatores de risco que contribuem para o surgimento da tireoide e apresentar as principais diretrizes ou recomendações dietéticas para pacientes com tireoide.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo realizou uma revisão integrativa de literatura, visando atualizar os conhecimentos a respeito do aspecto nutricional de pacientes com distúrbios na tireoide. Para isso, foi feita uma busca nos principais bancos de dados que integram o campo científico como: Scielo, PubMed, LILACs e BIREME. Os descritores incluídos foram: “alimentação”, “nutrição”, “tireoide”, “glândulas de tireoide”, “tireoide de Hishimoto”, “terapia dietética”, “orientações nutricionais”.

Os critérios de inclusão usados para selecionar dos artigos foram: todos artigos científicos publicados nos idiomas português e inglês no período de 2017 a 2024; estudos em caráter de revisão de literatura, diretrizes, estudos transversais, meta-análise;  textos completos e que abordagem o referido tema.

Os critérios de exclusão definidos foram: artigos que não integram a área da saúde, mais especificamente de nutrição; estudos com resumo não acessível na base cientifica, os artigos não disponíveis na íntegra ou que apresentam conteúdos não científicos.

A última etapa deste percurso metodológico compreendeu na leitura flutuante dos resumos dos artigos, a fim de selecionar aqueles materiais elegíveis que pudessem corresponder ao objetivo proposto nesta investigação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados os temas mais recorrentes e relevantes ao objetivo principal da pesquisa. Diante disso, foram selecionados 14 artigos que serão apresentados a seguir (Quadro 1), mediante uma discussão mais aprofundada sobre o tema na área de Nutrição.

Quadro 1. Artigos que abordam orientações nutricionais em pacientes com tireoide

TítuloAutoresAnoBase de dadosResultados
The Influence of Nutritional Intervention in the Treatment of Hashimoto’s Thyroiditis-A Systematic Review Nutrientes.OSOWIECKA, Karolina; MYSZKOSWSKA-RYCIAK, Joanna.2023PUBMEDA intervenção nutricional gerou efeitos positivos nos parâmetros bioquímicos e sintomas característicos no curso da tireoide de Hashimoto.
The importance and effectiveness of nutritional counselling in patients with autoimmune thyroid diseases in Poland.CZUBEK, Ewa et al.2022PUBMEDOs pacientes com tireoide demonstram grande interesse em mudar seus hábitos habilitares por meio de orientações dietéticas, visando melhorar seu estado de saúde.
The Role of Nutrition on Thyroid Function. Nutrients.SHULHAI, Anna-Mariia et al.2024PUBMEDEstabelecer uma dieta balanceada rica em micronutrientes essenciais para manter a saúde da tireoide e prevenir outras disfunções relacionadas a ela.
Evaluation of Age and Gender-Related Patterns in Clinical Features and Hematological Findings Among Hypothyroidism Patients in the Al-Jouf Region of Saudi Arabia: A Hospital-Based Study.WANI, Farooq A. et al.2024BIREMEO presente estudo constatou que a prevalência de hipotireoidismo é bastante alta na Arábia Saudita e os fatores contribuintes são a deficiência de iodo e falta de nutrição balanceada.
The importance of nutritional factors and dietary management of Hashimoto’s thyroiditisIHNATOWICZ,  Paulina et al.2020BIREMEO estudo observou que a ingestão inadequada ou desnutrição de ferro, zinco, magnésio, selênio, ingestão excessiva ou insuficiência de iodo contribuem para  disfunção da tireoide Hishimoto. A melhora dos aspectos nutricionais consiste nas orientações dietéticas dentro da terapia da doença.  
Effects of a low-iodine diet in post-thyroidectomy thyroid cancer patients undergoing I131 therapy at the Vietnam National Cancer HospitalHOANG, Bach Viet et al.2023BIREMEO estudo de intervenção clínica com pacientes com câncer de tireoide demonstrou que a dieta com baixo teor de iodo contribuiu para melhorar o nível de hipocalcemia, indicando a importância do aconselhamento nutricional.
Multiple nutritional factors and thyroid disease, with particular reference to autoimmune thyroid disease.RAYMAN, Margaret P.2019PUBMEDO status nutricional adequado de iodo, ferro e selênio é fundamental para saúde da tireoide.
Vitamin D and Hashimoto’s Thyroiditis: Observations from CROHT Biobank.CVEK, Maja et al.2021PUBMEDO estudo constatou que houve uma redução sutil  nos níveis de vitamina D associada à gravidade da Tireoide de Hashimoto. Com isso, recomenda-se a ingestão da suplementação dessa vitamina.
Role of food and nutrition in pathogenesis and prevention of Hashimoto’s thyroiditis. Journal of EducationPUSZKARZ et al.2018BIREMEConstatou-se a importância de uma dieta adequada para pacientes com tireoide, implicando no consumo de carboidrato, ácidos graxos e proteínas. Destacam-se vitaminas como A, D e E, iodo, zinco, ferro e selênio.
Multiple Nutritional Factors and the Risk of Hashimoto’s Thyroiditis.HU, Shiqian; RAYMAN, Margaret P.2017PUBMEDOrienta-se a ingestão adequada de selênio para equilibrar as áreas deficientes ou aquelas que apresentam excesso de iodo em pacientes com tireoide.
Nutrition in selected thyroid diseases. WAŁEJKO, Agnieszka; FABIAN-DANIELEWSKA, Anna, KORABIUSZ, Katarzyna.2019BIREMEO estudo considera importante estabelecer orientações nutricionais específicas para cada paciente com tireoide. Uma dieta saudável é fundamental para qualidade de vida de indivíduos que possuem esta doença.
Metabolic Characteristics of Hashimoto’s Thyroiditis Patients and the Role of Microelements and Diet in the Disease Management-An Overview.MIKULSKA, Aniceta A. et al.2022PUBMEDO estudo verificou que a farmacoterapia associada a uma nutrição adequada, são medidas fundamentais no tratamento médico para pacientes com tireoide de Hishimoto TH
A concise review of Hashimoto thyroiditis (HT) and the importance of iodine, selenium, vitamin D and gluten on the autoimmunity and dietary management of HT patients.Points that need more investigation.LIONTIRIS, Miguel I.; MAZOKOPAKIS, Elias E.2017PUBMEDRecomenda-se ao paciente com tireoide de Hishimoto a ingestão adequada de iodo, selênio, vitamina D e glutén.
Nutritional Management of Thyroiditis of Hashimoto.DANAILOVA, Yana et al.2022PUBMEDO estudo indica que orientações dietéticas apropriadas podem melhorar as funções da glândula tireoide e diminuir a reatividade de autoanticorpos em tireoide de Hishimoto.

Fonte: Próprios autores (2024)

Os achados demonstram que os efeitos positivos das estratégias nutricionais no curso da tireoide de Hashimoto. As intervenções nutricionais incluíam a eliminação de componentes como glúten, lactose ou produtos alimentares selecionados (Osowiecka; Myszkowska-Ryciak, 2023). A respeito disso, os estudos apresentados por Mezzamo e Nadal (2016) indicam que iodo exerce um importante papel na produção dos hormônios de tireoide HTs. Para tanto, quantidades excessivas ou reduzidas de iodo e selênio ajudam a promover alterações tireoidianas, entre as quais o hipotireoidismo.

A deficiência de iodo é um dos fatores causadores do bócio da glândula tireoide. Para prevenir essa deficiência foram introduzidas fortificações como sal iodado. Por outro lado, ressalta-se no estudo que o consumo > 1000 mcg/dia também pode ocasionar uma disfunção da tireoide (Osowiecka; Myszkowska-Ryciak, 2023).

Doenças autoimunes, incluindo doenças da tireoide, apresentam outros problemas quando se trata de diagnóstico e tratamento, pois sua evolução ocorre inicialmente de forma latente. Esses problemas podem ser atenuados mediante a modificação comum da dieta, devido ao seu valor preventivo primário e à capacidade de aliviar os efeitos da doença. Associa-se também o excesso de peso que exerce impacto negativo no hormônio estimulante da tireoide (TSH) e na ecogenicidade da tireoide. Com isso, a orienta-se realizar uma terapia correta baseada na dieta, podendo reduzir esse efeito e normalizar os níveis hormonais do paciente (Czubek et al., 2022).

De acordo com Czubek et al. (2022), atualmente não existe recomendações dietéticas específicas para indivíduos com doenças autoimunes da tireoide. No entanto, garantir quantidades adequadas de ácidos graxos essenciais ômega-3 por possuir propriedade anti-inflamatórias, bem como fibras alimentares para prevenir a constipação. Tanto a quantidade quanto a qualidade dos alimentos são fundamentais para no tratamento dessa doença.

Em um estudo realizado com 92 pacientes coreanos com câncer de tireoide, buscou-se avaliar a quantidade de ingestão alimentar de iodo e suas principais fontes alimentares durante uma dieta típica e durante os períodos com baixo teor de iodo (LID). Os resultados demonstraram que a ingestão de iodo foi consideravelmente reduzida durante o LID e estava dentro do recomendado. Mas também implica considerar a necessidade de desenvolver um protocolo dietético prático para pacientes de tireoide (JU et al., 2016).

Nos achados de Shulhai et al. (2024), constatou-se que o consumo excessivo de iodo contribui para a disfunção da tireoide. Grandes dosagens ocasionam um desligamento transitório da produção de hormônio tireoidiano (o efeito Wolff-Chaikoff agudo). A deficiência de selênio também está associada a vários distúrbios da tireoide, incluindo hipotireoidismo, hipotireoidismo subclínico, câncer de tireoide e doenças autoimunes da tireoide.

Os receptores de vitamina D compõe a glândula tireoide, indicando um papel importante na função da tireoide. A capacidade dessa vitamina de suprimir o sistema imunológico adaptativo produz melhorias quanto a tolerância imunológica o que ajuda em diversos distúrbios autoimunes (Shulhai et al., 2024).

Em um estudo observacional retrospectivo feito por Cvek et al. (2021), ficou demonstrado grande deficiência de vitamina D em todos os participantes do estudo, indicando a necessidade de atividade de lazer ao ar livre acompanhada da ingestão de suplementação dessa vitamina, principalmente para pacientes de TH que apresentam a forma mais grave da doença.

Os estudos realizados por Shulhai et al. (2024), demonstram que a nutrição e microbiota intestinal podem influenciar a função da tireoide, modulando respostas imunes, produzindo metabólitos microbianos. Afetando absorção de nutrientes e alterações epigenéticas, fazendo com a síntese e o metabolismo do hormônio tireoidiano sejam regulados. Nutrição balanceada é considerada essencial para manter a função e a saúde da tireoide saudáveis.

Muitos fatores contribuem para a disfunção da glândula tireoide, incluindo predisposição de gênero, estado nutricional, deficiência de iodo, suscetibilidade genética e área geográfica. Está associado a várias comorbidades como diabetes mellitus, hipertensão, doença hepática crônica (DHC), insuficiência renal crônica (IRC) e câncer (Wani et al., 2024). Em um estudo transversal observacional conduzido entre 400 adultos, com idade de 18 os mais, na Arábia Saudita, verificou-se que a ingestão inadequada de iodo foi considerada o principal fator de risco para distúrbio da tireoide. O gênero feminino apresentou níveis mais altos de conhecimento sobre doenças da tireoide em comparação aos homens em relação aos sintomas e fatores de riscos das alterações na tireoide (Alshahrani et al., 2024).

Para Wani et al. (2024), a presença de hipotireoidismo na população investigada indica a necessidade de maior conscientização para detecção precoce, tratamento adequado desta lesão, o que envolve a implantação de programas de iodação de sal, parâmetros hematológicos e recomendações dietéticas.

O estudo realizado por Ihnatowicz et al. (2020) comprova que a doença de tireoide requer uma dieta que dê suporte ao sistema imunológico para garantir a regulação dos processos inflamatórios por meio das refeições em termos de sua composição e métodos de preparação, bem como a eliminação de antígenos alimentares problemáticos.

Uma das premissas da dieta terapêutica é uma ingestão suficientemente alta em proteína, visando atender às necessidades diárias no estado da doença de Hashimoto. Orienta-se aumentar a ingestão de proteína de refeição integral de produtos não processados (carne, peixe, ovos), pois ajuda a reduzir o peso corporal excessivamente desenvolvido (Ihnatowicz et al., 2020).

Na terapia dietética de tireoide de Hashimoto, é importante levar em conta a associação de outras doenças, incluindo aquelas que podem levar a desnutrição como doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais. Deficiências nutricionais, inflamação crônica acompanhada de disbiose intestinal, indicam maus hábitos alimentares, incluindo ingestão inadequada de vegetais, frutas, alimentos que reforçam o potencial antioxidante do plasma e do corpo (Ihnatowicz et al., 2020).

Um estudo de intervenção clínica com pacientes com câncer de tireoide pós-tireoidextomia realizado por  Hoang et al. (2023) constatou que a porcentagem de participantes em risco de desnutrição leve a moderada, reduziu de 40,0% para 4,3% antes da intervenção, com uma diferença estatisticamente significativa de p < 0,001. Verificou-se que houve uma melhora significativa no nível baixo calcemia entre os participantes do estudo, com 35,7% dos pacientes apresentando hipocalcemia antes da intervenção, que diminuiu para 17,1% após a intervenção. A qualidade de vida desses pacientes após aderir à dieta com baixo teor de iodo tendeu a declinar.

Apesar do impacto negativo na qualidade de vida desses pacientes, a orientação nutricional e a intervenção durante a dieta com baixo teor de iodo ajudaram consideravelmente para melhorar o nível de hipocalcemia e no nível reduzido de iodo urinário (Hoang et al., 2023).

Nos achados apresentados por Rayman (2018), verifica-se que a ingestão excessiva de iodo induz tireoidite autoimune. A deficiência do ferro prejudica o metabolismo da tireoide. Pacientes com doença tireoidiana autoimune (DAIT), apresentam deficiência de ferro devido a existência de comorbidades como gastrite autoimune e doença celíaca. Quanto ao selênio, ficou evidenciado que as selenoproteínas são fundamentais para a ação da tireoide, podendo diminuir consideravelmente a concentração de anticorpos peroxidase tireoidiana TPO, hipotireoidismo e tireoidite pós-parto. Em vista disso, é possível afirmar que o status nutricional adequado de iodo, ferro e selênio é muito importante para saúde do tireoide.

Sobre o selênio, uma investigação feita com 50 pacientes (homens/mulheres) com hipotireoidismo subclínico ocasionado pela tireoide de Hashimoto constatou a suplementação curta desse nutriente está associada a uma normalização de seus níveis séricos (Pirola et al., 2020).

Nas evidências apresentadas por Puszkarz et al. (2018) foi possível constatar que a dieta de pacientes com hipotireoidismo dever ser baseada em proteína, ácidos graxos poli-insaturados, bem como carboidratos com baixo teor glicêmico. Os carboidratos ao fornecer vitaminas e nutrientes minerais geram impactos positivos na atividade secretora da tireoide. Além disso, inclui-se a ingestão adequada de iodo, ferro, selênio e zinco, vitaminas A, D, E, B2, B3 e B12.

O estudo feito por Liontiris e Mazonkopakis (2017) também reforça essas evidências, onde destaca-se a importância da ingestão cuidadosa de iodo, selênio, vitamina D e glúten por pacientes com tireoide de Hashimoto. A suplementação desses nutrientes contribui para saúde do paciente.

Os achados verificados por Hu e Rayman (2017) indicam o tratamento de mulheres anêmicas com função tireoidiana prejudicada com ferro apresenta melhorias quanto as concentrações de hormônios tireoidianos, enquanto a tiroxina e o ferro junto são mais eficazes em melhorar o estado do ferro. Também foi evidenciado nos estudos menos proporções de vitamina D em pacientes com tireoide Hashimoto. E a ingestão de selênio é fundamental em áreas de deficiência ou excesso de iodo.

Em um estudo realizado na Arábia Saudita, constatou-se 49,8% da população investigada tinha um distúrbio da tireoide, sendo a maioria do sexo feminino. A disfunção da tireoide afeta diretamente os parâmetros hematológicos. Com isso, recomenda-se uma estratégia nacional que envolva educação em saúde para conscientizar a sociedade quanto a doença da tireoide  e os fatores de risco associados (Alqahtani, 2021).

Diante dessas evidências, pode-se afirmar que a anemia e a disfunção da tireoide ocorrem simultaneamente. Em uma investigação com desenho meta-análise, verificou-se que maiores probabilidades de ter anemia foram observadas em participantes com função hipotireoidiana e hipertireoidiana (Woperis et al., 2018).

A respeito da diminuição da relação da vitamina D e a doença autoimune da tireoide (DAIT), os achados verificados por Wang et al. (2015) demonstram que pacientes com doenças graves e tireoide de Hishimoto (HT) apresentam níveis mais baixos desses nutrientes. Isso implica afirmar que deficiência de vitamina D pode influenciar o surgimento da tireoide.

De acordo com os estudos realizados por Waÿejko, Fabian-Danielewska, Korabiusz (2018), as orientações nutricionais para pacientes com tireoide devem ser individualizadas e adaptadas às suas respectivas necessidades. Deve-se cuidado com as quantidades calóricas das refeições, ao conteúdo dos micronutrientes, especialmente o iodo. Uma dieta adequada pode melhorar significativamente o curso da doença e qualidade de vida do paciente. A deficiência ou consumo excesso de iodo pode ser um fator de risco para doenças da tireoide. Por isso, é fundamental realizar um monitoramento cuidados quanto a sua profilaxia (Kravchenko; Zakharchenko, 2023).

Concordando com esses resultados, os estudos feitos por Kawicka, Regulska-Ilow e Regulska-Ilow  (2015) reforçam que deficiências coexistentes de elementos como iodo, ferro, selênio e zinco podem prejudicar a função tireoidiana. Outras deficiências de nutrientes também foram observadas em pacientes com doenças autoimunes da tireoide como: baixos níveis de proteínas, de vitaminas (A, C, B1, B5 e B6) de minerais (fósforo, magnésio, potássio, sódio, cromo). Com isso, recomenda-se uma dieta adequada, visando reduzir os sintomas da doença e previr a desnutrição.

Nos estudos realizados por Mikulska et al. (2022), constatou-se que muitos pacientes com tireoide de Hishimoto apresentam níveis altos de estresse oxidativo, peso corporal elevado e distúrbios metabólicos. Orienta-se mudanças no estilo de vida, incluindo cuidados com o peso corporal farmacoterapia adequada, juntamente com nutrição, vistos como importantes meios que visam melhorias na saúde e redução de sintomas em pacientes com tireoide de Hishimoto.

De acordo com os estudos feitos por Danailova et al. (2022), verificou-se que uma dieta adequada, somado ao estilo de vida podem ajudar de forma positiva o tratamento padrão e favorecer a remissão da tireoide de Hishimoto. Recomenda-se uma dosagem equilibrada de vitamina D, seguindo as diretrizes nutricionais com foco na dieta anti-inflamatória.

CONCLUSÃO

A partir desta revisão de literatura, constatou-se que a deficiência ou ingestão excessiva do iodo é o principal fator de risco para alterações na tireoide, mas há evidências significativas quanto a existência de relação entre deficiência de vitamina D e surgimento da doença.

A dieta de pacientes com distúrbios na tireoide deve compreender sua complexidade, incluindo sua deficiência hormonal. Assim, as orientações nutricionais e suplementação com minerais e vitaminas são essenciais durante o processo de tratamento. Inclui-se a ingestão equilibrada de iodo, juntamente com ferro, selênio, zinco e vitamina D.

Considera-se que a adoção de hábitos alimentares saudáveis, associada a ampliação de uma educação nutricional entre os pacientes com distúrbios na tireoide importantes estratégias no processo de tratamento da doença, pois ajuda a reduzir os sintomas e possíveis complicações, melhorando a qualidade de vida desta população.

Portanto, mais estudos são necessários para fornecer uma compreensão mais aprofundada quanto os mecanismos complexos e as ramificações inerentes aos distúrbios da tireoide, bem como o papel dos micronutrientes na nutrição e a ingestão adequada do iodo, visando estabelecer orientações preventivas mais seguras e suporte ao tratamento dessas doenças autoimunes.

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1 Acadêmica de Nutrição – Universidade Nilton Lins
Manaus, Amazonas, Brasil

2 Acadêmica de Nutrição – Universidade Nilton Lins
Manaus, Amazonas, Brasil

3 Docente do curso de Nutrição – Universidade Nilton Lins
Manaus, Amazonas, Brasil

4 Docente do curso de Nutrição – Universidade Nilton Lins Manaus, Amazonas, Brasil