THE IMPORTANCE OF ALBUMIN IN CORONARY ARTERY BYPASS GRAFT SURGERY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202502131620
Autor: Gracielle Alves Garcia
Coautoras:
Vera Lúcia Lino Martin
Rafaela Mourão Redon
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica abrangente acerca dos estudos médicos que investigam o uso da albumina em procedimentos de cirurgia de revascularização do miocárdio. Para tanto, foi conduzida uma análise criteriosa de publicações científicas, abrangendo artigos acadêmicos de fontes nacionais e internacionais, a fim de consolidar o conhecimento existente sobre o tema. A pesquisa se propõe a identificar os avanços mais recentes, bem como os resultados clínicos relacionados à aplicação da albumina nesse contexto específico, destacando seus efeitos, benefícios e possíveis limitações. Com isso, busca-se oferecer uma base teórica sólida que contribua para o aprimoramento das práticas médicas e para o desenvolvimento de novos estudos sobre a utilização dessa proteína em procedimentos cardiovasculares de alta complexidade.
PALAVRAS CHAVES: Cirurgia Torácica; Albuminas; Miocárdio
ABSTRACT
This study aims to conduct a comprehensive literature review of medical studies investigating the use of albumin in coronary artery bypass grafting procedures. To this end, a careful analysis of scientific publications was conducted, including academic articles from national and international sources, in order to consolidate existing knowledge on the subject. The research aims to identify the most recent advances, as well as the clinical results related to the application of albumin in this specific context, highlighting its effects, benefits and possible limitations. With this, we seek to offer a solid theoretical basis that contributes to the improvement of medical practices and to the development of new studies on the use of this protein in highly complex cardiovascular procedures.
PALAVRAS CHAVES: Thoracic Surgery; Albumins; Myocardium
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares estão entre as maiores causas de mortes do mundo, dessa forma, no Brasil, esses tipos de patologias são responsáveis por 30% das mortes dos brasileiros, sendo o infarto agudo do miocárdio a sua principal causa (Mansur e Favarato, 2021). Dessa forma, com o aumento da doença arterial coronariana, a cirurgia de revascularização do miocárdio se faz necessária.
Apesar de não haver comprovações científicas – positivas ou negativas – sobre o uso da albumina em pacientes que passaram por cirurgia de revascularização do miocárdio, essa substância vem sendo utilizada pelos hospitais e corpo médico, dessa forma, cabe uma revisão bibliográfica sobre a relação entre a albumina e pacientes que passaram pelo procedimento de revascularização do miocárdio. (FALCÃO e JAPIASSÚ, 2011)
A albumina é uma proteína globular de alto peso molecular presente em grande concentração no plasma sanguíneo, sendo sintetizada principalmente pelo fígado a partir de aminoácidos obtidos na dieta. Ela desempenha múltiplas funções fisiológicas essenciais, entre as quais destaca-se sua ação como uma reserva dinâmica de aminoácidos essenciais, fundamentais para processos metabólicos relacionados à reparação e construção dos tecidos musculares.
Além disso, a albumina exerce um papel crucial na manutenção da pressão oncótica, que regula o equilíbrio de fluidos entre os compartimentos vasculares e intersticiais, prevenindo edemas. Essa proteína também atua no transporte de uma ampla gama de moléculas, como hormônios, ácidos graxos livres, bilirrubina, medicamentos e toxinas, funcionando como um mediador do metabolismo e da desintoxicação do organismo.
Apesar de seu custo elevado, a albumina é um produto de grande utilização no contexto hospitalar, tem em consumo mundial, cerca de seiscentas toneladas por ano, o que corresponde a um valor de 1,2 bilhão de dólares (Sena, 2001). A albumina humana é um medicamento injetável derivado do sangue, obtido a partir do plasma humano e desenvolvido na década de 1940.
Embora seu uso seja muito prevalente, faltam estudos que comprovem a sua eficácia, dessa forma, esse estudo pretende analisar o uso da albumina em pacientes de cirurgia de revascularização do miocárdio. (Falcão e Japiassú, 2011). Como o trabalho se trata de uma revisão de literatura, foi preciso se utilizar de artigos escritos que versam sobre o tema e, sobretudo, fazer um cruzamento entre os resultados.
ALBUMINA
A albumina configura-se como uma das proteínas mais presentes no corpo humano, sua concentração sérica é utilizada, de forma frequente, como fator de diagnóstico e prognóstico. Apesar de estar bastante presente no organismo, essa proteína não é essencial para a sobrevivência de um indivíduo, sua função consiste no transporte de substância e na manutenção da pressão oncótica – importante para a regulação da pressão arterial.(SOUZA e CARDOSO, 2011)
Quando está saudável, o corpo humano adulto apresenta 200g de albumina, o que resulta em cerca de 50% do valor total de proteínas, além disso, ela é a principal proteína do plasma, possui baixa viscosidade, pode ser facilmente isolada, além de ser altamente solúvel. (CAMILO e LOURENÇO, 1995)
A sua síntese é feita pelo fígado. Diariamente o corpo sintetiza de 12 a 25 gramas da proteína utilizando cerca de 6% da ingestão diária de azoto, mas representa menos de 10% da função anabólica hepática (Dowieiko e Nompleggi, 1991). É necessário que haja uma boa nutrição do indivíduo para que a sua síntese ocorra sem nenhum problema, porém, situações de estresse e, principalmente, o cuidado intensivo geram uma redução significativa na síntese dessa proteína.
A diminuição da síntese de albumina resulta na hipoalbuminemia – considerado um sintoma excepcional – em pacientes que sofrem de doenças graves. O cuidado intensivo resultante de traumas ou grandes cirurgias – como a do miocárdio – sucedem uma diminuição da proteína no organismo do indivíduo, já que a liberação de hormônios e citocinas que medeiam as respostas aos estresses aumentam o catabolismo e promovem a síntese de proteínas prioritárias que, como já dito anteriormente, não é o caso da albumina. (CAMILO e LOURENÇO, 1995)
Nesses casos, recomenda-se a administração da albumina, realizada de forma controlada e lenta, com doses que não excedam 100 a 400 ml em adultos e de 1,5 a 6 ml/kg em crianças, conforme indicado por Camilo e Lourenço (1995). Essa prática é especialmente incentivada em cirurgias de coração aberto, devido aos benefícios associados ao uso da proteína, como a reposição volêmica, estabilização hemodinâmica e melhoria no transporte de substâncias no plasma. Seu emprego nesses procedimentos contribui para a recuperação do equilíbrio fisiológico, sendo uma estratégia amplamente aceita em contextos clínicos e cirúrgicos específicos.
Segundo a resolução-RDC Nº 115, de 10 de maio de 2004, redigida pela ANVISA aprova-se o uso da albumina nos seguintes casos:
Patologia Observações quanto ao uso da albumina Ascite É recomendado o uso de albumina, associado às paracenteses, para o tratamento das ascites volumosas, sobretudo quando associadas à hipoalbuminemia. Grandes queimados Desde os anos setenta, a albumina vem sendo rotineiramente utilizada no tratamento dos grandes queimados. o protocolo clássico recomenda a infusão da albumina 24 a 48 horas depois da queimadura; o efeito da albumina seria o de manter a pressão osmótica do plasma, compensando as abundantes perdas proteicas apresentadas pelos grandes queimados. Síndrome nefrótica Pode ser indicada nos casos de grandes edemas refratários aos diuréticos, que coloquem em risco a vida dos pacientes (derrame pleural, derrame pericárdico ou ascite volumosos). nestes casos, a terapia com albumina seria de curto prazo e visaria a resolução da descompensação aguda do paciente. Cirrose hepática Pode ser indicado nos casos de grandes edemas refratários aos diuréticos, que coloquem em risco a vida dos pacientes (derrame pleural, derrame pericárdico ou ascite volumosos). Plasmaférese A albumina é indicada como líquido de reposição nos procedimentos de troca terapêutica do plasma (plasmaférese), em que o volume de plasma retirado seja igual ou superior a 20 ml/kg por sessão. Hiperbilirrubinemia do recém-nascido A albumina pode ser utilizada como coadjuvante para controle da hiperbilirrubinemia severa, nos recém-nascidos com doença hemolítica perinatal (dhpn), antes ou durante a exsanguineotransfusão, sob rigoroso controle médico devido aos riscos de hipervolemia. Síndrome de hiperestimulação ovariana A albumina tem sido útil na prevenção da hipovolemia causada pela síndrome de hiperestimulação ovariana, quando administrada no dia em que o óvulo vai ser coletado. Cirurgia hepática A albumina pode ser indicada em cirurgias de ressecção hepática, em que mais de 40% do fígado é ressecado, e no transplante de fígado, sobretudo quando houver ascite e edema no pós-operatório, quando a albumina sérica for inferior a 2,5 g% e a pressão oncótica menor que 12 mmhg. Uso em terapia intensiva Uma das situações mais frequentes de uso da albumina ocorre nos pacientes críticos, que apresentam hipovolemia, hipoalbuminemia e má distribuição hídrica, com perda de líquidos para o terceiro espaço. entretanto, na análise da literatura médica, há elementos que sugerem que a albumina não deve ser usada neste grupo de pacientes. Cirurgia cardíaca Em cirurgia cardíaca a albumina tem sido utilizada em duas situações: para o preenchimento (priming) da bomba de circulação extracorpórea (cec) ou para compensação de perdas volêmicas durante a cirurgia.Os estudos disponíveis indicam que o uso da albumina para o preenchimento da bomba de cec é aceitável, embora faltem evidências contundentes acerca da sua superioridade sobre os cristalóides, no que concerne ao impacto sobre a incidência de complicações peri-operatórias.
Tabela I: Regulação do uso de Albumina pela ANVISA
Na avaliação da ANVISA (tabela I), é enfatizado a aplicação da albumina em aplicação específica no preenchimento da bomba de circulação extracorpórea (CEC). Embora faltem evidências definitivas sobre a superioridade da albumina em relação aos cristalóides no impacto das complicações perioperatórias, seu uso é considerado aceitável e pode ser justificado em situações que demandem controle rigoroso da pressão oncótica plasmática.
Portanto, a albumina oferece vantagens potenciais em cenários onde o equilíbrio hídrico e a prevenção de edema tecidual são cruciais, especialmente em pacientes com maior risco de disfunção orgânica ou distúrbios de permeabilidade capilar. Esses fatores podem ser relevantes no contexto de cirurgias cardíacas complexas, onde a estabilidade hemodinâmica e a proteção de órgãos-alvo são prioridades (ANVISA, 2004).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para a seleção dos artigos, utilizou-se a plataforma SciELO, onde foram pesquisadas as seguintes palavras-chave: albumina, miocárdio e uso de albumina, tentou-se usar os artigos mais recentes que versam sobre o tema, mas suas publicações são escassas e, na maioria dos casos, são publicações antigas, o que demonstra uma dificuldade da revisão de literatura e a necessidade de pesquisas mais recentes sobre o uso da albumina em pacientes.
Dessa forma, foram selecionados quatro artigos nacionais que versam sobre o uso da albumina, são eles: “Avaliação do uso de albumina humana em hospital do Rio de Janeiro, Brasil”, de Guacira Corrêa de Matos e Suely Rozenfeld; “Uso de albumina humana em pacientes graves: controvérsias e recomendações”, de Haroldo Falcão e André Miguel Japiassú; “Contribuição da Farmácia na prescrição e uso racional de Albumina Humana em um Hospital de grande porte”, de Borges et al; “Indicações duvidosas ou infundadas observadas no tratamento com albumina: estudo em Hospital Universitário do estado do Rio de Janeiro”, de Felipe A. Magalhães e Luiz Stanislau N. Chini; e, por fim, foi utilizado o artigo “Relação entre a Relação Fibrinogênio/Albumina e a Perfusão Microvascular em Pacientes Submetidos à Intervenção Coronária Percutânea Primária para Infarto do Miocárdio com Elevação do Segmento ST: Um Estudo Prospectivo”, de Kaplangoray et al. Quanto ao artigo internacional, foi escolhido: “Intravenous albumin in cardiac and vascular surgery: a systematic review and meta-analysis”, de Skubas et al.
No primeiro artigo, “Avaliação do uso de albumina humana em hospital do Rio de Janeiro, Brasil” os autores analisaram a adesão do uso de albumina em cirurgias, não necessariamente cardíacas, em um hospital da rede pública do Rio de Janeiro – que não foi identificado – baseado em noventa e nove prontuários de pacientes adultos. O estudo classificou o uso da proteína como apropriado (em 33,1%), inapropriadas (em 61,8%), controversas (em 4,6%) e indeterminadas (em 0,4%), para chegar a tais conclusões, os autores utilizaram como base o protocolo de quatro países diferentes (que não foram citados).
Em “Uso de albumina humana em pacientes graves: controvérsias e recomendações”, foi feita uma revisão para procurar as razões do uso da albumina, reunindo evidências metabólicas e imunomoduladoras de possíveis efeitos em pacientes em estado grave. Como “estado grave”, o estudo selecionou três tipos de patologia: sepse, hepatopatia grave e trauma e pós-operatório. Infelizmente, não houve um esclarecimento do estudo quanto ao uso da proteína nesses pacientes, o que leva a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.
No artigo denominado “Revascularização miocárdica com circulação extracorpórea: aspectos bioquímicos, hormonais e celulares”, foram selecionados dezoito pacientes que foram submetidos à cirurgia do miocárdio com emprego de CEC (emprego de circulação extracorpórea). O trabalho traz uma análise das dosagens hormonais, bioquímicas e celulares pós-cirúrgicas, o que nos ajudará a analisar a quantidade de albumina nos pacientes.
Em “Contribuição da Farmácia na prescrição e uso racional de Albumina Humana em um Hospital de grande porte”, os autores versam sobre a diminuição do uso de albumina no Hospital Albert Einstein, uma vez que o uso não fundamentado da proteína acarretou em uma perda de 1,36 milhão para a instituição. Tal corte foi gerado pelo envolvimento do farmacêutico na decisão de administração, ou não, do medicamento, dessa forma, a albumina se tornou dispensável em alguns casos.
O artigo “Indicações duvidosas ou infundadas observadas no tratamento com albumina: estudo em Hospital Universitário do estado do Rio de Janeiro”, procurou-se relacionar o uso de albumina no Hospital Universitário com as indicações dadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária de 2004 para o uso do medicamento, dessa forma, chegou-se à conclusão de que a albumina era utilizada, muitas vezes, sem embasamento científico.
Por fim, em “Relação entre a Relação Fibrinogênio/Albumina e a Perfusão Microvascular em Pacientes Submetidos à Intervenção Coronária Percutânea Primária para Infarto do Miocárdio com Elevação do Segmento ST: Um Estudo Prospectivo”, os autores buscam relacionar a associação entre o índice de falha arterial (FAR) e a função do fluxo coronário, o tempo de reperfusão miocárdica e a avaliação da microcirculação sanguínea. Foram analisados 167 pacientes que passaram com sucesso por um procedimento de intervenção coronária percutânea (ICP) devido a um infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) e que apresentaram um fluxo sanguíneo normal (TIMI-3). Os participantes foram divididos em dois grupos: um com FAR alto (> 0,0765) e outro com FAR baixo (≤ 0,0765), com base em um valor de corte determinado por uma análise estatística. A reperfusão miocárdica foi avaliada utilizando diferentes métodos, e os resultados foram considerados significativos quando os valores de p foram inferiores a 0,05.
Em português tem-se uma grande deficiência teórica sobre o tema da albumina e sua relação com a cirurgia do miocárdio, porém, em inglês é possível encontrar alguns – poucos – artigos que relacionam melhor os temas. Em “Intravenous albumin in cardiac and vascular surgery: a systematic review and meta-analysis”, os autores fizeram uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos para a investigação da albumina com alterações sistêmicas, que incluem efeitos cardiovasculares, hematológicos, renais, pulmonares e imunológicos.
Discutir os artigos utilizados como base para a elaboração deste trabalho é de fundamental importância, pois a construção do texto reflete diretamente os resultados e as análises extraídos dessas fontes. Cada artigo contribui com dados específicos, perspectivas teóricas e metodologias que enriquecem a abordagem do tema, permitindo uma visão mais ampla e fundamentada. Assim, a revisão e interpretação criteriosa dessas publicações não apenas orientam a narrativa deste estudo, mas também asseguram sua relevância científica, estabelecendo conexões entre as evidências apresentadas e as discussões propostas. Dessa forma, o trabalho se constrói como uma síntese crítica e analítica das contribuições acadêmicas existentes, promovendo um diálogo entre diferentes pesquisas e ampliando o entendimento sobre o objeto de estudo.
RESULTADOS
A administração de albumina venosa está associada a uma série de efeitos fisiológicos importantes, entre os quais destacam-se a regulação das propriedades vasculares e o transporte de moléculas essenciais, como os hormônios cortisol e tiroxina, ácidos graxos, sais biliares, bilirrubinas, além de minerais como cálcio e magnésio. A albumina também exerce um efeito anticoagulante relevante no organismo.
Adicionalmente, um estudo realizado por Herrmann et al. demonstrou a importância clínica da albumina como marcador prognóstico e recurso terapêutico. Esse estudo analisou 15.511 indivíduos com idade superior a 40 anos durante as primeiras 48 horas de hospitalização e evidenciou uma associação significativa entre níveis séricos reduzidos de albumina e desfechos clínicos adversos. Especificamente, para cada redução de 2,5 g/L nos níveis de albumina no sangue, houve um aumento de 16% no risco de internações prolongadas e de 39% no risco de mortalidade. Esses dados destacam o papel essencial da albumina no contexto hospitalar, incluindo cenários críticos como as cirurgias cardíacas.
Em cirurgias cardíacas, a albumina é amplamente utilizada para o preenchimento da bomba de circulação extracorpórea (CEC) e, em alguns casos, para reposição volêmica. Embora a ANVISA considere o uso da albumina para o priming da bomba de CEC aceitável, faltam evidências robustas que comprovem sua superioridade em relação aos cristalóides em termos de redução de complicações perioperatórias. Entretanto, estudos sugerem que a albumina pode oferecer benefícios em pacientes com risco elevado de disfunções relacionadas à permeabilidade capilar, promovendo estabilidade hemodinâmica e reduzindo a formação de edemas.
Nos resultados obtidos por Matos e Rozenfeld (2005), foram distribuídas pela farmácia do hospital 3.521 unidades de albumina, destinadas ao CTI, emergência e UTI pediátrica. Noventa e nove pacientes (56 homens e 43 mulheres) atendiam aos critérios para o uso da substância; desses, 67 conseguiram obter alta, enquanto 32 foram a óbito. A média de albumina utilizada nesses pacientes foi de 15 a 24 unidades, com uma dose diária média de 30 a 18 g por paciente. Embora a taxa de alta hospitalar tenha sido superior à de óbitos, os resultados sugerem a necessidade de uma análise criteriosa sobre o impacto do uso da albumina na evolução clínica, considerando a quantidade média administrada e os desfechos observados.
O estudo de Kaplangoray et al. (2023) incluiu 167 pacientes, com idade média de 59,4 anos, divididos em dois grupos com base no índice de falha arterial (FAR), com valor de corte de 0,0765. O grupo com FAR mais alto apresentou escores mais elevados em medidas como escore SYNTAX, glicose, LDL, pico de troponina e maior prevalência de diabetes, além de menor fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE). Não houve diferenças significativas entre os grupos quanto ao histórico médico ou às artérias coronárias afetadas. No entanto, o grupo com FAR baixo teve melhores resultados em função microcirculatória, recuperação do fluxo sanguíneo e fluxo coronário. A análise de correlação revelou que o FAR estava positivamente relacionado ao pico de troponina, glicose e LDL, e negativamente à recuperação do fluxo sanguíneo e à microcirculação. A regressão logística indicou que o FAR foi o principal fator preditivo de pior função microcirculatória e recuperação incompleta do fluxo sanguíneo. A análise ROC mostrou que o valor de corte do FAR foi eficaz para prever esses resultados, com boa sensibilidade e especificidade.
A literatura disponível reforça a relevância da albumina em contextos críticos e aponta para a necessidade de estudos adicionais que avaliem sua eficácia e custo-benefício, particularmente em cirurgias cardíacas. A integração de dados clínicos e biomarcadores como os níveis séricos de albumina pode auxiliar no aprimoramento das estratégias terapêuticas e na personalização do cuidado.
DISCUSSÃO
Estudos realizados no final dos anos 1990, comentados neste artigo, sugeriram que o uso de albumina em pacientes graves poderia ter efeitos prejudiciais. Contudo, análises mais recentes, presentes neste artigo, questionam essa conclusão, indicando que tais afirmações carecem de fundamentos sólidos. A revisão da literatura e os avanços científicos subsequentes reforçam a necessidade de avaliar o contexto clínico e as condições específicas do paciente antes de generalizar sobre os efeitos da albumina.
O estudo evidencia a importância de aprofundar as investigações científicas sobre a aplicação da albumina em diferentes cenários médicos e cirúrgicos. No entanto, no que diz respeito ao seu uso em cirurgias cardiovasculares, a substância é incentivada pela ANVISA, especialmente para o preenchimento da bomba de circulação extracorpórea (CEC). Isso ressalta o reconhecimento de seu papel como uma ferramenta terapêutica valiosa em determinados contextos, embora estudos adicionais sejam necessários para refinar as indicações e garantir o melhor cuidado ao paciente.
Além disso, o estudo feito por Kaplangoray et al concluiu que todos os pacientes com recuperação incompleta do fluxo sanguíneo (STR incompleta) estavam no grupo com FAR alto. O estudo também mostrou que níveis elevados de FAR estavam associados a picos mais altos de troponina (cTnT) e a uma redução na fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE), que são sinais de danos nos tecidos. O aumento dos níveis de fibrinogênio pode levar à maior ativação e agregação das plaquetas, resultando em um estado de maior coagulação. Além disso, a estrutura do coágulo de fibrina, que é formada quando o fibrinogênio se transforma em fibrina, fica mais densa e difícil de dissolver quando o fibrinogênio está em altas concentrações, como mostrado em estudos laboratoriais.
Portanto, a albumina, que também faz parte do FAR, é a principal proteína do sangue e ajuda a prevenir a agregação das plaquetas, estimulando a produção de prostaglandina D2. Além disso, sabe-se que níveis baixos de albumina podem aumentar a viscosidade do sangue e prejudicar a função do revestimento dos vasos sanguíneos (endotélio). A albumina também tem propriedades antioxidantes e está inversamente relacionada com a inflamação no corpo. Com base nesses mecanismos, acreditamos que níveis elevados de FAR possam reduzir a recuperação do fluxo sanguíneo (STR) ao afetar negativamente a circulação nos pequenos vasos sanguíneos.
CONCLUSÃO
Em síntese, a utilização de albumina em ambientes hospitalares, especialmente em pacientes críticos e em cirurgias cardiovasculares, continua sendo um tema de debate e investigação. Embora estudos iniciais tenham sugerido possíveis riscos associados ao seu uso, a literatura mais recente aponta para uma compreensão mais aprofundada dos benefícios e limitações da substância, destacando sua relevância em contextos específicos, como o priming de bombas de circulação extracorpórea e a reposição volêmica.
A análise dos dados clínicos, como os níveis séricos de albumina e os desfechos pós-operatórios, reforça a necessidade de uma abordagem individualizada e fundamentada nas condições do paciente. A aprovação da ANVISA para o uso da albumina em cirurgias cardiovasculares também é um indicativo da confiança da comunidade científica e regulatória em sua eficácia, embora o cenário clínico deva ser constantemente monitorado e estudado para assegurar sua aplicação adequada.
Com base nos resultados do estudo de Kaplangoray et al., pode-se concluir que o índice de falha arterial (FAR) é um marcador importante para avaliar a função microcirculatória e a recuperação do fluxo sanguíneo em pacientes com infarto do miocárdio. Pacientes com FAR elevado apresentaram piores indicadores clínicos, como maior pico de troponina, níveis elevados de glicose e LDL, e menor fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE). Além disso, o FAR elevado foi associado a uma pior recuperação do fluxo sanguíneo e função microcirculatória. A análise de regressão destacou o FAR como um preditor significativo para complicações como fluxo coronário mais lento e recuperação incompleta do fluxo sanguíneo. Esses achados ressaltam a importância do FAR como uma ferramenta prognóstica relevante, que pode auxiliar na identificação de pacientes com maior risco de complicações após intervenções coronárias, e apontam para a necessidade de mais pesquisas para confirmar seu papel clínico.
Portanto, o trabalho de aprofundamento contínuo sobre os efeitos da albumina em diferentes situações clínicas é crucial para otimizar sua utilização, melhorar os resultados para os pacientes e garantir um uso racional e seguro da substância. A evolução das pesquisas será fundamental para refinar as diretrizes terapêuticas, contribuindo para a segurança e o bem-estar dos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos complexos.
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