REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7337649
Beatriz Gouveia Adukas
Orientador: Manoel França do Nascimento Junior
RESUMO
O presente artigo intitulado a importância da Ressonância Magnética na investigação do Câncer de Mama apresenta estudo sobre a utilização da Ressonância Magnética, que é considerada um dos maiores avanços do século em diagnóstico médico por imagem. Através das imagens obtidas pelo exame, é possível fazer uma análise de diagnóstico mais assertiva desse tipo de câncer. Com a difusão do uso de meios de contraste, avanços na tecnologia das bobinas de superfície e desenvolvimento de protocolos rápidos de aquisição de imagens, a ressonância magnética (RM) de mamas com meio de contraste tem se mostrado indispensável modalidade na detecção, diagnóstico e estadiamento do câncer de mama. Com altíssima tecnologia e sensibilidade de diagnóstico, a ressonância de mamas é um exame específico para a região mamária. A técnica utiliza campo magnético e cortes transversais que permitem criar imagens localizadas por diferentes ângulos: horizontais, verticais e longitudinais. A metodologia neste artigo é de caráter qualitativo, baseada na coleta de dados através de pesquisas bibliográficas citadas por consideráveis autores. Nesse artigo será apresentado o significado de câncer de mama, estadiamento, a ressonância magnética, sintomas, fatores de risco e finalizando com o exame e tratamento do câncer de mama.
Palavras-chave: Câncer de Mama. Diagnóstico. Estadiamento. Ressonância Magnética.
INTRODUÇÃO
As mamas são glândulas cuja principal função é a produção do leite, formado nos lóbulos e conduzido até os mamilos por pequenos canais chamados ductos. A partir do momento em que as células da mama se dividem de forma desordenada, um tumor maligno pode instalar-se principalmente nos ductos e mais raramente nos lóbulos(1).
O câncer de mama é uma doença que acomete as mulheres em maior grau. Como fatores de risco, é impreterível citar a idade avançada, a exposição prolongada aos hormônios femininos, o excesso de peso, o histórico familiar ou de mutação genética. Mais a mais, ser portadora dos genes BRCA1 e BRCA2 é outro fator de risco importante(1).
Foi devidamente comprovado que as mulheres, em determinados casos, estão mais propensas a desenvolver a doença supracitada. Como exemplo, devido a longa exposição aos hormônios femininos, as que não tiveram filhos ou tiveram o primeiro após os 35 anos; não amamentaram; fizeram uso de reposição hormonal (principalmente com estrogênio e progesterona associados); menstruaram muito cedo (antes dos 12 anos); e entraram mais tardiamente no período da menopausa (acima dos 50 anos). Entretanto, faz-se válido ressaltar que há casos de mulheres que desenvolvem a doença sem apresentar fatores de risco identificáveis(1).
A detecção precoce do câncer de mama tem sido possível graças aos métodos diagnósticos cada vez mais modernos e eficazes. Desses métodos, além da mamografia com a associação da tomossíntese e da ultrassonografia, a ressonância magnética (RM) é considerado outro exame confiável(2).
Este é indicado essencialmente às mulheres com alto risco de desenvolver câncer de mama, atuando como método de rastreamento, e para pacientes submetidas à biópsia que tenham tido confirmado o diagnóstico da doença, vez que nesses casos a ressonância fornece informações complementares acerca da área afetada. Uma das principais vantagens da RM é sua alta sensibilidade, que atinge um nível superior a 95%, fator que possibilita a detecção de lesões muitas vezes imperceptíveis em outros exames(2).
O objetivo geral deste artigo é apresentar a importância da ressonância magnética na investigação do câncer de mama. O objetivo específico se direciona para a compreensão das análises sobre ressonância magnética e sua relevância na precisão de diagnósticos, exames e tratamento com o viés de indicar o tratamento mais adequado ao paciente. A metodologia neste artigo é de caráter qualitativa, baseada nos dados colhidos de pesquisas bibliográficas citadas por consideráveis autores no ramo.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse artigo foi construído através de um estudo exploratório em diversas pesquisas bibliográficas, disponíveis em importantes sites relevantes no que diz respeito ao tema medicina e Câncer de Mama. Os artigos encontram-se disponíveis nos bancos de dados da SciELO e Google Acadêmico, bem como em sites de clínicas e de profissionais especializados no assunto. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: Câncer de Mama, Doença, Ressonância Magnética e Ultrassonografia. De maneira criteriosa, as obras foram analisadas e selecionadas as mais importantes, e separadas as informações consideradas impreteríveis para discorrer acerca do assunto. Na sequência, foram levadas em consideração as discussões, artigos e comentários fundamentais de especialistas para o desenvolvimento do presente artigo, produzido no ano de 2022, especificamente no tempo compreendido entre os meses de abril a novembro.
DESENVOLVIMENTO Câncer de Mama
O câncer de mama é a neoplasia maligna, isto é, um tumor de crescimento rápido, formado por células que se apresentam de forma diferente daqueles presentes do tecido normal, que se origina nas mamas. As mamas são glândulas localizadas na parte anterior do tórax, compostas por tecido adiposo e conjuntivo. Como homens e mulheres possuem mamas, o câncer de mama afeta ambos os sexos, contudo, menos de 1% dos casos de mama ocorrem em homens(3).
Assim como os outros tipos de cânceres, múltiplos fatores são responsáveis por seu aparecimento de tal forma que uma célula normal da mama pode sofrer o processo de carcinogênese, se tornando maligna, e originando o câncer de mama. Uma vez formado, o câncer de mama pode se espalhar para os gânglios linfáticos ou para outros órgãos distantes, processo chamado de metástases(3).
Estadiamento do câncer de mama
O estadiamento é uma forma de descrever os aspectos do câncer de mama, incluindo o tamanho do tumor, a localização, se ele se espalhou para os linfonodos, se espalhou para partes distantes do corpo, e se está afetando as funções de outros órgãos do corpo.
Estádio Zero (0): o tumor não é invasivo e está restrito à mama;
Estádio I: o tumor da mama tem até 2 centímetros de diâmetro, não invade os linfonodos axilares, ou se o fizer, tem invasão máxima de 2 milímetros;
Estádio II: o tumor da mama possui até 5 centímetros de diâmetro e invasão de 0 a 3 linfonodos axilares ou tumor da mama acima de 5 centímetros de diâmetro que não invadem a parede muscular, a pele e os linfonodos;
Estádio III: qualquer tumor que acabar invadindo acima de 10 linfonodos axilares, tumor de até 5 centímetros de diâmetro que invada até 9 linfonodos axilares, ou tumor da mama que invada a parede torácica e/ou a pele, independente da invasão de linfonodos;
Estádio IV: o tumor da mama de qualquer tamanho, que invada órgãos a distância como ossos, pulmões, fígado e cérebro.
Sintoma
O sintoma mais comum de câncer de mama é o aparecimento de um nódulo. Na maioria dos casos é indolor, duro e irregular, porém há tumores que são de consistência branda, globosos e bem definidos. Outros sinais de câncer de mama são edema cutâneo semelhante à casca de laranja; retração cutânea; dor, inversão do mamilo, hiperemia, descamação ou ulceração do mamilo; e secreção papilar, especialmente quando é unilateral e espontânea. A secreção associada ao câncer geralmente é transparente, podendo ser rosada ou avermelhada devido à presença de glóbulos vermelhos. Podem também surgir linfonodos palpáveis na axila (4).
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres. Outrossim, é a causa mais frequente de morte por câncer nessa população, com 684.996 óbitos estimados para esse ano (15,5% dos óbitos por câncer em mulheres) (5).
No Brasil, o câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente em mulheres de todas as regiões, após o câncer de pele não melanoma. As taxas são mais elevadas nas regiões mais desenvolvidas (Sul e Sudeste) e a menor é observada na região Norte. Em 2022, estima-se que ocorrerão 66.280 casos novos da doença (4).
Infelizmente, o câncer de mama é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no Brasil. A incidência e a mortalidade por câncer de mama tendem a crescer progressivamente a partir dos 40 anos (4).
Fatores de Risco
O câncer de mama não tem uma causa única. Diversos fatores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver a doença, tais como: idade, fatores endócrinos/história reprodutiva, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários (6).
Mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos de idade, têm maior risco de desenvolver câncer de mama. O acúmulo de exposições ao longo da vida e as próprias alterações biológicas com o envelhecimento aumentam, de modo geral, esse risco (7), (8).
Os fatores endócrinos/história reprodutiva estão relacionados em grande escala ao estímulo estrogênico, seja endógeno ou exógeno, com aumento do risco quanto maior for a exposição. Esses fatores incluem a história de menarca precoce (idade da primeira menstruação menor que 12 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), primeira gravidez após os 30 anos, nuliparidade, uso de contraceptivos orais (estrogênio-progesterona) e terapia de reposição hormonal pós-menopausa (estrogênio-progesterona) (5), (7), (8).
Os fatores comportamentais e ambientais bem estabelecidos incluem a ingestão de bebida alcoólica, sobrepeso e obesidade, inatividade física e exposição à radiação ionizante (4),(5), (8), (9), (10), (11). O tabagismo, estudado ao longo dos anos com resultados contraditórios, é atualmente classificado pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como agente carcinogênico com limitada evidência para câncer de mama em humanos (5). São evidências sugestivas, mas não conclusivas, de que ele possivelmente aumenta o risco desse tipo de câncer (12), (13).
A exposição a determinadas substâncias e ambientes, como agrotóxicos, benzeno, campos eletromagnéticos de baixa frequência, campos magnéticos, compostos orgânicos voláteis (componentes químicos presentes em diversos tipos de materiais sintéticos ou naturais, caracterizados por sua alta pressão de vapor sob condições normais, fazendo com que se transformem em gás ao entrarem em contato com a atmosfera, hormônios e dioxinas (poluentes orgânicos altamente tóxicos ao ambiente e que demoram muitos anos para serem eliminados, oriundos de subprodutos de processos industriais e de combustão) pode também estar associada ao desenvolvimento do câncer de mama. Os profissionais que apresentam risco aumentado de desenvolvimento da doença são os cabeleireiros, operadores de rádio e telefone, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, comissários de bordo e trabalhadores noturnos. As atividades econômicas que mais se relacionam ao desenvolvimento da doença são as da indústria da borracha e plástico, química e refinaria de petróleo(6).
O risco de câncer de mama devido à radiação ionizante é proporcional à dose e à frequência(6). Doses altas ou moderadas de radiação ionizante (como as que ocorrem nas mulheres expostas a tratamento de radioterapia no tórax em idade jovem) ou mesmo doses baixas e frequentes (como as que ocorrem em mulheres expostas a dezenas de exames de mamografia) amplia o risco de desenvolvimento do câncer de mama.
Os fatores genéticos/hereditários foram relacionados à presença de mutações em determinados genes. Essas mutações são mais comumente encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, mas também são frequentes em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RAD51C, RAD51D e TP53 (14), (15). Mulheres que possuem vários casos de câncer de mama e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário em parentes consanguíneos, sobretudo em idade jovem, ou câncer de mama em homem também em parente consanguíneo, podem ter predisposição hereditária e são consideradas de risco elevado para a doença. O câncer de mama de caráter hereditário corresponde, por sua vez, a apenas 5% a 10% do total de casos(6).
Ressonância Magnética das Mamas
A ressonância magnética das mamas está sendo cada vez mais utilizada como método adjunto da mamografia e da ultrassonografia na detecção, na caracterização e no planejamento terapêutico do câncer de mama. Muitas indicações têm sido identificadas e avaliadas e, em geral, elas baseiam-se principalmente na sua elevada sensibilidade para a detecção do câncer de mama, inclusive de lesões ocultas no exame físico e nos métodos convencionais (mamografia e ultrassonografia). A ressonância magnética das mamas tem sido investigada no rastreamento de mulheres com alto risco para o câncer de mama; no rastreamento da mama contralateral em mulheres com diagnóstico de câncer de mama para pesquisa de neoplasias sincrônicas; na procura da lesão primária oculta em pacientes com metástases axilares; na caracterização de achados duvidosos na mamografia ou na ultrassonografia; para determinar a extensão local do câncer de mama; para verificar a presença e a extensão de doença residual, especialmente quando margem cirúrgica é positiva no exame histológico; para avaliar a resposta à quimioterapia neoadjuvante; na diferenciação entre cicatriz cirúrgica e recorrência tumoral nas pacientes previamente tratadas por câncer de mama; na avaliação da integridade dos implantes mamários. A ressonância magnética não deve ser empregada como critério para se indicar ou não a investigação histológica de lesões suspeitas por critérios clínicos, mamográficos ou ultrassonográficos. Também não há estudos que forneçam base científica para o seu uso no rastreamento do câncer de mama em mulheres que não possuem alto risco para a doença (16).
Após a detecção de uma alteração em qualquer método de imagem é necessária à sua caracterização para estabelecer se ela representa uma alteração benigna ou uma lesão potencialmente maligna. A probabilidade de malignidade de uma alteração é determinada principalmente pela avaliação de suas características morfológicas e evolutivas (redução, estabilidade ou crescimento ao longo do tempo). A utilidade prática da ressonância magnética das mamas muitas vezes é limitada pela especificidade relativamente baixa destes exames que implica em biópsias ou seguimentos precoces. Isto decorre da conhecida sobreposição de achados entre as lesões benignas e malignas nos métodos de imagem, mas também se relaciona à padronização e ao entendimento do valor preditivo de cada critério utilizado para a interpretação dos achados nestes exames (16).
Figura 4: Paciente com mamas densas na mamografia (A, B). Ressonância magnética e ultrassonografia (C, D) mostram o tumor principal na mama esquerda como nódulo irregular. A ressonância magnética também mostra pequeno nódulo na mesma mama (seta em E), que foi encontrado na ultrassonografia second-look (F). A biópsia confirmou carcinoma ductal invasivo em ambas as lesões. Fonte: RB.ORG – Radiologia Brasiliera
Exame de Mamas
O aparelho de ressonância magnética funciona como um ímã que produz um campo magnético quando a paciente se encontra dentro da máquina (nesse caso, deitada de barriga para baixo, ou decúbito ventral, com as mamas posicionadas em uma abertura). Esse campo magnético induz os prótons do nosso corpo a se alinharem. O alinhamento é captado, produzindo imagens nítidas das mamas, axilas e parede torácica com muita riqueza de detalhes. A ressonância magnética de mamas é um exame que não utiliza radiação.
Usualmente é imprescindível a injeção de contraste, uma substância injetada na veia que ajuda a visualização de possíveis lesões. O contraste utilizado é o gadolínio, uma substância em geral bem tolerada com raríssimos casos de reações adversas ou alergias (17).
Análise comparativa entre RM Mamária, Mamografia, Ultrassonografia e Cintilografia
A mamografia e o ultrassom são exames fundamentais para o diagnóstico e acompanhamento pós-cirúrgico do câncer de mama. A cintilografia também vem sendo usada para confirmar a presença ou ausência de tumores mamários e a presença de linfonodos metastáticos (18).
Entre estes métodos de imagem, a mamografia é o mais frequentemente utilizado, apresentando alta sensibilidade na detecção de câncer mamário em estágio precoce. Contudo, esta modalidade diagnóstica apresenta baixa especificidade e alguns fatores podem dificultar o diagnóstico correto do câncer mamário, incluindo mamas densas, implantes mamários e alterações mamárias pós-cirúrgicas. Não somente, o exame mamográfico também não possibilita o diagnóstico diferencial entre lesões císticas e sólidas. No seguimento pós-cirúrgico e radioterápico de câncer, as mamas apresentam alterações que incluem espessamento de pele, distorções arquiteturais, edema do tecido fibroglandular, cicatrizes e calcificações. Estas alterações podem dificultar e até simular o diagnóstico de câncer mamário recorrente, podendo levar a paciente a ser submetida a biópsias desnecessárias (19).
A sensibilidade da mamografia varia de 63% a 90% e depende de vários fatores, incluindo a qualidade da imagem e a experiência do radiologista leitor do exame. A baixa especificidade da mamografia regularmente leva à realização de biópsias desnecessárias, em alterações mamárias de natureza benigna.
O valor preditivo positivo da mamografia é variável, mas valores compreendidos entre 10% e 50% são descritos. Estes baixos valores sugerem que, apesar de o exame monográfico ser altamente efetivo como modalidade de “screening“, existem pacientes em que ele não realiza o diagnóstico, sendo inevitáveis, nessas situações específicas, a realização de outros exames complementares de imagem (20).
O ultrassom mamário pode diagnosticar lesões císticas e sólidas e avalia mamas densas melhor do que a mamografia, mas pode apresentar dificuldades no diagnóstico diferencial entre massas sólidas de natureza benigna e maligna, em virtude da superposição de achados entre certos tipos de fibroadenomas e carcinomas (21).
Figura 5: Paciente com 37 anos de idade, portadora de carcinoma multifocal na mama direita. RM mamária realizada no plano axial, com imagens pós contraste e com supressão de gordura. Observam-se duas lesões nodulares localizadas na mama direita, com contornos irregulares e espiculados e com intensa impregnação do Gd-DTPA.
Figura 6: Paciente com 61 anos de idade. Portadora de adenocarcinoma na mama esquerda. RM realizada no plano axial, com imagens pós contraste e com supressão de gordura. Presença de imagem irregular de aspecto infiltrativo localizada na mama esquerda, com intensa impregnação do Gd-DTPA.
Figura 7: A mesma paciente da figura 6, após dois meses de tratamento com quimioterapia.
A RM mamária demonstra significativa redução no tamanho da lesão.
Figura 8: Paciente com 51 anos de idade, portadora de carcinoma primário na mama esquerda. RM realizada no plano axial, com imagens pós contraste e com supressão de gordura. Observa-se lesão nodular espiculada e com significativa impregnação do GdDTPA.
Apesar de o ultrassom apresentar baixa sensibilidade para detectar lesões menores que 1 cm e microcalcificações, com o uso de transdutores de 7,5 e 10 MHz é possível diagnosticar carcinomas mamários de pequenas dimensões e clinicamente ocultos, assim como transdutores de 13 MHz possibilitam a visualização de microcalcificações mamárias. Dessa forma, apesar de o ultrassom ser um método bastante útil no diagnóstico do câncer mamário, a especificidade deste exame vai depender de vários fatores, estando ainda incluídas, entre eles, a localização da lesão na glândula mamária, a qualidade do aparelho e a experiência do profissional que realiza o exame (20).
A principal utilização da cintilografia no câncer de mama é detectar o nódulo sentinela, o qual representa o primeiro linfonodo a drenar a via linfática peritumoral, sendo, dessa maneira, o elemento mais importante para o estadiamento, proposta terapêutica e prognóstico desta afecção (22).
A cintilografia pode ser usada para confirmar a presença ou ausência de câncer mamário, mas não substitui a mamografia nem o ultrassom e, preferencialmente, deve ser usada como método diagnóstico complementar, sendo ainda necessárias mais pesquisas para que possam ser avaliados tanto os seus valores clínicos quanto a sua importância no diagnóstico do câncer mamário (20).
Apesar de a RM apresentar baixa especificidade na detecção do câncer de mama, ela possui maior acurácia do que a mamografia e o ultrassom em avaliar o tamanho e as características morfológicas do tumor, bem como no diagnóstico de lesões multifocais e multicêntricas (21).
Não obstante a alta acurácia da RM mamária, sugerindo inclusive a possibilidade de num futuro próximo poder substituir o exame mamográfico em grupos específicos de pacientes, o seu uso, atualmente, precisa ser ponderado em razão do alto custo deste método diagnóstico, que ultrapassa em até vinte vezes o preço de um exame mamográfico (23).
Tratamento
Importantes avanços na abordagem do câncer de mama aconteceram nos últimos anos, principalmente no que diz respeito a cirurgias menos mutilantes, assim como a busca da individualização do tratamento (24). O tratamento varia de acordo com o estadiamento da doença, suas características biológicas, bem como das condições da paciente (idade, status menopausal, comorbidades e preferências) (24).
O prognóstico do câncer de mama depende da extensão da doença (estadiamento), assim como das características do tumor. Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. Quando há evidências de metástases (doença a distância), o tratamento tem por objetivos principais prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida.
As modalidades de tratamento do câncer de mama podem ser divididas em:
- Tratamento local: cirurgia e radioterapia (além de reconstrução mamária)
- Tratamento sistêmico: quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica
Estádios I e II
A conduta habitual consiste em cirurgia, que pode ser conservadora, com retirada apenas do tumor (25); ou mastectomia, com retirada da mama e reconstrução mamária. A avaliação dos linfonodos axilares tem função predominantemente prognóstica (26).
Após a cirurgia, o tratamento complementar com radioterapia pode ser indicado em algumas situações. Já a reconstrução mamária deve ser sempre considerada nos casos de mastectomia. O tratamento sistêmico será determinado de acordo com o risco de recorrência (idade da paciente, comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação), assim como das características tumorais que ditarão a terapia mais apropriada. Esta última baseia-se principalmente na mensuração dos receptores hormonais (receptor de estrogênio e progesterona) quando a hormonioterapia pode ser indicada; e de HER-2 (fator de crescimento epidérmico 2) com possível indicação de terapia biológica anti-HER-2 (27).
Estádio III
Pacientes com tumores maiores, porém ainda localizados, enquadram-se no estádio III. Nessa situação, o tratamento sistêmico (na maioria das vezes, com quimioterapia) é a modalidade terapêutica inicial. Após resposta adequada, segue-se com o tratamento local (cirurgia e radioterapia). (28).
Estádio IV
Nesse estádio, é fundamental que a decisão terapêutica busque o equilíbrio entre a resposta tumoral e o possível prolongamento da sobrevida, levando-se em consideração os potenciais efeitos colaterais decorrentes do tratamento A modalidade principal nesse estádio é sistêmica, sendo o tratamento local reservado para indicações restritas (28).
CONCLUSÃO
A leitura desse trabalho oportuniza, aos estudantes de Biomedicina e cursos correlatos, a apropriação de conhecimento técnico e clareza da importância de que as pesquisas científicas proporcionam um grande crescimento acadêmico, demonstrando o quanto os conteúdos e habilidades devem estar disponíveis e atualizados para estudo teórico e prático, facilitando alcançar suas metas estudantis. Portanto, o objetivo desse artigo foi alcançado, pois apresentou a importância da ressonância magnética, seus exames e diagnósticos na investigação do câncer de mama.
Nessa leitura percebe-se que a ressonância magnética é utilizada principalmente em mulheres que já foram diagnosticadas com câncer de mama para determinar, com mais precisão, o tamanho do tumor e a existência, ou não, de outros tumores na mama. O câncer de mama é um dos principais fatores para aumento de vítimas mulheres, apesar de existir acesso abundante à informação e tratamento, as pessoas não os buscam corretamente e periodicamente. Ainda ocorrem muitos casos no Brasil que poderiam ser tratados através de métodos preventivos, como ressonância magnética (RM), onde há uma grande possibilidade de diagnosticar de maneira mais precoce mulheres com câncer, melhorando a possibilidade de tratamento e aumentando as chances de cura. Outro fator muito importante apresentado é que a ressonância magnética de mama é recomendada junto com a mamografia anual para diagnóstico do câncer de mama em mulheres com alto risco da doença. O câncer de mama não ocorre por ter uma causa única, ou seja, diversos fatores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver essa doença, tais como: idade, fatores endócrinos, história reprodutiva, fatores comportamentais e ambientais, fatores genéticos e hereditários. Enfim, é imprescindível que alunos do curso de biomedicina estudem e se aperfeiçoem a respeito de exames, tratamentos e sobre os estádios que os acompanham.
O conhecimento e a habilidade adquiridos pelos alunos do curso de biomedicina são fundamentais para seu aprimoramento profissional, porém a atitude em realizar, cuidar de pacientes e ofertar melhores condições de vida aos seres humanos é a atitude mais louvável entre esses profissionais.
REFERÊNCIAS
- VARELLA, Drauzio. Disponível em https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-esintomas/ cancer-de-mama/. Acesso em 12 abril 22.
- BROMBERG, Silvio. Disponível em https://silviobromberg.com.br/o-que-voce-preci sasaber-sobre-ressonancia-magnetica-das-mamas/. Acesso em 7 abril 22.
- INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA.
Estimativa 2020: incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2019. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/ document//. Acesso em: 12 maio 22.
- INCA. Instituto Nacional de Câncer. Disponível em https://www.inca.gov.br/controle-docancer-de-mama/fatores-de-risco. Acesso em 15 junho 2022.
- INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. Cancer today. Lyon:
WHO, 2020. Disponível em: https://gco.iarc.fr/today/home Acesso em: 03 junho 2022.
- ADAMI, H.; HUNTER, D.; TRICHOPOULOS, D. (ed.). Textbook of cancer epidemiology.
2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2008.
- SILVA, M. M.; SILVA, V. H. Envelhecimento: importante fator de risco para o câncer. Arquivos Médicos do ABC, Santo André, v. 30, n. 1, p. 11-18, 2005. Disponível em: https://www.portalnepas.org.br/amabc/article/view/273. Acesso em: 27 maio 2022.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health topics. Breast cancer: prevention and control. Geneva: WHO, 2020. Disponível em: https://www.who.int/cancer/ detection/breastcancer/en/. Acesso em: 13 maio 2022.
- INUMARU, L. E.; SILVEIRA, E. A. NAVES, M. M. V. Fatores de risco e de proteção para câncer de mama: uma revisão sistemática. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 7, p. 1259-1270, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/ZbRRyNH4HRLXSbFNMms6RgM/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
- ANOTHAISINTAWEE, T. Risk factors of breast cancer: a systematic review and metaanalysis. Asia-Pacific Journal of Public Health, Hong Kong, v. 25, n. 5, p. 368-387, 2013. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1010539513488795. Acesso em: 13 maio 2022.
- WORLD CANCER RESEARCH FUND; AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH. Diet, nutrition, physical activity and breast cancer 2017. London: WCRF, 2018. (Continuous update project). Disponível em: https://www.wcrf.org/wpcontent/uploads/2021/02/Breast-cancer-report.pdf. Acesso em: 13 maio 2022.
- JEMAL, A.; TORRE, L.; SOERJOMATARAM, I.; BRAY, F. (Eds). Risks of tobacco. In: ___. The Cancer Atlas. Third Ed. Atlanta, GA: American Cancer Society, 2019. Disponível em: https://canceratlas.cancer.org/risk-factors/risks-of-tobacco/ Acesso em: 20 junho 2022.
- DROPE, J. The Tobacco Atlas. Atlanta: American Cancer Society and Vital Strategies, 2018. Disponível em:<https://tobaccoatlas.org/topic/deaths/>. Acesso em: 06 abril 22.
- BREAST CANCER ASSOCIATION CONSORTIUM. Breast Cancer Risk Genes – Association Analysis in More than 113,000 Women. The New England Journal of Medicine, Boston, v. 384, n. 5, p. 428-439, Feb 2021. DOI 10.1056/NEJMoa1913948. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa1913948?articleTools= true. Acesso em: 14 june 2022.
- GARBER, J. E. Follow-up study of twenty-four families with Li-Fraumeni syndrome. Cancer Research, Baltimore, v. 51, n. 22, p. 6094-6097, Nov 1991. Disponível em: https://cancerres.aacrjournals.org/content/51/22/6094.full-text.pdf. Acesso em: 14 jun. 2021.
- BASSET LW, Kim CH. Breast imaging: mammography and ultrasonography. Magn Reson Imaging Clin N Am 2001,251-271.
- CANCER DE MAMA BRASIL. Disponível em: https://www.cancerdemamabrasil.com.br/ ?s=exame +de+mamas&post_type=post. Acesso em 08 junho 22.
- SODERSTROM CE, Harms SE, Farrell RS Jr, Pruneda JM, Flamig DP. Detection with MR imaging of residual tumor in the breast soon after surgery. AJR 1997;168:485-8.
- RIEBER A, Merkle E, Zeitler H. Value of MR mammography in the detection and exclusion of recurrent breast carcinoma. J Comput Assist Tomogr 1997;21:780–4.
- BUSCOMBE J, Hill J, Parbhoo S. The diagnosis of breast cancer. In: Buscombe J, Hill J, Parbhoo S, eds. Scintimammography. A guide to good practice. 2nd ed. Birmingham, England: Gibbs Associates Limited, 1998:8-22.
- BOETES C, Mus RDM, Holland R. Breast tumors: comparative accuracy of MR imaging relative to mammography and US for demonstrating extent. Radiology 1995;197:743-7.
- SCIMA W, Mukerjee A, Saini S. Contrast-enhanced MR imaging. Clin Radiol 1996;51:235-44.
- MUMTAZ H, Hall-Craggs MA, Davidson T. Staging of symptomatic primary breast cancer with MR imaging. AJR 1997;169:417-24.
- SLEDGE, G. W. Past, present, and future challenges in breast cancer treatment. J Clin Oncol, v. 32, n. 19, p. 1979–1986, jul. 2014.
- MORAN, M. S. Society of Surgical Oncology-American Society for Radiation Oncology consensus guideline on margins for breast-conserving surgery with whole breast irradiation in stage I and II invasive breast cancer. Ann Surg Oncol, v. 21, p. 704-716, 2014.
- GIULIANO, A. E. Axillary dissection vs no axillary dissection in women with invasive breast cancer and sentinel node metastasis: A randomized clinical trial. JAMA, v. 305, p. 569–575, 2011.
- WOLFF, A. C. Recommendations for human epidermal growth factor receptor 2 testing in breast cancer: American Society of Clinical Oncology/College of American Pathologists clinical practice guideline update. J Clin Oncol, v. 31, n. 31, p. 3997–4013, nov. 2013.
- CORTAZAR, P. Pathological complete response and long-term clinical benefit in breast cancer: the CTNeoBC pooled analysis. Lancet, v. 384, n. 9938, p. 164–172, jul. 2014.