A FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO ATRAVÉS DA PRÁTICA SISTEMÁTICA DA LEITURA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

THE TRAINING OF LITERARY READER THROUGH THE SYSTEMATIC PRACTICE OF READING IN PORTUGUESE LANGUAGE CLASSES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410311401


Professora Doutoranda Ana Reges Pinheiro de Medeiros1


RESUMO

Um dos processos mais essenciais para o desenvolvimento de práticas de aprendizagem relacionadas à interpretação, criticidade e criatividade dos alunos, é a formação de leitores que não apenas decodifiquem o texto, mas que interajam com ele, refletindo sobre as temáticas e significados que a leitura literária pode desempenhar em sua vida cotidiana. A escola é o ambiente que mais propicia contatos sistemáticos com esse tipo de leitura e, através de uma mediação planejada pelo professor, possibilita a descoberta, por parte do aluno, de narrativas diversas, enriquecendo sua experiência como leitor e ampliando o repertório sociocultural desses estudantes. O desafio de colocar em prática esse processo de apreensão da leitura de textos literários será a temática desse artigo que visa analisar o contato com a literatura no currículo escolar como base para a formação cognitiva e cidadã de nossos estudantes.

Palavras-chave: Escola.Leitura.Texto literário.Leitor.

ABSTRACT

One of the most essential processes for developing learning practices related to students’ interpretation, critical thinking and creativity is the formation of readers who not only decode the text, but also interact with it, reflecting on the themes and meanings that literary reading can play in their daily lives. School is the environment that most provides systematic contact with this type of reading and, through mediation planned by the teacher, enables students to discover diverse narratives, enriching their experience as readers and expanding the sociocultural repertoire of these students. The challenge of putting this process of understanding the reading of literary texts into practice will be the theme of this article, which aims to analyze contact with literature in the school curriculum as a basis for the cognitive and civic formation of our students.

Keywords: School. Reading. Literary text. Reader.

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios da escola do século XXI é, rivalizando com a dinamicidade das redes sociais, fomentar no jovem do Ensino Médio, o gosto pela leitura e o desenvolvimento do hábito de ler. Além das dificuldades relacionadas ao pouco domínio da língua materna no que diz respeito à falta de fluência e proficiência leitora, a escola se vê responsável por ser um espaço de formação cidadã de jovens que, exceto pelo próprio meio escolar, pouco ou nenhum acesso têm a acervos literários diversos.

Partindo desse pressuposto e percebendo o quanto a deficiência leitora nos jovens prejudica seu desenvolvimento na escola bem como sua participação ativa na sociedade, é que se estabeleceu no Liceu de Acopiara, entre os professores de língua portuguesa, o acordo de priorizar, em uma de suas aulas semanais a condução sistemática da leitura como uma espécie de “círculo de leitura” voltado não apenas àqueles que gostam e nutrem essa prática, mas a todos os que, inseridos no sistema, não foram incentivados nem estimulados a fazer da leitura um de seus hábitos.

A LEITURA LITERÁRIA NO CURRÍCULO ESCOLAR

O currículo e sua aplicabilidade no espaço formal da escola é uma das análises mais importantes a se fazer na prática pedagógica, tendo em vista o caráter muitas vezes excludentes dos conteúdos atrelados ao desenho e desenvolvimento curricular adotado por muitas escolas em suas diversas áreas de conhecimento, a prática sistemática da leitura em sala de aula vem para substituir as tão arcaicas práticas exercidas durante muito tempo nos currículos escolares de apenas indicar, citar ou falar sobre obras que eram referências em avaliações externas como ENEM e/ou vestibulares diversos.

É necessário que professores de língua portuguesa, maiores multiplicadores da modalidade formal da língua materna, possam refletir sobre a importância do currículo imputado à realidade escolar e como seu desenho e planejamento devem, articulados com o processo avaliativo, contribuir para a eficiência e eficácia do processo de ensino e aprendizagem.

É fundamental que todos os educadores sejam incluídos nas discussões sobre o planejamento curricular e que tenham a autonomia necessária e flexibilidade para adaptar o currículo às necessidades específicas de seus alunos.(Tomazinho, 2024).

É essencial que esse currículo possa se adequar às inúmeras e diferentes realidades que cercam as escolas e os sistemas de ensino no Brasil. Na escola pública de ensino regular, cuja maior parte dos estudantes vêm de ambientes com pouco ou nenhum acesso a obras literárias, ao tornar os livros não apenas uma indicação, mas um recurso utilizado em sala de aula de forma sistemática, é possível estimular no estudante a vontade de estabelecer a mesma rotina com outras obras, o que enriqueceria seu repertório sociocultural.

Através da prática da leitura orientada e mediada por um professor, a escola pode contribuir auxiliando seus estudantes a se perceberem como cidadãos que têm o direito de se apropriar ativamente do processo histórico de conhecimento de sua língua materna desenvolvido com o decorrer do tempo, bem como utilizá-lo, através dos mecanismos necessários, para a reconstrução individual do legado cultural e social coletivo do qual participa. Paulo Tomazinho reflete sobre o quão é importante que o currículo não seja centrado apenas em uma cultura dominante, mas que ele valorize a pluralidade e contribua para o desenvolvimento de uma educação inclusiva, que prepare os alunos para viver e trabalhar em uma sociedade multicultural.

No trabalho com a língua portuguesa, observa-se ainda a relação de antagonismo entre o ensino tradicional da gramática e a necessidade de fomentar o domínio da língua levando para o ambiente escolar a dualidade que   coloca em lados opostos aqueles que dominam saberes considerados ‘legítimos’, que contribuiriam para a manutenção de uma classe dominante e os que se servem de saberes considerados deslegitimados por serem os que correspondem às minorias sociais que precisam se adaptar a um currículo elaborado por outros que não conhecem sua realidade.

No ensino da língua portuguesa, a gramática normativa, com o ensino de regras e prática de exercícios variados ainda é a mola diretriz do currículo de muitas instituições. O foco na prática da leitura em sala de aula com a mediação crítica por parte do professor é uma forma de democratizar o acesso à literatura, colaborando com a socialização de um conhecimento linguístico mais elaborado, disseminando a cultura e possibilitando àqueles cujos saberes são desconsiderados uma oportunidade de se reconhecer no currículo através de um trabalho planejado, elaborado e desenvolvido para possibilitar-lhes a apropriação e domínio de sua língua materna.

O conhecimento a ser trabalhado na escola deve levar em conta a problematização da prática social, mas os problemas de tal prática só podem ser equacionados se os alunos se apropriarem de instrumentos que lhes permitam tal ação. Todo conhecimento parte, então, da prática social para a ela retornar, como aplicação e superação. Mas sem o conhecimento historicamente acumulado e analisado de forma crítica não há possibilidade dessa superação.” (kindle, Teorias de Currículo, posição 1296).

A organização mais comum do currículo em disciplinas transpõe para o ambiente escolar o conhecimento que é percebido como genuíno para ser transmitido às novas gerações, não parece adequado que esses possam ser agrupados em escolar/científico ou não de maneira definitiva visto que sua importância é também social, portanto, as prioridades sobre o ensino da língua e como ela deve ser trabalhada sistematicamente adapta-se ao momento em que ocorre a elaboração curricular para orientar o trabalho pedagógico e o público-alvo a quem esse trabalho é dirigido.

”Isso significa que o currículo não pode ser aplicado de maneira uniforme para todos os alunos; ele precisa ser diferenciado e ajustado de acordo com as características e necessidades de cada estudante.” (Tomazinho, Currículo, Planejamento… posição 836).

Percebendo a necessidade de tornar a leitura uma prática possível aos alunos da escola pública, é necessário, através da sistematização desse hábito nas aulas do Ensino Médio, utilizar o acervo do PNLD LITERÁRIO através do qual uma quantidade razoável de obras pré-selecionadas chegam à escola e possibilitam o acesso, por parte da turma inteira e do professor ao mesmo livro para, além da condução da leitura, contribuir com o diálogo e discussão de situações diversas abordadas na obra.

A condução em sala consiste em, com os estudantes, mediar 1 aula (50 minutos) voltada inteiramente para a leitura de, no mínimo, dependendo do desenvolvimento da fruição dos alunos, 10 páginas a cada momento. O que torna possível, ao longo do ano letivo, ler mais de um livro além de fomentar nesses estudantes o desejo de conhecerem outras obras diferentes das que a prática de sala de aula vai lhe apresentar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola tem importância fundamental para a instrumentalização de uma concepção pedagógica que é representação de fundamentos filosóficos, sociais e culturais que reproduzem e representam o mundo. É preciso frisar que a condução da leitura em voz alta, num momento coletivo fomentando a participação de todos os presentes, não é fácil, talvez seja um dos maiores desafios do professor de língua portuguesa, visto que muitos alunos chegam ao EM apresentando uma série de dificuldades oriundas justamente da falta de contato com a leitura de forma sistemática.

A escola deve, fomentada e orientada por um currículo que se articule à sua proposta pedagógica, ser flexível e adaptada à realidade vivida por seus alunos, orientando não apenas para que seja possível ao estudante adquirir as competências básicas para entrar no mundo do trabalho, mas os saberes e habilidades necessários para agir sobre e transformar a sociedade, otimizando a maneira como a língua portuguesa é apreendida e possibilitando práticas de leitura que ofereçam possibilidades de expressão da subjetividade dos estudantes viabilizando situações em que haja um envolvimento literário e o incentivo à formação do leitor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TOMAZINHO, Paulo. Currículo: planejamento, desenho e avaliação. 1. ed. [e- book] Meta Aprendizagem, 2024. Disponível em: Amazon Kindle.

LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias de currículo [livro eletrônico]. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2013.


1Doutoranda em Ciências da Educação pela FICS. E-mail:anareges_medeiros@hotmail.com