A FILOSOFIA NO CURRÍCULO ESCOLAR

PHILOSOPHY IN THE SCHOOL CURRICULUM

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248240928


Rafael Viêro Tourem1
Vanessa Brum 2
Prof.ª MS. e Orientadora. Tatiana de Mello Ribeiro Cruz3


RESUMO

O presente artigo tem como problema de pesquisa questionar os principais desafios para implementação da filosofia no currículo escolar, bem como discutir da ausência ou presença parcial para a formação dos estudantes e para a sociedade. Justifica-se este estudo na medida em que a Filosofia, ao estimular o questionamento, a análise e a reflexão, contribui significativamente para a formação de indivíduos mais autônomos, críticos e engajados com a sociedade. O objetivo geral deste artigo é analisar a trajetória histórica da Filosofia no currículo escolar brasileiro, identificar os principais desafios para sua implementação efetiva e discutir as implicações dessa ausência ou presença parcial para a formação dos estudantes e para a sociedade. O método de pesquisa é o qualitativo e a metodologia de pesquisa é bibliográfica.

Palavraschave:  Filosofia; Desafios; Educação; Ensino; Reflexão.

ABSTRACT

This article aims to investigate the main challenges for implementing philosophy in education, as well as to discuss the implications of this absence or partial presence for student development and society. This study is justified by the fact that philosophy, by stimulating questioning, analysis, and reflection, significantly contributes to the formation of more autonomous, critical, and engaged individuals in society. The general objective of this article is to analyze the historical trajectory of philosophy in the Brazilian school curriculum, identify the main challenges for its effective implementation, and discuss the implications of this absence or partial presence for student development and society. The research method is qualitative, and the research methodology is bibliographic.

Keywords: Philosophy, challenges, education, teaching, reflection

1. INTRODUÇÃO

A presença da Filosofia no currículo escolar brasileiro é um tema que suscita debates e inquietações. A despeito da importância reconhecida da disciplina para o desenvolvimento do pensamento crítico, da cidadania e da formação integral dos estudantes, sua implementação enfrenta desafios significativos. O presente artigo busca compreender as razões por trás dessa persistente problemática, analisando a trajetória histórica da Filosofia no ensino brasileiro, a políticas educacionais que a envolvem, os obstáculos à sua efetivação e as implicações dessa ausência ou presença parcial para a formação dos estudantes e para a sociedade.

Ao investigar os fatores que dificultam a consolidação da Filosofia como disciplina fundamental na educação básica, este estudo visa contribuir para a proposição de soluções e políticas públicas que garantam a sua valorização e implementação efetiva. Neste contexto, o tema é a importância da filosofia no currículo escolar brasileiro e os desafios para sua implementação efetiva. Assim, o problema de pesquisa do presente artigo é questionar os principais desafios para sua implementação efetiva e discutir as implicações dessa ausência ou presença parcial para a formação dos estudantes e para a sociedade.

Justifica-se este estudo na medida em que a Filosofia, ao estimular o questionamento, a análise e a reflexão, contribui significativamente para a formação de indivíduos mais autônomos, críticos e engajados com a sociedade. No entanto, sua presença no currículo escolar brasileiro é marcada por diversas oscilações históricas e desafios contemporâneos. A compreensão das razões que impedem a consolidação da Filosofia como disciplina fundamental na educação básica é importante para a proposição de soluções e políticas públicas mais eficazes. O objetivo geral deste artigo é analisar de forma incipiente a trajetória histórica da Filosofia no currículo escolar brasileiro, identificar os principais desafios para sua implementação efetiva e discutir as implicações dessa ausência ou presença parcial para a formação dos estudantes e para a sociedade. Em relação aos objetivos específicos destaca-se investigar as políticas educacionais brasileiras e sua relação com o ensino da Filosofia, analisar os impactos da falta de formação específica dos professores em Filosofia na qualidade do ensino, identificar as principais resistências sociais e institucionais à inclusão da Filosofia no currículo escolar. avaliar os benefícios da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento crítico, da cidadania e da formação integral dos estudantes, propor sugestões para superar os obstáculos e fortalecer a presença da Filosofia na educação básica.

2. FILOSOFIA NO CURRICULO ESCOLAR

A presença da Filosofia no currículo escolar é um tema que gera debates contínuos. Suas implicações vão além da simples inclusão de uma disciplina, pois envolvem questões sobre a formação integral do indivíduo, o desenvolvimento do pensamento crítico e a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Ainda, ela estimula o questionamento, a análise e a argumentação, habilidades essenciais para a vida em sociedade. Ao confrontar diferentes ideias e perspectivas, os estudantes são incentivados a pensar por si mesmos e a formar suas próprias opiniões.

Importante destacar que a filosofia não se limita ao conhecimento de conceitos e autores. Ela aborda questões existenciais, sociais e políticas, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes e engajados com o mundo ao seu redor.

Como explica Renata Pereira Lima Aspis (2004, p.304)

A filosofia é uma invenção da nossa civilização. Ela surge concomitantemente à Civilização Ocidental. Sempre que ensinamos sobre sua história atribuímos sua origem à passagem do pensamento mítico ao pensamento racional, nos primórdios, com os pré-socráticos, depois com Sócrates, Platão e assim sucessivamente.

Ao refletir sobre valores, ética e justiça, a Filosofia contribui para a formação de cidadãos mais críticos e atuantes, capazes de participar ativamente da vida em sociedade, dialogando com diversas áreas do conhecimento, como a História, a Literatura, as Ciências Sociais e as Artes, enriquecendo a aprendizagem e promovendo uma visão mais integrada do mundo. A inclusão da Filosofia no currículo escolar é um investimento a longo prazo. Ao formar indivíduos mais críticos, reflexivos e conscientes, estamos construindo uma sociedade mais justa e democrática.

No exercício da docência filosófica na educação básica, percebemos alguns equívocos com relação a esta disciplina que precisam ser revistos e evitados, dentre eles citamos: achar que apenas a inclusão desta disciplina na grade curricular poderá por si só promover uma formação para a cidadania. (SILVA; AIRES, p.3)

Para isso, é fundamental que haja um diálogo constante entre educadores, pesquisadores e gestores, buscando soluções para os desafios e garantindo que a Filosofia ocupe o lugar de destaque que merece na educação.

3. POLITICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL

As políticas educacionais no Brasil são um conjunto de ações governamentais que visam garantir o direito à educação para todos os cidadãos.

Ao longo dos anos, o país tem experimentado diversas reformas e mudanças nessas políticas, buscando sempre aprimorar a qualidade do ensino e ampliar o acesso à educação.

Durante muito tempo, as decisões sobre a educação eram centralizadas no governo federal, o que dificultava a adaptação das políticas às realidades locais, ainda o acesso à educação sempre foi marcado por desigualdades, com diferenças significativas entre as regiões, as classes sociais e os grupos étnicos, também, por muito tempo, o foco das políticas educacionais esteve na expansão do número de escolas e alunos matriculados, em detrimento da qualidade do ensino, Libâneo lembra que

Na educação, a execução das políticas educacionais implica a apropriação e o uso de diversos espaços sociais como as políticas de saúde, assistência social, as ações de mobilização para participação na escola de empresas, famílias, integrantes da sociedade civil, ações socioeducativas envolvendo a comunidade, os espaços públicos, etc. A escola em regime integral sintetiza esse conceito de territorialização (LIBÂNEO, 216, p.5).

No entanto a partir da Constituição de 1988, houve um avanço significativo com a garantia do direito à educação básica e a descentralização da gestão do ensino. No entanto, ainda persistem desafios como a falta de recursos, a desigualdade de oportunidades e a baixa qualidade do ensino em muitas escolas.

Neste contexto os artigos 205 e 206 da Constituição Federal positivam que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho e que o ensino será ministrado com base na igualdade de condições para o acesso e permanência na escola na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, no pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino, na  gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, na valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União, na valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos.

Na prática avanços podem ser verificados com a criação do Plano Nacional de Educação (PNE) que trata-se de um plano de longo prazo que estabelece metas e diretrizes para a educação brasileira, é a Lei n° 13.005/2014 que Aprova o Plano Nacional de Educação. O artigo 2º do PNE indica as diretrizes, são elas:

I – erradicação do analfabetismo;

II – universalização do atendimento escolar;

III – superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;

IV – melhoria da qualidade da educação;

V – formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade;

VI – promoção do princípio da gestão democrática da educação pública;

VII – promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;

VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade;

IX – valorização dos (as) profissionais da educação;

X – promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental.

Como visto o PNE atual, com vigência até este ano, busca universalizar o ensino básico, melhorar a qualidade da aprendizagem e reduzir as desigualdades educacionais.

4. A PRESENÇA DA FILOSOFIA NAS POLITICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRA

A Filosofia, enquanto disciplina que investiga os fundamentos do conhecimento, da realidade e da ação humana, possui uma relação intrínseca com a educação. No entanto, sua presença nas políticas educacionais brasileiras tem sido marcada por oscilações ao longo da história. Por exemplo, como ensina Zita Ana Lago Rodrigues (2012, p.02) no período colonial a educação era restrita a um grupo privilegiado e a filosofia era vinculada à teologia, servindo como ferramenta para a manutenção da ordem social estabelecida. No império, por sua vez, com a criação do Colégio Pedro II, a Filosofia ganhou mais espaço nos currículos, mas ainda com um caráter elitista.

A mesma autora lembra que

A concepção de Filosofia difundida na educação escolar brasileira historicamente esteve ligada a saberes abstratos e racionalistas, ligados à formação das elites. Suas bases escolásticas desde o Brasil Colônia a desvincularam de características contextualizadas de um ensino voltado à realidade vivencial, afastando-a de possibilidades de reflexão e problematização. (RODRIGUES, 2012, p.02)

Na República a Reforma Capanema de 1942 tornou o ensino da filosofia obrigatório, mas a Lei 4.024/61 a retirou dos currículos, restringindo-a a disciplinas complementares.

Com a promulgação da Lei 4.024/61, a Filosofia deixa de ser disciplina obrigatória e passa a disciplina complementar nos currículos escolares. A Lei 5.692, promulgada em 1971, em pleno regime militar, extingue a Filosofia dos currículos, destarte as reações e mobilizações ocorridas no país em prol de sua manutenção/retorno aos currículos escolares. Tais mobilizações estimulam reações em diversos níveis e, por meio do Parecer 7.044/82, do então Conselho Federal de Educação – CFE –, abrem-se possibilidades para o retorno da disciplina de Filosofia aos currículos do Ensino Médio – EM. (RODRIGUES 2012, p.02)

Na ditadura militar a filosofia foi novamente marginalizada, vista como uma ameaça à ordem estabelecida, e na pós-ditadura, com a promulgação da LDB 9394/96, a filosofia voltou a ser considerada fundamental para a formação humana e cidadã. A Lei 11.684/2008 tornou seu ensino obrigatório no Ensino Médio.

5. BENEFICIOS DA INCLUSÃO DA FILOSOFIA NO CURRICULO
5.1. DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO CRITICO E REFLEXIVO

A inclusão da filosofia no currículo escolar, especialmente nas primeiras etapas da educação, oferece uma série de benefícios para o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo dos estudantes. Ao estimular o questionamento, a análise e a construção de argumentos, a filosofia contribui para a formação de indivíduos mais autônomos, criativos e capazes de lidar com a complexidade do mundo contemporâneo.

Neste contexto, a filosofia incentiva os alunos a questionar as informações recebidas, a analisar diferentes perspectivas e a construir argumentos sólidos. Ao aprender a identificar falácias e a avaliar a validade de diferentes argumentos, os estudantes se tornam mais aptos a tomar decisões informadas e a resolver problemas complexos. Ainda, a filosofia promove a reflexão sobre questões fundamentais da existência humana, como a ética, a moral, a política. Ao refletir sobre esses temas, os alunos desenvolvem a capacidade de pensar de forma abrangente e de conectar diferentes áreas do conhecimento.

Obviamente, o filósofo não perde de vista a noção de que seus temas e objetos de estudo não têm nada de simples, mas o tom de sua argumentação nos lembra o tempo todo de que, assim como as demais disciplinas da vida escolar, a filosofia é também uma disciplina “com hora marcada na semana de aulas de uma escola”. E as consequências disso para os procedimentos didáticos a serem trabalhados são de grande importância. (AUGUSTO, 2022)

A filosofia também exige que os alunos expressem seus pensamentos de forma clara e concisa, busca uma linguagem clara, assim, ao participar de debates e discussões filosóficas, os estudantes aprimoram suas habilidades de comunicação oral e escrita. Ela também incentiva os alunos a pensar reflexivamente em perspectivas diferentes, encontrando soluções originais para problemas complexos, explorando diferentes ideias e conceitos, os estudantes desenvolvem a capacidade de pensar de forma criativa e inovadora.

O pensamento crítico é a capacidade de análise dos fatos, experiências, comentários ou situações com o objetivo de formar uma opinião própria. Para isso é necessário construir argumentos com base em dados e informações confiáveis, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. Quem busca formas de como melhorar o pensamento crítico é capaz de formular e defender ideias e pontos de vista originais, tornando-se protagonista do saber em vez de um mero receptor de informações. (KUMON, 2022)

Sem dúvida, a filosofia ensina os alunos a pensar por si mesmos e a formar suas próprias opiniões. Ao questionar as autoridades e a buscar suas próprias respostas, os estudantes se tornam mais autônomos e confiantes em suas capacidades, incentivando os alunos a se interessar pelos problemas da sociedade e a participar ativamente na construção de um mundo mais justo e equitativo. Ao refletir sobre questões sociais e políticas, os estudantes se tornam cidadãos mais conscientes e engajados.

5.2. FORMAÇÃO DE CIDADÃOS ATIVOS E PARTICIPATIVOS

A filosofia, quando integrada ao currículo escolar, desempenha um papel fundamental na formação de cidadãos ativos e participativos. Ao estimular o pensamento crítico, a reflexão e o diálogo, a filosofia contribui para o desenvolvimento de indivíduos mais conscientes de seus direitos e deveres, capazes de tomar decisões informadas e de engajar-se nas questões da sociedade. É neste contexto que a filosofia incentiva os alunos a questionar o status quo, a analisar diferentes perspectivas e a identificar as causas dos problemas sociais. Ao desenvolverem essa consciência crítica, os estudantes tornam-se mais aptos a identificar injustiças e desigualdades e a buscar soluções para elas, dessa forma ao aprender a pensar por si mesmos e a formar suas próprias opiniões, os alunos se tornam mais independentes e menos suscetíveis à manipulação.

Neste contexto Rodrigues (2012) Afirma que:

O reconhecimento do status de disciplina à Filosofia e à Sociologia é o reconhecimento de seu estatuto epistemológico, próprio a estas duas ciências – Filosofia e Sociologia, importantes e fundamentais para o desenvolvimento humano. Constituí-las como disciplinas na arquitetura curricular do ensino médio nas escolas brasileiras significa muito mais do que reforçar compartimentações, mas reconhecer seu status epistemológico e sua relevância histórica para a formação da capacidade crítico-reflexiva e da ampliação da capacidade da construção da cidadania do alunado que acessa esse nível de escolarização formal.

Essa autonomia é fundamental para a participação ativa na vida política e social, possibilitando que estes alunos promovam o diálogo e o respeito às diferentes opiniões, incentivando os alunos a ouvir e a compreender os pontos de vista de outras pessoas. Essa habilidade é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Ao refletir sobre questões éticas, políticas e sociais, os alunos desenvolvem um senso de responsabilidade cívica e se tornam mais propensos a participar em atividades voluntárias e em movimentos sociais, o que ajuda os alunos a desenvolver habilidades de tomada de decisões, pesando os prós e contras de diferentes opções e considerando as consequências de suas ações. Assim, ao aprender a pensar de forma crítica e a defender seus direitos, os alunos se sentem mais empoderados para transformar a sociedade.

Neste contexto, Libâneo (2016) lembra que:

Aponta-se, ainda, que as políticas de acesso e permanência devem garantir que os segmentos menos favorecidos possam “realizar e concluir a formação com êxito e com alto padrão de qualidade”, de modo que essa formação seja “fator efetivo e decisivo no exercício da cidadania, na inserção no mundo do trabalho e na melhoria da qualidade de vida e ampliação da renda.”

A filosofia também estimula a realização de debates e discussões sobre temas relevantes para a sociedade, como direitos humanos, justiça social, meio ambiente e democracia, através da leitura e a análise de textos clássicos e contemporâneos que ajudam os alunos a compreender as diferentes concepções de cidadania e a desenvolver um senso crítico em relação às instituições políticas. A realização de projetos de pesquisa sobre temas relevantes para a comunidade permite que os alunos apliquem seus conhecimentos teóricos à prática e contribuam para a solução de problemas locai, com a participação em atividades como grêmios estudantis, projetos sociais e movimentos sociais permite que os alunos vivenciem a cidadania ativa e desenvolvam habilidades de liderança.

Sem dúvida, a filosofia é uma ferramenta poderosa para a formação de cidadãos ativos e participativos, desenvolvendo neles o pensamento crítico, a autonomia e o senso de justiça, preparando os alunos para serem agentes de transformação social e para construir um futuro mais justo e democrático para todos.

6. DESAFIOS E OBSTACULOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA FILOSOFIA NO CURRICULO
6.1. FALTA DE FORMAÇÃO ESPECIFICA DOS PROFESSORES

Como visto, a inclusão da filosofia no currículo escolar é um passo fundamental para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. No entanto, a falta de formação específica dos professores representa um dos maiores desafios para a efetiva implementação dessa disciplina. há muitos desafios a formação especificas destes profissionais, isto porque muitos professores se sentem inseguros em relação ao conteúdo filosófico, temendo não dominar os conceitos e as metodologias adequadas para ensiná-los. Essa insegurança pode levar à evitação da disciplina ou à sua abordagem superficial. Ainda, a filosofia exige um tipo de pensamento que pode ser diferente do que os professores estão acostumados a trabalhar em sala de aula.

Uma abordagem crítica das relações entre educação e pobreza requer, antes de tudo, uma pergunta fundamental: para que servem as escolas? E, principalmente, para que servem as escolas destinadas aos pobres? A definição de objetivos e funções da escola incide diretamente no projeto pedagógico, no currículo, nas formas de organização e gestão, na formação continuada de professores, nos modos de assistência pedagógica aos professores, na dinâmica da sala de aula, nas formas de avaliação do sistema, na avaliação escolar, etc. (Libâneo, 2016)

Em sentido semelhantes a escassez de materiais didáticos específicos para o ensino de filosofia, especialmente aqueles adaptados à realidade brasileira e às diferentes faixas etárias, dificulta o trabalho dos professores.

Para nós as aulas de filosofia são aulas de filosofar da mesma forma que ensinar filosofia é produzir filosofia. Assim sendo, aulas de filosofia são produção de filosofia. Nas aulas de biologia o professor não está promovendo a produção de biologia como o professor de filosofia promove a produção filosófica em suas aulas. Assim se aprende a fazer filosofia: fazendo e tendo um modelo de como se faz. (ASPIS, 2024)

Outro aspecto relevante diz respeito a introdução da filosofia no currículo, pois pode encontrar resistência por parte de alguns professores, diretores e coordenadores pedagógicos, que podem questionar a relevância da disciplina ou a sua adequação à grade curricular. No mesmo contexto a carga horária destinada à filosofia, muitas vezes, é insuficiente para o desenvolvimento de um trabalho aprofundado e significativo, e em alguns casos a filosofia ainda é vista por muitos como uma disciplina elitista e desvinculada da realidade dos alunos, o que dificulta a sua valorização e a sua inserção no currículo.

Em consequências da falta de formação A falta de formação pode levar a uma abordagem superficial da filosofia, com ênfase em memorização de conceitos e datas, em vez de um trabalho que estimule o pensamento crítico e a reflexão, também sem uma formação adequada, os professores podem ter dificuldade em despertar o interesse dos alunos pela filosofia, o que pode levar à desmotivação e ao desinteresse pela disciplina, limitando as possibilidades de aprendizagem dos alunos, que deixam de desenvolver habilidades importantes como o pensamento crítico, a argumentação e a resolução de problemas.

Neste contexto Pedro Valdir Da Conceição e Cauana Peyrot Conceição lembram que […] sem a formação específica em filosofia assumissem o ensino de filosofia. Com isso, a disciplina tornou-se vaga de investigação, empobrecida e sem consistência, não obtendo grandes avanços na construção do conhecimento específico da área […] (CONCEIÇÃO; PAYROT, 2017) Indo além os autores concluem que: “Essa mesma falta de formação dos professores fazia deles uma espécie de profissional que tinha o objetivo de lecionar filosofia, mas não de ensinar os alunos a filosofar.” (CONCEIÇÃO; PAYROT, 2017) Como visto a falta de formação específica dos professores representa um dos maiores desafios para a implementação da filosofia no currículo. No entanto, com investimentos em formação continuada, desenvolvimento de materiais didáticos e promoção da valorização da disciplina, é possível superar esses obstáculos e garantir que a filosofia desempenhe seu papel fundamental na formação de cidadãos críticos e reflexivos.

6.2. RESISTÊNCIA DE ALGUNS SETORES DA SOCIEDADE

Como já demonstrado a inclusão da filosofia no currículo escolar, enfrenta uma série de desafios e obstáculos, muitos deles relacionados à resistência de determinados setores da sociedade, como mencionado anteriormente, a ausência de formação adequada em filosofia é um dos principais entraves. Muitos professores sentem-se inseguros para abordar temas complexos e desenvolver atividades que estimulem o pensamento crítico, também já exposto que a introdução da filosofia no currículo pode gerar resistência por parte de gestores escolares, pais e até mesmo de outros professores. Como refere Rodrigues,

O desenrolar histórico da presença/ausência da Filosofia nos currículos dos cursos de Ensino Médio (ou do anteriormente denominado Segundo Grau) nunca foi linear. Conflitos e resistências têm permeado esse processo. “Até mesmo por se tratar da presença num nível de ensino que passou por sérias crises de identidade, ora voltando-se para a formação profissional, ora à formação geral, a presença da disciplina de Filosofia no Ensino Médio foi problemática.” (RODRIGUES, 2012)

Da mesma forma, não deve-se deixar de analisar que existe um preconceito por parte da sociedade em relação à filosofia, que é vista por muitos abstrata e desconectada da realidade. Essa visão negativa dificulta a valorização da filosofia e a sua inserção no currículo.

Neste sentido, alguns pais podem questionar a relevância da filosofia para a formação dos filhos, preferindo disciplinas que preparem os jovens para o mercado de trabalho, diretores e coordenadores pedagógicos podem resistir à inclusão da filosofia no currículo por diversos motivos, como a falta de recursos, a pressão por resultados e a resistência de outros professores.  A inclusão da filosofia no currículo enfrenta diversas resistências. A falta de formação dos professores, o preconceito da sociedade e a visão da filosofia como algo abstrato são alguns dos obstáculos. Pais, gestores e até mesmo setores políticos questionam sua importância, preferindo disciplinas mais práticas. Essa resistência limita o desenvolvimento intelectual dos alunos e perpetua desigualdades. No entanto, a filosofia é fundamental para a formação de cidadãos críticos e engajados.

Pedro Valdir Da Conceição e Cauana Peyrot Conceição lembram que: “mesmo que a disciplina de filosofia ao longo de sua história tenha sido retirada do currículo escolar, a mesma voltou com a expectativa de ficar”. O desafio de mantê-la como disciplina que se diferencia das demais apesar de ter um pouco de cada uma das demais disciplinas. (CONCEIÇÃO; PAYROT, 2017)

No campo político, alguns podem se opor à filosofia, alegando que ela incentiva o questionamento de valores tradicionais e a desobediência às autoridades e alguns setores da sociedade civil podem ver a filosofia como uma ameaça aos valores morais e religiosos, defendendo um ensino mais tradicional e conservador.

Esta postura pode ter consequências tais como limitação do desenvolvimento intelectual dos alunos, impedindo que eles desenvolvam habilidades como o pensamento crítico, a argumentação e a resolução de problemas. Ainda, a falta de acesso à filosofia pode perpetuar as desigualdades sociais, pois os alunos de escolas públicas e de famílias com menor renda tendem a ter menos oportunidades de desenvolver suas capacidades intelectuais e, por fim,  destaca-se que a filosofia é fundamental para a formação de cidadãos críticos e participativos.

7. CONCLUSÃO

A filosofia, além de ensinar conceitos e autores, estimula o pensamento crítico e a formação de cidadãos mais conscientes e engajados. Ao abordar questões existenciais e sociais, ela contribui para uma visão mais integrada do mundo.  No entanto, a inclusão da filosofia no currículo escolar enfrenta desafios, como a falta de formação dos professores e a crença de que a simples inclusão da disciplina garante a formação cidadã. É fundamental um diálogo constante entre educadores, pesquisadores e gestores para garantir que a filosofia ocupe o lugar de destaque que merece na educação.

A presente pesquisa demonstrou a complexidade da relação entre a Filosofia e o currículo escolar brasileiro.  A análise histórica e as evidências contemporâneas revelam que, apesar dos inúmeros benefícios para a formação integral dos estudantes, a implementação da Filosofia enfrenta obstáculos significativos, como a falta de formação específica dos professores, a resistência de alguns setores da sociedade e a ausência de políticas públicas efetivas. No entanto, a importância da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento crítico, da cidadania e da autonomia intelectual é inegável. Diante desse cenário, urge a necessidade de ações conjuntas que visem superar as barreiras existentes e garantir a presença da Filosofia na educação básica. A formação continuada de professores, a produção de materiais didáticos adequados, o diálogo com a comunidade escolar e a elaboração de políticas públicas que valorizem a Filosofia são medidas indispensáveis para promover uma educação mais reflexiva e crítica.

8. REFERÊNCIAS

ASPIS, R, P, L; O Professor de Filosofia: O Ensino de Filosofia no Ensino Médio como Experiência Filosófica.  Disponível em  < https://www.scielo.br/j/ccedes/a/kqstMxcRZhW8YgYzJtrY4Cm/?format=pdf&lang=pt>   Acesso em 12 ago. 2024.

AUGUSTO, R. Ensaio: A Filosofia como Disciplina Obrigatória e a Reforma do Ensino Médio. Disponível em: < https://www.nonada.com.br/2022/03/ensaio-a-filosofia-como-disciplina-obrigatoria-e-a-reforma-do-ensino-medio/> Acesso em 13 ago. 2024.

CONCEIÇÃO; P,V;  PEYROT; C, C. Algumas Reflexões Sobre o Ensino de Filosofia no Ensino Médio. XXV Seminário de Iniciação Científica. Disponível em < https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/8061/6791 > Acesso em 13 ago. 2024.

KUMON. Pensamento crítico: o que é e como desenvolver?Disponível em:< https://www.kumon.com.br/blog/vamos-juntos-educar/pensamento-critico >Acesso em 13 ago. 2024.

LIBÂNEO, J. C. Políticas Educacionais no Brasil: Desfiguramento da Escola e do Conhecimento Escolar. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cp/a/ZDtgY4GVPJ5rNYZQfWyBPPb/# > Acesso em 14 ago.2024.

RODRIGUES, Z, A, L. O ensino da Filosofia no Brasil no contexto das políticas. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/CdywN8vpFQXJBFbvk3hF5qQ/?format=pdf#:~:text=Com%20a%20Reforma%20Capanema%2C%20em,disciplina%20complementar%20nos%20curr%C3%ADculos%20escolares.> Acesso em 14 ago.2024.

SILVA, R, A S; AIRES, M, A, V, B. A Filosofia como Disciplina Escolar no Contexto Histórico Educacional Brasileiro: Conflitos e Tensões. Disponível em: < https://mail.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2018/TRABALHO_EV117_MD1_SA1_ID1392_10092018102315.pdf > Acesso em 12 ago. 2024.


[1] Discente da Especialização no Ensino de Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. – E-mail: vanessabrumnunes@bol.com.br.

[2]  Discente da Especialização no Ensino de Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. – E-mail: rtadv9@gmail.com

[3] Trabalho desenvolvido sob a orientação do (a) Prof.ª. MS. Tatiana de Mello Ribeiro Cruz e apresentado ao Curso de Especialização em Ensino de Filosofia UAB/UFPel, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso