REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410231534
Maria da Luz Lima Sales
Regiane Grinalda Maciel
Resumo
Este trabalho tem como objetivo a afirmação e o reconhecimento da representatividade da figura feminina negra na literatura Infantojuvenil, partindo das leituras e explanações textuais dentro de sala de aula utilizando contos para crianças e adolescentes, que foram contados e indicados na disciplina Literatura Infantojuvenil, um dos contos que mais chamou a minha atenção, foi o conto de Madu Costa, Meninas Negras , cuja primeira publicação foi em 2006.É uma narrativa que possui um protagonismo negro, que outras criadas nos anos anteriores da década de 1980 não tinham, desta forma resolvi explorar a temática do negro, revelando sua importância e representatividade na literatura, dando ênfase na figura feminina algo de pouca visibilidade, antes de ocorrer a Lei 10.639 promulgada no dia 9 de janeiro de 2003, que estabelece um novo currículo nas redes de ensino, o qual é indiscutível a obrigatoriedade falar sobre os temas de história e cultura afro-brasileira. O resultado disto são as publicações de livros infantis voltados para a disseminação da cultura afro.
Palavras-chave: Literatura infantil negra, representatividade, visibilidade, diversidade, negro.
Abstract
This work aims to assert and recognize the representation of Black female figures in children’s and young adult literature, based on readings and textual explanations within the classroom using stories for children and adolescents, which were told and recommended in the course of Children’s and Young Adult Literature. One of the stories that caught my attention was “Meninas Negras” by Madu Costa, first published in 2006. It is a narrative that features Black protagonists, something that previous stories from the 1980s lacked. Therefore, I decided to explore the theme of Black identity, revealing its importance and representation in literature, with an emphasis on female figures, which have received little visibility. This was before Law 10.639 was enacted on January 9, 2003, establishing a new curriculum in educational networks, which mandates the discussion of Afro-Brazilian history and culture. The result of this has been the publication of children’s books aimed at disseminating Afro culture.
Keywords: Black children’s literature, Representation, visibility, diversity, Black.
Introdução
Este artigo tem como objetivo afirmar o reconhecimento da figura feminina negra na literatura infanto-juvenil brasileira e está baseado no conto publicado em 2006, Meninas Negras. De autoria da professora e contadora de histórias, Maria do Carmo Ferreira da Costa, conhecida como Madu Costa, nascida na cidade de Belo Horizonte, uma mulher que idealiza um mundo mais justo, difundindo suas obras para a afirmação da identidade feminina negra na literatura.
Essa narrativa aborda a temática do negro com um protagonismo exemplar em sua representatividade como figura feminina na literatura. Ela incentiva leituras com temáticas afro-brasileiras e a manifestação nas diversas culturas e etnias no Brasil, procurando, dessa maneira, difundir a afirmação racial através da literatura. Esta apresenta uma ferramenta eficiente para a aprimoração do belo, bem como a utilização na educação dos sujeitos, tendo em vista a criança como base para a preparação de um adulto mais consciente em relação às discriminações raciais que o mundo ainda enfrenta.
Meninas Negras é uma história que resgata a África, como terra cheia de beleza e liberdade, mesmo sabendo-se que seus antepassados foram tirados de lá para serem escravizados no Brasil. A narrativa é contada de uma forma brilhante, envolvendo três personagens crianças e negras: Mariana, Dandara e Luanda, cada uma com um pensamento que engradece a mãe terra, seus animais típicos do continente africano, seus costumes, povos e cultura.
Além disso, como fator de reflexão e denúncia, descrevem-se nela os estereótipos que normalmente são atribuídos aos negros e negras, o que faz com que as demais pessoas adquiram um pensamento redutivo em relação aos descendentes. Denunciar através da literatura e seus aspectos literários é essencial para promover uma sociedade mais justa, para que as pessoas possam reconhecer e questionar as representações preconceituosas, apoiar narrativas que mostram diversidade e a humanidade das experiências negras.
Nesse sentido resgata a história de um povo africano ou afro-brasileiro assumindo um pertencimento racial dos sujeitos afrodescendentes que ocupam hoje um espaço no cenário cultural, com mais visibilidade na literatura como forma de combater o racismo. Mostra-se no conto de Madu Costa também os traços da negritude, projetando o negro de uma forma positiva, na expectativa de um reconhecimento de seus grupos étnicos de maneira mais valorizada e humanizada.
1. Reconhecimento da figura negra na Literatura Infantojuvenil
Desde os séculos passados, o negro foi retratado de uma forma muito desrespeitosa. Seu povo passou por diversas situações e condições subumanas, praticamente eles foram comparados com animais, sendo vendidos e trocados como mercadorias. Depois desse passado histórico cruel, a literatura negra vem reconhecendo a importância da figura de tais povos e, principalmente a literatura negra feminina, afirmando e valorizando sua cultura, tornando-a protagonista de sua história.
Para Monteiro (2015), é importante a conscientização por parte dos professores e a utilização de livros que possuam temáticas étnico-raciais para haver maior visibilidade e incentivar-se essas leituras. Tais livros devem promover a boa informação, fazendo com que, principalmente, crianças e jovens conheçam a verdadeira História da África e de seu povo, de suas conquistas e vitórias, não apenas episódios de insucesso da parte dos africanos, conforme ocorre na mídia, que apenas mostra as dificuldades de tais nações do continente afro. Isso precisa ocorrer como forma de promover discussões sobre as relações étnicas e raciais dentro da sala de aula.
Desta maneira, incentivando os estudantes para o respeito e a valorização das culturas diversas, gera-se nos próprios estudantes um sentimento de pertencimento à sociedade como forma de combater o racismo, o preconceito, a discriminação no interior da escola, preparando os sujeitos para uma sociedade mais justa e humana. Como também é importante destacar o papel da mídia e da educação no combate ao racismo disseminando conteúdos que representem os negros de maneira completa e positiva ao incentivar na produção literária a figura negra, como ferramenta poderosa de resistência. Monteiro (2015, p. 11) lembra que:
Durante séculos predominou nas narrativas literárias um modelo a se seguir, em que as personagens brancas eram apresentadas como padrão de poder sobre os negros. Esse modelo eurocêntrico foi quase que exclusivo. As várias tentativas de fragmentar a identidade negra contribuíram para a não alfabetização e a exclusão do negro do mundo literário, levando à constituição de uma identidade negativa.
Conforme Jovino (2015, p. 8), a questão da identidade do negro não se tratava apenas de ser reconhecido como indivíduo na sociedade, o qual simplesmente era visto por uma distinção binária entre brancos livres e negros escravizados, mas sim por um conjunto de representações e de papéis dos diversos tipos sociais que existiam. Nesse ponto de vista, os personagens negros descritos na literatura infantil surgem a partir da década de 1920 e 1930, apresentando-se, muitas vezes, como um ser submisso, escravizado, como incapaz de reconhecer a linguagem dos brancos e mostrando seus estereótipos de forma negativa, uma verdadeira condição de inferiorização.
Um exemplo de personagens negras que foram estereotipadas e discriminadas racialmente é a tia Nastácia, criada por Monteiro Lobato. Colocada nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo como empregada doméstica, cozinheira, a faz tudo na casa e pejorativamente chamada de “negra de estimação” na obra Reinação de Narizinho (2008, p. 2), que foi publicada em 1930.
Algumas décadas depois, precisamente nos anos 80, o livro de Ana Maria Machado, um dos clássicos da literatura infantil brasileira e de maior sucesso no público infantil foi Menina bonita do laço de fita (1986). A obra mostra em sua narrativa uma menina negra que desperta admiração por sua beleza e ainda que precisamos saber lidar com o diferente – uma das mensagens da obra. De acordo com Miranda (2021), é importante enfatizar a representatividade da personagem negra na literatura infantil, pois existem poucas obras literárias que trazem a personagem negra como protagonista, bem como, relatam a sua importância para a cultura negra essencialmente na Educação Infantil, já que no cotidiano escolar desta se faz presente a prática da contação de histórias. Principalmente na década de 1980 é que são encontradas leituras resgatando a identidade sociorracial, desempenhando várias funções sociais e incentivando a que os negros não sejam mais desqualificados como nos livros de literatura anteriores.
A literatura infantil negra surgiu no século XIX, mas, naquele momento, havia pouca visibilidade em relação aos afro-brasileiros por questões de preconceito. Foi a partir da Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelecendo um novo currículo nas redes de ensino, com a obrigatoriedade sobre os temas história e cultura afro-brasileira, que aparecem as publicações de livros infantis voltados para a disseminação da cultura afro. O conto trabalhado aqui foi publicado três anos após a promulgação da lei e teve grande repercussão por seu modo diferenciado de descrever um povo que, no passado, havia sofrido muitos maus-tratos. Nele, o negro é bastante exaltado, mostrando seu protagonismo e, principalmente, partindo este de personagens femininas. Lembremo-nos de que isso era praticamente inexistente antes de ser promulgada a lei que dá respaldo à disseminação da cultura afro no Brasil.
2. A importância da autoimagem positiva para o negro na Literatura.
Na escola, para uma criança, é simplesmente primordial ter uma autoimagem, porque é um dos locais onde se busca a identidade, e muitas vezes, o primeiro contato das crianças com o preconceito e o racismo se dá de forma violenta e cruel, especialmente para as que são negras. O bullying racial, as pequenas agressões do dia a dia e a discriminação em sala de aula são apenas alguns exemplos de ataques que os estudantes enfrentam diariamente. Formadas em um contexto histórico e social eurocêntrico, as crianças negras têm sua autoestima constantemente abalada, o que pode levar a dificuldades de aprendizado, problemas de saúde mental e, a longo prazo, dificuldade na construção de uma identidade positiva. O racismo na escola tem um grande impacto negativo no desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças, e na maioria das vezes prevalecendo a desigualdade e os impedindo que alcancem seu objetivo de vida, violando seus direitos.
Os direitos das crianças negras podem ser violados, já no início da sua vida escolar, por exemplo, quando o professor, não tem uma abordagem antirracista e reafirma, mesmo que indiretamente, a noção de que o belo e bonito não contempla essa parcela da sociedade. Dessa forma, a escola vai se constituindo em um espaço segregacionista e racista. (Mendes, 2019, P.12,)
A inserção da História da África no currículo escolar é fundamental para alcançarmos diversos objetivos educacionais. Ao abordarmos essa temática, podemos estimular nossos alunos a valorizar a diversidade étnica, refletindo sobre a discriminação racial de forma crítica e construtiva. O conto Meninas negras, destaca as contribuições da cultura africana para a formação da sociedade brasileira, promovendo o respeito às diferenças de uma forma que incentiva a construção de um ambiente escolar mais inclusivo. Neste trecho:
Estas são as meninas negras, pele marrom, olhos tão vivos gostam de ouvir histórias, aprender a ler e a contar. Elas se enxergam cada vez mais no lindo espelho da mãe África e juntam os conhecimentos com a imaginação de um povo resistente que nunca desiste de ser feliz (costa, 2006, p. 11-12)
A representação positiva do negro na literatura infantil, ao apresentar a África em contextos diversos e desconstruir estereótipos, é fundamental para fortalecer a identidade e a autoestima de crianças negras. Pois ao se verem representadas nas histórias, elas podem desenvolver um senso de pertencimento e orgulho de suas raízes africanas. Essa abordagem contribui para a construção de uma narrativa mais justa e completa sobre a história e a cultura do Brasil.
As interações e trocas entre os estudantes, ao evidenciarem a riqueza da diversidade cultural, contribuem para o desenvolvimento de valores como empatia, tolerância e respeito mútuo, essenciais para a convivência em sociedade. Principalmente nesse sentido de interação vejo o professor como um mediador na escola, tentando desconstruir um pensamento racista através da literatura, diante de tantas barreiras encontradas no cotidiano, segundo Pereira (2010):
As barreiras encontradas pelo docente no seu cotidiano são inúmeras e fatores para desanimá-los não faltam, mas apesar das adversidades, confio na educação, não como salvadora de todos os problemas sociais, mas como excelente contribuinte na sociedade. Acredito que tem valido a pena contribuir com meu aluno de alguma maneira; em sua formação, em seu pensar, na consciência e aceitação de si, em sua tomada de decisão, em sua postura diante da vida. (Pereira, 2010, P. 29)
A literatura infanto-juvenil, está quebrando barreiras ao apresentar personagens negros como protagonistas fortes e resilientes. No que diz respeito a valorização das tradições e cultura afro, que contribuem para uma nova narrativa, combatendo o preconceito e inspirando jovens leitores a se orgulharem de suas origens. Por isso, é fundamental que estudantes negros se identifiquem nas representações presentes nos materiais escolares. O professor tem o dever de apresentar materiais que valorizam a diversidade e incluem personagens negros em papéis de destaque.
Atualmente os textos infanto-juvenis vem rompendo com as representações que inferiorizam os negros. Obras mais recentes mostram negros fortes que procuram resgatar sua identidade, que enfrentam preconceitos e valoriza suas tradições. (Lannes e Souza, 2018, P.78)
Nesse sentido, as escolas devem contribuir para a construção de identidades positivas e fortalecedoras do processo de aprendizagem. A prática pedagógica, por meio dos materiais didáticos e das interações em sala de aula, reflete as intenções da escola em promover o reconhecimento e a valorização de todas as culturas. A construção de uma identidade livre de preconceitos é um processo coletivo que exige a participação ativa de todos. Ao proporcionar acesso a conhecimentos sobre a realidade social e cultural, e ao criar espaços inclusivos, garantimos que cada criança negra tenha plena consciência de sua identidade.
A construção da identidade é formada num processo de participação coletiva com responsabilidade compartilhada de todos que sonham e agem para acabar com o preconceito tão presente em nosso cotidiano. Torna-se fundamental criar situações significativas, favoráveis ao acesso a conhecimentos da realidade social e cultural, comprometendo-se com todos, sem exclusão, superando desafios para que, cada criança negra seja cidadã de seu tempo de fato e de direitos (Lima, 2016, p.13)
A identidade se constrói em um processo contínuo, moldado pelas relações sociais e pela participação coletiva. Para erradicar o preconceito, é fundamental criar oportunidades para que todas as crianças negras conheçam e valorizem sua história e cultura. Ao promover a inclusão e o respeito à diversidade, como Madu Costa retrata neste trecho:
“Na escola, a professora fala do povo e da cultura dos que vieram da África. Luanda, de som na alma negra tão natural, balança seu corpo para resistir. Dança sua história menina feliz”. (Costa, 2021, p.10)
É dessa maneira que a literatura é importante na construção de uma narrativa que cada criança possa ser protagonista de sua própria história ao promover o diálogo intercultural, ao criar espaços seguros aos nossos alunos negros de maneira comprometida com sua luta contra o preconceito , através da literatura infanto-juvenil contemporânea, pois tem sido de grande significância para representar a pauta de pessoas negras, destacando personagens negros fortes e bonitos que, ao invés de serem estereotipados, buscam resgatar e celebrar sua identidade cultural. Revela personagens que inspiram jovens a enfrentarem o preconceito de forma ativa, tornando-os leitores questionadores sobre as desigualdades sociais e a valorização da diversidade.
Proporcionar acesso as narrativas que retratam a história e as experiências do povo negro de forma positiva e inspiradora, é oferecer ferramentas para que os jovens reconheçam suas raízes, desenvolvam um senso de pertencimento e construam identidades negras fortes e resilientes. Acredito que, ao resgatar essa história por meio da literatura, contribuiremos para a formação de cidadãos mais conscientes perante a sociedade.
2. A representatividade da figura feminina na Literatura Infantojuvenil
A literatura é um artifício importante para a infância, sobretudo como promotora de autoconhecimento. Aproveitando esse elemento primordial que é a compreensão e o entendimento do próprio eu, Madu Costa soube utilizar bem esse requisito, através de sua obra infantil, pois a figura feminina negra precisa ter uma visibilidade em todos os espaços, e a autora sabe que a literatura é um meio eficaz para a formação de uma autoimagem positiva. Por esta razão, Rocha (2024, p.10) afirma que:
Não se pode esquecer que a criança é um ser cultural, histórico e social, pertencente a um grupo étnico-racial, a uma classe social, que estabelece suas interações em seu processo de pertencimento A literatura pode contribuir estabelecendo relações de conhecer o mundo, dar oportunidades a criança de obter conhecimentos que ela não teria por outros meios, a obra literária tem a capacidade de enriquecer a imaginação, de aproximar mundos diferentes, de apropriar experiências diversas, de desenvolver o sentimento de pertencimento, empoderamento e, pode-se construir num recurso de afirmação positiva.
Historicamente, as pessoas negras têm enfrentado uma série de desafios para se verem representadas de maneira positiva nos espaços sociais, educacionais e midiáticos. E por isso a autoimagem otimista do negro envolve reconhecer a importância da autoestima e do autoconhecimento, como forma de resistência contra o racismo e os estereótipos negativos associados às pessoas negras. Construir uma autoimagem positiva, é sinônimo de empoderamento e de reivindicação da própria identidade. Por conta deste argumento, Brandão (2016), assegura que a utilização da leitura de literatura afro-brasileira, torna-se algo prazeroso e que traz contribuições de ordem cognitiva, emocional e social para as crianças. Além disso, o reconhecimento, a valorização e o acolhimento às diferenças, compreendendo que todos nós temos um modo de ser e viver no mundo.
Desta maneira, as crianças brasileiras, sentem-se preparadas para ocupar todos os espaços sociais, pois a autoimagem positiva fornece artifícios para combater o racismo e a discriminação, inspirando-se na contação de histórias, elevando sua imagem de uma forma edificante, fazendo com que as meninas possam se reconhecer em qualquer contexto, tomando como inspiração as autoras negras e, quem sabe, também poder escrever suas próprias obras.
Em vista disso e com esse tipo de literatura, como a de Madu, preparam-se as crianças brasileiras para uma realidade menos dolorosa, fornecendo ferramentas úteis e prazerosas para combater o racismo e a discriminação. Pode ser inspirando-se na contação de histórias com tais temáticas, elevando a imagem da menina negra – do menino negro e até de meninos e meninas brancos, afinal o que importa não é cor da pele mas a essência da pessoa, seja de que idade for e porque se precisa promover o diálogo entre os povos de etnias diferentes. Esta imagem tem de ser obrigatoriamente positiva, fazendo com que as meninas possam se reconhecer em qualquer texto e contexto, tomando como inspiração as autoras negras e, quem sabe, também podendo escrever suas próprias obras.
Segundo Santos (2015, p.4):
O professor tem o papel de educar, cuidar e orientar as crianças e não omitir ou silenciar diante das diversidades e atitudes discriminatórias que invadem as salas de aulas através de contos que destroem a autoestima das crianças negras. Essa prática dos educadores não se omitir e trabalhar na intenção de descolonizar a educação imposta pelos colonizadores implicará no sentido de evitar o desenvolvimento de pensamentos e atitudes racistas e discriminatórias, pois esse é o período em que as crianças estão vulneráveis a fatores externos que podem perpetuar em suas vidas até à fase adulta.
Mesmo que existam bastantes livros que tenham o protagonismo feito com personagens negras, as escolas ainda pouco os utilizam e é por isso que muitas vezes acontece a invisibilidade e, por conseguinte, a ideia negativa acerca do caráter negro. Triste saber que muitas crianças poderiam ser beneficiadas ao conhecer mais sobre sua origem, das culturas afro-brasileiras. Com mais conhecimento desses temas caros, elas teriam novas percepções e a oportunidade de construir outras narrativas mais afirmativas, agindo na disseminação da diversidade de culturas, promovendo-as e mostrando para outras crianças negras um outro olhar – positivo – do qual elas poderiam ter orgulho de serem pretas, orgulho da riqueza cultural herdada da África e da qual fazem parte.
Documentadamente, a invisibilidade social do negro tem suas raízes no colonialismo e na escravidão, com as contribuições das pessoas negras sendo sistematicamente apagadas ou distorcidas para justificar a exploração e a opressão contra elas. Acerca dessa problemática, Almeida destaca que:
Ao deixar a invisibilidade social ou “desembraquecer”, os povos negros compreendem os seus espaços negados na história da humanidade e passam a lutar por ele, rompendo com o pensamento colonizador e a sua hegemonia, assumindo as suas características físicas e valorizando uma cultura étnico-racial silenciada e negada. (Almeida, 2021, p. 66)
Essa invisibilidade tratada por Almeida (2021) se manifesta de várias formas, como na ausência de líderes e figuras negras nos currículos escolares, na representação de cargos de poder e na falta de reconhecimento das culturas e histórias negras. Para combater esse fenômeno da falta de relevância, é necessário reivindicar e promover a visibilidade positiva e empoderadora das pessoas negras em todas as áreas da sociedade.
Após tantas reivindicações sobre a pauta racial, as barreiras vêm sendo rompidas, mesmo timidamente, e a autora Madu Costa aproveita para trabalhar essa questão da identidade afrodescendente na imaginação infantil. Ela mostra em sua obra, com muita delicadeza, textos poéticos, enriquecidos com belas ilustrações, repassando seu conhecimento de uma forma lúdica, ou seja, ideal ao público infantil. Reforçando a mensagem da valorização da cultura, da cor, dos antepassados e da história da África. Ela insiste para que a sociedade aprenda a respeitar a ancestralidade africana para ensinar ao brasileirinho e à brasileirinha de onde eles provieram, de um dos mais antigos povos que pisou nesta Terra de que se tem conhecimento.
Considerações finais
A obra da autora Madu Costa tem o propósito de combater o racismo e a discriminação a respeito da pauta negra, devendo ser disseminada a ideia da representatividade feminina negra nas escolas, principalmente fazendo esse trabalho de leitura com as crianças, pois, é a partir da base que conseguiremos reverter a vergonha de um ser que se sobrepuja ao outro por causa de sua cor, da não aceitação do diferente, a exclusão dos espaços por divergir culturalmente e etc.
Dessa forma, a literatura infantil torna-se uma grande aliada no combate ao racismo e a discriminação, promovendo a representatividade e o protagonismo da figura feminina negra na Literatura. E atitude de levar seus livros para as escolas, especialmente para as crianças, a autora contribui para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a diversidade é aceita e a discriminação racial não tem espaço para ferir e nem diminuir ninguém.
Proporciona, através de suas histórias, a busca da desconstrução de estereótipos no intuito de promover a equidade racial, especialmente entre as crianças. Ao apresentar personagens negras fortes e inspiradoras, a autora contribui para a formação de leitores mais conscientes e empáticos, capazes de reconhecer e valorizar a diversidade. Sendo fundamental para a educação antirracista, pois oferece ferramentas para que crianças e jovens reflitam sobre as questões raciais de forma crítica e construtiva. Ao incentivar a leitura na escola, estamos investindo em um futuro mais justo e igualitário, onde a diversidade é valorizada desde a primeira infância.
Divulgar a obra Meninas negras e outras equivalentes constitui uma maneira de tentar desenvolver uma pedagogia engajada na perspectiva de humanizar, e quebrar qualquer tipo de preconceito racial, valorizando e respeitando a diversidade das culturas e suas etnias. Com tais leituras, ampliam-se o conhecimento e a formação de cidadãos conscientes e ativos na sociedade, reconhecendo o potencial de todas as culturas de cores as mais variadas, seja branco ou negro, afinal, somos todos seres humanos.
Referências
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de Lima, Izabel Laurentina Quirino. “A importância da literatura afro-brasileira na educação infantil.” (2016).
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de Souza, Marcia Aparecida. “Escola e identidades étnico-raciais: literatura infantil.” Anais Eletrônicos do Congresso Epistemologias do Sul. Vol. 2. No. 1. 2018.
Dos Santos Almeida, Adriele Regine. Geração Tombamento: Construindo imagem positivas de corpos-negros. Estudos em rede, 2021.
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Miranda, Andréia Lara. “Menina bonita do laço de fita’’ a representatividade da personagem negra na literatura infantil.” (2021).
Monteiro, Elaine Marcia. Desafios e possibilidades no trabalho com a literatura afro-brasileira.2015.
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Pereira, Thaís Silva. “Imagem positiva do negro através da literatura infantil.” (2010).
Rocha, Marta Dias. “A relevância da literatura afro-brasileira na construção da identidade negra no ensino fundamental I.” (2024).
Santos, Daniela Araújo dos. “Importância do ensino da literatura negra na formação identitária das crianças da Educação Infantil.” (2022).