A EXISTÊNCIA DE SOFRIMENTO MENTAL EM POLICIAIS CIVIS SOB A VISÃO DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412190929


Maria Fernanda Brunetta Sant’Ana Almeida
Ana Carolina de Almeida Correa
Esther Lobato Brito
Giovanna Brunetta Sant’Ana Almeida
Tâmia Rayara Carvalho Araújo da Silva
Bruna Adalgiza Pinto de Araújo
Silvana Hiroko Noguchi Gomes
Fernanda Antoniêta Ferreira Paula
Taciana Dias da Silva
Emilly Cristina Costa Figueiredo
Mauro Sávio Sarmento Pinheiro
Ana Alayde Gomes da Silva
Paulo Martins Mendes
Adriene Silva de Lima
Orientadora: Profª. Msc. Sabrina do Socorro Marques de Araújo de Almeida


RESUMO

Introdução: Os policiais civis são profissionais que garantem a segurança e o bem-estar da população, desse modo é imprescindível que a sua saúde mental esteja preservada. Entretanto, as precárias e perigosas condições de trabalho como longas jornadas de trabalho, exposição à eventos perigosos, violência e morte, trabalho noturno sem descanso adequado e demandas extremas, somadas a cultura organizacional da instituição, são fatores que contribuem para o desenvolvimento do sofrimento mental. Objetivo: os objetivos deste estudo são identificar os principais fatores de risco e proteção mais presentes em policiais civis com sofrimento mental, descrever como o trabalho policial está relacionado ao desenvolvimento de sofrimento psíquico e discorrer como o meio trabalhista da polícia influencia na saúde mental do servidor e na não procura de ajuda. Metodologia: este trabalhotrata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura de abordagem qualitativa e de cunho descritivo, foram pesquisados conteúdos no período de 2022 á 2024, com os descritores em saúde: “Saúde Mental”, “Polícia”, “Sofrimento Psicológico”, “Transtornos Mentais”, “Burnout”, “Police” e “Disorders mental” e suas respectivas traduções, nas bases de dados Scientific Electronic Library Online-SciELO, PubMed e Periódico Capes, sendo utilizados para a presente pesquisa apenas 10 artigos. Resultados: os principais achados dos estudos direcionaram para como é feita a organização do trabalho da polícia civil, à cultura existente dentro da profissão em relação à saúde mental, dificultando aos profissionais em procurar ajuda e facilitando o aparecimento do sofrimento mental de forma mais corriqueira e potente. Através do estudo, tornou-se possível realizar a identificação de evidências científicas sobre o sofrimento mental em policiais civis. Foi observado que no mundo hodierno ainda há vários obstáculos para o saneamento do sofrimento mental, em especial dos policiais civis, como a cultura organizacional e a forma trabalhista da polícia civil.

Palavras-chave: Polícia Civil; Saúde Mental; Sofrimento mental;

ABSTRACT

Introduction: Civil police officers are professionals who ensure the safety and well-being of the population, so it is essential that their mental health is preserved. However, precarious and dangerous working conditions such as long working hours, exposure to dangerous events, violence and death, night work without adequate rest and extreme demands, combined with the organizational culture of the institution, are factors that contribute to the development of mental suffering. Objective: the objectives of this research are to identify the main risk and protective factors most present in civil police officers with mental suffering, describe how police work is related to the development of psychological suffering and discuss how the police work environment influences the mental health of employees and the failure to seek help. Methodology: this work is an Integrative Literature Review with a qualitative and descriptive approach. Contents were researched from 2022 to 2024, with the health descriptors: “Mental Health”, “Police”, “Psychological Distress”, “Mental Disorders”, “Burnout”, “Police” and “Mental Disorders” and their respective translations, in the Scientific Electronic Library Online-SciELO, PubMed and Periódico Capes databases, with only 10 articles being used for this research. Conclusion: the main findings of the studies directed to how the work of the civil police is organized, to the culture existing within the profession in relation to mental health, making it difficult for professionals to seek help and facilitating the appearance of mental suffering in a more common and powerful way. Through the study, it became possible to identify scientific evidence on mental suffering in civil police officers. It has been observed that in today’s world there are still several obstacles to the treatment of mental suffering, especially among civil police officers, such as the organizational culture and the work style of the civil police.

Keywords: Civil Police; Mental Health; Mental Suffering;

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado completo de bem-estar físico, mental e emocional, não sendo apenas a ausência de doenças. A saúde mental, por sua vez, é descrita como a capacidade de compreender suas habilidades, lidar com estresses diários, ser produtivo e contribuir socialmente.

No contexto atual, a relação entre trabalho e saúde mental é essencial, visto que o trabalho, especialmente no mundo globalizado, é fundamental para a sobrevivência, mas pode gerar sofrimento. Em alguns casos, isso resulta em adoecimentos mentais. A situação é particularmente crítica para os profissionais da segurança pública, como os policiais civis, cujas funções exigem grande responsabilidade, incluindo exposição a riscos, horários irregulares, alimentação inadequada e longas jornadas, o que pode comprometer tanto a saúde física quanto a mental.

A organização do trabalho na Polícia Civil, com sua divisão hierárquica e de tarefas, pode impactar negativamente o bem-estar mental dos policiais, gerando estresse, sintomas mentais e até mesmo comprometendo a criatividade e a liberdade individual. A atividade policial é considerada uma das mais estressantes, com alta exposição ao risco de vida, o que aumenta a vulnerabilidade a doenças como estresse, burnout, depressão e suicídio. Diante desse contexto, é importante investigar e prevenir os transtornos psíquicos entre os policiais, além de promover a saúde mental desse grupo, trazendo mais atenção ao tema, tanto para a enfermagem no cuidado quanto para o ensino e pesquisa relacionados.

JUSTIFICATIVA

O surgimento dessa temática teve origem a partir da experiência em um estágio extracurricular no ambiente policial e convivência com os policiais civis, que junto com o interesse pela área da saúde mental criou uma reflexão quanto ao sofrimento mental em policiais civis, pois esta pesquisa visa realizar um levantamento de sinais e sintomas que podem indicar a existência de adoecimento mental em profissionais da segurança pública, uma profissão que atua com muita influência sobre a sociedade, então o bem-estar psíquico desse grupo irá refletir no atendimento e na resolutividade das demandas dos usuários do serviço de segurança pública que procuram a instituição.

Ademais, o presente estudo visa contribuir às futuras pesquisas científicas sobre a saúde mental dos profissionais de segurança pública, haja visto que esse 16 tema ainda é abordado de forma escassa e visto de modo pouco relevante pela sociedade. As individualidades da atividade policial podem diminuir o dinamismo ao realizar a função, gerar danos à saúde do policial de modo geral, implicar negativamente em sua qualidade de vida e interferir nas relações interpessoais.

Assim, essa pesquisa visa demonstrar a importância da compreensão sobre o tema, para que haja conscientização por parte da sociedade como um todo, a fim de estabelecer uma nova perspectiva, entendimento e valorização quanto à saúde mental dos policiais civis. Além disso, irá auxiliar a equipe de enfermagem na assistência aos pacientes que apresentarem sofrimento mental, gerando uma nova visão, entendimento e uma nova forma de olhar o ser humano e suas particularidades e propiciar um cuidar mais eficiente, acolhedor, singular e humanizado.

METODOLOGIA

TIPO DE ESTUDO

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), com abordagem qualitativa e de cunho descritivo, com o fito de reunir e resumir o conhecimento científico que já se encontra produzido sobre o tema destacado, auxiliando o desenvolvimento desta temática. Esta RIL será do tipo qualitativa descritiva, pois ela oferece uma natureza ampla e com critérios exigentes que visam a adoção dos conhecimentos científicos já produzidos através de levantamentos bibliográficos.

FONTE DE INFORMAÇÃO

A fonte de informação foi embasada no levantamento da literatura de artigos originais sobre a existência do sofrimento mental em policiais civis. Assim, foi realizada uma busca ativa destes nas bases de dados Scientific Electronic Library Online-SciELO, PubMed e Periódico Capes; foram utilizados os descritores como “Saúde Mental”, “Polícia”, “Sofrimento Psicológico”, “Transtornos Mentais”, “Burnout”, “Police” e “Disorders mental”.

TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

A coleta de dados para a realização desta pesquisa foi feita entre agosto de 2024 à outubro de 2024, foram utilizados os Descritores em Saúde (DeCS), “Saúde Mental”, “Polícia”, “Sofrimento Psicológico”, “Transtornos Mentais”, “Burnout”, “Police” e “Disorders mental” e suas respectivas traduções em inglês e serão encontrados nas bases de dados.

Os descritores que foram utilizados se encontram válidos nas bases de Descritores em Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH) e serão cruzados em duplas com os operadores boleanos “AND” E “OR”. Foram realizados cruzamentos na seguinte ordem: 1) Saúde Mental AND Polícia; 2) Sofrimento Psicológico AND Polícia; 3) Transtornos Mentais AND Polícia; 4) Burnout AND Polícia;

TÉCNICA DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

Os dados obtidos foram analisados a partir da utilização da técnica de análise dos resultados, que foi desenvolvido por Laurence Bardin através de sua proposta de análise. Esta técnica é dividida em três momentos, sendo eles: 1) Pré-análise; 2) Exploração de Material; 3) Tratamento dos Resultados e Interpretação.

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Para incluir as publicações na revisão, foram adotados como critérios de inclusão: artigos originais, teses, dissertações, que apresentam uma relação com o tema proposto, que estejam disponíveis na íntegra, que estejam no idioma português, inglês ou espanhol e publicados em um período compreendido entre 2022 a 2024.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

A exclusão foi realizada a partir da leitura de títulos e resumos, conteúdo que não apresenta ligação com o referido tema escolhido, materiais sem embasamento científico, desatualizados, não disponíveis na íntegra, artigos pagos e eletronicamente repetidos.

ASPECTOS ÉTICOS

 A pesquisa foi maneada pelos preceitos éticos da resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde que propicia sobre a pesquisa: autonomia, beneficência, equidade e justiça. Além disso, por se tratar de uma revisão integrativa da literatura, não há necessidade da submissão da pesquisa ao comitê de ética.

RISCOS E BENEFÍCIOS

Riscos da Pesquisa

A presente pesquisa oferece riscos mínimos, por ser uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL). Assim, a possibilidade de ocorrer um evento desfavorável é mínima, uma vez que não há contato direto com seres humanos.

Benefícios da Pesquisa

Os benefícios da pesquisa serão contribuir à sociedade científica no eixo do tema abordado na pesquisa, assim como fornecer os resultados adquiridos de forma que provoque uma atualização deste assunto e auxiliar na criação de futuras pesquisas científicas em torno do tema, para que este seja mais reconhecido e discutido na sociedade atual e contribua à maior compreensão da importância do referido tema.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram identificados ao todo nas diferentes bases de dados 2486 artigos, no qual após a aplicação dos critérios de inclusão, esse número foi reduzido para 794. Após esse momento, houve a verificação dos conteúdos a partir da leitura de títulos e resumos, restando 731 estudos. Destes, 63 pesquisas foram lidas integralmente e 53 foram excluídas por não atenderem a situação de pesquisa, totalizando 10 artigos selecionados para encaixe na pesquisa. Após a realização do processo de coleta dos artigos, estes foram analisados e organizados conforme título do estudo, autoria principal, base de dados, método, idioma oficial e ano de publicação.

Além disso, observou-se que os principais achados dos estudos direcionaram para como é feita a organização do trabalho da polícia civil, à cultura existente dentro da profissão em relação à saúde mental, dificultando aos profissionais em procurar ajuda e facilitando o aparecimento do sofrimento mental de forma mais corriqueira e potente.

Dessa forma, após a leitura feita de forma minuciosa dos artigos e das evidências encontradas, foram identificadas as principais temáticas abordadas nas pesquisas que são resultados da análise de conteúdo, contribuindo em um período posterior, para a criação de três (03) categorias temáticas que serão apresentadas e discutidas a seguir.

Categoria 1: Fatores de risco e de proteção que contribuem para o desenvolvimento ou intensificação do sofrimento mental.

Nesta categoria, é discutido os principais fatores de risco e de proteção que facilitam o aparecimento ou intensificação do sofrimento psíquico. Conforme o estudo “E3”, mesmo que de maneira inconsistente, a variável tempo de serviço desempenha um papel importante na resposta ao estresse. Esse estudo cita que policiais que ultrapassavam 12 anos de trabalho, apresentavam menos ansiedade do que colegas com menor tempo de trabalho, sugerindo que profissionais com maior tempo de serviço haviam desenvolvido formas de lidar com situações estressantes.

Além disso, esse estudo também revelou que policiais do sexo feminino apresentavam mais picos de estresse em relação aos policiais homens, devido a discriminação de gênero de colegas homens em cargos superiores. Em contraste, o estudo também mostrou que os homens desencadeavam esgotamento profissional com mais frequência do que as.

Além disso, o estudo “E3” também contemplou a variável ligada a personalidade, constatando que os policiais que apresentavam níveis altos de neuroticismo eram mais propensos a desenvolverem ansiedade e depressão e os que apresentavam níveis altos de extroversão, relatam ter menos ansiedade. Dessa forma, uma triagem nos níveis de personalidade dos policiais civis seria fundamental na identificação e prevenção da ansiedade e depressão, fazendo com que o tratamento pudesse ser personalizado e eficaz.

O estudo “E2” confirma a ideia do estudo “E3”, de que o policial que apresenta níveis elevados de neuroticismo são mais prováveis de terem emoções negativas, impedindo de lidar de forma adequada em relação ao Burnout e profissionais que demonstram traços mais amáveis, lidam com os estressores ocupacionais de uma forma. Ademais, nos termos de trabalho, o estudo “E3”, destacou que as funções organizacionais eram mais prejudiciais à saúde mental dos policiais do que as funções.

O estudo “E2” também compartilha com a ideia do estudo “E3” que descreve que o estresse operacional como um todo é uma variável que contribui para a síndrome de burnout e consequentemente o sofrimento mental, mas que enfatiza que os fatores organizacionais são a maior causa do estresse. No estudo “E7”, a variável sociodemográfica sobre o estado civil diz que ter um companheiro é um fator de proteção em relação aos policiais que eram solteiros ou divorciados, que apresentavam níveis elevados de exaustão emocional, menor desempenho laboral, distanciamento da profissão e dos colegas do trabalho.

No estudo “E8”, foi evidenciado que mulheres procuravam serviços de apoio em relação à saúde mental em maior proporção comparado aos policiais homens. Nesse sentido, isso se deve muito ao preconceito de gênero contra as mulheres e foi comprovado no estudo que as policiais mulheres recebiam funções mais burocráticas e organizacionais e que os homens ficavam com as funções operacionais. Assim, além de ter a sobrecarga da função laboral propriamente dita, as policiais ainda enfrentam a questão do gênero impactando em sua profissão e gerando maior níveis de estresse e sofrimento mental, levando as assim à procura por ajuda à saúde mental.

Já no que tange as condições de sono, o estudo “E9” afirma que a qualidade de sono está intimamente ligada ao bem-estar do policial. Uma vez que um sono adequado, assim como realizar uma alimentação saudável, são fatores que protegem contra o desenvolvimento de transtornos psíquicos menores. Além disso, policiais que não realizavam exercício físico regularmente, eram etilistas e tabagistas, relataram um aumento nos níveis para provável depressão e ansiedade.

No estudo “E6”, são apresentadas informações que corroboram com o estudo “E9”, uma vez que o estudo afirma que a relação entre dieta inadequada, sono prejudicado e horários irregulares de refeição são variáveis que interferem no ciclo circadiano e estão relacionadas à síndrome de burnout.

Categoria 2: O trabalho policial influenciando de forma negativa na saúde mental dos policiais.

Esta categoria aborda a forma que o trabalho policial tem influência significativa e negativa na saúde psíquica dos profissionais da polícia civil, fazendo com que o indivíduo apresente um nível de satisfação e desempenho no trabalho diminuídos, bem como a regressão no nível de energia em sua vida pessoal, trabalhando uma possível ocorrência de síndrome de Burnout.

De acordo com o estudo “E2”, o estresse ocupacional na polícia, seja ele de âmbito operacional, ou seja, ligado à unidade policial e às atribuições da profissão ou no âmbito organizacional, sendo relacionado à gestão e logística da função policial, é comumente conhecido como de longa duração durante a vida do profissional, desse modo, a profissão policial é marcada por ter uma relação íntima com o prejuízo á saúde, especialmente à síndrome de burnout, depressão, ansiedade e estresse.

Para confirmar com o estudo “E2”, o estudo “E3” afirma que há um conjunto de situações estressantes relacionadas ao cunho organizacional, que desencadeia uma série de queixas nos policiais, como o estresse, mau-humor, ansiedade ou outros relacionados à saúde mental e bem-estar. Os fatores apresentados foram: carga de trabalho elevada, enorme número de demandas sem pessoal suficiente para resolver, dificuldades para descansar no horário de intervalo. Os policiais entrevistados neste estudo chegaram a afirmar que o trabalho causou o sofrimento mental ou piorou essa.

No estudo “E7”, evidenciou-se que a profissão policial é repleta de fatores de risco psicossociais que geram estresse ocupacional, desenvolvendo um impacto negativo na satisfação pessoal e no desempenho laboral. Entre o trabalho da polícia civil, a síndrome de burnout é manifestada dm despersonalização, exaustão emocional, desconforto físico, insônia, sintomas de depressão, uso equivocado de medicamentos ou internação hospitalar.

Já no estudo “E8”, destaca-se que o risco de vida, a exposição frequente às situações violentas e ao trauma, além de assédio moral, conflitos organizacionais e a falta de programas de saúde mental mais eficazes, são os fatores mais relevantes ao desenvolvimento de adoecimento mental. No estudo “E9”, foi identificado que o ritmo de trabalho que é considerado acelerado, pode ter impacto no surgimento de transtornos psiquiátricos menores, sendo ligados à falta de recursos humanos e a sobrecarga laboral.

Assim, foi mencionado que uma melhora nos recursos laborais seria fundamental e transformadora para a redução das demandas profissionais. Logo, o estudo sugere que as intervenções nesse contexto devem estar voltadas à uma alteração no modo de organização trabalhista, bem como na redução das demandas de trabalho, promovendo assim uma diminuição na exaustão emocional dos policiais.

No estudo “E5”, é descrito que o policial que apresenta um nível de autonomia laboral elevado, terão picos de estresse mais intensos em comparação aos profissionais que tem uma autonomia no trabalho baixa, isso ocorre pois quem apresenta uma autonomia maior, terá mais demandas no trabalho.

Categoria 3: A cultura policial e a falta de apoio relacionadas ao desenvolvimento de sofrimento psíquico em policiais civis.

Por último, a categoria três trata sobre a cultura dentro da organização da polícia civil, que com seus estigmas ultrapassados sobre policial não poder ter fraquezas, demonstrar sentimentos e não poder pedir ajuda relacionada a saúde mental, contribui para o aparecimento de sofrimento psíquico.

No estudo “E1”, que teve como objetivo explorar a relação da cultura na profissão policial influenciando na saúde mental por meio de entrevistas com policiais civis do Reino Unido, demonstrou que no ambiente policial há uma subcultura machista que enfatiza o autocontrole emocional, masculinidade, virilidade e resistência, resultando em um policial que suprime as emoções e não procura ajuda pelo estigma de parecer fraco e pelo receio de prejudicar sua carreira.

Além disso o “E1” também explica que a cultura organizacional e a falta de apoio da instituição para com os policiais, são fatores que contribuem para o avanço do estresse, que não é trabalhado de forma adequada pois os profissionais sentem medo de serem marginalizados e não buscam auxílio nesse sentido. Porém, apesar da instituição não oferecer o devido apoio, há um suporte chamado Trauma Risk Management, que é um serviço de apoio com a finalidade de diminuir o estigma ligado à saúde mental entre os policiais e soldados das forças armadas, no entanto, o serviço só se torna disponível quando o público alvo presencia um evento de trauma ou crítico.

Ao contrário do estudo “E1”, o estudo “E3” relatou que houveram mudanças positivas e significativas na área organizacional da polícia, contando com uma atenção adequada à problemática e oferecendo suporte personalizado aos funcionários. No estudo “E8”, foi discutido uma pesquisa no qual 93% dos policiais civis foram em busca de ajuda em relação à sua saúde mental, demonstrando que houve uma redução no estigma relacionado ao tratamento mental desenvolvido a partir da cultura policial de que o policial apresenta um arquétipo de “herói”, que apresenta uma personalidade rígida, não pode demonstrar emoções e que não pode adoecer física e mentalmente.

No estudo “E10”, mostrou-se que a exposição prolongada à exposição de risco, violência e ocorrências traumáticas que são situações inerentes da profissão policial, contribuem para prejudicar a saúde mental e o bem-estar do policial. Além disso, isto se exacerba quando os policiais sentem que receber uma ajuda especializada não seria aceita pela hierarquia policial e poderia trazer prejuízos em sua carreira, evidenciando que a cultura organizacional da polícia não contribui beneficamente na saúde mental do servidor.

No estudo “E4”, é sugerido que os policiais reconheçam suas limitações mentais e procurem ajuda adequada, apesar da cultura machista que venera a história do estoicismo e considera as dificuldades emocionais como uma fraqueza. Ademais, também foi considerada a ideia de que os policiais não devem reprimir sentimentos, mas sim falar sobre o assunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do estudo, tornou-se possível realizar a identificação de evidências científicas sobre o sofrimento mental em policiais civis. Foi observado que no mundo hodierno ainda há vários obstáculos para o saneamento do sofrimento mental, em especial dos policiais civis, como a cultura organizacional e a forma trabalhista da polícia civil.

Assim, sugere-se que as instituições da Polícia Civil criem meios de empregar uma verificação da saúde mental de forma frequente em seus servidores e não somente quando o profissional faz o teste psicotécnico como forma de avaliação de suas faculdades mentais para verificar se está apto a ingressar na carreira policial. Além disso, esse Check-Up deve abranger todos os policiais civis, não somente os que apresentam sinais de sofrimento mental, mas também aqueles que relatam estar saudáveis mentalmente. Dessa forma, este estudo espera contribuir para o conhecimento sobre a temática, tanto para a sociedade científica, a enfermagem e a sociedade em geral, quanto para os próprios profissionais terem como reconhecer indícios de sofrimento mental e buscar apoio. Ademais, espera-se também que essa pesquisa auxilie na propagação de conhecimento entre a comunidade científica, pois há uma escassez de conteúdos científicos sobre o tema, fazendo com que esta pesquisa seja um apoio adicional em futuros estudos científicos.

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Orientadora: Sabrina do Socorro Marques de Araújo de Almeida
Mestra em Saúde da Família – UNINOVAFAPI
E-mail: Sabrinaaraujogmc@hotmail.com
Maria Fernanda Brunetta Sant’Ana Almeida
Acadêmica de Enfermagem do 10º semestre – UNIESAMAZ
E-mail: mafebrunetta@gmail.com