REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505150337
Lucilene dos Santos de Aquino1
Ivonete Carvalho Sousa2
Bruno de Morais Santos3
Maria Onice Alves de Sousa4
Markiane Silva Galdino de Morais5
Rosalva Pereira Oliveira6
Sergio da Silva7
Pedro Henrique Rodrigues Alencar8
Resumo: O controle de infecção hospitalar em unidades de terapia intensiva (UTI) é um grande desafio para os profissionais de saúde porque os pacientes internados nessas unidades estão clinicamente doentes e mais suscetíveis a complicações infecciosas. Este trabalho tem como objetivo analisar as práticas de controle das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) em UTIs, com foco nas estratégias adotadas pela equipe de enfermagem para prevenir e controlar essas infecções. O método utilizado foi uma revisão de literatura que examinaram o papel da enfermagem no controle de infecções em UTIs, com foco em medidas preventivas como o uso correto de equipamentos de proteção individual (EPI), adesão à técnica asséptica, monitoramento contínuo dos pacientes e educação em saúde. Os resultados mostram que a enfermagem desempenha papel fundamental na redução das taxas de infecção, principalmente quando os procedimentos invasivos são realizados de forma asséptica e são implementadas medidas rigorosas de higiene e controle de infecção. A ação contínua e a capacitação da equipe de enfermagem são cruciais para garantir a efetividade das estratégias de controle, ao passo que o trabalho em equipe integrado é necessário para prevenir a propagação de infecções hospitalares. Concluiu-se que a educação permanente da equipe de enfermagem e o uso adequado de medidas preventivas são fundamentais para melhorar a segurança do paciente e reduzir a incidência de infecção em ambientes de alta complexidade como a UTI.
Palavras-chave: Infecções hospitalares. Unidades de Terapia Intensiva. Prevenção.
Abstract: Hospital infection control in intensive care units (ICU) is a major challenge for healthcare providers because patients admitted to these units are clinically ill and more susceptible to infectious complications. This study aims to analyze the control practices of healthcare-associated infections (HAIs) in ICUs, focusing on the strategies adopted by the nursing team to prevent and control these infections. The method used was a literature review that examined the role of nursing in infection control in ICUs, focusing on preventive measures such as the correct use of personal protective equipment (PPE), adherence to aseptic technique, continuous monitoring of patients and health education. The results show that nursing plays a fundamental role in reducing infection rates, especially when invasive procedures are performed aseptic and strict hygiene and infection control measures are implemented. Continuous action and training of the nursing team are crucial to ensure the effectiveness of control strategies, while integrated teamwork is necessary to prevent the spread of hospital infections. It was concluded that the permanent education of the nursing team and the appropriate use of preventive measures are essential to improve patient safety and reduce the incidence of infection in high-complexity environments such as the ICU.
Keywords: Hospital infections. Intensive Care Units. Prevention.
1. INTRODUÇÃO
A prevenção e o controle de infecções hospitalares constituem desafios frequentes nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), onde os pacientes apresentam maior propensão a complicações devido à severidade de seus quadros clínicos. No Brasil, cerca de 5 a 15% dos pacientes hospitalizados e 25 a 35% dos pacientes admitidos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), irão desenvolver pelo menos um episódio de IRAS (PEREIRA et al., 2016).
As infecções hospitalares são causadas por uma combinação de fatores, incluindo a exposição a micróbios em um ambiente hospitalar, a transmissão demicróbios entre pacientes e funcionários, e o uso excessivo de antibióticos, que podem levar ao desenvolvimento de cepas resistentes de bactérias (OLIVEIRA, et al., 2022).
A atuação dos profissionais de enfermagem, marcada pelo conhecimento técnico especializado e pela presença contínua junto ao paciente, é essencial para a efetividade das estratégias de prevenção e controle das infecções hospitalares em Unidades de Terapia Intensiva. A equipe de enfermagem na UTI deve ter treinamentos frequentes e atualização constante nas práticas de controle de infecção, para identificar e prevenir surtos de infecção, monitorar de perto os pacientes com infecções graves e tomar medidas para garantir um isolamento adequado (LEAL, et al., 2021).
Esses profissionais de enfermagem devem buscar educar os pacientes sobre a importância da higiene pessoal e procedimentos de prevenção de infecção, como lavagem adequada das mãos e cobrindo o nariz e a boca durante tosse e espirros, garantindo uma assistência adequada aos pacientes e prevenir a disseminação de infecções hospitalares (CALEGARI, et al., 2023).
Com base nisso, a enfermagem é um elemento crucial para o controle de infecções na UTI, uma vez que trabalha em estreita colaboração com a equipe médica para prevenção, identificação, isolamento, tratamento e monitoramento dos pacientes, garantindo assim a segurança e o bem-estar dos mesmos (MARQUES, et al., 2021).
Portanto, o controle de infecções em Unidades de Terapia Intensiva vai além do simples cumprimento de normas técnicas, exigindo uma estratégia multidisciplinar e a criação de uma cultura de segurança nas instituições de saúde. Porém, os pacientes graves em UTI são aqueles que requerem cuidados intensivos e contínuos devido a sua condição de saúde crítica. Eles podem estar sofrendo de doenças graves, traumas, lesões ou pós-operatório e necessitam de monitoramento cuidadoso e intervenção médica constante (LEAL, et al., 2021).
Dessa forma, ressalta-se que a gravidade desses casos, aliada à complexidade dos procedimentos necessários para o suporte à vida, contribui para a ocorrência das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) nesse ambiente. Tais infecções estão frequentemente associadas ao uso de dispositivos invasivos, como o Cateter Venoso Central (CVC), o Cateter Urinário de Demora (CUD) e a Ventilação Mecânica (VM), além do uso de imunossupressores, internações prolongadas, colonização por microrganismos multirresistentes e o uso frequente de antimicrobianos (TELES JF, et al., 2020).
Diante desse cenário, é importante destacar que falhas nos procedimentos realizados pela equipe multidisciplinar de saúde podem facilitar a transmissão de infecções, seja por meio do contato das mãos dos profissionais, pelo uso inadequado de materiais ou pelo contato com outros pacientes infectados. Vale ressaltar que uma parcela significativa dessas infecções é evitável, desde que executadas medidas eficazes de prevenção e controle de infecção (PCI) pelos serviços de saúde (ANVISA, 2021).
Desse modo, essa pesquisa possibilita uma análise aprofundada das práticas mais eficazes para proteger pacientes em estado crítico, altamente vulneráveis a infecções. Identificar as estratégias preventivas mais adequadas e os principais fatores de risco contribui para elevar a qualidade do atendimento, reforçando o papel do enfermeiro e da equipe de saúde na aplicação de protocolos seguros e na vigilância contínua dos pacientes.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS)
As IRAS, nacionalmente são definidas como qualquer infecção adquirida após a internação do paciente, manifestada durante a hospitalização ou até mesmo após a alta, relacionada com a internação e com os procedimentos realizados em âmbito hospitalar (Centers for Disease Control And Prevention, 2018).
A crescente complexidade dos cuidados em saúde, especialmente em ambientes críticos como as UTIs, exige uma constante atualização e aprofundamento teórico-prático dos profissionais envolvidos. Neste cenário, as infecções hospitalares emergem como um dos principais desafios a serem enfrentados, dada a sua alta incidência e impacto significativo nos desfechos clínicos dos pacientes, além de representarem um aumento nos custos para o sistema de saúde (FONTES TELES et al., 2020).
A UTI é um ambiente hospitalar altamente especializado, destinado a pacientes criticamente enfermos e com risco iminente de vida. Nessa unidade, os pacientes apresentam condições clínicas e cirúrgicas graves, o que resulta em instabilidade das funções vitais e exige monitorização hemodinâmica contínua e suporte tecnológico constante para manter essas funções (FREITAS RHF e RIBEIRO CCS, 2016).
Segundo a ANVISA (2017), a instalação de dispositivos como cateter urinário, ventilação mecânica e cateter venoso central, procedimentos frequentemente utilizados em pacientes internados em UTIs, são considerados de alto risco, pois expõem os pacientes a infecções adquiridas no ambiente hospitalar. Esses dispositivos aumentam a suscetibilidade a infecções dos tratos respiratório e urinário, bem como na corrente sanguínea.
O impacto dessas infecções na saúde dos pacientes é significativo, aumentando a morbidade e a mortalidade, prolongando o tempo de internação e elevando os custos hospitalares. Além disso, infecções hospitalares podem levar à necessidade de tratamentos adicionais, incluindo o uso de antimicrobianos de amplo espectro, o que contribui para o aumento da resistência antimicrobiana, um problema de saúde pública crescente (PAIVA et al., 2021).
De acordo com a Portaria GM/MS n.º 2.616/1998, a taxa de infecção em sítio cirúrgico é um indicador de grande relevância epidemiológica, e todos os hospitais devem monitorá-la para implementar as intervenções adequadas (BRASIL, 1998).
Desse modo, pode-se ressaltar que as UTIs representam menos de 2% dos leitos hospitalares disponíveis, a taxa de IRAS nesse setor corresponde a mais de 25% dos casos de infecções hospitalares. Atribuído a isso, destaca-se a complexidade clínica dos pacientes monitorados, fármacos imunossupressores e antimicrobianos, os inúmeros procedimentos invasivos realizados, o extenso período de internação, as condições nutricionais do paciente (SILVA et al., 2019).
Conforme Silva et al., (2019) esse elevado índice é resultado da complexidade clínica dos pacientes, que muitas vezes precisam de procedimentos invasivos como ventilação mecânica e cateteres, que quebram as defesas naturais do organismo e facilitam a penetração de agentes patogênicos. Ademais, a utilização de medicamentos imunossupressores e antimicrobianos, a deficiência nutricional e a permanência prolongada em hospitalização elevam a susceptibilidade a infecções.
Uma grande preocupação dos hospitais brasileiros está na ocorrência de infecções associadas a microrganismos multirresistentes, sendo estes caracterizados por apresentarem resistência a no mínimo duas classes de antimicrobianos. A resistência a antimicrobianos vem se tornando um alarmante problema para a saúde mundial, resultando em tratamentos de altos custos assistenciais e elevados índices de óbitos (ARAÚJO; PEREIRA, 2017).
Nesse contexto, é preciso a supervisão das práticas adequadas de manuseio e assistência a pacientes internados, assegurando que os protocolos de controle de infecção, tais como a higienização correta das mãos, a utilização correta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e o isolamento de pacientes infectados sejam cumpridos à risca (SILVA et al., 2017).
2.2 A Segurança do Paciente e a Prevenção de Infecções Hospitalares
A segurança do paciente repensa os processos voltados à assistência em saúde, com a finalidade de identificar a ocorrência das falhas antes que possam causar danos na atenção à saúde do indivíduo. No Brasil, um dos marcos imprescindíveis na atenção à saúde foi à criação da Portaria de Nº 529 de 1º de abril de 2013, que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), cujo objetivo é a prevenção e redução da incidência de eventos adversos relacionados à assistência nos serviços de saúde (ANVISA, 2017).
Diante desses aspectos, torna-se perceptível que o PNSP também possui o intuito de contribuir para a qualificação do cuidado em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional, assim como promover e apoiar a implementação de iniciativas direcionadas à segurança do paciente, organização e gestão dos serviços de saúde, por meio da implantação da gestão de risco e de Núcleos de Segurança do Paciente nos estabelecimentos de saúde (BRASIL, 2013).
Com o intuito de garantir a efetividade dessas ações, foram estabelecidas seis metas internacionais de segurança do paciente, desenvolvidas pela Joint Commission International (JCI) em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que devem ser seguidas pelas instituições de saúde como diretrizes fundamentais para a promoção de práticas seguras e de qualidade no cuidado (COREN-SP, 2022; BRASIL, 2021).
Essas metas abrangem aspectos cruciais da assistência, como a correta identificação do paciente, a comunicação eficaz entre os profissionais de saúde, a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos, a realização de cirurgias com protocolos de segurança, bem como a redução dos riscos de infecções relacionadas à assistência, quedas e lesões por pressão. A implementação dessas práticas é fundamental para fortalecer a cultura de segurança e assegurar a integridade dos pacientes durante todo o processo de cuidado (BRASIL, 2021).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), entre os fatores que favorecem o desenvolvimento de IRAS nos serviços de saúde estão: a falta de infraestrutura para fornecer suporte ao Programa de Prevenção e Controle de Infecção (PPCI), lideranças ausentes ou insuficientes, precariedade nos treinamentos dos profissionais da saúde sobre medidas de prevenção (BRASIL, 2017).
No entanto, essas medidas e controle das IRAS foram definidas como prioridade máxima em todos os cenários para prestação dos cuidados à saúde e na segurança do paciente. Por isso, existe a necessidade de se compreender como ocorre este fenômeno na prestação dos cuidados hospitalares, sendo esta uma atividade muito complexa e que requer bastante atenção às suas particularidades, em que o paciente está mais suscetível a adquirir uma IRAS (PAIM RSP e LORENZINI E, 2014).
3. PAPEL DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE IRAS
Profissionais de enfermagem, por estarem na linha de frente do cuidado, desempenham um papel fundamental na adoção de medidas preventivas, como a higienização das mãos, o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs), e a implementação de protocolos de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde (DE AGUIAR PORTELA et al., 2020).
A prevenção e controle de infecções hospitalares emergem como uma área de atuação estratégica para os profissionais de enfermagem, exigindo uma constante atualização profissional e a adoção de práticas baseadas em evidências científicas. A implementação dessas medidas não apenas contribui para a melhoria dos desfechos clínicos dos pacientes, mas também para a sustentabilidade dos sistemas de saúde, através da redução de custos associados ao tratamento de infecções hospitalares e à estadia prolongada em unidades de saúde (BORDIGNON et al., 2020).
Nesse contexto, destaca-se a importância da padronização de protocolos para a inserção, manutenção e remoção segura de dispositivos invasivos. A aplicação de práticas como a seleção criteriosa do sítio de inserção com menor risco de infecção, o uso de barreiras máximas durante o procedimento e a retirada precoce de cateteres desnecessários são estratégias fundamentais para a prevenção de infecções e para a promoção de um ambiente mais seguro para o cuidado em saúde (NETO et al., 2020).
A dinâmica do ambiente de UTI e a evolução contínua dos patógenos exigem que os profissionais de enfermagem estejam sempre atualizados sobre as melhores práticas de prevenção e controle de infecções. No entanto, a realização de treinamentos efetivos é frequentemente dificultada por agendas lotadas e pela priorização de atividades assistenciais em detrimento da educação continuada (CORRÊA & CORDENUZZI, 2022).
Para enfrentar esses desafios, é fundamental que as instituições assumam um compromisso efetivo com uma cultura voltada para a segurança do paciente, invistam em recursos adequados e valorizem a formação contínua dos profissionais de enfermagem. Essa categoria profissional, por estar diretamente envolvida no cuidado integral ao paciente, exerce um papel central na promoção da segurança e na garantia de práticas assistenciais de qualidade (COFEN, 2023).
4. METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica disponível, com o objetivo de analisar a prevalência e os fatores de risco associados às Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A pesquisa foi conduzida para identificar os principais fatores que contribuem para o aumento da incidência de IRAS nesse contexto hospitalar, além de compreender as práticas de prevenção e controle adotadas pelos profissionais de saúde.
A pergunta norteadora desta revisão integrativa foi formulada da seguinte maneira: “Quais são os fatores de risco associados às Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde em Unidades de Terapia Intensiva e quais são as estratégias mais eficazes para a sua prevenção e controle?”
A metodologia envolveu a busca sistemática de artigos científicos e documentos institucionais em bases de dados renomadas, como PubMed, SciELO, LILACS, Google Scholar, e Medline. Os termos de busca utilizados foram: “Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde”, “IRAS em UTI”, “Prevenção de Infecções Hospitalares”, “Controle de IRAS em Unidades de Terapia Intensiva”, “Estratégias de Prevenção de Infecções”, “Resistência Microbiana em Hospitais”. A busca foi realizada em dois idiomas, português e inglês, para abranger uma ampla gama de estudos relevantes e facilitar a análise crítica dos artigos. Embora os termos de busca não tenham sido verificados no DECS (Descritores em Ciências da Saúde), foram selecionados com base na sua relevância e frequência de uso na literatura científica.
Os critérios de inclusão para esta pesquisa abrangeram estudos publicados entre 2019 e 2024 que abordaram as IRAS em UTIs, com foco na análise de fatores de risco, incidência, medidas de prevenção e controle das infecções. Apenas artigos completos e estudos que apresentaram dados relevantes sobre as taxas de infecção e práticas de controle foram selecionados. Foram excluídos estudos com acesso restrito ao texto completo, pesquisas bibliográficas, monografias, teses, e artigos com informações insuficientes para uma análise profunda do tema.
A seleção dos estudos será realizada em duas fases: a primeira consistirá na triagem dos títulos e resumos dos artigos encontrados nas bases de dados; e a segunda fase envolverá a leitura completa dos artigos selecionados, com base nos critérios estabelecidos. A análise dos dados será qualitativa e descritiva, permitindo uma síntese dos resultados encontrados e a identificação de padrões, tendências e lacunas na literatura sobre a prevenção e controle das IRAS em UTIs.
5. RESULTADOS
Inicialmente, 500 artigos foram identificados por meio de buscas nas bases de dados LILACS, SciELO, PubMed, Pedro e Medline. No entanto, após uma triagem detalhada com base nos critérios de elegibilidade estabelecidos, apenas 7 artigos foram selecionados para inclusão nesta revisão integrativa. A literatura revisada evidencia uma série de fatores que contribuem para a incidência das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e os principais fatores de risco associados.
Os artigos selecionados revelam que as principais intervenções para mitigar as IRAS incluem práticas voltadas para o fortalecimento das medidas de controle de infecção hospitalar, como a correta higienização das mãos, o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a adoção de protocolos rígidos para procedimentos invasivos. Além disso, foram identificadas estratégias para o monitoramento contínuo dos pacientes e a capacitação da equipe de saúde, que demonstraram benefícios significativos na redução das taxas de infecção. Os resultados foram organizados em formato de quadro para melhor visualização e compreensão (Quadro 02).

Quadro 2: Distribuição e Organização dos Artigos sobre Infecção Hospitalar e Controle na Enfermagem.
Autor(es)/ano/país | Nível de evidência | População e/ou Amostra | Objetivo | Principais achados |
OLIVEIRA et al., 2019, Brasil | VI | Profissionais de enfermagem de um Centro de Terapia Intensiva Adulto. | Conhecer o significado que os profissionais de enfermagem atribuem às práticas para a prevenção e controle das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde | Evidenciou-se a dissonância entre discurso e prática, principalmente nos cinco momentos de higienização das mãos. O não cumprimento dessas medidas foi atribuído à sobrecarga de trabalho, ao entendimento sobre a cadeia de transmissão e sua valorização no processo assistencial. |
LANZA et al., 2019, Brasil. | IV | Profissionais de enfermagem de uma UTI em São Paulo | Analisar a adesão dos profissionais de enfermagem às medidas de prevenção de infecção por cateter venoso periférico | Os profissionais afirmaram conhecer e contribuir para o controle de infecção, porém os dados indicaram que esse conhecimento não se refletia na prática, comprometendo a efetividade das medidas preventivas. |
ALVIM, A.L; COUTO, B., 2019, Brasil | VI | Desenvolvimento de aplicativo para celular e/ou tablet | Relatar o desenvolvimento do aplicativo para avaliação das práticas de higiene das mãos nos serviços de saúde | O aplicativo “Hands Clean” foi desenvolvido como ferramenta para monitorar e avaliar automaticamente as práticas de higiene das mãos em serviços de saúde, auxiliando no controle de infecção. |
LOURENÇO NE et al., 2019, Brasil | IV | Profissionais de enfermagem de uma UTI geral no Rio Grande do Sul | Avaliar a taxa de adesão das ações preventivas da equipe de enfermagem para PAV após a reestruturação e aplicação do protocolo de prevenção e verificar as taxas de densidade de incidência de pacientes com PAV | Destacou-se a importância da participação ativa e direta da enfermagem para a prevenção das IRAS na UTI, como o caso da PAV. A ferramenta mostrou-se de suma importância para auxiliar no cuidado e assistência no ambiente de terapia intensiva e deve ser aplicada continuamente para garantir a segurança do paciente. |
COSTA et al., 2020, Brasil. | IV | Profissionais de três UTIs adultas em Minas Gerais | Avaliar o conhecimento e comportamento dos profissionais em relação às ações recomendadas em bundles de prevenção de IPCS associada ao uso do CVC | Foram identificadas fragilidades no conhecimento e comportamento dos profissionais em relação às ações preconizadas. A higienização das mãos foi o item com maior nível de conhecimento, tanto no momento da inserção quanto na manutenção do CVC. |
PEDROSA et al., 2020, Brasil. | VI | Revisão integrativa da literatura sobre práticas de prevenção e controle de infecção hospitalar em UTIs | Compreender a atuação do enfermeiro na prevenção e controle de infecção hospitalar | A equipe de enfermagem desempenha um papel fundamental nas CCIHs, destacando-se na implementação de medidas como a higienização das mãos e controle das infecções hospitalares em UTIs. |
SOUZA, A.C.J.R., 2024, Brasil. | V | Revisão narrativa da literatura sobre práticas em UTIs | Analisar estratégias de prevenção e controle de infecções hospitalares em UTIs, com ênfase no papel da enfermagem | A implementação de estratégias eficazes requer compromisso institucional, investimento em recursos e capacitação contínua dos profissionais. Destacam-se os desafios como resistência organizacional, limitações de recursos e necessidade de treinamento contínuo. |
6. DISCUSSÃO
Os resultados apresentados apontam que a atuação do enfermeiro é fundamental na prevenção e controle das infecções hospitalares, mas também revelam lacunas significativas entre o conhecimento teórico e a prática efetiva. No estudo de OLIVEIRA et al. (2019), observou-se uma dissonância entre o discurso e a prática dos profissionais de enfermagem, principalmente no que diz respeito à higienização das mãos, uma das medidas mais simples e efetivas para prevenir infecções. Isso coincide com os de outros estudos, como o de COSTA et al. (2020), que também apontaram fragilidades no comportamento da equipe de enfermagem em relação às medidas de prevenção.
Já a pesquisa de LANZA et al. (2019) destaca que, embora os profissionais afirmem conhecer as medidas preventivas para o controle da infecção por cateter venoso periférico, na prática, a adesão a essas medidas era insuficiente. Esse estudo indica que, mesmo com o conhecimento teórico, a aplicação das práticas preventivas não ocorre de maneira satisfatória, sugerindo que fatores como a sobrecarga de trabalho e a falta de treinamento contínuo podem influenciar negativamente a adesão às práticas de controle de infecção.
Em contrapartida, o estudo realizado por ALVIM e COUTO (2019), que focou na criação de um aplicativo para gerenciar a higiene das mãos, revela uma nova perspectiva que pode contribuir para resolver algumas dessas deficiências. A adoção de ferramentas tecnológicas, bem como aplicativos que monitoram as práticas de higiene das mãos, pode se tornar uma estratégia fundamental para assegurar o cumprimento das medidas preventivas, já que proporciona um monitoramento constante e a análise do desempenho da equipe.
Outro ponto relevante é o estudo de LOURENÇONE et al. (2019), destacaram a importância do envolvimento ativo da enfermagem na prevenção de infecções associadas aos cuidados de saúde, como a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). Estudos demonstraram que os regimes de reconstituição e a aplicação consistente de medidas preventivas são fundamentais para reduzir a incidência de infecção. Essa abordagem é corroborada por outros estudos, como o de SOUZA (2024), que também destaca a necessidade de formação contínua e da criação de uma cultura de segurança para implementar efetivamente práticas de controle de infecção.
Além disso, o estudo de PEDROSA et al. (2020), realizado no Brasil, reforça a atuação essencial da equipe de enfermagem nas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIHs), com destaque para a implementação de medidas como a higienização das mãos e o controle de infecções em unidades de terapia intensiva (UTIs). A pesquisa evidencia que o enfermeiro tem papel estratégico tanto na elaboração quanto na execução das ações de prevenção.
Ao comparar os resultados de diferentes estudos, pode-se concluir que apesar da existência de conhecimentos teóricos sobre práticas preventivas, ainda existem desafios significativos na implementação destas medidas em ambiente hospitalar. A sobrecarga de trabalho, a resistência organizacional, as restrições de recursos e a falta de formação contínua são fatores que dificultam o cumprimento eficaz das práticas de controle de infecções. Contudo, a utilização de ferramentas tecnológicas e a promoção de uma cultura de segurança do paciente são medidas que podem tornar a enfermagem mais eficiente.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo apresentou a atuação dos profissionais de enfermagem na prevenção e controle de infecções em ambiente hospitalar, com ênfase nas Unidades de Terapia Intensiva. Os resultados demonstraram que a equipe de enfermagem exerce uma função fundamental na execução de medidas preventivas, como a limpeza das mãos e a conformidade com os protocolos de controle de infecções. Tais práticas são vitais para minimizar as infecções hospitalares, que representam um problema relevante no âmbito da saúde.
Apesar de os enfermeiros possuírem um sólido entendimento teórico acerca das práticas voltadas ao controle de infecções, os estudos também indicaram lacunas significativas entre o conhecimento e a aplicação. A carga excessiva de trabalho e a insuficiência de recursos apropriados foram identificadas como obstáculos à implementação eficaz das medidas preventivas. Ademais, elementos como a resistência dentro da organização e a falta de formação contínua dificultam a conversão do conhecimento em ações práticas.
Desse modo, o estudo atingiu suas metas ao enfatizar a importância do papel do enfermeiro na gestão de infecções em hospitais, além de oferecer bases para refletir sobre os desafios que os profissionais encontram e sugerir formas de aumentar a conformidade com as práticas preventivas. O estudo também ajuda a debater sobre a necessidade de investir em inovações tecnológicas, como aplicativos que auxiliem no acompanhamento da higiene das mãos, assim como em uma cultura organizacional que valorize a segurança dos pacientes.
O trabalho cumpriu seus objetivos ao ressaltar a relevância da função do enfermeiro na administração de infecções dentro dos hospitais, além de fornecer fundamentos para ponderar sobre os obstáculos que esses profissionais enfrentam e propor maneiras de melhorar a adesão às práticas de prevenção.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, brunodemorais1981@gmail.com
2Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, ivonetefrancacarvalho@gmail.com
3Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, luciaquino107@gmail.com
4Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, mariaonice46@gmail.com
5Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, markianegal12345@gmail.com
6Acadêmica do 8° período do curso de Enfermagem, rosalvao279@gmail.com
7Acadêmico do 8° período do curso de Enfermagem, sergio.vantuller@gmail.com
8Orientador, Especialista, Professor do curso de Enfermagem, enfpedro.alencar@gmail.com