REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501061529
Jaciara Nogueira da Silva
Marilene Dos Santos Silva
Orientador (a): Marcela Vilarim Muniz
Coorientador: Kaiomakx Renato Assunção Ribeiro
RESUMO
Objetivo: identificar por meio da literatura as principais intervenções de enfermagem para pacientes adultos em cuidados paliativos (CP) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), evidenciando as práticas mais significativas e os desafios enfrentados, além de destacar os principais obstáculos encontrados. Abordagem: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura com base em publicações científicas dos últimos 5 anos, acessadas nas bases de dados: BVS, PubMed e SciELO. A análise foi conduzida conforme as etapas recomendadas para revisões integrativas, selecionando 10 artigos pertinentes que cumpriram os critérios de inclusão. Os achados destacaram que as ações essenciais da enfermagem incluem: controle de sintomas, manejo da dor, comunicação eficiente, apoio emocional e espiritual, humanização do cuidado e capacitação profissional. Conclui-se que os enfermeiros desempenham um papel essencial nos cuidados paliativos em UTIs, atuando como elo entre as necessidades do paciente, da família e da equipe multidisciplinar. A educação contínua e o suporte emocional para a equipe são cruciais para superar desafios e melhorar a qualidade do atendimento. A implementação efetiva dos cuidados paliativos no contexto da terapia intensiva traz vantagens não apenas aos pacientes, mas também aos seus entes queridos, promovendo dignidade e conforto em situações de grande complexidade.
Descritores de forma combinada: (“cuidados paliativos” OR “palliative care” OR “cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “hospice care”) AND (“unidades de terapia intensiva” OR ‘”Intensive care units”) AND (nursing OR enfermagem OR “cuidados de enfermagem” OR “nursing care” OR “enfermagem de cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “Hospice and Palliative Care Nursing”).
ABSTRACT
Objective: to identify the main nursing interventions aimed at palliative care (PC) patients in the intensive care unit (ICU), highlighting relevant practices and challenges, as well as main obstacles. Approach: an integrative review was performed, based on scientific publications within the last 5 years, accessed through the BVS, PubMed and SciELO databases. The analysis was conducted in accordance with recommended integrative review steps, whereby 10 pertinent articles, which fulfilled inclusion criteria, were selected. Findings highlighted essential nursing practices to include: symptom control, pain management, effective communication, emotional and spiritual support, humanized care and professional development. Conclusion: nurses play an essential role in palliative care in ICUs, acting as a link between patient, family and multidisciplinary team needs. Continued education and emotional team support are crucial in order to overcome challenges and improve quality of care. Effective implementation of palliative care in the context of intensive therapy offers advantages not only to patients, but also loved ones, fostering dignity and comfort in situations of great complexity.
Descriptors form combined: (“cuidados paliativos” OR “palliative care” OR “cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “hospice care”) AND (“unidades de terapia intensiva” OR ‘”Intensive care units”) AND (nursing OR enfermagem OR “cuidados de enfermagem” OR “nursing care” OR “enfermagem de cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “Hospice and Palliative Care Nursing”).
1 INTRODUÇÃO
Os cuidados paliativos (CP) identificam-se como um suporte de qualidade, capaz de apoiar ações que ofereçam maior conforto ao paciente e aos familiares. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) os CP são classificados como: Práticas de saúde integral, conduzidas por uma equipe multidisciplinar, direcionadas a pacientes com doenças incuráveis, baseadas em medidas que buscam promover o bem-estar integral do ser humano, através do manejo de sinais e sintomas ligados a problemas físicos, psicossociais, espirituais e uma avaliação precisa para prevenção e alívio da dor (MARTINS et al., 2022).
A introdução de cuidados paliativos nas unidades de terapia intensiva (UTI) pode proporcionar maior conforto aos pacientes nos momentos finais, diminuir a duração da internação e amenizar a angústia dos familiares após o óbito (KE et al., 2019). Assim, a integração de cuidados paliativos no contexto da UTI revela-se uma abordagem essencial para aprimorar a vivência dos pacientes e de seus entes queridos durante o processo de morte.
Os estudos de Martins et al. (2022) relatam que o debate global sobre cuidados paliativos está diretamente relacionado com as mudanças demográficas e epidemiológicas dos últimos anos, caracterizadas pelo envelhecimento da população e pelo aumento das doenças crônicas. Esses fatores indicam a necessidade de tratamento especial para lidar com essa nova situação.
De acordo com informações de Martins et al. (2022) estima-se que, anualmente, um total de 40 milhões de indivíduos precisam desse tipo de assistência, incluindo pacientes em fase inicial da enfermidade e aproximadamente 20 milhões de indivíduos que não recebem essa assistência no final da vida. Desses últimos, 90% são diagnosticados com alguma doença crônica não contagiosa.
Com o crescimento da necessidade por cuidados paliativos, esses serviços têm se ampliado para oferecer suporte não só a pacientes com câncer, mas também a pessoas que enfrentam outras enfermidades, como insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência renal, atrofia muscular espinhal e doença pulmonar obstrutiva crônica (KIM; LEE, 2020).
Identificar o conforto prejudicado é um grande desafio para os pacientes que estão internados em unidades de terapia intensiva. Neste cenário, a atuação do enfermeiro é crucial, pois ele utiliza os cuidados como meio para avaliar a condição do paciente e adotar medidas que favoreçam seu bem-estar em várias dimensões. principalmente no contexto que diz a respeito à dor. A redução da dor foi vista por todas as categorias profissionais como um elemento crucial no atendimento ao paciente em cuidados paliativos, além da prescrição de analgesia, é essencial implementar medidas não farmacológicas para aliviar a dor, considerando os fatores psicossociais e espirituais (PIRES et al., 2020).
Em relação ao tratamento completo de sintomas físicos, o controle da dor do paciente é um dos fundamentos dos cuidados paliativos, e é responsabilidade da enfermagem oferecer esse cuidado, pois a gestão da dor e dos sintomas são princípios fundamentais na enfermagem, visando o conforto do paciente (KIM; LEE, 2020).
Estudos de Pires et al. (2020) enfatizam que a prevenção de procedimentos invasivos, exames e medicamentos que não alterarão a evolução da doença é uma maneira de minimizar o desconforto.
Para ofertar cuidados paliativos de maneira eficiente e com excelente qualidade, é fundamental unir saberes, competências e uma postura apropriada em relação a essa prática (KIM; LEE, 2020).
Diante da infinidade de atribuições relativas à assistência de enfermagem ao paciente em cuidados paliativos, a pesquisa parte da seguinte pergunta norteadora: Quais são as principais condutas de enfermagem para pacientes adultos em cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva?
2 METODOLOGIA
Este trabalho realiza uma análise integrativa da literatura. Essa abordagem permite a coleta, avaliação crítica e síntese das evidências existentes em relação a temática. O produto resultante apresenta o reflexo atual do conhecimento a respeito do assunto, auxilia na implementação de intervenções efetivas na saúde, ajuda a minimizar despesas e sinaliza áreas que necessitam de investigação adicional (MENDES, KDS; SILVEIRA, RC DE CP; GALVÃO, CM., 2008).
A questão de pesquisa foi formulada usando o acrônimo PICO, onde P representa a população/pacientes, I representa a intervenção, C representa a comparação/controle e O representa o desfecho/outcome. Portanto, considerou-se a seguinte estrutura: P: pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com necessidades de cuidados paliativos; I: implementação de cuidados paliativos especializados na UTI, com foco no manejo do sofrimento, controle da dor, promoção do conforto e suporte familiar; C: atendimento tradicional; O: melhora no conforto do paciente. A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio do acesso online às bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/Pubmed) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), desta forma combinados: (“cuidados paliativos” OR “palliative care” OR “cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “hospice care”) AND (“unidades de terapia intensiva” OR “Intensive care units”) AND (nursing OR enfermagem OR “cuidados de enfermagem” OR “nursing care” OR “enfermagem de cuidados paliativos na terminalidade da vida” OR “Hospice and Palliative Care Nursing”).
Para evitar possíveis distorções, a busca na literatura, a análise, a seleção dos estudos e a discussão dos artigos a serem incluídos foram realizados por 4 pesquisadores.
Foram definidos os seguintes critérios de inclusão para a escolha dos artigos: artigo original; estudos publicados nos últimos 5 anos, disponíveis na íntegra eletronicamente; com o texto completo disponível gratuitamente; Pesquisas disponíveis nos idiomas: Português, inglês e espanhol; Estudos que se baseia na temática da pesquisa em questão, que responda à pergunta norteadora.
Os critérios de exclusão incluem: Pesquisas repetidas em uma ou mais bases de dados; e pesquisas realizadas em crianças.
A pesquisa exploratória ocorreu nos últimos 5 anos. Inicialmente, a pesquisa e inclusão das publicações foram feitas através da análise do título e do resumo. Em seguida, foram escolhidos 10 artigos como a base final de dados deste estudo.
3 RESULTADOS
Em uma primeira análise, foram detectados 718 artigos. Depois de aplicar os filtros (artigos completos e originais), foram identificados 276 artigos. Após a aplicação do segundo filtro (artigos publicados entre 2019 e 2024), obteve-se um total de 136 artigos. Destes, 5 foram descartados por serem duplicados, restando assim 131 publicações. Após a leitura dos títulos, foram descartadas 30 publicações, resultando em 101 artigos. Após a leitura dos resumos, foram selecionados 32 artigos, os quais foram lidos na íntegra. A amostra final foi composta por 10 artigos, que foram escolhidos para integrar o corpus deste estudo.
Foi elaborada uma tabela com base nos artigos escolhidos após uma análise detalhada das publicações encontradas durante a revisão de literatura. Critérios como originalidade, data de publicação (2019-2024) e pertinência ao assunto de cuidados paliativos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) foram relevantes. Os trabalhos incorporados representam contribuições científicas de vários países, permitindo uma avaliação comparativa e variada sobre o assunto.
Tabela 1- Artigos selecionados
AUTOR | NOME DO ARTIGO | DOI | PAÍS/ANO |
CAVALCANTI, IMC. et al. | Princípios de cuidados paliativos em terapia intensiva na perspectiva dos enfermeiros. | 10.15649/cuidarte.v10i1.555 | Brasil /2019 |
ELTAYBANI, S; IGARASHI, A; YAMAMOTO- MITANI, N. | Palliative care in adult intensive care units: A nationwide survey | 10.1111/nicc.12565 | Japão /2021 |
HAMDAN, AH; WOLF, A; OHLÉN, J; OLAUSSON, S. | Managerial and organisational prerequisites for the integration of palliative care in the intensive care setting: A qualitative study | 10.1111/jonm.13436 | Suécia /2021 |
KE, YX; HU, SH; TAKEMURA, N; LIN, CC. | Perceived quality of palliative care in intensive care units among doctors and nurses in Taiwan | 10.1093/intqhc/ | China/ 2019 |
KIM, S; LEE, K. | Knowledge, attitude, confidence, and educational needs of palliative care in nurses caring for non-cancer patients: a cross-sectional, descriptive study | 10.1186/s1290 | Coréia/2020 |
KO, E; LOWIE, S; NI, P. | Confidence in carrying out palliative care among intensive care nurses | 10.1111/nicc.12735 | China/2023 |
MARTINS, MR. et al. | Assistance to patients eligible for palliative care: the view of professionals from an Intensive Care Unit | 10.1590/1980-220X | Brasil /2021 |
PERÃO, O. et al | Representações sociais de conforto para familiares de pacientes em cuidados paliativos em terapia intensiva | org/10.1590/1983-1447.2021.20190434 | Brasil, 2021 |
PEREIRA, G. et al | O Enfermeiro em Cuidados Paliativos em Unidades de Terapia | 10.1590/0034-7167-2016-0267 | Brasil, 2022 |
PIRES, IB. et al. | Conforto no final de vida na terapia intensiva: percepção da equipe multiprofissional | 10.37689/acta- ape/2020AO0148 | Brasil, 2019 |
A Tabela 3.1 sintetiza as características fundamentais dos 10 artigos escolhidos para integrar o corpus desta pesquisa. Estes artigos foram selecionados seguindo critérios de inclusão rigorosos, assegurando sua pertinência e contribuição científica para o estudo no que diz a respeito dos cuidados paliativos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). As publicações, de alcance global, espelham variados contextos culturais e profissionais, ressaltando visões do Brasil, Japão, Suécia, China e outros países. A tabela, além de fornecer dados como autores, títulos, DOI, país e ano de publicação, destaca a variedade e a riqueza das perspectivas acerca dos desafios e práticas de cuidados paliativos no contexto intensivo.
4 DISCUSSÕES
A pesquisa literária sobre a assistência de enfermagem a pacientes adultos em situação de cuidados paliativos na terapia intensiva revelou aspectos significativos para a atuação profissional, enfatizando as ações fundamentais de enfermagem e os desafios enfrentados nesse contexto.
A Importância dos Cuidados Paliativos na UTI
Os cuidados paliativos são uma abordagem focada no paciente e em seus familiares, visando aprimorar a qualidade de vida mediante a antecipação, prevenção e manutenção do sofrimento. Essa forma de cuidado, que se estende durante toda a progressão da doença, engloba as demandas físicas, emocionais, sociais, espirituais e cognitivas, promovendo a autonomia do paciente, o acesso à informação e a capacidade de tomar decisões (ELTAYBANI; IGARASHI; YAMAMOTO-MITANI, 2021).
A equipe de CP em UTI necessita de habilidades profissionais específicas para satisfazer as demandas dos pacientes e seus familiares. Levando em conta que paciente, família e equipe interdisciplinar, independentemente do nível de assistência à saúde, constituem os pilares essenciais dos cuidados paliativos, é crucial a interação entre esses elementos para a elaboração de um cuidado voltado para a melhoria da qualidade de vida (PERÃO et al., 2021).
De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 40 milhões de pessoas precisam de cuidados paliativos, mas somente 14% têm acesso a esse tipo de assistência. Um dos maiores desafios para expandir essa oferta é a carência de formação e conscientização entre os profissionais da saúde (PEREIRA et al., 2022). Esses desafios são agravados pela projeção de aumento global de óbitos relacionados à saúde, que devem passar de 26 milhões em 2016 para 48 milhões até 2060, representando um crescimento global de 87%. Esse aumento será mais acentuado em países de baixa renda (155%) comparado a países de renda média-alta, como a China, que devem registrar um crescimento de 88% (KO; LOWIE; NI, 2023).
Em contextos onde a morte é mais provável que a cura, os cuidados paliativos devem ser incorporados como estratégia integral para promover o bem-estar dos pacientes e a qualidade de vida de suas famílias, quando os cuidados curativos não são mais viáveis. Esses cuidados buscam aliviar sintomas e desconfortos, contrastando com a abordagem tradicional das UTIs, que prioriza a estabilização e a sobrevivência do paciente (HAMDAN et al., 2021). Os Cuidados Paliativos são introduzidos para garantir uma qualidade de vida ao paciente até o momento do falecimento (PEREIRA et al., 2022).
Controle de Sintomas e Manejo da Dor
A gestão da dor é um dever primordial da equipe de enfermagem. Os profissionais devem estar habilitados para avaliar e gerenciar a dor de forma individualizada, empregando escalas adequadas e assegurando o uso correto de analgésicos. Ko, Lowie e Ni (2023) destacam que a confiança dos enfermeiros em prestar cuidados paliativos é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Além disso, a gestão eficiente dos sintomas é um dos fundamentos dos cuidados paliativos. Profissionais de enfermagem devem prestar atenção tanto a intervenções farmacológicas quanto não farmacológicas, adaptando processos como o banho e mudanças de posição, além de controlar sintomas como falta de ar, sedação, alimentação e hidratação (CAVALCANTI et al., 2019). A carga elevada de sintomas reforça a necessidade de cuidados paliativos para atender demandas complexas de pacientes e seus familiares durante o progresso de doenças sem prognóstico (KO; LOWIE; NI, 2023).
Eltaybani, Igarashi e Yamamoto-Mitani (2021) reforçam que o controle de sintomas exige uma combinação de abordagens. Adicionalmente, Perão et al. (2021) apontam que o conforto é uma experiência multidimensional, envolvendo segurança, satisfação e apoio dos profissionais de saúde. Esses cuidados englobam medidas temporárias de múltiplas dimensões para proporcionar conforto, através de uma análise meticulosa e personalizada, voltada para intervenções farmacológicas e não farmacológicas para o controle da dor e outros problemas relacionados (PEREIRA et al., 2022).
Apoio Emocional e Espiritual
Além de atender às necessidades físicas dos pacientes, a equipe de enfermagem desempenha um papel crucial no suporte psicológico e espiritual, tanto para os pacientes quanto para suas famílias. Esse suporte ajuda as famílias a enfrentarem o processo de falecimento e a tomarem decisões difíceis (Perão et al., 2021). Na UTI, os enfermeiros atuam como elo entre a equipe multidisciplinar e os familiares, facilitando o processo de comunicação (CAVALCANTI et al., 2019).
Contudo, muitos enfermeiros apresentam níveis de confiança baixos para abordar o entendimento das famílias sobre prognósticos e para comunicar a importância dos cuidados paliativos a outros profissionais. Barreiras culturais, como tabus em torno da morte e o equívoco de que cuidados paliativos representam “desistência” do tratamento, contribuem para essas dificuldades (KO; LOWIE; NI, 2023).
A realização de cuidados paliativos requer uma abordagem centrada no indivíduo, com o objetivo de atender às necessidades físicas, emocionais e espirituais, oferecendo suporte integral e personalizado (PERÃO et al., 2021).
Assistência Humanizada
Na UTI, a equipe de enfermagem presta assistência de forma humanizada, pois a humanização do atendimento é essencial para equilibrar as demandas tecnológicas com as necessidades humanas. Perão et al. (2021) destacam que o conforto dos familiares está diretamente relacionado à humanização do cuidado, sendo essencial considerar suas emoções e expectativas no processo de fim de vida.
Cavalcanti et al. (2019) enfatizam que os protocolos de cuidados paliativos devem assegurar a qualidade de vida e do morrer. Isso está relacionado às preocupações dos enfermeiros em garantir conforto e bem-estar aos pacientes, além de promover uma abordagem ética e empática, que valorize as necessidades emocionais de todos os envolvidos (PERÃO et al., 2021).
A humanização pode ser promovida por meio da criação de um ambiente acolhedor e seguro, que ofereça harmonia e tranquilidade ao paciente internado. Esse cuidado inclui a proteção do ambiente, a criação de espaços privados e a identificação de necessidades específicas das famílias, contribuindo para um suporte mais abrangente (CAVALCANTI et al., 2019).
Comunicação
A comunicação eficiente é um pilar fundamental para a prestação de cuidados paliativos de qualidade. Contudo, a segurança dos profissionais de enfermagem é frequentemente impactada por barreiras culturais e organizacionais. Ko, Lowie e Ni (2023) destacam que a comunicação clara com pacientes e famílias sobre prognósticos e metas de cuidado é essencial para superar esses desafios.
Nas UTIs egípcias, por exemplo, a comunicação entre profissionais de saúde e famílias é frequentemente dominada pelos médicos, o que pode limitar o papel dos enfermeiros no processo decisório. Envolver os enfermeiros nessas discussões e apoiá-los pode aprimorar sua competência em cuidados paliativos (ELTAYBANI; IGARASHI; YAMAMOTO-MITANI, 2021).
A comunicação bem estruturada fomenta a confiança entre a equipe de saúde, os pacientes e suas famílias, promovendo interações mais humanas e satisfatórias. Essa prática também fortalece o vínculo da equipe com os pacientes e aumenta a eficácia das intervenções paliativas (PERÃO et al., 2021).
Capacitação do Enfermeiro em Cuidados Paliativos
A capacitação em cuidados paliativos é um desafio contínuo para a enfermagem. Hamdan et al. (2021) identificaram lacunas significativas na formação de profissionais, especialmente na integração entre tratamentos curativos e paliativos. A ausência de protocolos padronizados e a formação inadequada contribuem para a insegurança dos enfermeiros ao lidar com temas sensíveis, como o fim da vida (CAVALCANTI et al., 2019).
Ko, Lowie e Ni (2023) ressaltam a importância de implementar treinamentos culturalmente adaptados, que abordem a filosofia dos cuidados paliativos, habilidades de comunicação e aspectos éticos. No Brasil, estudos indicam que os cuidados paliativos ainda são associados a cuidados exclusivamente terminais, evidenciando a necessidade de sensibilização e atualização da equipe (CAVALCANTI et al., 2019).
Por fim, a capacitação contínua deve ser acompanhada por mudanças organizacionais, como a criação de protocolos específicos e a melhoria da comunicação interdisciplinar, para fortalecer a prática dos cuidados paliativos na UTI (HAMDAN et al., 2021).
5 CONCLUSÃO
A assistência de enfermagem a pacientes adultos em terapia intensiva é complexa, abrangendo necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais. A análise bibliográfica enfatizou a relevância dos cuidados paliativos para fomentar a qualidade de vida e a dignidade, mesmo em contextos complexos como a Unidade de Terapia Intensiva. Componentes como o gerenciamento eficaz dos sintomas, a humanização do atendimento, o suporte emocional e espiritual, a comunicação efetiva e a formação contínua dos profissionais são essenciais para assegurar um serviço de excelência.
Contudo, desafios consideráveis como barreiras culturais, deficiências na formação e falta de protocolos claros se apresentam para a implementação de práticas integradas de cuidados paliativos. Sugere-se a implementação de estratégias que incentivem a formação contínua, a construção de ambientes acolhedores e a valorização da comunicação como instrumento crucial no cuidado. Dessa forma, poderemos fortalecer a enfermagem como um alicerce indispensável para a excelência nos cuidados paliativos em terapia intensiva.
6 REFERÊNCIAS
CAVALCANTI IMC, et al. Princípios dos cuidados paliativos em terapia intensiva na perspectiva dos enfermeiros. Rev Cuid. 10(1): e555. 2019. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v10i1.555. Acesso: 20 Ago. 2024.
ELTAYBANI, S; IGARASHI, A; YAMAMOTO- MITANI N. Palliative care in adult intensive care units: A nationwide survey. Nurs Crit Care. Sep;26(5):315-325. 2021. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/nicc.12565. Acesso: 20 Ago. 2024.
HAMDAN, A H: WOLF, A; OHLÉN J, OLAUSSON S. Managerial and organisational prerequisites for the integration of palliative care in the intensive care setting: A qualitative study. J Nurs Manag. 29: 2715-2723. 2021. Disponível em: doi: https://doi.org/10.1111/jonm.13436. Acesso: 21 Jul. 2024.
KE, YX; HU, SH; TAKEMURA, N; LIN, CC. Perceived quality of palliative care in intensive care units among doctors and nurses in Taiwan. Int J Qual Health Care. Dec 31;31(10):741-747.. PMID: 30855672. 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30855672/. doi: 10.1093/intqhc/mzz003. Acesso: 18 set. 2023.
KIM, S; LEE, K. Conhecimento, atitude, confiança e necessidades educacionais de cuidados paliativos em enfermeiros que cuidam de pacientes não oncológicos: um estudo transversal e descritivo. BMC Palliat Care 19 , 105. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12904-020-00581-6. Acesso em set. 2023.
KO, E; LOWIE, S; NI, P. Confidence in carrying out palliative care among intensive care nurses. Nurs Crit Care. 2023 Jan;28(1):13-20. doi: 10.1111/nicc.12735. Epub 2021 Dec 10. PMID: 34889484. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/nicc.12735. Acesso: 10 Dez. 2024
MARTINS MR. et al. Assistance to patients eligible for palliative care: the view of professionals from an Intensive Care Unit. Rev Esc Enferm USP.56:e20210429. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0429en. Acesso: 24 Ago. 2024.
MENDES, KDS; SILVEIRA, RC DE CP; GALVÃO, CM. Revisión integradora: método de investigación para la incorporación de evidencias en la salud y la enfermeira. Reflexão: Texto contexto – enferm. 17 (4). Dez 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-07072008000400018 Acesso: 17 Ago. 2024.
PERÃO, O. et al. Representações sociais de conforto para familiares de pacientes em cuidados paliativos em terapia intensiva. Rev Gaúcha Enferm. 42:e20190434. https://. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/vGh8zkyh9ZJ7V57GsfmmnNK/?lang=en. doi: 10.1590/1983-1447.2021.20190434. Acesso: 17 Ago. 2024.
PEREIRA, G. et al. O Enfermeiro em Cuidados Paliativos em Unidades de Terapia Intensiva, um fim de vida tranquilo Teoria. Rev. Gaúcha Enferm. v. 80, n. 3, p. 311–320, 2022. Disponível em: http://scielo.sld.cu/pdf/enf/v38n3/1561-2961-enf-38-03-e4822.pdf. Acesso em ago. 2024. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0267. Acesso 18 Ago. 2023.
PIRES, IB. et al. Conforto no final de vida na terapia intensiva: percepção da equipe multiprofissional. Acta Paul Enferm. 2020. Disponível em: https://acta-ape.org/wp-content/uploads/articles_xml/1982-0194-ape-33-eAPE20190148/1982-0194-ape-33-eAPE20190148.pdf. doi:10.37689/acta- ape/2020AO0148. Acesso: 17 Ago. 2024.