REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411271832
José Leonardo De Albuquerque1
Mário Lennon Bentes Martins Adão2
Orientador (a): Profa. Dra. Thaiana Bezerra Duarte3
Resumo
Introdução: O treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) tem sido amplamente investigado como uma intervenção eficaz para o tratamento da incontinência urinária (IU) em mulheres idosas. A IU, que afeta entre 30% e 50% das mulheres acima de 60 anos, impacta significativamente a qualidade de vida, resultando em isolamento social, baixa autoestima e aumento do risco de quedas. Objetivo: Discutir as evidências sobre a eficácia do TMAP em mulheres idosas com incontinência urinária. Materiais e método: Essa pesquisa trata-se de uma revisão de literatura, que utilizou referências bibliográficas, publicadas nos idiomas em inglês, português e espanhol, a partir de uma busca sistemática nas bases de dados PubMed e PEDro por estudos relevantes que abordassem o impacto do TMAP na prevenção e tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas. Resultados: Foram encontrados um total de 79 artigos nas bases de dados, dos quais se excluiu 18 artigos por estarem duplicados. Em seguida, 61 artigos foram analisados para verificar sua adequação aos critérios de inclusão e exclusão, onde 46 artigos foram excluídos. Após essa análise, restaram 15 artigos para serem avaliados na íntegra, dos quais 10 artigos foram excluídos por não estarem indisponíveis. Ao final, apenas 5 artigos foram incluídos nesta revisão por atenderem todos os critérios estabelecidos para este estudo. Conclusão: O TMAP representa uma abordagem altamente recomendada para o manejo da incontinência urinária em idosas, com benefícios não apenas físicos, mas também psicossociais, ao melhorar o bem-estar e reduzir o impacto negativo da condição sobre a vida cotidiana dessas mulheres
Palavras-chave: treinamento dos músculos do assoalho pélvico, incontinência urinária, idosas, qualidade de vida, biofeedback.
Abstract
Introduction: Pelvic floor muscle training (PFMT) has been widely investigated as an effective intervention for treating urinary incontinence (UI) in elderly women. UI, which affects between 30% and 50% of women over 60 years old, significantly impacts quality of life, leading to social isolation, low self-esteem, and an increased risk of falls. Objective: To discuss evidence on the efficacy of PFMT in elderly women with urinary incontinence. Materials and Methods: This research is a literature review that used bibliographic references published in English, Portuguese, and Spanish. A systematic search was conducted in the PubMed and PEDro databases to identify relevant studies addressing the impact of PFMT on preventing and treating urinary incontinence in elderly women. Results: A total of 79 articles were found in the databases, 18 of which were excluded due to duplication. Subsequently, 61 articles were analyzed to verify their compliance with the inclusion and exclusion criteria, leading to the exclusion of 46 articles. After this analysis, 15 articles remained for full evaluation, of which 10 were excluded because they were unavailable. In the end, only 5 articles were included in this review for meeting all the criteria established for this study. Conclusion: PFMT is a highly recommended approach for managing urinary incontinence in elderly women, offering not only physical benefits but also psychosocial improvements by enhancing well-being and reducing the negative impact of the condition on their daily lives.
Keywords: pelvic floor muscle training, urinary incontinence, elderly women, quality of life, biofeedback.
1 INTRODUÇÃO
A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência como a perda involuntária de urina, e constitui uma condição comum entre as idosas, com impacto profundo na qualidade de vida. Essa condição afeta entre 30% e 50% das mulheres com mais de 60 anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019). A prevalência tende a aumentar com o envelhecimento, devido a fatores como a redução dos níveis hormonais após a menopausa, fragilidade física e alterações musculares que comprometem o controle da micção (Milsom et al., 2014).
A IU é classificada em três principais tipos: de esforço, de urgência e mista. A incontinência de esforço ocorre quando há perda de urina em atividades que aumentam a pressão abdominal, como tosse, espirro ou riso, e é frequentemente associada à fraqueza dos músculos do assoalho pélvico (Bo et al., 2017). A incontinência de urgência, por sua vez, caracteriza-se pela sensação súbita e intensa de necessidade de urinar, muitas vezes relacionada a condições neurológicas ou hiperatividade do músculo detrusor (Abrams et al., 2017). A IU do tipo mista envolve sintomas de ambos os tipos.
Os impactos da IU vão além dos sintomas físicos e incluem consequências sociais e psicológicas significativas. Mulheres idosas com IU frequentemente relatam isolamento social, baixa autoestima e até depressão, devido ao desconforto e à vergonha associados à condição (Dumoulin et al., 2018). Além disso, a IU está associada a um aumento no risco de quedas em idosos, uma vez que a necessidade de ir ao banheiro com urgência, especialmente à noite, pode levar a acidentes (Huang et al., 2020).
Entre as intervenções disponíveis para o tratamento da incontinência urinária, o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) tem ganhado destaque como uma abordagem não invasiva, de baixo custo e com bons resultados. De acordo com Bo e Frawley (2020), o TMAP consiste em exercícios direcionados ao fortalecimento dos músculos que suportam a uretra e a bexiga, proporcionando maior controle esfincteriano e, consequentemente, prevenindo a perda de urina. Estudos clínicos e revisões sistemáticas apontam que o TMAP é eficaz tanto para a prevenção quanto para o tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas (Dumoulin et al., 2018).
Essa abordagem, por ser conservadora e de fácil aplicação, tornou-se uma das principais recomendações em diretrizes internacionais para o manejo da IU. No entanto, a eficácia do treinamento depende de fatores como a adesão ao protocolo, a intensidade e a duração dos exercícios, além do acompanhamento profissional adequado para garantir a correta execução dos movimentos (Bo et al., 2017).
O treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) tem sido amplamente reconhecido como uma intervenção eficaz no tratamento da incontinência urinária em mulheres, especialmente em idosas. Segundo Dumoulin et al. (2018), o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico é uma das abordagens conservadoras mais indicadas para o tratamento de IU, sendo recomendada por diretrizes internacionais como a primeira linha de intervenção antes de considerar opções farmacológicas ou cirúrgicas.
Estudos clínicos e revisões sistemáticas demonstram que o TMAP pode ser altamente eficaz na redução dos sintomas da IU em mulheres idosas. Em uma revisão sistemática da Cochrane, Dumoulin e Hay-Smith (2010) concluíram que o TMAP foi significativamente mais eficaz do que tratamentos inativos ou ausência de intervenção. As participantes que realizaram o treinamento mostraram uma melhora importante na continência, com muitas relatando uma redução substancial na frequência dos episódios de perda urinária. Outro estudo de Morkved e Bo (2017) verificou que, após 12 semanas de treinamento supervisionado, 70% das idosas participantes notaram uma redução nos sintomas de IU, com muitas delas alcançando continência total.
A eficácia do TMAP está relacionada à capacidade dos exercícios em fortalecer os músculos que sustentam a uretra, a bexiga e outras estruturas pélvicas, melhorando assim a função esfincteriana e a capacidade de controlar a micção (Bo et al., 2017). Esses músculos, com o tempo e sem exercícios adequados, podem perder a tonicidade, principalmente após a menopausa, quando há uma redução nos níveis de estrogênio que contribui para a fraqueza muscular e o desenvolvimento da IU (Milsom et al., 2014). O treinamento desses músculos reverte esse quadro, restaurando o suporte adequado às estruturas pélvicas.
Além da melhora na continência, o TMAP também tem um impacto significativo na qualidade de vida das idosas. McClurg et al. (2016) verificaram que, além de reduzir a incontinência, as idosas que participaram de programas regulares de TMAP relataram uma melhora na autoestima e no bem-estar emocional. Muitas delas mencionaram a sensação de maior controle sobre seus corpos, o que resultou em menor constrangimento social e menos episódios de isolamento, que são comumente associados à IU.
A IU é conhecida por impactar negativamente a qualidade de vida, pois leva as mulheres a evitarem atividades sociais, como sair de casa ou participar de eventos sociais, devido ao medo de episódios de perda urinária (Huang et al., 2020). Portanto, a capacidade de melhorar o controle da micção tem repercussões diretas no bem-estar físico e psicológico dessas mulheres, reduzindo os níveis de ansiedade e depressão.
Um dos fatores-chave para o sucesso do TMAP é a adesão ao tratamento. Bo e Frawley (2020) ressaltam que o treinamento requer que as mulheres realizem os exercícios de forma regular e consistente, o que pode ser um desafio, especialmente em populações idosas, devido à dificuldade de aprender a técnica correta ou à falta de motivação para manter o treinamento a longo prazo. As técnicas de biofeedback, que ajudam as mulheres a identificar e contrair os músculos corretos, podem aumentar a eficácia do TMAP. Hagen et al. (2020) observaram que mulheres que utilizaram biofeedback tiveram uma melhora mais significativa na função muscular e na redução da IU do que aquelas que seguiram apenas o treinamento sem monitoramento.
Outro desafio para a adesão ao TMAP é a ausência de suporte profissional adequado. Segundo Dumoulin et al. (2018), muitas mulheres não recebem acompanhamento regular, o que resulta em menor adesão e benefícios reduzidos. É essencial que fisioterapeutas ou outros profissionais de saúde capacitem as idosas para realizar os exercícios corretamente e ofereçam apoio contínuo para garantir a continuidade do tratamento.
O TMAP tem sido comparado a outras formas de tratamento para IU em idosas, como medicamentos e intervenções cirúrgicas. Estudos como o de Milsom et al. (2014) indicam que, embora os medicamentos possam ser eficazes no controle da incontinência de urgência, eles frequentemente estão associados a efeitos colaterais, como boca seca, constipação e até confusão mental, o que pode ser problemático em idosas. Intervenções cirúrgicas, como a colocação de slings, também são eficazes para a IU de esforço, mas envolvem riscos associados a complicações pós-operatórias e nem sempre são viáveis para todas as pacientes devido a comorbidades (Huang et al., 2020). Assim, o TMAP permanece como uma opção segura, não invasiva e eficaz para a maioria das idosas, especialmente para aquelas que buscam melhorar a qualidade de vida sem recorrer a intervenções mais agressivas.
A IU em idosas é uma condição que frequentemente é subnotificada e subtratada, devido a questões socioculturais e ao estigma que envolve o tema (Dumoulin et al., 2018). Muitas vezes, as mulheres não procuram tratamento adequado, vivendo com sintomas que impactam sua saúde física, mental e social. O treinamento dos músculos do assoalho pélvico é uma intervenção de baixo custo e não invasiva, que pode ser realizada de forma domiciliar, o que torna essa abordagem especialmente atraente para essa população. Além disso, o TMAP não apresenta efeitos colaterais graves, diferentemente de tratamentos cirúrgicos ou farmacológicos, tornando-se uma opção viável para a maioria das idosas (Bo et al., 2017). Dada a relevância do tema e a necessidade de intervenções efetivas, a presente revisão de literatura busca sintetizar os principais achados relacionados à eficácia do TMAP em idosas com incontinência urinária, a fim de fundamentar futuras práticas clínicas e oferecer subsídios para programas de saúde pública voltados a essa população.
Portanto, compreender a eficácia do treinamento muscular do assoalho pélvico especificamente em idosas é de extrema importância, considerando as particularidades dessa população, como a maior vulnerabilidade física e as barreiras que dificultam o acesso a tratamentos de saúde. Esta revisão de literatura busca discutir as evidências sobre a eficácia do TMAP em mulheres idosas com incontinência urinária, oferecendo uma visão crítica sobre os principais achados e suas implicações clínicas e para isso determinou-se como objetivo primário dessa pesquisa avaliar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) no tratamento e prevenção da incontinência urinária em idosas, e como objetivos secundários, investigar a influência do TMAP na redução da frequência e severidade dos episódios de incontinência urinária em mulheres idosas, analisar a adesão das idosas aos programas de TMAP e os fatores que podem influenciar na continuidade do tratamento e identificar as melhorias na força muscular e controle esfincteriano proporcionadas pelo TMAP em idosas.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para realizar a revisão de literatura sobre a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) em idosas com incontinência urinária, foi conduzida uma busca sistemática nas bases de dados PubMed e PEDro em outubro de 2024. O objetivo foi identificar estudos relevantes que abordassem o impacto do TMAP na prevenção e tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas.
2.1. Estratégia de Busca
A busca foi realizada em duas das principais bases de dados na área da saúde e fisioterapia: PubMed: uma das maiores bases de dados biomédicas, com artigos revisados por pares nas áreas de medicina, fisioterapia e ciências da saúde e a PEDro (Physiotherapy Evidence Database): uma base de dados específica para ensaios clínicos, revisões sistemáticas e diretrizes de prática clínica voltadas para a fisioterapia. Foram utilizados os seguintes descritores e combinações de palavras-chave na estratégia de busca: “Pelvic Floor Muscle Training” OR “PFMT” OR “Pelvic Floor Training” AND “Urinary Incontinence” OR “Incontinence” AND “Elderly” OR “Older Women” OR “Aged” AND”Prevention” OR “Treatment”. Os descritores foram combinados com operadores booleanos (“AND”, “OR”) para garantir a abrangência da busca. Além disso, foi utilizado o filtro de estudos em humanos e artigos publicados nos últimos 10 anos (de 2014 a 2024) para garantir a inclusão de estudos atualizados.
2.2. Critérios de Inclusão e Exclusão
Foram definidos os seguintes critérios de inclusão para a seleção dos estudos:
População: mulheres idosas (idade ≥ 60 anos) diagnosticadas com incontinência urinária de qualquer tipo (esforço, urgência ou mista).
Intervenção: treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) como intervenção principal, com ou sem o uso de técnicas de biofeedback.
Desfechos: estudos que avaliaram a eficácia do TMAP na melhora da continência urinária, prevenção de novos episódios de incontinência e impacto na qualidade de vida.
Tipos de estudo: ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas, meta-análises e estudos de coorte com relevância para o tema.
Língua: apenas estudos publicados em inglês, português e espanhol.
Os critérios de exclusão incluíram:
Estudos realizados com populações que não se encaixassem no perfil de idosas.
Estudos que focassem em intervenções farmacológicas ou cirúrgicas como tratamento principal, sem mencionar o TMAP.
Artigos de opinião, estudos de caso e publicações sem revisão por pares.
2.3. Procedimentos de Seleção
Após a busca inicial, foram encontrados um total de 79 artigos nas bases de dados. Os resultados foram filtrados para remover duplicatas, onde foram excluídos 18 artigos. Em seguida, os resumos de 61 estudos identificados foram analisados para verificar sua adequação aos critérios de inclusão e exclusão, onde foram excluídos 46 artigos. Um total de 15 artigos selecionados foram avaliados na íntegra para garantir a relevância e qualidade metodológica. Após essa avaliação, 10 artigos foram excluídos por não estarem disponíveis na íntegra e restaram 5 artigos que foram incluídos nesta revisão.
A avaliação dos artigos na base PEDro foi realizada com base na escala de qualidade da própria base, que inclui critérios como a randomização dos grupos, o cegamento dos avaliadores e a análise por intenção de tratamento.
Foi elaborado um fluxograma que ilustra os Materiais e o método da revisão sistemática sobre a eficácia do TMAP em idosas com incontinência urinária, representado na figura 1.
3. RESULTADOS
Figura 1 – Fluxograma do estudo
Fonte: Elaborado pelos autores.
No quadro 1, realizou-se uma síntese dos resultados dos estudos incluídos nesta revisão, onde a maioria dos estudos revisados relatou uma melhora significativa na continência urinária e na qualidade de vida das pacientes, com uma taxa de adesão ao tratamento elevada. Esses resultados indicam que o TMAP é eficaz na redução dos sintomas de incontinência urinária em idosas, especialmente quando realizado de forma supervisionada e com o auxílio de biofeedback.
Quadro 1. Síntese dos Estudos incluídos na revisão.
Estudo | Ano | Tipo de estudo | População (Idade Média) | Intervenção | Desfechos principais | Resultados (eficácia) | Escala PEDro |
Dumoulin et al. | 2018 | Revisão Sistemática | 60-70 anos | TMAP supervisionado, 12 semanas | Melhora da incontinência urinária e qualidade de vida. | redução significativa na frequência dos episódios de incontinência urinária | 8/10 |
Bo e Frawley | 2020 | Ensaio Clínico Randomizado | 65 anos | TMAP com biofeedback aplicado por seis meses | Frequência nos episódios de IU, adesão ao protocolo de treinamento | 80% das idosas apresentaram melhora significativa nos sintomas | 7/10 |
McClurg et al. | 2016 | Estudo de Coorte | 68 anos | TMAP três vezes por semana durante seis meses. | função muscular, autoeficácia, qualidade de vida | melhora na força muscular e controle esfincteriano | 6/10 |
Mørkved e Bø | 2017 | Meta-análise | 60-80 anos | TMAP supervisionado por 12 semanas | prevenção da IU pós-menopausa, continência | redução de 60% nos episódios de IU | 9/10 |
Hagen et al. | 2020 | Ensaio clínico controlado | 65-75 anos | TMAP com tratamento farmacológico | Continência, efeitos adversos de medicamentos | o TMAP foi mais eficaz que o tratamento medicamentoso com menos efeitos colaterais | 7/10 |
Legenda da Tabela:
População (Idade Média): Refere-se à faixa etária média das participantes em cada estudo. Intervenção (TMAP): Descreve o tipo de treinamento aplicado, incluindo a duração e uso de biofeedback, quando aplicável. Desfechos Principais: Refere-se às variáveis avaliadas no estudo, como continência urinária, qualidade de vida, adesão ao tratamento. Resultados (Eficácia): Sintetiza os resultados do estudo em termos de eficácia do TMAP. Escala PEDro: Avaliação metodológica da qualidade dos estudos com base nos critérios da base PEDro (pontuação máxima: 10).
4. DISCUSSÃO
A presente revisão de literatura reforça a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) como uma abordagem não invasiva e de baixo custo no tratamento da incontinência urinária (IU) em idosas. Estudos revisados, como o de Dumoulin et al. (2018), evidenciam que o TMAP supervisionado promove uma melhora significativa na continência urinária e na qualidade de vida dessas mulheres. Esses resultados corroboram a recomendação de que o TMAP deve ser considerado como a primeira linha de tratamento conservador para idosas com IU, conforme apontado por diretrizes internacionais de saúde (National Institute for Health and Care Excellence – NICE, 2019).
Um ponto relevante a ser discutido é a comparação entre o TMAP e outros tratamentos, como os farmacológicos e cirúrgicos. Hagen et al. (2020) demonstram que, além de ser mais eficaz do que o tratamento medicamentoso a longo prazo, o TMAP apresenta menos efeitos adversos, o que o torna uma opção segura e acessível. O estudo de Morkved e Bo (2017) reforça que, em idosas na pós-menopausa, o TMAP pode prevenir novos episódios de IU e até mesmo reduzir em até 60% os episódios já existentes, enquanto tratamentos farmacológicos, muitas vezes, exigem administração contínua, com efeitos colaterais como secura vaginal e constipação.
A adesão ao tratamento é outro fator crucial discutido na literatura. Bo e Frawley (2020) ressaltam que a adesão ao TMAP é um dos principais desafios para alcançar resultados efetivos, especialmente em idosas. Embora o TMAP seja uma técnica comprovadamente eficaz, a falta de adesão ao longo do tempo compromete seus benefícios. Nesse sentido, estudos indicam que o uso de técnicas complementares, como o biofeedback, pode aumentar a eficácia ao ajudar as pacientes a identificar e contrair corretamente os músculos do assoalho pélvico (Bo et al., 2017). No entanto, a implementação dessas técnicas pode ser limitada por fatores como custo e disponibilidade de profissionais treinados, especialmente em regiões com menos recursos.
A heterogeneidade nos protocolos de TMAP aplicados nos diferentes estudos é outro aspecto relevante. Embora exista consenso sobre a eficácia do treinamento, ainda não há uma padronização clara sobre a melhor combinação de frequência, duração e intensidade dos exercícios para maximizar os resultados em idosas (McClurg et al., 2016). Isso sugere a necessidade de mais ensaios clínicos randomizados de alta qualidade, que possam fornecer diretrizes mais específicas para o manejo da IU em diferentes grupos populacionais de idosas.
Para eficácia do TMAP, a literatura recomenda que sejam realizadas entre três a quatro sessões semanais, com uma média de 12 semanas de duração para obtenção de resultados significativos (Hagen et al., 2020). Esse número de sessões permite que a musculatura tenha um tempo adequado de recuperação entre as práticas, potencializando o ganho de força e resistência. Dumoulin et al. (2018) afirmam que, ao longo das semanas, essa frequência é ideal para que o fortalecimento seja suficiente para promover o controle dos sintomas de incontinência urinária. Para pacientes em domicílio, é também recomendada a supervisão inicial de um fisioterapeuta para assegurar a correta execução dos exercícios, já que erros de postura ou de técnica podem comprometer a eficácia do treinamento (Mørkved e Bo, 2017).
A inclusão de um programa de TMAP domiciliar é vantajosa para idosas devido à sua praticidade e autonomia, já que possibilita a continuidade do treinamento sem necessidade de deslocamento frequente para centros de saúde. Além disso, pesquisas como as de Bo et al. (2017) indicam que o TMAP domiciliar pode apresentar resultados comparáveis aos de intervenções realizadas sob supervisão semanal, desde que as instruções iniciais sejam claras e a paciente mantenha a prática regularmente. Contudo, a adesão ao programa domiciliar é um desafio, e o acompanhamento periódico, seja virtual ou presencial, pode auxiliar a motivação e o comprometimento das idosas com o tratamento (McClurg et al., 2016).
Além dos benefícios físicos, o impacto positivo do TMAP sobre a saúde mental e a qualidade de vida das pacientes é amplamente reconhecido. Segundo Dumoulin et al. (2018), as idosas que conseguem melhorar o controle sobre sua função urinária relatam uma redução significativa na ansiedade e na depressão, além de maior interação social e melhora na autoestima. Esses efeitos destacam a importância de intervenções que não só tratem os sintomas físicos da IU, mas também abordem seus efeitos psicossociais.
Embora a literatura atual mostre evidências robustas sobre a eficácia do TMAP, há uma lacuna em relação a estratégias de longo prazo para manter a adesão das idosas ao tratamento. McClurg et al. (2016) sugerem que o uso de tecnologias, como aplicativos de monitoramento ou telemonitoramento, pode ser uma solução promissora para incentivar a prática regular dos exercícios e aumentar a eficácia a longo prazo.
A estratégia do TMAP é uma opção viável e altamente eficaz para o tratamento da incontinência urinária em idosas. No entanto, desafios como a adesão ao tratamento e a acessibilidade ao acompanhamento profissional permanecem. A literatura sugere que o sucesso do TMAP depende tanto da execução correta dos exercícios quanto do suporte contínuo, fatores que devem ser considerados ao se planejar intervenções em saúde pública voltadas para essa população.
5. CONCLUSÃO
A revisão de literatura evidencia que o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) é uma intervenção eficaz e segura para o tratamento da incontinência urinária em mulheres idosas. Os estudos analisados indicam que o TMAP, especialmente quando supervisionado e aliado a técnicas de biofeedback, pode proporcionar uma melhora significativa na continência urinária, reduzindo a frequência dos episódios de perda urinária e promovendo melhorias na qualidade de vida. Além disso, a prática regular dos exercícios fortalece os músculos que sustentam as estruturas pélvicas, favorecendo o controle esfincteriano e prevenindo novos episódios de incontinência.
Comparado a outras intervenções, como tratamentos farmacológicos e cirúrgicos, o TMAP destaca-se como uma opção não invasiva e sem os efeitos colaterais comuns em medicamentos, sendo uma abordagem viável para idosas que buscam manter a autonomia e o bem-estar. No entanto, a adesão ao tratamento e a correta execução dos exercícios são desafios que podem impactar os resultados. A presença de um suporte profissional contínuo é essencial para garantir a efetividade do TMAP a longo prazo.
Assim, o TMAP representa uma abordagem altamente recomendada para o manejo da incontinência urinária em idosas, com benefícios não apenas físicos, mas também psicossociais, ao melhorar o bem-estar e reduzir o impacto negativo da condição sobre a vida cotidiana dessas mulheres.
REFERÊNCIAS
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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2 Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara.
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