REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202504300558
Lorena Cristina Rocha
Maria Clara Lima de Vasconcelos
Renara Maria Santos Cardoso
Victor Hugo Oliveira Nascimento
Orientador(a): Msc. Emanuel Osvaldo de Sousa
RESUMO
Este artigo aborda a eficácia da fisioterapia com realidade virtual (RV) na modulação da dor crônica musculoesquelética. O problema da pesquisa é investigar como a RV contribui para a redução dessa dor. A hipótese proposta é que a RV melhora a dor ao atuar no sistema nervoso e no engajamento psicossocial. O objetivo do estudo foi analisar sua efetividade clínica, utilizando a metodologia de revisão sistemática de artigos científicos. Os resultados indicam que a RV, especialmente nas modalidades não imersiva (para a lombar) e imersiva (para a cervical), contribui para a redução da dor e melhora a adesão ao tratamento. Conclui-se que a RV é eficaz, embora seja necessária a padronização e a realização de mais estudos clínicos.
Palavras-chave: realidade virtual, dor crônica, fisioterapia, neuroplasticidade, reabilitação.
1. INTRODUÇÃO
A dor crônica, por ser uma condição persistente que pode impactar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, difere da dor aguda por sua natureza prolongada e, muitas vezes, debilitante. Por isso, inicialmente, o uso da realidade virtual na área da saúde concentrou-se na distração da dor em procedimentos agudos, como no tratamento de queimaduras, onde sua aplicação para dores crônicas recebeu menos atenção devido à ideia de que a necessidade de uso contínuo da RV poderia ser impraticável no longo prazo (Opara Zupančič & Šarabon, 2025).
Entre as diversas condições responsáveis por quadros persistentes de dor, os distúrbios musculoesqueléticos destacam-se por sua alta prevalência e pelo impacto significativo que exercem não apenas na funcionalidade física, mas também no bem-estar emocional e social dos pacientes. Fatores psicossociais, como o medo da dor e a evitação de movimento, podem dificultar consideravelmente o processo de recuperação. Nesse contexto, torna-se essencial a adoção de abordagens terapêuticas que levem em consideração esses fatores psicossociais, a fim de promover uma reabilitação mais efetiva e integral.
A fisioterapia tem se consolidado como um dos principais tratamentos para a dor crônica musculoesquelética, oferecendo intervenções que visam restaurar a função e reduzir os sintomas. A reabilitação musculoesquelética tem sido mais lenta em comparação à sua aplicação em reabilitação neurológica, pois se acreditava que a realidade virtual seria mais eficaz para modular a dor e restaurar funções motoras em pacientes neurológicos. Nesse contexto, Nambi et al. (2021), ao analisarem a eficiência clínica e física de jogos de realidade virtual em jogadores de futebol com dor lombar, concluíram que essa abordagem promove melhorias significativas no estado de dor, na qualidade de vida e na aptidão física, superando os efeitos obtidos com exercícios de estabilização e métodos tradicionais de reabilitação.
Embora os métodos tradicionais de fisioterapia, como terapia manual, fortalecimento muscular e eletroestimulação, sejam amplamente utilizados no manejo da dor musculoesquelética, sua eficácia pode ser limitada em determinados casos, especialmente em condições crônicas complexas. Essas abordagens demonstram resultados positivos, mas nem sempre são suficientes para aqueles que apresentam condições de dores crônicas complexas. Nesses casos, a dor pode persistir mesmo após a aplicação das técnicas convencionais, exigindo estratégias terapêuticas multimodais para otimizar os resultados (Smith et al., 2025).
Além disso, um dos principais desafios enfrentados na Fisioterapia tradicional é a baixa adesão dos pacientes aos programas de reabilitação. Muitos indivíduos encontram dificuldades em manter um envolvimento ativo ao longo do tratamento, o que pode comprometer os desfechos clínicos. Fatores como desmotivação, falta de acessibilidade e a repetitividade dos exercícios convencionais são apontados como barreiras para uma adesão eficaz, impactando diretamente a progressão do tratamento e a qualidade de vida dos pacientes (Smith et al., 2025).
Diante dessas limitações, novas abordagens terapêuticas vêm sendo estudadas para aumentar a adesão dos pacientes e potencializar os efeitos da reabilitação. Evidências emergentes indicam que a incorporação de tecnologias inovadoras, como a realidade virtual, pode desempenhar um importante papel nesse contexto. Intervenções baseadas em RV oferecem experiências imersivas e interativas que aumentam a motivação dos pacientes, tornando o processo de reabilitação mais dinâmico e estimulante (Smith et al., 2025).
O avanço da tecnologia de RV e sua aplicação na reabilitação musculoesquelética têm despertado crescente interesse devido aos seus benefícios adicionais, como maior aderência ao tratamento, maior prazer durante as sessões e aprimoramento da resposta visual e auditiva. Embora sua eficácia não seja sempre superior à da fisioterapia convencional, a inclusão de ferramentas de RV no manejo da dor demonstra um grande potencial terapêutico (Bilika et al., 2023).
A neurofisiologia da dor crônica envolve alterações complexas nos mecanismos de processamento da dor no sistema nervoso central. Diferente da dor aguda, que tem um papel protetor e adaptativo, a dor crônica resulta de um estado de sensibilização central, no qual o sistema nervoso permanece hiperexcitável, amplificando estímulos dolorosos e prolongando a percepção da dor mesmo na ausência de uma lesão ativa. Esse fenômeno está associado a modificações nos circuitos neurais da dor, incluindo a ativação excessiva de vias nociceptivas no cérebro e a diminuição dos mecanismos inibitórios da dor, resultando em sofrimento persistente e incapacitante para os pacientes (Hotta et al., 2022).
A dor crônica musculoesquelética não afeta apenas os aspectos físicos do paciente, mas também exerce um impacto significativo em sua saúde emocional, psicológica e social. Considerada uma das condições de saúde mais onerosas da atualidade, a dor crônica está associada à redução da qualidade de vida, limitação funcional e alterações cognitivas. Além disso, pode contribuir para distúrbios do sono, fadiga, alterações do humor e isolamento social, criando um ciclo de sofrimento que compromete a recuperação e perpetua a incapacidade funcional (Hotta et al., 2022).
A dor crônica musculoesquelética é uma das principais causas de incapacitação e absenteísmo no trabalho, além de estar associada a sofrimento emocional significativo. A literatura aponta que as condições musculoesqueléticas estão entre as maiores responsáveis por anos de vida perdidos devido à incapacidade (Zitti et al., 2025). Esse impacto reflete não apenas no bem-estar individual dos pacientes, mas também nos sistemas de saúde e na economia global.
As estratégias inovadoras para o manejo da dor crônica tornam-se uma necessidade urgente, mas a realidade virtual pode ser uma solução acessível e eficaz para reduzir a dor, melhorar a funcionalidade e proporcionar maior qualidade de vida aos pacientes. Sua aplicação na fisioterapia pode reduzir a dependência de analgésicos e anti-inflamatórios, minimizando efeitos colaterais e custos associados ao tratamento farmacológico.
Este estudo tem como objetivo geral avaliar a eficácia da fisioterapia baseada em realidade virtual na modulação da dor crônica. Para isso, serão analisados os efeitos da RV tanto nos mecanismos neurofisiológicos da dor quanto em seus impactos psicossociais. Como objetivos específicos: contribuir para um entendimento mais aprofundado sobre como a RV pode ser integrada à fisioterapia, analisar a eficácia da RV na redução da dor em pacientes com doenças musculoesqueléticas, identificar os mecanismos neurofisiológicos envolvidos na modulação da dor por meio da RV e avaliar os impactos psicossociais da RV quando comparados a fisioterapia convencional.
A hipótese desta pesquisa é que a fisioterapia baseada em realidade virtual é uma estratégia eficaz para a modulação da dor crônica musculoesquelética, pois atua não apenas na distração cognitiva, mas também na reorganização dos padrões de processamento da dor no sistema nervoso central. A RV pode reduzir a sensibilização central e estimular a neuroplasticidade por meio da repetição de tarefas motoras, reforçando novas conexões sinápticas e promovendo benefícios clínicos significativos. Sua abordagem interativa e imersiva favorece o engajamento dos pacientes, reduzindo barreiras psicossociais, como o medo da dor e a evitação do movimento, o que pode resultar em melhor adesão ao tratamento e maior eficácia na reabilitação.
Assim, o problema de pesquisa busca investigar de que forma a fisioterapia baseada em RV pode contribuir para a modulação da dor crônica musculoesquelética, considerando seus efeitos nos mecanismos neurofisiológicos da dor e nos impactos psicossociais para os pacientes.
2. MÉTODO
A presente pesquisa se caracteriza como um estudo qualitativo, fundamentado em revisão bibliográfica, visando avaliar a eficácia da fisioterapia baseada em realidade virtual na modulação da dor crônica musculoesquelética. A escolha desse método justifica-se pela necessidade de sistematizar o conhecimento científico existente sobre a temática, permitindo uma análise aprofundada das evidências disponíveis e a identificação de desafios e oportunidades na implementação da RV na fisioterapia (Elser; Kopkow; Schäfer, 2024).
Segundo Elser, Kopkow e Schäfer (2024), a análise qualitativa de conteúdo proporciona uma abordagem sistemática e estruturada para examinar dados qualitativos, auxiliando na identificação de padrões, correlações e temas pertinentes ao fenômeno estudado. No contexto da revisão bibliográfica, destacam-se três principais abordagens: a narrativa, a sistemática e a integrativa. A revisão sistemática, utilizada neste estudo, permite a síntese crítica das evidências científicas, garantindo maior rigor metodológico ao processo investigativo.
Além disso, a literatura existente evidencia que a implementação de intervenções baseadas em RV na fisioterapia ainda enfrenta barreiras significativas, como a escolha inadequada dos dispositivos de RV e a falta de instruções para os pacientes, o que reforça a relevância de estudos que visam compreender os fatores que influenciam sua aplicabilidade clínica (Elser; Kopkow; Schäfer, 2024). A partir dessa perspectiva, a presente investigação busca contribuir para o avanço do conhecimento na área, fornecendo subsídios para o desenvolvimento de estratégias que viabilizem a adoção da RV como recurso terapêutico eficaz no tratamento da dor crônica musculoesquelética.
A revisão da literatura para este estudo seguiu uma estratégia criteriosa de seleção de artigos e fontes científicas, com o objetivo de garantir a atualidade e a relevância das informações sobre o uso da realidade virtual na fisioterapia para modulação da dor crônica em pacientes com doenças musculoesqueléticas. Foram utilizadas bases de dados reconhecidas internacionalmente, como PubMed, SciELO e Google Scholar, permitindo acesso a estudos revisados por pares e ensaios clínicos robustos sobre a temática. A busca bibliográfica considerou publicações dos últimos dez anos, a fim de abranger os avanços recentes na área e suprir lacunas previamente identificadas na literatura (Slatman et al., 2023).
A escolha dos artigos também considerou a necessidade de investigações que utilizem amostras estatisticamente precisas, grupos-controle adequados e seguimento de longo prazo, fatores essenciais para a validação clínica da RV como abordagem terapêutica na fisioterapia (Slatman et al., 2023). Dentre os estudos analisados, destaca-se a pesquisa de Slatman et al. (2023), que justifica a inclusão de ensaios clínicos sobre RV integrada à fisioterapia, evidenciando seu potencial na reabilitação de pacientes com dor lombar crônica complexa. Dessa forma, a revisão bibliográfica conduzida sustenta a importância da presente investigação, ao reunir evidências científicas que embasam o uso da RV como recurso inovador na modulação da dor crônica e na reabilitação musculoesquelética.
Os critérios de inclusão e exclusão foram estabelecidos para garantir a relevância e a qualidade metodológica dos estudos analisados na presente pesquisa. Assim, foram incluídos apenas estudos publicados em periódicos indexados, garantindo que as evidências revisadas sejam de alta credibilidade científica. Além disso, foram selecionados ensaios clínicos, revisões sistemáticas e metanálises que abordassem a fisioterapia baseada em realidade virtual aplicada ao tratamento da dor crônica musculoesquelética, permitindo uma análise abrangente das abordagens terapêuticas existentes. A literatura destaca que a seleção criteriosa dos participantes é essencial para validar os achados clínicos, como exemplificado no protocolo de Simons et al. (2022), no qual adolescentes entre 10 e 17 anos, com dor musculoesquelética localizada ou difusa e fluência na língua inglesa, foram recrutados para um ensaio clínico randomizado em centros de fisioterapia ambulatoriais acadêmicos e privados.
Por outro lado, foram excluídos estudos que não abordassem especificamente a aplicação da RV na fisioterapia para dor crônica e doenças musculoesqueléticas, evitando a inclusão de pesquisas que pudessem comprometer a especificidade dos resultados. Também foram desconsideradas publicações sem revisão por pares ou com metodologia insuficiente, uma vez que a robustez do delineamento dos estudos é um fator determinante para a validade das conclusões. Além disso, investigações que enfocam exclusivamente a dor aguda foram excluídas, visto que essa condição apresenta características fisiopatológicas e terapêuticas distintas da dor crônica. Em consonância com tais critérios, Simons et al. (2022) excluíram de seu estudo adolescentes com dor decorrente de trauma agudo, comprometimentos cognitivos significativos ou diagnósticos psiquiátricos que pudessem interferir no tratamento ou no uso da RV, além de condições médicas que inviabilizaram o uso seguro da tecnologia, como histórico de crises convulsivas ou deficiências sensoriais.
Esses critérios asseguram a inclusão de estudos metodologicamente rigorosos, favorecendo uma análise consistente sobre a eficácia da fisioterapia baseada em realidade virtual na modulação da dor crônica em pacientes com doenças musculoesqueléticas, respeitando tanto a abordagem neurofisiológica quanto a perspectiva psicossocial do tratamento.
A estratégia de análise dos estudos selecionados seguiu um processo criterioso de leitura e avaliação crítica dos artigos, fundamentado na abordagem de Análise de Conteúdo Qualitativa descrita por Elser, Kopkow e Schäfer (2024). Esse método sistemático permitiu a categorização dos dados qualitativos, identificando temas e padrões recorrentes na literatura, além de oferecer um procedimento transparente para aumentar a validade e confiabilidade dos achados. A aplicação dessa abordagem foi essencial para a identificação de lacunas no conhecimento científico sobre a eficácia da fisioterapia baseada em RV no tratamento da dor crônica musculoesquelética.
Além disso, a análise dos estudos incluiu uma avaliação do processo de implementação da RV na prática clínica, conforme descrito por Elser, Kopkow e Schäfer (2024), destacando a importância de uma avaliação formativa para monitoramento contínuo da intervenção e adaptação dos protocolos conforme necessário. A comparação dos resultados permitiu a verificação da efetividade clínica da RV e sua influência nos aspectos neurofisiológicos e psicossociais dos pacientes, com base em estudos que adotaram metodologias rigorosas e bem delineadas, como o estudo piloto de implementação de intervenções em RV no contexto da reabilitação ambulatorial.
Adicionalmente, a identificação de padrões e lacunas na literatura seguiu a perspectiva de avaliação psicométrica de desfechos recém desenvolvidos para a implementação clínica da RV, como destacado por Elser, Kopkow e Schäfer (2024), o que reforça a necessidade de pesquisas que investiguem não apenas os efeitos clínicos, mas também os desafios de integração da tecnologia na fisioterapia convencional. Dessa forma, a seleção dos estudos foi pautada na relevância para o escopo desta pesquisa, assegurando uma análise robusta e embasada na literatura científica mais atual sobre o tema.
Dessa forma, a organização dos estudos em categorias temáticas permite uma análise detalhada dos benefícios da RV na fisioterapia, destacando tanto sua eficácia na redução da dor quanto seus impactos neurofisiológicos e psicossociais. Essa abordagem contribui para a estruturação da revisão e reforça a relevância da categorização dos estudos na literatura, conforme demonstrado na pesquisa de Slatman et al. (2023), que propõe um modelo de integração da RV na prática fisioterapêutica para pacientes com dor crônica complexa.
A validade e a confiabilidade dos estudos são aspectos fundamentais para garantir a qualidade das evidências científicas na fisioterapia baseada em realidade virtual para o tratamento da dor crônica em pacientes com doenças musculoesqueléticas. Ensaios clínicos randomizados (RCTs) fornecem estimativas robustas da resposta ao tratamento entre os grupos estudados; no entanto, a heterogeneidade nos efeitos do tratamento pode limitar a compreensão sobre como um indivíduo específico responde à intervenção. Assim, mesmo que um grupo experimental apresenta melhores resultados estatísticos, determinados pacientes podem não demonstrar melhora significativa ou até apresentar reações adversas ao tratamento (Simons et al., 2022). Essa variação na resposta individual evidencia a necessidade de metodologias complementares, como o desenho experimental de caso único (SCED), que possibilita a coleta de dados estatisticamente rigorosos em nível individual. Além disso, os dados obtidos por meio do SCED podem ser utilizados em metanálises e modelagem multinível, permitindo a obtenção de resultados em nível populacional a partir de coortes pequenas e distintas (Simons et al., 2022).
A heterogeneidade metodológica dos estudos sobre fisioterapia com RV representa um desafio para a consolidação das evidências, uma vez que diferentes protocolos, populações e desfechos podem dificultar a comparação dos resultados. Em especial, para populações específicas, como jovens com dor crônica, a obtenção de amostras suficientemente grandes para análises de mediação e moderação dentro dos limites dos RCTs nem sempre é viável (Simons et al., 2022). Nesse contexto, a combinação de RCTs com SCEDs torna-se uma estratégia metodológica relevante para superar tais limitações, proporcionando uma visão mais detalhada da eficácia do tratamento e permitindo uma abordagem mais personalizada para cada paciente.
Dessa forma, a integração de diferentes metodologias e a aplicação de técnicas estatísticas avançadas são fundamentais para garantir a validade e a confiabilidade dos estudos sobre fisioterapia baseada em RV, contribuindo para sua implementação segura e eficaz na prática clínica.
A presente revisão bibliográfica apresenta algumas limitações inerentes ao método adotado. Uma das principais restrições está na dependência de estudos existentes, os quais, em sua maioria, não utilizam realidade virtual imersiva como parte dos protocolos de tratamento integrados à fisioterapia, carecem de amostras suficientemente robustas e não incluem grupos controle adequados para comparação (Slatman et al., 2023). Além disso, verifica-se a ausência de padronização nos protocolos de RV empregados nas investigações analisadas, o que pode comprometer a generalização dos achados e dificultar a replicação dos resultados em diferentes contextos clínicos (Slatman et al., 2023).
Outro fator limitante refere-se à inclusão de estudos com amostras heterogêneas, uma vez que muitos não enfocam especificamente pacientes com alta intensidade de dor e incapacidade funcional severa, apesar de evidências indicarem que esse grupo poderia se beneficiar significativamente do uso da RV como adjuvante na reabilitação fisioterapêutica (Slatman et al., 2023). Esse viés de seleção pode comprometer a validade externa dos achados e reforça a necessidade de delineamentos mais rigorosos na seleção das populações-alvo.
Diante dessas limitações, recomenda-se que pesquisas futuras priorizem ensaios clínicos randomizados e estudos longitudinais para validar as evidências encontradas, garantindo um acompanhamento adequado dos pacientes ao longo do tempo (Slatman et al., 2023). Estudos dessa natureza permitirão avaliar os efeitos da RV na dor crônica musculoesquelética em longo prazo, além de possibilitar ajustes metodológicos que aprimorem a eficácia das intervenções. Ademais, é fundamental que novos estudos contemplem a personalização das intervenções de RV, considerando fatores individuais dos pacientes e a adaptação do ambiente virtual às necessidades terapêuticas específicas (Slatman et al., 2023).
O estudo de Slatman et al. (2023) destaca a relevância dessas investigações para o avanço do conhecimento sobre a aplicabilidade da RV no manejo da dor crônica musculoesquelética, ressaltando que seus achados podem contribuir para futuras discussões sobre a incorporação de tecnologias de eHealth na prática fisioterapêutica, visando otimizar o tratamento e reduzir custos no setor de saúde (Slatman et al., 2023). Dessa forma, a realização de pesquisas metodologicamente precisas e alinhadas às necessidades clínicas se faz imprescindível para consolidar a eficácia da fisioterapia baseada em RV e ampliar sua aplicabilidade no contexto da reabilitação de pacientes com doenças musculoesqueléticas.
3. RESULTADOS
A realidade virtual tem emergido como uma ferramenta terapêutica promissora no manejo da dor crônica musculoesquelética, proporcionando um ambiente imersivo e interativo que pode modular a percepção da dor. A dor, conforme definida pela International Association for the Study of Pain (IASP), é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial (Raja et al., 2020). A percepção da dor é influenciada por múltiplos fatores, incluindo sinais somatossensoriais e a plasticidade do sistema nervoso, o que sugere a possibilidade de reversão da sensibilização central da dor por meio de intervenções terapêuticas inovadoras (Stilwell, 2019).
A partir disso, a realidade virtual atua na modulação da dor por meio de diversos mecanismos neurofisiológicos e psicossociais. Como mostram os dados da Tabela 1:
Tabela 1: Mecanismos da Realidade Virtual na Modulação da Dor
Mecanismo | Descrição | Referência |
Distração Cognitiva | Desvia a atenção do paciente da sensação dolorosa. | Gumaa & Rehan Youssef, 2019 |
Modulação Afetiva da Dor | Altera a percepção da dor ao influenciar fatores emocionais. | Hadjiat & Marchand, 2022 |
Redução dos Hormônios do Estresse | Diminui a liberação de cortisol e outros hormônios relacionados ao estresse. | Nagpal et al., 2022 |
Reorganização Cortical | Auxilia na adaptação do sistema nervoso à dor crônica. | Feitosa et al., 2022 |
Nesse contexto, a RV tem se destacado como um recurso terapêutico de grande potencial, criando simulações tridimensionais com estímulos visuais e auditivos que permitem ao usuário interagir com um ambiente digital (Rutkowski et al., 2020). Estudos demonstram que a eficácia da RV no controle da dor musculoesquelética está relacionada ao mecanismo de distração, que atua tanto na modulação cognitiva quanto afetiva da dor. Ambientes imersivos de RV podem alterar a resposta do indivíduo a estímulos dolorosos ao influenciar os sinais neurais nociceptivos, reduzindo hormônios do estresse e a atividade cortical associada à percepção da dor (Gumaa & Rehan Youssef, 2019; Hadjiat & Marchand, 2022; Nagpal et al., 2022).
Além disso, a RV pode promover a reorganização cortical durante a reabilitação, um fator relevante para pacientes com doenças musculoesqueléticas, pois auxilia na recuperação da função motora e na redução da dor, ao mesmo tempo em que atua em fatores psicológicos como o estresse e a cinesiofobia (Feitosa et al., 2022). Revisões sistemáticas e meta análises recentes corroboram a eficácia da RV no tratamento da dor musculoesquelética. Um estudo conduzido por Kantha, Lin e Hsu (2023) concluiu que a RV interativa é mais eficaz do que a reabilitação convencional ou a ausência de tratamento na redução da intensidade da dor. De forma similar, Lo et al. (2024) demonstraram que o treinamento ativo assistido por RV reduz significativamente os sintomas de dor na região lombar e cervical. A análise de um conjunto de 27 artigos que atenderam aos critérios de elegibilidade, abrangendo 1191 participantes, revelou resultados significativos para o alívio da dor no joelho, com efeitos particularmente evidentes na RV especializada não imersiva (Zitti et al., 2025). No entanto, a heterogeneidade dos estudos em relação a outras regiões anatômicas limita a generalização das recomendações para essas áreas (Zitti et al., 2025). Como mostra a Tabela 2.
Tabela 2: Eficácia da RV no Tratamento da Dor Musculoesquelética
Estudo | Região Anatômica | Tipo de RV | Conclusão |
Kantha, Lin & Hsu (2023) | Geral | Interativa | Mais eficaz do que reabilitação convencional na redução da dor. |
Lo et al. (2024) | Lombar e Cervical | Treinamento Ativo Assistido | Redução significativa dos sintomas de dor lombar e cervical. |
Zitti et al. (2025) | Joelho | Especializada Não Imersiva | Efeitos mais evidentes no joelho, mas heterogeneidade limita recomendações. |
Dessa maneira, a realidade virtual possui diferentes abordagens e níveis de imersão. A RV pode ser classificada em imersiva e não imersiva, sendo a última mais utilizada devido à sua acessibilidade e facilidade de uso, pois não requer equipamentos especializados como óculos ou headsets com fios, além de apresentar menor custo e maior disponibilidade (Bilika et al., 2023). No entanto, há evidências de que a RV imersiva pode promover maior engajamento e motivação dos pacientes, proporcionando uma experiência terapêutica mais eficaz ao ampliar a sensação de presença na atividade reabilitacional. Apesar dessas vantagens, desafios como a ocorrência de cybersickness – caracterizada por sintomas de náusea e desorientação devido ao descompasso entre os estímulos visuais e os sistemas vestibulares – ainda representam barreiras à sua aplicação clínica (Bilika et al., 2023).
Diversos estudos clínicos também têm explorado a inclusão da RV no manejo da dor crônica musculoesquelética, apontando benefícios como maior adesão ao tratamento e melhor resposta sensorial, auditiva e visual. Além do efeito de distração, frequentemente estudado como um dos mecanismos pelos quais a RV influencia a percepção da dor, há evidências de que essa tecnologia pode impactar positivamente aspectos afetivos da dor, estratégias de enfrentamento e até mesmo a exposição gradual ao desconforto, contribuindo para a reconceitualização da dor pelos pacientes (Bilika et al., 2023). Assim, A RV pode ser aplicada de forma imersiva ou não imersiva. Ambas apresentam vantagens e desafios, conforme demonstrado na Tabela 3.
Tabela 3: Comparação entre RV Imersiva e Não Imersiva
Característica | RV Imersiva | RV Não Imersiva |
Engajamento | Maior | Menor |
Custo | Alto | Baixo |
Sensação de Presença | Alta | Média |
Efeitos Colaterais | Possibilidade de “cybersickness” | Risco reduzido |
Acessibilidade | Baixa (necessita equipamentos especializados) | Alta (uso mais fácil e barato) |
Adicionalmente, comparações entre a RV especializada e sistemas comerciais de jogos na reabilitação demonstram diferenças significativas. Estudos analisaram desde jogos simples, como atividades de tiro, até experiências mais complexas, como “Doritos VR Battle” e “Brick Buster VR”, que oferecem maior interatividade e engajamento. A maioria dos estudos revisados relatou a presença de fisioterapeutas supervisionando as sessões de RV, sendo o número total de intervenções variando de 5 a 56 sessões (Bilika et al., 2023). Esses achados sugerem que, embora os sistemas comerciais possam ser uma alternativa viável, a RV especializada proporciona maior controle sobre os estímulos terapêuticos, permitindo intervenções mais direcionadas e adaptadas às necessidades dos pacientes.
De acordo com Lo et al. (2024), tanto o treinamento ativo assistido por RV imersiva quanto não imersiva é eficaz na redução dos sintomas de dor na região lombar e cervical. Analisando os dados quantitativos, observa-se que a RV não imersiva reduz de forma expressiva a intensidade da dor lombar no curto prazo. Para a dor cervical, a RV imersiva também se destacou ao promover uma diminuição significativa da intensidade da dor no curto prazo, ainda que sem impacto estatisticamente relevante na cinesiofobia. No entanto, ao se avaliar a dor no joelho, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na intensidade da dor com o uso da RV não imersiva (Lo et al., 2024). Apesar dos benefícios evidenciados, a heterogeneidade dos estudos é um fator limitante, visto que as diferenças nos protocolos de intervenção, populações estudadas e dispositivos utilizados podem influenciar os resultados (Lo et al., 2024). Como mostra a Tabela 4:
Tabela 4: Resultados Clínicos da RV no Tratamento da Dor
Região Anatômica | Tipo de RV | Redução da Dor |
Lombar | Não Imersiva | SMD –1,79; IC 95% –2,72 a –0,87; P<0,001 |
Cervical | Imersiva | SMD –0,55; IC 95% –1,02 a –0,08; P=0,02 |
Joelho | Não Imersiva | SMD –0,74; IC 95% –1,86 a 0,37; P=0,19 (não significativa) |
Além disso, a comparação entre RV imersiva e não imersiva ainda apresenta desafios metodológicos, uma vez que a maioria dos estudos sobre dor lombar utilizou RV não imersiva, enquanto aqueles voltados para dor cervical priorizaram a RV imersiva, dificultando uma análise conclusiva sobre qual modalidade apresenta maior eficácia clínica (Lo et al., 2024). Ademais, limitações como pequeno tamanho amostral e dificuldades na avaliação do viés de publicação comprometem a robustez dos achados. Para o aprimoramento dessa abordagem terapêutica, recomenda-se que futuras pesquisas investiguem os efeitos a longo prazo do treinamento ativo assistido por RV, além de explorar sua relação com a adesão ao tratamento e a viabilidade econômica da sua aplicação (Lo et al., 2024).
A eficácia das diferentes modalidades de realidade virtual no tratamento da dor musculoesquelética tem sido amplamente discutida na literatura, sendo identificadas variações nos efeitos entre a RV imersiva e a não imersiva. De acordo com Lo et al. (2024), ambas as abordagens demonstram efetividade na redução dos sintomas de dor lombar e cervical. No entanto, os achados sugerem que a RV não imersiva apresenta maior eficácia na dor lombar, enquanto a RV imersiva é mais eficaz na dor cervical (Lo et al., 2024). Os mecanismos neurofisiológicos subjacentes a essas diferenças ainda não são completamente compreendidos, mas há evidências de que a RV reduz a percepção da dor por meio da distração ativa, integrando estímulos visuais, auditivos e táteis, o que diminui a disponibilidade de recursos cognitivos para o processamento da dor (Lo et al., 2024). Como mostra a Tabela 5:
Tabela 5: Desafios e Recomendações para o Uso da RV na Reabilitação
Desafio | Impacto | Recomendação |
Heterogeneidade dos estudos | Dificulta a generalização dos achados. | Realizar meta-análises mais homogêneas. |
Cybersickness | Pode reduzir a adesão dos pacientes. | Aprimorar interfaces para minimizar efeitos colaterais. |
Pequeno tamanho amostral | Compromete a robustez estatística dos estudos. | Aumentar o número de participantes nos ensaios clínicos. |
Falta de padronização nos protocolos | Dificulta comparações entre diferentes pesquisas. | Criar diretrizes padronizadas para intervenções com RV. |
Dificuldades de implementação clínica | Requer investimentos e treinamento profissional. | Investir em treinamento e integração da RV na fisioterapia. |
Além disso, estudos indicam que a imersão plena, característica da RV imersiva, proporciona um maior senso de presença no ambiente virtual, o que pode potencializar os efeitos analgésicos, especialmente em dores cervicais (Lo et al., 2024). Contudo, a comparação direta entre essas modalidades ainda enfrenta desafios metodológicos, pois a maioria dos estudos sobre dor lombar utiliza RV não imersiva, enquanto os estudos sobre dor cervical priorizam a RV imersiva (Lo et al., 2024). Dessa forma, embora ambas as abordagens apresentam benefícios, a escolha entre RV imersiva e não imersiva deve considerar as particularidades do quadro clínico do paciente, bem como a natureza da dor musculoesquelética em questão.
Ademais, a aplicação da RV na reabilitação musculoesquelética não se restringe apenas ao controle da dor, mas também à reeducação motora e ao suporte psicossocial dos pacientes. A experiência imersiva proporcionada pela RV favorece o engajamento do indivíduo no tratamento, permitindo uma abordagem terapêutica mais interativa e personalizada. Estudos indicam que a combinação de estímulos visuais e auditivos em um ambiente tridimensional pode não apenas reduzir a percepção dolorosa, mas também melhorar a coordenação motora e a função neuromuscular, especialmente em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, como a artroplastia total do joelho (Youssef et al., 2023). Nesse sentido, a RV se apresenta como uma estratégia complementar valiosa à fisioterapia convencional, promovendo um impacto positivo na reabilitação e na qualidade de vida dos pacientes.
Diante do exposto, a realidade virtual se consolida como um recurso promissor para a reabilitação musculoesquelética, exigindo, no entanto, uma abordagem baseada em evidências para a definição de protocolos terapêuticos mais eficazes. A padronização das intervenções, a avaliação de longo prazo dos benefícios clínicos e a análise custo-benefício da implementação da RV na prática fisioterapêutica são aspectos fundamentais a serem explorados em futuras pesquisas. Dessa forma, o avanço na compreensão dos mecanismos neurofisiológicos e psicossociais envolvidos na analgesia mediada por RV permitirá o aprimoramento das estratégias terapêuticas, consolidando essa tecnologia como um pilar inovador no tratamento da dor crônica musculoesquelética.
4. DISCUSSÃO
Os achados desta pesquisa reforçam a crescente relevância da realidade virtual como uma ferramenta terapêutica promissora no manejo da dor crônica musculoesquelética, destacando seu potencial para a modulação da percepção dolorosa e para a promoção da reabilitação funcional. Evidências recentes apontam que intervenções baseadas em RV impactam significativamente a redução da dor, a melhora da funcionalidade e a adesão ao tratamento fisioterapêutico, contribuindo para a inovação nas abordagens reabilitacionais tradicionais (Eccleston et al., 2022).
No entanto, observa-se uma heterogeneidade considerável nos estudos analisados, o que evidencia a necessidade de padronização dos protocolos terapêuticos. A ausência de critérios uniformes compromete a reprodutibilidade dos resultados e dificulta a aplicação clínica direcionada e eficaz. Assim, torna-se imperativo que futuras investigações adotem metodologias rigorosas, com amostras mais robustas e delineamentos experimentais controlados, a fim de estabelecer diretrizes claras para a incorporação da RV na prática fisioterapêutica (Eccleston et al., 2022).
Adicionalmente, a aplicação da RV no contexto da reabilitação musculoesquelética transcende o controle da dor, abrangendo também a reeducação motora e o suporte psicossocial dos pacientes. A experiência imersiva oferecida por essa tecnologia favorece o engajamento do indivíduo no tratamento, ao proporcionar uma abordagem mais interativa e personalizada. Evidências apontam que a combinação de estímulos visuais e auditivos em um ambiente tridimensional pode não apenas modular a percepção dolorosa, mas também melhorar a coordenação motora e a função neuromuscular, especialmente em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, como a artroplastia total do joelho (Youssef et al., 2023). Nesse cenário, a RV configura-se como uma estratégia complementar valiosa à fisioterapia convencional, gerando impactos positivos tanto na recuperação funcional quanto na qualidade de vida dos pacientes.
Dessa forma, a realidade virtual consolida-se como um recurso inovador e promissor na reabilitação musculoesquelética. Contudo, sua efetiva implementação demanda uma abordagem fundamentada em evidências científicas, com foco na definição de protocolos terapêuticos padronizados. Além disso, aspectos como a avaliação de longo prazo dos benefícios clínicos, a mensuração da relação custo-benefício e a análise da viabilidade de inserção dessa tecnologia no cotidiano clínico precisam ser devidamente explorados em pesquisas futuras. O aprofundamento na compreensão dos mecanismos neurofisiológicos e psicossociais envolvidos na analgesia mediada pela RV poderá potencializar o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes, consolidando essa tecnologia como um pilar no tratamento da dor crônica musculoesquelética.
Um dos principais mecanismos pelos quais a RV pode contribuir para o controle da dor é a criação de um ambiente imersivo que facilita a distração cognitiva e favorece a modificação da percepção dolorosa. Com isso, estudos recentes indicam que a RV pode superar limitações dos métodos convencionais ao criar ambientes de reabilitação mais envolventes, favorecendo a reeducação neuromuscular e a modulação da dor de maneira mais eficaz. A aplicação dessa tecnologia na fisioterapia tem se mostrado eficaz no tratamento de condições musculoesqueléticas, melhorando os desfechos terapêuticos e proporcionando benefícios duradouros para os pacientes (Smith et al., 2025).
De maneira complementar, investigações evidenciam que a terapia baseada em exercícios com RV apresenta resultados promissores na redução da dor, na melhora da capacidade funcional, no aumento da amplitude de movimento e na elevação dos níveis de satisfação com o tratamento (Bilika et al., 2023). A imersão proporcionada pela RV permite uma atuação direta na percepção da dor, ao reduzir o foco atencional sobre os estímulos nociceptivos e promover uma distração cognitiva eficaz, diminuindo, assim, a ativação das vias de dor (Hotta et al., 2022).
Com isso, a RV viabiliza a exposição gradual e controlada a movimentos previamente evitados devido à dor, contribuindo para a ruptura do ciclo de medo e evitação. Esse processo favorece a neuroplasticidade e possibilita a reorganização dos padrões de processamento da dor (Hotta et al., 2022). A plasticidade neural, essencial para a adaptação do sistema nervoso a novos estímulos, pode ser estimulada por meio da repetição de tarefas motoras e do reforço de novas conexões sinápticas, promovendo avanços clínicos significativos no contexto fisioterapêutico. Diante dessa complexidade, torna-se essencial adotar abordagens terapêuticas que integrem não apenas o controle da dor, mas também estratégias para mitigar os impactos emocionais e sociais da condição.
Por fim, na prática clínica, a reabilitação de pacientes com dor musculoesquelética crônica ainda enfrenta importantes desafios, como a baixa adesão ao tratamento e as limitações dos efeitos das terapias convencionais. Embora métodos tradicionais, como o fortalecimento muscular e a terapia manual, apresentem eficácia comprovada, muitas vezes se mostram insuficientes diante da persistência da dor. Nesse contexto, a realidade virtual surge como uma alternativa viável e inovadora para otimizar o engajamento dos pacientes no processo terapêutico, oferecendo uma abordagem multimodal que integra aspectos neurofisiológicos, motores e psicossociais, com vistas à promoção de alívio da dor e melhora funcional sustentada.
5. CONCLUSÃO
A presente pesquisa permitiu constatar que a realidade virtual representa uma estratégia terapêutica inovadora e eficaz no contexto da fisioterapia para o manejo da dor crônica musculoesquelética. Os achados reunidos indicam que a RV atua não apenas na modulação da percepção dolorosa por meio da distração cognitiva, mas também na reorganização dos circuitos neurofisiológicos relacionados à dor, contribuindo para a neuroplasticidade e a redução da sensibilização central (Hotta et al., 2022; Feitosa et al., 2022).
Ao integrar estímulos visuais, auditivos e motores em ambientes tridimensionais, a RV oferece uma experiência imersiva que favorece o engajamento do paciente, rompe ciclos de medo e evitação de movimento, e amplia a adesão ao tratamento fisioterapêutico (Smith et al., 2025; Bilika et al., 2023). Tal característica torna-se particularmente relevante diante das limitações dos métodos convencionais e da complexidade dos fatores biopsicossociais que envolvem a dor musculoesquelética crônica (Opara Zupančič & Šarabon, 2025).
Embora a eficácia da RV ainda esteja condicionada a variáveis como o tipo de tecnologia empregada, o nível de imersão e a região anatômica afetada (Lo et al., 2024; Zitti et al., 2025), os dados reunidos sustentam sua aplicabilidade clínica como adjuvante às terapias tradicionais. A RV demonstrou benefícios na dor lombar e cervical, com destaque para a modalidade não imersiva no primeiro caso e a imersiva no segundo, ainda que estudos adicionais sejam necessários para aprofundar essas distinções (Lo et al., 2024).
Contudo, reconhecem-se limitações importantes na literatura atual, como a heterogeneidade metodológica dos estudos, a escassez de ensaios clínicos com amostras robustas e o uso limitado de protocolos padronizados (Slatman et al., 2023; Simons et al., 2022). Esses fatores comprometem a generalização dos resultados e reforçam a urgência de investigações futuras que contemplem o desenvolvimento de diretrizes clínicas e a avaliação longitudinal dos efeitos da RV.
Dessa forma, conclui-se que a realidade virtual possui elevado potencial para transformar os paradigmas da reabilitação musculoesquelética. Ao possibilitar intervenções mais atrativas, personalizadas e baseadas em evidências, a RV pode não apenas aliviar a dor crônica, mas também resgatar a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes. Sua consolidação como recurso terapêutico requer, contudo, investimentos contínuos em pesquisa, padronização e capacitação profissional, de modo a garantir sua implementação segura, eficaz e acessível no cotidiano da fisioterapia contemporânea.
REFERÊNCIAS
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