REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202503241545
Regiane Balieiro de Sousa1
Vanessa Lemos dos Santos2
Orientador: Prof. Me. Tiêgo Ramon dos Santos Alencar3
Resumo:
Este trabalho investiga a diversidade linguística no Amapá, considerando as influências culturais, sociais e tecnológicas na transformação do vocabulário regional. A pesquisa, realizada com 29 acadêmicos do curso de Letras – Português (EaD), utilizou um questionário online para identificar percepções sobre o uso da língua e a influência das mídias digitais. Os resultados indicam que expressões tradicionais estão em risco de desaparecimento, sendo substituídas por gírias e estrangeirismos disseminados pelas redes sociais. No entanto, há um forte reconhecimento da identidade linguística local, e os participantes sugerem ações educativas e culturais para sua valorização. Conclui-se que a preservação da diversidade linguística do Amapá depende de iniciativas que promovam o uso ativo do vocabulário regional no cotidiano.
Palavras-chave: diversidade linguística; identidade cultural; globalização; Amapá.
Abstract:
This study investigates linguistic diversity in Amapá, considering the cultural, social and technological influences on the transformation of regional vocabulary. The research, conducted with 29 students from the Portuguese Language and Literature course (EaD), used an online questionnaire to identify perceptions about the use of language and the influence of digital media. The results indicate that traditional expressions are at risk of disappearing, being survived by slang and strange expressions disseminated through social networks. However, there is a strong recognition of local linguistics, and the participants suggest educational and cultural actions to enhance its value. It is concluded that the preservation of Amapá’s linguistic diversity depends on initiatives that promote the active use of regional vocabulary in everyday life.
Keywords: linguistic diversity; cultural identity; globalization; Amapá.
1. INTRODUÇÃO
É de conhecimento que a diversidade linguística é um fenômeno complexo e dinâmico que reflete as peculiaridades históricas, culturais e sociais de uma região. No contexto do estado do Amapá, localizado na Região Norte do Brasil, pode-se afirmar que essa diversidade se manifesta por meio de uma rica combinação de influências culturais, incluindo heranças indígenas, africanas, portuguesas e de outras migrações internas e externas que ocorreram ao longo dos tempos. Contudo, as transformações socioculturais contemporâneas, impulsionadas pela globalização, pelo avanço das tecnologias de comunicação e pela interação em plataformas digitais, têm remodelado essas expressões linguísticas, gerando novas formas de comunicação enquanto outras, mais tradicionais, correm o risco de se perder.
Considerando este cenário, o presente estudo tem como objetivo geral investigar as percepções de acadêmicos do Curso de Letras – Português (EaD) a respeito da diversidade linguística no Amapá. Logo, os objetivos específicos incluem mapear as expressões linguísticas recentes utilizadas em contextos urbanos e rurais, analisar a interação entre gerações no uso da linguagem, investigar o papel das redes sociais e das mídias digitais na disseminação de gírias e expressões regionais.
A questão-problema que norteia esta pesquisa é: de que forma a diversidade linguística contemporânea no estado do Amapá é influenciada por fatores culturais, sociais e tecnológicos, e quais são os impactos dessas transformações na identidade linguística local? Partindo dessa indagação, A hipótese central deste estudo é que as percepções dos acadêmicos do curso de Letras – Português (EAD) refletem a influência das interações sociais mediadas pela tecnologia e dos processos de globalização na diversidade linguística do Amapá. Esses fatores têm impulsionado a incorporação de novas expressões e variações linguísticas, ao mesmo tempo em que elementos tradicionais são preservados e ressignificados, mantendo-se como parte da identidade cultural das comunidades locais.
Sendo assim, este trabalho se justifica pela importância de compreender e documentar as transformações linguísticas em um momento histórico marcado por mudanças tecnológicas e culturais intensas. Além disso, o estudo contribui para a valorização da identidade cultural e linguística do Amapá, oferecendo subsídios para políticas educacionais e culturais que promovam tanto a preservação das expressões tradicionais quanto a compreensão das novas dinâmicas linguísticas que evidentemente surgem.
É de conhecimento que os acadêmicos do curso de Letras – Português na modalidade EAD estão distribuídos por diversos municípios do estado do Amapá, o que proporciona uma rica diversidade de percepções sobre a linguagem e suas variações regionais. A educação a distância permite que estudantes de diferentes contextos sociais, culturais e geográficos tenham acesso à formação acadêmica, ampliando as perspectivas sobre a diversidade linguística local. Sendo assim, é fundamental compreender como as influências culturais, tecnológicas e sociais impactam o modo como esses acadêmicos percebem e interagem com as variações linguísticas do estado, considerando tanto a preservação de expressões tradicionais quanto a adoção de novas formas de comunicação.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Diversidade Linguística como patrimônio cultural
A diversidade linguística representa um dos mais valiosos patrimônios culturais da humanidade, refletindo não apenas a identidade e a memória de diferentes povos, mas também sua história e suas formas de interpretar o mundo. No Brasil, essa pluralidade de línguas é resultado de um longo processo de interações culturais e sociais, abrangendo povos indígenas, comunidades quilombolas, imigrantes e grupos afrodescendentes. No entanto, essa riqueza linguística encontra se ameaçada, especialmente pela globalização e pela predominância de idiomas dominantes, que contribuem para o apagamento de línguas minoritárias e a perda de um importante legado cultural. Segundo a UNESCO (2003), entre um terço e metade das línguas atualmente faladas no mundo estão em risco de extinção até 2050, um fenômeno que também afeta profundamente o contexto brasileiro.
O Brasil é um dos países com maior diversidade linguística do mundo, possuindo mais de 200 línguas faladas atualmente. Os dados do Censo IBGE de 2010 apontam que pelo menos 170 dessas línguas são de origem indígena, enquanto outras, como as línguas de imigração, línguas crioulas e variedades de comunidades quilombolas, são igualmente representativas desse mosaico cultural. Entretanto, grande parte da população desconhece essa diversidade, o que reforça processos de marginalização e desvalorização das línguas minoritárias (Cavalcanti, 2007). Essa invisibilidade social e política contribui para a redução do número de falantes dessas línguas, tornando sua preservação um desafio ainda maior.
Diante desse cenário, nas últimas décadas, diversas iniciativas têm sido implementadas para a valorização da diversidade linguística, reconhecendo-a como parte do patrimônio cultural imaterial do país. Um marco fundamental nesse processo foi a criação do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), instituído pelo Decreto Presidencial nº 7.387/2010. Essa política interministerial, coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tem como objetivo reconhecer oficialmente as línguas faladas no Brasil como patrimônio cultural, promovendo ações de valorização, documentação e apoio às comunidades de falantes (Brasil, 2010). O INDL busca não apenas mapear a diversidade linguística do país, mas também fortalecer o plurilinguismo e garantir que essas línguas sejam protegidas e transmitidas às futuras gerações.
A preservação da diversidade linguística, no entanto, não pode ser restrita ao reconhecimento oficial. É fundamental que as comunidades de falantes tenham um papel ativo nesse processo, uma vez que as línguas são elementos vivos e dinâmicos da cultura. Diferente de abordagens tradicionais da linguística, que se concentram na classificação técnica das línguas, as políticas culturais devem priorizar a participação das comunidades na definição do valor simbólico e social de suas línguas (Franchetto, 2011). Isso significa que, além do reconhecimento institucional, é necessário promover estratégias educativas e culturais que incentivem o uso cotidiano das línguas ameaçadas, garantindo sua transmissão intergeracional.
A educação bilíngue, por exemplo, tem se mostrado uma ferramenta fundamental para a manutenção das línguas indígenas e quilombolas no Brasil. De acordo com Silva (2015), a implementação de programas educacionais que respeitem a língua materna dos povos originários contribui para o fortalecimento de sua identidade cultural e para a valorização de suas tradições. Ao mesmo tempo, a inserção da diversidade linguística nos currículos escolares pode sensibilizar a sociedade para a importância desse patrimônio imaterial, promovendo o respeito e o reconhecimento das múltiplas formas de expressão linguística existentes no país.
A diversidade linguística não é apenas um meio de comunicação, mas um elemento essencial da identidade cultural de um povo. No Brasil, apesar das ameaças que colocam em risco muitas línguas minoritárias, iniciativas como o Inventário Nacional da Diversidade Linguística representam avanços importantes na valorização desse patrimônio. No entanto, garantir a continuidade desse processo exige esforços contínuos por parte do Estado, das comunidades falantes e da sociedade em geral. Somente por meio de políticas públicas eficazes e do engajamento coletivo será possível preservar essa riqueza linguística, assegurando que as diversas línguas que compõem a cultura brasileira continuem a existir e a se desenvolver no futuro.
2.2 Compreensão de Diversidade Linguística
A diversidade linguística contemporânea no estado do Amapá reflete as influências culturais e as dinâmicas sociais do século XXI, evidenciando a interação entre diferentes grupos étnicos e suas respectivas línguas. A variação do português brasileiro, presente na região, não deve ser interpretada como sinal de caos, distorção ou ameaça à língua, mas sim como um fenômeno natural de qualquer idioma humano. Essa variação pode ser analisada tanto sincronicamente, por meio da diversidade dialetal, quanto diacronicamente, através dos processos históricos de mudança linguística.
A língua, nesse sentido, é compreendida como um fenômeno social e cultural dinâmico, que desafia a visão tradicional de uma realidade homogênea e unitária. No Amapá, a presença de diferentes povos e culturas influencia diretamente a prática linguística cotidiana. Faraco (2016) argumenta que as línguas estão profundamente ligadas às dinâmicas histórico-políticas e às construções ideológicas das sociedades que as utilizam, reforçando a ideia de que não existem de forma isolada, mas em constante interação com seus falantes e suas respectivas realidades.
O léxico, sendo o nível linguístico mais suscetível a transformações, reflete alterações sociais e culturais, resultando na renovação de usos vocabulares (Biderman, 2001). Essas mudanças são influenciadas pelo ambiente físico e social, permitindo não apenas a alteração de significados ao longo do tempo, mas também a criação de novas unidades lexicais e o desuso de outras. No Amapá, essa dinâmica é particularmente visível na incorporação de termos indígenas e africanos na fala cotidiana da população local, evidenciando a influência de contatos interétnicos e das condições socioeconômicas regionais.
As transformações lexicais no Amapá revelam a interação entre diferentes grupos sociais e sua influência na construção da identidade linguística regional. O Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) é uma iniciativa relevante que investiga as variedades dialetais e sociolinguísticas do português brasileiro, auxiliando na compreensão da diversidade linguística em estados como o Amapá. Criado a partir do decreto 30.643, de 20 de março de 1952, o projeto visa mapear aspectos como fonologia, morfologia, sintaxe e léxico, permitindo uma análise detalhada da influência cultural na evolução do idioma (Brasil, 1952).
A história da formação linguística no Amapá também se relaciona ao processo de povoamento da Região Norte e à mobilidade demográfica resultante das diásporas. Essas movimentações populacionais são essenciais para compreender a reconfiguração sociocultural da região. Anderson (2008) destaca que, embora os membros de uma nação nem sempre se conheçam pessoalmente, compartilham uma identidade linguística comum. No caso do Amapá, a coexistência de diferentes línguas reflete um histórico complexo de interações entre povos indígenas, africanos e colonizadores portugueses.
A chegada da língua portuguesa ao Brasil, no século XVI, ocorreu em um contexto de multilinguismo. A política linguística implementada por Pombal em 1757 estabeleceu o português como língua oficial, promovendo sua hegemonização em detrimento das línguas autóctones e africanas (Silva, 2004). Apesar dessa imposição, o português absorveu elementos dessas línguas, resultando em uma variante linguística distinta da matriz europeia. Lucchesi (2004, 2009) argumenta que essa interação entre normas populares e cultas caracterizou a evolução do idioma no Brasil.
No contexto amapaense, o preconceito contra línguas indígenas e africanas reflete uma ideologia que privilegia o português como “língua de cultura” (Houaiss, 1992), marginalizando outras formas de expressão linguística. No entanto, a influência dessas línguas é inegável. Rodrigues (1994) aponta que um terço dos nomes de aves e quase metade dos nomes de peixes na língua portuguesa têm origem indígena. No Amapá, a presença de termos indígenas é ainda mais acentuada, refletindo a importância das línguas nativas na identidade regional.
A influência africana, por sua vez, manifesta-se em termos relacionados a objetos e práticas religiosas. O tráfico negreiro trouxe para o Brasil um grande contingente de africanos, cuja presença linguística foi apagada pelos registros oficiais (Castro, 2006). Apesar disso, a influência das línguas africanas se perpetua na cultura brasileira, especialmente em regiões como o Amapá, onde tradições de matriz africana são expressivas.
A diversidade linguística do Amapá é um reflexo das interações históricas e sociais que moldaram o estado ao longo dos séculos. Reconhecer essa pluralidade é essencial para valorizar a identidade cultural local e combater o preconceito linguístico. Dessa forma, a língua, longe de ser um elemento estático, continua a evoluir, adaptando-se às mudanças sociais e às necessidades comunicativas de seus falantes.
3. METODOLOGIA
A metodologia adotada neste estudo teve como objetivo investigar, de maneira sistemática e abrangente, a diversidade linguística contemporânea no estado do Amapá, tendo como público alvo os acadêmicos do Curso de Letras – Português (EaD), distribuídos por diversos pólos universitários que oferecem essa formação no estado do Amapá. O processo foi dividido em três etapas principais: definição das técnicas de aquisição de dados, coleta de informações e organização e análise dos resultados.
Na primeira etapa, foi elaborado um questionário online contendo 20 perguntas objetivas e subjetivas, desenvolvidas para captar características linguísticas relacionadas ao vocabulário, expressões e práticas comunicativas utilizadas em diferentes municípios do estado. As questões foram estruturadas de modo a explorar as influências culturais, sociais e tecnológicas na formação e transformação das expressões linguísticas locais.
Categoria | Total |
Número de Participantes | 29 |
Local de Nascimento | |
Macapá | 10 |
Santana | 6 |
Oiapoque | 6 |
Laranjal do Jarí | 4 |
Mazagão | 3 |
Local de Residência Atual | |
Macapá | 12 |
Santana | 6 |
Oiapoque | 5 |
Laranjal do Jarí | 4 |
Mazagão | 2 |
Faixa Etária | |
18-25 Anos | 10 |
26-35 Anos | 10 |
36-45 Anos | 6 |
46-55 Anos | 3 |
Autor – Criada pelas autoras
A coleta de dados foi realizada por meio do Google Forms e divulgada em redes sociais e aplicativos de mensagens (WhatsApp, Facebook e Instagram). Para alcançar uma amostra diversificada, o questionário foi disseminado entre acadêmicos de diferentes polos universitários localizados em distintos municípios, abrangendo participantes matriculados no Curso de Letras – Português (EaD). Essa etapa buscou atingir um número representativo de respondentes, promovendo uma visão ampla e precisa das dinâmicas linguísticas do estado. Além disso, foram conduzidas observações complementares em interações espontâneas em ambientes digitais, com o objetivo de identificar padrões linguísticos emergentes e novas expressões, como perguntas sobre expressões ou gírias que são usadas no dia a dia.
Na etapa final, os dados coletados foram organizados e analisados com base em uma abordagem metodológica mista, que combinou técnicas quantitativas e qualitativas. Conforme apontam Gil (2008), Creswell (2007) e Marconi e Lakatos (2017), a pesquisa quali-quantitativa possibilita uma compreensão mais ampla do fenômeno investigado, integrando a mensuração de padrões e tendências com a interpretação dos significados socioculturais subjacentes. A análise quantitativa permitiu a identificação de frequências, distribuições e variações linguísticas em diferentes contextos e regiões do Amapá, enquanto a análise qualitativa possibilitou a exploração dos sentidos e usos das expressões linguísticas a partir da perspectiva dos participantes. Os resultados foram sistematizados e apresentados por meio de tabelas, gráficos e descrições analíticas, proporcionando um panorama detalhado das características e transformações linguísticas contemporâneas no estado.
Essa abordagem metodológica, ao garantir uma coleta e análise de dados abrangentes e contextualizadas, permitiu que a pesquisa contribuísse de forma significativa para o entendimento da diversidade linguística na região, bem como para a valorização da identidade cultural local
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Concepções a partir do Amapá
A diversidade linguística no estado do Amapá é um reflexo de sua formação histórica e cultural, caracterizada pela interação entre diferentes povos e influências externas. O contato entre indígenas, portugueses, africanos, populações migrantes de outras partes do Brasil e, mais recentemente, o impacto das redes sociais e das mídias digitais, tem moldado a maneira como os amapaenses se expressam. A pesquisa realizada revelou que a população acadêmica do curso de Letras – Português (EaD) possui uma percepção sensível sobre essas transformações, demonstrando preocupação com a perda gradual de expressões tradicionais e o avanço de novos padrões linguísticos impulsionados pela globalização.
Os dados coletados revelam que a maioria dos respondentes (26 de 29) acredita que expressões linguísticas tradicionais do Amapá estão se perdendo com o tempo. Essa percepção está alinhada às observações de Lucchesi (2009), que argumenta que o contato de diferentes grupos sociais pode resultar na substituição de formas linguísticas locais por expressões mais amplamente difundidas. Um exemplo citado pelos participantes é a expressão “pipira”, antigamente usada para se referir a crianças pequenas e travessas, mas que hoje é pouco utilizada entre os mais jovens, e muitas vezes nem mesmo conhecida.
A influência das redes sociais também se mostra um fator relevante na dinâmica do vocabulário local. Vinte entrevistados afirmaram que a internet tem um impacto significativo na forma como falam, corroborando a tese de Bagno (2011) sobre a crescente globalização da linguagem cotidiana. O fenômeno da hiperconectividade tem levado os jovens a absorverem termos populares em outras regiões do Brasil, como “crush” para se referir a um interesse amoroso, “vibe” para descrever um ambiente ou estado emocional, e “brother” como forma de tratamento informal. Esse processo de incorporação de estrangeirismos pode ser explicado pela necessidade de adaptação a um universo linguístico mais amplo, no qual a interação ocorre frequentemente com falantes de diferentes regiões e países.

O questionário demonstrou que o contato com pessoas de outros estados e países por meio de plataformas digitais impacta o vocabulário dos falantes. Dezessete entrevistados disseram que percebem essa influência “um pouco”, enquanto seis afirmaram sentir um impacto “muito forte”. Esse fenômeno é especialmente evidente entre os mais jovens, que frequentemente adotam termos como “brother” e “vibe”, em detrimento de expressões tipicamente regionais.

Apesar das mudanças, a identidade linguística do Amapá ainda é um elemento valorizado por sua população. A grande maioria dos participantes (26 de 29) concorda que o modo de falar do estado contribui para a construção da identidade cultural local. Esse dado reforça as discussões de Faraco (2016) sobre a ligação entre língua e identidade histórico-cultural. Muitos entrevistados sugeriram que a valorização das expressões regionais poderia ocorrer por meio da inserção desses temas no ensino escolar e em projetos culturais, com 25 dos 29 respondentes apoiando essa ideia. Nesse sentido, medidas como a promoção de estudos sobre a linguagem local, mencionada por 16 participantes como aspecto essencial para a manutenção da identidade linguística, são fundamentais para a preservação das particularidades do falar amapaense. Isso está em consonância com os princípios do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), que busca mapear as variações dialetais do português falado no país (Brasil, 1952).

Os resultados do questionário revelam uma tensão entre a preservação das expressões linguísticas tradicionais e a crescente influência de fatores externos na linguagem cotidiana. Para garantir que o patrimônio linguístico do Amapá não se perca, é necessário investir em iniciativas de valorização e estudo das particularidades do falar local, fortalecendo, assim, a identidade cultural do estado.
A diversidade linguística no estado do Amapá reflete a rica interação entre diferentes culturas, fruto do contato entre povos indígenas, colonizadores europeus, populações afrodescendentes e, mais recentemente, da globalização e do avanço das tecnologias de comunicação. O questionário realizado revelou que, embora exista um reconhecimento da importância da identidade linguística local, há uma crescente preocupação com a perda de expressões regionais e a substituição de termos tradicionais por influências externas.
Os resultados do questionário apontam que a maioria dos participantes (26 de 29) acredita que as expressões linguísticas tradicionais do Amapá estão em risco de desaparecimento. Esse dado confirma uma tendência observada em diversas partes do mundo, na qual o contato entre diferentes grupos sociais e a expansão da comunicação digital acabam promovendo a uniformização da linguagem, levando à substituição de vocabulário regional por termos mais amplamente difundidos (Lucchesi, 2009). Um exemplo significativo mencionado pelos respondentes foi a palavra “pipira”, anteriormente usada para se referir a crianças pequenas e travessas, mas que hoje é pouco conhecida entre os mais jovens.
O impacto das redes sociais e da internet na linguagem cotidiana também foi um fator relevante apontado pelos participantes. Vinte entrevistados afirmaram que a internet tem um papel significativo na forma como falam, o que corrobora as análises de Bagno (2011) sobre o fenômeno da globalização linguística. Palavras regionais estão sendo substituídas por gírias e expressões originadas em outras regiões do Brasil ou até mesmo de idiomas estrangeiros. Um dos exemplos mencionados no questionário é o uso frequente de “crush” em vez de palavras tradicionais como “paquera” ou “xodó”, mostrando como o inglês tem influenciado o vocabulário dos amapaenses, especialmente entre os mais jovens.
Além da internet, o contato com falantes de outras regiões do Brasil e de outros países também têm impacto na fala local. Dezessete participantes do questionário afirmaram perceber essa influência de forma moderada, enquanto seis consideram que ela é muito forte. Esse fenômeno é especialmente notável entre aqueles que consomem grande quantidade de conteúdo digital ou que interagem frequentemente com pessoas de fora do estado. Expressões como “brother” e “vibe” têm sido cada vez mais utilizadas, substituindo termos regionais e contribuindo para a diluição do vocabulário tradicional amapaense.
Apesar dessas mudanças, a identidade linguística do Amapá ainda é valorizada por sua população. A grande maioria dos respondentes (26 de 29) concorda que a maneira de falar dos amapaenses é um elemento essencial da identidade cultural do estado. Esse dado reforça os estudos de Faraco (2016), que destacam a relação entre língua e identidade histórico-cultural. Muitos entrevistados sugeriram que a valorização do vocabulário regional deveria ser incentivada por meio de iniciativas educacionais e culturais. Uma das sugestões mais recorrentes foi a inclusão de expressões regionais no currículo escolar, promovendo a conscientização das novas gerações sobre a importância da preservação do patrimônio linguístico local.
Diante desse cenário, os entrevistados sugeriram diversas estratégias para fortalecer a identidade linguística regional. Vinte e cinco participantes defenderam a inclusão de conteúdos sobre expressões regionais nos currículos escolares, destacando a importância da educação na preservação da cultura linguística local. Além disso, dezesseis entrevistados ressaltaram a necessidade de incentivar pesquisas acadêmicas sobre as particularidades do falar amapaense, a fim de registrar e documentar essa diversidade linguística. Essas propostas convergem com iniciativas como o Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), que busca mapear as variações dialetais do português falado no país.
Então, os resultados do questionário indicam que, embora a linguagem dos amapaenses esteja passando por um processo de transformação devido à influência da internet e do contato com outras culturas, há um reconhecimento generalizado da importância da diversidade linguística como parte do patrimônio cultural do estado. Para evitar a perda de expressões tradicionais e fortalecer a identidade linguística regional, é essencial investir em políticas educacionais e culturais que promovam o uso e a valorização do vocabulário local. Dessa forma, será possível garantir que as particularidades do falar amapaense sejam preservadas e transmitidas às futuras gerações.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre a diversidade linguística no Amapá confirmou a hipótese inicial de que a linguagem local está passando por um processo de transformação, influenciado por fatores externos como a globalização, o avanço da internet e o contato com outras culturas. A análise dos resultados do questionário evidenciou que, embora os amapaenses reconheçam a importância de sua identidade linguística, muitos percebem a gradual substituição de expressões tradicionais por termos amplamente difundidos em outras regiões do Brasil e até mesmo por palavras de origem estrangeira.
O objetivo geral do estudo, que era compreender as influências que afetam a diversidade linguística no Amapá, foi atingido ao se identificar os principais agentes desse fenômeno, como o impacto das redes sociais, a interação com falantes de outros estados e a falta de incentivo à preservação das expressões regionais. Além disso, os objetivos específicos foram contemplados na medida em que se analisaram as palavras mais utilizadas na comunicação cotidiana dos amapaenses, os fatores que levam ao esquecimento de certos termos e as possíveis estratégias para a valorização da diversidade linguística como patrimônio cultural.
A partir dessa reflexão, torna-se evidente a necessidade de medidas para preservar e valorizar a identidade linguística local. A inclusão da temática nos currículos escolares, a promoção de projetos culturais que incentivem o uso de expressões regionais e o incentivo à produção de conteúdos digitais que valorizem o falar amapaense são algumas das sugestões viáveis para fortalecer a diversidade linguística no estado. O reconhecimento da linguagem como parte do patrimônio imaterial da cultura amapaense também pode ser impulsionado por políticas públicas que incentivem a documentação e a disseminação do vocabulário regional.
Para profissionais da educação, cultura e comunicação que desejem implementar ações voltadas à valorização da diversidade linguística, é essencial considerar o envolvimento das comunidades locais, garantindo que as expressões tradicionais não sejam apenas preservadas, mas também reconhecidas e promovidas de forma orgânica no cotidiano das novas gerações. O sucesso dessas iniciativas dependerá do diálogo contínuo entre pesquisadores, educadores, instituições culturais e a própria população, garantindo que a identidade linguística do Amapá permaneça viva e relevante para as futuras gerações.
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1Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Português, da Universidade Federal do Amapá. E-mail: regissousa1408@gmail.com
2Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras Português, da Universidade Federal do Amapá. E-mail: vl924168@gmail.com