A DISBIOSE DA MICROBIOTA INTESTINAL E SUA ASSOCIAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA.

THE DYSBIOSIS OF THE GUT MICROBIOTA AND ITS ASSOCIATION IN THE DEVELOPMENT OF NEURODEGENERATIVE DISEASES: A LITERATURE REVIEW.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7900989


Rebeca Ferreira Nery1; Fernando José de Morais Silva2; Priscila Figueiredo Brito de Azevedo3; Gabriele Lopes do Rosário4; Tiago Araújo Monteiro5; Camila Bravin Ataide6; Julia Cristina Martins Dantas7; Ádrea Rodrigues Batalha8; Gilney Lima Barros9; Carolina Lopes Aoude10; Antônio Arenildo Macedo Firmino Filho11; Samira Cristina Pacheco de Oliveira12; Pedro Henrique Cavalcanti Chaves Santos13; Agleicia Ott14


RESUMO

INTRODUÇÃO: A microbiota intestinal é composta por uma grande variedade de bactérias, habitando o trato gastrointestinal (TGI), elas são responsáveis por diversas funções, tais como: manejo da absorção de nutrientes, modulação do sistema imunológico e controle da absorção de nutrientes. Existe uma comunicação entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central através do eixo cérebro-intestino-microbiota. Dessa forma, a desregulação desta microbiota resulta em diversas consequências patológicas, a disbiose contribui ativando o sistema imunológico e estimula os processos neuroinflamatórios comuns em doenças neurodegenerativas (DN), como Doença de Parkinson (DP), Doença de Alzheimer (DA) e Esclerose Múltipla (EM). OBJETIVO: Analisar a associação entre disbiose e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. METODOLOGIA: Trata-se de revisão integrativa da literatura realizada no mês de março de 2023, que se utiliza de uma metodologia exploratória e descritiva (PEREIRA, et al., 2018). Engloba etapas, como, estabelecimento do tema e dos critérios para a seleção das fontes que serão utilizadas, análise de dados, seleção de material temático, interpretação de resultados e apresentação dos aspectos relevantes obtidos com a revisão.  Inicialmente, foram pesquisados estudos nas bases de dados eletrônicas: Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline). Inicialmente foram selecionados os seguintes descritores: Disbiose OR Dysbiosis OR Disbiosis; “Microbioma Gastrointestinal” OR “Gastrointestinal Microbiome” OR “Microbioma Gastrointestinal”; “Doenças Neurodegenerativas” OR “Neurodegenerative Diseases” OR “Enfermedades Neurodegenerativas”. Utilizando o operador booleano “AND”. RESULTADOS: Através dos estudos analisados verificou-se que a microbiota intestinal tem influência na relação intestino cérebro, tendo associação entre as doenças neurodegenerativas e o desequilíbrio da microbiota intestinal; a disbiose exerce um impacto negativo na saúde do hospedeiro, de tal forma que o uso de probióticos melhoram a neurodegeneração, e uma boa alimentação direcionada ao intestino pode oferecer benefícios significativos para o aspecto de doenças, revelando um novo potencial como terapêutica a favor da saúde desses indivíduos. CONCLUSÃO: Baseado nos estudos analisados, é possível concluir que existe uma relação de influência entre o eixo intestino-cérebro, o que pode resultar em doenças. Em relação às doenças neurodegenerativas essa relação se dá através do nervo vago, concomitante a atuação de neurotransmissores decorrentes da microbiota intestinal, sendo importante a realização de mais estudos com o intuito de estudar essa relação e ampliar o conhecimento sobre esse tema para a área da saúde, sendo que o entendimento dos mecanismos por trás do processo de disbiose intestinal e sua relação com o desencadeamento e progressão de doenças neurodegenerativas pode estimular estratégias de prevenção e terapêuticas de tais terapias.

Palavras-chave: Disbiose; Microbioma gastrointestinal; Doenças Neurodegenerativas. 

ABSTRACT

REVIEW

INTRODUCTION: The intestinal microbiota is composed of a wide variety of bacteria, inhabiting the gastrointestinal tract (GIT), they are responsible for several functions, such as: management of nutrient absorption, modulation of the immune system, and control of nutrient absorption. There is a communication between the gut microbiota and the central nervous system via the brain-intestine-microbiota axis. Thus, dysregulation of this microbiota results in several pathological consequences, dysbiosis contributes by activating the immune system and stimulates neuroinflammatory processes common in neurodegenerative diseases (ND) such as Parkinson’s disease (PD), Alzheimer’s disease (AD) and multiple sclerosis (MS). OBJECTIVE: To analyze the association between dysbiosis and the development of neurodegenerative diseases. METHODOLOGY: This is an integrative literature review conducted in March 2023, which uses an exploratory and descriptive methodology (PEREIRA, et al., 2018). It encompasses steps such as establishing the topic and the criteria for the selection of sources to be used, data analysis, selection of thematic material, interpretation of results and presentation of relevant aspects obtained with the review.  Initially, studies were searched in the electronic databases: Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (Lilacs) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline). Initially, the following descriptors were selected: Dysbiosis OR Dysbiosis OR Dysbiosis; “Gastrointestinal Microbiome” OR “Gastrointestinal Microbiome” OR “Gastrointestinal Microbiome”; “neurodegenerative diseases” OR “Neurodegenerative Diseases” OR “Enfermedades Neurodegenerativas”. Using the Boolean operator “AND”. RESULTS: Through the analyzed studies it was found that the gut microbiota has an influence on the gut-brain relationship, having an association between neurodegenerative diseases and the imbalance of the gut microbiota; dysbiosis exerts a negative impact on the host’s health, such that the use of probiotics improves neurodegeneration, and a good diet directed to the gut may offer significant benefits for the aspect of diseases, revealing a new potential as a therapy in favor of the health of these individuals. CONCLUSION: Based on the studies reviewed, it is possible to conclude that there is a relationship of influence between the gut-brain axis, which can result in diseases. In relation to neurodegenerative diseases, this relationship occurs through the vagus nerve, concomitant to the action of neurotransmitters resulting from the intestinal microbiota, and it is important to carry out further studies in order to study this relationship and expand knowledge on this subject for the health area, since understanding the mechanisms behind the process of intestinal dysbiosis and its relationship with the onset and progression of neurodegenerative diseases can stimulate prevention strategies and therapies for such therapies.

Keywords: Dysbiosis; Gastrointestinal Microbiome; Neurodegenerative Diseases.

1. INTRODUÇÃO

A microbiota intestinal proporciona diversos benefícios, sendo importante mencionar seu papel modulador no eixo cérebro-intestino-microbiota (ZHANG et al, 2021). Alguns estudos demonstram existir comunicação entre o trato gastrointestinal, a microbiota presente e o sistema nervoso central, sendo que em um indivíduo saudável existe uma relação harmoniosa no qual todos exercem funções e sofrem influência deles, essa comunicação ocorre por meio do sistema nervoso entérico (SNE), localizado na parede do intestino e que permite conexões com os sistemas endócrino, autônomo e imunológico. (WANG et al, 2019). Estima-se que o intestino humano adulto possui mais de meio bilhão de neurônios e é por meio desse sistema que ocorrem as diversas funções exercidas pelo intestino. Nesse sentido, quando ocorre desequilíbrio em algum dos eixos, há consequências no demais, o que pode levar ao desenvolvimento de doenças (FAVERO et al, 2022).

O desequilíbrio da microbiota intestinal provoca a predominância de certas espécies patogênicas, afetando as funções fisiológicas exercidas pela microbiota normal. No caso da microbiota intestinal ocorre alterações na digestão de alimentos e na modulação de respostas imunológicas, uma vez que, em indivíduos saudáveis, a microbiota intestinal possui uma ampla quantidade de bactérias das classes Erysipelothrix e Clostridia, consideradas anti-inflamatórias e, dependendo do desequilíbrio outros sistemas podem sofrer alterações (KESHAVARZIAN et al, 2015). Relacionado ao SNC, a disbiose atua ativando o sistema imunológico e estimulando processos neuroinflamatórios comuns nas DN, como Doença de Alzheimer (DA) e Doença de Parkinson (DP). Nessa perspectiva a disbiose tem impacto na atividade e transmissão neuronal, bem como em diversos comportamentos do hospedeiro, além de contribuir para a infiltração de células imunes periféricas (ZHOU, et al. 2021).

A alimentação desregrada e a alta ingestão de alimentos industrializados, possibilita o aparecimento de desordens na função intestinal, como a disbiose, de tal modo que estudos em humanos e com modelos animais indicam que dietas com uma alimentação balanceada podem proporcionar benefícios, restabelecendo a eubiose intestinal (MARTINEZ et al, 2020). Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar a associação entre a disbiose da microbiota intestinal e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas.

2. METODOLOGIA

Trata-se de revisão integrativa da literatura realizada no mês de março de 2023, que se utiliza de uma metodologia exploratória e descritiva (PEREIRA, et al., 2018). Engloba etapas, como, estabelecimento do tema e dos critérios para a seleção das fontes que serão utilizadas, análise de dados, seleção de material temático, interpretação de resultados e apresentação dos aspectos relevantes obtidos com a revisão. 

Inicialmente, foram pesquisados estudos nas bases de dados eletrônicas: Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline). Inicialmente foram selecionados os seguintes descritores: Disbiose OR Dysbiosis OR Disbiosis; “Microbioma Gastrointestinal” OR “Gastrointestinal Microbiome” OR “Microbioma Gastrointestinal”; “Doenças Neurodegenerativas” OR “Neurodegenerative Diseases” OR “Enfermedades Neurodegenerativas”.Utilizando o operador booleano “AND”. Os dados foram organizados durante a revisão de literatura de forma a elencar os estudos relacionados à temática em questão, a filtragem dos artigos encontrados teve como critério de inclusão, artigos nos últimos 10 anos (2013 a 2023), nos idiomas: inglês, espanhol e português, sendo os tipos de documentos: estudo observacional; estudo de etiologia, estudo diagnóstico, estudo prognóstico, estudo de fatores de risco; estudo de rastreamento e ensaio clínico controlado; e como critério de exclusão, foram descartados os artigos que não contemplassem a pergunta de pesquisa, publicações de teses e dissertações,  artigos em outros idiomas, textos antes de 2013, e artigos de revisão.  Após essa filtragem ficou disponível 86 artigos, sendo que após leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 16 artigos que mais se encaixavam na proposta desse estudo para compor a presente revisão, ademais foi realizado e excluído textos em duplicação.

O estudo dispensou submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, por tratar-se de uma pesquisa com dados secundários e de domínio público, assim, não envolvendo nenhuma pesquisa clínica com seres humanos e animais.

Figura 1: Fluxograma esquematizando a metodologia do estudo

Fonte: Autores, 2023.

TABELA 1: Artigos selecionados

ArtigoBase de dadosAno de publicação
DINAN, T., CRYAN, J. Brain–gut–microbiota axis — mood, metabolism and behaviour. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 14, 69–70, 2017.PUBMED2017
DINAN, T.G. et al. Collective unconscious: how gut microbes shape human behavior. J Psychiatr Res. Apr; 63:1-9. 2015.LILACS2015
FAVERO, Francesco et al. A Metabologenomic approach reveals alterations in the gut microbiota of a mouse model of Alzheimer’s disease. PloS one, v. 17, n. 8, p. e0273036, 2022.PUBMED2022
GALLOP, Amy et al. The role of the gut microbiome in Parkinson’s disease. Journal of Geriatric Psychiatry and Neurology, v. 34, n. 4, p. 253-262, 2021.PUBMED2021
JENA, P.K.; Sheng, L.; Di Lucente, J.; Jin L.‐W.; Maezawa, I.; Wan, Y.-Jy. Dysregulated bile acid synthesis and dysbiosis are implicated in Western diet induced systemic inflammation microglial activation and reduced neuroplasticity. FASEB Journal. 32 2866-2877 (2018)PUBMED2018
KESHAVARZIAN, Ali et al. Colonic bacterial composition in Parkinson’s disease. Movement Disorders, v. 30, n. 10, p. 1351-1360, 2015.LILACS2015
MARTINEZ, Denise de Carvalho Lima et al. Microbiota intestinal, disbiose, nutrição e doença de Alzheimer: existe alguma relação?. 2020.LILACS2020
ROWIN, Julie e cols. Inflamação intestinal e disbiose na doença do neurônio motor humano. Relatórios fisiológicos , v. 5, n. 18, pág. e13443, 2017.PUBMED2017
SUN, Meng-Fei et al. Neuroprotective effects of fecal microbiota transplantation on MPTP-induced Parkinson’s disease mice: Gut microbiota, glial reaction and TLR4/TNF-α signaling pathway. Brain, behavior, and immunity, v. 70, p. 48-60, 2018.PUBMED2018
UMANETS, O. A contribuição do processo inflamatório nas doenças neurodegenerativas: Eixo cérebro-intestino-microbiota e os TLRs na doença de Parkinson. FCS – DCM | Dissertações de Mestrado e Teses de Doutoramento, p. 20-21, 2 jun. 2019.LILACS2019
WANG, Xinyi et al. Sodium oligomannate therapeutically remodels gut microbiota and suppresses gut bacterial amino acids-shaped neuroinflammation to inhibit Alzheimer’s disease progression. Cell research, v. 29, n. 10, p. 787-803, 2019.PUBMED2019
WESTFALL, S.; Iqbal, U.; Sebastian, M. & Pasinetti, G.M. Gut microbiota mediated allostasis prevents stress-induced neuroinflammatory risk factors of Alzheimer’s disease. Progress in Molecular Biology and Translational Science 2019; 168:147-181. doi:10.1016/bs.pmbts.LILACS2019
ZERAATI, Maryam et al. Gut microbiota depletion from early adolescence alters adult immunological and neurobehavioral responses in a mouse model of multiple sclerosis. Neuropharmacology, v. 157, p. 107685, 2019.

PUBMED
2019
ZHAI, Chao-Di et al. Intestinal microbiota composition in patients with amyotrophic lateral sclerosis: establishment of bacterial and archaeal communities analyses. Chinese Medical Journal, v. 132, n. 15, p. 1815-1822, 2019.LILACS2019
ZHANG, Yongguo et al. Aberrant enteric neuromuscular system and dysbiosis in amyotrophic lateral sclerosis. Gut Microbes, v. 13, n. 1, p. 1996848, 2021PUBMED2021
ZHOU, Yunzhe et al. Gut microbiota changes and their correlation with cognitive and neuropsychiatric symptoms in Alzheimer’s disease. Journal of Alzheimer’s Disease, v. 81, n. 2, p. 583-595, 2021.LILACS2021

Fonte: Autores, 2023.

3. RESULTADOS

Zhou et al., 2021 e Wang et al., 2019, concordam que a progressão da DA está associada à alteração da microbiota intestinal e infiltração de células imunes, de tal forma que uma intervenção alimentar probiótica direcionada ao intestino podem trazer benefícios para os portadores da doença, culminando na menor expressão de citocinas pró-inflamatórias. Para esses autores a evolução da DA é acompanhada por redução da diversidade de espécies de microrganismos comensais que habitam o TGI, o que provoca o desequilíbrio na microbiota, denominado disbiose, sendo que esse desequilíbrio provoca aumento da permeabilidade da barreira intestinal, o que compromete as vias de comunicação do eixo intestino-cérebro, aumentando o número de citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para aumento da neuroinflamação. A disbiose é um dos elementos que pode estar associado à DA e a composição da MI pode ser modulada por alterações nutricionais e hábitos alimentares (JENA et al., 2018). WESTFALL et al. (2019) propõem o uso de microbiota modificativa intestinal, uma combinação de probióticos e prebióticos, para aliviar fatores de risco induzidos pelo estresse que podem aumentar os riscos de DA. A justificativa para esse tipo de intervenção é que metabólitos bioativos derivados de simbióticos podem aumentar a integridade da barreira epitelial intestinal, impedindo a infiltração de peptídeos bacterianos e outras substâncias imunoativas.

De acordo com Sun et al., 2018, pessoas com Parkinson mostram uma população de microrganismos desequilibrada e uma inflamação gastrointestinal, em que as bactérias benéficas como as Prevotellaceae encontram-se diminuídas e as patogênicas como Proteobacteria, Enterobacteriaceae, Escherichia sp aparecem aumentadas. A doença de Parkinson ocorre devido a diminuição dos neurotransmissores dopaminérgicos, se iniciando com uma sensação de fadiga, acompanhada de tremores, rigidez e bradicinesia. Com o passar do tempo há um declínio no desempenho motor, tornando-se difícil a realização de algumas atividades ou impossibilitando as suas execuções, até acarretar a incapacidade grave no período de 10 e 15 anos, comprometendo a qualidade de vida dos portadores dessa doença (KESHAVARZIAN et al, 2015). Alguns estudos encontraram a presença de corpos de lewy no sistema nervoso entérico antes do aparecimento dos mesmos no SNC, sugerindo que a doença possa ter seu início no intestino, e que em seguida atingisse áreas do encéfalo, através principalmente do nervo vago, pois alguns testes mostraram grande acúmulo da proteína alfa-sinucleína no SNE (Sistema Nervoso Entérico), e posteriormente, esta proteína foi transportada até o SNC, ocasionando uma neuroinflamação. O nervo vago participa da inervação parassimpática de vários órgãos, incluindo o intestino, estudo indicam que os microrganismos entéricos produzem alfa-sinucléina e que toma forma de prião e chega ao nervo vago, acumulando-se na substância nigra (DINAN; CRYAN; 2017). Nesse sentido, atua como um agente infeccioso que transmite a doença de célula a outra. Além disso, é conhecido na literatura que antes mesmo das alterações motoras da doença, o organismo começa a sofrer alterações gastrointestinais, como a constipação (UMANETS, 2019). Para Gallop et al., 2021, existe uma associação entre as alterações microbianas e a DP. Alterações microbianas, alterações nos metabólitos microbianos (aumento de LPS e diminuição de SCFA) e aumentos nas citocinas da inflamação. Além da DA e Parkinson outras doenças neurodegenerativas também guardam relação com desequilíbrio da microbiota intestinal, Rowin et al., 2017, por exemplo percebeu que nos pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica tiveram alteração em seu microbioma intestinal caracterizado por uma baixa diversidade do microbioma, em comparação com coortes saudáveis com abundância relativamente intacta.

Figura 2: Caminho entre intestino e cérebro, ocorrendo através do nervo vago (x) local onde a alfa-sinucleína faz seu trajeto até o SNC.

Fonte: DINAN et al., 2015

ArtigoDoençaObjetivo do artigoResultados
WANG, Xinyi et al. Sodium oligomannate therapeutically remodels gut microbiota and suppresses gut bacterial amino acids-shaped neuroinflammation to inhibit Alzheimer’s disease progression. Cell research, v. 29, n. 10, p. 787-803, 2019.Doença de AlzheimerInvestigar a ligação mecanicista entre microbiota intestinal e progressão da DA, e explorar o potencial estratégias de intervenção.A progressão da Doença de Alzheimer está associada à alteração da microbiota intestinal e infiltração de células imunes
ZHAI, Chao-Di et al. Intestinal microbiota composition in patients with amyotrophic lateral sclerosis: establishment of bacterial and archaeal communities analyses. Chinese Medical Journal, v. 132, n. 15, p. 1815-1822, 2019.Esclerose Lateral AmiotróficaAvaliar a composição bacteriana e arqueológica da flora intestinal e o correspondente desempenho do metabolismo desses microrganismos em amostras fecais de pacientes com ELA.A abundância relativa de microrganismos benéficos e nocivos, respectivamente, mostrou tendência de diminuição e aumento em pacientes com ELA.
GALLOP, Amy et al. The role of the gut microbiome in Parkinson’s disease. Journal of Geriatric Psychiatry and Neurology, v. 34, n. 4, p. 253-262, 2021.Doença de ParkinsonEstudar a relação entre a microbiota intestinal na doença de ParkinsonFoi encontrada uma associação entre as alterações microbianas e a DP. Alterações microbianas geram aumento das citocinas da inflamação e oferecem potenciais alvos terapêuticos.
ZERAATI, Maryam et al. Gut microbiota depletion from early adolescence alters adult immunological and neurobehavioral responses in a mouse model of multiple sclerosis. Neuropharmacology, v. 157, p. 107685, 2019.Esclerose múltiplaEstudar a depleção bacteriana intestinal do início da adolescência nas respostas imunológicas e neurocomportamentais de adultos em camundongos com autoimune encefalomielite experimental (EAE).O tratamento prolongado com antibióticos pode alterar as respostas imunológicas e neurocomportamentais em um modelo de camundongo de esclerose múltipla devido às alterações na microbiota intestinal desses animais.

4. CONCLUSÃO

A microbiota intestinal é constituída por um conjunto de microrganismos, que são adquiridos ainda na vida intrauterina e que ao longo do tempo sofrem modificações. Dessa forma, baseado nos estudos analisados, é possível concluir que existe uma relação de influência entre o eixo intestino-cérebro, o que pode resultar em doenças. Dessa forma, fica evidente que modificações na microbiota intestinal tem uma forte relação com o SNC. Fatores ambientais, microrganismos patogênicos ou toxinas têm potencial de desencadear alterações, o que pode levar a uma inflamação.  Em relação às doenças neurodegenerativas essa relação se dá principalmente através do nervo vago, concomitante a atuação de neurotransmissores decorrentes da microbiota intestinal, sendo importante a realização de mais estudos com o intuito de estudar essa relação e ampliar o conhecimento sobre esse tema para a área da saúde, sendo que o entendimento dos mecanismos por trás do processo de disbiose intestinal e sua relação com o desencadeamento e progressão de doenças neurodegenerativas, as intervenções que corrijam a disbiose podem oferecer tratamentos seguros e eficazes para diminuir ou retardar a progressão de sintomas dessas patologias.

Referências

DINAN, T., CRYAN, J. Brain–gut–microbiota axis — mood, metabolism and behaviour. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 14, 69–70, 2017.

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FAVERO, Francesco et al. A Metabologenomic approach reveals alterations in the gut microbiota of a mouse model of Alzheimer’s disease. PloS one, v. 17, n. 8, p. e0273036, 2022.

GALLOP, Amy et al. The role of the gut microbiome in Parkinson’s disease. Journal of Geriatric Psychiatry and Neurology, v. 34, n. 4, p. 253-262, 2021.

JENA, P.K.; Sheng, L.; Di Lucente, J.; Jin L.‐W.; Maezawa, I.; Wan, Y.-Jy. Dysregulated bile acid synthesis and dysbiosis are implicated in Western dietinduced systemic inflammation microglial activation and reduced neuroplasticity. FASEB Journal. 32 2866-2877 (2018)

KESHAVARZIAN, Ali et al. Colonic bacterial composition in Parkinson’s disease. Movement Disorders, v. 30, n. 10, p. 1351-1360, 2015.

MARTINEZ, Denise de Carvalho Lima et al. Microbiota intestinal, disbiose, nutrição e doença de Alzheimer: existe alguma relação?. 2020.

ROWIN, Julie e cols. Inflamação intestinal e disbiose na doença do neurônio motor humano. Relatórios fisiológicos , v. 5, n. 18, pág. e13443, 2017.

SUN, Meng-Fei et al. Neuroprotective effects of fecal microbiota transplantation on MPTP-induced Parkinson’s disease mice: Gut microbiota, glial reaction and TLR4/TNF-α signaling pathway. Brain, behavior, and immunity, v. 70, p. 48-60, 2018.

UMANETS, O. A contribuição do processo inflamatório nas doenças neurodegenerativas: Eixo cérebro-intestino-microbiota e os TLRs na doença de Parkinson. FCS – DCM | Dissertações de Mestrado e Teses de Doutoramento, p. 20-21, 2 jun. 2019.

WANG, Xinyi et al. Sodium oligomannate therapeutically remodels gut microbiota and suppresses gut bacterial amino acids-shaped neuroinflammation to inhibit Alzheimer’s disease progression. Cell research, v. 29, n. 10, p. 787-803, 2019.

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ZERAATI, Maryam et al. Gut microbiota depletion from early adolescence alters adult immunological and neurobehavioral responses in a mouse model of multiple sclerosis. Neuropharmacology, v. 157, p. 107685, 2019.

ZHAI, Chao-Di et al. Intestinal microbiota composition in patients with amyotrophic lateral sclerosis: establishment of bacterial and archaeal communities analyses. Chinese Medical Journal, v. 132, n. 15, p. 1815-1822, 2019.

ZHANG, Yongguo et al. Aberrant enteric neuromuscular system and dysbiosis in amyotrophic lateral sclerosis. Gut Microbes, v. 13, n. 1, p. 1996848, 2021

ZHOU, Yunzhe et al. Gut microbiota changes and their correlation with cognitive and neuropsychiatric symptoms in Alzheimer’s disease. Journal of Alzheimer’s Disease, v. 81, n. 2, p. 583-595, 2021.


1Graduanda em Enfermagem pela Faculdade São Francisco da Paraíba, Cajazeiras, Paraíba, Brasil.
2,8Graduando em Medicina pela Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí-FAHESP-Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba-IESVAP, Parnaíba-PI, Brasil.
3,11,13Graduanda em Medicina pela Faculdade de Enfermagem nova Esperança-FACENE, Mossoró-RN, Brasil.
4Biomédica graduada pelo Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, Santarém-PA, Brasil.
5Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, Brasil.
6,7Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Tocantinense Presidente Antonio Carlos- UNITPAC, Araguaína- TO, Brasil.
9Graduando em Medicina pela Universidade Do Estado Do Amazonas, Manaus-AM, Brasil.
10Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV).
12Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Imperatriz-MA, Brasil.
14 Graduando em Medicina pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau – SC, Brasil.