A DANÇA DE MASSA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: (RE)CRIAÇÃO OU REPRODUÇÃO?

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7275223


Ana Tereza Viana de Araújo Santos1
Gledson Pedro da Silva2
Prof.ª Dr.ª Amanda Micheline Amador de Lucena 3


Resumo

A Indústria Cultural tem o poder de padronizar os gostos, modelar comportamento, alienar e massificar a forma de pensar e agir, através dos meios de comunicação de massa e, atualmente, pelas mídias sociais. Esse padrão de semelhança irá se refletir em diversos meios da sociedade, inclusive no corpo que dança. E para transcorrer sobre a temática, se faz necessário a compreensão da dança enquanto conteúdo das aulas de Educação Física e da dança de massa como expressão cultural de um povo, que precisa se fazer presente no âmbito escolar. A partir desse contexto, a pesquisa tem o propósito de identificar o estilo de dança que predomina entre os estudantes, bem como, identificar se o professor de Educação Física estimula a (re)criação ou a reprodução das danças de massa. A partir da pesquisa de campo de caráter descritivo, os dados foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. O campo da pesquisa foi uma Escola Pública localizada no município de Paulista-PE, representada por 70 estudantes dos 1ºanos do ensino médio. Utilizou-se como instrumento de coletas dos dados um questionário semiestruturado. A partir dos dados coletados, o funk, estilo de maior preferência entre os estudantes, foi ressignificado durante as aulas em que os estudantes foram estimulados a criar e a recriar as coreografias. Desta forma, pode-se concluir que o ensino da dança de massa deve se solidificar no ambiente escolar das várias escolas do Brasil, conduzindo os estudantes a refletir e assumir as suas próprias escolhas sobre as práticas dançantes rompendo com os movimentos padronizados das danças da moda.

Palavras-chave: Dança de massa. Processo de ensino-aprendizagem. Movimento consciente.

Abstract

The Cultural Industry has the power to standardize tastes, model behavior, alienate and massify the way of thinking and acting, through the mass media and, currently, through social media. This pattern of similarity will be reflected in various environments of society, including the dancing body. And in order to discuss the theme, it is necessary to understand dance as a content of Physical Education classes and mass dance as a cultural expression of a people, which needs to be present in the school environment. From this context, the research aims to identify the dance style that predominates among students, as well as to identify whether the Physical Education teacher stimulates the (re)creation or reproduction of mass dances. From the descriptive field research, the data were analyzed in a qualitative and quantitative perspective. The field of research was a Public School located in the city of Paulista-PE, represented by 70 students from the 1st years of high school. A semi-structured questionnaire was used as a data collection instrument. From the data collected, funk, the most preferred style among students, was re-signified during classes in which students were encouraged to create and recreate choreographies. In this way, it can be concluded that the teaching of mass dance must be solidified in the school environment of the various schools in Brazil, leading students to reflect and assume their own choices about dancing practices, breaking with the standardized movements of fashionable dances.

Keywords: Mass dance. Teaching-learning process. Conscious movement.

Introdução

A dança, como forma de expressão corporal, surgiu com a necessidade de comunicação entre o homem. A partir desse processo histórico surge a Educação física, enquanto área do conhecimento, que se apropria da dança em forma de conteúdo, e que deve estar presente em todos os ciclos de escolarização. (LIMA, 2017)

A dança como parte integrante da disciplina de Educação Física na escola tem sido tratada de maneira limitada e de menor importância quando comparada a prática do esporte como conteúdo. Conforme ressalta os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio (2000), a influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Sendo assim, percebe-se que muitos professores de Educação Física enfatizam a importância, a prática e os benefícios do esporte, entretanto essa ênfase ainda é tímida quando se trata da dança nas aulas de Educação Física, que na maioria das vezes, limita-se a reprodução das danças de massa. Como ratifica Bergero (2006, p.10) “qualquer que seja o tratamento dado na Educação Física Escolar ao conteúdo dança, ele geralmente acontece sob a influência sufocante dos meios de comunicação de massa, reproduzindo as danças da moda”.

A Indústria Cultural tem o poder de padronizar os gostos, modelar comportamento, alienar e massificar a forma de pensar e agir, por meio dos meios de comunicação de massa e, atualmente, pelas mídias sociais. Dessa forma, ser parecido com o que é exposto pela mídia é a melhor forma de fazer parte de um grupo. Devido a essa padronização, Bergero (2006) classifica as danças da moda nas seguintes modalidades: 1) as danças de origem estrangeira, fundamentalmente norte-americanas; 2) no plano nacional, grupos de música que surgem em um período curto de tempo, logo desaparecendo e sendo substituídos por outros; 3) também os meios locais têm uma forte influência nos gostos e preferências dos/as alunos/as, sobretudo em camadas sociais médio-baixas.

Esse padrão de semelhança irá se refletir em diversos meios da sociedade, inclusive no corpo que dança. “Vemos que constantemente são produzidas e transmitidas pelas grandes mídias um modelo de dança que banaliza os corpos com seus movimentos estereotipados e com fortes apelos sexuais.” (NEPOMUCENO, 2010, p.4). As danças coreografadas pelos grupos de Axé, Pagode, Funk, Suingueira, Brega, entre outros, e difundidas pelos meios de comunicação em massa, em especial, pela televisão e pela internet, atinge o público jovem, predominantemente, que possui a necessidade de expressão e autoafirmação.

E para transcorrer sobre a temática, se faz necessário a compreensão da dança enquanto conteúdo das aulas de Educação Física e presente como expressão cultural de um povo. Deste modo, apresentam-se contextos históricos, culturais e sociais, tais como o trato com a história, estética, ética, música, crítica, apreciação etc. “Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmissão de sentimentos, emoções da afetividade vivida nas esferas da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hábitos, da saúde, da guerra etc.” (SOARES et al.,1992, p.82).

Conforme Anjos e Monte (2018) o estudante precisa ser encorajado a perceber-se como um ser autônomo em suas tomadas de decisões, para que não seja apenas produto final de uma história tradicional no que se refere à educação, pois está na escola para construir conhecimento, aprimorando conceitos que já possui consigo.

No entanto, a cultura escolar ainda mantém um modelo reprodutor e pouco reflexivo, o que dificulta o desenvolvimento de uma compreensão mais profunda sobre o papel da dança na escola. A partir desse contexto, surge o seguinte questionamento: “Considerando a riqueza cultural e os aspectos que podem ser explorados na sonoridade, expressão corporal da dança de massa nas aulas de Educação Física, questiona-se se os professores de Educação Física têm estimulado, em sua prática, a (re)criação ou a reprodução das danças de massa divulgadas nas mídias?” Assim, delineou-se as seguintes hipóteses que foram testadas a partir do estudo de campo: i) Os estudantes do ensino médio têm boa aceitação para desenvolver atividades envolvendo as danças de massa por fazer parte da realidade e do gosto musical da maioria; ii) O professor de Educação Física tem estimulado os estudantes a (re)criarem coreografias com movimentos livres e espontâneos dando a possibilidade de uma nova expressão para a dança de massa.

Nesse sentido, a pesquisa tem o propósito de identificar o estilo de dança que predomina entre os estudantes do 1º ano da EREM Escritor José de Alencar, bem como, identificar nas aulas de Educação física se o professor estimula a (re)criação ou a reprodução das danças de massa. A partir da pesquisa de campo de caráter descritivo, os dados foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. O campo da pesquisa foi uma Escola Pública localizada no município de Paulista-PE. A pesquisa foi representada por 70 estudantes dos 1ºanos do ensino médio. Utilizou-se como instrumento de coletas dos dados um questionário semiestruturado.

A partir dos dados coletados, o funk, estilo de maior preferência entre os estudantes, foi ressignificado durante as aulas em que os estudantes foram estimulados a criar e a recriar as coreografias. Desta forma, o ensino da dança de massa se solidifica no ambiente escolar, conduzindo os estudantes a refletir e assumir as suas próprias escolhas sobre as práticas dançantes rompendo com os movimentos padronizados das danças da moda, levando-os a criação e a expressão livre e consciente do movimento.

A dança de massa no espaço escolar à luz da Proposta Curricular das Escolas de Referência em Ensino Médio-PE

A dança também está presente, nas salas, corredores, pátios, áreas de acesso, quadras. E lá estão as possibilidades de dança que vimos na rua, na tv, no cinema, nas festas populares, e até mesmo ali, nas escolas. Mas quase nunca nas salas de aula, como conhecimento integrante da cultura escolar (BRASILEIRO, 2009).

A dança promove problematizações que geram conhecimento e que podem contribuir para que as mediações entre docente, alunos, objetos propositores, espaços instigantes garantam os exercícios das relações e das infinitas descobertas do movimento e dos sentidos do/no corpo que se move e dança na escola e em qualquer lugar (ALVES, 2022, p.405)

É nesse sentido que as Escolas de Referência em Ensino Médio procuram garantir um espaço para o trabalho com a dança de massa. Por meio dos documentos legais, entre eles, os Orientadores e os Parâmetro Curriculares das Escolas de Referência em Ensino Médio os professores de Educação Física podem trabalhar a dança de massa como tema da Cultura Corporal. Sendo assim, “a dança na escola se torna fundamental para estimular a capacidade de crítica das práticas corporais que permeiam a sociedade.” (CALDAS, 2022, p. 172)

Não se pode mais ignorar o papel social, cultural e político da cultura corporal. Apenas uma visão histórica ingênua poderia entender que a dança não passa de “uns passinhos a mais ou a menos nas vidas das pessoas” (MARQUES, 2001, p.21).Todo conhecimento pode educar, tanto o conhecimento popular como o conhecimento científico. O que os diferenciam são os seus sentidos e significados e a forma como são estruturados. Nesse contexto, a escola é o local que irá sistematizar o conhecimento, com o intuito de formar cidadãos que compreendam as relações de desigualdade social, que saibam identificar o que influencia na construção do conhecimento do senso comum e do científico, e que, compreenda que a dança pode contribuir para a formação integral do estudante, indo além dos aspectos coreográficos.

Para isso, a Proposta Curricular para o Ensino Médio Integral apresenta-se como um referencial norteador para o trabalho pedagógico dos educadores das escolas de Referência e Técnicas de Ensino Médio da Secretaria Executiva de Educação Profissional da Secretaria de Educação de Pernambuco, respeitando as concepções e pluralidade cultural de cada área do conhecimento. Propõe-se a servir de estímulo e apoio à reflexão sobre a prática pedagógica do professor, do planejamento de suas aulas e também para o desenvolvimento do currículo da escola. (PERNAMBUCO, 2010)

A participação representativa de professores das diferentes áreas do conhecimento, contribuiu para a reelaboração dessa proposta que descreve as competências e habilidades,conteúdos e formas de tratamento dos conteúdos, previstas pelas finalidades do ensino médio estabelecidas pela lei:

I – Desenvolvimento da capacidade de aprender e continuar aprendendo, da autonomia intelectual e do pensamento crítico, de modo a ser capaz de prosseguir os estudos e de adaptar-se com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento;

II – Constituição de significados socialmente construídos e reconhecidos como verdadeiros sobre o mundo físico e natural, sobre a realidade social e política;

III – Compreensão do significado das ciências, das letras e das artes e do processo de transformação da sociedade e da cultura, em especial as do Brasil, de modo a possuir as competências e habilidades necessárias ao exercício da cidadania e do trabalho;

IV – Domínio dos princípios e fundamentos científico-tecnológicos que presidem a produção moderna de bens, serviços e conhecimentos, tanto em seus produtos como em seus processos, de modo a ser capaz de relacionar a teoria com a prática e o desenvolvimento da flexibilidade para novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

V – Competência no uso da língua portuguesa, das línguas estrangeiras e outras linguagens contemporâneas como instrumentos de comunicação e como processos de constituição de conhecimento e de exercício de cidadania. (PERNAMBUCO, 2010, p. 8)

A Proposta Curricular para o Ensino Médio Integral buscou uma aproximação entre às diretrizes curriculares legais nacionais e estaduais, os conhecimentos que os educandos trazem e os conhecimentos acadêmicos, mediados pelo professor em sala de aula. Está fundamentada nos documentos legais (Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, Base Curricular Comum do Estado de Pernambuco – BCC, Orientações Curriculares para o Ensino Médio – OCM, Orientações Teórico-Metodológicas do Ensino Médio – OTM) que têm como objetivos:

Contribuir, orientar os sistemas de ensino, na formação e atuação dos professores; Servir como referencial à avaliação de desempenho dos alunos; Disponibilizar uma base curricular que sirva de referência à formação educacional dos estudantes, com vistas a contribuir para responder aos desafios da educação do Estado; Apoiar o trabalho pedagógico do professor, apresentando as orientações organizadas em unidades didáticas como referências básicas possibilitadoras da construção de aprendizagens significativas dos estudantes; Oferecer alternativas didático-pedagógicas, para a organização do trabalho educacional; Estruturar o currículo do Ensino Médio. (PERNAMBUCO, 2010, p. 9)

Considerando-se que a LDBEN/96 toma o Ensino Médio como etapa final da educação básica, essa fase de estudos pode ser compreendida como o período de consolidação e aprofundamento de muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo do ensino fundamental.

Espera-se, portanto, dessa etapa de formação o desenvolvimento de capacidades que possibilitem ao estudante: I – Avançar em níveis mais complexos de estudos; II – Integrar-se ao mundo do trabalho, com condições para prosseguir, com autonomia, no caminho de seu aprimoramento profissional; III – Atuar, de forma ética e responsável, na sociedade, tendo em vista as diferentes dimensões da prática social.

Sob essa lógica, e levando em consideração os documentos que embasam o ensino médio, o professor da área de linguagens e códigos, na qual inclui o professor de Educação Física, deve direcionar sua prática pedagógica para o alcance de competências e habilidades que serão importantes para a formalização dos conteúdos curriculares para a constituição da identidade e o exercício da cidadania.

As escolas certamente identificarão nesta área as disciplinas, atividades e conteúdos relacionados às diferentes formas de expressão das quais a língua portuguesa é imprescindível. Mas é importante destacar que o agrupamento das linguagens busca estabelecer correspondência não apenas entre as formas de comunicação – das quais as artes, as atividades físicas e a informática fazem parte inseparável – como evidenciar a importância de todas as linguagens enquanto constituintes dos conhecimentos e das identidades dos alunos, de modo a contemplar as possibilidades artísticas, lúdicas e motoras de conhecer o mundo. (PERNAMBUCO, 2010, p. 10)

Uma educação de qualidade é pressuposto para a formação integral do cidadão, cujo maior foco é assegurar que os discentes tenham condições de fazer uma “leitura crítica da realidade” que os leve, por si mesmos, a usar o conhecimento como instrumento de aprendizagem ao seu alcance de forma útil e significativa. Desse ponto de vista, em síntese, o ensino médio deve atuar de forma que garanta ao estudante a preparação básica para o prosseguimento dos estudos, para a inserção no mundo do trabalho e para o exercício cotidiano da cidadania, em sintonia com as necessidades político-sociais de seu tempo.

De acordo com Laban (1990) a dança na educação tem por objetivo ajudar na relação corporal com a totalidade da existência. Entende-se que o seu ensino possui diversidade de elementos a serem desenvolvidos dentro e fora da escola e, como forma significativa de conhecimento para a formação do ser humano é que se compreende a necessidade de desenvolvê-la nas aulas de educação física.

A dança pode ser trabalhada pelos professores de Educação Física com uma proposta educativa, enfatizando movimentos livres, espontâneos e carregados de expressão e sentimento, rompendo com uma formação limitada, técnica e reprodutora da mídia. Segundo Rinaldi (2007) as atividades devem levar os alunos a desenvolverem suas habilidades e conhecimentos para poderem criar, modelar e estruturar movimentos dançantes que expressem seus sentimentos e ideias. Assim, serão capazes de criar coreografias mais complexas a partir de temas relacionados ao seu cotidiano, sendo direcionado para a educação do ser social, por meio da instrumentalização e da construção do conhecimento, pois os estudantes compreendem o mundo, mais por imagens e movimentos do que por palavras.

No processo de ensino-aprendizagem da dança, o professor pode fazer uso de diferentes estratégias metodológicas, no entanto, é necessário cuidado para não perder de vista o conteúdo educativo do processo vivenciado e não reforçar os modismos dos meios de comunicação de massa que possuem interesses comerciais vinculados com a indústria cultural. A dança da escola deve contribuir para despertar o senso crítico dos estudantes, para poderem compreender o que está por trás da mídia e por trás de um “simples passinho”.

Metodologia

O campo da pesquisa foi a Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar e fica situada na rua 52 s/n no bairro de Maranguape I, na cidade do Paulista, PE. Os participantes da pesquisa foram 70 (setenta) estudantes dos 1º anos do Ensino Médio. No presente estudo, o instrumento de pesquisa foi o questionário semiestruturados.

Esta pesquisa caracteriza-se como sendo de natureza básica, quanto aos procedimentos é uma pesquisa de campo de caráter descritivo. Silva et al. (2016, p. 221) afirma a importância da pesquisa descritiva uma vez que através dela, busca-se a descoberta e “análise de fenômenos procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los, procurando analisar fatos e/ou fenômenos, fazendo uma descrição detalhada da forma como tais fatos e fenômenos se apresentam”. Destaca-se que a referida pesquisa foi gerada a partir de dados oriundos da Dissertação de Mestrado da primeira Autora e o estudo de campo foi desenvolvido após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer número 5.246.951 autorizado em 16 de fevereiro de 2022)

Os dados obtidos no referido estudo foram analisados numa perspectiva qualiquantitativa. Por incluir os aspectos qualitativos e quantitativos das respostas apresentadas através dos questionários, essa abordagem contribuiu para a compreensão dos aspectos que permeiam o trabalho pedagógico com a dança de massa.

Resultados e discussões

A dança é importante para a formação do ser humano, na medida em que possibilita experiências para os estudantes, bem como proporciona novos olhares para o mundo, envolvendo a sensibilização e conscientização de valores, atitudes e reflexão das ações cotidianas na sociedade.

Fomentar a educação, por meio da dança escolar, não se resume nas apresentações em dia comemorativo, tampouco oferecer a ideia de que dançar se faz dançando, numa visão de dança apenas como passatempo, muito menos centralizada na espetacularização e no aprimoramento técnico (SBORQUIA e GALLARDO, 2006). A dança como uma forma de expressão corporal na escola vai muito além do ato de dançar, ela precisa assumir verdadeiramente seu papel educativo, a partir da leitura crítica do corpo que dança.

Nesse contexto, foi indagado aos educandos sobre sua preferência em relação ao estilo de dança. A partir desse conhecimento, será possível identificar se o trabalho com as danças de massas também faz parte do interesse dos discentes. E as repostas dos participantes estão apresentadas no Gráfico 1.

Gráfico 1. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar a respeito da preferência do estilo de dança. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

Com relação aos estilos de dança que fazem parte da preferência dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar, percebe-se no Gráfico 1 um perfil eclético, nos quais foram citados a Dança Gospel e Sertanejo com 5,7% da preferência cada uma, assim como, os estudantes que não têm nenhum estilo de dança preferido. 8,5% citaram outros estilos de dança como a dança cigana, dança clássica, dança africana e eletrônica. O TikTok Dance, um estilo novo que surgiu com grande alcance do público jovem, por meio da divulgação de passinhos, segue com 10%. O Pop/K-pop e o Samba/Pagode foram indicados por 15,7% dos estudantes. A Dança de rua, entre elas, o freestyle, o hip hop, o Trap, indicada por 21,4%. Ademais pode-se constatar que o maior percentual de estudantes (27,1%) prefere como estilo de dança, o funk e gêneros, brega funk, funk romântico, funk ostentação, funk carioca, entre outros.

A dança de massa nas suas diferentes expressões (dança de rua, samba/pagode, o pop/ K-pop, o funk) está presente na vida dos estudantes. Considerando que os participantes da pesquisa são do 1º ano do ensino médio e levam para a escola suas vivências, o professor precisa ressignificar e proporcionar novos olhares sobre os diferentes estilos de dança.

Como cita Gariba et al. (2007, p. 164) “a Educação Física, como área do conhecimento e disciplina curricular, não pode estar aquém de um saber sistematizado, contextualizando o indivíduo no seu próprio meio, por meio da teoria e da prática educacional.” Nesse propósito, a dança apresenta-se como uma das atividades completas por concorrer de forma acentuada para o desenvolvimento integral do ser humano.

A arte se manifesta de várias maneiras e quando é através do corpo o processo do início ao fim é concretizado na corporeidade, mesmo que às vezes apareça de uma maneira oculta, expressa em tintas, palavras ou acordes musicais (SOARES, 2005).

“A dança é um meio que a Educação Física tem, que se caracteriza por ser uma prática que preconiza o movimento e este requer elementos com ritmo, expressão e forma” (SILVA et al., 2012, p.43). A dança está relacionada ao movimento expressivo e tudo que o compõe, coreografia, ritmo, roupas/ padronização, letra da música, entre outros. Neste sentindo, os estudantes foram indagados sobre o que mais gosta na dança preferida (Gráfico 2).

Gráfico 2. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar a respeito do que mais gosta na dança escolhida. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

Com relação ao que os estudantes mais gostam na dança, percebe-se no Gráfico 2, que o ritmo é o que mais chama atenção na dança com a indicação de 65,7%. Em seguida, a coreografia, indicada por 30%. A roupa/ padronização e outros elementos com 11,4% e 8,5% respectivamente. Etimologicamente a palavra ritmo, vem do grego rythmós, que significa movimento ou fluxo regular. Segundo Andrade (1999), ritmo é toda e qualquer organização do movimento dentro do tempo. O autor ressalta ainda que o ritmo não faz parte apenas da música, o ritmo está ligado ao movimento.

A compreensão do que é ritmo, nos induz ao entendimento da importância de uma leitura crítica do corpo como expressão, da escuta rítmica e da compreensão intelectual da música. Assim, o ritmo como maior atrativo para os adolescentes na dança passa a ter significado dentro de um trabalho pedagógico a ser realizado no âmbito escolar.

Pode-se entender que a dança proposta nas aulas de Educação Física por serem intimamente relacionadas com a cultura dos jovens, aproxima mais os estudantes dessa linguagem. Apesar de todos os condicionantes sociais, que supervaloriza os esportes e os jogos como forma de atividade física prioritária na escola, e os estereótipos relacionados à dança, o trabalho pedagógico realizado pelo professor de Educação Física está incentivando os estudantes a participarem das aulas.

Como afirma Perrenoud (2000) para que o envolvimento do estudante aconteça, ele deve encontrar sentido no conhecimento aprendido e ter vontade de aprender, para isto, diversificar as estratégias é crucial. Para alcançar tal propósito é preciso que o estudante esteja envolvido em sua aprendizagem, assumindo o protagonismo desse processo. No qual o professor irá criar espaços para a tomada de decisões e solução de problemas. Para compreender melhor a proposta das aulas de Educação Física com a dança de massa, questionamos os estudantes se o professor estimulava a criação ou a reprodução das danças apresentadas na mídia (Gráfico 3).

Gráfico 3. Indicação dos estudantes da EREM Escritor José de Alencar a respeito da criação ou reprodução das danças apresentadas na mídia. Paulista-PE, 2022.

Fonte: Dados da Pesquisa de campo (2022)

Constata-se nos dados exibidos no Gráfico 3 que a maioria dos estudantes afirmaram que o professor de Educação Física estimula a criação das coreografias das danças de massa (91,4%), enquanto a reprodução das danças da mídia foi sinalizada por apenas 0,2%. A partir das indicações dos estudantes, é possível inferir que a prática pedagógica do professor procura incentivar a criação e o pensamento na elaboração coreográfica, quebrando o paradigma da reprodução midiática.

A dança na escola precisa romper com a padronização proposta pela indústria cultural. A leitura crítica do movimento e a compreensão do corpo como expressão, precisa fazer parte do processo de ensino-aprendizagem para levar os estudantes a compreender a dança nas suas diferentes dimensões e possibilidades. E como afirma Taffarel (1985) é por meio do ato criativo que o indivíduo poderá se afastar desse mundo padronizado e agir na tentativa de propor mudanças. É o que se propõe o processo de ensino-aprendizagem comprometido com a formação do estudante na sua inteireza.

Considerações Finais

A partir dos dados coletados junto aos educandos do 1ºano do ensino médio, e ao professor de Educação Física da Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar na etapa da pesquisa de campo foi possível conhecer as ações pedagógicas envolvendo a dança de massa nas aulas de Educação Física, as possibilidades e os desafios, para a formação integral do estudante.

A proposta curricular do ensino médio do Estado de Pernambuco assegura o ensino da dança de massa na disciplina de Educação Física no 1ºano do ensino médio, dentre outros estilos que poderão ser trabalhados. Destacamos que a dança de massa é definida como as danças que incluem ritmos variados, mas que são amplamente divulgadas na mídia e atualmente, na internet, por meio das redes socias, YouTube e aplicativos, como por exemplo, o TikTok. Essas danças ganham espaços na vida das pessoas que memorizam as coreografias e a reproduz, criando um ciclo que precisa ser repensando no âmbito escolar.

Conclui-se que as ações pedagógicas envolvendo a dança de massa nas aulas de Educação Física conseguiram despertar nos estudantes a participação no processo de construção de seu conhecimento, de modo que as vivências sociais fossem aproveitadas no desenvolvimento das aulas e ampliadas a partir do olhar crítico e da postura reflexiva diante do conteúdo dança.

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1 Mestranda pelo Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: anaterezav@gmail.com

2 Mestrando pelo Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: gledsonpedro.eremeja@gmail.com

3 Professora Doutora Orientadora do Curso em Ciências da Educação Veni Creator Christian University. E-mail: amandamicheline@hotmail.com