A CRIAÇÃO DE UM GRUPO DE GESTANTES E SUA TRANSIÇÃO PARA CONSULTAS COLETIVAS DE PRÉ-NATAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10976394


Ana Luísa Rocha Santos¹
Carolina Fernandes de Almeida²


RESUMO

Introdução: A garantia de acesso à assistência ao pré-natal na Atenção Primária à Saúde visa garantir a saúde do binômio mãe feto, contribuindo no âmbito da saúde coletiva, para redução nas taxas de mortalidade materna e neonatal. A organização das agendas dos profissionais e melhoria nos modelos de agendamento podem aumentar o acesso dos pacientes aos cuidados de saúde oferecidos na APS, mas também podem ser utilizadas outras estratégias que facilitem o acesso dos usuários aos serviços de saúde, por exemplo grupos operativos. Objetivo: Relatar a experiência vivida pela profissional médica residente no processo de transição de um grupo operativo de gestantes para consultas coletivas de pré-natal, além de documentar o impacto na agenda médica. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo tipo relato de experiência, sobre a criação do “grupo de gestantes/ pré-natal coletivo” em uma das equipes de Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde n° 5 do Arapoanga, região administrativa do Distrito Federal. Considerações finais: A iniciativa de criação do grupo de gestantes em uma equipe na APS não resolveu inicialmente o desafio imediato de falta de vagas na agenda médica, mas apresentou um impacto positivo na promoção da saúde materna, mostrando ser uma boa tática para induzir melhores práticas nos cuidados em saúde.

INTRODUÇÃO

Nos cuidados em saúde, a assistência ao Pré-Natal acompanha a mulher no período gestacional, o qual é marcado por diversas mudanças físicas e emocionais, caracterizando-se por ser um momento de angústia, expectativas e incertezas.¹ A adequada assistência ao Pré-Natal visa garantir a saúde do binômio mãe/feto, contribuindo, no âmbito da saúde coletiva, para a redução nas taxas de mortalidade materna e neonatal.² No Brasil, apesar da redução nestes indicadores nos últimos anos, seus valores ainda são elevados, quando comparados com países mais desenvolvidos.³ Considerando a necessidade de alcançar melhores índices, foi instituída em 2011 a Rede Cegonha, que tem também como objetivo assegurar melhoria no acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério e da assistência à criança.⁴

A garantia de acesso universal aos serviços de saúde é uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e direito constitucional dos cidadãos. Desde a criação do SUS, programas são desenvolvidos para promover a extensão de cobertura de acesso aos serviços de saúde.⁵ O acesso oportuno dos pacientes aos serviços é um dos temas mais discutidos no âmbito da saúde, e é uma das características que definem a qualidade dos sistemas de saúde.⁶ No Brasil, o acesso na Atenção Primária à Saúde (APS) é insuficiente, o que exige o desenvolvimento de estratégias para manejo das barreiras que atrapalham a acessibilidade.⁷ No geral, a assistência ao pré-natal deveria ter mais facilidade de acesso, por ser uma demanda programática, com agendamentos sem caráter de urgência. Garantir a manutenção de um acompanhamento gestacional adequado, permite trabalhar na prevenção de intercorrências, promoção da saúde, abordar situações especiais da gestação, orientar sobre a assistência ao parto e sobre as questões legais relacionadas à gestação, ao parto e ao puerpério.²

A organização das agendas dos profissionais e melhoria nos modelos de agendamento podem aumentar o acesso dos pacientes aos cuidados de saúde oferecidos na APS. Além de melhoria no acesso, um agendamento efetivo melhora o ambiente de trabalho, a qualidade do cuidado, a satisfação da equipe e a experiência do paciente.⁸ Por isso, é importante que as equipes de Saúde da Família conheçam os modelos de agendamento utilizados na APS, para equilibrar as demandas e pensar em estratégias que melhorem o acesso dos usuários. Dentre os modelos descritos nas literatura, os mais utilizados estão listados abaixo.⁷

  1. Acesso avançado: Tem como ideia norteadora a não distinção na qualidade assistencial de consultas de seguimento ou de urgência. Aproximadamente 65%–90% das consultas médicas diárias são reservadas para demanda espontânea. Dentre as consultas programadas (agendamentos prévios), a maioria são de acúmulos positivos (positive backlogs) de trabalho, representando os pacientes que não querem a consulta naquele dia e os que são agendados pelo médico após avaliação de critérios clínicos e sociais. O tempo de espera máximo por uma consulta é de dois dias úteis, gera uma segurança do usuária em relação ao acesso. ⁷,⁸
  2. Carve-out: É um sistema de agendamento com reserva para vagas de urgência, em que 1/3 das consultas médicas diárias são reservadas para o atendimento de demanda espontânea, enquanto 2/3 são para o atendimento de consultas programadas. As demandas agudas podem ser atendidas por médicos de outras equipes de referência. O tempo de espera máximo por uma consulta eletiva pode variar dentro do modelo, podendo ser semanal ou quinzenal. ⁷,⁸
  3. Tradicional: todas as consultas médicas diárias são pré-agendadas, em sua maioria solicitada pelo paciente. As agendas são supersaturadas. Não há reserva de vagas para demanda espontânea, que são encaixadas entre os atendimentos, gerando duplicidade de agendamentos em um mesmo horário (double-booking). Nesse modelo a média do tempo de espera por uma consulta eletiva é bastante variável, por vezes sendo maior que trinta dias. ⁷,⁸

Antes de implementar qualquer mudança no modelo de agendamento e realizar adequação de ações de saúde para as necessidades de uma equipe de saúde da família é imprescindível conhecer a realidade local e analisar a situação de saúde da população.⁹ Esse processo de avaliação permite entender as principais características da comunidade atendida e identificar possíveis desafios e oportunidades a fim de estabelecer um equilíbrio entre a demanda e a oferta de serviço.¹⁰ Uma estratégia facilitadora do acesso dos usuários aos serviços de saúde, principalmente na APS, são os grupos operativos.¹¹ As atividades em grupo são amplamente aplicadas para promoção de saúde, prevenção de doenças e prestação de cuidados específicos. Geram um processo de aprendizado crescente nos pacientes participantes, além de otimizar o trabalho da equipe e diminuir as consultas individuais.¹²

O presente relato tem como objetivo documentar a criação de um grupo de pré-natal na APS e o impacto gerado na agenda médica da equipe para acesso dos demais pacientes. Além de relatar a experiência vivida pela profissional no processo de transição de um grupo operativo de gestante para consultas coletivas de pré-natal, compartilhando as percepções da profissional e feedback das pacientes em relação a essas abordagens, que promoveram um ambiente mais participativo, acolhedor e eficaz para a prestação de cuidados pré-natais na comunidade atendida.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo tipo relato de experiência, sobre a criação do “grupo de gestantes/ pré-natal coletivo” em uma das equipes de Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde n° 5 do Arapoanga, região administrativa do Distrito Federal. O grupo foi coordenado pela médica residente do segundo ano de Medicina de Família e Comunidade. Os encontros aconteceram nos meses de Maio e Junho de 2023, com as gestantes do 3º trimestre em acompanhamento quinzenal ou semanal, com participações de outros profissionais da equipe. Foram realizados 6 encontros, sendo 3 deles no modelo de grupos e 3 deles com adequações para consultas coletivas. A duração dos encontros variava de acordo com quantidade de pacientes e assunto abordado, os encontros duraram de 40 minutos a uma hora, além de 30 minutos separados para realização do exame físico.

DESENVOLVIMENTO

O objetivo da criação do grupo era desenvolver habilidades de organização de grupos comunitários na Atenção Primária e disponibilizar vagas para outras demandas populacionais na agenda médica, tendo em vista o elevado número de consultas de pré-natal e a carga horária de profissional de nível superior reduzida na equipe.

A necessidade de organização de consultas em grupo surgiu durante a avaliação da agenda médica na primeira reunião de equipe em Março de 2023. A demanda da equipe estava reprimida a aproximadamente 4 meses e as consultas definidas como urgentes pela gerência da unidade eram divididas entre as outras equipes.

No ano de 2022 a equipe era constituída por 1 enfermeira (afastada de atividades assistenciais em Julho devido à gestação) e 1 técnica de enfermagem estatutárias; 2 agentes comunitários de saúde de contrato temporário; e 1 médico do programa Mais-Médicos com contrato estendido até Novembro de 2022. Em Março de 2023, a equipe passou a pertencer ao programa de residência médica de Medicina de Família e Comunidade da SES-DF, sendo assumida por uma médica residente do segundo ano, transferida de outro território.

Inicialmente a equipe ficou sem assistência de atendimento de enfermagem. Na última quinzena de Abril, uma residente do primeiro ano de Enfermagem em Saúde da Família, lotada em outra equipe, após decisão da gerência, passou a dispor 10h de sua agenda para atendimentos de pré-natal da equipe em questão. A carga horária, sabidamente insuficiente, não supriu todos os atendimentos de pré-natal de enfermagem das 43 gestantes que estavam em acompanhamento naquele momento.

RESULTADOS

No dia 14 de Março de 2023, durante a primeira reunião de equipe do ano, com a presença de dois agentes comunitários de saúde, uma técnica de enfermagem e uma médica, foi realizado um breve diagnóstico populacional. A partir das observações em sala de acolhimento ou diretamente na área, feita por parte dos membros da equipe, constatou-se alta demanda de pacientes com doenças crônicas e exames laboratoriais solicitados no ano anterior sem serem avaliados; baixos índices de acompanhamento de crescimento e desenvolvimento das crianças recém-nascidas aos 2 anos; gestantes com seguimento de pré-natal com diferentes profissionais da unidade que auxiliaram a equipe no período que estava sem cobertura médica e de enfermagem; pacientes acamados e demandas de avaliação domiciliares reprimidas.

Com o perfil populacional traçado, os primeiros meses de agenda médica foram com enfoque no retorno do acompanhamento de crescimento e desenvolvimento das crianças; centralização dos pré-natais na equipe de referência das pacientes; e devolutiva de exames em consulta médica daqueles pacientes que apresentavam alterações. Dos oito turnos em que a médica estava na unidade, cinco eram reservados para atendimentos ambulatoriais. Na UBS em questão, os profissionais de nível superior tinham reservado 5 vagas para consultas agendadas por turno, sendo as demais reservadas para consultas de demanda espontânea.

Os 5 horários reservados para consultas agendadas por turno foram rapidamente preenchidos, nos meses de Março e Abril de 2023, surgindo um novo problema de organização de atendimentos que foi a falta de espaço para encaixes dos retornos quinzenais e semanais dos pré-natais do 3º trimestre. A partir disso, em nova reunião de equipe no dia 18 de Abril de 2023, no momento com a participação da residente de enfermagem que dispunha 10h da sua agenda para auxiliar a alta demanda de consultas de pré-natal, foi decidido iniciar um grupo de gestantes do 3º trimestre.

No dia 25 de Abril de 2023, foi realizada a reunião de planejamento do grupo. Estavam presentes as duas residentes, de medicina e enfermagem, que seriam as responsáveis pela condução do grupo. As datas para os encontros ficaram definidas nas terças-feiras pela manhã, entre 9h e 11h, horário reservado da equipe para atividades de grupo. Inicialmente, seriam convidadas 12 gestantes, pensando em uma meta de participantes por encontro entre 8 e 10. Os convites seriam feitos via ACS ou em consultas de PN de rotina. Após análise da planilha de gestão das gestantes, 10 pacientes se encaixaram nos critérios de idade gestacional e foram selecionadas. Neste encontro, ainda foram definidos temas que poderiam ser abordados, dentre eles amamentação, sinais de trabalho de parto, vias de parto, cuidados e higiene bucal da gestante, direitos da gestante, importância das consultas puerperais e cuidados com o recém-nascido. Além disso, ficou definida a realização e a coleta de testes rápidos de Hepatite B e C, HIV, Sífilis e de outras sorologias solicitadas durante o pré-natal mensalmente nos encontros, com auxílio da técnica de enfermagem.

A primeira reunião do grupo aconteceu em 09 de Maio de 2023, estavam presentes 7 gestantes, a médica e a enfermeira residentes. O primeiro momento foi de apresentações, nas quais as gestantes falaram nome, idade gestacional, nome do bebê e como estava sendo a gestação até aquele momento. O primeiro espaço durou aproximadamente 15 minutos e foi importante para deixar o encontro menos formal, tirar o foco dos olhares da médica e enfermeira e aproximar cada paciente da realidade das outras. No segundo momento abordaram-se as temáticas pré-definidas, enquanto a médica discutia e orientava os sinais de trabalho de parto, a enfermeira realizava os testes rápidos de quem estivesse com o exame pendente. Ainda na parte coletiva, os primeiros tópicos de amamentação foram trazidos pela enfermeira. Após todas as dúvidas serem sanadas, as gestantes foram direcionadas para os atendimentos individuais em consultório. As pacientes foram divididas entre as profissionais, seguindo a alternância da última consulta individual, e passaram por avaliação física e orientações específicas.

No segundo encontro, duas semanas após o primeiro, o apoio à médica residente veio da equipe de odontologia. A partir desse dia a enfermeira não poderia mais ajudar com a organização do grupo para não atrapalhar suas atividades na sua equipe de referência. O odontólogo e a THD realizaram uma avaliação de saúde e higiene bucal, orientaram sobre o uso de chupetas e mamadeiras e a influência desses itens no desenvolvimento da arcada dentária dos lactentes. Além disso, já deixaram programados retornos individuais para avaliação mais específica de cada paciente. Na ocasião, estavam presentes 4 das gestantes que haviam frequentado o primeiro dia e uma nova participante. As gestantes estavam mais participativas, respondendo ativamente as perguntas da dinâmica e relembrando assuntos previamente abordados. A realização dos exames físicos foram exclusivos da residente de Medicina de Família e Comunidade.

A partir do terceiro encontro, no mês de Junho, foi perceptível a redução do engajamento da equipe para agendamento das pacientes e participação ativa no dia do grupo. A presença das mesmas 5 pacientes facilitou a organização com apenas um profissional. No encontro do dia 6 de Junho, foram reforçados os assuntos já abordados e orientado sobre a realização de mobilogramas. Dentre as gestantes, 3 estavam com mais de 35 semanas, foi pactuado com essas que os encontros seriam semanais, para as com idade gestacional abaixo de 36 semanas foi dada a opção de manter nos encontros quinzenais.

A partir do dia 13 de Junho, os encontros deixaram de ser um grupo propriamente dito, se encaminhando mais para uma consulta coletiva de pré-natal. As gestantes já haviam trocado telefones e experiências de forma espontânea. As consultas passaram a acontecer no consultório médico, impossibilitando a participação integral de acompanhantes, caso surgisse algum. As pacientes, excetuando uma, compareceram desacompanhadas e aceitaram a presença uma da outra na parte de avaliação física. Por ter uma abordagem menos expositiva, com mais de troca de informações, e um número reduzido de pacientes, o encontro dentro do consultório de forma coletiva teve um feedback mais positivo por parte das pacientes.

No decorrer do mês de Junho o número de pacientes foi reduzido, a profissional optou por não adicionar as novas pacientes que chegavam a idade gestacional de 28 semanas, por questões de organização das consultas. Apenas duas das quatro pacientes que já estavam frequentando de forma regular às consultas coletivas não entraram em trabalho de parto ainda naquele mês. A médica residente passou o mês de Julho inteiro em atividade externa da UBS.

Dentro do programa de residência de medicina de família e comunidade, no segundo ano o médico residente possui alguns rodízios externos e eletivos. Devido à centralização do projeto sob os cuidados da médica residente, neste período as consultas coletivas deixaram de acontecer na equipe.

No mês de Agosto, após retorno da residente, o espaço reservado na agenda para realização de grupos foi usado novamente para impulsionar novas consultas coletivas de gestantes. Novos desafios surgiram: a dificuldade de entrosamento, falta de pontualidade e assiduidade das novas pacientes e até questões pessoais de saturação e cansaço. Estes levaram ao cancelamento dos atendimentos coletivos.

DISCUSSÃO

A necessidade de adaptação diante das demandas identificadas durante os primeiros meses no novo cenário de atuação da residente de Medicina de Família e Comunidade, estimulou toda a equipe a encontrar estratégias para melhorar a relação da população com os profissionais. O relato evidencia a importância de uma abordagem flexível e adaptativa na prestação de cuidados de saúde, especialmente em um contexto de alta demanda e recursos humanos e materiais limitados.

As responsabilidades que surgem em organizar e coordenar atividades grupais foram essenciais para a formação da residente, apesar das complicações e resistências encontradas no decorrer dos meses. A estratégia encontrada de transformar o grupo em consultas coletivas era mais condizente com o objetivo inicial de organização de agenda profissional. Pode-se destacar que as consultas coletivas propiciaram o aumento do engajamento das gestantes, a troca de experiências entre elas e a eficácia das orientações fornecidas durante os encontros, além de possibilitarem uma melhor utilização dos recursos disponíveis e contribuírem para uma maior eficiência no atendimento.

O espaço na agenda para atender outras demandas da equipe não ficou disponível, mas os encontros quinzenais e semanais das gestantes do último trimestre foram regulares. A redução do engajamento da equipe e a dificuldade de entrosamento com as novas pacientes foram os maiores desafios encontrados para a manutenção do grupo e das consultas coletivas. Tais adversidades poderiam ser superadas se fossem aplicadas habilidades de comunicação entre membros da equipe, com intuito de impulsionar maior participação de todos nos encontros. As reuniões de equipe, por exemplo, pouco foram usadas como espaço de capacitação desses profissionais.

Apesar do pouco tempo de execução do grupo e das consultas coletivas, o retorno por parte das pacientes participantes foi positivo. As gestantes se mostraram tristes em suspender os encontros semanais após o parto, relataram em diferentes momentos o melhor desenvolvimento de vínculo com os membros da equipe mais ativos nos encontros e até vínculo entre as próprias gestantes. Destacaram que as trocas de experiência agregaram mais quando comparado com as consultas individuais do início da gestação.

Ademais, o curto período de aplicação do grupo impossibilitou a observação na melhora do acesso dos demais pacientes. Algumas poucas vagas ficaram disponíveis na agenda médica, mas com a ausência da enfermeira durante o ano de 2023, ainda foi necessário manter algumas prioridades no momento do agendamento.

CONCLUSÃO

A iniciativa de criação do grupo de gestantes em uma equipe na APS não resolveu inicialmente o desafio imediato de falta de vagas na agenda médica, mas apresentou um impacto positivo na promoção da saúde materna e no fortalecimento do vínculo entre a equipe de saúde e as gestantes participantes da atividade.

Percebe-se, ao longo do processo, possíveis causas de insucesso como, por exemplo, falta de RH para, grande intervalo de consulta com a médica devido a atividade prolongada fora da unidade, falta de habilidade em coordenação de grupos, dificuldades de entrosar novos participantes.

Porém, apesar do suposto desacerto ao longo do projeto, foi possível avaliar que grupos operativos podem ser estratégias das equipes para aumentar o acesso do usuário, principalmente em situações limite. Entretanto, os objetivos dos trabalhos em grupo não devem ser vistos como menos importantes ou como uma alternativa para abordagens individuais. Devem deixar de ser uma forma de compensação da falta de acesso secundária à crescente demanda.¹³ Além disso, podem ser muito positivos visto que promovem espaços propícios para abordagens mais interativas e colaborativas. Portanto, o pré-natal coletivo é uma boa tática para induzir melhores práticas nos cuidados em saúde.¹⁴

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