A CONSTRUÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS COMO RECURSO PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA CELULAR E VIROLOGIA

THE CONSTRUCTION OF DIDACTIC MODELS AS A RESOURCE FORTEACHING-LEARNING CELL BIOLOGY AND VIROLOGY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202502280922


Elisiane Ferreira Canuto1
Juliana Maria da Silva Lima2
Josiene Maria Falcão Fraga dos Santos3


Resumo

O relato descreve uma intervenção pedagógica intitulada: A construção de modelos didáticos como recurso para o ensino-aprendizagem de Biologia celular e virologia, destacando a importância dos modelos didáticos na compreensão dos conteúdos de Biologia celular e Virologia. A experiência integrou teoria e prática, proporcionando aos alunos uma aprendizagem significativa por meio da construção e exposição dos modelos didáticos. Os resultados evidenciaram uma melhor assimilação dos conteúdos por parte dos alunos, demonstrando a eficácia da abordagem utilizada e destacando a importância do uso dos modelos didáticos e das metodologias ativas na educação.

Palavras-chave: Modelos didáticos. Metodologia ativa. Ensino de virologia. Ensino de biologia celular.

1 INTRODUÇÃO

O ensino de Biologia celular e virologia abrange conceitos e processos difíceis de serem compreendidos quando são abordados apenas de forma teórica. No entanto, grande parte das escolas públicas não possuem estrutura física e materiais adequados para a promoção de aulas práticas em laboratório, devido a isso, os professores não conseguem abordar o assunto de forma prática e a aprendizagem do aluno fica comprometida.

Diante desse cenário, a construção de modelos didáticos com materiais reciclados e massa de modelar pode ser uma alternativa eficaz para diminuir os prejuízos na aprendizagem dos alunos, bem como, fornecer ao aluno um conhecimento concreto dos conceitos que são abordados apenas de forma teórica. Esses modelos didáticos são elementos facilitadores da aprendizagem e ajudam os alunos compreenderem a conceitualização dos conteúdos abordados em sala, sendo fundamentais para uma aprendizagem eficaz.

Além disso, os modelos didáticos são bastante flexíveis quanto à aplicação. “Isso significa que as dimensões podem ser dirigidas para diferentes públicos que vivenciam, já vivenciaram ou que ainda vivenciarão a experiência docente” (SANTOS, 2017). Os modelos didáticos em conjunto com as aulas teóricas são essenciais para um aprendizagem significativa. “Visto que conhecimento teórico por parte do aluno é de grande valia para trabalhar com os modelos didáticos, o professor deve desenvolver estes conteúdos com os alunos em aulas teóricas ou mesmo promover o conhecimento junto à realização das práticas’’ (REZENDE, 2018).

Portanto, o projeto de residência pedagógica teve o intuito de promover a aprendizagem dos alunos por meio da construção de modelos didáticos das estruturas celulares e virais, bem como, verificar o conhecimento prévio dos alunos a respeito dos temas de biologia celular e virologia, classificar o nível de participação e engajamento dos alunos durante a atividade prática de construção de modelos didáticos, quantificar o material didático produzido pelos alunos e verificar a assimilação do conhecimento após a construção dos modelos didáticos por meio de um seminário.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na literatura, diversos autores destacam a importância do uso de modelos didáticos no ensino-aprendizagem, pois por meio da construção, manipulação e visualização dos modelos didáticos os alunos conseguem explorar o conteúdo da aula de forma prática. Essa abordagem permite que o aluno assimile o assunto de maneira mais eficaz, ‘’visto que o grande número de conceitos relacionados à área dificulta a compreensão por parte dos alunos que acabam se preocupando em decorar termos em detrimento de compreender e relacionar o estudo com a vida prática, além de ser necessário o conhecimento prévio de outros assuntos’’ (REGINA, 2018).

Ademais, “utilizar materiais alternativos como um recurso demonstrativo estimula o aluno numa aula teórico-prática, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais interessante para o aluno’’ (MATOS, 2009). Assim, os alunos ficaram mais entusiasmados e engajados em realizar as atividades propostas pelo professor.

Tendo em vista que o conhecimento deve ser construído pelo aluno, a construção dos modelos didáticos pode contribuir de maneira significativa para a sua aprendizagem, pois permite que o aluno explore as estruturas, compreendam sua função, além de permitir a expressão da criatividade que é fundamental durante o processo de aprendizagem.

Para Massari e Miglino (2022), é fundamental oferecer aos jovens outras possibilidades de pensar o mundo, e as artes e a modelagem podem favorecer essas situações, em particular quando aplicada ao ensino. A manipulação dos materiais permite que o aluno explore aspectos que não poderiam ser explorados numa aula teórica. Com isso, os alunos conseguem ter um entendimento prático sobre o assunto abordado na aula.

De acordo com Célestin Freinet (1988), o trabalho e a cooperação são fundamentais para impulsionar desenvolvimento e a autonomia dos alunos, com isso:

’A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a cooperação (para construir o conhecimento comunitariamente), a comunicação (para formalizá-lo, transmiti-lo e divulgá-lo), a documentação, com o chamado livro da vida (para registro diário dos fatos históricos), e a afetividade como vínculo entre as pessoas e delas com o conhecimento’’ (FERRARI, 2008)

O uso de materiais didáticos apoiado as técnicas de Freinet podem ajudar os alunos no desenvolvimento de habilidades importantes para a construção do conhecimento. De acordo com Perini (2018) O diferencial dos modelos didáticos como recurso alternativo é sua facilidade de produção, baixo custo, fácil conservação e ampla aplicabilidade, capaz de suprir as dificuldades que possam existir dentro dos conteúdos de biologia. Assim, os alunos poderão contribuir com os materiais que possuem em casa, sem que haja a necessidade de comprar materiais para realizar a atividade.

3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

O Projeto de Intervenção Pedagógica foi realizado na Escola Estadual Monel Passos Lima, localizada na região de Palmeiras dos Índios, AL, Brasil. O estudo foi realizdo no dia 22 de março de 2024 com 32 alunos da turma do 1º ano do Ensino Médio do período vespertino na disciplina de Biologia.

3.2 Coleta dos dados

No primeiro momento foi realizada uma avaliação diagnóstica para verificar o conhecimento prévio dos alunos a respeito dos temas de Biologia celular e Virologia. Os alunos foram orientados a relatar no caderno os conhecimentos que já possuíam referentes à estrutura morfológica das células e das partículas virais, no entanto, grande parte dos alunos informou que não havia tido contato com nenhum dos temas que seriam trabalhados em sala e aqueles que já haviam entrado em contato relataram não recordar dos assuntos. Antes da aula prática alguns conceitos foram explicados de forma resumida, apenas os conceitos fundamentais de Biologia celular e Virologia como: a morfologia e função das organelas celulares e a diversidade morfológica dos vírus. Após o breve resumo dos conteúdos no quadro (figura 1), a turma foi orientada a formar dois grupos com 16 integrantes cada (figura 2).

Fonte: autoral

Os grupos foram nomeados de grupo A e grupo B. O grupo A recebeu o material de apoio contendo as figuras das células eucariontes vegetal e animal, enquanto o grupo B recebeu o material de apoio contendo as figuras da célula procarionte (bactérias) e da diversidade morfológica dos vírus. O grupo A foi orientado a construir modelos didáticos das células eucariontes vegetais e animal (figura 3), enquanto o grupo B foi orientado a construir células procariontes e vírus (figura 4) com o material que foi distribuído para ambos os grupos.

Para o grupo A foi distribuída uma caixa de massa de modelar, 3 tampas recicladas e 8 placas de plástico recicladas. Para o grupo B foi distribuída uma caixa de massa de modelar e 20 frascos de vidro reciclados e cinco palitos de picolé. Durante todo o processo de construção dos modelos didáticos, os alunos receberam orientações e informações a respeito das estruturas celulares e virais que estavam sendo construídas e em todos os momentos foram incentivados a cooperar com o grupo vizinho, dividindo o material quando necessário, promovendo a cooperatividade, que de acordo com o pedagogo Celestin Freinet (1996) “favorece a interação do grupo, destaca aptidões naturais, valoriza características individuais permitindo a participação e a contribuição de todos.” No segundo momento, que ocorreu após a construção dos modelos didáticos, os grupos foram orientados a pesquisar as funções de cada estrutura construída e apresentar os modelos didáticos na forma de seminário para transmitir e divulgar os conhecimentos assimilados durante a atividade em grupo para a turma (figura 5).

Figura 5: exposição dos modelos didáticos criados pelos alunos

Fonte: autoral

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para avaliar a participação e engajamento dos alunos na atividade proposta foi necessário observar a interação dos alunos com os integrantes do seu respectivo grupo. “A análise do engajamento pode ser guiada pelas seguintes questões: “como os alunos estão participando? e “Que proporção de estudantes está participando? (Engle & Conant, p. 402. 2002; Espinosa, p. 3. 2021). Com base nas respostas a essas questões, o nível de participação e engajamento dos alunos foi classificado em três categorias: baixo, médio e alto. A classificação foi feita de acordo com a quantidade de alunos que participaram ativamente da atividade prática. Quanto a verificação do conhecimento, ocorreu por meio da apresentação dos modelos didáticos construídos na forma de seminário e os critérios de avaliação utilizados para verificar a assimilação do conhecimento adquirido durante a aula prática foram os seguintes: criatividade na construção dos modelos didáticos, objetividade na apresentação, domínio dos conteúdos e cooperação entre o grupo. Por meio da avaliação diagnóstica, foi possível verificar que grande parte dos alunos não se recordava dos assuntos trabalhados nas séries anteriores sobre os conteúdos de Biologia celular e Virologia, visto que grande parte dos alunos deixou a folha em branco e apenas cinco alunos conseguiram resgatar alguns conceitos de forma oral. Esse tipo de avaliação é fundamental para conhecer o nível de conhecimento dos alunos, além disso, “é considerado um ato de inclusão, realizada no início e durante um processo de aprendizagem, buscando dar oportunidade ao aluno estar dentro do processo de ensino-aprendizagem” (ALVES, 2014). No grupo A, a maioria dos alunos demonstraram interesse na atividade e se engajaram na construção dos modelos propostos, apenas dois alunos do grupo não participaram ativamente. Enquanto no grupo B, apenas um aluno não apresentou interesse em ajudar o grupo a produzir os modelos didáticos. Diante disso, o nível de participação e engajamentos dos alunos do grupo A foi classificado em Médio, enquanto o grupo B foi classificado em Alto. No geral, os alunos foram participativos durante a realização da atividade proposta, a maioria não apresentou dificuldades na construção dos modelos didáticos e ambos os grupos apresentaram grande interesse e engajamento na atividade. Ambos os grupos produziram uma quantidade variada de modelos didáticos. O grupo A construiu quatro modelos didáticos de células eucarionte animal e cinco modelos de células eucariontes vegetais, enquanto o grupo B construiu três modelos didáticos de células procariontes (tabela 1), dez modelos didáticos de partículas virais com a morfologia helicoidal, cinco com a morfologia icosaédrica e oito com a morfologia complexa bacteriófago (Tabela 2). Durante a apresentação dos materiais construídos em sala de aula, foi observado que a confecção dos modelos ajudou os estudantes do ensino médio a entenderem melhor a morfologia e o funcionamento de cada uma das estruturas celulares e virais, bem como, a diferenciação entre células eucariontes vegetal e animal e as diferenças entre células e vírus. Por fim, durante a avaliação de cada grupo na apresentação dos modelos didáticos, foi possível observar que os alunos do grupo A, se destacaram mais nos quesitos: objetividade e domínio dos conteúdos, enquanto os alunos do grupo B se destacaram nos quesitos: critividade e cooperação.

Tabela 1: Quantidade de modelos didáticos produzidos pelos alunos do grupo A e B.

Fonte: autor (2024)

Tabela 2: Morfologia dos modelos didáticos virais construídos pelo grupo B.

Fonte: autor (2024)

5  CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, foi demonstrada a relevância da utilização de modelos didáticos no ensino de Biologia celular e Virologia, bem como, a experiência prática, o engajamento e a construção de conhecimento através da interação com os modelos que comprovam a eficácia dessa abordagem.

Essas práticas aplicadas ao ensino permite que os alunos visualizem e compreendam de forma mais ampla as estruturas das células e dos vírus, facilitando a assimilação de conceitos abstratos, como também, a manipulação e a interação com os modelos proporcionam uma experiência sensorial que contribui para a memorização e retenção dos conhecimentos, além disso, despertam o interesse e a curiosidade dos alunos.

Apesar dos modelos didáticos serem uma ferramenta útil, é importante reconhecer que a criação e execução de modelos requer tempo e planejamento, sem isso, a aplicação em sala de aula fica inviável. Ademais, a criação de modelos didáticos é uma ferramenta poderosa para transformar o ensino de Biologia Celular e Virologia em uma experiência mais envolvente e significativa para os estudantes. O investimento nessa ferramenta de ensino é benéfico para o ensino, pois prepara o aluno para enfrentar os desafios do mundo atual.

Portanto, é possível concluir que a criação de modelos didáticos, em conjunto com metodologias ativas, pode proporcionar uma aprendizagem significativa, estimulando o desenvolvimento de habilidades fundamentais para o aprendizado de conceitos complexos, como a estrutura celular e os mecanismos de replicação viral.

6 REFERÊNCIAS

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FERRARI, Márcio. Célestin Freinet: o mestre do trabalho e do bom senso. Nova Escola, São Paulo, jul. 2008. Edição especial grandes pensadores. Disponível em:https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin-freinet-o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-senso . Acesso em: 15 agosto 2024.

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1Discente do Curso Superior de ciências biológicas da Universidade Estadual de Alagoas campus III e-mail: elisiane@alunos.uneal.edu.br;
2Docente da Escola Estadual Manoel Passos Lima. e-mail:julianamariadasilvalima446@gmail.com;
3Docente do Curso Superior de ciências biológicas da Universidade Estadual de Alagoas Campus III. mestre em Biodiversidade , Doutora em Biodiversidade. e-mail: josiene.falcao@uneal.edu.br