A COMUNICAÇÃO EFICAZ ENTRE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E PACIENTES SURDOS: ESTRATÉGIAS DE MELHORIA NA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR – UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12588465


Flávia Leite Maia de Oliveira1; Gabriel Patrício Soares Caldas2; Jose Luiz Catarino de Moura Junior3; Leila Suely Veloso Peres4; Rosely Gomes Mendes5


Resumo: Este estudo analisou a comunicação entre enfermeiros e pacientes surdos durante o atendimento hospitalar. Realizado através de revisão integrativa da literatura, incluiu 10 artigos publicados entre 2015 e 2020, obtidos por meio de buscas nas bases de dados Scielo e Google Acadêmico, utilizando descritores em ciências da saúde. Os resultados destacam barreiras na comunicação entre pacientes surdos e profissionais de saúde, causando desconforto tanto nos enfermeiros quanto em pacientes com surdez. Além disso, a ausência de qualificação em libras pode resultar em riscos no atendimento, justificando a necessidade de capacitação para promover uma assistência humanizada e uma sociedade mais inclusiva.

Descritores em Saúde: atendimento de enfermagem, deficiente auditivos, surdez, estratégia de comunicação

Abstract: This study examined the communication between nurses and deaf patients during hospital care. Conducted as an integrative literature review, it included 10 articles published between 2015 and 2020, obtained through searches in the Scielo and Google Scholar databases, using health sciences descriptors. The findings highlight communication barriers between deaf patients and healthcare professionals, causing discomfort among nurses. Lack of preparedness can lead to risks in care, justifying the need for training to promote humanized care in a more inclusive Society.

Health Descriptors: nursing care, hearing impaired, deafness, communication strategy.

– Introdução

Dados divulgados pelo IBGE, (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que 10 milhões de brasileiros possuem alguma deficiência, dos quais 2,7 milhões sofrem de surdez profunda, ou seja, não escutam nada. O aumento do quadro de perda auditiva se deve em parte ao processo de envelhecimento, um fenômeno que afeta a população em nível mundial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que até 2050, 900 milhões de pessoas possam desenvolver surdez (Brasil, 2010). Esses dados chamam a atenção para a necessidade do desenvolvimento de estratégias que assegurem uma comunicação efetiva entre os cidadãos surdos e ouvintes e, em especial com o profissional da área da saúde. Isto porque, quando os surdos procuram os serviços de saúde, se deparam com condições que interferem de maneira negativa na qualidade do processo de comunicação e, consequentemente, na assistência à saúde.

A deficiência auditiva é uma forma de privação sensorial, manifestando-se comumente por uma reação anormal aos estímulos sonoros. A surdez é caracterizada pela perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala ou sons através do ouvido. A surdez e a deficiência auditiva apresentam diferentes classificações que são definidas de acordo com o nível de perda da audição geralmente classificados em níveis leve, moderada, severa ou profunda. Esta perda é avaliada pela intensidade do som, medida em decibéis (dB), em cada um dos ouvidos (Marchesi, 1996).

Durante muito tempo, os surdos foram privados de acesso pleno à linguagem e à comunicação. Historicamente, a sociedade não reconhecia as línguas de sinais, como a Libras, como línguas legítimas, o que resultava em uma exclusão linguística para a comunidade surda. Essa privação linguística limitava significativamente suas oportunidades de educação, emprego e participação social, reforçando estereótipos e preconceitos. Somente com a conquista do reconhecimento legal das línguas de sinais e a conscientização sobre a importância da inclusão linguística é que os surdos começaram a superar essas barreiras e a reivindicar seu direito fundamental à linguagem e à comunicação. No Brasil, a língua oficial das comunidades surdas é a Libras (Língua Brasileira de Sinais), regulamentada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, regulamenta a saúde como um direito de todos e um dever do Estado. De acordo com essa legislação, os surdos têm o direito garantido de acesso às instituições de saúde. Como cidadãos brasileiros, devem receber atendimento hospitalar e em todo o sistema de saúde com qualidade e excelência, em condições equivalentes às pessoas sem deficiência (Brasil, 1988).

O Decreto nº 5.626 que versa sobre a LIBRAS, regula o atendimento ao surdo nas instituições de saúde pública, especialmente nos capítulos VII e VIII que abordam a garantia do direito à Saúde das Pessoas surdas ou com Deficiência Auditiva. Este decreto determina que pelo menos 5% dos colaboradores, funcionários e servidores dessas unidades do serviço público devem ser capacitados para utilizar e interpretar a Libras. Apesar da existência de leis, decretos e da conscientização quanto à inclusão social, a falta de adequação dos serviços de saúde para o atendimento às pessoas surdas ainda persiste como uma realidade (Brasil, 2005).

No âmbito da saúde, a comunicação é essencial para proporcionar assistência de qualidade, pois vai além de transmitir informações de forma conceitual, envolvendo também uma escuta acolhedora que alcança a subjetividade dos indivíduos (Oliveira et al., 2008). Contudo, a falta de habilidades linguísticas e o desconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem dificultado o acesso das pessoas acometidas pela surdez aos serviços de atenção básica fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Conforme mencionado por Oliveira, a interação entre o paciente e o profissional de saúde deve ser vista como uma oportunidade de diálogo, troca e aprendizado recíproco. Por isso, entender a dinâmica entre os profissionais de saúde e as pessoas surdas é fundamental para aprimorar os serviços oferecidos a essa comunidade, promovendo, efetivamente, sua inclusão (Oliveira, et al., 2015).

Quando uma pessoa com surdez busca atendimento em um serviço de saúde, a principal barreira encontrada é a comunicação com a equipe médica. Os desafios que surgem no tratamento do paciente surdo muitas vezes estão relacionados à dificuldade em superar essas barreiras comunicacionais, que limitam a capacidade dos profissionais de saúde de compreender plenamente as necessidades de saúde do usuário. Isso pode levar a erros no diagnóstico, aflição e apreensão tanto para os profissionais de saúde quanto para as pessoas surdas.

A ausência de uma atenção qualificada às questões de saúde do paciente surdo pode resultar em fragilidades no tratamento e prejudicar o desenvolvimento apropriado do plano de cuidados médicos. Portanto, é fundamental desenvolver estratégias eficazes para garantir uma comunicação acessível e inclusiva nos serviços de saúde, a fim de proporcionar um atendimento de qualidade e satisfatório para todas as pessoas, independentemente de sua condição auditiva.

Com base no exposto, a pesquisa buscou investigar como os surdos e os profissionais de enfermagem veem e lidam com a prestação de cuidados de saúde em ambientes hospitalares, destacando quais são os problemas mais frequentes e as dificuldades enfrentadas por ambos os grupos.

A justificativa para este estudo reside na necessidade de compreender e melhorar o atendimento hospitalar oferecido às pessoas surdas. Além disso, existem várias razões que sustentam essa investigação, tais como:

Garantia de Direitos: A Constituição Federal assegura o direito à saúde para todos, incluindo pessoas surdas. Investigar as percepções e desafios no atendimento hospitalar pode ajudar a garantir que esses direitos sejam efetivamente implementados.

Inclusão e Acessibilidade: A acessibilidade é fundamental para garantir que pessoas surdas tenham acesso igualitário aos serviços de saúde. Compreender as dificuldades enfrentadas por surdos e profissionais de enfermagem pode levar a melhorias na adaptação e na inclusão desses indivíduos nos serviços de saúde.

Qualidade do Atendimento: Entender as percepções e experiências dos envolvidos no atendimento hospitalar permite identificar áreas de melhoria na prestação de cuidados de saúde para pessoas surdas. Isso pode contribuir para uma assistência mais eficaz e empática.

Educação e Sensibilização: Estudos como esse podem aumentar a conscientização entre profissionais de saúde sobre as necessidades específicas das pessoas surdas, promovendo uma melhor formação e práticas de atendimento mais inclusivas.

Base para Intervenções e Políticas: Os resultados da pesquisa podem servir como base para o desenvolvimento de intervenções, políticas e diretrizes que visem melhorar o atendimento hospitalar para pessoas surdas, contribuindo para uma saúde mais equitativa e acessível.

Portanto, o estudo se justifica pela importância de promover uma saúde mais inclusiva e eficaz para todos os cidadãos, independentemente de suas capacidades auditivas, e pela necessidade de entender e enfrentar os desafios específicos enfrentados pelas pessoas surdas no contexto hospitalar. Destaca-se a importância de valorizar o ensino da Libras, objetivando capacitar os profissionais de saúde para oferecerem cuidados humanizados e adequados aos surdos.

Métodos

Este estudo adota uma abordagem descritiva de natureza qualitativa, utilizando a metodologia da revisão integrativa. A Revisão Integrativa é uma metodologia caracteriza por ser um instrumento de Prática Baseada em Evidência (PBE) que visa sintetizar o conhecimento e incorporar a aplicabilidade dos resultados de estudos relevantes na prática. O método é composto por seis etapas: identificação do tema e formulação da hipótese ou questão de pesquisa; seleção dos critérios de busca na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados ou categorização dos estudos; avaliação dos estudos; interpretação dos resultados e identificação de lacunas ou questões não abordadas; e apresentação da revisão ou síntese do conhecimento. (Botelho, et. al, 2011)

Para a coleta de dados, foi realizada uma busca na base de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Dentre as bases de dados pesquisadas na BVS, foram selecionadas a Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde (Lilacs), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) e Base de Dados Especializados de Enfermagem (BDEnf). Os descritores utilizados foram: atendimento de enfermagem, deficiente auditivos, surdez, estratégia de comunicação. A busca de artigos foi realizada no período de janeiro a setembro de 2020.

Os critérios de inclusão foram o período de publicação entre 2015 e 2020; disponibilidade em português; artigos de pesquisa original; dados coletados no Brasil objetivando uma análise ajustada à realidade brasileira; e, abordagem do tema principal. Os estudos que não apresentaram esses critérios foram excluídos.

A estratégia de seleção e análise dos estudos foi realizada por dois pesquisadores, independentemente, que avaliaram os títulos e resumos dos artigos identificados pela estratégia de busca ampla, avaliando cada estudo que atendesse aos critérios de inclusão da revisão integrativa (Sampieri, 2013).

Os dados foram coletados em banco de dados autênticos, confiáveis e de livre acesso, justificando-se assim, a ausência do parecer do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). O estudo segue os princípios éticos estabelecidos na Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Todos os preceitos éticos foram rigorosamente cumpridos, garantindo a legitimidade das informações. As referências dos autores foram feitas em conformidade com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), garantindo a adequada atribuição de créditos e a integridade acadêmica do trabalho.

Resultados e Discussões

Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados para compor o estudo 10 (dez) artigos científicos. Os resumos dos artigos selecionados foram lidos e revisados na íntegra pelos pesquisadores, para verificar se atendiam aos objetivos propostos na pesquisa. Tanto a análise quanto a síntese dos dados extraídos dos artigos foram realizadas de forma descritiva, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão.

O organograma a seguir ilustra a estratégia de coleta de dados adotada pelos autores, delineando as principais etapas da pesquisa.

Figura 1: Organograma sintetizando as estratégias de busca utilizadas na base de dados Google Acadêmico e Scielo, que resultaram na amostra final dos dados, Brasil, 2020.

Fonte: Elaborado pelos autores. Brasil, 2020.

No organograma observa-se que a partir da coleta de dados, foram identificados 98 estudos, os quais foram submetidos à primeira etapa de avaliação por meio da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Assim, ao término desta etapa, uma amostra de 32 estudos foi obtida. Os artigos duplicados foram então excluídos, resultando em 25 estudos.

Na segunda etapa, os resumos dos 25 estudos foram lidos para identificar aqueles que poderiam responder à questão da pesquisa, resultando em uma amostra de 20 artigos. Posteriormente, após a leitura integral dos estudos, foram incluídos 14 estudos que puderam responder à questão de revisão. O Quadro 1 a seguir apresenta detalhadamente os artigos selecionados para o estudo, incluindo informações sobre autor, título, ano e metodologia.

Quanto ao tipo de estudo, dentre os 10 (dez) trabalhos selecionados, 8(oito) classificaram-se como descritivos, um transversal, e um exploratório. Quanto os sujeitos da pesquisa, observou-se que nos trabalhos selecionados, os surdos aparecem como público-alvo em 4 (quatro) publicações e os enfermeiros em 7 (sete), sendo que em uma das publicações ambos os grupos são objeto de estudo da pesquisa.

 Participaram da pesquisa os seguintes grupos: Enfermeiros 541 entrevistados; surdos 60 entrevistados; outros profissionais da saúde 53 entrevistados, perfazendo um total de 654 participantes envolvidos nas pesquisas.

Após análise dos dados das pesquisas bibliográficas, percebe-se uma predominância da abordagem qualitativa como método de análise. Sobre os instrumentos de coleta de dados, em 6(seis) estudos foi adotada a entrevista semiestruturada, e em 4 (quatro) utilizou-se do questionário.

No Quadro 1 abaixo, os artigos selecionados para o estudo são descritos de forma detalhada, incluindo informações sobre os autores, afiliação institucional, método de pesquisa, instrumento utilizado, participantes e local onde a pesquisa foi conduzida. As informações coletadas dos artigos abrangem o tipo de estudo, os sujeitos envolvidos, o local de realização da pesquisa, o ano de publicação, as fontes de financiamento, as metodologias empregadas e os principais resultados, obtidas por meio de um levantamento sistemático de bases de dados.

A análise cuidadosa dos dados coletados nos permitiu refletir sobre aspectos relevantes relacionados à importância de estabelecer uma comunicação eficaz entre a equipe de enfermagem e os usuários com Deficiência Auditiva, visando garantir uma assistência de qualidade. A discussão dos resultados foi organizada em três categorias: “Dificuldades enfrentadas pelos surdos no contexto do atendimento de saúde”, “Desafios enfrentados pelos enfermeiros ao lidar com pacientes surdos” e “Abordagens comunicativas adotadas pelos enfermeiros para humanizar o atendimento aos pacientes surdos”

– Dificuldades encontradas pelos surdos no atendimento de saúde.

O principal desafio no atendimento a pacientes surdos está na barreira de comunicação, resultante da falta de capacitação e conhecimento em LIBRAS pelos profissionais de saúde, assim como da escassez de intérpretes nas instituições de saúde. Além das dificuldades linguísticas, os surdos enfrentam entraves relacionados à acessibilidade aos serviços essenciais. Esses obstáculos prejudicam a interação durante o encontro entre o usuário e o profissional, uma vez que a falta de comunicação oral deixa o surdo isolado da sociedade ouvinte (Oliveira, et al., 2015).

 Estudos realizados por Pires, H.F. & Almeida (2016) revelaram que os pacientes apresentam indignação, raiva e decepção por não serem compreendidos ou por não compreenderem os profissionais da saúde. Sentem que estão sendo privados de informação e que o atendimento não é digno, alguns sentem-se excluídos desse processo.

No contexto da saúde, onde os profissionais necessitam interagir com os pacientes, habilidades de comunicação interpessoal são imprescindíveis, visto que as atividades são conduzidas pela comunicação, considerada uma ferramenta vital, independentemente de sua formação acadêmica. Uma das estratégias em comum observadas em diversos estudos é a presença de um acompanhante oralizado ou Intérprete para intermediar o atendimento tendo em vista que ele tem mais facilidade de interpretar o que o paciente tem a expressar ao enfermeiro, ou seja os sintomas, no entanto essas estratégias não são suficientes para garantir que a prestação do serviço seja qualificada.

Embora os familiares se disponham a interpretar, essa abordagem pode inibir os surdos de compartilhar abertamente informações sobre sua saúde com a equipe de saúde. A presença de terceiros pode violar a confidencialidade, comprometer a privacidade e gerar dilemas éticos. Esses aspectos prejudicam a construção de vínculos e, consequentemente, a qualidade do cuidado oferecido, podendo afetar o diagnóstico e o tratamento. (Chaveiro, Porto e Barbosa, 2009)

Além disso, é importante considerar que os familiares, por não estarem habituados com os termos técnicos da médica ou não terem habilidades em língua de sinais, podem inadvertidamente alterar o significado da comunicação, seja de forma acidental ou intencional (Schelles, 2009).

Chaveiro, Porto e Barbosa (2009) destacam que a presença de um acompanhante coloca os surdos em uma posição de passividade no processo de cuidados em saúde, pois têm pouca autonomia e responsabilidade nesse contexto. Muitas vezes, é o acompanhante que comunica ao profissional de saúde os problemas de saúde enfrentados pelo surdo, o que impacta sua autonomia e cidadania, uma vez que depende de terceiros para obter informações que poderiam melhorar sua qualidade de vida. Por outro lado, na ausência desse acompanhante, os surdos ficam privados de informações sobre decisões e procedimentos relativos ao atendimento o que gera insatisfação e angústia tanto para os profissionais da saúde como para o paciente surdo.

Os pacientes surdos ao procurarem os serviços de saúde visam uma comunicação de forma direta, em que sejam protagonistas e entendam o que acontece com o próprio corpo e que seja preservada sua privacidade e independência. Contudo, devido às falhas na comunicação, alguns surdos evitam buscar ajuda médica a menos que seja absolutamente necessário. A falta de informações precisas leva essa população a procurar respostas em fontes menos confiáveis e só recorrem aos serviços de saúde em situações emergências o que pode resultar em problemas de saúde mais graves .

A interação entre paciente e profissional de saúde deve ser encarada como um momento de troca, conversa e crescimento recíproco. Apesar de o acesso aos serviços de saúde ser um direito fundamental, para os surdos, esse direito parece não estar plenamente assegurado. É fundamental que os profissionais de saúde se habilitem para reconhecer e superar os obstáculos presentes, assegurando, dessa forma, uma prestação de cuidados de excelência para todos os indivíduos. (Schelles, 2009).

– Dificuldades encontradas pelos enfermeiros ao atenderem pacientes surdos.

A prestação de cuidados de saúde aos pacientes surdos apresenta desafios únicos para os enfermeiros, que muitas vezes enfrentam obstáculos significativos na comunicação e na compreensão das necessidades específicas desses pacientes. Ao lidar com a barreira linguística e a falta de conhecimento sobre a cultura surda, os enfermeiros se deparam com uma série de dificuldades que podem afetar a qualidade e a eficácia da assistência prestada.

Os estudos conduzidos por Silva & Ribeiro (2017) revelam que a equipe de saúde enfrentam dificuldades para explicar assuntos de interesse do paciente e compreender sua forma de comunicação. Pacientes que requerem atenção especial devido à sua forma única de se comunicar necessitam de uma conexão eficaz com os profissionais de saúde. Isso demanda competência e habilidade por parte dos profissionais para se comunicarem de maneira adequada, utilizando a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) (Freitas; Seidl, citados em Oliveira et al., 2011).

Em virtude de grande parte das equipes de saúde não possuir habilidades nessa forma de comunicação, recorrem a outras estratégias, como gestos, leitura labial, assistência de acompanhantes e comunicação escrita. Pesquisas realizadas por Britto e Samperiz (2010) demonstraram que  à comunicação escrita, não se mostra uma estratégia eficaz para essa comunidade, uma vez que os surdos também enfrentam dificuldades com a língua portuguesa. Em se tratando da leitura labial, esse método de comunicação exige grande concentração e pode deixar o sujeito Surdo mentalmente esgotado. Além disso, certas características, como o uso de bigode, sotaque e máscaras cirúrgicas, podem tornar a leitura labial inviável.

Oferecer cursos de Libras para profissionais de saúde representa uma alternativa viável para promover uma comunicação eficaz com pacientes surdos e seus familiares. Quanto mais profissionais forem capazes de dominar a Libras, maior será a chance de respeitar a inclusão social e a cultura dos surdos (Silva, M.A.M.D.; Benito, L.A.O., 2016).

Em cada estudos analisados, as equipes de enfermagem que participaram das entrevistas relatam que não se sentem capacitados adequadamente para lidar com esse público, dada a dificuldade de se estabelecer uma comunicação eficaz com essa clientela e reconhecem a importância da capacitação em libras, sentem-se frustrados, inseguros e constrangidos devido às dificuldades no processo de comunicação. (Francisqueti, V., 2017). Essas dificuldades e obstáculos na comunicação justificam a necessidade de qualificação desses profissionais para promover uma assistência mais inclusiva e humanizada.

Abordagens comunicativas utilizadas pelos enfermeiros para humanização no atendimento à pessoa surda.

A comunicação eficaz desempenha um papel fundamental na prestação de cuidados de saúde humanizados, especialmente no contexto do atendimento a pacientes surdos. A adoção de estratégias de comunicação adequadas é essencial para garantir que os pacientes surdos recebam a assistência de que precisam com dignidade e respeito.

As ações e estratégias para assistir aos usuários surdos devem ser abrangentes, guiadas por políticas públicas e planejadas pela gestão em colaboração com os serviços de saúde. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 196º, versa acerca da universalidade do acesso a saúde:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”(Brasil, 1998).

Este dispositivo constitucional ressalta o compromisso do Estado em assegurar que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços de saúde necessários, independentemente de sua condição social, econômica ou de saúde. Essa análise evidencia a prioridade dada à saúde como um direito fundamental dos cidadãos e reforça a responsabilidade do Estado em garantir sua realização por meio de políticas e ações concretas.

No que se refere as abordagens comunicativas, ao examiná-las, busca-se não apenas identificar as melhores práticas, mas também destacar os desafios e oportunidades encontrados por profissionais da saúde neste contexto específico. O entendimento dessas estratégias e de sua eficácia contribui não apenas para a melhoria do cuidado prestado aos pacientes surdos, mas também para a promoção de uma cultura hospitalar mais inclusiva e sensível às necessidades individuais de cada paciente.

Estudos realizados por Rodrigues (2018) apontam sobre a introdução, na área da saúde de software e aplicativos que podem auxiliar na comunicação entre paciente surdo e profissional da saúde. Essas tecnologias podem ser facilmente manuseadas sendo compostos por imagens, animações, vídeos em LIBRAS e até a presencial virtual de um intérprete para mediar o diálogo. Há uma variedade disponível no mercado. Algumas dessas tecnologias já foram testadas em alguns estados brasileiros e, o resultado foi bem aceito pela comunidade e aprovado por enfermeiros e usuários surdos, pois minimizou o constrangimento, facilitou o entendimento, a comunicação, as intervenções, otimizou o tempo das consultas.

Essa conduta de um atendimento mais humanizado é compreensível vai favorecer o paciente com surdez a ter um acompanhamento na sua saúde mais viável afim de dar um tratamento equitativo à sua necessidade, uma inquietação visível no século XXI pelos profissionais da área da saúde. Essas estratégias são viáveis, porém não substitui o uso da Língua Brasileira de Sinais considerada como relevante e efetiva para a comunicação no atendimento à pessoa surda, pois o acesso aos serviços da saúde igualitários e apropriados, através da língua gestual, da cultura das pessoas surdas e de profissionais surdos é um direito humano subjetivo.

Nos estudos conduzidos por Silva & Benito (2020), foi observado que a inclusão da disciplina de LIBRAS na matriz curricular dos enfermeiros tem um impacto positivo na melhoria dos serviços. Essa abordagem é essencial para que os estudantes possam se familiarizar com o estudo da LIBRAS e, consequentemente, reduzir os efeitos das barreiras de comunicação. Isso contribui de maneira significativa para mitigar as diversas dificuldades enfrentadas pelos indivíduos surdos ao acessarem os serviços públicos de saúde.

Considerações finais

A história do profissional de enfermagem diante da dificuldade do paciente com surdez e deficiência auditiva é um desafio para a contemporaneidade. Várias medidas estão sendo adotadas para minimizar as barreiras na comunicação, mas ainda existem lacunas no acolhimento, pois o enfermeiro utiliza meios alternativos de comunicação, o que impossibilita um atendimento eficaz, gerando desconforto e sentimentos negativos para os envolvidos.

Este estudo é relevante por proporcionar uma compreensão das dificuldades enfrentadas pela equipe de saúde, em especial a de enfermagem, ao cuidar de pessoas acometidas pela surdez. Através da revisão integrativa realizada, fica evidente que as dificuldades no atendimento ao paciente surdo são abrangentes, sendo a falta de comunicação a principal delas, uma vez que a maioria dos trabalhadores da saúde não possui conhecimento em Libras. Além disso, destaca-se a ausência de intérpretes nas instituições de saúde, entre outras barreiras que comprometem o atendimento. A relação entre o profissional de saúde, especialmente o enfermeiro, e o paciente surdo precisa ser aprimorada, pois para os surdos, um atendimento digno ocorre quando suas necessidades são compreendidas, promovendo assim a inclusão na área da saúde.

Destaca-se a importância de os profissionais de saúde buscarem alternativas por meio de cursos de capacitação, treinamentos e/ou formação continuada em libras, visando promover a saúde da população, sem excluir os surdos, uma vez que a saúde é um direito de todos. Este estudo incentiva a realização de novas pesquisas, com a finalidade de aprimorar o atendimento e promover a inclusão deste grupo de cidadãos em nossa sociedade

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1Enfermeira graduada pela Gamaliel. Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel. E-mail: flavia_mpadilha@hotmail.com

2Acadêmico do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel. E-mail: gabrielsoaresbiel0121@gmail.com

3Acadêmico do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel. E-mail: ljose.junior@faculdadegamaliel.com.br

4Mestranda em Cultura e Linguagem pela UFPA. Docente Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel. E-mail: leilaveloso.peres@gmail.com

5Acadêmico do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel. E-mail: rosely.mendes@faculdadegamaliel.com.br