SELF-MEDICATION BY MEDICAL STUDENTS AND ITS INFLUENCE ON THE LEARNING PROCESS: AN INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10681610
Juan Pedro Almeida Porfirio1;
Valéria Miranda Barros2;
Vitor Freitas Alves3;
Jorge Henrique Mourão Pacheco4;
Walmirton Bezerra D’Alessandro5.
Resumo
A prática da automedicação entre acadêmicos de medicina emerge como uma temática relevante na saúde, destacando-se pela contradição de futuros profissionais da saúde que, apesar de sua formação, optam por não seguir orientações médicas tradicionais. Este estudo investiga a incidência e as motivações por trás da automedicação nesse grupo específico, utilizando uma metodologia de revisão integrativa. Para tal, foram selecionados artigos nas bases de dados da Pubmed/Medline, empregando descritores como “self-medication”, “medical students”, “prevalence”, e “incidence”. Os resultados indicam que o status de acadêmico de medicina influencia significativamente na decisão de se automedicar, com os estudantes acreditando que seu conhecimento é suficiente para a autoindicação de medicamentos. Essa confiança parece estar ligada tanto ao seu conhecimento teórico quanto às pressões e demandas acadêmicas, levando-os a questionar se determinadas condições (como TDAH, ansiedade, fobia) poderiam justificar variações em seu desempenho acadêmico. As conclusões sugerem que a automedicação entre acadêmicos de medicina tem raízes profundas, refletindo um comportamento que não se limita a este grupo, mas que é observado na população em geral. Este fenômeno destaca a necessidade de uma reflexão crítica sobre a educação em saúde e práticas de automedicação, especialmente entre aqueles destinados a se tornarem profissionais da saúde.
Palavras-chave: Automedicação. Acadêmicos de medicina. Incidência. Prevalência.
1. INTRODUÇÃO
A prática da automedicação é um fenômeno mundialmente difundido, especialmente notável em países com sistemas de saúde precários. Nesses locais, o acesso direto a medicamentos sem prescrição médica em farmácias é uma alternativa mais simples do que buscar orientação médica profissional. No Brasil, apesar das normativas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sobre a venda e promoção de medicamentos isentos de prescrição, a regulamentação não abrange o uso individual desses produtos (“Automedicação”, 2001)
O debate sobre a automedicação frequentemente coloca o foco nos consumidores, negligenciando a responsabilidade compartilhada entre fabricantes e distribuidores. Este aspecto é crucial, especialmente em contextos de emergência sanitária, como observado durante a pandemia de COVID-19, onde o uso não regulamentado de medicamentos apresentou riscos significativos à saúde pública (MELO et al., 2021). A prática se torna ainda mais paradoxal quando observada entre acadêmicos de medicina, que, apesar de sua formação, se envolvem em automedicação, ignorando as possíveis consequências.
A vulnerabilidade dos jovens, incluindo estudantes de medicina, ao uso indiscriminado de substâncias psicoativas, revela uma complexa interação entre a busca por soluções imediatas a problemas de saúde e a exposição a riscos significativos. FERNANDES et al., 2017 destacam essa tendência, indicando um desafio particular nos esforços para promover a saúde entre essa população. ARIÑO; BARDAGI (2018) notam que a confiança desses estudantes em seu conhecimento ainda em formação pode levar à automedicação, com potenciais implicações no diagnóstico e tratamento de doenças graves.
Entre as motivações para essa prática, destaca-se a pressão acadêmica, que leva ao consumo de uma variedade de medicamentos, desde analgésicos até psicotrópicos, como o metilfenidato, conhecido comercialmente como Ritalina. Este uso pode ter efeitos adversos no humor, na agitabilidade e na capacidade de memorização, potencializando o risco de dependência e de transtornos psicológicos graves (SILVA et al., 2021; ORTEGA et al., 2010).
A saúde mental dos universitários, particularmente aqueles em formação médica, tem sido uma preocupação crescente, refletindo uma contradição diante de seu futuro papel na promoção da saúde (GOMES et al., 2023). Assim, este estudo busca investigar a influência da automedicação no processo de aprendizagem dos acadêmicos de medicina, visando identificar estratégias para mitigar seus efeitos negativos e promover um ambiente acadêmico saudável.
Por fim, a pesquisa propôs-se a explorar as principais substâncias utilizadas, o perfil dos estudantes envolvidos e as razões subjacentes à automedicação. O problema central da investigação é determinar qual a influência da automedicação no processo de aprendizagem dos acadêmicos de medicina. A justificativa para este estudo reside na necessidade urgente de abordar a questão da automedicação consciente entre os futuros profissionais da saúde, tanto para a melhoria do ensino e aprendizado quanto para a promoção da saúde pública em geral.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Automedicação como Problema de Saúde Pública
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define automedicação como o uso de medicamentos, incluindo fitoterápicos, por indivíduos para tratar sintomas ou patologias autodiagnosticadas. Esta prática, amplamente discutida no meio médico-farmacêutico, não é exclusiva de nenhum país em particular e, embora possa ser considerada uma forma de autocuidado, quando realizada de maneira inadequada, pode levar a consequências graves, como efeitos indesejados, iatrogenias, e até mesmo o mascaramento de doenças evolutivas, impondo custos adicionais ao sistema de saúde e ao paciente (“Automedicação”, 2001)
Durante a pandemia de COVID-19, observou-se um aumento significativo na prática da automedicação, especialmente no Brasil, com destaque para o uso do chamado “tratamento precoce” ou “kit covid”, que incluía medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus, como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, além de suplementos de vitaminas C e D e zinco, todos adquiridos sem comprovação científica de sua eficácia (Melo et al., 2021).
Prática da Automedicação entre Acadêmicos de Medicina
A prática da automedicação entre estudantes de medicina tem sido associada ao nível de conhecimento adquirido ao longo do curso. Estudos indicam uma maior prevalência dessa prática entre estudantes dos anos intermediários do curso, especialmente entre o sexo feminino (LIMA et al., 2021). Surpreendentemente, a maioria dos participantes desses estudos estava ciente dos riscos à saúde associados à automedicação, mas muitos continuaram a praticá-la mesmo após serem informados desses riscos.
O perfil de medicamentos utilizados sem orientação médica varia, incluindo desde analgésicos e anti-inflamatórios até psicotrópicos, muitas vezes usados para manejar sintomas relacionados ao estresse acadêmico, como dor, febre, insônia e dificuldades de concentração (LIMA et al., 2021).
Política Nacional de Medicamentos
A Política Nacional de Medicamentos do Brasil, alinhada aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), visa promover o acesso e o uso racional de medicamentos. Esta política abrange desde a inspeção e controle até a garantia de qualidade, seleção, aquisição, distribuição e uso racional dos medicamentos (Brasil, 2001). A colaboração com a Política Nacional de Assistência Farmacêutica fortalece esses objetivos, estabelecendo programas para assegurar o acesso da população a medicamentos essenciais.
3. METODOLOGIA
A metodologia deste estudo consistiu em uma revisão integrativa da literatura, selecionada por sua capacidade de sintetizar conhecimentos a partir de uma gama diversificada de estudos, incluindo pesquisas qualitativas, quantitativas e descritivas. Esta abordagem é instrumental na oferta de uma visão holística e atualizada sobre a prevalência da automedicação entre estudantes de medicina no Brasil. A investigação iniciou-se com a formulação da pergunta norteadora: “Qual é a prevalência da automedicação entre estudantes de medicina no Brasil?”, que serviu de base para o direcionamento da revisão e a seleção de estudos pertinentes.
Para a inclusão de estudos na revisão, foram estabelecidos critérios específicos, incluindo pesquisas realizadas no território brasileiro, publicadas entre os anos de 2014 a 2022, nos idiomas inglês, espanhol ou português. O período foi escolhido com base na publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de medicina, garantindo a relevância e atualidade dos dados analisados. Foram excluídos trabalhos que divergissem das recomendações da Organização Mundial da Saúde, realizados fora do Brasil ou indisponíveis na íntegra.
A seleção dos artigos envolveu uma busca detalhada nas bases de dados LILACS, PubMed e Web of Science, utilizando descritores específicos ligados à automedicação e ao perfil dos estudantes de medicina. Este processo contemplou a avaliação preliminar de títulos e resumos, seguida pela leitura completa dos estudos selecionados, para assegurar sua aderência aos critérios de inclusão. A coleta de dados abrangeu aspectos fundamentais dos estudos, como a metodologia empregada, características da população, principais achados e conclusões, permitindo uma análise crítica e sistemática das evidências disponíveis.
Os resultados obtidos foram cuidadosamente analisados e discutidos, enfatizando as principais tendências, lacunas no conhecimento e descobertas significativas. A apresentação dos resultados foi estruturada para facilitar a compreensão, com a utilização de recursos visuais sempre que apropriado, incluindo tabelas, gráficos e diagramas. A síntese dos dados incluiu informações sobre os autores, o desenho do estudo, o tamanho da amostra, os resultados principais, o país de origem e o ano de publicação, contribuindo para um entendimento abrangente da questão investigada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste estudo, os dados preliminares revelam uma prática significativa de automedicação entre acadêmicos de medicina, evidenciando uma complexa interação entre o nível de conhecimento médico e a tendência à automedicação. Observou-se um aumento progressivo na prática da automedicação à medida que os estudantes avançam no curso, sugerindo que o acúmulo de conhecimento pode, paradoxalmente, encorajar essa conduta.
A análise dos medicamentos mais frequentemente utilizados revelou uma preferência por analgésicos, anti-inflamatórios e medicamentos para o tratamento de sintomas de estresse e ansiedade. Este padrão sugere uma resposta aos desafios e pressões enfrentados durante a formação médica, onde o estresse acadêmico emerge como um fator significativo influenciando a saúde mental e física dos estudantes.
Comparando nossos achados com a literatura existente, a prevalência da automedicação entre estudantes de medicina no Brasil é consistente com tendências observadas em outras regiões geográficas. No entanto, o contexto educacional e as particularidades culturais do Brasil fornecem um cenário único para a discussão dessas práticas.
A discussão sobre os significados desses resultados enfatiza a necessidade de abordagens educativas focadas não apenas no conhecimento médico, mas também na promoção de habilidades de autocuidado responsável e na compreensão dos riscos associados à automedicação. Estratégias preventivas, incluindo programas de bem-estar estudantil e campanhas informativas sobre os perigos da automedicação, são vitais para alterar essa tendência preocupante.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo confirma a prevalência significativa da automedicação entre estudantes de medicina, evidenciando uma lacuna na educação médica sobre o uso responsável de medicamentos. Os objetivos propostos foram amplamente atingidos, demonstrando que a prática da automedicação está intrinsecamente ligada tanto ao acesso quanto ao conhecimento limitado sobre os riscos associados. As descobertas reforçam a necessidade de intervenções educativas focadas na promoção do uso racional de medicamentos. Limitações do estudo incluem sua amostra restrita e abordagem metodológica, sugerindo a expansão do escopo em pesquisas futuras para incluir diversidade geográfica e demográfica mais ampla. As contribuições teóricas e práticas deste trabalho oferecem um ponto de partida crucial para o desenvolvimento de políticas e programas educacionais mais efetivos.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Anvisa alerta para riscos do uso indiscriminado de medicamentos. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-alerta-parariscos-do-uso-indiscriminado-de-medicamentos. Acesso em: 15 fev. 2024.
ARIÑO, D. O.; BARDAGI, M. P. Relação entre Fatores Acadêmicos e a Saúde Mental de Estudantes Universitários. Revista Psicologia em Pesquisa, v. 12, n. 3, 2018.
Automedicação. Revista da Associacao Medica Brasileira (1992), v. 47, n. 4, p. 269–270, 2001.
FERNANDES, T. F. et al. Uso de substâncias psicoativas entre universitários brasileiros: perfil epidemiológico, contextos de uso e limitações metodológicas dos estudos. Cadernos saude coletiva, v. 25, n. 4, p. 498–507, 2017.
GOMES, L. M. L. D. A. S. et al. SAÚDE MENTAL NA UNIVERSIDADE: AÇÕES E INTERVENÇÕES VOLTADAS PARA OS ESTUDANTES. Educação em Revista, v. 39, 2023.
LIMA, J. M. DA S. et al. A prática da automedicação por universitários. Research, Society and Development, v. 10, n. 8, p. e47610817594, 2021.
MELO, J. R. R. et al. Automedicação e uso indiscriminado de medicamentos durante a pandemia da COVID-19. Cadernos de saude publica, v. 37, n. 4, 2021.
ORTEGA, F. et al. A ritalina no Brasil: produções, discursos e práticas. Interface, v. 14, n. 34, p. 499–512, 2010.
Política Nacional de Medicamentos. Revista de saude publica, v. 34, n. 2, p. 206–209, 2000.
SILVA, A. C. S. DA et al. Relação entre Vivência Acadêmica e Ansiedade em Estudantes Universitários. Contextos Clínicos, v. 14, n. 2, 2021.
¹Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médicas – Palmas email: juanpedroporfirio.jpp@gmail.com
²Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médicas – Palmas email: valeria-mb06@hotmail.com
³Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médicas – Palmas email: vitorkeviin07@gmail.com
4Discente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médicas – Palmas email: jorgehmp2@gmail.com
5Docente do Curso Superior de medicina do Instituto Afya Faculdade de Ciências Médicas – Palmas email: walmirton.alessandro@afya.com.br