A ATUAÇÃO DE ESTUDANTES DE MEDICINA EM UMA USF DO AMAZONAS NO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO INDÍGENA E NÃO INDÍGENA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202505152348


Yasmim Cristina Santos Pereira1; Alessandra Onety de Oliveira2; Ana Rafaela Barreto Mateus3; Anna Rachel Moita4; Zumma da Silva Lima5; Felipe Alves de Almeida6


RESUMO:

Introdução: A disciplina de Interação em Saúde e Comunidade (IESC) integra a formação dos acadêmicos de medicina, proporcionando experiências práticas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e fomentando a compreensão da atenção primária no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Este relato de experiência descreve as atividades desenvolvidas em uma Unidade de Saúde da Família (USF) localizada no bairro Tarumã, em Manaus, entre setembro e novembro de 2024. A região é caracterizada pela expressiva presença da população indígena urbana, o que exigiu uma abordagem diferenciada na prestação de serviços de saúde. Objetivo: Propõe-se como finalidade oferecer aos estudantes experiências únicas na atenção primária para população indígena e não indígena, assim como, um contato fidedigno dos princípios do Sistema Básico de Saúde (SUS). Metodologia: O estudo adotou uma metodologia qualitativa e descritiva, baseada na observação e participação direta dos estudantes nas práticas da unidade, permitindo uma imersão na rotina da equipe multiprofissional e na interação com os usuários do serviço. Resultados e Discussões: Durante a vivência, observou-se a importância da adaptação dos atendimentos às necessidades culturais da população indígena, evidenciando desafios como barreiras linguísticas e dificuldades no acesso aos serviços de saúde. Além disso, a presença de agentes indígenas de saúde facilitou o acolhimento e a comunicação entre profissionais e pacientes, promovendo um atendimento mais humanizado e eficaz. Os resultados demonstram que a inserção precoce dos estudantes de medicina em ambientes de atenção primária contribui para a construção de um olhar crítico sobre o funcionamento do SUS, além de reforçar a importância de estratégias que ampliem a equidade no acesso à saúde. Conclusão: Conclui-se que experiências como esta fortalecem a formação médica ao proporcionar vivências práticas alinhadas aos princípios da integralidade e humanização do cuidado.

Palavras-Chave:  Unidade de Saúde da Família, Atenção primária, População indígena/não Indígena.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (2008) relata que a atenção primária à saúde é um componente essencial do sistema de saúde, atuando como a porta de entrada para o cuidado e a promoção da saúde de toda a população. Com um enfoque centrado no paciente e na comunidade, a atenção primária busca garantir que todos tenham acesso a serviços de saúde de qualidade, independentemente de sua condição socioeconômica.

Garnelo et al. (2017) destacam que, no Amazonas, há uma expressiva população indígena aldeada e não aldeada. Por isso, o Ministério da Saúde, através da Lei nº 8080, especifica que o modelo adotado para atenção a população indígena deve levar em pauta a realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas, para que assim, eles possuam uma abordagem diferenciada voltada ao mais próximo possível, de sua cultura e crenças vigentes.

Neste aspecto a Unidade de Saúde da Família (USF) Parque das Tribos, tem desempenhado um papel crucial na promoção da saúde e no atendimento integral à população local, incluindo a população indígena. Com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais capacitados e sensibilizados para as especificidades culturais e sociais dos povos indígenas, a USF se destaca por sua abordagem inclusiva e equitativa.

Silveira et al. (2021) apontam que a participação dos alunos em Unidades Básicas de Saúde desse modelo, contribui para uma formação mais completa, ampliando o aprendizado sobre determinantes sociais da saúde, abordagens interculturais e o fortalecimento do vínculo entre profissionais e comunidade. Neste relato, apresentamos as práticas e desafios enfrentados, destacando a importância da formação contínua e da escuta ativa das necessidades da comunidade indígena. Além, do objetivo de oferecer aos alunos experiências singulares na atenção primária, incentivando um contato direto com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e com as particularidades do cuidado à população indígena e não indígena.

2. MÉTODO OU METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de um relato de experiência de abordagem qualitativa, fundamentado no processo de sistematização proposto por Oscar Jara (2006), que busca interpretar criticamente a experiência vivida, ordenando e reconstruindo os elementos que a compõem para compreender sua lógica e extrair aprendizados.

A experiência foi desenvolvida durante a disciplina de Interação em Saúde e Comunidade (IESC), no segundo período do curso de medicina, a partir de visitas práticas a uma Unidade de Saúde da Família (USF) localizada no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus, no período de setembro a novembro de 2024. As atividades foram organizadas em cinco etapas conforme a proposta metodológica de Jara. A primeira etapa corresponde ao ponto de partida, onde foi identificada que o contexto da USF é prioritariamente a população indígena, mas também, atende as demandas locais.

A segunda etapa, diz respeito do objetivo da sistematização, o qual foi definido como a análise da atuação dos estudantes no atendimento à população indígena e não indígena. Na terceira etapa, houve a recuperação do processo vivido, através da observação direta das práticas de atendimento, incluindo consultas médicas, exames laboratoriais e programas de controle de doenças. A quarta etapa, é a reflexão e analise, as quais foram realizadas por meio da comparação entre as práticas observadas e os princípios da Atenção Primária à Saúde e da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena. E por fim, na quinta e última etapa: ponto de chegada, foram extraídos aprendizados sobre a importância da adaptação cultural dos serviços de saúde e da formação de profissionais sensíveis às necessidades da comunidade atendida.

3. RESULTADOS E DISCUSÕES

O contato direto com a organização dos serviços e a dinâmica do Sistema Único de Saúde (SUS) foi uma experiência vivenciada pelos alunos durante as visitas à Unidade de Saúde da Família. Para Starfield (2002), a Atenção Primária à Saúde (APS), é vista como a principal porta de entrada para os usuários do SUS, se baseia nos princípios de acessibilidade, continuidade do atendimento e atenção integral, enfatizando a relevância do vínculo entre profissionais e pacientes. A adoção de uma estratégia territorializada pela Estratégia Saúde da Família (ESF), afirma Giovanella et al (2020), que foi crucial para estabelecer laços de confiança e carinho entre os profissionais e a comunidade assistida, incentivando um atendimento mais humanizado e menos mecânico.

Nesta USF vigente as academicas puderam acompanhar as mais diversas práticas clínicas como escuta inicial, triagem, consultas de enfermagem, coleta para o exame preventivo do câncer de colo do útero, testes rápidos para sífilis, HIV e hepatites virais, acompanhamento de pré-natal, imunização, controle e acompanhamento de hipertensão e diabetes.

No contexto dessa população indígena atendida por esta USF, destacou-se a presença dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS), cuja atuação foi essencial para facilitar a comunicação e promover um atendimento culturalmente sensível. Garnelo et al (2017), reforça que a inclusão desses profissionais na APS contribui para a redução das barreiras linguísticas e culturais, além de fortalecer a adesão ao tratamento e melhorar os indicadores de saúde dessa população.

Destaca-se, também, a inserção precoce dos estudantes de medicina no SUS proporcionou um aprendizado significativo sobre a complexidade do processo saúde-doença e a importância da longitudinalidade do cuidado. A vivência prática reforçou a relevância das Unidades de Saúde da Família como espaços de formação médica e de promoção da equidade no acesso aos serviços de saúde.

Assim, a experiência destacou a relevância da educação médica alinhada à realidade do SUS, destacando a demanda por políticas públicas que assegurem não só a inclusão da população indígena no sistema de saúde, mas também a capacitação de profissionais aptos a lidar com suas particularidades culturais e sociais.

4. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vivência dessas práticas possibilitou as acadêmicas uma experiência no campo da prática médica com base no princípio de integralidade do SUS, uma vez que permitiu a aproximação com usuários desse sistema, inclusive a população indígena, permitindo a observação da realidade na qual eles vivem. Essa inserção na prática, permite com que os estudantes observem e vivenciem a teoria do que aprendem em sala de aula, colaborando para sua formação técnica. Todo esse processo permite que os alunos, desde o início de sua formação acadêmica, desenvolvam um olhar mais crítico acerca dos atendimentos e possam ter uma atuação mais humanizada, o que é tão preconizado na área médica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção primária à saúde: Política Nacional de Atenção Básica. 2017.

GARNELO, L. et al. Políticas públicas de saúde para povos indígenas no Brasil: as contradições da cidadania diferenciada. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, p. 1197-1206, 2017.

GIOVANELLA, L., and MENDONÇA, M. H. M. Atenção primária à saúde. In: GIOVANELLA, L., ESCOREL, S., LOBATO, L. V. C., NORONHA, J. C., and CARVALHO, A. I., eds. Políticas e sistemas de saúde no Brasil [online]. 2nd ed. rev. and enl. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2012, pp. 493-545. ISBN: 978-85-7541-349-4. https://doi.org/10.7476/9788575413494.0019.

JARA, O. A sistematização de experiências: teoria e prática. 5. ed. Brasília: Editora CEPE, 2006.

SILVEIRA, C. et al. Inserção de estudantes em unidades básicas de saúde: impacto na formação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 45, n. 3, p. e2021111, 2021.

STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, 2002.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Primary health care: now more than ever. Geneva: WHO, 2008. Disponível em: https://www.who.int/publications.


1Medicina, Faculdade Santa Teresa, Manaus-Amazonas, yyasmimcristina@gmail.com.