A ATUAÇÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO DESENVOLVIMENTO GLOBAL DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10048955


Ingrid Lima Cardoso da Silva;
Vitória da Silva Santos;
Orientadora: Profa. Ma. Christiane Lopes Xavier


RESUMO 

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma síndrome do desenvolvimento  neural que engloba modificações relacionadas à interação social, empecilhos na  comunicação e presença de comportamentos repetitivos. O desenvolvimento global é  um grupo de habilidades responsáveis pela independência de um sujeito. O acompanhamento com uma equipe multiprofissional possibilita uma melhora nas  manifestações do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e pode refletir no  desenvolvimento global da criança com autismo. Em vista disso, o estudo tem como  objetivo avaliar como as abordagens do tratamento da equipe multiprofissional têm  efeitos no desenvolvimento global de crianças com transtorno do espectro autista.  Este estudo é uma revisão sistemática de intervenção com ensaios clínicos  randomizados analisados por dois revisores independentes nas bases de dados  PEDro, SCIELO, PUBMED e CENTRAL por meio da BVS. Foram incluídos dez artigos  que analisavam as abordagens das profissões de Fisioterapia, Psicologia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Nutrição no tratamento dos principais déficits  característicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A escala PEDro foi usada  para analisar a qualidade metodológica dos artigos. Conclui-se que crianças com TEA  que recebem as abordagens da equipe multiprofissional obtiveram resultados  positivos e melhora nos principais déficits do autismo. 

Palavras-chaves: Transtorno do espectro autista; Equipe multiprofissional; Desenvolvimento global. 

1 INTRODUÇÃO 

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma síndrome do desenvolvimento  neural que engloba modificações relacionadas à interação social, empecilhos na  comunicação e presença de comportamentos repetitivos, é uma síndrome do  desenvolvimento neural. A etiologia ainda não é bem definida, porém se sabe que  tem vários fatores e envolve variações imunológicas, genéticas e ambientais. As  quantidades e intensidades que os sinais clínicos aparecem são diversificados e  costumam aparecer até o terceiro ano de vida (Alvim, 2020). 

A prevalência atual de crianças com Transtorno de Espectro Autista (TEA) no  Brasil ainda é incerta, porque ainda não há pesquisas que tenham analisado uma  amostra particular dessa população (Ribeiro, 2022). Dados de 2019 e 2020  evidenciaram que a prevalência de crianças e adolescentes com idade entre 3 e 17  anos com TEA nos Estados Unidos é de 1 autista a cada 30 pessoas, além disso, os  meninos são mais diagnosticados do que as meninas (LI, Q. et al., 2022). 

Estudos apontam altas relações entre o autismo com déficits do  desenvolvimento motor e o ganho de habilidades motoras, o problema nas  competências motoras em crianças com TEA pode ocasionar abalos no dia a dia e no  convívio com outros indivíduos, já que estas competências estão permanentes na  rotina delas. As alterações motoras logo após o nascimento, ligadas aos empecilhos  sociais e déficits na comunicação mais adiante podem evidenciar precocemente o  diagnóstico (Vito; Santos, 2020). 

O desenvolvimento global é formado por um agrupamento de habilidades,  como capacidade social e comportamental, comunicação, linguagem, cognição,  motricidade, que são responsáveis pela autonomia e progressão da criança, quando  há retardo em algumas dessas habilidades, há um declínio no desenvolvimento global (Brites, 2018). 

É de grande relevância que os pais ou cuidadores busquem tratamento para as  crianças logo após o diagnóstico, porém existe uma grande dificuldade em qual  profissional buscar. Desse modo, este estudo se torna fundamental em virtude da falta  de conhecimento da sociedade sobre a atuação da equipe multiprofissional para  crianças com TEA, além da pouca aderência de um tratamento em que estes  profissionais possam atuar em conjunto. Visto isso, o estudo tem o objetivo de avaliar como as abordagens da equipe multiprofissional irão refletir no desenvolvimento  global de crianças com transtorno do espectro autista. 

2 METODOLOGIA 

Essa revisão sistemática foi submetida no Registro Prospectivo Internacional  de Revisões Sistemáticas (PROSPERO) seguindo os padrões exigidos. O registro foi  realizado no dia 17 de junho de 2023 contendo o número de registro  CRD42023433202. 

Foi utilizada na pesquisa a estratégia PICO, que é formada por quatro  elementos, sendo eles: P: crianças com Transtorno do Espectro Autista, I: a equipe  multiprofissional, C: não há comparação e O: reflexo no desenvolvimento global. A  vista disso, a pergunta clínica foi: “Como as abordagens da equipe multiprofissional  refletem no desenvolvimento global de crianças com Transtorno do Espectro Autista?” 

A pesquisa foi realizada por meio das bases de dados  PhysiotherapyEvidenceDatabase (PEDro), ScientificElectronic Library Online  (SCIELO), National Library of Medicine (PUBMED) e Cochrane Central  RegisterofControlledTrials (CENTRAL) por meio da BVS (Biblioteca Virtual em  Saúde), e foi usada a seguinte estratégia de busca: autism spectrum disorder AND  physiotherapy, autism spectrum disorder AND speech therapy, autism spectrum disorder AND psychology, autism spectrum disorder AND occupational therapy,  autism spectrum disorder AND nutrition. 

Logo após a captação dos artigos e a análise dos seus dados, foi feita a  exposição em uma tabela, com as particularidades de cada estudo, identificando seus  determinados autores, ano de editoração, se há grupo comparativo, as intervenções  utilizadas e resultados encontrados. 

A partir dos dados encontrados, foi elaborada uma síntese analisando as  informações coletadas nos estudos inclusos, concluindo com uma apresentação dos  resultados sobre os impactos das intervenções, sendo eles positivos ou negativos. 

A seleção dos artigos foi realizada por dois revisores independentes por meio  da leitura do título dos artigos, e em seguida foram revisados todos os artigos e feita a  análise dos critérios de inclusão e exclusão. Além disso, foi utilizada a escala PEDro  para avaliar a qualidade metodológica dos artigos utilizados. 

Ensaios clínicos randomizados (ECA) que tratem das abordagens de cada  profissional da equipe multiprofissional no transtorno do espectro autista e ensaios  clínicos randomizados (ECA) com crianças com TEA até 12 anos de idade foram incluídos, e artigos com adultos, adolescentes, que envolvam animais, que envolvam  os pais das crianças com TEA e artigos incompletos foram excluídos. 

3 RESULTADOS 

Inicialmente foram encontrados 2.195 artigos, sendo 1278 na PUBMED, 1 na  PEDro e 916 na BVS. Após aplicação dos filtros ficaram 762(PUBMED) e 17 (BVS),  destes artigos restaram 66 para leitura, sendo, 56 excluídos por não preencherem os  critérios estabelecidos. O fluxograma, a seguir, projeta os procedimentos usados nas  buscas das pesquisas selecionadas para preparação desta revisão.

Figura 1 – Fluxograma da seleção dos artigos (Prisma Flow) 

Fonte: Prisma 

O quadro 1 e o quadro 2 referem-se a avaliação metodológica dos artigos por  meio da escala de qualidade PEDro organizada em critérios de 1 a 11, autor e ano  de publicação. 

Quadro 1. Análise da qualidade metodológica dos estudos com base na escala  PEDro. Teresina-PI, 2023.

Critérios /artigosBremer et al. 2015Padmanabha  H. et al. 2018Saad et al.  2015Franco et al. 2013Mohamma Dzaheri et  al. 2021
1.Os critérios de elegibilidade  foram pontuados?SIM SIM SIM SIM SIM
2. Os sujeitos foram  aleatoriamente distribuídos por  grupos (num estudo cruzados, os  sujeitos foram colocados em  grupos de forma aleatória de  acordo com o tratamento  recebido)?SIM SIM NÃO NÃO SIM
3. A alocação dos sujeitos foi  secreta?NÃO SIM NÃO NÃO SIM
4. Inicialmente, os grupos eram  semelhantes no que diz respeito  aos indicadores de prognóstico  mais importantes?SIM SIM SIM SIM SIM
5. Todos os sujeitos participaram  de forma cega no estudo?NÃO SIM NÃO SIM NÃO
6. Todos os terapeutas  participaram de forma cega no  estudo?NÃO NÃO NÃO NÃO SIM
7. Todos avaliadores que  mediram pelo menos um  resultado-chave, fizeram de  forma cega?NÃO SIM NÃO SIM SIM
8. Mensurações de pelo menos  um resultado-chave foram  obtidas em mais de 85% dos  sujeitos inicialmente distribuídos  pelos grupos?SIM SIM NÃO SIM SIM
9. Todos os sujeitos a partir dos  quais se apresentaram  mensurações de resultados  receberam o tratamento ou a  condição de controle conforme a  alocação ou, quando não foi esse  o caso, fez-se a análise dos  dados para pelo menos um dos  resultados-chave por “intenção  de tratamento”?SIM NÃO NÃO SIM SIM
10. Os resultados das  comparações estatísticas inter grupos foram descritos para pelo  menos um resultado-chave?SIM SIM SIM SIM SIM
11. O estudo apresenta tanto  medidas de precisão como  medidas de variabilidade para  pelo menos um resultado-chave?SIM SIM SIM SIM SIM
Total 6/10 8/10 3/10 7/10 9/10

Quadro 2. Análise da qualidade metodológica dos estudos com base na escala  PEDro. Teresina-PI, 2023. 

Critérios /artigosDrahota et al. 2011Schaaf. C  et al. 2013Mazahery  H. et al. 2019Sansi A. et al. 2020Toscano et al. 2017
1.Os critérios de elegibilidade  foram pontuados?SIM SIM SIM SIM SIM
2. Os sujeitos foram  aleatoriamente distribuídos por  grupos (num estudo cruzados, os  sujeitos foram colocados em  grupos de forma aleatória de  acordo com o tratamento  recebido)?SIM SIM SIM SIM SIM
3. A alocação dos sujeitos foi  secreta?NÃO SIM SIM NÃO SIM
4. Inicialmente, os grupos eram  semelhantes no que diz respeito  aos indicadores de prognóstico  mais importantes?SIM SIM SIM SIM SIM
5. Todos os sujeitos participaram  de forma cega no estudo?SIM SIM SIM NÃO SIM
6. Todos os terapeutas que  administraram a terapia fizeram no de forma cega?NÃO NÃO SIM NÃO SIM
7. Todos os avaliadores que  mediram pelo menos um  resultado-chave, fizeram-no de  forma cega?SIM SIM SIM NÃO SIM
8. Mensurações de pelo menos um  resultado-chave foram obtidas em  mais de 85% dos sujeitos  inicialmente distribuídos pelos  grupos?SIM SIM NÃO SIM NÃO
9. Todos os sujeitos a partir dos  quais se apresentaram  mensurações de resultados  receberam o tratamento ou a  condição de controle conforme a  alocação ou, quando não foi esse  o caso, fez-se a análise dos dados  para pelo menos um dos  resultados chave por “intenção de  tratamento”?SIM SIM NÃO NÃO NÃO
10. Os resultados das  comparações estatísticas inter grupos foram descritos para pelo  menos um resultado-chave?SIM SIMSIM SIM SIM
11. O estudo apresenta tanto  medidas de precisão como  medidas de variabilidade para  pelo menos um resultado-chave?SIM SIM SIM SIM SIM
Total 8/10 9/10 8/10 5/10 8/10

Fonte: Pesquisa dos autores, 2023. 

 O quadro 03, refere-se a um resumo das características dos estudos clínicos  usados neste artigo, demonstrando seus autores, amostra, objetivos, intervenção e  resultados. 

Quadro 03. Dados gerais sobre os artigos selecionados para obtenção dos  resultados. Teresina-PI, 2023.

AutorAmostraObjetivosIntervençãoResultados
Bremer et al. 20159Objetivo deste estudo foi examinar a eficácia de uma intervenção FMS   na melhoria das habilidades motoras, do comportamento adaptativo e das habilidades sociais de crianças de 4 anos de idade com TEA.O Grupo 1 participou de uma intervenção de FMS de 12 semanas durante 1h por semana, enquanto o Grupo 2 atuou como controle. O Grupo 2 então participou de uma intervenção de FMS de 6 semanas. Cada sessão seguiu o mesmo formato composto por sete atividades.  Melhorias gerais foram observadas no grupo experimental do pré ao pós- intervenção em todas as variáveis do PDMS-2. Diferenças significativas nos escores motores do pré ao pós intervenção foram encontradas entre o grupo experimental  e de controle na manipulação de objetos PDMS-2 bruta pontuação e o quociente motor total do PDMS-2.
Mohammadzaheri et al. 202120Este estudo examinou o efeito do tratamento de resposta Pivotal (PRT) para melhorar as iniciações verbais em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo.As sessões de PRT visavam principalmente perguntas (“O que é isso?”, “Onde está?”, “De quem é?” e “O  que aconteceu?”) com a adição de estratégias de busca de atenção e assistência (ou seja, “Olhe” e “Ajude-me”).Na pós- intervenção, o número médio de iniciações verbais no grupo PRT aumentou para uma média de 6,6 (DP = 1,83, intervalo de 3 a 9) e um teste t de amostras pareadas demonstrou uma diferença significativa pré pós-intervenção no grupo PRT (t =ÿ 11,35, df=9, pÿ0,0001, d=3,6).
Franco et al. 20136Examinar o uso   da intervenção PMT numa população de crianças em idade escolar que foram diagnosticadas com autismo moderado e grave e tenha grave atraso na comunicação.Os procedimentos de intervenção foram incorporados às rotinas de brincadeiras sociais. O adulto acompanhava a atenção e a motivação da criança (dentro do ambiente arranjado) e imitava as vocalizações da criança. O padrão da criança foi interrompido e o adulto tentou envolver a criança por sua vez.Todos os participantes demonstraram aumento no número máximo de atos de comunicação em uma rotina por sessão. Durante a intervenção, os participantes demonstraram uma melhoria visível, pelo menos triplicando o seu número máximo médio de atos de comunicação por rotina em comparação com a linha de base (intervalo médio = 7,5– 17,3 atos).
Saad et al. 2015122Avaliar a relação entre a deficiência de vitamina D e a gravidade do autismo.O presente ensaio fornece evidências claras da eficácia do tratamento a longo prazo da irritabilidade com LCPUFA ômega3 e suplementos de vitamina D em crianças com TEA. A vitamina D também foi eficaz no tratamento dos sintomas de hiperatividade nesses crianças.
Padmanabha H. et al. 201851Determinar a viabilidade e eficácia de intervenções sensoriais domiciliares em crianças com TEA com anomalias de processamento sensorial.O grupo de intervenção sensorial recebeu intervenções sensoriais domiciliares pelos pais/cuidadores, além de terapia padrão de 12 semanas; o grupo terapia padrão recebeu terapia fonoaudiológica pelas fonoaudiólogas e análise do comportamento aplicada pela psicóloga infantil. A mudança média nas pontuações no início do estudo e 12 semanas após o início da intervenção mostrou que crianças no grupo de intervenção sensorial pontuaram significativamente   melhor na Escala de Likert de 10 itens avaliada pelos pais   em comparação com o grupo terapia padrão, além de ter sido percebido a redução da hiperatividade e das estereotipias motoras.
Toscano et al. 201764Examinar os efeitos de uma intervenção baseada em exercícios de 48 semanas sobre o status do peso, perfil metabólico, sintomas de TEA, e qualidade de vida.O grupo intervenção foi exposto a um programa de atividade física de 48 semanas, baseados em exercícios básicos de coordenação e força, consumindo 40 minutos  por sessão, com as sessões ocorrendo duas vezes  por semana e a seguinte estrutura: 5 minutos de fase preparatória, 30 minutos de desenvolvimento e 5 minutos de relaxamento.Descobriu-se que as crianças expostas      ao programa de intervenção, em comparação com aquelas de um      grupo de controle, mostraram efeitos positivos significativos na melhoria da saúde metabólica e na redução de traços autistas.
Drahota et al. 2011 40Melhorar as habilidades de vida diária e transtornos de ansiedade em crianças com autismo através da terapia cognitivo comportamental.Discussões dos terapeutas com as crianças e os pais durante 16 sessões semanais, cada uma com duração de 90 minutos (cerca de 30 minutos com as crianças e 60 minutos com os pais/família).As técnicas de terapia cognitivo comportamental familiar produzem ganhos clinicamente significativos nas habilidades   de vida diária entre crianças com TEA e também melhoria  dos sintomas ou da gravidade   de ansiedade.
Schaaf C. et al. 201332Avaliar a eficácia da integração sensorial em comparação   com os cuidados habituais e avaliar o impacto da abordagem nos comportamentos sensoriais.As crianças do grupo de tratamento receberam 3 vezes por semana em sessões de 1 hora durante 10 semanas a intervenção de terapia ocupacional seguindo os princípios da integração sensorial.Os indivíduos com TEA que estavam no grupo tratamento tiveram ganhos sensoriais significativamente maiores que os indivíduos que estavam no grupo de cuidados habituais.
Mazahery H. et al. 201973Avaliar a eficácia da vitamina D e ômega-3 nos principais sintomas do TEA em crianças.Os participantes consumiam 4 capsulas de vitamina D3; ul/kg/dia durante 12 meses.O estudo concluiu que a vitamina D pode ter efeitos benéficos no TEA, principalmente quando o nível sérico  final é superior a 40ng/ml.
Sansi A. et al.  202049Avaliar os efeitos de um programa de atividade física inclusiva nas habilidades motoras e sociais de alunos com TEA.Atividade física inclusiva por 1 hora, 2 dias na semana durante 12 semanas.O programa de atividade física inclusiva foi um método eficaz para melhorar as habilidades sociais e motoras dos alunos com TEA.

4 DISCUSSÃO 

Nesta revisão sistemática, foram utilizados dez artigos científicos nas bases  dados (PUBMED, PEDro, BVS), onde verificam as abordagens de algumas profissões  da saúde na melhora dos principais déficits de crianças com Transtorno do Espectro  Autista (TEA). Dessa maneira, o objetivo é analisar as abordagens realizadas no  tratamento do TEA e como as abordagens multidisciplinares têm efeitos no  desenvolvimento global das crianças com TEA.  

De acordo com os artigos expostos, as abordagens da equipe multidisciplinar  obtiveram melhora nos principais déficits do TEA. Os estudos tiveram diferentes  abordagens de fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, psicologia e fonoaudiologia. 

Toscano et al. (2017) examinou os efeitos de uma intervenção baseada em  exercícios de 48 semanas sobre o perfil metabólico, traços de autismo e qualidade de  vida percebida em crianças com transtorno do espectro do autismo (TEA) baseado  em exercícios básicos de coordenação e força, utilizou-se como instrumento de  avaliação a escala de traços autistas e indicadores de qualidade de vida. Os  resultados do estudo revelaram mudanças positivas nas percepções dos pais sobre o  comportamento repetitivo e estereotipado e a qualidade de vida relacionada a saúde  em crianças com TEA como resposta ao exercício através do aumento da saúde física  e dos escores psicossociais.  

Sansi A. et al. (2020) verificou os efeitos de um programa de atividade física  inclusiva nas habilidades motoras, habilidades sociais e atitudes de alunos com e sem  autismo, os exercícios do estudo consiste em atividades de apoio ao desenvolvimento  de capacidades físicas e motoras e ao desenvolvimento perceptivo-motor, utilizou-se  como instrumento de avaliação a avaliação de habilidades locomotoras como corrida,  salto, pulo, drible, deslizamento, locomoção do corpo, etc. Este estudo determinou  que os exercícios de 12 semanas tiveram um efeito positivo nas habilidades  locomotoras de estudantes com TEA de acordo com as avaliações e dados  qualitativos do estudo. 

Toscano et al. (2017) e Sansi A et al. (2020) verificaram os efeitos de exercícios  físicos na melhora de déficits de crianças com TEA, onde um teve duração de 48  semanas e o outro 12 semanas, respectivamente. Toscano et al. (2017) avaliou  habilidades físicas como força muscular e coordenação enquanto Sansi A. et al. (2020) fez uma avaliação mais voltada para habilidades locomotoras. Além disso, de  acordo com a escala PEDro o primeiro estudo teve uma qualidade metodológica de  8/10 enquanto o segundo estudo foi 5/10 tornando o primeiro estudo mais relevante. 

Schaaf C. et al. (2013) avaliou uma intervenção manualizada para dificuldades  sensoriais para crianças com autismo, onde as crianças do grupo tratamento  receberam 30 sessões da intervenção manualizada de terapia ocupacional durante  10 semanas. Para testar o efeito do tratamento nos comportamentos funcionais foi  comparado a mudança desde o início até o final do tratamento para cada uma das  subescalas do PEDI. Os resultados revelaram melhoria para o grupo tratamento em  comparação com o grupo controle que contou somente com cuidados habituais. Além disso, as crianças do grupo tratamento pontuaram como necessitando significamente  menos de cuidadores em autocuidado e atividades sociais.  

Padmanabha H. et al. (2018) avaliou a viabilidade e eficácia de intervenções  sensoriais domiciliares em crianças com TEA com anomalias de processamento  sensorial com duração de 12 semanas e foi composto por dois grupos, um grupo de  intervenção sensorial onde a estimulação foi realizada pelos pais com as seguintes  estimulações: estimulação tátil; estimulação de propriocepção; estimulação vestibular;  estimulação visual e estimulação auditiva, e outro grupo para terapia padrão com  fonoaudiólogo e psicólogo. O grupo intervenção pontuou significamente melhor na  Escala Likert de 10 itens avaliada pelos pais em comparação com o grupo de terapia  padrão. Constatou-se melhora acentuada na diminuição da hiperatividade,  estereotipias motoras e sensibilidade auditiva. Além disso, o estudo afirmou que as  intervenções sensoriais domiciliares são viáveis em países em desenvolvimento e tem  uma atribuição benéfica ao TEA.  

Schaaf C. et al. (2013) e Padmanabha H. et al. (2018) avaliaram intervenções  sensoriais para melhora do déficit sensorial de crianças com TEA, o primeiro estudo  teve-se a intervenção aplicada por terapeutas ocupacionais enquanto a segunda foi  realizada pelos pais em ambiente domiciliar, no entanto, ambas mostraram que as  intervenções sensoriais são benéficas. Os estudos foram realizados em um tempo  semelhante, sendo uma com 10 semanas e a outra com 12 semanas respectivamente.  

Mazahery et al. (2019), realizou um estudo com o objetivo de avaliar a eficácia  da vitamina D, do ômega-3 de cadeia longa ácido graxo poliinsaturado ou ambos na  redução dos principais sintomas do transtorno do espectro autista. Foram avaliadas  73 crianças com idade de 2 a 8 anos, com diagnóstico de TEA (leve, moderado e  grave). As crianças foram alocadas de forma aleatória em 4 grupos: de Vitamina D3,  outro de ômega-3, ambos e placebo. Todas as crianças receberam 4 comprimidos  referente ao seu grupo por dia durante os 12 meses de estudo, todas as cápsulas  foram produzidas em cor e formatos iguais. Sobre a coleta de dados, foi realizada no  início e no fim dos 12 meses de estudos, com uma visita dos participantes até o Centro  de Nutrição Humana da Massey University Unidade de Pesquisa (HNRU) e foi  utilizado um teste para medir a irritabilidade e hiperatividade chamado Aberrante  Behavior Checklist (ABC). Sobre os resultados, houve uma resposta positiva de 20% a 22% nos grupos de tratamento ativo e de 0% no grupo placebo. Houve melhoria no  equilíbrio e movimento, na comunicação e interação social. O ômega-3 sozinho obteve  mais resultados na melhora dos principais sintomas do TEA.  

Saad et al. (2015), avaliou a relação entre a deficiência de vitamina D e a  gravidade do autismo. 122 crianças participaram do estudo. Foi avaliado o nível de  vitamina D e durante a terapia as crianças fizeram a ingestão da vitamina D.  Simultaneamente, mais de 80% das crianças que receberam a vitamina D3  melhoraram significativamente os resultados, principalmente em relação ao retraimento social, ao comportamento estereotipado e irritabilidade, que são característicos do TEA.  

Crianças com autismo sofrem com deficiências nutricionais importantes, nos  resultados da pesquisa de Saad, et al. (2015) em comparação com a pesquisa de  Mazahery et al. (2019), obteve-se menos resultados positivos, levando em  consideração os cálculos amostrais dos resultados, podendo está relacionado a  diferença do tempo de cada intervenção, visto que uma durou 1 ano e a outra apenas  3 meses. E ainda esclarece que o ômega-3 causa mais benefícios relacionados as  melhoras e diminuição das características e sintomas do TEA.  

De acordo com, Drahota et al. (2011), a Terapia cognitivo comportamental  (TCC), é um tratamento promissor que atende na independência, nas habilidades de  autoajuda da criança e nos transtornos de ansiedade. Realizou-se então um estudo  com 40 crianças de 7 a 11 anos, divididas aleatoriamente em dois grupos, um de  tratamento imediato e um grupo de lista de espera. Após a coleta dos dados da  pesquisa, forneceram-se evidências de que os participantes que receberam a  intervenção houve melhora tanto nas habilidades de vida diária e na interação social,  quanto na redução da ansiedade. 

Um projeto de Bremer et al. (2015), cujo o objetivo foi verificar o efeito de uma  intervenção FMS (habilidades motoras fundamentais) na melhoria do comportamento  adaptativo e das habilidades sociais de crianças com TEA, as crianças foram divididas  em dois grupos e receberam as intervenções em diferentes intensidades. Dos  resultados, foram observadas melhorias significativas no grupo experimental em todas  as características avaliadas.  

As pesquisas acima mostram nos seus resultado que tanto a TCC quanto a  FMS são intervenções válidas para a melhoria da interação social de crianças autistas.  No entanto, o estudo de Drahota et al. (2011) contém uma amostra mais diversificada  e maior, além de um tempo de intervenção mais extenso, diferente da de Bremer et  al. (2015). Um novo estudo com uma amostra mais heterogênea e com maior  quantidade poderia trazer resultados mais conclusivos para Bremer et al. (2015). 

Franco et al. (2013), resolveu estudar uma intervenção que direcionou-se na  interação social e iniciação verbal de crianças não verbais. O estudo avaliou 6  participantes, a intervenção foi conduzida por um fonoaudiólogo com experiência em  técnicas de ensino do meio pré-linguístico (PMT), essa técnica foi a única utilizada no  estudo. A técnica se mostrou bem sucedida no aumento da iniciação verbal e  comunicação.  

Mohammadzaheri et al. (2021), estudou a eficiência de um tratamento de  resposta Pivotal (PRT), para a melhoria da iniciação verbal em crianças com autismo.  Participaram da intervenção crianças de 6 a 12 anos e durou dois meses. Os  participantes foram divididos em dois grupos, PRT e TAU (tratamento como de  costume), a intervenção foi aplicada por fonoaudiólogos. Houve resultados positivos  na melhoria das iniciações verbais para o grupo de intervenção PRT. 

Nos resultados de Mohammadzaheri et al. (2021), na pós-intervenção, o  número médio de iniciações verbais no grupo PRT aumentou para uma média de 6,6  (DP = 1,83, intervalo de 3 a 9) e um teste t de amostras pareadas demonstrou uma  diferença significativa pré e pós-intervenção no grupo PRT (t =ÿ 11,35, df=9, pÿ0,0001,  d=3,6). No grupo TAU todos os participantes permaneceram no nível pré-intervenção,  não demonstrando iniciações. 

Tanto Mohammadzaheri et al. (2021), quanto Franco et al. (2013), obtiveram  resultados positivos nas suas intervenções em relação a comunicação e interação  social e verbal de crianças com TEA. Observa-se na randomização de ambos os  estudos que houve uma pequena quantidade de participantes, e em uma delas houve  apenas participantes masculinos, uma maior heterogeneidade e maior quantidade de  crianças poderia aperfeiçoar os resultados. 

5 CONCLUSÃO 

 Os estudos evidenciaram que crianças acompanhadas por uma equipe  multiprofissional onde sejam aplicadas abordagens como programa de atividades  físicas inclusivas, técnicas de habilidade motoras fundamentais, intervenções  sensoriais, terapia cognitivo comportamental, técnicas de ensino do meio pré  linguístico, tratamento de resposta pivotal, suplementação alimentar com vitamina D  e ômega 3 obtiveram resultados positivos e melhora nos principais déficits do autismo  entre eles o desempenho motor, déficit sensorial, habilidades sociais, comportamento  repetitivo e estereotipado, hiperatividade, irritabilidade, interação social, entre outros.  Contudo, é importante ressaltar que tenham mais estudos randomizados para  consolidar a eficácia dos métodos utilizados pela equipe multiprofissional no autismo.

REFERÊNCIAS 

ALVIM, Renata Joviano. Perfil epidemiológico do Transtorno do Espectro Autista na  população pediátrica em um hospital terciário do estado do Rio de Janeiro. 2020. 132  f. Dissertação (Mestrado em Pesquisa Aplicada à Saúde da Criança e da Mulher)- Instituto Nacional de Saúde da Mulher da Criança e do Adolescente Fernandes  Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:  https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/47326. Acesso em: 24 mar. 2023 

BREMER, E; BALOGH, R. LLOYD, M. Eficácia de uma intervenção de habilidades  motoras fundamentais para crianças de 4 anos com transtorno do espectro do  autismo: um estudo piloto. Autism: the international journal of research and  practice, n. 19, p. 980-991, nov. 2015. DOI:  https://doi.org/10.1177/1362361314557548. Disponível em:  https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1362361314557548?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed. Acesso em: 04  out. 2023.  

BRITES, Luciana. O que significa atraso no desenvolvimento global?. Instituto  NeuroSaber, [S. l.], p. 1-1, 10 ago. 2018. Disponível em:  https://institutoneurosaber.com.br/o-que-significa-atraso-no desenvolvimentoglobal/#:~:text=O%20desenvolvimento%20global%20%C3%A9%20 um,de%20atraso %20no%20desenvolvimento%20global. Acesso em: 9 maio 2023. 

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ANEXOS

Escala de qualidade PEDro (versão em português)

Fonte: Shiwa (2011, p. 526)