NURSING PRACTICE IN BULIMIA NERVOSA: PSYCHOSOCIAL, DIAGNOSTIC, AND THERAPEUTIC PERSPECTIVES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506151215
Maria Paula Ramos de Souza Miranda1
Suellen Victória Lourêdo Santos1
Gustavo Philippe de Moura Silva1
Ana Luiza Diniz Barcelos1
Jonh David Viana Ferreira1
Ralf Silva dos Santos Rosa1
Hyorrana Pereira Priscila Pinto2
Resumo
O artigo aborda a bulimia nervosa como um transtorno alimentar multifatorial que afeta principalmente adolescentes e jovens adultos, com destaque para mulheres, e está associado a fatores biopsicossociais, como baixa autoestima, traumas emocionais, padrões estéticos impostos e uso excessivo de redes sociais. O objetivo do estudo é analisar os aspectos psicossociais, diagnóstico e estratégias terapêuticas relacionadas à bulimia, utilizando uma revisão bibliográfica da literatura com abordagem qualitativa. A metodologia envolveu a seleção criteriosa de artigos científicos publicados entre 2020 e 2025, com foco em publicações que abordam a bulimia nervosa em seus aspectos clínicos, fisiopatológicos e sociais. Os resultados revelam que o transtorno apresenta graves consequências físicas e emocionais, como desnutrição, desequilíbrios eletrolíticos, depressão e risco de suicídio. A bulimia envolve episódios de compulsão alimentar seguidos por comportamentos compensatórios, como vômito autoinduzido e uso de laxantes, e é muitas vezes subdiagnosticada por não se manifestar necessariamente em perda de peso acentuada. O tratamento exige uma abordagem interdisciplinar com intervenções psicoterapêuticas, acompanhamento nutricional e, em alguns casos, uso de medicamentos. O enfermeiro desempenha papel essencial tanto na identificação precoce quanto na assistência e no suporte emocional aos pacientes, além de monitorar condições clínicas e colaborar com outros profissionais da saúde. O fluxo de atendimento na Rede de Atenção Psicossocial inclui desde a triagem em unidades básicas até o acompanhamento contínuo em centros especializados, com ênfase em estratégias educativas e reabilitação psicossocial. A pesquisa conclui que a compreensão ampliada da bulimia e a atuação integrada das equipes de saúde são fundamentais para o sucesso terapêutico e prevenção de recaídas.
Palavras-chave: Bulimia nervosa. Transtornos alimentares. Saúde mental. Intervenção terapêutica. Enfermagem.
1. INTRODUÇÃO
Os transtornos alimentares têm ganhado crescente atenção no campo da saúde mental nas últimas décadas, devido à sua alta prevalência, complexidade diagnóstica e impactos profundos na qualidade de vida dos indivíduos afetados (Santos, Silva e Rodrigues, 2023). Esses distúrbios caracterizam-se por padrões alimentares disfuncionais, acompanhados de uma preocupação excessiva com o peso corporal, forma física e imagem pessoal (Costa et al., 2022). Entre os principais tipos de transtornos alimentares, a bulimia nervosa se destaca como uma condição particularmente preocupante por envolver episódios de compulsão alimentar seguidos de métodos compensatórios inadequados, como o vômito autoinduzido, uso abusivo de laxantes, jejuns prolongados ou exercícios físicos excessivos (Attia e Walsh, 2023).
A bulimia nervosa é frequentemente subdiagnosticada, visto que muitos de seus sintomas podem ser ocultados pelos indivíduos, o que dificulta a identificação precoce e o tratamento adequado (Attia e Walsh, 2023). Este transtorno acomete majoritariamente adolescentes e adultos jovens, especialmente do sexo feminino, e está intrinsecamente ligado a fatores biopsicossociais, como baixa autoestima, traumas emocionais, disfunções familiares e pressão cultural por um corpo idealizado (Costa et al., 2022).
A influência dos meios de comunicação, das redes sociais e dos padrões estéticos impostos pela sociedade contemporânea exerce um papel significativo no desenvolvimento e na manutenção desse quadro clínico (Costa et al., 2022). De acordo com a American Psychiatric Association (2022), a bulimia nervosa é classificada como um transtorno alimentar e da ingestão de alimentos, exigindo intervenções multidisciplinares que envolvam psicoterapia, acompanhamento nutricional e, em alguns casos, tratamento farmacológico. A gravidade dos danos físicos e emocionais associados à bulimia torna essencial a promoção de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz, visando não apenas à remissão dos sintomas, mas também à reestruturação da relação do indivíduo com o corpo e com a alimentação (Costa et al., 2022).
Os transtornos alimentares não afetam apenas o comportamento alimentar, mas também desencadeiam uma série de complicações físicas e psicológicas que podem comprometer significativamente a saúde geral do indivíduo. No âmbito físico, a restrição alimentar severa, os episódios de compulsão e os comportamentos compensatórios podem resultar em desnutrição, fraqueza muscular, osteoporose, problemas gastrointestinais e até falência de órgãos (Attia e Walsh, 2023). Além disso, complicações cardiovasculares, como arritmias e insuficiência cardíaca, são comuns, especialmente em casos de anorexia e bulimia (Attia e Walsh, 2023). No aspecto psicológico, os transtornos alimentares frequentemente coexistem com transtornos de ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), dificultando ainda mais a recuperação e tornando o tratamento mais complexo (Costa et al., 2022).
O ciclo de culpa, vergonha e isolamento social que acompanha essas condições pode agravar o quadro emocional e, em casos mais graves, aumentar o risco de automutilação e suicídio (Attia e Walsh, 2023). Por esse motivo, é essencial não apenas o tratamento especializado, mas também o investimento em ações preventivas, como a promoção de uma relação saudável com a alimentação e o enfrentamento das pressões sociais por padrões corporais irreais.
Os transtornos alimentares são definidos como condições psiquiátricas caracterizadas por comportamentos disfuncionais relacionados à alimentação, peso corporal e autoimagem. Segundo a American Psychiatric Association (2022), essas condições envolvem desde a restrição extrema de alimentos até episódios de compulsão alimentar descontrolada, acompanhados por sentimentos de culpa e sofrimento emocional. A Organização Mundial da Saúde (2023) destaca que tais distúrbios não se resumem a hábitos alimentares inadequados, mas sim a quadros clínicos graves que afetam a saúde física e mental de forma integrada, estando associados a fatores genéticos, psicológicos e socioculturais.
Os principais transtornos alimentares reconhecidos são: a anorexia nervosa, caracterizada por uma restrição alimentar severa e medo intenso de ganhar peso; a bulimia nervosa, marcada por episódios de compulsão alimentar seguidos de métodos compensatórios; e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), que envolve a ingestão excessiva de alimentos sem a prática de comportamentos compensatórios, o que pode levar à obesidade e a complicações metabólicas graves.
Diante dessa realidade multifatorial e das implicações clínicas e sociais da bulimia nervosa, este artigo tem como objetivo analisar os aspectos psicossociais, diagnósticos e terapêuticos relacionados ao transtorno, destacando o papel do enfermeiro no contexto assistencial e gerencial. A proposta é discutir, com base em evidências científicas recentes, como a enfermagem pode contribuir para a identificação precoce, o cuidado integral e o suporte emocional aos indivíduos acometidos, promovendo uma abordagem interdisciplinar e humanizada.
2. METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura com abordagem qualitativa, que tem como objetivo reunir e analisar evidências científicas sobre a fisiopatologia da bulimia nervosa, incluindo seus aspectos neurobiológicos, psicossociais, comportamentais e socioculturais. Para a realização da pesquisa, foi utilizado o sistema de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) para construção da estratégia de busca, adotando os seguintes descritores: Terapia Cognitivo-Comportamental, Bulimia nervosa, Saúde Mental, Enfermagem Psiquiátrica e Diagnóstico de Enfermagem. Esses descritores foram combinados com os operadores booleanos AND e OR, a fim de ampliar e refinar os resultados nas bases de dados.
A pesquisa foi conduzida na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), por se tratar de uma plataforma que integra bases como LILACS, MEDLINE, SciELO e IBECS, com ampla cobertura na área da saúde, psicologia e psiquiatria. O levantamento bibliográfico ocorreu entre Março e Maio de 2025, considerando publicações do ano de 2020 a 2025, a fim de garantir a atualização e relevância dos estudos analisados. Inicialmente, foram encontrados 130 artigos após a aplicação dos descritores nas bases.
Para a seleção da amostra, foram estabelecidos critérios de inclusão: estudos publicados entre o ano de 2020 a 2025, no idioma português; textos completos e disponíveis gratuitamente; e trabalhos que abordassem especificamente a bulimia nervosa em seus aspectos clínicos, fisiopatológicos e psicossociais. Os critérios de exclusão incluíram: artigos duplicados; no idioma inglês; estudos que abordavam outros transtornos alimentares sem foco principal na bulimia nervosa; pesquisas com abordagem exclusivamente farmacológica ou em modelos animais; resumos de eventos, cartas ao editor e artigos de acesso restrito (pagos); além de estudos publicados fora do período de 2020 a 2025.
Após a leitura dos títulos, resumos e, posteriormente, do conteúdo completo dos artigos, aplicando rigorosamente os critérios de inclusão e exclusão, a amostra final foi composta por 4 artigos científicos. Esses estudos forneceram dados relevantes para a compreensão aprofundada do tema e embasaram as discussões propostas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por um padrão disfuncional de comportamento relacionado à alimentação, no qual ocorrem episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos por atitudes extremas para evitar o ganho de peso. Tais atitudes incluem, principalmente, o vômito auto induzido, uso inadequado de laxantes ou diuréticos, jejuns rigorosos e atividade física em excesso (SILVA; SOARES; OLIVEIRA, 2022). Esse transtorno se diferencia de outros quadros alimentares, como a anorexia, por não estar necessariamente associado a uma perda de peso extrema, o que dificulta o diagnóstico e faz com que muitos casos passem despercebidos (SILVA; SOARES; OLIVEIRA, 2022). Pessoas com bulimia podem manter um peso corporal dentro da faixa considerada normal, mesmo apresentando um padrão alimentar severamente prejudicial (COSTA; MOURA; FERREIRA, 2023). A compulsão alimentar presente na bulimia envolve a ingestão de uma grande quantidade de alimentos em um curto período de tempo, geralmente acompanhada por uma sensação de perda de controle. Em seguida, surgem sentimentos intensos de culpa e angústia, o que leva à adoção de comportamentos compensatórios, reforçando um ciclo vicioso que prejudica a saúde física e mental do indivíduo (COSTA; MOURA; FERREIRA, 2023).
O diagnóstico da bulimia requer critérios específicos, como a frequência dos episódios (no mínimo uma vez por semana, durante três meses) e o impacto negativo da autoimagem corporal na autoestima da pessoa. O transtorno é influenciado por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais, entre eles a pressão social para alcançar padrões estéticos idealizados e a presença de baixa autoestima, traumas ou histórico familiar de transtornos mentais (SILVA; SOARES; OLIVEIRA, 2021).
3.2 FISIOPATOLOGIA
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar multifatorial, envolvendo aspectos neurobiológicos, psicológicos e socioculturais. Sua fisiopatologia está relacionada a alterações nos mecanismos que regulam o apetite, as emoções e a percepção corporal. Segundo Crone et al. (2023), disfunções nos sistemas serotoninérgico e dopaminérgico, responsáveis pela regulação do humor, impulsividade e comportamento alimentar, são observadas em pacientes com bulimia nervosa. A deficiência de serotonina, por exemplo, está associada à compulsão alimentar, depressão e ansiedade, sintomas comuns nesse transtorno (Crone et al., 2023).
Além disso, há uma hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), resultando em níveis elevados de cortisol, o que compromete o controle da saciedade e favorece episódios de compulsão (Crone et al., 2023).
As consequências físicas são severas: vômitos recorrentes e uso de laxantes causam desequilíbrios hidroeletrolíticos, como hipocalemia e alcalose metabólica, além de desidratação e arritmias cardíacas. Lesões gastrointestinais, como esofagite e erosão dentária, também são frequentes (Crone et al., 2023).
Psicologicamente, pacientes com bulimia apresentam baixa autoestima, distorção da imagem corporal e dificuldades de regulação emocional. A compulsão surge como forma de lidar com emoções negativas, seguida de culpa e comportamentos purgativos, criando um ciclo vicioso difícil de romper (Scaglia et al., 2022).
A pressão social por um corpo ideal, reforçada por mídias e redes sociais, intensifica a insatisfação corporal e contribui significativamente para o desenvolvimento e manutenção do transtorno (National Eating Disorders Association, 2023). De forma resumida, a fisiopatologia da bulimia segue este ciclo: pressões externas e vulnerabilidades emocionais levam à compulsão alimentar; sentimentos de culpa geram comportamentos compensatórios; tais comportamentos causam alterações neuroquímicas e físicas que perpetuam o transtorno.
3.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
Os distúrbios alimentares têm se tornado um problema de saúde pública cada vez mais relevante no Brasil, afetando indivíduos de diferentes faixas etárias e contextos sociais, com maior incidência entre adolescentes e mulheres jovens. Estima-se que cerca de 4,6% da população brasileira sofra com algum tipo de transtorno alimentar, sendo o transtorno de compulsão alimentar periódica o mais prevalente (2%), seguido pela bulimia nervosa (1,5%) e pela anorexia nervosa, cuja taxa varia entre 0,3% e 1% entre mulheres (CORDÁS, 2022; SCIELO, 2023; OMS, 2023). Esses dados revelam um cenário preocupante, principalmente diante da influência de fatores socioculturais, como os padrões estéticos impostos e a pressão por um corpo ideal, que afetam negativamente a autoestima, especialmente entre jovens.
As consequências físicas e mentais desses transtornos são severas, incluindo desnutrição, depressão e risco de suicídio. A Organização Mundial da Saúde alerta que mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida anualmente, e os transtornos alimentares estão entre os fatores de risco envolvidos. No Brasil, estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas sejam afetadas por alguma condição psiquiátrica relacionada (OMS, 2023). Diante disso, a intervenção precoce e o acesso facilitado a tratamentos adequados são fundamentais para melhorar os prognósticos e evitar agravamentos. Ações de conscientização, como as promovidas pelo Ministério da Saúde, reforçam que a informação é um passo essencial no combate aos transtornos alimentares.
Portanto, é urgente que sociedade, instituições de saúde e políticas públicas atuem de forma integrada, promovendo estratégias preventivas e terapêuticas voltadas especialmente aos grupos mais vulneráveis, com destaque para o público feminino jovem, que apresenta maior risco de desenvolver esses quadros.
3.4 CONTRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NA GESTÃO E ASSISTÊNCIA A TRANSTORNOS ALIMENTARES
Os transtornos alimentares representam, na perspectiva deste grupo de autores, uma condição clínica complexa e crescente no Brasil, com impactos substanciais sobre a saúde física e mental de adolescentes e adultos jovens, sobretudo do sexo feminino. Acredita-se que o aumento da prevalência desses transtornos reflete não apenas mudanças nos padrões de comportamento alimentar, mas também transformações culturais que intensificam a exposição de indivíduos a pressões estéticas e sociais (Oliveira et al., 2021; OMS, 2023).
Fortes et al. (2021), ao investigarem uma amostra representativa de adolescentes brasileiros, identificaram que 23,7% apresentavam comportamentos alimentares de risco, como uso de métodos purgativos, jejum e preocupação excessiva com o peso. Esse dado, segundo a avaliação realizada, evidencia uma realidade alarmante que demanda intervenções precoces, especialmente no ambiente escolar e nas unidades de atenção primária à saúde. Torna-se fundamental que esses espaços sejam devidamente capacitados para identificar sinais precoces de risco e realizar os encaminhamentos de forma adequada.
No que se refere à prevalência de transtornos específicos, estudos primários como o de Alvarenga et al. (2020) demonstram que o transtorno de compulsão alimentar periódica e a bulimia nervosa são as manifestações mais frequentes entre mulheres jovens, com prevalência de 2,1% e 1,8%, respectivamente. Para os autores deste trabalho, tais dados corroboram a ideia de que a adolescência e a juventude feminina constituem períodos críticos para o desenvolvimento dessas condições, especialmente quando associadas à baixa autoestima, internalização de padrões de beleza e vivências de estigmatização corporal.
Ainda que menos prevalente, a anorexia nervosa apresenta um quadro clínico severo e alto risco de complicações. Philippi et al. (2019), em estudo com adolescentes de São Paulo, observaram prevalência de 0,5% de sintomas compatíveis com anorexia nervosa, com forte associação à insatisfação corporal e a experiências de bullying. Em nossa interpretação, esses achados reforçam a importância de compreender os transtornos alimentares como fenômenos multifatoriais, nos quais fatores psicológicos, sociais e culturais interagem de forma decisiva.
Costa et al. (2018) apontam que a exposição prolongada às mídias sociais, especialmente aquelas que promovem padrões corporais irreais, está associada ao aumento de comportamentos alimentares disfuncionais. Em nossa análise, essa relação reflete um contexto sociocultural que naturaliza a magreza extrema como sinônimo de sucesso e aceitação, contribuindo diretamente para a distorção da imagem corporal e a busca por dietas restritivas e práticas nocivas.
A intervenção precoce tem sido identificada como um fator decisivo no prognóstico dos transtornos alimentares. Sato et al. (2022) demonstraram que pacientes que iniciaram tratamento interdisciplinar nos estágios iniciais da doença apresentaram maior taxa de remissão e melhores desfechos clínicos. Os autores deste trabalho compartilham da visão de que o fortalecimento dos serviços de atenção básica e da saúde mental é essencial para garantir acesso oportuno ao diagnóstico e ao cuidado qualificado.
Por fim, dados da Organização Mundial da Saúde (2023) estimam que mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo os transtornos alimentares um dos fatores de risco envolvidos. No Brasil, estima-se que cerca de 1% da população apresenta anorexia nervosa. Os dados evidenciam a necessidade imediata de expandir as políticas públicas direcionadas à saúde mental, incorporando os transtornos alimentares como foco central nas estratégias de prevenção e promoção da saúde.
Diante da complexidade dos transtornos alimentares e da relevância dos fatores biopsicossociais envolvidos, é fundamental apoiar as discussões com estudos científicos atuais que detalham desde a epidemiologia até intervenções clínicas eficazes. Os artigos a seguir foram selecionados para subsidiar os resultados e discussões deste trabalho, oferecendo uma base sólida para a compreensão e o enfrentamento dessas condições.
Para complementar a análise dos transtornos alimentares, destacam-se estudos que ampliam o olhar sobre abordagens específicas e grupos populacionais de risco. O artigo de Souza et al. (2023) aborda o processo de enfermagem no atendimento pré-hospitalar de pacientes com anorexia e bulimia, evidenciando a importância do cuidado qualificado em situações de urgência e emergência, o que reforça a necessidade da capacitação profissional em serviços de saúde (SOUZA et al., 2023).
Outro aspecto relevante é explorado por Silva e Oliveira (2022), que investigam a relação entre mulheres com diabetes e o risco da diabulimia — um transtorno alimentar que envolve o controle inadequado da insulina para perda de peso. Essa pesquisa destaca uma população vulnerável frequentemente negligenciada, mostrando a interseção entre condições crônicas e transtornos alimentares (SILVA; OLIVEIRA,2022).
O estudo de Andrade et al. (2023) investigou a percepção social da atuação da enfermagem no cuidado a pacientes com transtornos alimentares, evidenciando uma imagem profissional frequentemente associada à subordinação e à execução de tarefas técnicas. A análise apontou uma visão limitada do papel do enfermeiro, restrita ao modelo biomédico e com pouca valorização do raciocínio clínico e da abordagem interdisciplinar. Os resultados ressaltam a importância de promover uma compreensão mais ampla e fundamentada da prática de enfermagem, alinhada ao modelo biopsicossocial.
O estudo de Falco (2022) investigou os efeitos do isolamento social durante a pandemia de COVID-19 em pessoas com transtornos alimentares atendidas em um ambulatório especializado no Rio de Janeiro. Os relatos evidenciaram agravamento dos sintomas, como perda de controle alimentar e aumento de comportamentos compensatórios. Apesar das dificuldades, alguns participantes perceberam o período como oportunidade para reestruturação emocional. O atendimento remoto mostrou-se uma alternativa viável, embora com limitações. O estudo reforça a importância da capacitação da equipe de saúde, especialmente da enfermagem, no cuidado integral a essa população.
Considera-se que a bulimia nervosa transcende a dimensão alimentar, refletindo um sofrimento psicoemocional complexo, frequentemente negligenciado nos contextos clínico e social. Sob essa perspectiva, a atuação da enfermagem deve ir além da assistência técnica, incorporando práticas baseadas na escuta qualificada, acolhimento humanizado e construção de vínculo terapêutico. Destaca-se a importância de estratégias intersetoriais voltadas à promoção da saúde mental e à prevenção de comportamentos alimentares disfuncionais, com ênfase em espaços educativos e familiares, a fim de favorecer o reconhecimento precoce do transtorno e proporcionar intervenções mais efetivas e integradas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos propostos neste estudo foram plenamente alcançados, evidenciando a bulimia nervosa como um transtorno alimentar de natureza multifatorial, envolvendo componentes fisiopatológicos, psicológicos e socioculturais interdependentes. Os resultados indicam elevada prevalência da bulimia entre adolescentes e mulheres jovens, associada à baixa autoestima, à influência de padrões estéticos midiáticos e à experiência de traumas emocionais.
A análise das fontes revela que o diagnóstico frequentemente ocorre de forma tardia, em virtude da ausência de sinais físicos evidentes e da tendência dos pacientes a ocultar os sintomas. Nesse contexto, o papel do enfermeiro se mostra fundamental na triagem, identificação precoce e acompanhamento contínuo, destacando-se como agente de escuta ativa, acolhimento emocional e articulador do cuidado interdisciplinar.
A atuação da enfermagem necessita ser fortalecida nos níveis primário e secundário de atenção à saúde, com foco em educação em saúde, reabilitação psicossocial e enfrentamento dos estigmas associados aos transtornos alimentares. Além disso, evidencia-se a necessidade de capacitação específica dos profissionais de enfermagem para o manejo da complexidade desses quadros, bem como a implementação de políticas públicas voltadas à prevenção, especialmente em populações de risco.
Do ponto de vista teórico, esta revisão contribui para a ampliação do conhecimento sobre a bulimia nervosa e reforça a importância de abordagens integradas no cuidado em saúde mental. Por fim, destaca-se que a prática ética, humanizada e baseada em evidências é imprescindível para a melhoria dos desfechos clínicos e da qualidade de vida dos indivíduos acometidos por este transtorno.
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1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário UNIBH Campus Cristiano Machado. mariapaularamos17@icloud.com
2Docente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário UNIBH Campus Cristiano Machado. Doutora em neurociência (UFMG/BH). e-mail: hyorrana.pereira@prof.una.br