A ASSOCIAÇÃO ENTRE A INFECÇÃO POR ESQUISTOSSOMOSE E O CARCINOMA HEPATOCELULAR: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8165881


¹Felipe Silva Ribeiro
²Demócrito Andrade Costa Filho
³Hermeson Lima França
4Mariana Lopes Oliveira
5Quimilda Gabriela Machado de Castro Alves Pontes Soares
6Adriana Sousa Leão
7Vilton de Lima Martins Filho
8Davi Sousa Fries
9Larissa Cristine Silva Paniago
10Gyovanna Cardoso da Silva


RESUMO

A esquistossomose hepática é uma doença causada pelo parasita S. mansoni. Os ovos do parasita, ao serem depositados no fígado, causam uma resposta granulomatosa excessiva, resultando em fibrose e alterações celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer de fígado. A infecção simultânea com os vírus das hepatites B ou C agrava a lesão hepática e aumenta a incidência de carcinoma hepatocelular (CHC). A interação entre o parasita e o hospedeiro durante o estágio do ovo causa alterações metabólicas e danos celulares que podem desencadear o CHC. Objetivo: Apresentar a relação entre a esquistossomose hepática e o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (CHC), destacando a resposta imune do hospedeiro aos ovos do parasita S. mansoni, os danos celulares e as alterações metabólicas envolvidas nesse processo. Método: Trata-se de um estudo de revisão integrativa realizado em junho de 2023 a partir do PUBMED. Utilizou-se a combinação dos termos “Schistosoma mansoni” AND “Schistosomiasis” AND “Hepatocellular carcinoma“, definidos pelo sistema DeCS/MeSH, incluindo artigos dos últimos cinco anos, de texto completo gratuito, nos idiomas inglês e português. Foram excluídos artigos duplicados, que fugiram ao tema e que não responderam ao objetivo do estudo, restando apenas seis artigos alinhados à proposta da revisão. Resultados: A esquistossomose é uma doença parasitária crônica provocada, principalmente, pelo Schistosoma mansoni. No fígado, os parasitas adultos se alojam nas veias hepáticas, onde os machos e fêmeas se acasalam e produzem ovos, que irão se espalhar por todo o corpo. A presença desses ovos no tecido hepático desencadeia uma resposta inflamatória crônica, pois macrófagos são atraídos para eliminá-los, além de expressão desregulada de fatores de crescimento e estresse oxidativo hepático. A reação inflamatória leva à formação de nódulos granulomatosos no fígado e se soma a altos níveis de espécies reativas de oxigênio e ativação de protooncogenes causada pelos ovos. Ao longo do tempo, a fibrose hepática somada a esses diversos fatores inflamatórios pode progredir para cirrose e por fim para carcinoma. A cirrose hepática é uma das principais complicações da esquistossomose e está associada a um risco aumentado de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, considerado o quinto câncer mais comum no mundo. Conclusão: A esquistossomose hepática está associada ao desenvolvimento do carcinoma hepatocelular devido à resposta inflamatória crônica causada pelos ovos do parasita S. mansoni no fígado. A presença desses ovos leva a danos celulares, alterações metabólicas e fibrose hepática, que aumentam o risco de progressão para cirrose e, subsequentemente, para o CHC. A compreensão desses mecanismos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento eficazes.

Palavras-chave: Schistosoma mansoni. Esquistossomose. Associação. Carcinoma Hepatocelular.

INTRODUÇÃO

A esquistossomose hepática, causada pelo parasita Schistosoma mansoni, é uma doença crônica que resulta da resposta imune do hospedeiro aos ovos do parasita depositados no fígado. Essa resposta desencadeia uma reação granulomatosa excessiva, levando à fibrose e alterações celulares no fígado, podendo contribuir para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (CHC). A coinfecção com os vírus das hepatites B ou C também agrava a lesão hepática e aumenta a incidência de CHC. Essa interação entre o parasita e o hospedeiro durante o estágio do ovo pode causar danos celulares, alterações metabólicas e ativação de vias de sinalização associadas ao câncer. Portanto, a esquistossomose hepática está diretamente relacionada ao CHC, atuando como potencializadora de outros fatores carcinogênicos. Compreender esses mecanismos é fundamental para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes.

METÓDO

Trata-se de um estudo de revisão integrativa realizado em junho de 2023 a partir do PUBMED. Utilizou-se a combinação dos termos “Schistosoma mansoni” AND “Schistosomiasis” AND “Hepatocellular carcinoma“, definidos pelo sistema DeCS/MeSH, incluindo artigos dos últimos cinco anos, de texto completo gratuito, nos idiomas inglês e português. Foram excluídos artigos duplicados, que fugiram ao tema e que não responderam ao objetivo do estudo, restando apenas seis artigos alinhados à proposta da revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

A esquistossomose hepática resulta da resposta imune mediada por células granulomatosas do hospedeiro e dos ovos metabolicamente ativos e altamente antigênicos de S. mansoni . Os ovos por meio das veias mesentéricas atingem os pequenos ramos portais do fígado através da veia porta. No local da deposição do ovo, libera – se antígenos hepatotóxicos e desenvolve-se uma resposta granulomatosa excessiva, provocando fibrose e intensa alteração displásica, mutações em oncogenes, danos mitocondriais, liberação de ROS e ativação de várias vias de sinalização do câncer (por exemplo, p53, c-Jun e STAT3), formando, dessa forma, gatilhos moleculares para a carcinogênese.

Com base na literatura é possível afirmar certa relação direta e unitária da esquistossomose como causa do CHC, porém ela apresenta-se em sua maioria como potencializadora de outro fator cancerígeno. Um exemplo é apresentado em um estudo com camundongos que o efeito cancerígeno do dietilnitrosamina (DEN), foi potencializado pelo S. Mansoni. Verificou-se nesses camundongos maior facilidade para infiltração de macrófagos e liberação de TNF-α e IL-6, que proporcionariam ativação de vias de sinalização, como NF-κB e STAT3 em células progenitoras HCC, sendo importantes vias referentes a doenças de malignas humanas, como o câncer.

Outro fator são as infecções simultânea de esquistossomose e HCV ou HBV tem um efeito potencial, sendo o vírus um cofator que agrava a lesão hepática e aumenta a morbidade e a cronicidade da hipertensão portal e CHC. Observa-se que a relação entre a infecção por esquistossomose e HBV foi menor (4,1%) quando comparado com HCV (90%), que induz comumente CHC multifocal e avançado. A redução da prevalência da HBV justifica-se pela tendência mundial de vacinação e medidas profiláticas contra o vírus. Já a HCV por meio de sua proteína central induz quimicamente proto-oncogenes, como c-Jun e Stat3, que por sua vez aumenta dano oxidativo ao DNA e supri o processo de apoptose, além de a presença do vírus da HCV facilita a infecção por S. mansoni

Os ovos do parasita S. mansoni dependem da absorção de nutrientes do hospedeiro para seu desenvolvimento, visto que os genes que codificam a via de beta oxidação estão ausentes nesse helminto. Os ovos mobilizam e absorvem componentes celulares para suprir suas necessidades energéticas e estruturais, o que causa reprogramação metabólica nas células do fígado, resultando em estresse oxidativo, danos ao DNA e sinalização oncogênica. Esses achados, somados ao esgotamento dos hepatócitos, indicam uma interação complexa entre o parasita e o hospedeiro durante o estágio de ovo, com possíveis gatilhos para o CHC.

CONCLUSÃO

A esquistossomose hepática é uma doença crônica causada pelo parasita Schistosoma mansoni, que pode levar ao desenvolvimento do carcinoma hepatocelular (CHC), uma forma de câncer de fígado. A presença dos ovos do parasita no tecido hepático desencadeia uma resposta inflamatória crônica, resultando em fibrose e alterações celulares que contribuem para o desenvolvimento do CHC. A interação entre o parasita e o hospedeiro durante o estágio do ovo causa danos metabólicos e celulares, incluindo a expressão desregulada de fatores de crescimento, estresse oxidativo e ativação de protooncogenes.

Ao longo do tempo, a progressão da fibrose hepática e os fatores inflamatórios induzidos pela esquistossomose podem levar à cirrose hepática, aumentando significativamente o risco de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular. Portanto, a esquistossomose hepática representa uma importante causa de CHC em áreas endêmicas onde a infecção pelo S. mansoni é prevalente.

A compreensão dos mecanismos imunológicos, danos celulares e alterações metabólicas envolvidas na relação entre a esquistossomose hepática e o CHC é crucial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz. Abordagens multidisciplinares, incluindo medidas de controle da infecção, vacinação, triagem de indivíduos em risco e terapias direcionadas, são fundamentais para reduzir a carga da doença e melhorar os desfechos clínicos dos pacientes afetados.

Em suma, a esquistossomose hepática desempenha um papel significativo no desenvolvimento do carcinoma hepatocelular, destacando a importância de abordagens integradas de saúde pública e pesquisa clínica para combater essa doença e seus efeitos devastadores no fígado humano.

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VON BÜLOW, Verena et al. Metabolic reprogramming of hepatocytes by Schistosoma mansoni eggs. JHEP reports: innovation in hepatology vol. 5,2 100625. 7 Nov. 2022, doi:10.1016/j.jhepr.2022.100625.


¹Felipe Silva Ribeiro Graduando em Medicina
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²Demócrito Andrade Costa Filho Graduando em Medicina
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³Hermeson Lima França Graduando em Medicina
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4Mariana Lopes Oliveira Graduando em Medicina
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5Quimilda Gabriela Machado de Castro Alves Pontes Soares Graduando em Medicina
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6Adriana Sousa Leão Graduando em Medicina
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7Vilton de Lima Martins Filho Graduando em Medicina
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8Davi Sousa Fries Graduando em Medicina
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9Larissa Cristine Silva Paniago Graduando em Medicina
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10Gyovanna Cardoso da Silva Graduando em Medicina
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