A ASSISTÊNCIA INTEGRAL E HUMANIZADA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO IMEDIATO

INTEGRAL AND HUMANIZED NURSING CARE IN THE IMMEDIATE PUERPERUM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8429151


Vanessa Daniel Frediani
Claudiane Andrade


RESUMO: A assistência integral e humanizada no período pós-parto inicial é fundamental para a saúde e o bem-estar da mãe e do recém-nascido. Nesse período, as mulheres estão mais propensas a complicações obstétricas, como sangramento, ITU, infecção puerperal, mastite entre outras . O cuidado deve ser holístico, abordando os aspectos físicos, emocionais e sociais da saúde da puérpera e recém-nascido. Os principais objetivos da assistência humanizada integral durante o trabalho de parto são: prevenir e tratar complicações obstétricas; promover o bem-estar físico, emocional e social da mãe e do bebê; estimular o aleitamento materno e orientar as mães nos cuidados com o recém-nascido; Para atingir esses objetivos, o cuidado no pós-parto inicial deve ser baseado em evidências científicas e criar um plano de cuidados individualizado para cada mulher e seu bebê. Também é importante que a assistência seja prestada de forma humanizada, ou seja, respeitando os valores, crenças e aspirações da mulher, proporcionando um ambiente de acolhimento e confiança. As intervenções de enfermagem no puerpério iminente têm se mostrado eficazes para melhorar a saúde e o bem-estar das mulheres e de seus recém-nascidos. As intervenções podem incluir educação sobre cuidados neonatais, instrução sobre amamentação, monitoramento de sinais vitais e níveis de dor materna, fluxo de sangramentos entre outros. Portanto, capacitar e atualizar os profissionais de enfermagem para uma assistência integral e humanizada durante o puerpério é fundamental para prestar uma assistência de qualidade e promover a saúde materna e neonatal.

PALAVRAS-CHAVE: Assistência. Integral. Humanizada. Mulheres. Puerpério. 

ABSTRACT: Comprehensive and humanized nursing care in the immediate postpartum period is extremely important for the health and well-being of women and their newborns. During this period, women are more vulnerable to obstetric complications such as bleeding, infections and hypertension, among others. Nursing care should be comprehensive and involve physical, emotional and social aspects of the woman’s and newborn’s health. The main objectives of comprehensive and humanized nursing care in the immediate puerperium are: to prevent and treat obstetric complications; promote the physical, emotional and social well-being of mother and baby; encourage breastfeeding and guide the mother about caring for the newborn; and to promote women’s adaptation to the new phase of life and to the role of mother. To achieve these goals, nursing care in the immediate postpartum period must be based on scientific evidence and on an individualized care plan for each woman and her baby. It is also important that the assistance is provided in a humane way, that is, respecting the values, beliefs and desires of the woman and providing a welcoming and trusting environment. The effectiveness of nursing interventions in the immediate puerperium to improve the health and well-being of women and their newborns is proven. Interventions may include education on newborn care, guidance on breastfeeding, monitoring of vital signs and the woman’s pain levels, among others. Therefore, it is essential that nursing professionals are trained and updated on comprehensive and humanized care in the immediate postpartum period, in order to provide quality care and promote maternal and neonatal health.

KEYWORDS: Assistance. Integral. Humanized. Women. Puerperium.

1 INTRODUÇÃO

O puerpério é um período de grande importância para a saúde da mãe e do bebê, pois é um período em que a mulher passa por importantes mudanças físicas e psicológicas após o parto. Os cuidados durante esse período são essenciais para garantir a recuperação adequada da mãe e do bebê e evitar complicações.

A atenção integral e humanizada ao puerpério inclui ações voltadas para a promoção da saúde, prevenção de doenças e intervenções terapêuticas, além do acolhimento, escuta atenta e apoio emocional à mulher. A percepção da mulher sobre o cuidado prestado é importante indicador da qualidade da assistência e pode influenciar na sua satisfação e adesão às orientações.

Nesse contexto, uma revisão da literatura sobre o cuidado integral e humanizado no puerpério imediato é de grande valia, pois pode identificar boas práticas e lacunas na assistência de enfermagem e contribuir para a melhoria da qualidade da mesma. A partir desta revisão, foi possível identificar os principais aspectos apontados no cuidado prestado e que influenciam na satisfação e adesão às orientações e cuidados prestados, bem como os desafios e oportunidades para melhoria do cuidado pós-parto.

Cuidados perinatais abrangentes e humanizados são de suma importância para a saúde materna e neonatal. O período pós-parto é um momento crítico para as mulheres, que, além dos desafios de amamentar e cuidar de seus recém-nascidos, enfrentam diversas complicações obstétricas, como sangramento, infecção puerperal, ITU ( Infecção do trato urinário), mastite dentre outros.

Além de garantir a promoção da saúde e do bem-estar da mãe e do recém-nascido, os cuidados durante o puerpério são essenciais para prevenir e tratar essas complicações. No entanto, essa assistência muitas vezes é limitada e fragmentada e não cobre todas as necessidades da puérpera.

A problemática deste trabalho é: quão eficaz é a assistência integral e humanizada na redução de complicações e na promoção da saúde materna e neonatal?

Como hipóteses, este trabalho teve, as mulheres que recebem assistência integral e humanizada de enfermagem no puerpério imediato tendem a avaliar positivamente o atendimento recebido, em comparação com aquelas que não recebem essa assistência; mulheres que recebem assistência integral e humanizada de enfermagem no puerpério imediato tendem a ter uma recuperação mais rápida e tranquila, com menor incidência de complicações pós-parto e mulheres que recebem assistência integral e humanizada de enfermagem no puerpério imediato tendem a se sentir mais acolhidas e seguras, o que pode impactar positivamente em sua saúde emocional e mental.

O objetivo geral foi investigar se o atendimento humanizado e integral durante o puerpério imediato pode reduzir a incidência de complicações obstétricas, melhorar a saúde materna e neonatal e promover o bem-estar de mães e recém-nascidos e analisar a eficácia das intervenções de cuidados puerperais na promoção da saúde materna e neonatal. Os específicos foram avaliar a cognição das puérperas sobre a enfermagem integral humanizada no puerpério imediato, esclarecer as principais complicações obstétricas no puerpério e como a assistência de  enfermagem integral humanizada pode reduzir sua incidência e explorar a relação entre a enfermagem integral e a enfermagem no puerpério. 

2 A ASSISTÊNCIA INTEGRAL E HUMANIZADA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO IMEDIATO.

Historicamente, a atenção à saúde da mulher foi centrada na função reprodutiva, sobretudo durante a gravidez e o parto. No século XX na década de 70, o Programa de Saúde Materno-Infantil (PMI) retratou uma política do Estado brasileiro, que pretendia proteger o binômio mãe-filho e, na década de 80, o governo reconheceu a justeza da luta do movimento feminista pela ampliação da atenção à mulher, criando o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM).  Silver (1999) ressalta-se que, embora tenha havido avanços pontuais nas últimas décadas, os programas oficiais não conseguiram mobilizar o sistema público na direção de uma melhora efetiva na qualidade da atenção à mulher para além dos aspectos da procriação.

A assistência de enfermagem se caracteriza como um fator importante durante todo ciclo gravídico puerperal, iniciando-se no pré-natal com o acolhimento e consulta adequada, até o puerpério com orientações desse período, bem como sobre o aleitamento materno, propiciando informações e sanando dúvidas da puérpera. (Batista et al., 2013).

Pode se observar através das declarações das enfermeiras entrevistadas a importância do pré-natal no preparo da gestante para o trabalho de parto e nascimento do bebê, sendo que a mesma e o acompanhante precisam previamente ter conhecimento sobre esse processo fisiológico, suas características e duração, uma vez que se essa informação for passada na hora do parto, ela pode não ser absorvida com tanto êxito e compreensão. (Fossa et al., 2015).

O puerpério imediato é o período estabelecido entre o pós-parto até o 10º dia, período esse de grande vulnerabilidade em que ocorrem modificações internas e externas, e intercorrências que colocam em risco a vida da mulher. É uma fase que nem sempre a mulher está bem assistida dentro do âmbito hospitalar em sua totalidade onde a atenção na maioria das vezes está mais voltada para o recém-nascido, destacamos ainda que, a assistência fica abreviada ao período de internação que para o parto normal é de 24 horas e 48 horas para o parto cesariano, fora esse período de internação a puérpera só contará habitualmente com consulta puerperal na atenção básica que ocorre em até 42 dias pós-parto, tornando um período muito longo o que demonstra a desvalorização desta fase. (Andrade, 2015).

No que se refere ao puerpério imediato e pelo perfil de nascimentos no brasil, hoje predominantemente no âmbito hospitalar, percebe-se que o atendimento no puerpério imediato ofertado tem sido limitado aos aspectos fisiológico, tais como a avaliação do estado geral, avaliação de episiotomia, verificação de involução uterina, sinais vitais, evolução mamária, verificação de lóquios, entre outros. (Cassiano, 2015).

Os cuidados de enfermagem direcionados nesta fase do puerpério imediato devem auxiliar a mulher a um cuidado específico que vise prevenções de complicações no conforto físico e emocional, onde o enfermeiro deve auxiliar e monitorar sua recuperação, além de identificar e controlar quaisquer desvios do processo. (Barbosa, 2014).

O período pós-parto imediato é um período delicado em que a enfermagem deve ter um cuidado mais específico e criterioso. Deve-se dar ênfase nas duas primeiras horas, em que devem ser verificados a cada 15 minutos os sinais vitais, pois é nessa fase que ocorrem maiores casos de sangramentos, comprometendo assim o estado geral da paciente, podendo levar até ao óbito. (Freitas, 2001).

Em 2011 surge a Rede cegonha, como uma estratégia inovadora instituída pelo Ministério da Saúde, que traz como base os princípios do SUS, por meio da Portaria nº 1.459, de modo a garantir a universalidade, a equidade e a integralidade da atenção à saúde. Organizada de maneira a assegurar e garantir o acesso, acolhimento e a resolutividade do pré-natal, parto, nascimento, puerpério, bem como o acesso às ações de planejamento reprodutivo. (UNA-SUS, 2015).

Assim, a mulher, durante o período puerperal, precisa ser atendida em sua totalidade, por meio de uma visão integral que considere o contexto sociocultural e familiar. Os profissionais de saúde devem estar atentos e disponíveis para perceber e atender as reais necessidades apresentadas por cada mulher, qualificando o cuidado dispensado. (Vieira et al., 2010). 

É de grande importância que o enfermeiro identifique e atue nas reais necessidades das mulheres que vivenciam o período puerperal, e essa atuação deve ter o intuito de auxiliar a puérpera no processo de adaptação ao papel materno, oferecendo cuidados e orientação alusivos ao exercício da maternidade. Além disso, dentro do processo de formação do enfermeiro, ressalta-se a atuação do enfermeiro obstetra que envolve habilidades e competências respeitando o processo de parir com atuações estratégicas, e tem papel fundamental para uma assistência qualificada a mulher contribuindo para melhoria na saúde materna em todo o processo gravídico-puerperal. (Reis, 2015).

A assistência de enfermagem no puerpério imediato deve ser pautada em uma abordagem integral e humanizada, capaz de considerar não só as necessidades físicas das mulheres, mas também as suas demandas emocionais e sociais, garantindo um cuidado de qualidade e que proporcione uma vivência positiva nessa fase tão importante da vida. (Gomes et al., 2011).

No Brasil, a assistência à mulher no período gravídico-puerperal ainda adota predominantemente o modelo biomédico, caracterizado pela fragmentação do cuidado à saúde, o que resulta na manutenção e aumento do uso de procedimentos invasivos e intervencionistas durante o trabalho de parto, parto e puerpério. Esses procedimentos frequentemente são realizados de maneira desnecessária, sem considerar a participação ativa da mulher e de sua família. Como resultado, o puerpério imediato é muitas vezes vivenciado em ambiente hospitalar, o que pode ser benéfico para a saúde materna e neonatal, desde que acompanhado de uma assistência apropriada. No entanto, é fundamental também atender às demandas específicas desse período, de forma a contemplar as necessidades tanto da mãe quanto do bebê (Cassiano, 2015).

O crescente aumento no número de óbitos maternos durante o puerpério e a notável falta de cobertura assistencial durante o ciclo gravídico-puerperal, especialmente no puerpério, levanta questionamentos sobre o impacto do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN). Isso ocorre porque as deficiências no acompanhamento e na identificação precoce de problemas comprometem a melhoria da qualidade de vida e dos cuidados de saúde para mães e bebês. Esta situação indica claramente a existência de uma lacuna entre as aspirações da política de saúde e sua efetiva implementação na prática. É importante lembrar que essa política está em vigor há mais de uma década e é adotada por todos os municípios do país. (Cassiano, 2015).Para alcançar a melhoria na qualidade dos cuidados e a redução das taxas de morbimortalidade, é fundamental investir no acompanhamento pós-parto já a partir da unidade hospitalar. Esse acompanhamento não apenas proporciona conforto e segurança às mulheres, mas também possibilita a identificação e o tratamento precoce das complicações frequentes no puerpério. Portanto, é crucial adotar uma abordagem de assistência que reconheça a pessoa como o principal protagonista de seu próprio corpo e vida, em vez de vê-la apenas como um objeto que passivamente segue as orientações de quem detém o conhecimento. (Moura et al., 2007).

Assim sendo, o cuidado de enfermagem no puerpério imediato tem por meta oferecer estratégias de enfrentamento e adaptação à transição à maternidade, com ações voltadas para a superação de dificuldades. (Almeida et al., 2008).

A mulher que acabou de dar à luz enfrenta uma série de transformações resultantes da gravidez e do parto, exigindo adaptação e orientação para assumir o papel de mãe. Nesse contexto, a transição para a maternidade se torna evidente quando as mães enfrentam desafios significativos no puerpério imediato relacionados aos cuidados com o recém-nascido. Esses desafios incluem a higiene do bebê, a atenção ao coto umbilical, a amamentação, a interpretação do choro, as variações no tipo de parto e a própria fragilidade física da mãe. Uma das conclusões do estudo é que a amamentação se destaca como uma das principais dificuldades enfrentadas pelas participantes durante o período puerperal imediato, devido a fatores sociais, culturais e preocupações estéticas. (Strapasson et al., 2010).

2.1 PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS NO PUERPÉRIO IMEDIATO E COMO A ASSISTÊNCIA INTEGRAL E HUMANIZADA DE ENFERMAGEM PODE REDUZIR SUA INCIDÊNCIA

A assistência de enfermagem integral e humanizada, que inclui a identificação precoce dos fatores de risco e a adoção de medidas preventivas e de tratamento adequado, pode contribuir para reduzir a incidência dessas complicações e promover a saúde materna e infantil. (Ministério da Saúde do Brasil, 2012).

O Ministério da Saúde alerta para o elevado índices de cesarianas, no ano de 2015, 40,2% dos partos no SUS tiveram esta via de parto e, na rede privada, esse índice é ainda maior, o que gera grande preocupação, já que a cesariana é um fator de risco para diversas complicações para a mulher e o neonato, também aumenta os custos de atendimento e o tempo de permanência na unidade hospitalar. (Monguilhott et al., 2018).

O aumento da incidência de parto cesáreo levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a fazer recomendações com o objetivo de reduzir as intervenções no nascimento para garantir a segurança de mulheres e crianças. A cesárea foi adotada como intervenção cirúrgica para diminuir o risco de complicações maternas e/ou fetais durante a gravidez e o trabalho de parto, mas comporta riscos comuns em cirurgias. (Patah et al., 2011).

As complicações obstétricas são as principais causas da mortalidade materna, elas se dividem em: complicações obstétricas diretas, decorrentes de complicações obstétricas durante a gravidez, parto ou puerpério causadas por intervenção, omissões, tratamento inadequado ou um conjunto destes eventos; e complicações obstétricas indiretas, resultantes de doenças pré-existentes à gestação ou que se desenvolveram durante esse período, não devidas a causas obstétricas diretas, mas agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. (Secretaria de Saúde do Ceará, 2015).

O pré-natal se configura também como um divisor de águas no descobrimento precoce e tratamento de infecções e doenças maternas, que podem trazer complicações para a mesmo, bem como o risco de transmissão para a criança, pois uma vez que se fornece uma assistência de qualidade a atenção materno-infantil, os riscos se reduzem. (Teixeira et al., 2010). 

No puerpério imediato, as principais complicações obstétricas incluem a hemorragia pós-parto, infecções, problemas relacionados à pressão arterial e complicações decorrentes de cesarianas. A assistência de enfermagem integral e humanizada pode reduzir a incidência dessas complicações por meio da identificação precoce de fatores de risco, da adoção de medidas preventivas e da intervenção rápida e eficaz nos casos de intercorrências. A promoção do aleitamento materno e o apoio emocional à mulher também são estratégias importantes para a prevenção de complicações no puerpério. (Ministério da Saúde do Brasil, 2011).

As complicações infecciosas representam um valioso indicador da qualidade da assistência e dos cuidados pós-operatórios prestados em obstetrícia. (Cavalcante, 2015).

Entre os profissionais que assistem a mulher durante o puerpério, destaca-se o enfermeiro como profissional capacitado para compreender as modificações puerperais. Esse profissional, ao realizar a consulta de enfermagem, deve ser capaz de identificar e prevenir complicações, orientar e incentivar a mulher no cuidado de si e do RN. Além disso, o enfermeiro pode solicitar avaliação de outros profissionais sempre que necessário. (Dodou et al., 2017).

O conhecimento das principais patologias que necessitam de assistência imediata para a compreensão do diagnóstico apresentado. Portanto, é evidente que a assistência de enfermagem necessita de atividades práticas, conhecimentos teóricos e científicos e humanização em saúde. Vale destacar que as gestantes também adentram os serviços de emergências com problemas que não estão relacionados a complicações da gestação, mas que comprometem a vida materna e fetal, como parada cardiorrespiratória, traumas cranianos, torácico e abdominal, queimaduras e dentre outras complicações que necessitam de uma assistência holística para a gestante. (Correia, 2019).

Durante o atendimento à mulher no ciclo gravídico nos serviços de urgência/emergência dos hospitais, é de suma importância que os fatores de riscos à gestação sejam analisados para a realização da conduta para cada caso clínico apresentado. Nesse sentido, vale ressaltar que as complicações podem acontecer durante qualquer período da gestação. Sendo assim, o enfermeiro deve apresentar uma visão holística diante dos atendimentos, em virtude da compreensão das necessidades gestacionais, bem como na garantia da saúde materna e fetal. Desta forma, é primordial que o enfermeiro promova cuidados necessários para sobrevida materna e fetal. (García-Núñez, 2018).

As principais complicações obstétricas no puerpério imediato incluem hemorragia pós-parto, infecções do trato genital, eclâmpsia, hipertensão arterial e complicações decorrentes de cesarianas. (Ministério da Saúde do Brasil, 2012).

Nessa perspectiva, durante alguma intercorrência de urgência e emergência obstétrica a gestante pode ser acolhida no centro de parto normal ou em qualquer outra instituição, cujo enfermeiro acolhe a mulher, faz sua admissão, avalia suas condições e a do feto, e quando a gestante está em trabalho de parto de emergência sem distócias, cabe ao enfermeiro obstetra realizar o parto, porém se houver alguma complicação, além das atividades supracitadas o profissional deve aguardar a avaliação e assistência médica. (Silva, 2018).

Para que se tenha sucesso na prática do aleitamento materno exclusivo, é necessário que os profissionais da saúde envolvidos nessa assistência criem vínculo com a puérpera e valorizem suas crenças e valores para estabelecer uma relação de confiança, compreensão de suas experiências, e partilha das suas dificuldades, medos e angústias. (Batista et al., 2013).

O período do puerpério é um momento de muitas mudanças no corpo da mulher, onde tudo que se alterou na gravidez volta a forma anterior à gestação, e também é um momento que envolve diversos riscos, já que o trabalho de parto é um momento estressante e que mexe muito com a fisiologia corporal da paciente. Por isso, existem diversas complicações decorrentes do parto que podem acometer a mulher no puerpério. A complicação com maior número de casos é a depressão pós-parto, acometendo de 10% a 20% das puérperas nos seis primeiros meses após o parto, afetando tanto a saúde da mãe como sua relação com o filho, o parceiro e a família. (Freitas et al., 2016).

As outras complicações de maior ocorrência, de acordo com o Ministério da Saúde, estão divididas em três categorias: edema, proteinúria e transtornos hipertensivos relacionados ao puerpério responsáveis por 109.261 casos em 2017; complicações relacionadas predominantemente com o puerpério com 72.043 casos em 2017, dentro desta categoria se incluem a infecção puerperal, complicações venosas, embolia de origem obstétrica, complicações da anestesia administrada durante o puerpério, complicações da incisão cesariana e obstétrica do períneo, infecções mamárias, afecções da mama e lactação e infecções de vias urinárias subsequentes ao parto; hemorragia puerperal responsável por 2.489, sendo a complicação mais grave e responsável pelo maior número de óbitos, no Brasil cerca de 60 a cada 100.000 habitantes. (ONU, 2018).

Esse instrumento visa a garantir o acesso das mulheres no período gravídico-puerperal aos serviços de saúde e contribuir positivamente com os indicadores de morbidade e mortalidade materna e perinatal, bem como abolir a peregrinação de mulheres nos serviços de atenção obstétrica e evitar maiores complicações devido à demora no atendimento. (Araújo et al., 2011).

Entre os partos por via normal, que correspondem a 59,8% dos casos, um indicador muito visado e que diversas organizações e países tentam diminuir são as episiotomias. No Brasil, estima-se que ocorra em 53,5% dos partos e, na maioria dos casos, é desnecessária e pode gerar inúmeras complicações às mulheres. Por isso, sua redução também é uma meta primordial no sistema de saúde brasileiro, principalmente no SUS. (Monguilhott et al., 2018).

Apesar  dos avanços científicos e tecnológicos apresentarem condições de prevenir morbidade e mortalidade na assistência aos partos de risco, é evidenciado uma contradição de que as complicações não vem diminuindo e, muitas vezes, são ocasionadas por este avanço, por meio do uso abusivo de técnicas e procedimentos e da generalização de sua necessidade. (Sodré et al., 2007).

A enfermagem deve estar atenta aos sinais clínicos de infecção puerperal, realizar exame físico completo nas puérperas, analisando as mamas, inserções de cateteres, membros inferiores, tórax, vias aéreas superiores, feridas operatórias. Além disso, é preciso avaliar sinais vitais e escutar as queixas das puérperas. (Lima, 2015). 

Como resultado dessas vivências e experiências ou da falta de informação adequada, podem ocorrer complicações mamárias durante a lactação, como o ingurgitamento mamário e os traumas mamilares (mais frequentes) que podem culminar no desmame precoce do RN. (Oliveira et al., 2015).

2.2 ASSISTÊNCIA INTEGRAL E HUMANIZADA DE ENFERMAGEM NO PUERPÉRIO IMEDIATO: EFICÁCIA NO BEM-ESTAR DAS MULHERES E SEUS RECÉM-NASCIDOS.

De acordo com Gomes (2011), a gestação é um período marcado por profundas transformações no corpo da mulher, incluindo mudanças físicas e hormonais que se destinam a acomodar o feto em desenvolvimento. Além disso, a mulher está imersa em seu contexto socioeconômico e cultural, carregando consigo uma bagagem espiritual e emocional que pode gerar uma gama variada de emoções, como dúvidas, inseguranças, fragilidades e ansiedades. Por outro lado, também surgem sentimentos de alegria, felicidade, determinação e fé, todos eles requerendo uma abordagem holística em seu cuidado. Essa complexa interação entre os aspectos psicológicos e físicos destaca-se como uma parte intrínseca da experiência da gestação.

O cuidado humanizado inicia no momento em que a equipe multiprofissional é capaz de detectar, sentir e interagir com as pacientes e familiares, tem a capacidade de estabelecer uma relação de respeito ao ser humano e aos seus direitos essenciais. Para a sistematização da humanização do parto, algumas regras precisam ser seguidas e incorporadas pelas equipes multiprofissionais, atualmente o nível de exigência dos pacientes e acompanhantes mudou de patamar, e a evolução dos conceitos de acolhimento, conforto e hotelaria, a satisfação e a fidelização do cliente são metas a serem alcançadas. (Priszkulnik et al., 2009).

A educação em saúde é uma ferramenta utilizada por profissionais de enfermagem que permite a construção do conhecimento na troca de saberes entre profissionais e usuários. O conjunto de práticas busca contribuir para a autonomia do usuário sobre a sua saúde, promovendo práticas de autocuidado e cuidado de si. A educação em saúde deve ser aplicada em todos os espaços de convivência a fim de promover saúde e prevenir doenças e agravos. (Costa, 2016).

A assistência à mulher é essencial para a saúde materna e do bebê torna-se fundamental a assistência de enfermagem qualificada, tendo como base a prevenção de complicações, o conforto emocional e físico da puérpera e recém-nascido. Os profissionais enfermeiros atendem tanto as necessidades físicas como as psicossociais, uma vez que a mulher vivencia dúvidas frente aos cuidados no pós-parto, com o RN e aleitamento, compreender e tirar as dúvidas, se colocando muitas vezes no lugar, prestando assim um atendimento humanizado sendo uma estratégia de promoção da saúde indispensável. (Gomes et al., 2017).

Um conjunto de intervenções direcionadas ao acompanhamento durante a gravidez e ao primeiro ano de vida sempre ocupou um lugar de destaque nas políticas públicas de saúde. A criação dessas políticas específicas para recém-nascidos resultou na consolidação de várias leis e programas de saúde que têm como foco a atenção à saúde materno-infantil. Essas iniciativas desempenharam um papel crucial na estruturação e organização dos sistemas e serviços de saúde. (Neto, 2008).

No Brasil, o Ministério da Saúde, pela instituição do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) e a iniciativa Rede Cegonha, estabelece diretrizes para o acompanhamento pré-natal, garantindo a realização de no mínimo sete consultas de pré-natal para a garantia de uma assistência qualificada na rede pública de saúde. Além do início do pré-natal no primeiro trimestre e, é recomendada a realização de exames laboratoriais e procedimentos clínico-obstétricos, somados a atividades educativas, imunização e orientações sobre aleitamento materno e parto. (Silva et al., 2019).

As orientações do Ministério da Saúde para a assistência humanizada à mulher envolve a criação de grupos de apoio para o atendimento das necessidades das gestantes e familiares. O profissional enfermeiro contribui, na formação de grupo, onde as gestantes relatam seus questionamentos, como também convivem com outras gestantes que estão vivenciando o mesmo processo, proporcionando um melhor enfrentamento das situações que envolvam a gestação. (Alves, 2019).

A humanização sob a perspectiva filosófica pode ser traduzida como um ideal livre e inclusivo da manifestação dos sujeitos na organização das práticas sociais, inclusive de atenção à saúde, promovidas por interações sempre mais simétricas, que permitem uma compreensão mútua e a construção dos seus valores e verdades. A humanização da assistência é de extrema importância para garantir que um momento único, como o parto, seja vivenciado de forma positiva e enriquecedora. Resgatar o contato humano, ouvir, acolher, explicar, criar vínculo são requisitos indispensáveis no cuidado. Tão importante quanto o cuidado físico, a realização de procedimentos comprovadamente benéficos, a redução de medidas intervencionistas, é a privacidade, a autonomia e o respeito à parturiente. (Mabuch et al., 2008).

Sendo assim, a educação em saúde é uma importante ferramenta para o cuidado de enfermagem à mulher no ciclo gravídico-puerperal, especialmente nas práticas dos serviços de atenção primária à saúde. O profissional de enfermagem é habilitado e capacitado para cuidar do usuário e da sua família, levando em conta as necessidades de cuidado e de educação em saúde. (Guerreiro, 2014).

A enfermagem pode contribuir significativamente quando elabora intervenções focadas nas reais necessidades da puérpera. A análise dos problemas e diagnósticos de enfermagem no puerpério pode contribuir para a identificar corretamente as prioridades e realizar a assistência, indicando o que deve ser abordado em processos educativos e nas pesquisas na área de intervenções de enfermagem. (Vieira et al., 2010).

Quando a mulher retorna para sua casa, a Equipe de Estratégia de Saúde da Família pode ajudar a esclarecer dúvidas, dar suporte e minimizar as angústias e medos vivenciados. O Enfermeiro que dá assistência às mulheres com orientações e atividades ligadas ao pré-natal assim como no pós-parto. No caso do puerpério o atendimento pode acontecer através da visita domiciliar. É um meio de viabilizar a continuidade dos cuidados prestados à mulher no ciclo gravídico-puerperal. (Mazzo et al., 2014).

Durante o planejamento da assistência à puérpera, o profissional de saúde deve considerar as informações, hábitos de vida e crenças que a mulher apresenta, assim como os conhecimentos, as experiências, hábitos e práticas culturais que são decorrentes da convivência familiar. Este suporte pode aliviar o medo que ela enfrenta relacionado à sua saúde, e principalmente a da criança. (Vieira et al., 2010).

O termo humanização foi imposto pelo Ministro da Saúde e sua equipe técnica ao Programa de Pré-natal e Nascimento, com a premissa de melhorar as condições do atendimento e que o profissional privilegie não só o que viu e palpou, mas, também, ouvir o que a gestante descreveu estar sentindo para que o tratamento seja eficiente. Ainda traz a todo o momento a importância da participação da família durante a gestação, o parto e puerpério. Ao passar do tempo, o ato fisiológico de parir e nascer passou a ser visto como patológico, privilegiando a técnica medicalizada e despersonalizada, em detrimento do estímulo, apoio e carinho à mulher que vivencia essa experiência. (Castro et al., 2005).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar uma revisão bibliográfica sobre a percepção das mulheres sobre a assistência integral e humanizada de enfermagem no puerpério imediato, é possível seguir os seguintes passos metodológicos.

Identificação da questão de pesquisa: definir a pergunta que norteará a revisão, como por exemplo: ” Quão eficaz é a assistência integral e humanizada na redução de complicações no puerpério imediato e na promoção da saúde materna e neonatal?”

Foi realizada uma busca em bases de dados como PubMed, Scopus e Lilacs, utilizando palavras-chave relacionadas à questão de pesquisa. Os critérios de inclusão e exclusão devem ser estabelecidos previamente, como idioma, data de publicação, tipo de estudo e tipo de população.

O processo de revisão de artigos para a pesquisa pode ser dividido em duas etapas: a seleção dos artigos relevantes e a análise crítica dos mesmos.

A revisão bibliográfica sobre a percepção das mulheres em relação à assistência de enfermagem abrangente e humanizada no período pós-parto é um estudo relevante para compreender a qualidade do cuidado prestado às puérperas. Para realizar uma revisão bibliográfica de qualidade, é necessário seguir uma metodologia bem definida, incluindo a formulação da questão de pesquisa, a realização de uma busca sistemática de artigos, a seleção dos estudos relevantes, a análise crítica dos artigos, a síntese dos resultados, a discussão e conclusão, e a submissão do estudo para avaliação. A revisão bibliográfica pode contribuir para aprimorar a assistência à saúde materna, fornecendo evidências para embasar práticas clínicas e políticas de saúde baseadas em conhecimento científico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É muito importante que a mulher receba uma assistência completa e acolhedora da equipe de enfermagem logo após o parto, conhecido como puerpério imediato. Esse cuidado é essencial para garantir tanto a saúde física como emocional da mãe, além de proporcionar o bem-estar do recém-nascido. 

Quando a ajuda é dada de forma atenciosa, ambos se beneficiam. A mãe se sente amparada, apoiada e mais confiante em seu papel materno, o que pode contribuir positivamente para sua recuperação e o vínculo com o bebê. Além disso, o recém-nascido tem uma maior chance de adquirir o desenvolver positivo, facilitando a amamentação e a criação de um ambiente familiar harmônico.

A atenção integral e humanizada ao puerpério inclui ações voltadas para a promoção da saúde, prevenção de doenças e intervenções terapêuticas, além do acolhimento, escuta atenta e apoio emocional à mulher. A percepção da mulher sobre o cuidado prestado é importante indicador da qualidade da assistência prestada e pode influenciar na sua satisfação e adesão às orientações e cuidados prestados.

Nesse contexto, uma revisão da literatura sobre a percepção das mulheres sobre o cuidado integral e humanizado no puerpério é importante, pois pode identificar boas práticas e lacunas na assistência prestada e contribuir para a melhoria da qualidade da assistência prestada. A partir desta revisão, foi possível identificar os principais aspectos apontados no cuidado prestado e que influenciam na satisfação e adesão das puérperas às orientações e cuidados, bem como os desafios e oportunidades para melhoria do cuidado pós-parto.

Portanto, pesquisas sobre a eficácia da assistência multimodal e humanitária no período pós-parto justificam-se pela necessidade de melhorar a qualidade da assistência prestada à mulher nesse período, reduzir a morbimortalidade materna e neonatal e promover a saúde e o bem-estar da mulher durante o parto. Além disso, as pesquisas podem contribuir para aprimorar a prática da  enfermagem no puerpério e preparar e capacitar os profissionais de enfermagem para uma assistência humanizada, eficaz e de qualidade.

REFERÊNCIAS

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