A ARTE INDÍGENA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102503031022


Paula Perico Elias


RESUMO

O presente trabalho se inscreve na linha de pesquisa bibliográfica e visa abordar a arte indígena. Buscou-se abordar não só a cultura indígena, mas sim relembrar a importância de se manter viva esta cultura para o povo brasileiro. Tratados desumanamente pelos colonizadores que aqui chegaram em 1500, os povos indígenas foram submissos durante muito tempo. Os colonizadores, por sua vez, impunham uma nova arte, estabelecida por modelos Europeus, estereotipados. Suas danças, seus instrumentos, sua religiosidade, seus costumes e sua vida tranquila foram trocadas por uma vida árdua e de exploração. Após muitos anos de exploração de mão de obra escrava, atualmente existem poucas tribos indígenas que ainda mantém vivas suas tradições e religiosidades. Assim, cria-se um projeto intercultural para que se valorize a diversidade cultural presente em todo o mundo.

Palavras-chave: Cultura. Arte. Danças. Costumes. Diversidade.

1 INTRODUÇÃO

Os rituais estão presentes em todas as culturas desde os tempos mais remotos, e diariamente criamos novos rituais sejam eles individuais ou coletivos, mas que para nós são repletos de significados. Estes têm função cultural, socioeconômica ou até histórica, de uma etnia, uma família, uma tribo. Nestes rituais, observa-se a estética presente em uma música, uma dança, uma pintura.

Desde criança ou mesmo jovem, já se propõe algum tipo de arte, expressões que se traduzem por desenhos, pinturas ou simples rabiscos. Esse processo, pelo qual todos passam é de relevante importância para o desenvolvimento e amadurecimento de cada ser humano.

Antes da chegada dos Europeus ao Brasil, haviam cinco milhões de índios, que estavam divididos em tribos. Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil indígenas ocupam o território brasileiro. Devido à colonização algumas tribos perderam sua identidade cultural.

No entanto, algumas tribos ainda mantêm seus costumes na fabricação de cerâmicas, cultivando suas danças, suas músicas, seus instrumentos e seus modos de vida.

Por isso, é através de um projeto intercultural, visa estabelecer a diversidade presente na educação, principalmente a indígena, a fim de que se mantenham vivas suas culturas e religiosidades.

Atualmente, através não só deste projeto, mas de muitos outros, o governo brasileiro vem incentivando e protegendo reservas indígenas, e implementando em disciplinas como história e artes visuais a história e as culturas das tribos indígenas encontradas em nosso território brasileiro.

A capacidade das tribos indígenas expressarem sua arte através de pigmentos naturais com a elaboração de tintas para representar suas expressões artísticas e a preparação de objetos e utensílios através de sua cerâmica, nos leva a pensar que o homem sempre teve vontade de expressar seus sentimentos, o que hoje ainda não é diferente.

No desenvolvimento desta pesquisa bibliográfica com análise qualitativa e descritiva, serão apresentados algumas pesquisas realizadas na área da arte indígena, como: a arte indígena, a arte ceramista, a interculturalidade, a cultura indígena e a tinta como parte integrante da cultura indígena.

2 JEAN BAPTISTE DEBRET E A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA BRASILEIRA

Debret nasceu em Paris, em 1768. Foi um conhecido pintor, desenhista e além de tudo professor. Participou da missão artística francesa em 1817, onde foi fundada no Rio de Janeiro, uma Academia de Artes e Ofícios, onde mais tarde se tornaria a Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou.

Porém é nos anos de 1826 à 1831 que torna-se professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes, e faz alternadas viagens por várias cidades do país, a fim de retratar os vários povos, costumes e paisagens locais.

No ano de 1828, Debret passa a dirigir a Academia Imperial de Belas Artes, e em 1829 organiza uma exposição de arte, que se tornou a primeira mostra pública de arte no Brasil, com pinturas de seus respectivos alunos. Porém em 1831, Debret é levado a deixar o Brasil, por problemas aparentemente de saúde, retornando assim a Paris.

Através de suas pinturas, Debret tenta mostrar ao mundo, mas principalmente aos europeus um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico, retratando com detalhes minuciosos a formação cultural de um povo, resgatando particularidades de nosso país. 

FIGURA 1 –DEBRET

Fonte: (Disponível em: http://pt.slideshare.net/1950/trabalho-artesmissao-artistica-francesa-no-brasil-presentation. Acesso em: 12 Jan. 2015).

Por essa e tantas outras razões é que Debret foi responsável também investigar e preservar os costumes do passado, enxergar além das diferenças e entender as diferentes cultura dos homens do Brasil.

3 A ARTE INDÍGENA

O povo indígena nos deixou um legado muito grande de sua cultura, que ainda se encontra presente na culinária, nos utensílios decorativos e na sua língua. Por possuírem crenças, valores e hábitos diferentes aos dos europeus, os portugueses começaram um processo de colonização. Por isso, mesmo o Brasil sendo uma terra povoada por índios, a língua que prevaleceu foi a dos colonizadores lusitanos.

Conforme Soares (2011, p. 32) “A arte indígena é uma manifestação da cultura do seu cotidiano. Ela é reflexo da vida e da natureza, e surge como encarnação de força e elo com o mítico, o espiritual como atributo divino e se faz presente nos rituais, nos gestos, nos adereços, nos artefatos.”

FIGURA 2– ARTEFATOS DA CULTURA INDÍGENA

Fonte: (Disponível em: http://www.beachco.com.br/v2/turismo/um-pedaco-da-selva-em-solo-urbano.html. Acesso em: 28 dez. 2015)

Ainda assim, muitas palavras do nosso idioma são advindas dos povos tupis-guaranis, que tiveram o primeiro contato com os portugueses que aqui chegaram; algumas delas são: açaí, abacaxi, caipira, tapioca, urucum, entre outras. Esta cultura advinda dos povos indígenas, também pode ser encontrada na culinária, com pratos como: canjica, pamonha, paçoca, entre outros. Conforme o autor da Revista na Ponta do Lápis (2015, p. 41):

Somos indígenas, filhos da terra. Abençoados pela natureza, aprendemos a prezar o que ela tem a nos oferecer. […] Ainda sinto uma tristeza queimar o meu coração ao lembrar-me do preconceito que as pessoas tinham para com os índios em São Paulo. Nossa cultura fora tão reprimida que ainda me recordo dos diversos rituais que realizávamos na calada da noite para não alertar os vizinhos.

Atualmente, a diversidade cultural brasileira faz com que tenhamos um forte contato com crenças, valores e tradições distintas. Nosso cardápio inclui macarrão, feijoada, aipim, tapioca e outras delícias multiculturais. Somos índios, afrodescendentes, imigrantes de todas as partes do mundo, sejam eles, urbanos, rurais ou caipiras. Até nossos nomes e sobrenomes refletem a nossa diversidade cultural. Mesmo com toda essa diversidade, ainda hoje a sociedade é preconceituosa e por incrível que parece ainda existem manifestações discriminatórias cruéis, enquanto isso, tribos inteiras vivem à mercê da exclusão e da marginalização, que arrasta comunidades pelo próprio sistema capitalista. Essa marginalização acontece porque na maioria das vezes direitos básicos se tornam privilégio de poucos.

Segundo Sampaio (2010, p. 35) “Aspectos que hoje fazem parte da vida indígena, como educação diferenciada, gestão dos recursos naturais e empreendimentos para a geração de renda, ainda sofrem a excessiva intervenção de organizações que não conseguem deixar de lado a ideologia de dominação.”

A habilidade dos povos indígenas em transformar materiais simples em artefatos, que traz um valor estético e social para sua cultura, faz manter viva suas identidades. Esses artefatos, são considerados pelos povos indígenas manifestações costumeiras de sua vida tribal, porém o homem as classifica como arte.

Entretanto, a dança e a música também estão presentes na cultura indígena. Segundo Soares (2011, p. 24) “a dança é também arte remota, a que as mudanças culturais e o tempo conferem novas formas, sem, contudo, eliminar as influências pelas quais passou e pelas quais ainda vai passar.”

FIGURA 3 – POVO INDÍGENA DANÇANDO

Fonte: (Disponível em: http://www.ultracurioso.com.br/saiba-como-e-feita-a-verdadeira-danca-da-chuva. Acesso em: 28 dez. 2015)

Contudo, sendo improvisados ou não, os povos indígenas nunca deixaram de dançar, cantar e se expressar através de sua arte. Suas manifestações artísticas sofrem mudanças, alteram-se, evoluem, mas continuam vivas.

3.1 A ARTE CERAMISTA

A cerâmica consiste na produção de artefatos a partir da argila, que é facilmente encontrada na natureza e de fácil moldagem, quando umedecida. Assim, esta arte surgiu quando o homem começou a utilizar o barro endurecido pelo fogo, que consistia em uma espécie de cerâmica, que com o passar do tempo foi aperfeiçoada por cada povo. Algumas são advindas de rituais, como as urnas funerárias e outras são apenas objetos de decoração, como os vasos.

Uma das artes mais produzidas pela cultura indígena é a cerâmica. A maioria das tribos indígenas com o passar do tempo, acabaram desenvolvendo estilos próprios para o seu aprimoramento artístico. Isto porque, verifica-se grupos maiores que habitam a região Amazônica, onde as condições climáticas favorecem mais a produção de cerâmicas confeccionadas a partir de argilas e rochas.

Conforme Soares (2011, p. 67) “Diversos fatores interagiam com a produção artística direcionada: elementos inocentes, como as cores da jovem terra, o calor, as flores, os animais, a água e o céu azul ensolarado.”

Dentre outros materiais, também são usados materiais orgânicos e não orgânicos e outros elementos misturados em sua composição como: cinzas, ossos e cascalhos, que dão mais durabilidade às ações do tempo.

Encontram-se diversas peças de cerâmicas produzidas por tribos indígenas, entre elas destacam-se vasos, objetos do cotidiano, urnas funerárias, enfeites, como rodelas-de-fuso, apitos, tangas triangulares, banquinhos e as pequenas estatuetas de seres antropomórficos com desenhos que quase nunca se repetem, como traços, curvos e gregos, rudemente trabalhados com rasos fornilhos e grossos tubos de aspiração.

FIGURA 4 – CERÂMICAS DE TRIBOS INDÍGENAS

Fonte: (Disponível em: http://come-se.blogspot.com.br/2009/01/andancas-por-sao-paulo-ou-utensilios.html. Acesso em: 28 dez. 2015)

Segundo Vieira (2012, p. 31) “Podemos considerar a arte dos índios em transformar peças cerimoniosas e do seu cotidiano em artefatos cheios de significado, de valores estéticos e sociais, faz com que se dê a continuidade de sua identidade cultural.”

Existe uma diversidade de artefatos advindos da argila, pois cada tribo confecciona com seu estilo, complexidade e diversidade de técnicas, demonstrando através de peças simples seus costumes, valores e crenças, transformando esta cerâmica em uma linguagem ímpar.  

3.2 A DANÇA INDÍGENA

A dança é uma forma de linguagem, e é expressa por meio da arte. Sobrevivente das épocas mais remotas, a dança, assim como a música, ainda sobrevive aos dias de hoje. Alguns povos a consideram sagrada, e acreditam que a mesma é inspirada por espíritos profanos.

Em meio a rituais misteriosos e crendices de tribos, os índios em contato com a natureza, através de sua fauna e flora, em seus rituais e crenças, executam a dança, que tem papel fundamental e influência na vida social dos indígenas.

Na cultura indígena, a dança é executada à fim de celebrar atos, fatos e feitos relativos à vida e aos costumes da tribo. Dança-se por diversos motivos, entre eles para a preparação para a guerra, quando voltam da guerra, para a celebração das boas safras, para o amadurecimento das frutas, para se obter uma boa pescaria, em rituais fúnebres, para espantar doenças, entre outros.

FIGURA 5 – DANÇA INDÍGENA

Fonte: (Disponível em: < http://caindonadanca.blogspot.com.br/2014/05/danca-indigena.html> Acesso em: 07 Jan.2016).

As danças podem ser executadas por um indivíduo ou em grupo, porém as mulheres não podem participarem de danças sagradas, executadas pelos pajés. Para essas danças, são utilizados objetos em que a tribo acredita que sejam mágicos, entre eles estão os totens, amuletos, imagens e instrumentos musicais como o apito, isto depende muito da cerimônia a qual irão participar.

Entretanto, em alguns rituais que envolvam danças, além dos amuletos e instrumentos musicais, os indígenas também utilizam máscaras, chamadas de dominós, essas podem cobrir todo o corpo, servindo-lhes de disfarce. O desempenho satisfatório do ritual depende muito da linguagem do corpo em movimento, da coreografia desempenhada, além do canto.

As danças dedicadas à poderes mágicos e curativos, são atribuídos ao líder xamã, que intercede entre a realidade e a dimensão do sobrenatural, agindo com poderes místicos, estas danças xamanísticas são realizadas por diversas tribos indígenas encontradas na Amazônia.

FIGURA 6 – CERIMONIAL RITUALÍSTICO INDÍGENA

Fonte: (Disponível em: < http://pib.socioambiental.org/pt/povo/ticuna/1349> Acesso em: 07 Jan. 2016).

Existem também outras danças como o toré e o kuarup. Com variações de ritmos a dança do toré depende cada povo, para esta dança, usa-se o maracá, que é um chocalho de cabaça seca, produzido pelos indígenas, no seu interior colocam-se pedras ou sementes. Este som produzido pelo chocalho marca as pisadas e o ritmo com que os indígenas dançam. Este ritual possui maior resistência nas tribos indígenas situadas no Nordeste.

Entretanto, a dança do kuarup, nome que designa uma árvore sagrada, consiste em um ritual de reverência aos mortos, no qual aos sábados e domingos de manhã, os índios cantam e dançam em frente à árvore kuarup a fim de homenagear os indígenas que já faleceram.

Algumas danças muito conhecidas do nosso folclore brasileiro, também têm origem indígena, como cateretê, caiapós, cururu, jacundá e o gato. Essas danças estão presentes na cultura de diversos estados brasileiros, e também fazem parte da cultura indígena. Segundo Pires (2008, p. 64):

A música cultural oferecida através do folclore nos remete a um eu social. Ela é capaz de nos inserir em um universo de significações e nos faz sentir parte de algo que vai além de nós. A partir das músicas folclóricas, somos levados a conhecer como as coisas acontecem ao nosso redor, de forma descontraída e imperceptível.

Existem também outras danças que são de relevante importância para as tribos indígenas brasileiras, entre elas estão a acvigua, atiaru, buzoa, Kahê-Tuagê, a dança da onça, a dança do jaguar, Uariuaiú, entre outras. Essas danças são executadas por diferentes tribos brasileiras, e cada uma dessas tribos à executa da sua maneira, a grande maioria dessas danças tem objetivos místicos, sagrados e guerreiros diversos, como para atrair bons espíritos, resgatarem almas, afugentar maus espíritos e em homenagem aos espíritos dos animais da floresta.

3.3 A MÚSICA NA CULTURA INDÍGENA

Uma das atividades culturais mais importantes da cultura indígena, a música está presente na socialização das diversas tribos indígenas brasileiras. Essas músicas consistem em um vasto universo cultural, de enormes variedades. Segundo Kandler (2011, p. 9) O conceito de música varia de cultura para cultura.

Para as tribos indígenas, a música tem importância social e ritual. Contudo, verifica-se a presença da música nas diversas manifestações culturais e sociais, não só das tribos indígenas, mas também da sociedade em geral, fazendo parte assim, dos rituais de magia, de socialização e de cura. Nas tribos indígenas, também verifica que a música como linguagem, esta se faz presente em festas comemorativas, das quais a partir dela, podemos saber se estamos em um ritual ou em uma guerra por exemplo.

Conforme Kandler (2011, p. 11) “A música é um fenômeno social que acontece de forma diferente nas variadas culturas. Tanto suas formas de produção quanto os significados e funções que lhes são atribuídas variam em função do seu contexto e do período histórico em que existem.”

Para executarem suas músicas, os índios brasileiros fabricam instrumentos de sopro ou percussão. Cada tribo possui seus instrumentos específicos, e estes quando compartilhados sofrem com as diversidades de materiais utilizados para a sua fabricação.

Executam também suas músicas com o próprio corpo que é tido como um instrumento musical. O corpo é utilizado como instrumento somente para alguns rituais, como as batidas dos pés, por exemplo, estas tem a finalidade de dar ritmos às suas melodias.

Alguns dos instrumentos musicais mais utilizados pelos indígenas são o pau-de-chuva, o chocalho, o apito e o uruá.

O pau-de-chuva é assim chamado pois seu barulho é semelhante ao da chuva, é um instrumento de percussão e é muito utilizado em rituais de cura.

FIGURA 7 – PAU-DE-CHUVA

Fonte: (Disponível em: http://www.vebidoo.de/pau+feito. Acesso em: 06 jan.2015).

O chocalho é um instrumento de extrema necessidade no ritual de plantação, pois sem ele, acredita-se que as plantas não se desenvolvem. Também está presente no rito de criação de uma etnia, onde sem a presença do som do chocalho o deus não os encontraria, o que acabaria com todo o universo. Assim, percebe-se toda a importância que este instrumento têm para as tribos indígenas.

FIGURA 8- CHOCALHO INDÍGENA

Fonte: (Disponível em: http://tvcultura.cmais.com.br/srbrasil/chocalho-indigena. Acesso em: 06 jan.2015).

Utilizado para imitar o som dos pássaros e em rituais para chamar entidades e seres, o apito é confeccionado de madeira e, muitas vezes é usado como colar, pois às tribos indígenas acreditam que o mesmo é um amuleto que os protege dos maus espíritos.

FIGURA 9 – COLAR DE APITO DAS TRIBOS INDÍGENAS

Fonte: (Disponível em: http://www.imagick.org.br/pagmag/themas2/flautas.html. Acesso em: 06 jan.2016).

O Uruá é uma flauta, considerada sagrada pelos indígenas e indispensável no ritual de despedidas dos mortos.

FIGURA 10 – URUÁ INDÍGENA

Fonte: (Disponível em: https://plus.google.com/100020197270205087389/about. Acesso em: 06 jan.2016).


         Estes são alguns dos instrumentos indígenas mais importantes para as tribos, e são usados para seus diversos rituais e como percussão para suas músicas e composições. Alguns destes objetos também funcionam como instrumentos e agem contra os maus espíritos, protegendo a tribo. Assim, verifica-se a importância histórica, social e cultural da música e dos instrumentos musicais para as tribos.

4 A INTERCULTURALIDADE

A interculturalidade é um projeto que está sendo discutido em diversos países. Apesar deste projeto ser chamado de ‘intercultural’, sua preocupação está mais focado às tribos indígenas, reforçando a preocupação dos representantes de diversos países em manterem vivas as tradições da cultura indígena e a sua variedade linguística presentes em cada região do mundo. 

Segundo Soares (2011, p.128) “Esse espaço requerido vem sanar a dívida social construída ao longo dos anos pelas classes dominantes, que serviam de parâmetros regulador de comportamento social.”

O termo ‘interculturalidade’ surge no contexto educacional, com referência à educação escolar indígena. O objetivo deste projeto é promover uma educação que valorize e reconheça as diversidades culturais presentes no mundo. Conforme Siebert (2012, p. 42) “De certa forma, o tema cultura indígena sempre esteve presente como conteúdo escolar, principalmente na disciplina de história. O que se propõe agora é que sejam revistos com um olhar mais crítico, fugindo dos estereótipos e de ideias pré-concebidas do senso comum.”

Neste sentido, a escola além de desempenhar uma função importantíssima na difusão do conhecimento e da cultura, também promove o desenvolvimento de atitudes éticas e de respeito mútuo entre diferentes grupos sociais. Contudo, a legislação busca atender algumas necessidades individuais e sociais presentes no mundo contemporâneo.

Os desafios que compõem a prática da educação intercultural envolvem também a arte como representante da expressão da humanidade em suas particularidades. Ao assumir a interculturalidade no espaço educacional, inúmeras questões se tornam relevantes. Pensar as práticas educativas sob a ótica da interculturalidade é necessário e urgente.  (SOARES, 2011, p. 130).

Entender as diferenças se faz necessário para podermos compartilhar de um mesmo espaço, sem hierarquizá-lo, ou seja sem que a cultura do outro possa ser substituída pelas nossas culturas, só assim poderemos viver com pacificidade.

Ao pensar a educação intercultural, seremos sempre aprendizes. O legado dos diferentes povos, através de suas manifestações culturais socializadas, contribuirão para a formação humana como um todo. E esse todo abrange o pessoal e o social, o desenvolvimento de cada um no cenário coletivo contemporâneo. A arte-educação está embutida no processo geral da educabilidade humana e, como tal, assume seu papel fundamental. (SOARES, 2011, p. 132).

Desta forma, compreendemos que a arte na educação ainda precisa de um olhar mais amplo e voltado para a formação do cidadão. Este olhar deve ter um enfoque nas culturas que cada cidadão carrega consigo, suas crenças, sua religiosidade. Só assim ampliaremos cada vez mais o repertório brasileiro cultural.

5 CULTURA INDÍGENA

O Brasil é um país rico por possuir uma diversidade cultural bastante vasta, e o que identificamos é que cada cultura tem suas raízes muito bem definidas, e estas encontram-se com novas influencias.

Segundo Soares (2011, p. 67) “Assim como os fenômenos culturais passam por modificações atreladas à sua história e contexto a arte brasileira também passou por influências de várias culturas.”

Neste campo cultural, é preciso refletir um pouco sobre a cultura indígena e suas manifestações na dança, na religião, na culinária, na arte de forma geral.

A maioria das tribos indígenas vivem em seus territórios, mas vale a pena ressaltar que embora os indígenas tenham características em comum, eles não são iguais entre si, pois cada povo possui diferenças em suas crenças, costumes, cultura, organização social e política, entre outros. Assim, percebe-se que nem todos vivem da mesma maneira, pois até suas lendas, sua alimentação, sua educação pode diferenciar em muito uma tribo de outra.

Dentre fatores que acabam diferenciando também uma tribo de outra, está a língua, as habitações e a maneira de se relacionar; esta diversidade não significa que a cultura dos povos indígenas foi enfraquecida, mas de que ela se transforma com o contato de outras culturas e das mudanças sociais. Segundo o autor da Revista Na Ponta do Lápis (2015, p.41) “[…] Apesar de todo o preconceito e até mesmo as humilhações que ainda sofremos, a cultura indígena é extremamente importante na sociedade, pois mesmo nos mínimos detalhes do dia a dia percebemos alguns de nossos costumes na vida das pessoas.”

Passar experiências de geração para geração é de relevante importância para cada tribo, esta atua como fonte de conhecimento e torna a cultura brasileira heterogênea e diversificada. É a partir dessas experiências passadas de pai para filho, que mesclam-se valores, costumes, línguas e hábitos, que resistem até os dias de hoje.

6 A TINTA COMO PARTE INTEGRANTE DA CULTURA INDÍGENA

A tinta na cultura indígena foi utilizada na pintura corporal sendo considerada necessária e importante esteticamente. Esta pintura possui diversos sentidos, não somente pela vaidade, mas também pelos seus valores que se transmite através da mesma. O processo de fabricação da mesma consiste em ralar frutas, juntamente com sementes e depois misturá-las com o carvão, o jenipapo ou o urucum, estes irão agirem como pigmentos e diversificar atribuindo-lhes cores.

Através destas pinturas corporais, verifica-se que cada tribo possui uma marca própria e uma maneira de se pintar, porém se alguma tribo utilizar o mesmo desenho e cor podem travar uma luta entre ambas. Segundo Joanilho, (2007, p. 102) “Assim como no passado havia diferenças entre os diversos grupos indígenas, no presente, as diferenças entre esses grupos permanecem existindo”.

As pinturas corporais também têm como objetivos, determinar a função de cada membro dentro de sua aldeia e até mesmo para demonstrar, no caso das índias, que estão interessadas em encontrar um parceiro. Porém é importante saber que a pintura corporal é função da mulher, são as índias que pintam seus maridos e filhos, sendo que em dias comuns esta pintura demonstra ser mais simples, porém em rituais ou em combates, passam a ser mais requintada.

7 METODOLOGIA

Este trabalho de pós graduação foi desenvolvido por meio de uma pesquisa descritiva, qualitativa com procedimentos técnicos de pesquisas bibliográficas, visando esclarecer a cultura e a arte indígena.

Neste sentido, percebe-se atualmente a necessidade dos educandos conhecerem as diversas culturas sobretudo a indígena, sabendo que os mesmos poderão produzir um conhecimento cultural e importante no processo de ensino aprendizagem, por isso poderá ser avaliado no quesito atitudinal na formação do educando.

A data 19 de abril, foi escolhida para homenagear os povos indígenas, porém nós educadores temos que evitar certos estereótipos que aparecem nessas datas comemorativas, como fantasias, pinturas no rosto, música e atividades culturais. Essas atividades além de reproduzirem alguns preconceitos e estereótipos, não geram nenhum aprendizado, além disso, é de extrema importância, que se trabalhe a cultura indígena, em interdisciplinaridade com outras disciplinas, a fim de que o educando atinja um conhecimento mais amplo sobre o assunto abordado.

Com as atividades bem planejadas, o conhecimento da arte indígena, bem como seus artefatos, o educando poderá expressar livremente suas releituras, ideias e culturas, expressas em modelagens, desenhos e traços cada vez mais particulares, desenvolvendo um estilo próprio e autônomo.

8 CONCLUSÃO

É importante a discussão acerca da investigação da cultura das tribos indígenas brasileiras, observando as manifestações de suas artes através da pintura corporal, da cerâmica, da música, da dança e da escultura que se diverge em estilo e função.

Cada tribo se destaca por uma dessas produções artísticas que tem como propósitos divertir ou fazer parte de algum ritual religioso. As músicas das tribos indígenas vem acompanhadas de ritmos e melodias simples executados com o corpo ou instrumentos fabricados pela própria tribo a fim de transmitirem sons.

Usando materiais retirados da natureza, os indígenas também produzem tintas para aplicar em seus corpos. Esta pintura corporal é utilizada para indicar a divisão social indígena.

As danças indígenas, na maioria das vezes em que é executada, tem objetivos propriamente ritualísticos. Fazem parte desses ritos também as encenações, em que apresentam-se atores e espectadores, a fim de reproduzirem um espetáculo.

Por isso, é tão importante conhecer a cultura indígena, pois através dela, percebe-se que a produção indígena revela arte, beleza, alegria e um mundo ritualístico cheio de mistérios.

Conforme a legislação brasileira que fundamenta a educação indígena, os povos indígenas tem direito a uma educação escolar diferenciada, intercultural, bilíngue e multilíngue e comunitária. Ainda, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) E A Constituição Federal do ano de 1988, a educação escolar indígena é assegura pelo Ministério da Educação, porém cabe aos municípios e estados a garantia deste direito. Assim, a Funai, enquanto órgão federal, atua para a garantia deste direito, com o objetivo de contribuir na qualificação dessas políticas. 

É importante que seja abordada a interdisciplinaridade, pois assim os conteúdos ganham forma convencional, sendo ensinados e aplicados na prática dando sentido ao estudo do educando. Para que essa interdisciplinaridade aconteça, é preciso que haja planejamento e sistematização para dar significado ao conteúdo escolar.

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Arte e Educação – Trabalho de Pós Graduação