REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506151825
Beatriz Vieira da Silva1
Thalita de Sousa Lacerda2
Erlayne Camapum Brandão3
RESUMO
O envelhecimento populacional tem elevado a prevalência de dores crônicas, especialmente entre idosos, o que demanda abordagens terapêuticas não farmacológicas. Este estudo teve como objetivo investigar os benefícios da musicoterapia no controle da dor em pacientes idosos e descrever o papel da enfermagem na aplicação dessa intervenção. Por meio de uma revisão integrativa da literatura, foram analisados 19 estudos publicados entre 2015 e 2025, selecionados nas bases de dados PubMed, SciELO, BVS, Web of Science e repositórios institucionais. Os achados indicam que a musicoterapia apresenta efeitos positivos na redução da dor, da ansiedade e no bem-estar emocional dos idosos, sendo também eficaz em contextos com pacientes com demência, pós-operatório e cuidados paliativos. A enfermagem destaca-se como profissão estratégica na implementação da musicoterapia, devido à sua proximidade com os pacientes e atuação no cuidado humanizado. Apesar dos resultados promissores, observam-se lacunas relacionadas à padronização das intervenções e à capacitação dos profissionais. Conclui-se que a musicoterapia representa uma estratégia complementar segura e de baixo custo, que contribui significativamente para a qualidade da assistência de enfermagem ao idoso com dor.
PALAVRAS-CHAVE: Musicoterapia; Assistência de Enfermagem; Dor; Idosos.
ABSTRACT
Population aging has increased the prevalence of chronic pain, especially among the elderly, which demands non-pharmacological therapeutic approaches. This study aimed to investigate the benefits of music therapy in pain control in elderly patients and describe the role of nursing in the application of this intervention. Through an integrative literature review, 19 studies published between 2015 and 2025 were analyzed, selected from the PubMed, SciELO, BVS, Web of Science and institutional repositories databases. The findings indicate that music therapy has positive effects in reducing pain, anxiety and emotional well-being in the elderly, and is also effective in contexts with patients with dementia, postoperative and palliative care. Nursing stands out as a strategic profession in the implementation of music therapy, due to its proximity to patients and performance in humanized care. Despite the promising results, gaps related to the standardization of interventions and the training of professionals are observed. It is concluded that music therapy represents a safe and low-cost complementary strategy that contributes significantly to the quality of nursing care for elderly people with pain.
KEYWORDS: Music Therapy; Nursing Care; Pain; Elderly.
INTRODUÇÃO
A utilização da música como recurso terapêutico acompanha a história da humanidade, sendo empregada em diversas culturas como meio de expressão emocional, fortalecimento de vínculos sociais e alívio do sofrimento físico e psíquico (Chanda & Levitin, 2013). Com o desenvolvimento das ciências da saúde, a música passou a ser reconhecida como uma ferramenta com efeitos comprovados sobre a fisiologia e o comportamento humano, consolidando-se como prática clínica por meio da musicoterapia. Essa intervenção atua positivamente sobre o sistema nervoso central e autônomo, promovendo relaxamento, modulando a percepção da dor, reduzindo a ansiedade e estimulando a memória e a comunicação (Garza-Villarreal et al., 2017; Soares et al., 2022). Estudos evidenciam que a musicoterapia contribui para a melhora do bem-estar emocional e da qualidade de vida, especialmente em populações vulneráveis, como idosos com dores crônicas (Cosmo et al., 2022; Jesus et al., 2023). Entre suas principais vantagens destacam-se a acessibilidade, o baixo custo, a ausência de efeitos colaterais e o potencial de humanização da assistência à saúde (Brasil, 2017). No campo da enfermagem, a música se apresenta como um recurso terapêutico integrativo, que favorece o cuidado holístico, fortalece o vínculo entre profissional e paciente e amplia as estratégias de manejo não farmacológico da dor, contribuindo para uma prática mais centrada, sensível e eficaz (Amaral, 2013; Anastacio & Rodrigues, 2023).
O envelhecimento populacional tem aumentado a prevalência de dores, destacando a necessidade de intervenções não farmacológicas para promover bem-estar e qualidade de vida. Estudos indicam que a utilização da música como técnica terapêutica configura-se como uma abordagem humanizada e eficaz para o alívio da dor, a redução do estresse e a melhora do humor, alinhando-se aos princípios do cuidado integral na enfermagem. A musicoterapia é amplamente reconhecida como uma prática integrativa que emprega elementos musicais com finalidades terapêuticas, proporcionando benefícios significativos para a saúde física, emocional e social, especialmente em populações vulneráveis, como os idosos. (Araújo et al., 2016; Cosmo et al., 2022; Jesus et al., 2023).
Evidências científicas mostram que a música pode modular a percepção da dor e reduzir a necessidade de medicamentos analgésicos, especialmente em pacientes com dores musculoesqueléticas. Estudos como os de Chanda e Levitin (2013) e Garza-Villarreal et al. (2017) reforçam o potencial analgésico da música, que promove relaxamento e contribui para o alívio dos sintomas.
No contexto da convivência social, a música também desempenha um papel importante no fortalecimento dos laços interpessoais e na promoção da autoestima entre os idosos. Intervenções grupais têm mostrado resultados positivos, auxiliando os participantes a enfrentar desafios como a solidão e o isolamento social (Anastacio; Rodrigues, 2023; Jesus et al., 2023).
Do ponto de vista da enfermagem, a música é um recurso valioso na criação de um ambiente acolhedor e humanizado. Sob a perspectiva da Teoria do Cuidado Transpessoal de Jean Watson, a musicoterapia se destaca como uma estratégia complementar para o manejo da dor e para a promoção da saúde integral em idosos hospitalizados (Amaral, 2013).
Nesse sentido, a musicoterapia, ao integrar dimensões sensoriais, emocionais e cognitivas, emerge como uma abordagem eficaz, promovendo alívio da dor, redução do estresse e melhora na qualidade de vida dos pacientes (Garza-Villarreal et al., 2017; Tamiasso et al., 2023). Essa prática tem sido amplamente recomendada por diretrizes de saúde que incentivam a adoção de terapias integrativas, como preconizado pelo Sistema Único de Saúde (Brasil, 2017).
Além disso, a enfermagem desempenha um papel crucial na implementação da musicoterapia, dada sua proximidade com os pacientes e sua responsabilidade pelo cuidado integral e humanizado. A aplicação dessa intervenção pelos enfermeiros não apenas amplia as possibilidades terapêuticas, mas também fortalece a relação profissional-paciente, contribuindo para uma abordagem mais centrada nas necessidades individuais dos idosos (Soares et al., 2022).
A escolha do tema justifica-se na crescente demanda por terapias complementares voltadas ao cuidado de idosos com dores, uma condição agravada pelos desafios inerentes ao processo de envelhecimento.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo geral investigar os benefícios da musicoterapia no controle da dor em idosos e como objetivo específico: descrever o papel da enfermagem na utilização da musicoterapia.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa da literatura, no qual foi conduzido em seis fases, conforme adaptação do modelo proposto por Mendes, Silveira e Galvão (2008). As etapas da revisão integrativa iniciam-se com a elaboração da pergunta norteadora, que busca responder à seguinte questão: De que maneira a aplicação da musicoterapia pode contribuir para o controle da dor em pacientes idosos, e qual é o papel da enfermagem na implementação dessa abordagem terapêutica?
A segunda fase consiste na identificação dos estudos relevantes, utilizando-se uma estratégia de busca em bases de dados como BVS, SciELO, Pubmed, Web of Science, Revista Kairós-Gerontologia e repositórios institucionais, incluindo dissertações de mestrado relevantes para o tema, empregando descritores relacionados à musicoterapia como terapia complementar para idosos. Utilizando e no Medical Subject Headings (MeSH). Os descritores utilizados foram “music therapy” and ” Chronic Pain” or “Chronic Pains” or “pain control” or pain or “Pain Management” or “Pain Perception” or “Pain Measurement” and “Elderly” or “Homes for the Aged” or aged or Geriatrics or “Health Services for the Aged” or ” Integrative Geriatrics” or Nursing or “Nursing Care”.
A terceira etapa consiste na coleta de dados. Foram adotados critérios de inclusão que contemplaram artigos publicados nos últimos dez anos (2015-2025), nos idiomas inglês, português e espanhol, que abordaram especificamente a musicoterapia no tratamento de idosos com dor, sendo artigos originais. Foram excluídos artigos duplicados, artigos de revisão, estudos que não atendiam ao tema proposto, como aqueles que não abordavam a aplicação da musicoterapia na assistência de enfermagem ou no contexto da dor, além de artigos fora do prazo estabelecido e em outras línguas.
A quarta etapa é a análise crítica dos estudos. A seleção dos estudos segue com uma triagem inicial baseada nos títulos e resumos. Em seguida, realiza-se a análise dos textos completos dos estudos selecionados, garantindo sua relevância em relação à pergunta norteadora. A extração de dados envolveu a coleta de informações sobre os autores, ano de publicação, objetivos, metodologias, principais resultados e conclusões.
A busca inicial encontrou 512 artigos. Após a remoção de 80 duplicados, restaram 432 estudos, que foram avaliados pelo título e resumo. Dessa etapa, 389 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, restando 43 estudos, 24 eram artigos de revisão e 19 estudos para leitura na íntegra, os quais foram incluídos na análise final.
Na quinta fase, os resultados foram organizados e apresentados de forma estruturada, por meio de dois quadros: o primeiro abordando os benefícios da musicoterapia no controle da dor em idosos, e o segundo evidenciando o papel da enfermagem na implementação dessa prática integrativa.
Por fim, a sexta fase correspondeu à síntese integrativa e elaboração de recomendações para a prática clínica e para pesquisas futuras. Nessa etapa, os achados foram articulados com a literatura vigente, permitindo identificar implicações para a atuação da enfermagem, lacunas existentes no conhecimento e sugestões de novos estudos. Essa fase é fundamental, pois amplia a aplicabilidade dos resultados para o cotidiano dos profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento das práticas baseadas em evidências no campo das terapias complementares.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a confecção dos resultados, foram elaborados dois quadros constando as seguintes variáveis: Periódico, autores, ano de publicação, título, tipo de estudo e resumo. Foram utilizados 19 artigos publicados entre os anos de 2015 e 2025.
Quadro 1. Benefícios da musicoterapia no controle da dor em idosos.




Fonte: elaborado pelas autoras do trabalho
A análise dos estudos incluídos nesta revisão integrativa demonstra que a musicoterapia apresenta potencial significativo como intervenção complementar no manejo da dor em idosos, embora os resultados variem conforme o tipo de aplicação e o contexto assistencial.
Sharda et al. (2019) descreveram a implementação de um programa de música personalizada no pós-operatório de idosos submetidos a cirurgias eletivas. Integrado ao cuidado perioperatório, o programa demonstrou impactos positivos na redução da dor, na melhora do humor e na diminuição de episódios de delirium. Os autores ressaltam o papel da enfermagem na aplicação dessa intervenção, que é de fácil execução, centrada no paciente e eficaz na promoção do conforto e bem-estar.
Outro aspecto relevante é trazido por Low et al. (2020), que testaram a viabilidade da musicoterapia vocal como ferramenta para o manejo da dor crônica. O estudo apontou efeitos positivos tanto na redução da dor quanto no bem-estar geral dos participantes, destacando a voz como um recurso terapêutico acessível e promissor.
Barradas (2020) realizou uma investigação quasi-experimental sem grupo controle, observando melhora na percepção da dor após sessões de musicoterapia. Apesar das limitações metodológicas, os resultados corroboram a eficácia da música como terapia complementar e sugerem sua aplicabilidade em diferentes contextos de atenção à saúde do idoso.
O estudo desenvolvido por Ferreira e Faustino (2020) destacou os efeitos da música sobre o bem-estar emocional de idosos institucionalizados, ressaltando melhorias na autoestima, na socialização e na qualidade das interações interpessoais. A música, nesse contexto, foi percebida como instrumento terapêutico capaz de resgatar memórias, estimular a comunicação e proporcionar conforto emocional.
O estudo de Eshuis et al. (2021) investigou o uso de vibrações sonoras de baixa frequência associadas à música para estimular o nervo vago em idosos com dor musculoesquelética crônica. Apesar da proposta inovadora, os autores não identificaram uma redução significativa na intensidade da dor, sugerindo que esse tipo específico de intervenção necessita de mais evidências para comprovar sua efetividade em ambientes clínicos.
O estudo de Sarmento (2022) avaliou o efeito da música como intervenção não farmacológica durante o banho no leito de pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Aplicado em uma UTI com 38 participantes, o ensaio clínico demonstrou que os pacientes que ouviram música de sua escolha apresentaram significativa redução da dor e da frequência cardíaca. Esses achados reforçam o potencial da música como ferramenta complementar eficaz no cuidado de enfermagem, especialmente em procedimentos potencialmente dolorosos e estressantes.
Santos et al. (2022) propuseram um protocolo de ensaio clínico randomizado para investigar a eficácia da musicoterapia durante a remoção da bainha arterial femoral após cateterismo cardíaco. Os dados preliminares indicam que a intervenção musical pode reduzir significativamente a dor, diminuir a necessidade de analgésicos e aumentar a satisfação do paciente. O estudo reforça o uso da música como prática segura, de baixo custo e aplicável em contextos hospitalares, contribuindo para um cuidado mais humanizado.
Gauthier, Feryal; Güneş, Ülkü (2024) analisaram os efeitos da musicoterapia associada a exercícios respiratórios sobre dor e ansiedade em pacientes submetidos à angiografia coronária. Com 165 participantes distribuídos em três grupos, o grupo que recebeu musicoterapia apresentou níveis de dor significativamente menores em comparação ao grupo controle. A pesquisa conclui que a música durante procedimentos invasivos é uma estratégia eficaz na redução da dor, sendo uma intervenção viável também em populações idosas.
Em residentes de lares com diagnóstico de demência, Myrenget et al. (2024) verificaram que a aplicação da música como intervenção terapêutica contribuiu para a redução da dor percebida, mesmo entre pacientes com limitações cognitivas. Este achado reforça a capacidade da música de atuar em esferas sensoriais e emocionais, sendo eficaz mesmo em populações com dificuldades de comunicação verbal.
Já Kajiwara et al. (2024) avaliaram o uso da intervenção Music-Based Caregiving (MBC) em 279 idosos com demência residentes em instituições de longa permanência. Embora o estudo não tenha observado redução estatisticamente significativa na intensidade da dor ao longo das sessões, os autores sugerem que a escuta musical pode oferecer alívio momentâneo e conforto emocional, recomendando futuras pesquisas com metodologias mais sensíveis para captar efeitos imediatos da intervenção.
Esses estudos reforçam que, embora os resultados variem conforme o tipo de intervenção, contexto clínico e perfil dos pacientes, a musicoterapia apresenta benefícios consistentes no alívio da dor, na redução da ansiedade e na humanização da assistência. A participação ativa da enfermagem na implementação dessas práticas se mostra essencial, tanto pela proximidade com o paciente quanto pela capacidade de adaptar a música às necessidades individuais, fortalecendo um cuidado centrado e integral.
De forma geral, os estudos analisados apontam que a musicoterapia contribui para a redução da dor, melhora o estado emocional e fortalece a relação entre profissionais de saúde e pacientes idosos.
A enfermagem, por estar em posição estratégica na assistência direta, tem papel fundamental na implementação de intervenções musicais, promovendo cuidado integral e humanizado. No entanto, observa-se a necessidade de mais estudos com metodologia robusta e padronização das intervenções para consolidar o uso da musicoterapia na prática clínica da enfermagem.
Quadro 2. Papel da enfermagem na utilização da musicoterapia.




Fonte: elaborado pelas autoras do trabalho
Diante do avanço das práticas integrativas e complementares no cuidado em saúde, a musicoterapia tem se destacado como uma estratégia eficaz e humanizada, especialmente quando aplicada por profissionais de enfermagem. A proximidade do enfermeiro com o paciente, aliada à sua atuação integral no cuidado, favorece a utilização da música como recurso terapêutico não farmacológico em diversos contextos assistenciais. Os estudos que compõem o segundo quadro desta revisão abordam especificamente a inserção da música na prática clínica da enfermagem, evidenciando tanto os benefícios da intervenção quanto os desafios para sua implementação.
O relato de Franzoi et al. (2016) descreveu a atuação do enfermeiro na aplicação da música como intervenção terapêutica em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) com crianças com transtorno do espectro autista. A música foi utilizada para estimular a comunicação, interação e mudanças comportamentais. O estudo reforça que, para alcançar resultados positivos, o profissional de enfermagem deve ter preparo técnico e sensibilidade musical, o que amplia a efetividade do cuidado em contextos de saúde mental infantil.
O ensaio reflexivo de De Castro Moura et al. (2017) abordou os impactos da dor crônica na vida dos pacientes e a importância de uma assistência de enfermagem pautada em práticas integrativas e humanizadas. O estudo destacou que intervenções como a musicoterapia podem contribuir para o enfrentamento da dor, ao considerar tanto os aspectos físicos quanto os emocionais da experiência de adoecimento.
Nesse sentido, Ciğerci, Y. et al. (2019) realizaram um mapeamento sistemático das intervenções musicais conduzidas por enfermeiros em diversos contextos clínicos. A pesquisa revelou que a música tem sido aplicada principalmente no manejo da dor, da ansiedade e na estabilização de sinais vitais, evidenciando o papel ativo da enfermagem na implementação de estratégias terapêuticas complementares. O estudo destaca a importância da capacitação profissional para ampliar o uso qualificado da música no cuidado de enfermagem.
Leal et al. (2019), por sua vez, evidenciam os benefícios da musicoterapia em instituições de longa permanência. Os autores ressaltam a importância do enfermeiro na condução dessa prática, visto seu contato contínuo com os pacientes, o que favorece intervenções personalizadas e acolhedoras. A melhora significativa no desempenho ocupacional dos idosos observada nesse estudo reforça a efetividade da intervenção no contexto institucional.
Já Lok, Ibrahim e Sidani (2020) investigaram a conscientização, aceitabilidade e uso da música por enfermeiros registrados na prática clínica. Os resultados apontaram que, embora 46% dos enfermeiros utilizem música como recurso terapêutico, o nível de conhecimento ainda é considerado moderado, e a aceitabilidade varia de forma significativa. Isso indica a necessidade de maior integração institucional e formação técnica para fortalecer a atuação da enfermagem no uso da musicoterapia como estratégia centrada no paciente.
Marques et al. (2020) analisaram a percepção da equipe multiprofissional sobre oficinas terapêuticas de música realizadas por enfermeiros em um serviço de saúde mental. Os relatos evidenciaram que a música, utilizada como tecnologia leve de cuidado, favoreceu a escuta ativa, o fortalecimento de vínculos e a expressão subjetiva dos usuários. O estudo reforça o protagonismo do enfermeiro em práticas terapêuticas mais sensíveis e humanizadas, contribuindo para uma assistência integral na Rede de Atenção Psicossocial.
Donda e Leão (2021) realizaram um estudo qualitativo baseado em análise documental e múltiplos casos, identificando o uso da música em projetos de saúde. Os autores defendem que, aplicada com responsabilidade, a música pode ser incorporada às práticas clínicas de enfermagem como ferramenta de cuidado integral. A pesquisa também aponta a necessidade de qualificação profissional como fator essencial para que a música seja usada de forma eficaz em projetos de humanização.
Potvin, Hicks e Kronk (2021) relataram a atuação conjunta entre enfermeiros e musicoterapeutas em cuidados paliativos e hospice. A coterapia permitiu intervenções voltadas às dimensões emocionais, espirituais e familiares dos pacientes, promovendo conforto e suporte no processo de morrer. O enfermeiro, nesse contexto, atua desde a avaliação até a elaboração do plano terapêutico, reforçando seu papel como coautor de um cuidado centrado na pessoa e pautado na integralidade.
Por fim, Borick (2024) com 348 enfermeiros demonstrou que 89% já haviam utilizado a música no cuidado, principalmente por meio de dispositivos pessoais dos pacientes. Embora a maioria reconheça os benefícios da intervenção, dificuldades como a ausência de equipamentos adequados foram apontadas como barreiras. O estudo reforça o protagonismo da enfermagem na integração da música como estratégia terapêutica acessível e de baixo custo, essencial na promoção do bem-estar e da humanização do cuidado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo reafirma a importância da musicoterapia como estratégia complementar na assistência de enfermagem a idosos com dores, evidenciando seus benefícios na redução da dor, no bem-estar emocional e na qualidade de vida dos pacientes.
A atuação da enfermagem nesse contexto destaca-se por sua capacidade de implementar intervenções humanizadas e individualizadas, promovendo um cuidado mais amplo e eficaz.
A pesquisa também aponta a necessidade de maior investimento em estudos e formações voltadas para práticas integrativas, a fim de consolidar sua aplicação no cotidiano dos serviços de saúde. Dessa forma, a musicoterapia não apenas contribui para o alívio da dor, mas também reforça o papel da enfermagem como agente transformador no cuidado à saúde do idoso.
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1 Graduanda do curso de Enfermagem no Centro Universitário IESB. E-mail: beatrizvieira2@gmail.com
2 Graduanda do curso de Enfermagem no Centro Universitário IESB. E-mail: thalitadesousalacerda@gmail.com
3 Docente do curso de Enfermagem no Centro Universitário IESB. Mestre em Enfermagem pela Universidade de Brasília. E-mail: erlayne.brandao@iesb.edu.br