A APLICABILIDADE DA QUÍMICA FORENSE NO ENSINO SUPERIOR EM DIFERENTES ÁREAS DA QUÍMICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10250221234


Gilvania Santos de Oliveira[1]
Joelia Martins Barros[2]
Henrique Martins Barros[3]
Galber Santos Brito Da Silva[4]
Geraldo Roberto Souza da Silva Júnior[5]
João Felipe Silva Oliveira[6]
Kalebe Nascimento Lima[7]
Lana Lopes de Oliveira[8]
Ryan de Souza da Rocha[9]
Rodney Andrade Medeiros da Silva[10]
Sthefany Ferreira Rêgo Gomes[11]


RESUMO

Este trabalho teve como objetivo principal investigar e analisar a aplicabilidade da Química Forense no ensino superior nos cursos de graduação em Química da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Esse ramo da Química que utiliza conhecimentos científicos para auxiliar investigações criminais, apresenta um grande potencial didático para tornar o ensino mais atrativo e contextualizado para os estudantes. A pesquisa buscou identificar e analisar como a Química Forense pode ser integrada aos conteúdos programáticos das diversas disciplinas de Química, como Química Orgânica, Inorgânica e Analítica. Através de uma revisão bibliográfica, foram exploradas as diferentes técnicas e metodologias utilizadas na Química Forense e como elas podem ser adaptadas para o ambiente acadêmico. Foram analisadas técnicas como a cromatografia, espectrometria de massa, análise de DNA, e identificação de substâncias químicas. Essas técnicas foram avaliadas quanto à sua aplicabilidade em experimentos laboratoriais e atividades práticas no contexto educacional. Além disso, foram identificadas metodologias de ensino que incorporam estudos de caso, simulações e projetos interdisciplinares, permitindo que os estudantes apliquem os conceitos teóricos de maneira prática e contextualizada. Ademais, foi realizado um questionário fechado com 119 estudantes dos cursos de bacharelado e licenciatura em Química, com objetivo de coletar dados sobre a química forense e suas percepções. Aplicou-se também aos 13 docentes da instituição uma entrevista, a qual se obteve respostas de 13 entrevistados. Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que a Química Forense possui um grande potencial para enriquecer o ensino de Química no ensino superior, tornando-o mais relevante e motivador para os estudantes. A integração da Química Forense aos conteúdos programáticos das disciplinas mencionadas da área Química pode contribuir para a formação de profissionais mais qualificados e preparados para atuarem em diferentes áreas, como a perícia criminal, a indústria farmacêutica e a pesquisa científica.

Palavras-chave: Química Forense, Ensino Superior, Química, Práticas Pedagógicas.

ABSTRACT

This study aimed to investigate and analyze the applicability of Forensic Chemistry in higher education within the undergraduate Chemistry courses at the State University of Southwest Bahia (UESB). This branch of Chemistry, which uses scientific knowledge to assist criminal investigations, presents significant didactic potential to make teaching more engaging and contextualized for students. The research sought to identify and analyze how Forensic Chemistry can be integrated into the programmatic content of various Chemistry disciplines, such as Organic, Inorganic, and Analytical Chemistry. Through a literature review, different techniques and methodologies used in Forensic Chemistry were explored and how they can be adapted to the academic environment. Techniques such as chromatography, mass spectrometry, DNA analysis, and identification of chemical substances were analyzed for their applicability in laboratory experiments and practical activities in the educational context. Additionally, teaching methodologies that incorporate case studies, simulations, and interdisciplinary projects were identified, allowing students to apply theoretical concepts in a practical and contextualized manner. Furthermore, a closed questionnaire was conducted with 119 students from the bachelor’s and licentiate degree courses in Chemistry to collect data on Forensic Chemistry and their perceptions. An interview was also conducted with the institution’s faculty, obtaining responses from 13 interviewees. The results of this study demonstrated that Forensic Chemistry has great potential to enrich Chemistry education in higher education, making it more relevant and motivating for students. The integration of Forensic Chemistry into the programmatic content of the mentioned Chemistry disciplines can contribute to the training of more qualified professionals prepared to work in different areas, such as criminal forensics, the pharmaceutical industry, and scientific research.

Keywords: Forensic Chemistry, Higher Education, Chemistry, Pedagogical Practices.

INTRODUÇÃO

Denominada como o ramo da Ciência que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, com objetivo de atender aspectos de interesse judiciário, a Química Forense (QF) se dispõe da aplicação dos conceitos químicos aos problemas de natureza investigativa. Conforme Zarzuela (1995), a QF é fundamental para a elucidação de crimes, fornecendo subsídios científicos para a justiça. Além disso, é vista como uma área que se destaca pela sua capacidade de integrar conhecimentos científicos emquestões legais e criminais.

No contexto do ensino superior, esse ramo não apenas enriquece a formação acadêmica dos estudantes, mas também os prepara para enfrentar desafios complexos em suas futuras carreiras. Como afirmam Santos e Silva (2018), a QF exige uma formação multidisciplinar, que abrange desde conhecimentos em química até noções de direito e biologia.

No decurso da investigação científica, essa área apresenta um papel pertinente, que permeia os conhecimentos sobre diversas reações, interações e substâncias químicas.  A análise e interpretação de evidências são indispensáveis para a resolução de crimes, identificação de substâncias tóxicas e a proteção do meio ambiente. No entanto, a formação de profissionais nessa área enfrenta diversos desafios, incluindo a necessidade de atualização tecnológica e a integração interdisciplinar (SALLIT, 2018).

O interesse científico oriundo das ferramentas capazes de elucidar crimes, forneceu uma estrutura para casos de difícil resolução. Em vista disso, atuar como perito é mais uma oportunidade para um profissional da área Química, atribuindo em suas obrigações o trabalho de encontrar pistas, rastros e vestígios e determinar o que significa. Visto que o papel da QF se tornou requerido principalmente para a lei, a propagação de conteúdos envolvendo investigações criminais ocupam cada vez mais espaço em documentários, séries de ficção científica e programas de televisão.

São diversas áreas que um químico forense pode atuar, desde o laboratório analisando amostras, como também podem atuar em locais de crimes, o qual requer conhecimentos específicos na área criminalista. Ao combinar princípios de várias subdisciplinas da química, essa área oferece uma abordagem holística e prática para a resolução de problemas.

 No ensino superior, essa interdisciplinaridade pode ser explorada para proporcionar aos estudantes uma formação abrangente e integrada. A química analítica, por exemplo, é fundamental para a identificação e quantificação de substâncias químicas em amostras forenses, utilizando técnicas como cromatografia e espectrometria de massa.

Já química orgânica, por sua vez, é bastante utilizada para a análise de drogas e substâncias controladas, permitindo a identificação de compostos orgânicos em amostras biológicas e não biológicas. No que diz respeito a inorgânica, exerce sua contribuição na análise de metais e outros materiais inorgânicos, utilizando técnicas como espectrometria de absorção atômica (EAA) e espectrometria de emissão de plasma acoplado indutivamente (ICP). Já a bioquímica, é responsável pela análise de amostras biológicas, como sangue e saliva, e pela identificação de biomoléculas e ácidos nucleicos.

Por outro lado, a química ambiental também desempenha um papel fundamental na análise de amostras de solo, água e ar, ajudando a identificar e quantificar poluentes químicos. No ensino, a integração dessas áreas pode proporcionar aos estudantes uma formação diversificada. No entanto, essa integração requer uma abordagem curricular aprimorada e a colaboração entre os departamentos da instituição.

A inovação curricular é uma das principais perspectivas para o ensino da QF. Para isso, é necessário desenvolver currículos que integrem novas tecnologias e métodos de ensino que podem melhorar significativamente a qualidade da educação. Isso inclui a incorporação de técnicas avançadas de análise química, bem como o uso de software de simulação para estudos de caso forenses. A inovação curricular também envolve a adaptação dos métodos de ensino para refletir as mudanças na prática forense.

No entanto, atualização tecnológica é um dos principais desafios para esse ensino. Govan (2014) destaca que as técnicas e equipamentos utilizados na QF estão em constante evolução, e é válido destacar a necessidade das atualizações que os currículos acadêmicos devem aderir para essas mudanças. Isso requer investimentos significativos em infraestrutura e equipamentos modernos. Sem essa atualização, os estudantes podem acabar aprendendo técnicas obsoletas que não são mais usadas na prática forense.

A formação de professores especializados em química forense é outro desafio. Muitos professores de química podem não ter experiência prática ou formação específica em química forense. Programas de desenvolvimento profissional e cursos de especialização são indispensáveis para garantir que os educadores estejam bem preparados para ensinar essa disciplina. Isso pode incluir workshops, conferências e cursos de atualização que abordem as últimas tendências e inovações na área.

Além disso, motivar os estudantes a se interessarem pela QF pode ser um desafio, especialmente considerando a complexidade e a natureza técnica da disciplina. No entanto, a aplicação prática da QF em investigações criminais é uma ferramenta que desperta o interesse dos alunos. Métodos de ensino como estudos de caso e simulações de cenas de crime, podem tornar o aprendizado mais relevante.

Dessa forma, este trabalho tem como principal objetivo investigar a aplicabilidade Química Forense no ensino superior, considerando as diferentes áreas da Química. Para atingir o que é proposto no objetivo principal, articularam-se os seguintes objetivos específicos: Identificar as principais áreas da Química em que QF pode ser inserida. Analisar os currículos de graduação em Química no Brasil; Avaliar a percepção dos estudantes e professores;

Portanto, foi realizada uma pesquisa documental dos currículos de graduação em Química no Brasil, explorando os catálogos dos cursos através dos sites das principais instituições brasileiras. A análise focou no desenvolvimento da disciplina de Química Forense e seu potencial didático. Além disso, foram analisadas as principais áreas da Química onde a QF pode ser aplicada, bem como as técnicas e metodologias utilizadas e suas adaptações para o ambiente acadêmico.

Adicionalmente, foi realizado um levantamento de dados por meio de um questionário com alunos de graduação e pós-graduação em Química e entrevistas com os professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), com o objetivo de compreender suas percepções sobre a inserção da Química Forense no currículo e identificar os principais desafios e oportunidades relacionados a essa integração.

As próximas seções deste trabalho apresentam os capítulos que o compõem. No Capítulo I, foi realizada uma breve discussão sobre a Introdução da Química Forense. No Capítulo II, foram abordadas as áreas em que a QF se insere na Química. No Capítulo III, foram abordados os desafios e perspectivas da Química Forense no ensino superior. O Capítulo IV descreve o percurso metodológico desenvolvido ao longo da intervenção, dividido em cinco tópicos: 5.1 Abordagem; 5.2 Método; 5.3 Campo e os sujeitos da pesquisa; 5.4 Instrumento de coleta; 5.5 Análise dos dados. Já o Capítulo V apresenta a análise documental dos currículos de Química, os resultados e discussões obtidos por meio da aplicação do questionário e entrevistas feitas aos discentes e docentes da UESB. Por fim, o trabalho conclui com as considerações finais da pesquisa realizada.

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO À QUÍMICA FORENSE

O crescimento exponencial da Química forense nas últimas décadas demostra a importância que essa área tem na Ciência investigativa. A Química Forense começou a se aperfeiçoar dentro da área da medicina legal a partir do surgimento de investigações criminais inicialmente provocadas por agentes tóxicos. Já no que se refere a área criminalista, a QF abrangeu as perícias em análises de substâncias com caráter qualitativo, como drogas ilícitas, ou caráter quantitativo como avaliação do teor de etanol em combustíveis (DE ALENCAR; SAMPAIO; ALVES, 2022, p. 59).

A QF não é uma ciência estática. Ao longo dos anos, ela evoluiu significativamente, impulsionada pelos avanços tecnológicos. No passado, as análises eram realizadas de forma mais lenta e menos precisa. Atualmente, técnicas como cromatografia gasosa, espectrometria de massas e DNA fingerprinting[12] revolucionaram a área, permitindo a identificação de substâncias em quantidades ínfimas e a obtenção de perfis genéticos altamente precisos (JOBLING & GILL, 2004). Essa evolução tecnológica tem sido fundamental para a resolução de casos complexos e para a obtenção de evidências cada vez mais robustas.

Para Zarzuela (1995, p. 164), a Química Forense é o ramo da Ciência que se ocupa da investigação forense no campo da Química especializada, a fim de atender os aspectos de interesse judiciário. Em definição a palavra forense é explicita aos conhecimentos científicos de questões criminais. Dessa forma, a aplicação dessa ciência provê a denominação utilizada. Essa ciência tem sido fundamental na resolução de homicídios, estupros, tráfico de drogas e outros crimes graves. Além disso, a Química Forense também é utilizada em outras áreas, como a arqueologia, a paleontologia e a autenticação de obras de arte.

A ética na área forense não se limita apenas à conduta profissional, mas permeia todo o processo de análise, desde a coleta de amostras até a emissão do laudo pericial. A imparcialidade é fundamental para garantir a credibilidade dos resultados. O químico forense deve agir como um árbitro imparcial, buscando a verdade dos fatos, independentemente das pressões externas ou de suas próprias convicções. Qualquer viés ou preconceito pode comprometer a integridade das análises e levar a conclusões errôneas, com graves consequências para a justiça.

Visto que, a sociedade como um todo depende da credibilidade das perícias para garantir a justiça e a segurança. Quando os resultados de uma análise forense são questionados por falta de ética ou imparcialidade, a confiança no sistema judiciário é abalada. Por isso, a formação de químicos forenses deve enfatizar a importância desses valores, preparando profissionais capazes de agir com integridade e responsabilidade em um campo tão delicado.

Por se tratar de uma área muito ampla, a Química Forense não se restringe somente aos conhecimentos químicos. Ela agrupa diversas outras áreas do saber, como a toxicologia, farmacologia, bioquímica, medicina legal e mais recentemente, encaixa-se na área de direito, conforme está apresentado na figura 1. O conjunto de conhecimento que essas áreas oferecem, formalizam conceitos e leis que derivam os aspectos químicos (FERREIRA, 2016).


Figura1- Química Forense e outras áreas do saber que se associam.

Fonte: Elaborada pela autora (2024).

1.1 Conceitos fundamentais da química forense

A Química Forense desempenha um papel valioso na investigação criminal, ajudando a identificar substâncias químicas, determinar suas origens e entender como elas podem ter sido usadas em um crime. É capaz de abranger uma ampla gama de análises, desde a identificação de drogas e venenos até a análise de resíduos de explosivos e a determinação da composição de materiais desconhecidos. (SAFERSTEIN, 2011).

Além de sua aplicação em investigações criminais, a Química Forense também é utilizada em casos civis, como disputas de paternidade e investigações de fraudes. Os químicos forenses trabalham em estreita colaboração com outros especialistas forenses, como toxicologistas, biólogos e analistas de DNA, para fornecer uma visão extensiva das evidências. (JACKSON & JACKSON, 2011).

A precisão e a confiabilidade das análises químicas são fundamentais para garantir que as conclusões sejam válidas e possam ser usadas em tribunal. (HOUCK & SIEGEL, 2010). A química forense vai além do ambiente de laboratório. Profissionais dessa área frequentemente estão presentes em cenas de crime, onde coletam amostras e asseguram que as evidências sejam tratadas com a devida atenção. (JAMES, NORDBY, & BELL, 2014).

Além disso, podem ser convocados a agir como peritos em tribunal, apresentando suas conclusões e explicando os métodos que empregaram para alcançá-las. Essa mistura de atividades de campo, análise em laboratório e depoimentos em juízo torna a carreira em Química Forense tanto desafiadora quanto recompensadora. (PONCE & LOZANO, 2012).

A formação de um químico forense geralmente inclui um diploma em química ou uma área relacionada, seguido por treinamento especializado em técnicas forenses. Muitos químicos forenses também obtêm certificações profissionais para demonstrar sua competência e compromisso com a ética profissional. A educação contínua é essencial, pois a Ciência Forense está em constante evolução com o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias. (SIEGEL, SAUKKO, & KNUPFER, 2000).

1.2 História da Química Forense

A história da química forense é longa e cheia de marcos importantes. Desde os tempos antigos, substâncias químicas foram usadas para fins nefastos, como envenenamentos, que eram comuns no Egito Antigo e na Roma Antiga. No entanto, foi apenas no século XVIII que a química começou a ser usada sistematicamente em investigações criminais. Um dos primeiros casos documentados foi o julgamento de Mary Blandy em 1752, onde a análise química foi usada para provar que ela havia envenenado seu pai (STILL; WATSON; WEXLER 2020).

No século XIX, a Química Forense deu um grande salto com o trabalho de cientistas como Mathieu Orfila, considerado o pai da toxicologia forense. Orfila desenvolveu métodos para detectar venenos em tecidos humanos, o que foi revolucionário para a época. Outro marco significativo foi o caso do Castelo de Bitremont em 1850, onde Jean Stas conseguiu detectar nicotina nos tecidos de uma vítima, levando à condenação do assassino. Esses avanços estabeleceram a QF como uma Ciência respeitável e essencial para a aplicação da lei (BRUNI, VELHO & OLIVEIRA, 2019).

Com o advento do século XX e o avanço da tecnologia, a Química Forense continuou a evoluir. Conforme relatado por Saferstein (2011), a introdução de técnicas como a cromatografia e a espectrometria de massa permitiu análises mais precisas e detalhadas. Butler (2015) observa que a análise de DNA, que começou a ser usada na década de oitenta, revolucionou a investigação criminal, permitindo a identificação precisa de suspeitos e vítimas.

Conforme apontado por Gill (2002), a capacidade de comparar amostras de DNA com alta precisão transformou a investigação criminal, permitindo a identificação de suspeitos e a exoneração de inocentes. Casos famosos, como o de Colin Pitchfork no Reino Unido, demonstraram o poder da análise de DNA para resolver crimes que antes eram considerados insolúveis (LYNCH, 2013).

Nos últimos anos, a QF continuou a se beneficiar de avanços tecnológicos. Caldwell (2018) menciona que técnicas como a espectrometria de massa de alta resolução e a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa (LC-MS) permitiram análises ainda mais detalhadas e precisas. Além disso, o desenvolvimento de métodos de análise em tempo real e portáteis permitiu que os químicos forenses realizassem análises no local da cena do crime, acelerando o processo de investigação.

A análise de drogas e substâncias controladas é uma parte fundamental na Química Forense, envolvendo a identificação e quantificação de substâncias ilícitas. Owen e Allsop (2012) apontam que isso pode incluir drogas recreativas, medicamentos controlados e precursores químicos usados na fabricação de drogas. Técnicas como cromatografia em camada delgada (TLC) e cromatografia gasosa (GC) são frequentemente utilizadas para separar e identificar os componentes de uma mistura.

A evolução constante das drogas ilícitas, com a criação de novas substâncias e a modificação de compostos já conhecidos, exige um aprimoramento contínuo das técnicas analíticas e um profundo conhecimento em toxicologia. Kintz (2014) destaca que a combinação de métodos cromatográficos com outras técnicas avançadas permite a identificação de substâncias cada vez mais complexas e a quantificação precisa de seus níveis no organismo.

1.3 A química forense como ferramenta didática

A Química Forense, com sua capacidade de desvendar mistérios através da análise de evidências, tem sido tema de diversas séries de televisão que cativam o público com suas histórias intrigantes e procedimentos científicos. As abordagens iminentes de assuntos estudados nessa área da Ciência são destaque em algumas séries famosas como CSI (Crime Scene Investigation), que acompanha um grupo de especialistas que trabalham em um laboratório criminalístico em Las Vegas, analisando evidências para solucionar casos complexos. (BRYANT, 2014).

As orientações curriculares definidas pelo Ministério da Educação (MEC) não fazem menção direta à incorporação da Química Forense como disciplina obrigatória nos cursos de graduação em Química. Contudo, essas diretrizes possibilitam a adição de disciplinas optativas que podem tratar de tópicos específicos, incluindo a Química Forense.

Nesse contexto, a QF tem a capacidade de despertar o interesse do aluno em diversos conteúdos da química, visto que a mesma pode ser empregada através da contextualização. Segundo Silva (2007), a contextualização permite que os alunos relacionem o conteúdo escolar com suas experiências de vida e conhecimentos prévios. A aplicação da Química Forense no ensino desenvolve habilidades científicas fundamentais, como a observação detalhada, a análise crítica e a interpretação de dados.

Ademais, a Química Forense pode ser utilizada para promover a educação científica e a conscientização pública sobre a importância da ciência na resolução de problemas sociais. Através de projetos e atividades extracurriculares, os alunos podem explorar o papel da Química Forense na investigação criminal e na proteção do meio ambiente, desenvolvendo uma compreensão mais ampla da aplicação da ciência na sociedade (HOUCK, 2010).

No ambiente educacional, a Química Forense pode ser integrada através de metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em problemas (PBL) e a aprendizagem por investigação. Essas metodologias incentivam os alunos a resolverem problemas reais, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico e investigativo. Por exemplo, atividades práticas como a análise de impressões digitais e a detecção de substâncias químicas em amostras simuladas podem ilustrar conceitos teóricos de forma concreta. (PRINCE & FELDER, 2006).

A utilização da Química Forense em sala de aula pode ser adaptada para diferentes níveis de ensino, desde o ensino fundamental até o ensino superior. A Química Forense também pode ser utilizada para abordar temas transversais, como ética, cidadania e responsabilidade social. Ao discutir casos reais, os estudantes podem refletir sobre as implicações éticas da ciência e a importância da justiça. (SLEETER, 2008).

Outrossim, a Química Forense envolve uma série de técnicas e metodologias que podem ser adaptadas para o ambiente acadêmico. Atividades práticas, como a análise de substâncias e a simulação de cenas de crimes, permitem que os estudantes desenvolvam habilidades laboratoriais, além de promoverem o pensamento crítico e a resolução de problemas. Para Giordan (1999), a experimentação desperta um forte interesse entre os alunos, que atribuem a este um caráter motivador, lúdico e essencialmente vinculado aos sentidos do corpo humano.

CAPÍTULO 2- A química forense em diferentes áreas da química

A Química Forense destaca-se pela sua natureza interdisciplinar, essencial para a eficácia das investigações criminais. Ela integra diversas técnicas e metodologias químicas para a análise de evidências. Essa interdisciplinaridade é crucial não apenas para a resolução de casos, mas também para o enriquecimento do aprendizado em várias áreas da química. Nos últimos anos, a Química Forense tem ganhado crescente atenção no meio acadêmico, comprovando sua capacidade de aprimorar a formação dos estudantes ao proporcionar uma aplicação prática e abrangente dos conceitos químicos (KAPLAN, 2019).

A interdisciplinaridade é um elemento essencial na Química Forense, pois permite a integração de conhecimentos de diferentes áreas para discussão de conteúdos complexos. Segundo Frodeman (2010), a interdisciplinaridade enriquece a compreensão dos fenômenos ao combinar perspectivas e métodos de várias disciplinas. Isso é especialmente relevante na QF, onde a colaboração entre químicos, biólogos, toxicologistas e profissionais do direito é fundamental para uma análise completa e precisa das evidências.

Além disso, a abordagem interdisciplinar promove a inovação e o desenvolvimento de novas técnicas e metodologias. De acordo com Klein (1990), a interdisciplinaridade é um motor de inovação, pois fomenta a criatividade e a descoberta ao permitir a interação de diferentes campos do conhecimento.

Rpeko (2012) destaca também que a educação interdisciplinar prepara os estudantes para enfrentar os desafios do mundo real, onde muitos problemas raramente se restringem aos limites de uma única disciplina. Logo, ao expor os estudantes a uma variedade de perspectivas e habilidades, a formação interdisciplinar os capacita a abordar os problemas forenses de maneira mais eficaz, contribuindo para a excelência e a credibilidade da prática forense.

2.1 Química Analítica

Segundo Saferstein (2011), na Química Analítica, a Química Forense utiliza técnicas avançadas para a identificação e quantificação de substâncias químicas em amostras forenses. Métodos como a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) e a espectrometria de massa são fundamentais para a análise de drogas, toxinas e outros compostos químicos. Essas técnicas permitem a detecção precisa de substâncias em pequenas quantidades.

Um exemplo clássico utilizado na Química forense é a cromatografia líquida de alta eficiência, sendo uma técnica fundamental para a separação, identificação e quantificação de componentes em misturas complexas. Segundo Costa (2019), a CLAE, conhecida também por HPLC (em inglês, High Performance Liquid Cromatography), é um método físico-químico empregado para separação de componentes presentes em uma determinada amostra, conforme a representação da figura 2.


Figura 2- Representação do sistema da cromatografia líquida de alta eficiência.                 

Fonte: Kasvi (2024).

Dessa forma, utilizando princípios de interação diferencial entre a fase móvel e a fase estacionária, a HPLC permite a análise detalhada de substâncias presentes em pequenas quantidades, essencial para a investigação forense. Por exemplo, é amplamente utilizada na detecção de drogas ilícitas e toxinas em amostras biológicas como sangue e urina, permitindo a identificação de compostos que podem estar relacionados a crimes (BOWEN, 2009).

Além disso, a HPLC é empregada na análise de resíduos de disparo de armas de fogo, fibras, tintas e outros materiais coletados em cenas de crime, fornecendo informações vitais sobre a origem e o uso desses materiais. A técnica é valorizada por sua alta resolução, sensibilidade, versatilidade e rapidez, tornando-se uma ferramenta indispensável para os químicos forenses que buscam realizar análises confiáveis e detalhadas, fundamentais para a resolução de casos criminais e a administração da justiça.

A crescente prevalência de medições químicas, impulsionada pela industrialização global, pela acessibilidade dos instrumentos e por uma maior consciência da importância dos produtos químicos em todos os aspectos da vida, levou a um aumento na procura de graduados qualificados em química analítica (HILBORNE & ROFFEY, 2020). A química analítica é um campo interdisciplinar com aplicações em diversas áreas, incluindo agricultura, alimentos, processos industriais, química ambiental, farmacêutica, combustíveis, cosméticos e Ciência Forense.

Estudos dessas validações analíticas são essenciais para a incorporação bem-sucedida de tecnologias forenses emergentes, como espectrômetros de massa portáteis no currículo acadêmico. A avaliação abrangente das características de desempenho incluindo rendimento, seletividade, exatidão, precisão e robustez do método, garante a confiabilidade dessas técnicas analíticas.

2.2 Química Orgânica

A química orgânica possui uma importância fundamental na área de Química Forense, principalmente na análise de substâncias orgânicas encontradas em evidências de cenas de crime. A detecção de resíduos de explosivos, drogas proibidas, pesticidas e venenos está entre as aplicações mais significativas.

Utilizando técnicas sofisticadas como cromatografia gasosa (GC) e espectrometria de massa (MS), os profissionais da Química Forense conseguem identificar compostos orgânicos com um alto nível de precisão, mesmo em pequenas quantidades. Segundo Paiva et al. (2015), esses procedimentos são essenciais para identificar a presença de substâncias ilegais ou nocivas, podendo influenciar decisivamente nas investigações criminais.

Além da detecção de substâncias, a química orgânica na Química Forense também envolve a análise de fibras, tintas e polímeros. Vestígios de fibras podem ser encontrados em roupas, veículos e objetos, e sua análise pode revelar informações sobre a origem e a composição desses materiais. A análise de tintas, por exemplo, pode ajudar a identificar a procedência de documentos falsificados ou determinar a origem de grafites. Como descrito por Roux et al. (2012), a identificação de polímeros em plásticos e outros materiais pode fornecer pistas valiosas sobre o uso e a manipulação desses objetos em uma cena de crime.

A química orgânica é bastante utilizada na toxicologia forense, onde são analisados os metabólitos de drogas e venenos no corpo humano. Através da análise de amostras biológicas como sangue, urina e tecidos, é possível detectar a presença de substâncias tóxicas e seus metabólitos, ajudando a determinar a causa da morte ou a presença de drogas em um indivíduo. Técnicas como a Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas Cromatografia Líquida acoplada à Espectrometria de Massas (GC-MS, LC-MS) são amplamente utilizadas para essas análises, proporcionando resultados precisos e confiáveis que são fundamentais para a investigação forense (KARCH, 2007).

Essa área também contribui para a análise de produtos incendiários e explosivos. A identificação dos componentes químicos presentes em resíduos de incêndio e explosão pode ajudar a determinar a causa e a origem do evento, bem como identificar os responsáveis. A análise de compostos orgânicos voláteis (VOCs) em cenas de crime relacionadas a incêndios criminosos é uma aplicação importante, pois esses compostos podem fornecer informações sobre os materiais usados para iniciar o fogo.

De acordo com Houck (2010), a Química Orgânica desempenha um papel vital na análise de drogas e substâncias controladas. A identificação de compostos orgânicos em amostras biológicas e não biológicas é essencial para determinar a presença de drogas ilícitas, venenos e outros agentes químicos. Técnicas como a cromatografia gasosa (GC) e a espectrometria de massa são amplamente utilizadas para essa finalidade, permitindo a separação e identificação de compostos orgânicos complexos.

2.3 Química Inorgânica

Na Química Inorgânica, a Química Forense se concentra na análise de metais e outros materiais inorgânicos. Conforme Jackson e Jackson (2011), técnicas como a espectrometria de absorção atômica e a espectrometria de emissão de plasma acoplado indutivamente (ICP-OES) são utilizadas para identificar e quantificar metais em amostras forenses. Essas análises são importantes em casos de envenenamento por metais pesados, identificação de resíduos de disparos de armas de fogo e análise de materiais de construção.

Análise de resíduos de disparo de arma de fogo é uma das aplicações mais importantes da Química Inorgânica na Química Forense. Quando uma arma de fogo é disparada, ela libera resíduos contendo metais como chumbo, bário e antimônio, que podem ser depositados nas mãos, roupas e outras superfícies próximas. De acordo com Barbosa (2013), é através de técnicas inorgânicas que os químicos forenses podem analisar esses resíduos para determinar se uma pessoa esteve em contato com uma arma de fogo, auxiliando na investigação de crimes envolvendo armas.

Além disso, a Química Inorgânica é fundamental na análise de explosivos e materiais incendiários. Muitos explosivos contêm compostos inorgânicos, como nitratos, cloratos e percloratos, que podem ser detectados e identificados através de métodos inorgânicos. Para Tebbett (2007), a espectrometria de massa com plasma acoplado indutivamente (ICP-MS) é uma técnica poderosa que permite a análise de vestígios de explosivos em amostras de solo, água e resíduos de explosão, fornecendo informações essenciais sobre o tipo de explosivo utilizado e sua origem.

A identificação e a análise de materiais de construção também são áreas onde a Química Inorgânica se destaca na Química Forense. Materiais como cimento, concreto, gesso e tintas frequentemente contêm compostos inorgânicos que podem ser caracterizados e comparados. Segundo Ferreira (2016), a análise desses materiais pode fornecer informações sobre a origem e o uso de determinados itens em cenas de crime, auxiliando na investigação e na reconstrução dos eventos.

A Química Inorgânica também é aplicada na análise de venenos e toxinas inorgânicas. Metais pesados como mercúrio, chumbo e arsênico são conhecidos por sua toxicidade e podem estar presentes em casos de envenenamento. Através de técnicas como a espectroscopia de absorção atômica (AAS) e a espectrometria de emissão de plasma acoplado indutivamente (ICP-OES), é possível detectar e quantificar esses metais em amostras biológicas, ajudando a determinar a causa da intoxicação e a identificar possíveis responsáveis (Clarkson & Magos, 2006).

2.4 Bioquímica

Butler (2015) enfatiza que a Bioquímica muito utilizada na análise de amostras biológicas, como sangue, saliva e tecidos. A identificação de biomoléculas e ácidos nucleicos é essencial para a determinação de perfis genéticos e a identificação de indivíduos. Técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e a eletroforese em gel são amplamente utilizadas para a amplificação e análise de DNA, permitindo a comparação de amostras biológicas com perfis genéticos conhecidos.

Um dos principais focos da bioquímica forense é a análise de DNA. Através de técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e a eletroforese em gel, é possível amplificar e separar fragmentos de DNA, permitindo a identificação de indivíduos com alta precisão. De acordo com Butler (2015), a análise de DNA é frequentemente usada para comparar amostras biológicas encontradas em cenas de crime com amostras de suspeitos, ajudando a estabelecer conexões entre eles e a resolver casos criminais.

Ao analisar amostras de sangue, urina e outros fluidos corporais, também é possível identificar a presença de drogas ilícitas, medicamentos e venenos, bem como determinar a concentração dessas substâncias. Segundo Karch (2007), técnicas como a cromatografia gasosa-massa (GC-MS) e a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) são fundamentais para essas análises, permitindo detectar e quantificar substâncias mesmo em concentrações muito baixas.

Além disso, a bioquímica forense também desempenha um papel importante na investigação de casos de envenenamento. Através da análise de amostras biológicas, é possível identificar toxinas e venenos que podem ter causado a morte ou a doença de um indivíduo. De acordo com Clarkson e Magos (2006), a detecção de metais pesados como mercúrio, chumbo e arsênico, bem como de toxinas naturais como venenos de plantas e animais, é essencial para determinar a causa da intoxicação e ajudar na investigação criminal.

Outra área importante da bioquímica forense é a análise de fluidos corporais para determinar a presença de álcool e outras substâncias que possam ter influenciado o comportamento de um indivíduo. A análise de amostras de sangue e urina para detectar etanol e seus metabólitos é frequentemente utilizada em investigações de acidentes de trânsito e casos de violência. De acordo com Jones (2010), essa análise ajuda a determinar se o indivíduo estava sob a influência de álcool ou outras substâncias no momento do incidente.

Ademais, a bioquímica forense é utilizada para estudar processos biológicos que ocorrem após a morte, como a decomposição. A análise de amostras de tecidos e fluidos corporais pode fornecer informações sobre o tempo e as condições da morte, ajudando a estabelecer uma linha do tempo dos eventos que levaram à morte do indivíduo. De acordo com Bunch (2019), técnicas como a análise de ácidos nucleicos e a quantificação de proteínas específicas são utilizadas para esses estudos.

A bioquímica forense também contribui para a análise de traços biológicos deixados em cenas de crime, como manchas de sangue, saliva e sêmen. Através da análise de componentes biológicos presentes nesses traços, é possível determinar a origem e a identidade dos indivíduos envolvidos, fornecendo evidências para a resolução de casos criminais. De acordo com Budowle et al. (2009), a detecção de marcadores biológicos específicos, como proteínas e ácidos nucleicos, é fundamental para essas análises.

2.5 Química Ambiental

A Química Ambiental também desempenha um papel importante na Química Forense, especialmente na análise de amostras de solo, água e ar. A identificação e quantificação de poluentes químicos são essenciais para a investigação de crimes ambientais e a proteção do meio ambiente. Segundo Smith (2005), técnicas como a cromatografia líquida e a espectrometria de massa são utilizadas para detectar contaminantes em amostras ambientais, ajudando a identificar fontes de poluição e a responsabilizar os culpados.

A Química Ambiental está voltada particularmente para análise de amostras de solo, água e ar coletadas em cenas de crime ou de acidentes ambientais. Segundo Manahan (2010), a capacidade de detectar e quantificar poluentes químicos nestas matrizes é indispensável para determinar a extensão e o impacto de contaminações, bem como para identificar as fontes de poluição. Esta análise pode fornecer pistas valiosas em casos de crimes ambientais e ajudar na responsabilização dos culpados.

A Química Ambiental aplicada à Química Forense também abrange a análise de resíduos industriais e descarte ilegal. Conforme os estudos de Botkin (2003) é possível rastrear a origem de substâncias tóxicas encontradas em corpos d’água e no solo utilizando técnicas analíticas sofisticadas, como a espectrometria de massa e a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Esses métodos são eficazes na identificação de compostos específicos, permitindo sua associação a processos industriais ou ações humanas, o que gera evidências robustas para a atuação das autoridades.

A investigação de metais pesados representa uma área significativa onde a Química Ambiental se cruza com a Química Forense. Clarkson e Magos (2006) enfatizam que a presença de metais tóxicos, como chumbo, mercúrio e arsênico, em amostras ambientais pode ser um indicativo de contaminação oriunda de ações criminosas ou de descaso. As técnicas de espectrometria de absorção atômica (AAS) e espectrometria de emissão de plasma acoplado indutivamente (ICP-OES) são essenciais para a realização dessas análises, possibilitando uma quantificação precisa dos níveis de metais presentes nas amostras.

Essa área apresenta papel primordial na análise de incidentes relacionados a vazamentos de óleo e substâncias químicas diversas. Murphy (2007) indica que, por meio da análise de hidrocarbonetos e compostos orgânicos voláteis (VOCs) em amostras de água e solo, é possível obter informações valiosas sobre a origem e a magnitude do derrame. Para isso, técnicas como cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (GC-MS) são empregadas, permitindo a identificação e quantificação desses compostos, o que auxilia na atribuição de responsabilidades e na avaliação dos impactos ambientais do evento.

Além dessas análises, a Química Ambiental no contexto da Química Forense também abrange a investigação dos impactos ecológicos. De acordo com Wright (2007), a presença de poluentes em ecossistemas pode ter repercussões na flora e fauna locais. A análise de amostras biológicas, como tecidos de animais e plantas, pode evidenciar os efeitos da contaminação química. Esses dados são essenciais para a adoção de estratégias de remediação e para a preservação dos ecossistemas prejudicados.

2.6 Outras áreas de importância

Além das subdisciplinas já mencionadas, a Química Forense também se aplica em áreas como a Toxicologia Forense, que envolve a análise de substâncias tóxicas em amostras biológicas para determinar a causa de intoxicações e envenenamentos. De acordo com Levine (2020), a identificação de toxinas em amostras de sangue, urina e tecidos é crucial para a resolução de casos de envenenamento e overdose.

À vista disso, surge a Toxicologia Forense, área interdisciplinar que combina conhecimentos de química, biologia e medicina para entender como as substâncias químicas afetam o corpo humano. Smith (2005) explica que os toxicologistas forenses analisam amostras biológicas, como sangue, urina e tecidos, para detectar a presença de substâncias tóxicas. Eles também estudam como essas substâncias são metabolizadas e eliminadas pelo corpo, fornecendo informações importantes sobre a dose e o tempo de exposição.

Uma das principais responsabilidades dos toxicologistas forenses é determinar a causa da morte em casos de suspeita de envenenamento. Levine (2020) descreve que isso pode envolver a análise de variadas substâncias, desde venenos tradicionais, como arsênico e cianeto, até drogas modernas, como opióides e anfetaminas. Além de casos de envenenamento, a toxicologia forense também é usada em investigações de abuso de substâncias e testes antidoping. Eles também podem trabalhar em casos de abuso de drogas, ajudando a identificar substâncias controladas e a determinar a extensão do uso.

A toxicologia forense também desempenha um papel importante na segurança pública. Conforme ressaltado por Baselt (2017), os toxicologistas forenses podem analisar amostras de água e solo para detectar a presença de poluentes químicos, ajudando a proteger o meio ambiente e a saúde pública. Eles também podem trabalhar em casos de exposição ocupacional a substâncias tóxicas, ajudando a identificar riscos e a implementar medidas de segurança. 

A Documentoscopia Forense é outra área importante, que envolve a análise de documentos para detectar fraudes e falsificações. Conforme Saferstein (2011), técnicas como a análise de tintas e papéis, a determinação da sequência de traços de escrita e a detecção de alterações em documentos são utilizadas para identificar falsificações e autenticar documentos. A espectrometria de infravermelho e a microscopia eletrônica são algumas das técnicas empregadas nessa área.

Na Balística Forense, a Química Forense é utilizada para a análise de resíduos de disparos de armas de fogo e a identificação de projéteis e cartuchos. Técnicas como a microscopia eletrônica de varredura (MEV) e a espectrometria de energia dispersiva (EDS) são utilizadas para identificar resíduos de pólvora e metais em amostras de mãos e roupas, ajudando a determinar se um indivíduo disparou uma arma (OWEN & ALLSOP, 2012).

A Análise de Explosivos é outra aplicação importante da Química Forense. A identificação de resíduos de explosivos em cenas de crime e em amostras de suspeitos é crucial para a investigação de atentados e outros crimes envolvendo explosivos. Técnicas como a cromatografia gasosa e a espectrometria de massa são utilizadas para identificar compostos explosivos e seus precursores (CALDWELL, 2018).

A Química Forense Industrial envolve a análise de produtos industriais, como alimentos, medicamentos e cosméticos, para detectar fraudes e contaminações. A identificação de adulterantes e contaminantes em produtos industriais é essencial para garantir a segurança do consumidor e a conformidade com regulamentações (BRYANT, 2014).

A Química Forense no Doping Esportivo envolve a análise de amostras biológicas de atletas para detectar o uso de substâncias proibidas. Técnicas como a cromatografia líquida e a espectrometria de massa são utilizadas para identificar substâncias dopantes em amostras de sangue e urina, ajudando a manter a integridade do esporte (KINTZ, 2014).

CAPÍTULO 3- Desafios e perspectivas da química forense no ensino superior

Um dos principais desafios no ensino da Química Forense é a necessidade constante de atualização tecnológica. As técnicas e os equipamentos utilizados na QF estão em constante evolução, exigindo que os currículos acadêmicos acompanhem essas mudanças. Segundo Saferstein (2011), esse processo requer investimentos significativos em infraestrutura e equipamentos modernos, além de treinamento contínuo para professores e técnicos. Sem essa atualização, os estudantes podem acabar aprendendo técnicas obsoletas que não são mais usadas na prática forense moderna.

Além disso, a rápida evolução tecnológica implica que os professores precisam estar constantemente atualizados com as últimas inovações. De acordo com Houck (2010), isso pode ser um desafio considerável, pois muitos professores já têm cargas de trabalho pesadas e podem não ter tempo ou recursos para se manterem atualizados. Klein (2012) sugere que programas de desenvolvimento profissional e workshops podem ajudar a mitigar esse problema, proporcionando aos educadores as ferramentas e o conhecimento necessários para ensinar as técnicas mais recentes.

A formação de professores especializados em QF é outro desafio significativo. Muitos professores de Química podem não ter experiência prática ou formação específica nessa área. Programas de desenvolvimento profissional e cursos de especialização são indispensáveis na garantia que os educadores estejam bem preparados para ensinar essa disciplina complexa. Segundo Bruni et. al (2019), isso pode incluir workshops, conferências e cursos de atualização que abordem as últimas tendências e inovações na Química Forense.

Além disso, a formação de professores deve incluir treinamento prático em técnicas forenses. De acordo com Ferreira (2016), isso pode envolver estágios em laboratórios forenses, onde os professores podem ganhar experiência prática e ver como as técnicas que ensinam são aplicadas no mundo real. Essa experiência prática garante que os professores possam ensinar de maneira mais objetiva.

Outro aspecto crítico da atualização tecnológica é a integração de novas tecnologias no currículo. Ferramentas de simulação e software de análise de dados podem ajudar os estudantes a ver como os diferentes aspectos da QF se interconectam (PRINCE & FELDER, 2006).  Além disso, a integração interdisciplinar pode ser promovida por meio de parcerias através de estágios e projetos de pesquisa conjuntos que podem enriquecer a experiência de aprendizado e preparar melhor os alunos para suas futuras carreiras (FERREIRA, 2016).

Além das considerações tecnológicas e curriculares, a formação de professores deve incluir um foco na ética profissional e no desenvolvimento de habilidades pedagógicas. Ensinar QF requer não apenas conhecimento técnico, mas também a capacidade de trabalhar conceitos complexos de maneira clara e acessível. Klein (2012) enfatiza que programas de desenvolvimento profissional devem incluir treinamento em métodos de ensino eficazes, técnicas de avaliação e estratégias.

Silva (2021) destaca a importância de incluir discussões sobre dilemas morais, estudos de caso e a incorporação de princípios éticos nos currículos de QF, devido à análise de evidências que podem ter um impacto significativo na vida das pessoas. Incentivar a participação em projetos de pesquisa e competições pode ser uma maneira eficiente de enriquecer o aprendizado. Competições, onde os alunos resolvem casos simulados incentivam a aplicação prática dos conhecimentos. Projetos de pesquisa permitem que os estudantes explorem áreas de interesse específico e contribuam para o avanço da disciplina. Dessa maneira, a pesquisa pode enriquecer a experiência de ensino e proporcionar aos estudantes uma visão mais profunda e atualizada da QF (BASELT, 2017).

A QF está se consolidando dentro do ensino superior, refletindo a crescente demanda por profissionais qualificados para atuar na resolução de crimes e investigações científicas. As perspectivas para essa área são vastas e promissoras, especialmente com o aumento do uso de tecnologias avançadas e metodologias interdisciplinares. Com a contínua evolução tecnológica, a QF está se expandindo para incluir novas técnicas analíticas e ferramentas digitais, proporcionando aos estudantes uma formação cada vez mais robusta e abrangente.

As universidades estão progressivamente integrando cursos e programas voltados para a QF, conforme apontado por Saferstein (2011). Essa ampliação surge como uma resposta à crescente necessidade de profissionais capacitados para a elucidação de crimes e investigações científicas. Instituições como a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Univitória já disponibilizam cursos de graduação e pós-graduação na área de QF, que englobam desde fundamentos teóricos até competências práticas fundamentais para a atuação forense. Esses programas oferecem aos alunos uma formação sólida, equipando-os para lidar com os desafios da sociedade contemporânea.

Além das graduações tradicionais, a especialização em Química e Toxicologia Forense tem ganhado cada vez mais destaque. Instituições como o Instituto Infor disponibilizam cursos específicos para a formação de profissionais que irão trabalhar em laboratórios forenses, institutos de medicina legal e agências de segurança pública. Esses programas não apenas enriquecem o conhecimento teórico dos estudantes, mas também oferecem formação prática com técnicas de ponta e equipamentos modernos. Assim, as universidades asseguram que seus graduados estejam prontos para contribuir de maneira eficaz na elucidação de crimes, evidenciando a crescente relevância da QF no ensino superior e na sociedade.

3.1 Metodologia

Com o objetivo de responder à questão que norteia esta pesquisa: Como a inserção da Química Forense pode contribuir para o enriquecimento do currículo acadêmico e a formação de competências práticas dos estudantes nas diferentes áreas da Química no ensino superior? Adotou-se uma abordagem metodológica predominantemente qualitativa. Segundo Creswell (2014), a pesquisa qualitativa é caracterizada pela coleta e análise de dados não numéricos, permitindo uma compreensão profunda dos fenômenos estudados. Denzin e Lincoln (2011) destacam que a pesquisa qualitativa é uma prática interpretativa e naturalista, que busca entender os fenômenos em seus contextos naturais, enfatizando a importância da subjetividade e da complexidade dos dados coletados.

Além disso, foi empregado o método de estudo de caso, definido por Yin (2018) como uma investigação empírica que examina um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos. O estudo de caso permite uma análise detalhada e contextualizada, proporcionando insights valiosos sobre a aplicação da Química Forense no ensino superior. Denzin e Lincoln (2011) também ressaltam que o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que permite uma compreensão profunda dos fenômenos, integrando múltiplas fontes de dados e perspectivas.

3.1.1 Abordagem e Método

Martins (2004) destaca que a metodologia qualitativa é especialmente útil em estudos exploratórios, pois permite compreender significados, práticas e comportamentos complexos. Esse enfoque é relevante para investigar a aplicabilidade da Química Forense no ensino superior, exigindo uma compreensão profunda das experiências e percepções dos educadores e estudantes.

Uma característica distintiva da pesquisa qualitativa é a flexibilidade de seus métodos, permitindo a adaptação ao contexto específico do estudo e explorando diversas disciplinas de química, como Química Orgânica, Inorgânica e Analítica. Alves-Mazzotti (2017) argumenta que o pesquisador qualitativo se envolve profundamente no campo de estudo, o que é importante para captar as dinâmicas educacionais e os desafios na implementação da Química Forense no currículo.

A análise de dados qualitativos é um processo iterativo e reflexivo, categorizando e codificando dados para identificar padrões e temas emergentes, como descrito por Miles, Huberman e Saldana (2014). Flyvbjerg (2016) defende que a abordagem indutiva da pesquisa qualitativa permite um desenvolvimento teórico robusto e adaptável, proporcionando uma compreensão contextualizada dos fenômenos sociais.

A escolha da metodologia qualitativa foi motivada pela natureza dos dados, que se baseiam mais em aspectos textuais do que em dados numéricos ou estatísticos (LEITE, 2008). Gonsalves (2007) indica que essa abordagem deve ser considerada quando o objetivo da investigação é compreender e interpretar o fenômeno, levando em conta o significado atribuído pelos indivíduos às suas práticas.

O estudo de caso é um método qualitativo que permite uma investigação detalhada e contextualizada, ideal para entender fenômenos em seus contextos reais (Yin, 2018). Essa flexibilidade permite explorar questões multifacetadas e capturar a complexidade das interações sociais (Stake, 1995).

O estudo de caso pode utilizar técnicas de coleta de dados variadas, como entrevistas, observações, análise documental e questionários, oferecendo uma visão rica do fenômeno (Creswell, 2013). No contexto educacional, proporciona insights valiosos sobre práticas pedagógicas e experiências de aprendizagem (Merriam, 2007).

Gerring (2007) destaca a necessidade de definir claramente o problema de pesquisa, os objetivos do estudo e os critérios de seleção dos casos. A coleta e análise de dados devem ser conduzidas de maneira meticulosa, garantindo a validade e confiabilidade dos resultados. A triangulação é uma técnica comum para aumentar a robustez dos achados, permitindo que outros pesquisadores avaliem a transferibilidade dos resultados para outras situações.

3.1.2 Campo e Sujeitos da Pesquisa

 Para esta pesquisa, foram selecionados docentes e estudantes dos cursos de graduação em Química (Licenciatura e Bacharelado, nos turnos diurno e noturno) e pós-graduação profissional em Química (PROFQUI). A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) foi escolhida como campo de estudo, uma vez que, historicamente, não possui integração da Química Forense em seu currículo. De acordo com o Catálogo de Cursos da UESB, os currículos de Licenciatura e Bacharelado em Química não incluem disciplinas específicas de Química Forense. Assim, a pesquisa se baseou em uma análise comparativa entre diferentes abordagens pedagógicas e metodológicas, conforme descrito por Yin (2018).

Os professores selecionados contribuíram com suas percepções e experiências relacionadas à Química Forense, o que possibilitou a exploração de novas dimensões sobre a integração desta área no currículo acadêmico.  Já os estudantes forneceram insights[13], ou seja, percepções e entendimentos profundos, sobre como a Química Forense é percebida e assimilada dentro do contexto acadêmico. Suas opiniões ajudaram a identificar lacunas no ensino atual e a necessidade de uma abordagem mais prática e contextualizada na formação acadêmica. A participação dos estudantes foi fundamental para entender a receptividade e o impacto potencial da inclusão da Química Forense no currículo.

Em suma, a pesquisa buscou compreender as diferentes perspectivas de 13 professores e 119 estudantes sobre a Química Forense, utilizando uma abordagem metodológica qualitativa baseada em estudos de caso. Essa metodologia permitiu uma investigação das percepções dos participantes, oferecendo um fundamento robusto para o desenvolvimento de futuras iniciativas de integração curricular na área de Química Forense. Ao proporcionar uma compreensão aprofundada das experiências dos sujeitos, a pesquisa não só identifica as necessidades e lacunas existentes, mas também sugere caminhos concretos para a implementação eficaz dessa disciplina nos currículos acadêmicos.

3.1.3 Instrumentos de Coleta

A coleta de dados entre os professores foi realizada através de entrevistas semiestruturadas escritas compostas por 12 perguntas, permitindo uma exploração profunda de suas experiências e percepções. Essas entrevistas abordaram tópicos como a relevância da química forense no ensino de química, os métodos pedagógicos utilizados e os desafios enfrentados na implementação de disciplinas específicas.

Perguntas da entrevista feita aos docentes

  1. Qual a sua percepção sobre a importância da Química Forense no
    contexto da Química como um todo?
  2. Na sua opinião, a Química Forense é uma área de conhecimento que desperta o interesse dos estudantes? Por quê?
  3. Como você avalia o potencial da Química Forense para motivar os
    alunos e torná-los mais engajados com o estudo da Química?
  4. Acredita que a Química Forense poderia ser inserida no currículo dos
    cursos de graduação em Química de forma mais aprofundada? Em
    quais disciplinas?
  5. Quais as principais dificuldades você enxerga para a implementação de disciplinas ou módulos sobre Química Forense nos cursos de
    graduação?
  6. Quais os recursos (materiais, infraestrutura, etc.) que você considera
    essenciais para o ensino da Química Forense?
  7. Quais as estratégias pedagógicas mais adequadas para o ensino da
    Química Forense?
  8. Como você avalia a importância da realização de atividades práticas no
    ensino da Química Forense?
  9. Quais os desafios e as oportunidades que você vê na utilização de
    casos reais e simulações para o ensino da Química Forense?
  10. Na sua opinião, como a Química Forense pode contribuir para a
    formação de um profissional de Química mais completo e preparado
    para o mercado de trabalho?
  11. Quais as competências e habilidades que um profissional de Química
    formado em um curso que aborda a Química Forense deve ter?
  12. Como você avalia a importância da interdisciplinaridade no ensino da
    Química Forense?

Já a contribuição dos estudantes se deu através de um questionário online, composto por 12 questões fechadas, realizado pela plataforma do Google Forms e disponibilizado via e-mail e WhatsAap, no qual as respostas refletiram a eficácia das abordagens pedagógicas e a relevância do conteúdo ensinado. A aplicação do questionário forneceu dados ricos sobre as atitudes e expectativas dos estudantes em relação à QF. Essa abordagem multifacetada permite uma compreensão abrangente e detalhada da aplicabilidade da química forense no ensino superior da UESB, capturando múltiplas perspectivas e contextos (FLICK, 2018).

Perguntas do questionário realizado com estudantes

  1. Quais as áreas da Química Forense que mais te interessam?
  2. Você acredita que a Química Forense pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento?
  3. Você já teve alguma disciplina ou atividade relacionada à Química Forense durante sua graduação?
  4. Caso tenha tido contato com a Química Forense, como você avalia a experiência?
  5. Você acredita que a Química Forense deveria ser mais explorada nos cursos de graduação em Química?
  6. Quais as dificuldades você enxerga na inserção da Química Forense no currículo dos cursos de graduação?
  7. Na sua opinião, qual a importância da Química Forense para a sociedade?
  8. Como você acredita que a Química Forense pode contribuir para a sua formação profissional?
  9. Você acredita que a Química Forense pode ser uma ferramenta importante para a resolução de crimes?
  10. Quais os tipos de atividades você considera mais eficazes para o ensino da Química Forense?
  11. Você acredita que a utilização de tecnologias como simulações e softwares pode auxiliar no aprendizado da Química Forense?
  12. Qual a importância da interdisciplinaridade no ensino da Química Forense?

3.1.4 Análise dos Dados

A técnica escolhida para análise dos dados dessa pesquisa foi a de análise de conteúdo. Segundo Bardin (2016) a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo da mensagem.

Bardin (2016) enfatiza que a análise de conteúdo possui diferentes fases para a análise de dados: (1) pré-análise; (2) exploração do material e (3) o tratamento dos resultados, a interferência e a interpretação. Em cada uma dessas fases há uma peculiaridade de serem tratados e/ou organizados os dados para que se tenha uma análise eficaz.

3.2 Resultados e Discussão

A presente pesquisa teve como objetivo investigar a aplicabilidade da Química Forense no ensino superior, analisando os currículos de graduação em Química no Brasil, avaliando a percepção dos estudantes e professores sobre a inclusão dessa disciplina e identificando as principais áreas da Química em que a Química Forense pode ser inserida.

A análise revelou uma lacuna significativa na inclusão da Química Forense como disciplina obrigatória ou optativa nos currículos de graduação, sugerindo uma oportunidade para as instituições de ensino superior considerar a inclusão dessa disciplina para enriquecer a formação dos estudantes. Além disso, a percepção dos estudantes e professores indicou um interesse significativo na área, destacando a importância de uma abordagem interdisciplinar que permita a aplicação prática dos conhecimentos teóricos.

3.2.1 Análise dos Currículos de Graduação em Química no Brasil

Ao analisar os currículos dos cursos de graduação em Química das instituições brasileiras, notou-se que a Química Forense não é comumente utilizada como disciplina obrigatória ou optativa. Geralmente, os cursos de Química tradicional focam em áreas como Química Analítica, Orgânica, Inorgânica e Físico-Química. Por sua vez, a Química Forense, é uma área interdisciplinar que combina conhecimentos de Química com técnicas de investigação criminal. Essa diferença de foco pode levar a uma separação curricular entre os cursos.

De acordo com um estudo realizado por Siqueira e Moradillo (2017), os currículos de Química no Brasil têm sido influenciados por políticas educacionais que priorizam a flexibilidade e a interdisciplinaridade. Embora as diretrizes curriculares permitam a inclusão de disciplinas optativas, a Química Forense não é amplamente oferecida como parte dos currículos analisados (figura 3). Isso sugere que há uma oportunidade para as instituições de ensino superior considerar a inclusão da Química Forense como uma disciplina optativa ou integrada em outras disciplinas, para enriquecer a formação dos estudantes e atender ao interesse crescente nessa área.


Figura 3- Principais instituições de ensino no Brasil.

Fonte: elaborada pela autora (2024).

Algumas instituições brasileiras oferecem cursos de Química Forense, proporcionando uma formação sólida e interdisciplinar para os estudantes interessados nessa área. Entre elas, destaca-se a Universidade de São Paulo (USP), que oferece um curso de Bacharelado em Química com habilitação em Química Forense no campus de Ribeirão Preto. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também oferece um curso de Bacharelado em Química Forense, entretanto ao analisar o curso de Química da mesma instituição percebe-se que a Química Forense não foi adicionada como disciplina obrigatória ou optativa.

Portanto, essa área da Ciência requer uma formação específica em técnicas forenses e métodos analíticos avançados. Instituições como a UFPel podem optar por oferecer essa formação como um curso separado para garantir que os estudantes recebam uma educação aprofundada e especializada na área. Embora a UFPel possua estrutura e profissionais preparados, a implementação de uma disciplina de Química Forense pode exigir recursos adicionais. A separação dos cursos pode ser uma forma de aperfeiçoar o uso desses recursos.      

3.2.2 Entrevista Com os Professores de Química

 Com o objetivo de compreender as percepções dos docentes da área sobre a possiblidade da inserção da Química Forense nos cursos de graduação de Química, foi realizada uma entrevista semiestruturada com 13 professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB entre os dias 04 de agosto e 10 de outubro de 2024, no campus de Jequié. Os professores entrevistados são profissionais que atuam em diversas áreas nos cursos de graduação em Química. No entanto, nenhum dos professores entrevistados possui formação em áreas especificas da Química forense, conforme o gráfico 1.


Gráfico 1- Área de Atuação dos Professores Entrevistados.

Fonte: Elaborado pela autora (2024).

Os resultados obtidos sobre a importância da Química Forense indicam um consenso sobre a relevância dessa área no contexto da Química. Conforme apresentado no quadro 1, os professores entrevistados (codificados por PO1, PO2, e assim por diante) contribuíram com suas percepções sobre a importância da Química Forense nesse contexto.

Quadro 1- Percepção sobre a importância da Química Forense no contexto da Química como um todo.

Código do entrevistadoPercepção da Importância da Química Forense
P01Necessário para a elucidação de crimes e descobertas científicas.
P02A química forense é uma área da química que é focada na investigação, através de técnicas e métodos específicos para elucidar crimes.
P03Fundamental, pois a Química Forense é um ramo da Química, ela utiliza dos conceitos químicos para desenvolver suas ações na investigação criminal.
P04A química forense é fundamental para que o aluno compreenda as etapas dos métodos científicos.
P05Acredito que ela possui importância por permitir combinar diferentes áreas da química e por mostrar mais um campo de atuação que a Química possui se mostrando assim uma ciência indispensável para a nossa sociedade.
P06Para nós dos cursos de Química da UESB de Jequié, que não temos essa área e nem mesmo disciplinas dessa área, a Química Forense se apresenta como um importante tema gerador, onde as áreas existentes poderiam explorá-la de forma contextualizada.
P07Ela é de extrema importância para a sociedade, uma vez auxiliar na elucidação de diversos problemas…Aqui podemos citar a área criminal e a área de entorpecentes….
P08Na resolução de problemas investigação
P09Proporcionar uma bagagem não muito limitada aos estudantes que têm como objetivo seguir o ramo de investigação criminal.
P10Extremamente importante. Inclusive tenho alguns livros sobre o tema.
P11Importância científica e social, visto ser imprescindível para que se faça justiça no cumprimento de leis. Além do que, é um campo de estudos onde a ciência é aplicada, podendo servir, inclusive, como contexto para o ensino das ciências, particularmente, da química.
P12É um tema relevante, que envolve conhecimento de diversas subáreas da Química
P13Ao meu entender a Química Forense tem extrema importância em aplicação dos princípios químicos para investigar crimes e resolver questões legais. A sua aplicação nos métodos analíticos permite examinar evidências das substâncias tóxicas ou residuais para resolução dos conflitos no cotidiano; além disso, contribui para a justiça, fornecendo provas em julgamentos criminais através das análises precisas e confiáveis; ainda, impulsiona o avanço tecnológico para atender as necessidades mais rápidas.

Fonte: Elaborado pela autora (2024).

A maioria dos docentes entrevistados destacou o potencial da Química Forense para motivar os alunos e torná-los mais engajados com a disciplina. A natureza prática e aplicada dessa área, além da possibilidade de explorar diferentes subáreas da Química, foram apontadas como fatores que contribuem para o aprendizado significativo, como afirmou o entrevistado P13:

“Ao meu entender a Química Forense tem extrema importância em aplicação dos princípios químicos para investigar crimes e resolver questões legais. A sua aplicação nos métodos analíticos permite examinar evidências das substâncias tóxicas ou residuais para resolução dos conflitos no cotidiano; além disso, contribui para a justiça, fornecendo provas em julgamentos criminais através das análises precisas e confiáveis; ainda, impulsiona o avanço tecnológico para atender as necessidades mais rápidas.”

A Química Forense é amplamente reconhecida como uma área da Química focada na investigação. Como um dos entrevistados apontou: “A química forense é uma área da química que é focada na investigação, através de técnicas e métodos específicos para elucidar crimes.” Segundo Ewing (2011), este enfoque investigativo distingue a Química Forense de outras áreas da Química, tornando-a uma disciplina aplicada e prática.

Outro ponto importante levantado foi o papel da Química Forense na educação científica. “A química forense é fundamental para que o aluno compreenda as etapas dos métodos científicos,” comentou um dos entrevistados. A Química Forense ajuda os alunos a entenderem como os princípios científicos são aplicados na prática para resolver problemas complexos.

A Química Forense combina diferentes subáreas da Química, ampliando o campo de atuação da ciência. Um entrevistado mencionou: “Acredito que ela possui importância por permitir combinar diferentes áreas da química e por mostrar mais um campo de atuação que a Química possui se mostrando assim uma ciência indispensável para a nossa sociedade.” Esta interdisciplinaridade não só enriquece a formação dos estudantes, mas também oferece uma perspectiva mais ampla sobre a Química.

Muitos entrevistados ressaltaram a importância social e científica da Química Forense. Além de auxiliar na elucidação de crimes, a Química Forense tem um papel significativo na resolução de problemas relacionados a entorpecentes e outras questões legais. “Ela é de extrema importância para a sociedade, uma vez que auxilia na elucidação de diversos problemas,” observou um dos entrevistados. Este comentário enfatiza o impacto direto da Química Forense na justiça e na segurança pública.

A aplicação dos princípios químicos para investigar crimes e resolver questões legais foi outro ponto destacado. “A sua aplicação nos métodos analíticos permite examinar evidências das substâncias tóxicas ou residuais para resolução dos conflitos no cotidiano,” disse um entrevistado. Isso demonstra como a Química Forense utiliza técnicas analíticas para fornecer provas confiáveis em investigações criminais.

Sobre a questão “Na sua opinião, a Química Forense é uma área de conhecimento que desperta o interesse dos estudantes? Por quê?” teve como objetivo investigar a opinião dos professores sobre o interesse dos estudantes pela Química Forense. Os resultados indicam que a área desperta grande interesse, principalmente devido à sua natureza aplicada, à influência da mídia e à possibilidade de resolver mistérios. A seguir, serão apresentadas as principais razões apontadas pelos professores para explicar esse interesse.

Um aspecto frequentemente mencionado foi a influência da mídia. O entrevistado P01 comentou que a QF é amplamente abordada em diversos filmes e séries, como “CSI” e “Bones”, o que ajuda a criar uma imagem glamourosa e emocionante da área. Isso atrai a curiosidade dos estudantes, mostrando o poder da representação midiática em moldar percepções e interesses. De acordo com Saferstein (2011), a popularização da Química Forense na mídia tem um impacto significativo no aumento do interesse dos estudantes pela área.

A percepção da Química Forense como uma ciência de serviço também se destacou. Os estudantes conseguem ver a Química aplicada na resolução de problemas reais. No entanto, alguns professores apontaram que, apesar do interesse inicial, muitos estudantes de Química não seguem carreira na QF, sugerindo que a área ainda pode não ser o foco principal para todos. Segundo Houck e Siegel (2015), a Química Forense oferece uma aplicação prática dos conceitos químicos, o que pode ser um fator motivador para os estudantes.

A investigação é outro aspecto que fascina os estudantes. A capacidade de resolver mistérios e desvendar crimes estimula a curiosidade e o pensamento crítico, tornando a QF uma área atraente. A conexão com a vida cotidiana e a solução de problemas reais são fundamentais para o envolvimento dos estudantes. Como observado por Bell (2009), a QF promove o desenvolvimento de habilidades críticas e analíticas, essenciais para a formação dos estudantes.

Além disso, a Química Forense é percebida como uma forma de aplicação da Química na justiça, auxiliando na inocência ou condenação de réus, o que aumenta seu prestígio social. A ligação com histórias reais e ficcionais de mistério também aumenta o fascínio pela área. Utilizar narrativas e storytelling[14] como ferramentas educativas podem aumentar ainda mais o engajamento dos alunos.

A interdisciplinaridade e o uso de alta tecnologia na QF são aspectos que a tornam estimulante. Combinar conhecimentos de Biologia, Física, Psicologia e outras áreas para resolver problemas complexos que veem na QF torna- se uma oportunidade de aplicar múltiplos conhecimentos de forma prática. De acordo com Jackson e Jackson (2011), a interdisciplinaridade é um dos principais atrativos da QF, pois permite a integração de diversas áreas do conhecimento.

O gráfico 2 ilustrado abaixo apresenta as respostas dos treze professores participantes à pergunta: “Como você avalia o potencial da Química Forense para motivar os alunos e torná-los mais engajados com o estudo da Química?”. As respostas foram distribuídas em uma escala de 1 a 5, onde 1 representa a menor avaliação e 5 a maior.


Os resultados indicam diferentes percepções dos participantes sobre o potencial da Química Forense para motivar e engajar os alunos no estudo da Química. A maioria das respostas está concentrada nas avaliações extremas (1 e 4), sugerindo que há opiniões fortemente divididas sobre o tema.

Gráfico 2- Potencial da Química Forense para motivar e engajar estudantes.

Fonte: Elaborado pela autora (2024).

Um número significativo de respondentes (46,2%) avaliou o potencial da Química Forense com a menor nota (1), enquanto 7,7% deram a nota 2. Esta avaliação baixa pode indicar que alguns professores ainda veem a QF como uma área pouco explorada ou mal integrada no currículo. Pode haver uma percepção de que o conteúdo é muito específico ou não relevante o suficiente para todos os estudantes de Química. Para melhorar essas percepções, é essencial integrar mais a QF no currículo, mostrando sua aplicação prática e interdisciplinaridade com outras áreas da Química e Ciências.

Por outro lado, 30,8% dos respondentes avaliaram com 4 e 15,4% com a nota máxima 5. Essas respostas positivas refletem a crença de que a QF tem um grande potencial para engajar os estudantes, principalmente devido à sua aplicação prática em investigações e sua presença na mídia. As avaliações altas sugerem que quando os alunos são expostos à QF de maneira envolvente e prática, eles demonstram maior interesse e motivação. As instituições educacionais devem aproveitar essa oportunidade e incorporar mais elementos de QF em projetos e atividades práticas.

 A ausência de respostas com a nota 3 (neutra) e a concentração de respostas nas pontas da escala indicam que os professores têm opiniões polarizadas sobre o potencial da Química Forense. Este resultado reflete as diferenças na experiência dos professores com a Química Forense, variando de uma boa integração e utilização da disciplina a uma falta de recursos ou conhecimento para ensinar efetivamente.

Sobre a questão “Acredita que a Química Forense poderia ser inserida no currículo dos cursos de graduação em Química de forma mais aprofundada? Em quais disciplinas?” gerou respostas diversificadas entre os treze professores entrevistados. A maioria mostrou-se favorável à inclusão da Química Forense, mas houve uma variedade de opiniões quanto ao modo e à profundidade dessa inserção no currículo.

Muitos professores sugeriram que a Química Forense poderia ser inserida como uma disciplina optativa. Um exemplo disso é a resposta: “Sim. Acredito que poderia estar na grade de optativas.” Outros reforçaram essa opinião, indicando que disciplinas optativas seriam uma forma flexível de abordar a Química Forense sem sobrecarregar o currículo principal. A inclusão como disciplina optativa permite que os estudantes interessados possam aprofundar seus conhecimentos sem obrigar todos os alunos a seguir essa linha. Essa flexibilidade pode aumentar o engajamento dos alunos e oferecer uma opção de especialização.

Algumas respostas destacaram a integração da Química Forense em disciplinas já existente, como Química Orgânica e Química Analítica. Exemplos incluem: “Sim. Orgânica e Analítica” e “Sim. Em química analítica.” Integrar a Química Forense em disciplinas de Química Orgânica e Analítica faz sentido, pois muitas técnicas forenses utilizam princípios dessas áreas.

Houve também sugestões de que a Química Forense poderia ser uma disciplina própria, dada a sua amplitude e complexidade: “Com certeza, caso for inserida na graduação, poderia ser administrada na Química Analítica sendo ela a disciplina que encarrega das análises. Mas, devido à grande área que ela seja, seria melhor como uma disciplina própria.” Criar uma disciplina específica para a Química Forense permitiria um estudo mais aprofundado, abordando suas diversas aplicações e técnicas. Isso seria particularmente benéfico para estudantes que desejam se especializar na área.

Para alguns, a QF pode ser considerada como uma área de interesse secundário, adequada para ser explorada em disciplinas optativas ou como temas dentro de outras disciplinas, permitindo que os estudantes escolham seu nível de envolvimento. “De forma aprofundada, não. De repente, no formato de disciplina optativa.” Essa resposta sugere que a QF não precisa ser uma disciplina central no currículo, mas poderia ser explorada de forma menos intensiva.

Uma preocupação levantada foi a disponibilidade de profissionais capacitados para ensinar a QF: “Acredito que sim, porém esbarra na disponibilidade de profissionais capacitados.” A inserção efetiva da Química Forense no currículo depende da existência de professores qualificados. Investir na formação e capacitação desses profissionais é crucial para garantir a qualidade do ensino.

“Penso que não. Já existe a graduação em Química Forense. O que precisa é expandir mais essa graduação no Brasil.” A opinião do entrevistado P03 destaca a existência de cursos específicos em Química Forense, sugerindo que a melhor abordagem seria expandir esses programas em vez de integrar a disciplina nos cursos de Química geral.

Sobre a pergunta “Quais são os principais desafios que você percebe para a inclusão de disciplinas ou módulos sobre Química Forense nos cursos de graduação?” evidencia diversas dificuldades reconhecidas nas respostas dos 13 professores consultados. A inclusão de matérias ou módulos relacionados à Química Forense nos cursos de graduação em Química levanta uma série de desafios, tanto de natureza estrutural quanto cultural, que precisam ser enfrentados para garantir uma implementação bem-sucedida.

Para o entrevistado P01, a falta de formação específica em Química Forense para professores é um obstáculo significativo. Os professores precisam de um conhecimento profundo da área para ensinar com eficácia. Programas de capacitação e desenvolvimento profissional são necessários para formar docentes qualificados em Química Forense. Investir em workshops, cursos de especialização e programas de pós-graduação pode ajudar a preencher essa lacuna.

Já o entrevistado P02, ver a falta de infraestrutura adequada, como laboratórios e materiais específicos uma barreira. A implementação de disciplinas de Química Forense requer investimentos em infraestrutura. Universidades devem buscar recursos para equipar laboratórios com os instrumentos necessários e materiais didáticos específicos de acordo com Miller e Miller (2018). Outro aspecto importante a ser destacado é a dificuldade na Integração Curricular como destaca o entrevistado P03:

“Ao meu entender, não vejo dificuldades na sua implementação se for como uma disciplina própria, mas, para ser anexada em outra disciplina terá muitas dificuldades devido o tempo, ou seja, ela vai diminuir outras unidades daquela disciplina onde é anexada.”

 Dessa forma, a criação de uma disciplina própria pode ser mais eficaz do que tentar incorporar módulos de Química Forense em disciplinas já estabelecidas. Isso permite uma abordagem mais detalhada do conteúdo.

 A falta de interesse por parte de alguns estudantes e professores pode ser um desafio, como relata o entrevistado P04. De acordo com Oliveira (2020), é necessário promover a relevância e as oportunidades de carreira na Química Forense através de palestras, eventos e parcerias com profissionais da área pode ajudar a aumentar o interesse. Além disso, o professor 05 acredita que é importante convencer os docentes a entender essa área da Química tão importante para a humanidade.

Outro ponto a ser debatido é a falta de equipamentos e reagentes que diminui a motivação dos professores para se especializarem. Essas falhas são desafios estruturais e culturais.  A busca por financiamentos e parcerias com instituições que possam fornecer equipamentos e reagentes pode ajudar a superar essas dificuldades (OLIVEIRA, 2020). Incentivar a especialização dos professores através de incentivos e reconhecimento também é essencial como descrito pelo entrevistado P06.

Alguns professores apontaram a falta de cursos de formação como um entrave, ressaltando que as mudanças curriculares são processos complexos e demorados. A sobrecarga das disciplinas existentes e a rigidez da estrutura curricular foram citadas como dificuldades, sugerindo que a criação de disciplinas optativas ou projetos de extensão pode ser uma solução mais viável para abordar a Química Forense.

Ao analisar as respostas sobre os recursos considerados essenciais para o ensino da Química Forense, percebe-se uma convergência significativa em torno da necessidade de infraestrutura adequada, especialmente laboratórios bem equipados. A maioria dos professores destacou a importância de ter laboratórios equipados com uma variedade de equipamentos especializados. Por exemplo, mencionaram-se cromatógrafos, espectroscópios, microscópios, e outros equipamentos de alta tecnologia como HPLC, CG (Cromatografia Gasosa) e CG-MS (Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas.

A necessidade de uma ampla variedade de reagentes também foi citada repetidamente. Para que os alunos possam aprender e praticar técnicas forenses, é essencial que tenham acesso aos reagentes adequados. Isso inclui não apenas os reagentes comuns em laboratórios de química, mas também aqueles específicos para análises forenses. Além disso, alguns professores apontaram a necessidade de salas de aulas exclusivas e bem equipadas para o ensino da Química Forense.

Além dos laboratórios, é importante que haja espaços adequados para as aulas teóricas, onde os estudantes possam aprender sobre os princípios e metodologias da Química Forense antes de aplicá-los na prática. A disponibilidade de profissionais técnicos e professores capacitados também foi mencionada como um recurso essencial. Para que o ensino da Química Forense seja eficaz, é fundamental que os educadores possuam um profundo conhecimento da área e estejam familiarizados com os equipamentos e técnicas utilizados nas análises forenses.

Algumas respostas ressaltaram que os recursos necessários podem variar de acordo com a abordagem pedagógica e o público-alvo. Em alguns casos, material simples e uma sala de aula básica podem ser suficientes para introduzir os conceitos de Química Forense. Em outros, a determinação de traços de substâncias pode exigir equipamentos caros e sofisticados. Isso indica que, ao planejar a implementação de disciplinas ou módulos de Química Forense, é importante considerar o contexto específico e adaptar os recursos às necessidades e possibilidades da instituição e dos estudantes.

A infraestrutura geral das universidades, incluindo a disponibilidade de laboratórios apropriados para as características e técnicas empregadas nas investigações, foi outro ponto levantado. Sem uma infraestrutura adequada, a qualidade do ensino da Química Forense pode ser comprometida, limitando a experiência prática dos estudantes e sua capacidade de aprender e aplicar os conhecimentos de forma eficaz.

Ao analisar as respostas sobre as estratégias pedagógicas mais adequadas para o ensino da Química Forense, observa-se uma ênfase significativa em métodos práticos e investigativos, que engajam os estudantes e proporcionam um aprendizado mais contextualizado e significativo.

Vários professores mencionaram que a investigação e a solução de casos são estratégias eficazes para o ensino da Química Forense. A utilização de estudos de caso, onde os estudantes trabalham para resolver problemas forenses reais ou simulados, permite que eles apliquem conceitos teóricos na prática (FARIAS, 2008).

A maioria dos entrevistados destacou a importância das aulas práticas e laboratoriais. Equipar os laboratórios com técnicas instrumentais avançadas, como cromatografia e espectrometria, oferece aos estudantes a oportunidade de realizar análises forenses reais (GUIZOLFI, 2024). A prática em laboratório é fundamental para que os estudantes compreendam a aplicação dos conceitos teóricos e desenvolvam habilidades técnicas essenciais para a Química Forense.

 Alguns professores sugeriram o uso de cenas de crimes simuladas como uma forma de tornar o ensino mais envolvente. Essas simulações podem ajudar os alunos a visualizar e entender melhor o processo forense, desde a coleta de evidências até a análise laboratorial. Isso também pode ajudar a desenvolver habilidades práticas e analíticas em um contexto realista e controlado.

O estudo de caso foi outra estratégia pedagógica amplamente recomendada. Analisar casos forenses reais ou hipotéticos permite que os alunos explorem os métodos científicos utilizados nas investigações, desenvolvendo suas habilidades de análise crítica e resolução de problemas. Este método também pode ser utilizado para discutir a ética e a prática profissional na Química Forense.

Outros professores sugeriram a realização de visitas técnicas a laboratórios forenses e órgãos de segurança. Essas visitas podem proporcionar aos estudantes uma visão realista das práticas forenses e ajudá-los a compreender melhor as aplicações práticas de seus estudos. Intercâmbios e colaboração com profissionais da área também podem enriquecer a experiência educacional dos alunos.

A utilização de filmes e casos de investigação da vida real, abordada como Metodologia Fílmica, foi mencionada como uma estratégia interessante. Analisar filmes e séries que retratam a Química Forense pode ajudar a contextualizar o aprendizado e torná-lo mais atrativo, além de estimular discussões sobre a precisão científica e ética das representações midiáticas.

A implementação de projetos de pesquisa, debates e oficinas foi recomendada como uma forma eficaz de ensino. Esses métodos promovem a colaboração e a comunicação entre os estudantes, além de incentivar a investigação independente e a exploração de novas ideias. A estratégia de resolução de problemas foi mencionada como fundamental. Ao enfrentar problemas reais ou hipotéticos, os estudantes podem desenvolver habilidades de pensamento crítico e aplicação prática. Estudos de caso e problemas investigativos proporcionam um ambiente de aprendizado ativo e estimulante.

Conforme mostra o gráfico 3, os professores entrevistados avaliaram a importância da realização de atividades práticas no ensino da Química Forense. As opções de avaliação variam de 1 a 5, onde 1 representa “muito importante” e 5 representa “pouco importante”.


Gráfico 3- Importância da realização de atividades práticas no ensino da Química Forense.

Fonte: Elaborado pela autora (2024).

Os resultados indicam que a maioria dos professores entrevistados considera a realização de atividades práticas no ensino da Química Forense como “muito importante” (53,8%). Esse dado reflete a percepção de que as atividades práticas são essenciais para o aprendizado significativo, permitindo que os alunos apliquem os conceitos teóricos em contextos reais e desenvolvam habilidades práticas fundamentais para a atuação profissional.

A importância atribuída às atividades práticas sugere que os professores reconhecem o valor de uma abordagem prática no ensino da Química Forense, que facilita a compreensão dos princípios científicos e a aplicação dos métodos analíticos. Segundo Medeiros et al. (2017), as aulas práticas são uma importante ferramenta no ensino de Química, pois motivam os alunos e tornam as aulas mais dinâmicas e interessantes.

A avaliação de 23,1% dos professores que consideram as atividades práticas “pouco importantes” pode indicar uma resistência à mudança ou uma preferência por métodos de ensino mais teóricos. No entanto, essa minoria não diminui a relevância das atividades práticas, mas sim destaca a necessidade de promover uma maior conscientização sobre os benefícios dessa abordagem no ensino da Química Forense.

A realização de atividades práticas pode proporcionar aos alunos uma experiência de aprendizado mais envolvente e motivadora, contribuindo para o desenvolvimento de competências técnicas e analíticas. Hofstein e Lunetta (1982) destacam que a contextualização, especialmente por meio de atividades práticas em laboratório, pode tornar o aprendizado da Química mais significativo e motivador. A presença de avaliações intermediárias (7,7% para as opções 2, 3 e 4) sugere que há uma diversidade de opiniões entre os professores. Essa variação pode ser atribuída a diferentes experiências e contextos educacionais, bem como à disponibilidade de recursos e infraestrutura nas instituições de ensino.

A promoção de atividades práticas e interdisciplinares pode ajudar a alinhar essas percepções e demonstrar os benefícios concretos da Química Forense no ensino superior. Além disso, a integração de atividades práticas pode incentivar a colaboração entre diferentes áreas da Química, enriquecendo a formação dos estudantes e preparando-os para enfrentar desafios complexos na prática profissional. Salesse (2012) afirma que a utilização de métodos diversificados com aulas práticas bem planejadas facilita muito a compreensão da produção do conhecimento em Química.

Sobre a questão “Quais os desafios e as oportunidades que você vê na utilização de casos reais e simulações para o ensino da Química Forense?” destaca importantes pontos sobre essa abordagem pedagógica. Há um consenso de que a utilização de casos reais e simulações pode ajudar os alunos a reconhecer a importância da Química para a sociedade e a aplicar seus conhecimentos na solução de problemas concretos. No entanto, essa abordagem requer um planejamento minucioso e uma dedicação significativa dos professores, que já têm muitas outras responsabilidades. Isso pode ser um fator limitante na implementação dessas estratégias pedagógicas.

Outro desafio apontado foi garantir a confiabilidade e a exatidão dos resultados das simulações, de modo que se aproximem o máximo possível dos casos reais. Manter um nível de confiança adequado é essencial para que os estudantes adquiram uma compreensão precisa das técnicas e procedimentos forenses. Sem essa precisão, o ensino pode se tornar superficial e levar a uma formação inadequada.

A falta de infraestrutura adequada e de investimentos em equipamentos tecnológicos foi um desafio mencionado. A implementação de simulações e estudos de casos reais requer laboratórios bem equipados, o que muitas vezes está além das capacidades financeiras das instituições de ensino. Sem os recursos necessários, as atividades práticas podem ficar limitadas, prejudicando a qualidade da formação dos estudantes.

O uso de casos reais pode estimular a discussão entre os alunos, enquanto a criação de casos fictícios pode ser uma estratégia positiva para estimular a criatividade. Essa abordagem permite que os alunos explorem diferentes cenários e desenvolvam habilidades analíticas e de resolução de problemas de maneira mais flexível. Além disso, a escassez de cursos de graduação em Química Forense no Brasil foi identificada como um desafio. Implementar mais cursos especializados na área é uma oportunidade para expandir a formação de profissionais qualificados e atender à crescente demanda por especialistas em Química Forense.

A simulação de crimes envolvendo substâncias químicas foi destacada como uma metodologia eficaz para o ensino prático da Química Forense. Tais simulações permitem que os alunos apliquem conhecimentos teóricos em contextos realistas, desenvolvendo habilidades práticas essenciais. No entanto, a falta de investimentos em equipamentos tecnológicos específicos para a Química Forense é uma barreira significativa. Para proporcionar uma formação de qualidade, é necessário investir em tecnologias que permitam a realização de análises precisas e a simulação de cenários forenses complexos.

Diversos professores mencionaram que a Química Forense amplia as oportunidades de atuação para os profissionais de Química. A inserção dessa área no currículo permite que os graduados tenham acesso a um campo adicional de trabalho, tornando-os preparados para diferentes desafios. O entrevistado P02 destacou: “Traz para o Químico mais uma oportunidade/área de atuação, ampliando assim a sua gama de oportunidades e tornando-o preparado para os mais diferentes tipos de desafios.”

A Química Forense oferece uma gama diversificada de habilidades e conhecimentos, essenciais para a resolução de problemas complexos. Além das competências técnicas, os profissionais são treinados em ética, responsabilidade, comunicação e resiliência, como comentou o entrevistado P03:

Oferecendo habilidades e conhecimentos diversificados, contribui para que um químico forense seja capaz de resolver problemas complexos, também a ética e responsabilidade pois, um forense não deve ser delinquente, saber suportar a pressão no trabalho e não perder foco, ser fluente na comunicação.”

A área de Química Forense é vista como um complemento importante para a formação do químico, despertando o interesse dos estudantes e preparando-os para concursos e oportunidades de emprego. “A Química Forense é uma área de atuação que naturalmente desperta o interesse de muitos estudantes. Pode ser uma ferramenta de estímulo e preparação para os concursos e oportunidades de emprego na área,” observou um dos entrevistados.

 Além disso, a inclusão da QF no currículo permite tornar o ensino da Química mais prático e aplicado, o que é valorizado tanto pelos estudantes quanto pelos empregadores. Um professor mencionou: “O professor poderá tornar a Química de forma mais prática,” sugerindo que a aplicação prática dos conhecimentos teóricos pode aumentar o engajamento e a relevância do aprendizado.

Consequentemente, a Química Forense oferece aos profissionais uma visão mais ampla das possibilidades da ciência e do mercado de trabalho. Isso é particularmente importante em um contexto onde a versatilidade e a capacidade de adaptação são valorizadas. “Um profissional com um olhar um pouco mais amplo para as possibilidades da ciência e do mercado de trabalho,” destacou um entrevistado.

Sob essa perspectiva, a Química Forense não só contribui para o desenvolvimento de habilidades técnicas, mas também promove o crescimento pessoal e profissional dos estudantes. “Acho que toda tentativa de ampliar as habilidades e competências de um estudante será sempre muito válida, desde que feita com muito critério e responsabilidade,” mencionou um professor, reforçando a importância de uma formação abrangente e criteriosa.

Em suma, a área de Química Forense é vista como uma oportunidade de crescimento profissional, especialmente devido à sua atualidade e à escassez de profissionais capacitados. “Está área é muito atual, com poucos profissionais capacitados. Sendo assim, oportuniza um crescimento e maior interesse,” destacou um dos entrevistados.

A formação em Química Forense prepara os profissionais para trabalhar em situações do cotidiano, oferecendo habilidades práticas para análise e reconhecimento de provas químicas em contextos criminais. “Profissional mais completo habilitado para trabalhar com situações do cotidiano das pessoas,” mencionou um entrevistado, destacando a aplicabilidade dos conhecimentos forenses em diversas áreas do mercado de trabalho.

Ao considerar a pergunta “Quais as competências e habilidades que um profissional de Química formado em um curso que aborda a Química Forense deve ter?”, os entrevistados destacaram várias competências e habilidades essenciais. Entre essas, o raciocínio lógico e a capacidade de interpretar dados foram frequentemente mencionados. Estes atributos são indispensáveis para a análise de evidências e a resolução de problemas complexos, elementos comuns na rotina de um químico forense.

A atenção aos detalhes e a ética profissional foram igualmente destacadas. A precisão e a integridade são fundamentais no trabalho forense, onde pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença na resolução de um caso. Os entrevistados enfatizaram que o profissional deve ser habilidoso em perceber pequenos detalhes dos casos e agir com responsabilidade e ética, especialmente quando lida com informações sigilosas que podem ter implicações legais significativas.

O poder de análise e a tomada de decisão rápida e informada foram outras habilidades mencionadas. Estes profissionais devem ser capazes de analisar situações complexas e tomar decisões baseadas em evidências de maneira ágil e precisa. A formação em áreas específicas da Química, como Analítica, Inorgânica, orgânica e bioquímica, fornece a base técnica necessária para essas análises.

A responsabilidade social e o comprometimento com os deveres profissionais foram outros aspectos destacados. Os profissionais de QF devem ter uma compreensão profunda do impacto social de seu trabalho e operar com o mais alto nível de profissionalismo. Além disso, as habilidades de pesquisa são indispensáveis. Os profissionais devem ser capazes de continuar aprendendo e se adaptando às novas tecnologias que surgem na área, relacionando os conhecimentos adquiridos no curso com a aplicação prática na solução de problemas.

A capacidade de desvendar intoxicações ou envenenamentos por substâncias químicas e interpretar evidências de crimes relacionados é uma habilidade específica e fundamental para a Química Forense. Esses conhecimentos técnicos e práticos são essenciais para a investigação criminal, tornando os profissionais mais completos e habilitados para trabalhar em diversas situações do cotidiano.

A pergunta “Como você avalia a importância da interdisciplinaridade no ensino da Química Forense?” foi abordada na pesquisa ilustrada pelo gráfico 4. A pesquisa reuniu um total de 13 respostas de professores, destacando suas percepções sobre a relevância da interdisciplinaridade no ensino da QF.


Gráfico 4- Importância da interdisciplinaridade no ensino de Química Forense.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Os resultados indicam que a maioria dos professores (61%) considera a interdisciplinaridade no ensino da Química Forense como altamente importante, atribuindo a nota máxima. Isso reflete uma percepção positiva sobre a integração de diferentes disciplinas no ensino da Química Forense, o que pode ser fundamental para a formação de competências práticas e teóricas dos estudantes.

A ausência de respostas no nível 2 (importante) e a baixa frequência de respostas nos 3 e 4 (moderadamente importante e significativa) sugerem que poucos professores veem a interdisciplinaridade como de importância moderada ou baixa. A presença de 23% das respostas na nota 5 (moderadamente significativa) indica que uma parcela dos professores também reconhece a importância da interdisciplinaridade, embora não a considerem tão crucial quanto aqueles que atribuíram a nível 1 (altamente importante).

A interdisciplinaridade no ensino da Química Forense promove o desenvolvimento de competências práticas e teóricas dos estudantes. Patton (2015) destaca que a integração de diferentes disciplinas pode enriquecer a análise e interpretação dos dados, proporcionando uma visão mais completa e detalhada.

Ao integrar conhecimentos de Química, Biologia e Física, por exemplo, os estudantes podem compreender de forma mais aprofundada processos como a identificação de substâncias, a análise de vestígios e a interpretação de resultados de exames. No entanto, a implementação da interdisciplinaridade exige uma mudança significativa nas práticas pedagógicas e requer o apoio de políticas públicas que valorizem a formação continuada dos professores e o desenvolvimento de materiais didáticos adequados.

3.2.3 Questionário Aplicado aos Estudantes

Com o objetivo de compreender as percepções dos estudantes sobre a aplicabilidade da Química Forense, foi realizado um questionário com os alunos dos cursos de bacharelado e licenciatura em Química da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O questionário foi aplicado entre os dias 05 de setembro e 25 de outubro de 2024, no campus de Jequié. Participaram da pesquisa um total de 119 estudantes de diferentes semestres, sendo 27,3% do curso de bacharelado e 72,7% do curso de licenciatura. Cerca de 64,5% desse público é do sexo feminino e 45,5% do sexo masculino.

Os estudantes que participaram do questionário são provenientes de diferentes áreas dentro dos cursos de Química, englobando tanto a formação teórica quanto a prática. As perguntas abordaram aspectos diversos sobre a Química Forense, desde o interesse pessoal pela disciplina até a percepção sobre sua aplicabilidade e importância no currículo acadêmico.

Os resultados mostraram uma variação significativa nas respostas, refletindo as expectativas e experiências dos estudantes. A maior parte dos alunos demonstrou um interesse considerável pela Química Forense, reconhecendo seu potencial para enriquecer o currículo e proporcionar uma formação mais prática e aplicada.

Ao observar o gráfico 5, percebe-se que a análise de drogas é a área de maior interesse, com 66,4% das respostas, seguida por Genética Forense, ocupa ligeiramente a porcentagem 43,7%. Além disso, a balística demostra ser uma área de interesse significativo com 33,6% das respostas, enquanto a Toxicologia Forense, embora seja a menos popular, ainda atrai uma pequena proporção de interesse com 3,4%.


Gráfico 5- áreas de interesse na Química Forense.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Esses resultados indicam um forte interesse na análise de drogas e na genética forense, áreas que desempenham importantes funções na identificação de substâncias controladas e na análise de DNA, respectivamente. A popularidade dessas áreas pode refletir a crescente ênfase na aplicação de técnicas químicas e genéticas para resolver crimes e contribuir para a justiça. A análise de drogas é frequentemente destacada na mídia e em programas de televisão, o que pode aumentar a curiosidade e o interesse dos estudantes em entender como essas substâncias são identificadas e controladas (SAFERSTEIN, 2011).

A Balística, com 33,6% de interesse, destaca a importância da análise de armas de fogo e projéteis em investigações criminais. Esta área se concentra na determinação da trajetória de balas, a identificação de armas usadas em crimes e a correspondência de projéteis a armas específicas, contribuindo significativamente para a resolução de casos criminais (FERREIRA, 2016).

Embora a Toxicologia Forense tenha atraído menos interesse (3,4%), ela continua exercendo uma significativa contribuição para a sociedade, especialmente na identificação de venenos e substâncias tóxicas em casos de envenenamento e uso de drogas. Este campo ajuda entender os efeitos das substâncias químicas no corpo humano e para fornecer provas importantes em investigações criminais e casos legais (BRUNI ET AL. 2019).

Os resultados destacam áreas específicas da Química Forense que capturam o interesse dos estudantes, sugerindo que a inclusão dessas disciplinas no currículo poderia não apenas enriquecer a formação acadêmica, mas também aumentar o engajamento e a motivação dos alunos. A ênfase em áreas aplicáveis e de alta relevância no contexto das investigações criminais e da justiça pode proporcionar uma educação mais contextualizada e prática, alinhada com as expectativas e demandas do mercado de trabalho atual (KLEIN, 2012; GONSALVES, 2007).

A análise da pergunta “Você acredita que a Química Forense pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento?” revelou dados significativos. Dos 119 respondentes, aproximadamente 115 afirmaram “Sim” (96,7%) enquanto 4 responderam “Não” (3,3%). Essa alta porcentagem de respostas afirmativas indica um forte consenso de que a QF pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento. A maioria dos respondentes reconhece a importância e a versatilidade da Química Forense em diferentes contextos, desde a análise de drogas até a genética forense e a balística.

A predominância das respostas afirmativas reflete uma percepção positiva e ampla aceitação do papel da QF. Esse consenso é um combustível para impulsionar o desenvolvimento e a implementação de técnicas forenses em investigações criminais, pesquisa científica e até mesmo em aplicações industriais. A alta aceitação da Química Forense destaca a oportunidade de expandir o ensino e o treinamento nessa área, garantindo que mais profissionais estejam capacitados para utilizar essas ferramentas poderosas em suas respectivas disciplinas (SAFERSTEIN, 2011).

Por outro lado, a pequena fração de respostas negativas pode indicar uma necessidade de maior conscientização ou educação sobre as capacidades e benefícios da QF. Esses dados proporcionam uma base sólida para educadores e instituições ao planejar programas educativos e campanhas de conscientização. A ampla aceitação sugere que há um terreno fértil para a expansão de disciplinas que incorporem técnicas forenses, aumentando a relevância e aplicabilidade dos currículos acadêmicos (PRINCE & FELDER, 2006).

Ao serem questionados sobre a presença de disciplinas ou atividades relacionadas à Química Forense durante sua graduação, os 119 respondentes apresentaram uma distribuição interessante. Conforme mostra o gráfico 6, 52 pessoas afirmaram ter tido alguma disciplina ou atividade relacionada à Química Forense, enquanto 67 indicaram não ter tido essa experiência. Essa distribuição revela que uma ligeira maioria dos participantes não foi exposta à Química Forense durante sua formação acadêmica.


Gráfico 6- Contato com disciplina ou atividade relacionada a Química Forense.

Fonte: Elaborado pela autora (2024).

Dada a crescente importância e relevância dessa área para a aplicação da lei e investigações científicas, pode haver uma oportunidade significativa para as instituições educacionais expandirem suas ofertas de cursos relacionados à Química Forense (SAFERSTEIN, 2011).

Por outro lado, a presença de 43,7% dos participantes que tiveram algum contato com a QF é encorajadora, pois mostra que há uma base de estudantes que estão familiarizados com o campo. Esse grupo pode ser mais propenso a seguir carreiras ou pesquisas nessa área, contribuindo para o desenvolvimento contínuo e a inovação na Química Forense. Este fato destaca a necessidade de incluir mais disciplinas e atividades relacionadas à Química Forense nos currículos acadêmicos para atender à demanda e ao interesse dos estudantes (PRINCE & FELDER, 2006).

Sobre a pergunta ” Caso tenha tido contato com a Química Forense, como você avalia a experiência?” destaca a valorização dessa experiência por parte da maioria dos alunos que tiveram contato com a Química Forense. Esse apreço pode ser atribuído à combinação de ciência e justiça que caracteriza essa área. O entusiasmo dos alunos por essa disciplina sugere que a inclusão de mais matérias e atividades relacionadas nos currículos acadêmicos pode ser benéfica. As instituições educacionais devem considerar esses resultados ao planejar e expandir seus programas de ensino, garantindo que as experiências de aprendizagem sejam igualmente positivas para todos os alunos (PRINCE & FELDER, 2006).

Essa consistência na distribuição dos resultados (gráfico 7), destaca a relevância prática e o impacto significativo da Química Forense, especialmente no contexto da aplicação da lei e na resolução de crimes. A Química Forense parece atrair o interesse dos alunos e melhorar sua compreensão das aplicações práticas dos conceitos teóricos aprendidos durante a graduação (SAFERSTEIN, 2011).


Gráfico 7- Avaliação sobre a experiência vivenciada na Química Forense durante a graduação.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

A maioria dos respondentes avaliou a experiência com a Química Forense como excelente. Isso indica que, para a maioria dos participantes, o contato com a Química Forense foi extremamente positivo. A alta porcentagem de respostas no Nível 5 (89,1%) sugere que as disciplinas e atividades relacionadas à Química Forense são bem conduzidas, oferecendo uma experiência gratificante e envolvente para os alunos.

No entanto, uma pequena quantidade de respostas como ruim e boa (5,9% cada) sugere que alguns participantes tiveram uma experiência menos satisfatória. Isso pode indicar áreas para melhoria, como a necessidade de mais recursos ou de um melhor alinhamento das expectativas dos alunos com os conteúdos ministrados. A ausência de respostas nas escalas péssimas e regular indica que nenhum participante teve uma experiência muito ruim ou neutra, o que reforça a recepção positiva da Química Forense entre os respondentes.

Conforme é ilustrado no gráfico 8, a questão debatida sobre Química Forense ter um maior enfoque nos cursos de graduação em Química foi respondida pelos 119 estudantes. Dentre esses, cerca de 115 afirmaram “Sim” (96,7%) e 4 disseram “Não” (3,3%). Essa distribuição indica um evidente consenso sobre a necessidade de um aprofundamento da Química Forense nos currículos de graduação em Química.


Gráfico 8- Maior enfoque da Química forense nos cursos de Química.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

A quase totalidade dos participantes da pesquisa (96,7%) opina que a Química Forense deveria receber maior destaque nos programas de graduação. Esse posicionamento revela uma compreensão geral da importância desse campo e das valiosas aplicações práticas que oferecem benefícios aos alunos. Tal apoio contundente demonstra uma crescente conscientização sobre a importância da Química Forense e seu potencial para aprimorar a educação acadêmica dos estudantes (SAFERSTEIN, 2011).

Esta aprovação sugere que há uma demanda substancial para incorporar mais conteúdos de Química Forense nos programas de graduação em Química. A inclusão de disciplinas de Química Forense no currículo pode proporcionar aos alunos uma formação mais completa e aplicada, preparando-os melhor para os desafios do mercado de trabalho e para contribuir de forma significativa em suas áreas de atuação (KLEIN, 2012; FERREIRA, 2016).


Gráfico 9- Dificuldades na inserção da Química Forense nos cursos de Química.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Conforme ilustrado no gráfico 9, a falta de professores com especialização em Química Forense é a dificuldade mais mencionada. Isso reflete a necessidade urgente de investimento em capacitação e formação contínua dos docentes, garantindo que eles estejam preparados para ensinar essa disciplina de forma eficaz. As instituições de ensino podem considerar parcerias com centros de pesquisa que já possuam expertise na área, promovendo programas de intercâmbio e workshops para capacitar os professores (KLEIN, 2012).

A falta de infraestrutura necessária para o ensino prático de QF é outra dificuldade significativa. Equipamentos e laboratórios especializados são essenciais para que os alunos possam aplicar na prática os conceitos teóricos aprendidos. Investimentos em infraestrutura são fundamentos básicos para a implementação da Química Forense. As instituições educacionais poderiam buscar financiamentos governamentais e privados, além de parcerias com indústrias e laboratórios de pesquisa para obter os recursos necessários (PRINCE & FELDER, 2006).

A pouca divulgação da Química Forense como uma área de estudo também foi amplamente citada. O que se entende é que muitos estudantes podem não estar cientes das oportunidades e aplicações dessa disciplina. Aumentar a visibilidade da Química Forense através de campanhas de divulgação, seminários, e integração de tópicos forenses em disciplinas existentes pode despertar o interesse dos alunos e incentivar mais estudantes a escolherem essa área.

Com base nos dados coletados (gráfico 10), existe uma preferência por atividades práticas e aplicadas no ensino da QF. A maioria dos respondentes (50,6%) acredita que os estudos de caso é a abordagem mais eficiente, seguidos de perto pelas aulas práticas (47%). A baixa preferência pelas aulas teóricas (2,4%) destaca a necessidade de métodos de ensino que envolvam mais a participação ativa dos alunos e a aplicação dos conceitos em situações reais e práticas.


Gráfico 10- Atividades para o ensino da Química Forense.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

A predominância de respostas favoráveis a estudos de caso e aulas práticas sugere que os estudantes valorizam métodos de ensino que lhes permitam aplicar o conhecimento teórico em contextos reais. Segundo Spricigo (2014), estudos de caso são eficazes porque fornecem cenários do mundo real onde os alunos podem analisar e resolver problemas forenses, permitindo uma compreensão mais profunda e contextualizada dos conceitos teóricos.

A baixa preferência por aulas teóricas destaca uma possível lacuna na abordagem tradicional de ensino. Embora as aulas teóricas sejam essenciais para fornecer a base conceitual, a falta de elementos práticos pode diminuir o interesse e a motivação dos alunos (LEÃO, 1999). Incorporar mais estudos de caso e atividades práticas pode equilibrar a carga teórica e tornar o ensino mais dinâmico e interessante. A ênfase em métodos práticos e aplicados pode levar a uma compreensão mais profunda dos conceitos teóricos e aumentar a motivação e o interesse dos alunos na disciplina.

Conforme o gráfico 11 abaixo, o resultado obtido indica uma percepção extremamente positiva sobre o uso de tecnologias como simulações e softwares no aprendizado da Química Forense. Com 93,3% dos respondentes afirmando que essas tecnologias podem auxiliar no aprendizado, fica claro que há uma aceitação ampla e majoritária dessas ferramentas no ensino da Química Forense.


Gráfico 11- Uso da tecnologia no ensino da Química Forense.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Esse resultado sugere que a integração de tecnologias educacionais no currículo de Química Forense é vista como uma abordagem eficaz para melhorar a compreensão e a aplicação prática dos conceitos. De acordo com Johnson et al., (2016), as simulações e os softwares educacionais oferecem oportunidades interativas e envolventes para os alunos, permitindo que experimentem e visualizem processos complexos de forma mais acessível e intuitiva.

No entanto, uma pequena porcentagem de respostas negativas (6,7%) pode refletir preocupações específicas ou a necessidade de adaptações para garantir que todos os alunos se beneficiem dessas tecnologias. Essas preocupações podem incluir questões de acessibilidade, custo e a necessidade de treinamento adequado para utilizar essas ferramentas de forma eficiente.


Os resultados vistos no gráfico 12 apontam uma forte tendência de considerar a interdisciplinaridade como muito importante no ensino da Química Forense. A maioria dos respondentes (86,7%) atribui a nota máxima (Nível 5) à importância da interdisciplinaridade. Apenas uma pequena porcentagem (10%) considera a interdisciplinaridade importante (Nível 4), enquanto uma parcela mínima (3,3%) vê uma importância baixa (Nível 2).

Gráfico 12- Nível de importância da interdisciplinaridade no ensino de Química Forense.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

A ausência de respostas nas categorias 1 e 3 sugere que não há percepção de que a interdisciplinaridade seja irrelevante ou medianamente importante para o ensino da Química Forense. Essa unanimidade na valorização da interdisciplinaridade destaca a necessidade de integrar conhecimentos de diferentes áreas para enriquecer o aprendizado e a aplicação da Química Forense (DUARTE, 2018).

Compreender melhor as interconexões entre diferentes campos do conhecimento permitem aos alunos aplicar suas habilidades de maneira integrada, tornando-os profissionais mais versáteis e capacitados para resolver problemas multifacetados. A QF, por sua natureza, requer uma abordagem que transcenda os limites tradicionais da disciplina, incorporando diversos campos do conhecimento para proporcionar uma formação mais holística e aplicada (TEIXEIRA, 2018).

Ao analisar os dados, percebe-se que a percepção sobre a importância da QF para a sociedade permanece consistentemente alta. Com 86,7% dos respondentes atribuindo a nota máxima, fica claro que a QF é amplamente reconhecida por sua relevância e impacto. A baixa variação nos níveis intermediários (3 e 4) reforça que a maioria dos participantes vê uma importância significativa na aplicação da QF (gráfico 13).


Gráfico 13- relevância da Química Forense para a sociedade.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Essa forte valorização pode ser atribuída à compreensão dos benefícios práticos da Química Forense, como a resolução de crimes, identificação de substâncias e a prevenção de fraudes. Esses dados servirão como um indicativo para instituições de ensino e formuladores de políticas públicas sobre a necessidade de investir mais na educação e divulgação dessa área, garantindo que mais profissionais sejam capacitados e que a sociedade, como um todo, reconheça e aproveite os avanços e benefícios oferecidos pela Química Forense.

A análise dos dados coletados dos estudantes revela uma percepção consistentemente positiva sobre a contribuição da Química Forense para a formação profissional. Com 76,7% dos respondentes atribuindo a nota máxima (Nível 5), é evidente que a Química Forense é amplamente reconhecida por sua relevância e impacto, conforme o gráfico 14 abaixo.


Gráfico 14- Nível de contribuição da Química Forense na formação profissional.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

Além disso, a variação nos níveis intermediários (Níveis 3 e 4) reforça a predominância de uma visão altamente positiva. A ausência de respostas nos níveis 1 e 2 indica que nenhum participante teve uma visão negativa sobre a contribuição da Química Forense para sua formação profissional. Essas informações são essenciais para as universidades e as políticas no campo educacional, sinalizando a urgência de aumentar os investimentos em educação e promover essa área. A elevada quantidade de respostas favoráveis indica que os alunos veem a Química Forense não apenas como uma disciplina curricular, mas também como um recurso prático e útil para suas profissões (PRINCE & FELDER, 2006).

Ao assegurar que um maior número de profissionais receba formação adequada e que a sociedade valorize e se beneficie dos avanços trazidos pela Química Forense, temos a oportunidade de intensificar seu impacto positivo na educação profissional. Isso envolve dotar os alunos de competências técnicas e analíticas, que são extremamente valorizadas no mercado de trabalho e fundamentais para a atuação nas diversas áreas (KLEIN, 2012; FERREIRA, 2016).

Logo, esse aumento de importância pode ser explicado pelo reconhecimento das vantagens práticas da Química Forense, que incluem a elucidação de crimes, a identificação de agentes químicos e a mitigação de fraudes. A Química Forense proporciona uma aplicação concreta dos saberes teóricos em contextos práticos, o que pode elevar a motivação e o envolvimento dos alunos (SAFERSTEIN, 2011).

A observar a unanimidade nas respostas obtidas (gráfico 15), percebe-se um alto nível de conscientização e educação sobre a Química Forense entre os respondentes. Isso reflete a confiança nas capacidades da Química Forense para auxiliar na resolução de crimes, como a identificação de substâncias, análise de DNA, balística e toxicologia forense. Para Saferstein (2011), são esses avanços permitem que as investigações sejam conduzidas com maior precisão, contribuindo para a eficácia das forças de segurança e do sistema judicial.


Gráfico 15- Química forense como ferramenta importante na resolução de crimes.

Fonte: elaborado pela autora (2024).

A aplicação da Química Forense não só ajuda na resolução de crimes tradicionais, como roubos e homicídios, mas também em questões sociais, como feminicídio. A análise forense pode fornecer provas concretas em casos de violência contra mulheres, permitindo identificar e condenar os agressores. Esse aspecto é particularmente relevante no contexto atual, onde a violência de gênero continua sendo um problema grave e persistente (CNMP, 2018).

Dessa forma, nota-se que a Química Forense é indispensável na promoção da justiça e a prevenção de delitos. A exatidão e a fidedignidade das análises forenses são imprescindíveis para assegurar que os verdadeiros culpados sejam corretamente identificados e punidos, ao passo que os inocentes consigam ser absolvidos. Essa atuação é crucial para preservar a confiança do público no sistema judiciário e para fomentar uma sociedade mais segura e equitativa (FERREIRA, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A análise dos currículos de graduação em Química no Brasil revelou uma lacuna significativa na inclusão da Química Forense como disciplina obrigatória ou optativa. No entanto, a percepção positiva dos estudantes e professores sobre a inclusão dessa disciplina indica um interesse crescente e a necessidade de uma abordagem mais prática e aplicada no ensino da Química.

A realização de atividades práticas no ensino da Química Forense foi amplamente reconhecida como essencial para o aprendizado significativo. As atividades práticas permitem que os alunos apliquem os conceitos teóricos em contextos reais, desenvolvendo habilidades técnicas e analíticas fundamentais para a atuação profissional. A interdisciplinaridade e a aplicação prática dos conhecimentos científicos são aspectos que enriquecem a formação dos estudantes, preparando-os para enfrentar desafios complexos na prática profissional.

Além disso, a Química Forense desempenha um papel importante na justiça e na segurança pública, fornecendo provas confiáveis em investigações criminais e contribuindo para a resolução de problemas relacionados a entorpecentes e outras questões legais. A ética profissional e a atenção aos detalhes são fundamentais no trabalho forense, onde pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença na resolução de um caso.

Em suma, a inclusão da Química Forense nos currículos de graduação em Química pode proporcionar uma formação mais abrangente e interdisciplinar, atendendo ao interesse crescente dos estudantes e às demandas do mercado de trabalho. A promoção de atividades práticas e interdisciplinares enriquecem a formação dos estudantes, preparando-os para atuar em diversas áreas da Química e em investigações forenses. A Química Forense, com sua aplicação prática e interdisciplinar, se mostra uma ciência indispensável para a sociedade, contribuindo para a justiça, a segurança pública e o avanço tecnológico.

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[1] Graduada em Química Licenciatura pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, gilvaniabella04@gmail.com

[2] Docente na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, joelia18@uesb.edu.br

[3] Graduando em Medicina no Centro Universitário de excelência-UNEX, hmbarros10@gmail.com

[4] Docente no Instituto Federal do Paraná- IFPR, galber.silva@ifpr.edu.br  

[5] Graduando Ciências Biológicas Licenciatura pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB,  geraldo2007.2@gmail.com  

[6] Graduando em Química Bacharelado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, joaofelipesoliveira@gmail.com

[7] Graduando em Química Bacharelado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, kalebe63lima@gmail.com

[8] Graduanda em Química Bacharelado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, lanalopesdeoliveira4@gmail.com

[9] Graduando em Química Licenciatura pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, souzaryan833@gmail.com

[10] Graduando em Química Bacharelado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, neysilva102009@hotmail.com

[11] Graduanda em Química Licenciatura pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, sthefanyferreira1230@gmail.com

[12] Uma técnica que identifica suspeitos com base em suas impressões digitais únicas ou em suas informações digitais exclusivas (GUEDES, 2023).

[13]  Compreensões repentinas e intuitivas sobre algo que antes não era evidente.

[14] Arte de contar histórias de forma envolvente e persuasiva, com o objetivo de transmitir uma mensagem e conectar-se com o público.