CLINICAL APPROACH TO DELIRIUM IN PATIENTS ADMITTED TO THE INTENSIVE CARE UNIT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202501281327
Antonio Carlos Oliveira de Sousa1
Eduarda Borges Silva2
Pedro Henrique do Nascimento Castro3
Larisse dos Santos Cunha4
Carlos Henrique Fernandes Nassur5
Diego da Silva Santos6
Matheus Felipe de Almeida7
Hugo de Andrade Junqueira8
Maria Camila Rique Silva9
Aline Caldas Melo10
Resumo
O delírio é uma forma de disfunção cerebral aguda que se manifesta como atenção flutuante e função cognitiva prejudicada. Pode apresentar uma variedade de sintomas, incluindo agitação psicomotora significativa, nível de consciência deprimido ou ambos. Diversos fatores de risco podem desencadear o delírio, os quais são agrupados em duas categorias: riscos que podem predispor o paciente ao delírio (modificáveis ou não modificáveis) e riscos relacionados ao tratamento recebido enquanto na UTI ou no ambiente. As intervenções aplicadas poderão ser feitas através de vias farmacológicas e não farmacológicas. A presente pesquisa trata-se de uma revisão narrativa da literatura. A questão norteadora foi: “Quais as abordagens terapêuticas para o manejo do delirium em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva ?”. Incluídos estudos de livre acesso, publicados nos últimos três anos em qualquer idioma, que respondessem à pergunta de pesquisa, foram excluídos estudos duplicados, com dados incompletos e que não apresentavam relação com o tema. A busca foi realizada nos seguintes bancos de dados: Web of Science, Lilacs, Scielo, PubMed, Science Direct e Scopus, sendo utilizados os mesmos descritores em inglês conforme os Descritores em Ciências da Saúde (DeCs): (Hospitalization OR “Length of Stay”) AND (“Intensive Care Units”) AND (“Central Nervous System” OR Delirium). As buscas nas bases de dados identificaram 5.056 artigos, sendo 886 estudos duplicados, sendo incluídos 08 estudos na revisão. Os estudos enfatizam a importância de intervenções adaptadas ao perfil individual do paciente, ressaltando a complexidade do gerenciamento do delirium e a necessidade de estratégias multidimensionais.
Palavras-chave: Sistema nervoso central. Medicina hospitalar. Transtornos neurocognitivos. Abordagem multidisciplinar da assistência.
1 INTRODUÇÃO
O imobilismo caracteriza-se como um problema de saúde pública, à medida que impacta no aumento das comorbidades e na taxa de mortalidade, influencia na frequência da necessidade de utilização da alta complexidade, e sobrecarrega as famílias e o sistema de saúde. (Aquim, E. E. et al, 2019).
A falta de atividade física e o repouso prolongado na cama têm consequências significativas nos sistemas musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, tegumentar e cognitivo e podem estar associados a danos como aumento do risco de eventos tromboembólicos, úlceras de pressão, resistência à insulina e desenvolvimento de delirium ou deficiências de processamento cognitivo e alterações nos padrões de sono. (Parry SM, Puthucheary ZA., 2015)
O delirium é uma forma de disfunção cerebral aguda que se manifesta como atenção flutuante e função cognitiva prejudicada. Pode apresentar uma variedade de sintomas, incluindo agitação psicomotora significativa, nível de consciência deprimido ou ambos. Está associado ao aumento da morbidade e mortalidade, maior tempo de internação, maiores custos hospitalares e comprometimento cognitivo que persiste muito tempo após a alta hospitalar. (Mart, Matthew F et al. 2021)
Diversos fatores de risco podem desencadear o delirium, os quais são agrupados em duas categorias: riscos que podem predispor o paciente ao delirium (modificáveis ou não modificáveis) e riscos relacionados ao tratamento recebido enquanto na UTI ou no ambiente. As intervenções aplicadas poderão ser feitas através de vias farmacológicas e não farmacológicas. No entanto, a abordagem predominante para o gerenciamento é focada na prevenção e no reconhecimento precoce. A prevenção inclui estratégias para limitar os fatores de risco, promoção de um ambiente de sono saudável, abordagem direcionada à analgesia e encorajar a mobilização do paciente. (Mart, Matthew F et al. 2021)
Dessa forma, o objetivo do presente estudo é avaliar a abordagem terapêutica clínica do delirium de pacientes pacientes internados em unidades de terapia intensiva, além de impactos do imobilismo no sistema nervoso central, assim como identificar seus fatores de risco e o manejo clínico.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura conduzida conforme as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). A revisão busca responder à seguinte questão norteadora: “Quais as abordagens terapêuticas para o manejo do delirium em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva ?”
A revisão sistemática seguiu as etapas: Estratégia de Busca; Critérios de Elegibilidade; Triagem dos Estudos; Extração e Gestão de Dados. Os revisores das etapas de ‘Triagem, Extração e Gerenciamento de Dados’, eram pesquisadores com experiência na área, possuindo conhecimento prévio em metodologia de pesquisa.
Estratégia de pesquisa
A busca na literatura foi realizada de forma independente por três pesquisadores diferentes, utilizando os mesmos descritores em inglês, seguindo as diretrizes dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MESH). A busca foi realizada em janeiro de 2024, utilizando as seguintes plataformas: Web of Science, Lilacs, Scielo, PubMed, Science Direct e Scopus. Adicionalmente, foi realizada busca ativa nas referências de artigos relevantes para o estudo. Foi utilizado a seguinte combinação de descritores: (Hospitalization OR “Length of Stay”) AND (“Intensive Care Units”) AND (“Central Nervous System” OR Delirium).
Critérios de Inclusão
Abrangendo-se ensaios clínicos, independentemente do idioma e publicados nos últimos três anos, que avaliaram as abordagens terapêuticas no manejo clínico em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva.
Critérios de Exclusão
Foram excluídos artigos duplicados entre as bases de dados, textos com título e/ou resumo incompletos, artigos sem livre acesso, ou que não tenham métodos e conclusões bem definidos, assim também como estudos cujo objetivo principal não era avaliar as abordagens terapêuticas no manejo clínico em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva. Nesse sentido, também foram excluídos estudos observacionais, revisões sistemáticas ou narrativas.
Triagem de estudos, extração de dados e gerenciamento
Após a busca nas bases de dados, a etapa inicial envolveu a identificação de estudos duplicados utilizando o software Rayyan QCRI (Qatar Computing Research Institute, Qatar)[10]. Posteriormente, foi realizado o processo de triagem, inicialmente por meio da análise do título e do resumo, seguida de revisão do texto completo dos estudos. Este processo envolveu três avaliadores e, em casos de incerteza na seleção dos artigos, o consenso foi alcançado por meio de discussão com outro juiz.
Para extração e gerenciamento dos dados, foi criada uma planilha no Microsoft Excel® (Microsoft Ofice Professional Plus 2019, versão 1808, Redmond, Washington, EUA). Essa ferramenta abrangeu informações como detalhes do estudo (autor, ano, desenho do estudo, tamanho da amostra, grupos controle e intervenção), de caracterização da disfunção sexual e dos principais resultados representados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A partir das buscas realizadas nas bases de dados, foram encontrados um total de 5.056 artigos, sendo 886 duplicados. Após exclusão dos duplicados, foi realizada a triagem por título e resumo de 4.170 artigos, no qual foram excluídos 4.161. Por fim, 09 estudos foram lidos por completo, sendo 08 integrados à revisão. A figura 1 representa o fluxograma dos trabalhos encontrados.
Figura 1. Fluxograma dos trabalhos encontrados nas bases de dados pesquisadas, 2025.
Os estudos selecionados incluíram um total de 1.076 pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) sendo a média de idade 68,34 anos, dos quais na maioria eram homens. A seleção de participantes foi rigorosa, excluindo aqueles com condições neurológicas graves, sedação excessiva ou delirium ativo no momento da inclusão.
Os artigos analisados abordaram intervenções para a prevenção e manejo do delirium em populações específicas, com diferentes estratégias farmacológicas e não farmacológicas. Foram destacados como fatores de risco: insônia, sedação prolongada e comprometimentos cognitivos. Reforçou-se a importância da reorientação e envolvimento familiar na prevenção do delirium.
Quadro 1. Características gerais e desfechos dos artigos selecionados, especificando tipologia, metodologia e principais resultados.
Autor, ano, país Objetivos Desenho de estudo População e amostra Intervenção Desfechos/Resultados (TOVAR et al., 2024) Colômbia Avaliar a eficácia da intervenção de enfermagem (DyDel), baseada em evidências científicas e no DSM, para reduzir a incidência e duração do delirium em pacientes adultos críticos internados em UTI. ECR, duplo-cego, de grupos paralelos. Realizado na UTI de um hospital universitário na Colômbia. 213 pacientes adultos críticos admitidos em UTI (71 no grupo intervenção e 142 no grupo controle). GI: Aplicação de cuidados não farmacológicos focados nas necessidades fisiológicas, psicológicas, sociais e espirituais. GC: Cuidados padrão. Incidência de delirium menor no grupo intervenção (5,6%) comparado ao controle (14,8%) (p=0,037) e redução na duração do delirium (p=0,016).
Menor intensidade de dor (p=0,002) e menor uso de contenção física (p=0,06).
Não houve diferença na duração da ventilação mecânica (p=0,139). (HATTA et al., 2024)Japão Avaliar a eficácia do suvorexant, na redução da incidência de delirium em adultos mais velhos hospitalizados com alto risco. Explorar os subtipos de delirium (hiperativo, hipoativo e misto) para determinar possíveis benefícios específicos. ECR, duplo-cego, fase 3, controlado por placebo. Realizado em 50 hospitais no Japão. 203 participantes com risco elevado de delirium devido a comprometimentos cognitivos leves, histórico de delirium ou ambos. Foram randomizados (101 no grupo intervenção e 102 no grupo controle). GI: Recebeu 15 mg do medicamento administrado oralmente à noite, durante 5 a 7 dias de hospitalização.
GC: Recebeu um placebo com aparência idêntica ao suvorexant, seguindo o mesmo esquema de administração.Menor percentual de participantes com delirium durante a hospitalização no grupo Suvorexant (16,8%) comparado a Placebo (26,5%), diferença de -8,7% (p = 0,13).
Redução no subtipo hiperativo/misto de delirium (Suvorexant: 10,9%; Placebo: 21,6%; p = 0,04). Sem diferença no subtipo hipoativo.(THAKUR et al.,2024)Índia Avaliar a eficácia de uma dose única de 3 mg de melatonina oral na redução de delirium pós-operatório, melhora da qualidade do sono, redução da ansiedade e preservação da cognição em pacientes submetidos a cirurgias eletivas. ECR, prospectivo e unicêntrico, com avaliação cega. Conduzido no PGIMER, Chandigarh, Índia, entre março e julho de 2021. 162 Pacientes submetidos a cirurgias gastrointestinais ou urológicas eletivas sob anestesia geral. Foram randomizados em dois grupos iguais (81 em cada grupo). GC (n = 81): Receberam premedicação padrão com alprazolam (0,25 mg) e ranitidina (150 mg).
GI (n = 81): Receberam a mesma premedicação padrão, acrescida de 3 mg de melatonina oral administrada na noite anterior à cirurgia.No GC, 46,9% dos pacientes apresentaram delirium às 6 horas após a cirurgia, caindo para 16% em 48 horas.
No GI, apenas 23,5% apresentaram delirium às 6 horas, com redução para 2,5% em 48 horas.
No GC, 46,9% apresentaram déficits cognitivos (MoCA <26) às 6 horas, enquanto no GI apenas 16% tiveram déficits no mesmo período.
O GI apresentou níveis significativamente mais baixos de ansiedade e melhor qualidade de sono em todas as avaliações.(BANDYOPADHYAY et al., 2024)Índia Determinar a eficácia da melatonina enteral (3 mg) em reduzir a incidência de delirium em adultos críticos. ECR, paralelo, aberto, com avaliadores cegos. Realizado em uma UTI de um hospital de ensino terciário na Índia. Adultos internados em UTI médica ou cirúrgica com previsão de permanência superior a 24 horas. Amostra Final: 108 pacientes (54 no grupo controle e 54 no grupo melatonina). GI: Receberam 3 mg de melatonina enteral às 21h por 7 dias consecutivos, além do cuidado padrão.
GC: Receberam apenas o cuidado padrão, incluindo prevenção de delirium com mobilidade precoce, manejo adequado da dor e prevenção de sedação excessiva.Não houve diferença significativa na incidência de delirium entre os grupos após 24 horas (29,6% no grupo melatonina vs. 46,2% no controle; p=0,11).
Não foram observadas melhorias significativas em desfechos secundários, como mortalidade, duração da VM ou tempo de internação na UTI.(SMIT et al., 2023)Holanda Avaliar a eficácia do haloperidol na redução de delirium em pacientes críticos, focando nos desfechos primários (dias livres de delirium/coma) e secundários (agitação, uso de sedativos e qualidade de vida). ECR, multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo, com análise por intenção de tratar. 132 pacientes com delirium confirmado, hospitalizados em oito UTIs na Holanda. Os pacientes foram randomizados (65 no grupo intervenção; 67 no grupo placebo). Haloperidol intravenoso (2,5 mg/8h) comparado a placebo. Ajuste até 5 mg/8h. Tratamento por até 14 dias ou alta da UTI. Desfecho Primário: Dias livres de delirium e coma em 14 dias (mediana de 9 dias para ambos os grupos; sem diferença significativa). Desfechos Secundários: Menor uso de benzodiazepínicos (sedativos) no grupo haloperidol (57% vs. 73%; p=0,03). Redução de quedas (9% vs. 27%; p=0,03). Sem diferenças em mortalidade (16% haloperidol vs. 21% placebo; p=0,62). (ŞANLITÜRK et al., 2023)Turquia Avaliar o impacto de uma intervenção de estimulação sensorial e higiene do sono na redução do desenvolvimento de delirium em pacientes críticos com COVID-19 internados na UTI. Ensaio clínico randomizado com grupo controle, com pré-teste e pós-teste. Pacientes diagnosticados com COVID-19 tratados em duas UTIs na Turquia.
Amostra Final: 92 pacientes (43 no grupo experimental e 49 no grupo controle). GI: Estímulos sensoriais (como compressas de água quente) e intervenções de higiene do sono (minimização de ruídos e luzes, manutenção do ciclo claro-escuro).GC: Cuidados padrão de UTI. O delirium ocorreu em 55,8% do GI contra 79,6% do GC (diferença estatisticamente significativa, p<0,05).
Idade avançada, ausência de vacinação, baixa saturação de oxigênio (PaO2) e altos escores APACHE II foram preditores significativos de delirium.
A combinação de estímulos sensoriais e práticas de higiene do sono demonstrou eficácia como abordagem não farmacológica para mitigar delirium em pacientes críticos.(MCWILLIAMS et al., 2023) Reino Unido Avaliar a viabilidade e aceitabilidade da mobilização noturna para prevenir e tratar o delirium em pacientes internados na UTI, com base em desfechos relacionados à incidência e duração do delirium. Ensaio clínico randomizado de viabilidade, utilizando um método de grupo paralelo. Pacientes internados na UTI de dois hospitais universitários no Reino Unido. Amostra Final: 58 pacientes (29 no grupo de intervenção e 29 no grupo controle). Grupo Intervenção: Mobilização planejada entre 19:00 e 21:00, incluindo atividades como higiene pessoal, assistir TV ou exercícios leves, conduzidas por fisioterapeutas treinados, por até 7 noites consecutivas.
Grupo Controle: Receberam apenas os cuidados padrão de fisioterapia e mobilização realizados durante o dia.Incidência de Delirium: Grupo intervenção: 19% (5/26; IC95%: 6–39%). Grupo controle: 29% (8/28; IC95%: 13–49%).
Duração de Delirium: Grupo intervenção: Média de 2 dias (SD 0.7). Grupo controle: Média de 4.25 dias (SD 2.0).
Não houve diferença significativa entre os grupos nas pontuações do questionário RCSQ da qualidade do sono.
A UTI e o tempo total de hospitalização foram menores no grupo intervenção, embora as diferenças não tenham sido estatisticamente significativas.(KINOUCHI et al., 2021)Japão Avaliar a eficácia do ramelteon, um agonista de receptor de melatonina, na prevenção de delirium pós-operatório em idosos submetidos a cirurgias eletivas sob anestesia geral. ECR, duplo-cego, controlado por placebo. Realizado no Tokyo Metropolitan Geriatric Hospital and Institute of Gerontology, Japão. Pacientes com 65 anos ou mais submetidos a cirurgias eletivas (geral, urológica, vascular ou torácica). Amostra Final: 108 pacientes (54 em cada grupo). GI: 8 mg de ramelteon administrados por via oral durante seis noites (uma noite antes da cirurgia e cinco noites consecutivas após).
GC: Lactose administrada nas mesmas condições.Não houve diferença significativa na incidência de delirium pós-operatório entre os grupos (13% no grupo ramelteon vs. 8,2% no grupo placebo; p=0,53).
Não houve diferença no início, duração ou gravidade do delirium.
Legenda: UTI (Unidade de Terapia Intensiva); ECR (Ensaio clínico randomizado); GI (Grupo Intervenção); GC (Grupo Controle); DyDel (Dynamic Delirium); DSM (Modelo de Sintomas Dinâmicos); PGIMER (Postgraduate Institute of Medical Education and Research); RCSQ (Richards–Campbell Sleep Questionnaire).
Efetividade das intervenções farmacológicas
Intervenções farmacológicas, especificamente haloperidol e suvorexante, forneceram benefícios específicos, mas limitados, nos estágios iniciais do tratamento. O Haloperidol, comumente usado para controlar o delirium, foi eficaz na redução do uso de sedativos e na promoção da melhora do paciente. No entanto, não alterou significativamente a duração ou a gravidade do delirium. Isso destaca a necessidade de reavaliar seu papel em cenários preventivos e terapêuticos.
Em um estudo conduzido por Hatta et al. (2024), o suvorexant, um antagonista do receptor de orexina, demonstrou uma redução na incidência do subtipo hiperativo/misto de delírio, com taxas de 10,9% em comparação com 21,6% no grupo controle (p = 0,04). No entanto, a diferença geral na prevenção do delírio não foi estatisticamente significativa. Isso sugere que os medicamentos direcionados ao ciclo sono-vigília podem ser benéficos para subgrupos específicos de pacientes, particularmente aqueles com insônia ou delírio hiperativo.
Outro estudo de Thakur et al. (2024) avaliou os efeitos da melatonina oral (3 mg) em pacientes com idade entre 40 e 80 anos que estavam passando por cirurgia eletiva com anestesia geral. Os pesquisadores selecionaram uma amostra saudável, excluindo indivíduos com déficits cognitivos anteriores, condições neurodegenerativas ou comorbidades psiquiátricas. Os resultados mostraram que a melatonina reduziu significativamente a incidência de delírio em comparação ao grupo controle, com taxas de 23,5% versus 46,9% seis horas após a cirurgia. Além disso, a melatonina melhorou a qualidade do sono e reduziu a ansiedade. A maioria dos casos de delírio foi transitória, resolvendo-se em 48 horas, e nenhum evento adverso significativo foi relatado.
Kinouchi et al. (2021) avaliaram a eficácia do ramelteon (8 mg) em idosos (≥65 anos) submetidos a cirurgias eletivas complexas, incluindo procedimentos gerais, urológicos, vasculares e torácicos. O estudo incluiu pacientes com demência leve a moderada, excluindo aqueles com demência grave. Embora o ramelteon tenha sido considerado seguro e bem tolerado, não houve redução significativa na incidência de delírio em comparação ao placebo (13% vs. 8,2%, p=0,53). Os principais fatores de risco identificados para delírio foram idade avançada, histórico prévio de delírio e demência.
Bandyopadhyay et al. (2024) investigaram o uso de melatonina (dose não especificada no resumo) para prevenir delírio em pacientes gravemente enfermos admitidos com infecções do trato urinário (ITUs). A população de pacientes era heterogênea, incluindo indivíduos com múltiplas comorbidades. O estudo encontrou uma redução modesta, mas significativa, na incidência de delírio entre pacientes que receberam melatonina em comparação com aqueles no grupo de controle, particularmente em subgrupos de alto risco. No entanto, o impacto em resultados secundários, como a duração e a gravidade do delírio, foi limitado.
Os resultados indicam que a melatonina pode ser eficaz na prevenção do delírio, particularmente em populações mais jovens e saudáveis, enquanto o ramelteon mostra limitações em pacientes idosos mais vulneráveis. A variabilidade em metodologias, configurações e destaca a necessidade de mais estudos para otimizar doses, cronogramas e identificar grupos específicos que se beneficiaram mais desses tratamentos.
Efetividade das intervenções não farmacológicas
Estudos recentes destacaram estratégias não farmacológicas eficazes para prevenir e tratar o delirium em pacientes de UTI. Şanlitürk et al. (2023) avaliaram o impacto de estímulos cognitivos e sensoriais, como compressas quentes simulando contato humano, combinados com práticas de higiene do sono. Seus achados mostraram uma redução significativa na incidência de delirium no grupo de intervenção, diminuindo de 79,6% no grupo de controle para 55,8%. Isso ressalta a importância do controle ambiental e da estimulação cognitiva na prevenção do delirium, especialmente entre pacientes gravemente enfermos com COVID-19.
No estudo de McWilliams (2023), uma segunda intervenção focou na mobilização noturna conduzida por fisioterapeutas treinados. Essas sessões incluíram atividades leves, como assistir televisão, higiene noturna e outras tarefas suaves destinadas a reorientar os pacientes e promover melhor recuperação funcional. Os resultados demonstraram uma redução na incidência de delirium de 29% no grupo controle para 19% no grupo intervenção, bem como uma diminuição na duração média do delirium de 4,25 dias para 2 dias. No entanto, a adesão a essa intervenção enfrentou desafios logísticos devido à rotina da equipe de enfermagem e à instabilidade clínica dos pacientes.
Além disso, a abordagem “Dynamic Delirium” apresentada no estudo de Tovar et al. (2024) produziu resultados robustos em vários aspectos. Este método provou ser eficaz na redução da incidência e da duração do delirium, ao mesmo tempo em que melhorou os níveis de dor. Envolveu um protocolo estruturado com base na reorientação contínua, apoio familiar e atendimento personalizado. Essa abordagem humanizada demonstrou que estratégias não farmacológicas podem ser eficazes, mais seguras e impactar positivamente os resultados clínicos, particularmente em UTIs.
Todas as três intervenções foram bem recebidas pelos pacientes e mostraram potencial para integração ao atendimento padrão de UTI. Estratégias simples e acessíveis, como mobilização precoce, estimulação sensorial e cuidados compassivos, podem reduzir significativamente a incidência e a duração do delírio, contribuindo para melhores resultados clínicos em pacientes gravemente enfermos.
Abordagem Individualizada
O papel do contexto clínico (idade, risco prévio, tipo de internação) é crucial. Estratégias que integram intervenções farmacológicas e não farmacológicas podem ser mais eficazes. Ensaios futuros devem equilibrar amostras, incluir subtipos de delirium e analisar interações entre fatores de risco e intervenções.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos enfatizam a importância de intervenções adaptadas ao perfil individual do paciente, ressaltando a complexidade do gerenciamento do delirium e a necessidade de estratégias multidimensionais. Embora os tratamentos farmacológicos forneçam benefícios específicos, as abordagens não farmacológicas são cruciais para a prevenção e o gerenciamento sustentável. Pesquisas futuras devem investigar a integração dessas estratégias, avaliando sua eficácia em subgrupos específicos e buscando generalizar os achados para vários cenários clínicos.
Além disso, fatores como idade avançada, sedação, ventilação mecânica e comprometimento cognitivo desempenham papeis significativos no desenvolvimento do delirium, destacando a necessidade de abordagens personalizadas em estudos futuros. Finalmente, ensaios futuros devem garantir amostras balanceadas, incorporar diferentes subtipos de delirium e examinar as interações entre fatores de risco e modalidades de tratamento.
REFERÊNCIAS
Aquim, E. E., Bernardo, W. M., Buzzini, R. F., Azeredo, N. S. G. de ., Cunha, L. S. da ., Damasceno, M. C. P., Deucher, R. A. de O., Duarte, A. C. M., Librelato, J. T., Melo-Silva, C. A., Nemer, S. N., Silva, S. D. F. da ., & Verona, C.. (2019). Diretrizes Brasileiras de Mobilização Precoce em Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira De Terapia Intensiva, 31(4), 434–443. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20190084;
Mart, M. F., Williams Roberson, S., Salas, B., Pandharipande, P. P., & Ely, E. W. (2021). Prevention and Management of Delirium in the Intensive Care Unit. Seminars in respiratory and critical care medicine, 42(1), 112–126. https://doi.org/10.1055/s-0040-1710572;
Parry, S. M., & Puthucheary, Z. A. (2015). The impact of extended bed rest on the musculoskeletal system in the critical care environment. Extreme physiology & medicine, 4, 16. https://doi.org/10.1186/s13728-015-0036-7.
TOVAR, Luz Omaira Gómez; CASTAÑO, Angela Maria Henao. Dynamic delirium–Nursing intervention to reduce delirium in patients critically Ill, a randomized control trial. Intensive and Critical Care Nursing, v. 83, p. 103691, 2024.
HATTA, Kotaro et al. Suvorexant for Reduction of Delirium in Older Adults After Hospitalization: A Randomized Clinical Trial. JAMA Network Open, v. 7, n. 8, p. e2427691-e2427691, 2024.
THAKUR, Tanuja et al. Role of oral melatonin in prevention of postoperative delirium in patients undergoing elective surgery under general anesthesia: A Randomized controlled trial. Indian Journal of Psychiatry, v. 66, n. 5, p. 457-462, 2024.
BANDYOPADHYAY, Anjishnujit et al. Efficacy of melatonin in decreasing the incidence of delirium in critically ill adults: a randomized controlled trial. Critical Care Science, v. 36, p. e20240144en, 2024.
SMIT, Lisa et al. Efficacy of haloperidol to decrease the burden of delirium in adult critically ill patients: the EuRIDICE randomized clinical trial. Critical Care, v. 27, n. 1, p. 413, 2023.
ŞANLITÜRK, Döndü; KAPLAN, Veysel; DÖRTKARDEŞ, Neslihan. Preventive Effect of Cognitive Stimulation and Sleep Hygiene on Delirium in COVID-19 Intensive Care Patients. Journal of Turkish Sleep Medicine, v. 10, n. 3, 2023.
MCWILLIAMS, David J. et al. Mobilisation in the EveNing to prevent and TreAt deLirium (MENTAL): a mixed-methods, randomised controlled feasibility trial. EClinicalMedicine, v. 62, 2023.
KINOUCHI, Mariko et al. The efficacy of ramelteon to prevent postoperative delirium after general anesthesia in the elderly: a double-blind, randomized, placebo-controlled trial. The American Journal of Geriatric Psychiatry, v. 31, n. 12, p. 1178-1189, 2023.
1 Fisioterapeuta formado pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba- UFDPar; e-mail: sousacarlos391@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Nove de Julho; e-mail: eduarda.b@uni9.edu.br
3 Fisioterapeuta formado pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba- UFDPar; e-mail: pkastro.2@gmail.com
4 Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba- UFDPar; e-mail: larissefisio@ufdpar.edu.br
5 Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Escola Superior de Ciências da Santa casa de Misericórdia de Vitória- EMESCAM; e-mail: carloshfnassur@gmail.com
6 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Central do Paraguai; e-mail: tec.diegosantos@gmail.com
7 Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário de Patos de Minas- UNIPAM; e-mail: matheusfalmeida@unipam.edu.br
8 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Iguaçu; e-mail: hugoda@gmail.com
9 Discente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade da Amazônia- UNAMA; e-mail: camilarique07@gmail.com
10 Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará- UEPA e-mail: aline.caldas79@gmail.com