A CANASTRA DE SAINT-HILAIRE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10042077


Diego Desimoni Vasconcelos


RESUMO

Este estudo constitui na elaboração de um vídeo documentário com a narrativa em primeira pessoa e o roteiro de filmagens baseado no capítulo X do Livro “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco” do naturalista e botânico francês Auguste de Sant-Hilaire, ilustrando e mostrando o caminho percorrido por ele, com imagens atualizadas sobre as narrativas de viagem contidas no livro e os aspectos observados no ano de 1821 na região da Serra da Canastra em Minas Gerais, durante sua passagem em direção aos sertões de Goiás e a província de São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Parque nacional da Serra da Canastra – Auguste de Saint-Hilaire – Rio São Francisco – Documentário – Explorador naturalista

ABSTRACTS

This study consisted of the creating a documentary video with a first-person narrative, a filming script based on chapter X of the book “Journey to the Headwaters of the São Francisco River” the French naturalist and botanist Auguste de Sant-Hilaire, illustrating and showing the path he traveled with updated images related to the travel narratives in the book and the observations made in the year 1821 in the Serra da Canastra region in Minas Gerais during his journey towards the hinterlands of Goiás and the province of São Paulo.

KEYWORDS: Serra da Canastra National Park – Auguste de Saint-Hilaire – São Francisco River – Documentary – Naturalistic – Explorer

Capítulo 01

1. Introdução

A proposta deste projeto é a realização de um vídeo documentário que percorre dois trechos da Região da Serra da Canastra em Minas Gerais, descritos e relatados no capítulo X do livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco” do naturalista e botânico francês Auguste de Saint-Hilaire no ano de 1821. Desse modo, usamos o rico e detalhado texto de Saint-Hilaire como base para o roteiro de gravações e, de modo geral, para a narrativa do documentário, o que, também, possibilitou a comparação entre as temporalidades históricas (afinal, um arco temporal de mais de 200 anos separam os relatos do naturalista desta produção) por meio da linguagem audiovisual.

Como método e forma para se estruturar a narrativa do documentário, optamos pelo uso da câmera subjetiva, isto é, uma disposição de enquadramento que simula o olhar e, portanto, da perspectiva de mundo do personagem. Ademais, soma-se a isso a opção por adotar o chamado documentário de primeira pessoa, algo que é realizado a partir do conteúdo do livro e da narrativa de viagem do naturalista francês com objetivo de fornecer para os espectadores um tom mais subjetivo, marcado pelos sentimentos e impressões dos lugares percorridos por Saint-Hilaire.

De acordo com Oliveira (2016), a câmera subjetiva faz coincidir no mesmo eixo que os atravessa, os olhares do personagem e do espectador em um olhar remissivo, endereçado, coincidente, um olhar em primeira pessoa. Estabelece entre filme e expectador um modo de imersão, pela percepção simultânea do corpo-câmera pro fílmico e da consciência-câmera do expectador.

Para contrapor as imagens em movimento da câmera subjetiva, a utilização de câmeras paradas em vídeo e fotografia still, principalmente dos detalhes, ajudou a mostrar as paisagens e belezas naturais dos trechos percorridos e amplamente descritos por Saint- Hilaire.

No primeiro trecho escolhido para a filmagem o autor desvia seu caminho e vai em direção a cachoeira da Casca-D’anta, primeira grande queda do rio São Francisco e que mereceu especial atenção no texto, e no segundo trecho ele sobe a Serra da Canastra paraconhecer o “Chapadão da Zagaia” e observar outros aspectos e plantas que não haviam sido encontrados até então pelo caminho.

[…] Para ter uma ideia de como é fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar estar vendo em conjunto tudo o que a Natureza tem de mais encantador: um céu de um azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical. (SAINT- HILAIRE, 2004, p. 105)

A importância em documentar imagens e sons dos dois trechos escolhidos se deve para mostrar que poucas interferências humanas foram feitas nos caminhos e que a região ainda preserva muito do que foi visto e documentado há mais de duzentos anos pelo naturalista francês, e que agora ganha cor, ritmo e movimento, levando mais pessoas a conhecerem as importantes pesquisas realizadas no período e as impressionantes belezas naturais da serra da Canastra.

2. Justificativas

A realização deste estudo e documentário se deve pelo importante registro do valioso patrimônio natural da Serra da Canastra, com enfoque no caminho percorrido pelo naturalista francês, buscando, especificamente, os aspectos observados por ele em dois trechos do livro e os comparando com a realidade do local, duzentos anos depois de sua passagem.

Outra importante motivação para a elaboração deste estudo diz respeito às impressionantes e raras belezas naturais, a fauna e a flora da Serra da Canastra que tem diversas espécies endêmicas, em uma região de transição entre a Mata Atlântica e Cerrado.

Em adição, o diferencial deste estudo foi a valorização da natureza em detalhes que além de ser retratada e documentada, será disponibilizada na internet para a população interessada no assunto e com essa iniciativa se espera uma maior conscientização da população local sobre seu papel nessa luta local, sobre os valores de seu patrimônio, sobre a necessidade de preservá-los.

Outra justificativa consiste numa maior divulgação e conhecimento sobre as importantes e detalhadas pesquisas de Saint-Hilaire pelo interior do Brasil, em especial as realizadas no estado de Minas Gerais, para que sejam criadas rotas de turismo de aventura pelos locais percorridos por ele, e para que também novas iniciativas como deste presente estudo de documentar os caminhos de um naturalista no Brasil sejam pensadas e executadas para outros naturalistas em outras regiões brasileiras.

De acordo com Costa Junior (2019), apesar de ser um naturalista, seus escritos ultrapassam a sua formação e, por isso, é possível encontrar reflexões nos mais variados campos dentre os quais destacam-se paisagens e populações durante a passagem do botânico-naturalista pelas terras brasileiras.

Por fim, a justificativa para a escolha dessa linha de pesquisa é o prazer em documentar essa rica região ainda pouco explorada academicamente e por vídeo documentários, mostrar os detalhes da paisagem e desses dois importantes biomas que ainda resistem a ação antrópica por serem áreas de proteção ambiental muito bem preservadas pelo ICM-BIO.

3. Objetivo Geral

Produzir um vídeo documentário na Serra da Canastra em Minas Gerais, com o intuito de preservar e ilustrar com imagens os dois trechos narrados no texto de Saint-Hilaire através da linguagem de câmera subjetiva e locução sobre imagens com o relato em primeira pessoa.

4. Objetivos Específicos

4.1. Mostrar a importância da fauna e da flora para assim discutir os efeitos causados pela ação do homem, as espécies ameaçadas de extinção e o uso de algumas delas na medicina popular, caso frequente como o da arnica.

4.2. Discutir o valor da água e da natureza para o homem e as consequências da ação desordenada em um cenário maravilhoso, rico em nascentes e belezas naturais, berço de um dos mais importantes rios do país, o São Francisco.

4.3. Percorrer o mesmo caminho, duzentos anos depois, conhecendo e registrando novos lugares e as mudanças ocorridas nesse período, mostrando o contraponto entre duas épocas e através de linguagens artísticas diferentes.

5. Contextualização

Este estudo visou verificar se houve muitas mudanças na paisagem natural ao longo do tempo, pelos textos da época e das imagens atualizadas, e como essas mudanças afetaram a região.

O levantamento de informações e coleta de dados a fim de responder à pergunta foi feito através de comparação de épocas utilizando como texto base os diários de viagem do explorador francês e foi então criado o roteiro audiovisual atualizado que foi utilizado na condução das gravações e da edição do material captado.

As respostas ao problema indicado foram subsidiadas e respondidas por ações de produção, gravação e análise do material coletado e captado, percorrendo etapas sequenciais de levantamento de informações sobre o tema de estudo e o problema abordado na pesquisa, a fim de contrapor as informações levantadas pelo explorador francês há 200 anos, organizando as ideias através do registro e edição audiovisual documental e colocadas nas conclusões do projeto.

6. Referencial Teórico

Toda a base da pesquisa documental e criação do roteiro de filmagem foi baseada no capítulo X do livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco” de Auguste de Saint- Hilaire, mais especificamente em dois trechos sobre a Serra da Canastra em Minas Gerais: o primeiro trecho aborda o caminho percorrido em direção a cachoeira Casca D’anta, a maior cachoeira do rio São Francisco e uma das maiores do Brasil; O segundo trecho descreve o percurso realizado por Saint-Hilaire ao subir a serra para conhecer o Chapadão da Zagaia e seus campos rupestres, repletos de plantas até então nunca documentadas.

Para a criação do roteiro e do argumento, o capítulo foi dividido em paradas, onde o explorador francês pernoitava e descrevia com detalhes as informações sobre os lugares e as pessoas, com ênfase nos seus sentimentos e na descrição impecável de cada informação relatada, mostrando que ele também utilizava a abordagem Humboldtiana, que defende as impressões estéticas e sentimentais do viajante.

Segundo Kury (2001), as concepções sobre o modo de fazer ciência que privilegiam o trabalho de campo ou o de gabinete coexistem no século XIX. Os naturalistas que vieram ao Brasil haviam feito a opção de “ver com os próprios olhos”. Nas grandes expedições científicas, os viajantes buscam dar conta das sensações e impressões experimentadas durante sua estada no Brasil não só utilizando o desenho e a pintura, mas também fazendo ricas descrições textuais.

Contextualizando a pesquisa e os fenômenos investigados por ela, se chegou ao conceito de explorador “pés no chão”, que segundo Costa Junior (2019) indicava uma nova forma de fazer pesquisa na qual as impressões estéticas eram parte integrante da atividade científica e não poderiam ser substituídas por amostras e descrições dos lugares de coleta, fazendo o cientista viver, experienciar e principalmente relatar tudo aquilo que era explorado.

O conceito acima foi amplamente discutido na dissertação de mestrado intitulada “O naturalista e o viajante: o Brasil nos escritos de Auguste Saint-Hilaire” de Flávio Teixeira da Costa Junior (2019), a segunda parte da revisão teórica que embasam a busca do presente estudo em sentimentos e experiencias vividas, e não só em informações e imagens como sempre são realizadas.

Ao sair da sua região de origem, um viajante embarcava rumo a um grande desconhecido e por mais que Saint-Hilaire tenha buscado informações sobre o Brasil e os brasileiros foi a viagem que o colocou mediante ao outro de fato, com suas qualidades ou seus defeitos, com seus vícios e suas virtudes. Dessa forma, o encontro com o outro pode ser entendida como uma característica peculiar do viajante de “pés no chão.”. (COSTA JUNIOR, 2019, p.78).

Ainda na dissertação relatada acima, Costa Junior (2019) apresentou o termo e o conceito de “antroponatura” que mostra a relação entre homem e natureza, onde este está inserido nesta e não separado dela.

Costa Junior (2019) diz ainda que o naturalista não fez uma literatura de viagem apenas para tratar dos seres humanos e outra para tratar do mundo natural. Logo, antroponatura (antro=homem/ natura=natureza) pode ser entendida como uma relação entre o homem e a natureza, a partir de uma situação de transformação entre ambos, no qual os seres humanos se encontravam dentro da natureza, e não separados dela.

Então, a presente pesquisa explora e se aprofunda desde a etapa do roteiro até a edição do material, nos conceitos apresentados acima dando uma maior ênfase aos sentimentos e na relação do homem com a natureza, seguindo os passos destes pesquisadores citados e buscando uma linguagem audiovisual poética em primeira pessoa com a câmera subjetiva.

Com essa busca por teorias audiovisuais que pudessem aprofundar e embasar a pesquisa, foi utilizado o livro “A imagem de Jacques Aumont” que se tornou a principal referência para a criação do segundo capítulo desta dissertação, onde a metodologia de pesquisa para a captação de dados e informações relevantes ao projeto pudessem ser escolhidas e mais bem trabalhadas.

Segundo Aumont (1993), a produção de imagens jamais é gratuita, e, desde sempre, as imagens foram fabricadas para determinados usos, individuais e coletivos. Uma das primeiras respostas à nossa questão passa pois por outra questão: para que servem as imagens (para que queremos que elas sirvam)?

A pergunta encontrada no livro desencadeou uma série de outras questões que foram transformadas, primeiramente em um roteiro de entrevista, depois no roteiro audiovisual e por fim numa planilha de decupagem, onde a valorização da natureza é a questão mais importante.

Todo o planejamento visual procurado desde a fase do roteiro até a edição do material foi pensado para que as imagens e sons fossem o mais fiel ao que era visto, trazendo os sentimentos observados nos caminhos e lugares, e também mostrando as belezas naturais através de planos abertos contemplativos e planos de detalhe para ampliar essa percepção sensorial.

O ritmo é o conceito chave no processo de gravação e principalmente de edição, pois é ele que conduz toda a cadeia dos sentidos e transmite o que se quer mostrar através de sons e imagens.

“O pensamento visual. Ao lado do pensamento verbalizado, formado e manifestado pela mediação deste artefato humano que se chama linguagem, há espaço para um modo e pensamento mais imediato, que não passa ou, pelo menos, não passa inteiramente pela linguagem, mas que se organiza, ao contrário, diretamente a partir dos perceptos dos nossos órgãos dos sentidos: o pensamento sensorial. Entre esses atos de pensamento, é privilegiado o pensamento visual: de todos os nossos sentidos, a visão é o mais intelectual, o mais próximo do pensamento.” (AUMONT, 1993, p. 94).

Portanto, o diário de viagens de Saint-Hilaire é um riquíssimo roteiro de informações que foram buscadas em cada detalhe, dando uma maior ênfase no que o explorador sentia por onde passava e que foram amplamente relatados, tornando mais fácil o processo na busca dos aspectos observados e ilustrados na produção audiovisual.

A produção de imagens com o intuito de comparar épocas distintas, através de linguagens diferentes, onde Saint-Hilaire usou a literatura de viagens e este projeto o vídeo documentário, é um excelente exercício da forma de fazer arte e comunicar pensamentos e visões, e a melhor forma de manifestar uma linguagem interior.

“A imagem é estruturada como linguagem interior: dos fenômenos humanos, o mais importante para quem se interessa pelas produções significantes é a linguagem. Donde a ideia, recorrente em Eisenstein sob diversas formas, de que a obra de arte resulta do exercício de uma espécie de linguagem – e que em particular a linguagem cinematográfica é mais ou menos compreensível como manifestação de uma linguagem interior, que nada mais é do que o outro nome de próprio pensamento.” (AUMONT 1993, P. 95).

Por fim, a revisão das literaturas buscou formas de extrair sentimentos dos expectadores através das técnicas e estrutura de montagem, principalmente nas teorias do cineasta soviético Sergei Eisenstein, que foi um dos maiores teóricos do assunto e mostrou como a montagem pode ser usada a fim de explorar esses sentimentos. Os livros utilizados como base nos conceitos de edição e montagem cinematográfica, “A forma do filme” e “O sentido do Filme” ambos escritos pelo cineasta soviético, que abordam conceitos de fragmentação, repetição, justaposição e principalmente ritmo. Segundo Eisenstein (2002), não há diferença fundamental quanto às abordagens dos problemas da montagem puramente visual e da montagem que liga diferentes esferas dos sentidos – particularmente a imagem visual à imagem sonora – no processo de criação de uma imagem única, unificadora, sonoro- visual.

7. Temática

7.1. Viajantes exploradores e naturalistas no Brasil

O descobrimento do Brasil em 21 de abril de 1500, por Pedro Álvares Cabral além de ser uma marcação de que estas terras tinham um novo dono, foi uma aventura marítima de exploração feita por conquistadores europeus, e segundo o historiador português Malheiros Dias (1923), no livro História da colonização Portuguesa no Brasil – Volume I, “Se não ficou documentada a intencionalidade da arribada de Cabral a Vera Cruz, isso deve- se, presumidamente, tanto à perda da carta de Pedro Álvares Cabral ao soberano, como a política de mistério que sistematicamente se aplicou às navegações portuguesas no sentido do poente”.

Em adição, outro naturalista viajante de grande relevância foi o navegador italiano Américo Vespúcio, que de acordo com Hermuche (2002), no dia 04 de outubro de 1501, chegou à foz de um grande rio e como era o dia se São Franscisco de Assis, e assim, nomeou este rio que descobriu de rio São Francisco, cuja nascente está localizada justamente no Parque Nacional da Serra da Canastra (PARNA CANASTRA).

Já o alemão George Marcgrave foi o naturalista precursor de viagens científicas pelo Brasil. Marcgrave chegou ao país em 1638 através de um plano de Mauricio de Nassau e segundo Françozo (2010), publicou no ano 1648 o livro História Natural do Brasil, uma dentre as obras seminais produzidas pelo encontro dos humanistas do Renascimento com a diversidade e a maravilha do Novo Mundo, que ficou sendo a fonte de conhecimento por excelência sobre centenas de animais e plantas brasileiras.

Por fim, encerrando esse primeiro ciclo de viagens exploratórias pelo interior do Brasil e com pesquisas intensas, mas limitadas ao litoral e aos rios amazônicos, no ano de 1800 chegou ao pais um dos mais importantes e respeitados cientistas da época, Alexander von Humboldt, metalurgista, geógrafo, polímata, naturalista e explorador alemão, que percorreu com detalhes o mesmo caminho de Orellana pelos rio Orinoco e Amazonas até sua foz, dando fim a mais de 250 anos de pesquisas de exploração e que foram substituídas por um novo tipo de abordagem mais científica de acordo com Kury (2001).

Humboldt utilizou um modelo de narrativa onde a paisagem era o tema principal através de textos, ilustrações e coletas de materiais, que mostravam o que era comum ou típico nas paisagens para compreender o real a partir do natural, e de acordo com Wulf (2016), foi recebido em Paris como um herói. Esteve ausente por mais de cinco anos e regressava com baús abarrotados de dezenas de cadernetas, centenas de esboços e dezenas de milhares de observações astronômicas, geográficas e meteorológicas. Trazia para casa cerca de 6 mil espécies de plantas, das quais quase 2 mil eram novas para os botânicos europeus.

No ano de 1808 o príncipe regente de Portugal, Dom João trouxe a corte real para o Brasil fugindo da guerra provocada pelo francês Napoleão Bonaparte, que já havia invadido a Espanha e rumava em direção ao seu país. A corte se instalou no país após uma viagem de quase dois meses até a Bahia e depois mais um mês até o Rio de Janeiro, e que segundo Gomes (2007) a fuga para o Brasil onde haveria mais riquezas naturais, mão-de-obra e, em especial, maiores chances de defesa contra invasores do reino, foi, portanto, uma opção natural e bem avaliada.

Ainda de acordo com Gomes (2007), toda infraestrutura organizada se somou a uma grande quantidade de materiais e pessoas que aqui chegaram junto com a família real, dando um ar de metrópole a cidade do Rio de Janeiro, criando e compondo uma corte real europeia em uma de suas colônias nas Américas.

Ao longo de sua estada no país foram tomadas diversas ações que transformaram a colônia e trouxeram vários avanços nas mais diferentes áreas a começar pela abertura dos portos as nações amigas, a criação da imprensa régia e o funcionamento de tipografias e jornais, assim como a criação do Primeiro Banco do Brasil no ano de 1808, e segundo Gomes (2007), a chegada da família real produziu uma revolução no Rio de Janeiro. O saneamento, a saúde, a arquitetura, a cultura, as artes, os costumes, tudo mudou para melhor – pelo menos para a elite branca que frequentava a vida na corte.

Assim, juntamente com a família real vieram diversos cientistas, naturalistas e exploradores que percorreram as mais longínquas distancias pelo interior do país, deixando um importante legado científico e cultural, e conhecendo melhor esse vasto território que ainda era pouco explorado por cientistas europeus e brasileiros, que segundo Gomes (2007) com apoio logístico e financeiro da corte real muitas expedições tiveram um papel importante na implantação das ciências no país e ajudaram a criar um modelo de nação, além de conhecer melhor seus territórios e principalmente demarcar as nossas fronteiras.

No ano de 1810 o metalurgista Wihelm Ludwig von Eschwege foi contratado pela coroa portuguesa para explorações aos territórios, que segundo Augustin (2003) tinha o objetivo de identificar jazidas minerais com potencial exploratório e a criação das bases da indústria siderúrgica e a tentativa de reaquecer as já degastadas minas de ouro e diamantes de Minas Gerais, e com isso, ele que também era geólogo e geógrafo fez a primeira expedição exploratória e científica no Brasil, percorrendo principalmente os estados de Minas Gerais e São Paulo e no ano de 1811 construiu as primeiras fabricas de ferros no país.

Adicionalmente, de acordo com Augustin (2003) como funcionário contratado pela Coroa portuguesa, atuou durante a segunda década do século XIX, principalmente em Minas Gerais. Eschwege retrata um Brasil em transição, pré independência, sobe o governo de Dom João XI, e em um ano de trabalho sua siderúrgica já produzia em escala industrial, e Eschwege pode empreender novas viagens exploratórias que renderam uma vasta obra científica nas áreas de geologia e mineralogia, e a primeira publicação sobre a geologia brasileira o livro intitulado “Pluto Brasilienses” no ano de 1833.

Avançando um pouco mais no tempo, no ano de 1816 chegou ao Brasil um dos mais importantes cientistas que aqui estiveram, Auguste de Saint-Hilaire, francês de 37 anos de idade, nascido na cidade de Orleães, que viveu por aqui durante 6 anos fazendo viagens exploratórias e nos presenteou com um riquíssimo acervo de informações sobre várias regiões do país, e uma vasta pesquisa científica com importantes publicações sobre a flora brasileira, que segundo Eckardt (2009), com tantas terras novas e, pelo menos segundo uma visão eurocêntrica, sem donos, as potências europeias passaram a querer, mais do que nunca, dominar a maior extensão possível destes territórios para aumentar seu poder e suas riquezas através da dominação e exploração destas. E uma das melhores maneiras de se apoderar destas terras era tentar conhecê-las o máximo possível.

Entre 1816 e 1819 Auguste de Saint-Hilaire visitou os estados do Sudeste do Brasil e Goiás na região Centro-Oeste, registrando com um olhar aguçado tudo aquilo que via e conhecia pelo interior do país, nos seus cadernos com os relatos da viagem, conhecendo cada lugar que passava com uma abordagem “pés no chão” que de acordo com Costa Junior (2019) era onde o explorador se coloca aos riscos para fazer a pesquisa in loco, diferentemente da abordagem dos exploradores de gabinete que só recebiam as informações e as interpretavam de acordo com seu conhecimento científico e sem riscos.

Neste contexto, segundo Costa Junior (2019) um naturalista de gabinete pode ser entendido como aquele que recebeu o material de seu trabalho em um museu natural ou em algum tipo de centro de estudos, e se caracterizou por não ter a viagem como parte do seu trabalho. Nota-se que a atuação dos naturalistas de gabinete foi muito comum até a segunda metade do século XVIII, quando o Iluminismo e novas concepções científicas passaram a adotar a viagem como uma parte do trabalho do naturalista.

Assim e ainda de acordo com Costa Junior (2019), Saint-Hilaire no seu terceiro ano no Brasil, e depois de já conhecer alguns trechos de Minas Gerais, em São João Del Rey enveredou em outra rota que desviava do caminho já percorrido denominado de “Estrada Real” em direção a Serra da Canastra (Ainda em Minas Gerais) e de lá seguiu para os sertões de Goiás e, posteriormente desbravou a província de São Paulo – Vale ressaltar que Saint-Hilaire obteve prévia autorização para percorrer todos estes lugares através de uma carta de Don João XI.

Posteriormente, nos anos 1820 e 1821 Saint-Hilaire percorreu e descreveu os estados do Sul do Brasil em campanhas exploratórias que chegaram até o rio Del Plata no Uruguai, onde pode coletar outras amostras e novas informações sobre a flora brasileira, e que de acordo com Costa Junior (2019) lhe rendeu diversas publicações científicas dessa região até então pouco explorada, com muitos destes materiais coletados enviados a Guiana Francesa e depois para a França.

Finalmente, em 1822, seu último ano no Brasil, marcado também pelo ano de independência do país, também encerrou o mais importante ciclo de viagens exploratórias iniciada com a chegada da corte portuguesa para passar a residir aqui, e segundo Costa Junior (2019) Saint-Hilaire percorreu mais uma vez os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro fazendo suas últimas pesquisas em solo brasileiro.

Neste contexto, é correto afirmar que, o rico trabalho de Saint-Hilaire sobre a flora e a cultura brasileira foi conseguido através de sua insistência e curiosidade em se embrenhar por terras virgens e até então pouco exploradas, e segundo Costa Junior (2019) correndo riscos e passando por muitas dificuldades pelos caminhos, que foram amplamente detalhadas nos diários de viagem. E como Saint-Hilaire registrava suas viagens e seus diários de viagem, estes contêm análises de incontáveis plantas brasileiras e principalmente seu uso medicinal, e por onde ele andava procurava saber mais sobre o conhecimento popular dos moradores locais para aprender sobre as plantas utilizadas na medicina e na culinária, e por ter acumulado estes conhecimentos Saint-Hilaire era visto como médico e não um botânico explorador.

De acordo com Eckardt (2009), para a realização dos estudos daquela época, a descrição da paisagem ficava em primeiro plano e havia uma preocupação em descrevê-la da maneira mais fiel e detalhada possível, já que naquela época não havia ainda máquinas fotográficas para ser possível registrar-se uma noção exata dos lugares visitados. O máximo de que os viajantes dispunham eram de desenhistas que lhes desenhavam a paisagem, isto quando eles mesmos não o faziam, estes estudos davam uma maior ênfase na botânica e tiveram como principais publicações as três edições do livro a “Flora Brasiliae Meridionalis”, que também mostraram como era a cultura, os costumes e a sociedade da época de uma forma única, com um teor crítico, riqueza nos detalhes, e que tem uma enorme importância para o Brasil pela ampla coleta de informações científicas e históricas registradas em tão pouco tempo que ao longo de seis anos de pesquisas lhe rendeu um catalogo de mais de 30.000 espécies, sendo 24.000 plantas e 6.000 animais, com mais de 4500 espécies desconhecidas até então.

Anos mais tarde, em 1831, Charles Darwin, o naturalista, geólogo e biólogo mais famoso de todos os viajantes que estiveram em terras brasileiras, visitou o Brasil e registrou em seus diários de viagens e anotações de pesquisas tudo o que observou no trajeto do litoral da América do Sul, rumando depois para as ilhas da Oceania, da Ásia e da África.

Por outro lado, o abade francês Louis Compte, foi o primeiro responsável por realizar os três primeiros registros fotográficos em solo brasileiro no ano de 1840. Essas imagens foram feitas na cidade do Rio de Janeiro e tinha como maior entusiasta da nova tecnologia o rei D. Pedro II, que encomendou o seu equipamento fotográfico e foi um dos principais incentivadores dessa nova arte no país.

É importante dizer que muitas outras missões com viajantes naturalistas foram realizadas por ingleses, alemães, suíços, franceses, norte americanos e canadenses, que fizeram incursões exploratórias e documentais por terras brasileiras e que se encerraram no início dos anos de 1900, com as viagens do engenheiro e militar brasileiro Marechal Candido Rondon, que levou as linhas telegráficas até a divisa da Bolívia e do Peru, demarcando e mapeando as terras do país e limitando de vez nossas fronteiras.

Segundo Kury (2001), a ciência das viagens foi uma forma de apreensão das relações entre ambiente e seres vivos; a profusão de registros produzidas pelos diversos tipos de viajante, uma maneira de tornar a experiência da viagem reprodutível.

Portanto, tivemos três fases distintas de viagens exploratórias no Brasil desde a colonização pelos portugueses. Em um primeiro momento procurava-se conhecer e explorar melhor o novo território. No segundo momento o objetivo era identificar riquezas minerais e industriais. E o último momento consistiu em explorar o território utilizando novas tecnologias e ferramentais ainda não utilizadas além de ilustrar e retratar com imagens as pessoas e paisagens do Brasil naquele período.

7.2. Serra da Canastra

A região da Serra da Canastra fica no sudoeste de Minas Gerais, nos municípios de Capitólio, Delfinópolis, Sacramento, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita, sendo bacia hidrográfica de importantes rios, entre eles o São Francisco que percorre mais de 2.700 km e passa por 5 estados brasileiros até desaguar no Oceano Atlântico. A denominação serra da Canastra está associada a passagem dos bandeirantes por esta região, no século XVII, que associaram a serra a um tipo de arca móvel de formato retangular que levavam em suas tropas (MMA, IBAMA, 2005)

Nesse sentido, e por sua importância mineral e vegetal, no ano de 1972 foi criado o Parque Nacional da Serra da Canastra com a desapropriação de 71.000 hectares, gerando diversos conflitos com os moradores da região e trazendo preservação para a região que já era explorada pelo garimpo de diamantes. A desapropriação das terras para a criação do parque foi um processo conturbado e que acirrou conflitos territoriais (Barbosa, 2007). Diante das perdas dos proprietários de terra e das restrições às atividades agropastoris, o turismo surgiu como uma atividade alternativa, contudo, os problemas de infraestrutura dificultam o turismo na região da serra da Canastra. No período das chuvas, estradas se tornam intransitáveis, o que compromete o deslocamento de turistas e também o escoamento da produção (Barbosa, 2007).

A região está situada no domínio morfoclimático do cerrado com áreas pertencentes às zonas de savana apresentando fitofisionomias de florestas, savanas e principalmente de campos, sendo de fundamental importância na preservação da exuberante fauna e flora da região, que ainda mantém diversas espécies endêmicas e a maior área de campos rupestres do Brasil, mantendo assim importantes e indispensáveis recursos naturais para milhares de pessoas e espécies (MMA, IBAMA, 2005).

A criação do parque não foi importante apenas para a preservação ambiental e das águas, ela se justificou também para a preservação de diversas espécies de animais, muitos deles em perigo de extinção, como o pato mergulhão (Mergus Octusetaceus) que pode ser encontrado em alguns rios da região, onde se desenvolvem diversas ações de preservação da espécie. A região sempre foi habitada por índios de diversas etnias com o predomínio dos caiapós, que dominaram a Canastra por um longo período até a chegada dos primeiros bandeirantes, que vinham em busca de riquezas de todos os tipos. Com o desgaste e escassez das minas de ouro na região central do estado, muitas pessoas escravizadas fugiram para a região da Serra e fundaram importantes quilombos que logo foram dizimados por expedições comandadas pelas autoridades da época, que assumiam a propriedade das terras empreendendo novos negócios e atividades econômicas (MMA, IBAMA, 2005).

[…] A maior parte dos núcleos de povoamento que hoje compõem a rede urbana em torno da Serra da Canastra, embora tenha origem no período setecentista, consolidou-se no século XIX. Essa rede surgiu de uma origem comum, assentada na aniquilação ou expulsão dos índios e quilombolas e na penetração gradativa dos colonos brancos e mestiços, que, devido à crise da mineração nos grandes centros auríferos, buscaram novas terras e atividades econômicas. A princípio, empreendiam atividades de garimpo e pequenas faisqueiras e, após esgotados os recursos auríferos, dedicaram-se à agricultura e especialmente à criação de gado. (MMA, IBAMA, 2005, P. 23)

A região é muito rica também em manifestações culturais e tradicionais como a folia de reis e a congada, na produção de alimentos com grande destaque para o Queijo Canastra, que é bem imaterial tombado pelo IPHAN e recentemente tem conquistado diversos prêmios e medalhas em premiações dos melhores queijos do mundo. A maior parte da Serra é explorada pela agricultura e pecuária, mas nos últimos anos teve um incremento substancial no número de turistas que procuram a região para o ecoturismo, em busca da nascente do São Francisco e dos queijos famosos, além da hospitalidade mineira e das deliciosas refeições caseiras servidas nas pousadas e restaurantes da região (MMA, IBAMA, 2005). A relevância do PNSC está associada à preservação da grande diversidade de fauna e flora do cerrado, de sua beleza cênica e da presença de nascentes de importantes rios, como o São Francisco e o Araguari. Contudo, sua preservação está ameaçada por problemas ambientais e atividades conflitantes, tais como: queimadas frequentes, desenvolvimento de processos erosivos, áreas de mineração e não regularização de extensas áreas. Ainda nos dias presentes, após mais de quarenta anos da criação do parque, existem graves problemas entre a população local e a conservação dessa unidade (MMA, IBAMA, 2005).

CAPÍTULO 02

8. Metodologia

8.1. Pesquisa (Método, técnica e tipo)

Depois de introduzir a temática do projeto traçando os objetivos e as justificativas para a realização do documentário iniciou se a busca pela problemática a ser respondida através da produção audiovisual e do referencial teórico.

O método científico escolhido para a pesquisa de informações busca novos fatos observados para assim interpretar os dados colhidos através de técnicas de descrição com o registro do material audiovisual.

De acordo com Cesário et. al. (2022). “… o pesquisador precisa conhecer bem o método científico, pois é este conjunto padronizado de técnicas que irá construir o conhecimento científico por meio da interpretação de resultados e análise de dados”.

A coleta de dados segue um cronograma curto, e deve se basear em um roteiro de viagem e filmagem, observando vários aspectos descritos por Saint Hilaire e buscando informações qualitativas dos lugares percorridos.

O tipo de pesquisa segundo seus objetivos é descritiva, que segundo Evêncio et. al.(2019) “é direcionada para responder alguma dúvida ou questionamento, como o exemplo, “O que é isto?” Tendo como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Utilizando-se das narrativas baseadas nos diários de viagem do naturalista francês, que foi amplamente estudado e pesquisado para a formatação do planejamento e da estrutura do projeto, e para que a coleta de dados e de informações durante a pesquisa de campo seja o mais rico e completo, descrevendo cada detalhe observado e os comparando com a atualidade.

De acordo com Geertz (2009), “por mais que os antropólogos busquem seus objetivos de investigação além dos muros da academia, eles escrevem seus relatos tendo ao seu redor o mundo dos atris, das bibliotecas, dos quadros-negros e dos seminários. É esse o mundo que produz os antropólogos, que os habilitam a fazer o tipo de trabalho que fazem, e dentro do qual o tipo de trabalho que executam tem de encontrar seu lugar, para ser considerado digno de atenção.”

8.2. Roteiro

8.2.1. Roteiro de documentário

O roteiro é a forma escrita de um projeto audiovisual, seja ele de qual formato for, de qualquer tempo de duração ou espetáculo que irá guiar a produção durante as gravações e edição do material captado em som e vídeo, contando uma história através de diálogos, imagens e outras descrições, antevendo o resultado de uma produção. Ele se divide em três aspectos fundamentais onde o Logos é a palavra, o discurso e a organização verbal do roteiro, sendo o segundo aspecto o Phathos é o drama humano que afeta as pessoas, e o último aspecto é o Ethos, que segundo Comparato (1995) “é aquilo que se quer dizer, a razão pela qual se escreve”. Além dos aspectos acima o roteiro audiovisual deve seguir seis etapas que começam pela ideia ou tema central do projeto, daí depara a criação dos personagens protagonistas ou antagonistas para assim criar um conflito que irá gerar uma ação dramática de como essas personagens vivem, em um tempo dramático dentro de uma unidade dramática contendo as cenas que serão gravadas de acordo com Comparato (1995).

Ainda segundo Comparato (2005), um roteiro de documentário é uma guia de orientação para a produção audiovisual, sendo um conteúdo comprometido com a verdade, normalmente utilizado para pesquisas de campo e outras investigações como é o caso do presente trabalho, sendo bastante modificado ao longo do processo de produção e está intimamente ligado a imagem, devendo ser informativo, claro e emocionante.

De acordo com Comparato (1995), “um bom documentário nunca se acaba, jamais encerra um tema. Mostremos os fatos de um máximo de pontos de vista possíveis e deixemos o expectador as interpretações.” Em um roteiro de documentário as informações pré-indicadas no texto estabelecem uma ordem para as filmagens e entrevistas, elencando os objetos e as justificativas das estratégias de abordagem para cada um dos objetos e aspectos observados, além de sugerir a estrutura da produção. No caso deste projeto além da estrutura utilizada através de um roteiro documental, a história registrada será adaptada do livro Viagem as Nascentes do Rio São Francisco, que nasceu como um diário de viagens escrito em 1821 e foi primeiramente adaptado para o livro e agora será novamente adaptado para um roteiro de filmagem que segundo Field (1995), “um roteiro lida com as exterioridades, com detalhes. Um roteiro é uma história contada em imagens, colocada no contexto da estrutura dramática”.

De acordo com Comparato (1995), “uma adaptação implica certas limitações criativas, uma vez que o roteirista tem de levar em conta o conteúdo da obra, isto é, os ambientes, as personagens, as intenções, etc”.

O argumento, que é a base do roteiro documental é escrito durante a pesquisa, mostrando uma ideia inicial do que se quer com a produção e relevância do que será buscado e documentado durante as gravações, o argumento será bastante modificado ao longo do processo, mas serve como uma guia de fundamental importância para a equipe.

8.2.2. Visão original (ARGUMENTO)

Realização de um vídeo documentário sobre a região do Parque Nacional da Serra da Canastra (PARNA Serra da Canastra), situado no sudoeste de Minas Gerais, percorrendo dois importantes trechos que foram descritos no livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco” do naturalista e botânico francês Auguste de Saint-Hilaire no ano de 1821, em sua passagem pela região que foi muito bem detalhada com informações textuais sobre as pessoas e paisagens.

Contudo, foram escolhidos dois trechos do capítulo X onde o autor narra o caminho até chegar na majestosa cacheira da Casca D’anta e na sequência sobe a serra para conhecer o Chapadão da Zagaia e suas belezas peculiares, que foram ilustrados através de imagens subjetivas com a câmera substituindo o olhar do autor, assim acrescentando informações visuais aos trechos que serão narrados em estúdio e acrescentados na edição.

[…] Em toda sua extensão do seu cume a serra apresenta um vasto planalto irregular, que os habitantes da serra chamam de Chapadão. Dali pude descortinar a mais vasta extensão de terras que meus olhos já viram desde que nasci. Num lado a Serra de Pium-i limitava o horizonte, mas em todo o resto unicamente a fraqueza dos meus olhos restringia o meu campo de visão. (SAINT-HILAIRE, 2004, p. 107)

O contraponto buscado é o da diferenciação de uma vida ditada por um ritmo natural, mais explicitamente ‘rural’, observados pelo naturalista Auguste de Saint Hilaire no livro e o ritmo da vida urbana, com a aceleração própria de uma marcação atenta a segundos, minutos etc. Pretende-se, ainda, discutir a relação com a água e a natureza, suscitando a atenção para as formas de apropriação – turísticas, comerciais, tradicionais – de um cenário paradisíaco, rico em nascentes e belezas naturais, berço de um dos mais importantes rios do país, o Rio São Francisco.

8.2.3. Conceito do projeto de documentário

Durante as filmagens do documentário levou-se em conta o fato de ser uma equipe urbana. A visão foi expressa em imagens subjetivas com câmera na mão, e os objetos abordados foram captados em registros de eventos autônomos, não produzidos com preparação prévia, quando necessários, provocados a fim de extrair dos objetos o ritmo desejado para a dinâmica do filme, revelando as particularidades dessa questão.

A ideia foi a de construir imagens capazes de transmitir o ritmo de vida através de planos e movimentos de câmera lentos e suaves assim como a passagem natural do tempo, ou seja, a forma com que a natureza dita o ritmo.

8.2.4. Eleição e descrição dos objetos

  • A água (belezas naturais e nascentes da região, estímulo ao turismo urbanizado que pretende desacelerar o ritmo de vida);
  • As plantas (registro de espécies da Mata atlântica e Cerrado);

8.2.5. Eleição e justificativa para as estratégias de abordagem

  • Da água

Imagens contemplativas das belezas naturais da região para mostrar a importância do Rio São Francisco (nascente em São Roque de Minas).

  • Das plantas

Planos de detalhe de diversas espécies buscando elementos como as texturas, cores, formas e padrões.

8.2.6. Sugestão de estrutura

A estrutura desta obra foi dividida em três partes obedecendo a uma ordem dramática em três atos. O primeiro com a abertura e introdução sobre os objetos tratados pelo vídeo, criando uma expectativa sobre o que se quer dizer no documentário, com uma linguagem dinâmica ritmada pela visão da equipe de produção através de registros de eventos autônomos independente do controle da produção do vídeo, sendo apenas a visão da equipe sobre os objetos e eventos presenciados. Neste primeiro ato trabalhamos com imagens subjetivas com a câmera na mão a fim de expressar este ritmo acelerado na busca de informações sobre os objetos relacionados.

O segundo ato é o desenvolvimento da pesquisa documental. Neste momento registramos os eventos integrados as necessidades da produção no que se diz respeito à estética e plástica da obra com tomadas estendidas da região contemplando suas belezas naturais. Foi utilizado o plano sequência para trabalhar o lado bucólico da vida rural, a fim de transmitir a sensação de tranquilidade, leveza e harmonia com a natureza. Locução sobre imagens dos objetos eleitos através dos textos do naturalista francês.

No terceiro ato foi feita uma análise das expectativas da equipe de produção sobre os objetos eleitos para pesquisa documental durante a pré-produção e as informações encontradas durante o desenvolvimento. Fazer um convite ao expectador que habita o mundo urbanizado a refletir sobre o seu ritmo de vida geralmente imposto pelo relógio e pela indústria e o ritmo dos objetos e personagens retratados, contrapondo as sensações, valores e sentimentos da vida rural com a vida urbana.

Entre a locução dos textos em Voice-Over (voz sobreposta de um narrador sobre uma cena gravada) foi utilizada a sinfonia número nove de Ludwig van Beethoven, que foi produzida no mesmo período dos textos de Saint-Hilaire e por essa razão a escolha dos ritmos e dos sentimentos envoltos a tão importante obra musical.

8.3. Produção

8.3.1. Produção audiovisual

O processo de produção de uma obra audiovisual é muito variado e depende da finalidade, do conteúdo, estilo, tempo e orçamento disponíveis para o projeto, e é dividido pelas etapas de pré-produção, produção e pós-produção, seguindo os mesmos moldes tanto para a ficção quanto para uma obra documental de acordo com Watts (1990).

Na pré-produção o tema da obra foi escolhido e foram feitas as pesquisas iniciais apresentadas no capítulo anterior, com o planejamento do projeto, o orçamento, o cronograma, os objetivos e as justificativas para a produção, além da contratação da equipe e compra de equipamentos.

Neste documentário, a etapa de pré-produção contou com a escolha do capítulo X do livro Viagem as Nascentes do Rio São Francisco, de Auguste de Saint-Hilaire, com o detalhamento das informações obtidas nesses capítulos e a escolha dos trechos que serão narrados em Voice Over (voz sobreposta de um narrador sobre uma cena gravada). E as informações dos textos foram separadas para observação em aspectos naturais como a botânica e as plantas, os animais, a água e principalmente as paisagens encontradas pelo caminho, os seus sentimentos ao percorrer o caminho conhecendo pessoas e lugares, foi o aspecto mais importante observado nos textos, com a maior profundidade nas palavras e que serão amplamente utilizados ao longo do processo de gravação e edição do material captado.

Segundo Aumont (1993), “a noção de emoção, que na linguagem corrente é muitas vezes tomada como equivalente de “sentimento” ou de “paixão”, deve ser deles estritamente diferenciada: estes dois últimos designam “secundarizações” do afeto, que já o engajam em uma série de representações – ao passo que a emoção guarda um caráter mais “primário” e costuma ser vivida como desprovida de significação.”

Portanto, o aspecto emocional conduz todo o ritmo da narrativa e mostra como a relação entre o homem e a natureza trás sentimentos de paz e felicidade, já observado e narrado há 200 anos por Saint-Hilaire.

Com todo esse planejamento prévio das etapas e o roteiro estruturado, iniciou se a etapa de produção para as gravações, onde foi colocado em prática tudo aquilo que foi pesquisado, com a utilização dos equipamentos e equipe técnica disponíveis para a captação de sons e imagens, que foram utilizados em material bruto para a montagem na etapa seguinte.

As locações escolhidas para as gravações estão no caminho percorrido por Saint- Hilaire, consistindo nos pontos de parada descrito por ele no diário de viagem, locais estes que foram previamente escolhidos pela equipe na etapa de pré-produção quando da primeira viagem de pesquisa e gravações.

Na etapa de pós-produção todo material captado em fotografias, sons e imagens foi reunido para o processo de organização e arquivamento, antes mesmo de iniciar a edição, para que torne o trabalho de edição e montagem mais fácil, sempre seguindo o roteiro e os objetivos do projeto.

8.3.2. Aspectos Observados

Como forma de comparar épocas distintas e obter as respostas para se chegar ao objetivo deste trabalho de pesquisa foram escolhidos aspectos naturais observados por Saint- Hilaire e relatados em seu diário de viagem, com uma rica gama de informações sobre sua área de conhecimento em botânica, plantas, paisagens e animais, assim como seus sentimentos e emoções em cada trecho que percorria.

Aspectos Naturais:

  • Botânica e as plantas;
  • Animais selvagens;
  • Paisagens naturais e lugares;
  • A água e as nascentes;

8.3.3. Equipe Técnica e equipamentos

Com recursos financeiros e técnicos limitados para a pesquisa documental, todas as etapas fundamentais do presente estudo e realização do documentário foram realizadas por uma única pessoa, com algumas colaborações ao longo do processo com orientação e supervisão de professores da Universidade do estado de Minas Gerais e de outras Universidades, e a mesma qualidade pela ampla documentação de informações e de paisagens, e as etapas divididas em pesquisa, produção, divulgação, roteiro, direção, edição e exibição.

8.3.4. Cronograma

ETAPADETALHAMENTODATA INÍCIODATA FINAL




01PESQUISA E PRÉ-PRODUÇÃODezembro 2022Maio 2023
02APROVAÇÃO CEPJaneiro 2023Maio 2023
03PRODUÇÃOMaio 2023Setembro 2023
04GRAVAÇÕES E COLETA DE DADOSJulho 2023Julho 2023
05EDIÇÃO E PÓS-PRODUÇÃOSetembro 2023Setembro 2023
06ANÁLISE DO MATERIAL E RESULTADOSSetembro 2023Setembro 2023
07DEFESAOutubro 2023Outubro 2023

8.4. Gravações e Edição

Uma produção audiovisual nada mais é do que a junção de elementos visuais com os sonoros que foram gravados separados, seguindo um roteiro guia que conduziu todas as cenas gravadas, para se obter uma melhor qualidade do material captado que depois foi trabalhado na edição e finalização.

Para se obter as melhores imagens e sons durante a etapa de gravação, as etapas anteriores são fundamentais e devem estar muito bem-feitas, com informações suficientes sobre o tema da pesquisa, um roteiro ou argumento repleto de informações sobre o tipo de produção e as sugestões de estrutura.

Segundo Aumont (1993), em todos os seus modos de relação com o real e suas funções, a imagem procede, no conjunto, da esfera do simbólico (domínio das produções socializadas, utilizáveis em virtude das convenções que regem as relações interindividuais).

Em adição, os equipamentos foram comprados com recursos próprios previamente e testados antes das gravações do material audiovisual para que não ocorressem imprevistos ou problemas na hora de filmar.

Algumas modificações foram feitas no roteiro durante a etapa de gravações, pois este documento serve justamente para que se tenha uma direção mais clara ao longo da produção, e este mesmo documento serviu como base também na etapa de edição e montagem.

Por fim, as linguagens escolhidas foram descritas em uma planilha de decupagem, descrição mais detalhada com técnicas de gravação, onde foram acrescentados ao texto literário do roteiro e argumento, as informações sobre composição fotográfica, luz e iluminação, captação de som, movimentos de câmera etc.

8.4.1. Técnicas de gravação e fotografia

Para a condução do documentário foram utilizados um celular Iphone 11, um tripé de mesa e alguns acessórios para captação de imagens (Luzes de Led frias) com resolução em Full HD e um microfone direcional externo para uma melhor captação dos sons e paisagens sonoras dos ambientes percorridos.

Já as técnicas que foram escolhidas para as gravações do documentário percorrem os enquadramentos mais abertos como os planos gerais, das paisagens contemplativas de natureza, assim como os planos de detalhes de plantas e objetos que foram observados ao longo da pesquisa.

A maioria das imagens captadas utilizou a técnica de visão subjetiva com a câmera na mão, que é quando a câmera assume e se parece com o olhar do personagem, para mostrar em detalhes todos os aspectos buscados na pesquisa.

Muitas imagens foram captadas com a câmera no tripé, ou em movimentos de câmera suaves e lentos mostrando o ritmo do lugar, planos de sequência prolongados e contemplativos com a captação da paisagem sonora encontrada em cada local.

De acordo com Aumont, (1993) “a imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como uma vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade); mas a imagem é também um meio de comunicação e de representação do mundo, que tem seu lugar em todas as sociedades humanas”.

A grande questão técnica das gravações é a parte composicional, que inicia com a escolha do formato horizontal do quadro para as imagens do documentário, utilizada a regra dos terços (quando o assunto e descentralizado) pela sua simplicidade e força. Neste sentido a utilização de uma câmera fotográfica profissional proporcionou imagens em still (Câmera parada) com um maior desfoque e profundidade de campo na utilização de lentes f1.8 de diafragma, e que segundo Aronovich 2004, “manter uma razoável profundidade de campo ao longo de todo o filme – mesmo que pareça banal, supérfluo ou muito rigoroso, – é algo importante. A imagem com pouca ou nenhuma profundidade de campo – mesmo que isto seja uma escolha muito pessoal, resultará menos prazerosa para o olho.”

A posição da câmera está sempre no ponto de vista do diretor e pesquisador que é de um pouco mais de 1,80 metros para imagens contemplativas e das paisagens, e em alguns casos a câmera será colocada no solo para utilização da profundidade de campo e das perspectivas.

Segundo Aumont (1993), “a perspectiva é uma transformação geométrica, que consiste em projetar o espaço tridimensional sobre o espaço bidimensional (uma superfície plana) segundo certas regras, e de modo a transmitir, na projeção, uma boa informação sobre o espaço projetado, de maneira ideal, uma projeção perspectiva deve permitir que se reconstituam mentalmente os volumes projetados e a sua disposição no espaço.”

Outras técnicas de composição que foram buscadas e incorporadas as gravações são as molduras naturais e as criadas pelo homem, os reflexos das águas, as cores e os tons da natureza, os vários padrões, linhas e texturas encontradas ao longo do caminho.

Ainda de acordo com Aumont (1993), uma ideia difundida e sempre reforçada por análises de quadros clássicos pretende que a composição seja antes de tudo uma questão de divisão, geometricamente harmoniosa, da superfície da tela. A composição seria a arte das proporções. Neste sentido, para imagens contemplativas das águas foi utilizada uma câmera Gopro, para tomadas subaquáticas por conter uma caixa estanque que possibilita filmar sem que haja interferência das águas, porém a câmera tem uma distância focal de 10mm o que ocasiona um enquadramento muito aberto e angular, diferente dos demais tipos de lentes que foram utilizados pelas câmeras do celular e fotográfica.

Para Aumont (1993), o tamanho da imagem está, portanto, entre os elementos fundamentais que determinam e especificam a relação que o espectador vai poder estabelecer entre seu próprio espaço e o espaço plástico da imagem. Mais amplamente, a relação espacial do espectador com a imagem é fundamental.

Em adição, de acordo com Aranovich (2004), “tudo isto perturba a possibilidade de uma boa continuidade de imagem. Nesse caso, poderia ser interessante buscar um efeito pouco singular, saltando por exemplo, de uma 14mm para uma 300mm. É inútil acrescentar que se deve empregar todos os instrumentos ao alcance da mão, a fim de realizar uma obra de arte.”

8.4.2. Montagem audiovisual

O processo de montagem começou com a separação em pastas dos materiais em áudio e vídeo, colocando em uma delas tudo que foi gravado no primeiro trecho escolhido (Cachoeira da Casca-D’anta) e na outra pasta os materiais gravados no segundo trecho (Chapadão da Zagaia). Em cada uma destas pastas o material gravado foi separado em subpastas que dividiram o material em câmera subjetiva, câmera parada, panorâmicas, detalhes e imagens de um ator andando na frente das câmeras simulando os passos do autor do livro no mesmo ambiente relatado por ele. Em uma outra pasta foram separados todos os trechos do livro gravados em off (Estúdio), que foram utilizados na produção audiovisual com a técnica de Voice Over (Locução sobre imagens) como base sonora da montagem do projeto, seguindo o roteiro de gravações e o texto do capítulo X de Saint-Hilaire.

Compondo ainda a parte sonora, utilizou-se a sinfonia número nove de Ludwig van Beethoven, que foi criada no mesmo período da viagem de Saint-Hilaire por volta de 1820 e pode transmitir vários sentimentos e ritmos a produção audiovisual através de tão importante obra clássica.

Depois de organizar e separar todo o material em áudio e vídeo foi iniciado o processo de montagem do filme no software Adobe Premiere Pro 2022, primeiramente criando um projeto para execução das ações e na sequência inseridas nas camadas de áudio com a música escolhida como fundo e os trechos do texto gravados em estúdio em uma segunda pista sonora.

Após realizar essas ações de som foram escolhidos e inseridos os planos filmados em vídeo que cobriram e ilustraram o texto narrado com as imagens do percurso explorado por Saint-Hilaire, buscando os detalhes e o olhar do explorador francês, segundo Aumont (1993), “o filme, é também a reunião de vários desses blocos (os planos), “em certas condições de ordem e duração”: expressão em que se reconhece a definição de montagem e que recobre uma representação do tempo que é, ela, muito mais implícita.”

Os principais planos utilizados na montagem são os de câmera subjetiva em movimento, que são mais alongados que os outros planos utilizados com a câmera parada, nos detalhes das plantas e nas paisagens da Serra da Canastra, diferenciando o estilo de filmagem, o enquadramento, a duração de cada plano dando assim um maior dinamismo e ritmo as sequências gravadas.

Ainda de acordo com Aumont (1993), um filme é também “um documentário sobre sua própria filmagem”: isto é, qualquer que seja a história fictícia que conte, o filme, ao juntar pedaços do que foi gravado na filmagem, fornece uma representação, uma imagem temporalmente estranha às vezes – dessa filmagem.

9. CONCLUSÃO

Ao finalizar o vídeo documentário percebe-se a importância em realizar tais registros audiovisuais de dois trechos de uma das mais relevantes regiões do Brasil, documentando os sons e imagens que foram percebidos e relatados por Auguste de Saint- Hilaire na sua passagem pela região no ano de 1821, no livro “Viagem as nascentes do rio São Francisco”.

Conclui-se também que a utilização de câmera subjetiva aumentou a percepção dos sentidos se somando ao texto narrado em off que juntos formaram a visão e os pensamentos do explorador francês aproximando o expectador da produção audiovisual e do autor para assim mostrar as raríssimas belezas naturais da região.

Com a finalização do documentário e de todas suas etapas, o objetivo geral do presente estudo foi atingido, visto que consistia na produção de um documentário audiovisual. Também foram cumpridos todos os objetivos específicos onde através deles foi mostrada a importância das pesquisas de Saint-Hilaire realizadas no Brasil abordando a fauna e a flora da região da Serra da Canastra.

Outros objetivos específicos alcançados foram o de mostrar os efeitos da ação do homem na natureza através das intervenções realizadas no caminho, e percorrer os mesmos trechos do explorador francês filmando e ilustrando aquilo que ele relatou nos textos, ações estas que transformaram a paisagem vista há 200 anos em um espaço para a recepção dos muitos turistas que visitam a região todos os dias e assim como Saint-Hilaire, querem ver as belezas da Serra da Canastra com os próprios olhos.

Vale ressaltar que a importância da água e das nascentes não foi diretamente abordada nos textos, mas pode ser percebida nas muitas imagens registradas e colocadas na produção audiovisual, não sendo um objetivo específico totalmente alcançado.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Orientador: Dr. Hipólito Ferreira Paulino Neto

Coorientador: Me. Jean Carllo de Souza