PAPILOMAVÍRUS HUMANO PAPEL DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10023700


Anne Carolina Pereira De Araújo¹
Istefany Martins De Carvalho²
Rafaella De Oliveira Fernandes³
Andre Di Carlo Araújo Duarte²**


RESUMO

O papilomavírus humano (HPV) é a infecção sexualmente transmissível (IST) mais comum. Muitas pessoas com HPV não desenvolvem nenhum sintoma, mas ainda podem infectar outros indivíduos pelo contato sexual. Este trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória – revisão bibliográfica – que tem por objetivo abordar sobre a atuação do enfermeiro na atenção básica, frente à prevenção do HPV. Destina-se a disseminar informações sobre a importância da atuação deste profissional para a sociedade. Por metodologia, adotou-se pesquisas bibliográficas de autores que abordam saúde coletiva, doenças sexualmente transmissíveis, dentre outros temas pertinentes. As buscas foram realizadas pelos sites Scielo, BVS, Pubmed e Google Acadêmico. O período de pesquisa não se limitou no tempo, visando alcançar o máximo de dados possíveis. Espera-se que este trabalho tenha por resultado a conscientização da importância dos profissionais enfermeiros que atuam na atenção básica, demonstrando sua relevância na prevenção desta patologia.

Palavras-chave: Papilomavírus Humano 31. Papillomavirus Humano. Infecções por Papillomavirus. Testes de DNA para Papilomavírus Humano. Displasia do Colo do Útero.

ABSTRACT

Human papillomavirus (HPV) is the most common sexually transmitted infection (STD). Many people with HPV do not develop any symptoms, but they can still infect others through sexual contact. This work is an exploratory research – bibliographic review – which aims to address the role of nurses in primary care, in relation to the prevention of HPV. It is intended to disseminate information about the importance of this professional’s work for society. By methodology, we adopted bibliographical research of authors who address public health, sexually transmitted diseases, among other relevant topics. The searches were carried out using the Scielo, BVS, Pubmed and Google Scholar websites. The research period was not limited in time, aiming to reach as much data as possible. It is hoped that this work will result in awareness of the importance of professional nurses who work in primary care, demonstrating their relevance in the prevention of this pathology.

Keywords: Human Papillomavirus 31. Human Papillomavirus. Papillomavirus infections. DNA testing for Human Papillomavirus. Cervical Dysplasia.

1. INTRODUÇÃO

Em princípio, destaca-se que, conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA 2015), o HPV é a sigla em inglês para papilomavírus humano. São vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas podendo causar verrugas ou lesões precursoras de câncer. Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV. Cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital masculino e feminino.

Este vírus é uma das enfermidades que mais atingem o grupo feminino, sobretudo em seu período reprodutivo. Não obstante haja outras formas de contrair o vírus HPV, a forma predominante é a sexual. Ela é dada pelo contato pele a pele, seja por via genital, seja por via oral e até manual-genital. Segundo INCA, 2022,o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal (INCA, 2022). Constata-se, portanto, que a transmissão se dá pelo contato direto com a região das lesões. Ainda, nem sempre as lesões são visíveis, como nas mulheres, que podem aparecer na região uterina. Além dessas formas, o contágio pode se dar no parto. Ressalta-se que ainda não há comprovação de contágio por contato indireto, como contato de objetos utilizados,como vaso sanitário, piscinas e roupas compartilhadas.

Ademais, há uma atenção especial ao público jovem, no que tange ao contágio. É nesse período que ocorrem mudanças marcantes nas diversas dimensões da vida humana: física, psíquica e social. A preocupação do Governo Federal com esse público levou à criação de programas de atenção à saúde e à educação. Os dados indicam que o acesso a programas de rastreio e prevenção do câncer do colo do útero é necessário para reduzir a mortalidade, é por isso que a condição continua sendo uma causa significativa de morte no Brasil (FRUMOVITZ, 2021).

Ante o exposto, ressalta-se a importância da conscientização de todos os envolvidos no tratamento da saúde, buscando aumentar a educação sobre saúde sexual e sobre a importância da vacina para prevenção. Este trabalho, portanto, tem por problema de pesquisa: Qual o papel do enfermeiro, na atenção básica, na prevenção do HPV? Ele tem por objetivo geral demonstrar a relevância do profissional enfermeiro que atua na atenção básica, no que tange às medidas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como o HPV.

Por fim, como objetivos específicos deste artigo destacam-se: retratar sobre aspectos gerais da doença; levantar dados sobre cobertura vacinal contra papilomavírus humanos em adolescentes; atuação do enfermeiro frente aos cuidados de prevenção da doença; e apresentar as estratégias de combate ao vírus na saúde básica. Além disso, o trabalho se justifica pela relevância de seu tema, visto que contribuirá para informar o público acadêmico sobre a importância de sua atuação no que tange à atenção básica de saúde. Atuar na porta de entrada na saúde é uma das formas de transformar a sociedade em que se está inserido. Disseminar informações de cuidados com a saúde coletiva é contribuir para uma vida futura com maior qualidade de vida.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho tem caráter de revisão bibliográfica descritiva, analítica e retrospectiva, abordando a temática sobre atuação do enfermeiro na assistência primária frente à prevenção do HPV. Para este fim, utilizou-se a revisão narrativa de literatura, o qual tem por fim analisar os resultados de pesquisas científicas.

Como parte fundamental da pesquisa, a metodologia visa responder ao problema formulado e atingir os objetivos do estudo de forma eficaz, com o mínimo possível de interferência da subjetividade do pesquisador (SELLTIZ et al., 1965), referindo-se às regras da ciência para disciplinar os trabalhos, bem como para oferecer diretrizes sobre os procedimentos a serem adotados.

Inicialmente, foi elaborada a questão norteadora: Qual o papel do enfermeiro, na atenção básica, na prevenção do HPV? A partir dela, buscou-se identificar as competências do enfermeiro que atua na atenção primária ante às ações de prevenção do HPV. As pesquisas foram realizadas entre julho e setembro de 2023.

QUADRO 1: Estratégias de busca para as bases com Descritores da Saúde

Base de dadosDescritoresArtigos encontrados
LILACS“Papilomavírus Humano” OR “Infecções por Papilomavírus”116
BVS“Papilomavírus Humanos” OR “Displasia do Colo do Útero”183
SCIELO“Testes de DNA para Papilomavírus Humano OR “Displasia do Colo do Útero”
1

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Por fim, definiu-se os critérios de busca na literatura, como os de inclusão dos artigos a serem abordados: artigos em português, disponíveis na íntegra (texto completo), publicados nos últimos cinco anos (2018 a 2023) e que abordassem sobre aspectos gerais da doença, prevenção e cuidados da enfermagem. Os critérios de exclusão foram: artigos publicados fora do recorte temporal, em inglês; editoriais e assuntos que não abordaram a temática nos aspectos almejados.

3. RESULTADOS/DISCUSSÃO

Após quantificar os materiais sobre o tema, foram encontrados 300 artigos, dos quais, após a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados 12 deles, que mais se relacionavam com as temáticas pesquisadas; feita leitura minuciosa destes, frente ao objetivo desta revisão integrativa, foram selecionados 06 artigos. Seguem expostos no Quadro 1, com panorama geral.

Quadro 1: – Artigos relacionados às temáticas pesquisadas.

AUTORTÍTULOREVISTARESULTADOCONCLUSÃO
MACHADO, Ana Luiza Linhares Beserra et al.Conhecimentos de acadêmicos de enfermagem sobre a infecção pelo papilomavírus humano.Nursing (São Paulo), v. 26, n. 300, p. 9653-9660, 2023.O estudo concluiu que, entre os acadêmicos entrevistados, o conhecimento acerca do tema prevaleceu entre as mulheres. Além disso, demonstrou que elas sabiam do meio principal de contágio: o contato.Os acadêmicos demonstraram conhecimento sobre o HPV, sua transmissibilidade e sua relação direta com o câncer cervical, mas, ainda assim, desconheciam a finalidade do exame citopatológico para diagnóstico da doença.
CARVALHO, Ayla Maria Calixto de et al.Adesão à vacina HPV entre os adolescentes: revisão integrativa.Texto & Contexto-Enfermagem, v. 28, 2019.Alguns fatores foram considerados para adesão à vacina, como: conhecimento sobre a infecção e o risco de desenvolver o câncer, a comunicação entre pais e filhos, entre outros.Necessidade de aprimorar as estratégias de conscientização da vacinação.
REBOUÇAS, Arlan Maia et al.
Impacto da imunização contra o papilomavírus humano na prevenção do câncer do colo do útero: uma revisão integrativa.Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 27, n. 6, p. 2895-2906, 2023.Constatar a correlação da vacinação com o combate ao câncer do colo de útero.Há evidências suficientes que ligam a vacinação contra o HPV à prevenção do câncer do colo do útero. Contudo, apesar do seu papel fundamental, a adesão à vacinação permanece muito baixa.
SILVA, Gulnar Azevedo et al.Avaliação das ações de controle do câncer de colo do útero no Brasil e regiões a partir dos dados registrados no Sistema Único de Saúde.Cadernos de Saúde Pública, v. 38, p. e00041722, 2022.Realizar o levantamento da realização do exame de colo do útero entre as mulheres na faixa etária de 25 e 64 anos.Não se tem atingido o controle da doença em virtude dos métodos de rastreamento realizados no país.
VIEIRA, Elidiane Andrade et al.Atuação do enfermeiro na detecção precoce do câncer de colo uterino: revisão integrativa.Nursing (Säo Paulo), p. 7272-7281, 2022.Destaque da atuação do enfermeiro frente à prevenção do HPV, como detecção precoce, incentivo à adesão de realização de consulta ginecológica e do exame preventivo.O enfermeiro tem função primordial em todo o processo de prevenção do câncer de colo uterino, devendo prestar assistência integral e humanizada.
DANTAS¹, Paula Viviany Jales et al.
Conhecimento das mulheres e fatores da não adesão acerca do exame papanicolau.

Rev. enferm. UFPE on line ; 12(3): 684-691, mar. 2018.
Embora as mulheres saibam sobre o exame, nem todas conhecem sua importância para a prevenção de doenças, como o HPV.Muitas mulheres não realizam o exame de papanicolau por constrangimento, mesmo sabendo de sua importância. Também constatou que a enfermagem pode contribuir positivamente nessa circunstância.

Fonte: Autoras, 2023.

Pela tabela acima, percebe-se que os autores, de forma geral, compreendem a necessidade de capacitação do enfermeiro quanto ao significado e finalidade do exame citopatológico. Destaca-se também que as mulheres, embora saibam da importância do exame, apresentam-se constrangidas para realizá-lo. Adicionalmente, concluiu-se que a enfermagem pode contribuir, desconstruindo tabus, bem como orientando sobre a importância do exame e sua indispensabilidade para a saúde coletiva. Ademais, a enfermagem pode ter relações mais próximas junto à comunidade, aumentando o nível de consultas, orientações quanto aos métodos preventivos, entre outros. Tudo isso contribui para elevar a adesão ao exame preventivo.

Para tanto, os autores apontam ainda que medidas para fortalecer as estratégias dos planos nacionais de imunização são essenciais para alcançar impacto coletivo na prevenção de doenças. Além disso, a qualidade dos serviços médicos deve ser avaliada em termos de continuidade e adequação dos serviços, aceitabilidade, eficácia, segurança e respeito pelos direitos dos utilizadores.

Segundo os autores Machado et al., o enfermeiro é peça fundamental no combate ao CCU, pois é responsável por campanhas de conscientização, consultas, solicitação de exames de rotina, aconselhamento, visitas domiciliares e até orientação sobre uso de anticoncepcionais. Num estudo realizado com vários estudantes de enfermagem, os autores identificaram diversas lacunas de conhecimento entre os profissionais, incluindo: a finalidade da citopatologia, fatores de risco para infecção por HPV, questões de vacinação, como número de vacinações, riscos e benefícios, etc. Necessita, portanto, de capacitação e reforço da correlação entre o exame citopatológico e a prevenção do câncer do colo do útero. Ademais, constataram que, pela enfermagem ser formada, desde seus primórdios, por pessoas do sexo feminio, há aumento dessas informações no grupo feminino, em detrimento do grupo masculo.

De acordo com a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC), o câncer do colo do útero (CCU) mata 200 mil mulheres em todo o mundo todos os anos. E mais de 80% das mortes ocorrem em países de baixo e médio rendimento. Com base nesse cenário, o Ministério da Saúde adverte sobre a importância da vacinação contra o vírus, com o objetivo de reduzir o número de mortes por doenças controláveis ​​em todo o mundo. Se a vacinação começar após os 15 anos ou se a pessoa for imunocomprometida, são recomendadas três doses para completar, eficazmente, o esquema vacinal. As vacinas proporcionam imunogenicidade e eficácia na prevenção do câncer do colo do útero, reduzindo o risco de infecção pelo HPV (RAHANGDALE et al., 2022), sendo considerada suficiente, contra o HPV, uma cobertura vacinal de pelo menos 90% (OMS, 2020).

Imagem 1: Vacinação no Brasil e a relação com o câncer do colo do útero.

Fonte: Hospitais Brasil, 2020.

Para Carvalho, Ayla Maria Calixto de et al, após levantarem dados sobre cobertura vacinal entre os jovens, identificaram que a adesão à vacinação está associada ao índice de informações desses jovens. Fatores como, conhecimento quanto ao risco de infecção pelo vírus; conhecimento sobre a vacina e seus benefícios; a prevenção do câncer de colo de útero e de verrugas genitais; vida sexual ativa; e comunicação entre pais e filhos foram preponderantes. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a vacinação tenha início aos nove anos, podendo ser aos 14 anos também. Preferencialmente, antes de terem vida sexual ativa, embora não haja relação da atividade sexual com a eficácia da vacina.

A vacinação contra o HPV antes do início da vida sexual e a realização de exame preventivo (Papanicolaou ou citopatológico), que pode detectar as lesões precursoras, é a maneira mais eficaz das mulheres se prevenirem contra o câncer do colo do útero. Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas é possível prevenir a doença em 100% dos casos (INCA, 2022). Isso corrobora com a ideia de Carvalho et al, sobre a fase ideal de se iniciar a cobertura vacinal, além do fator conhecimento pelo público jovem. Para essa prevenção, as vacinas conferem proteção contra os HPVs de alto risco (16 e 18) os quais são responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo do útero. Por sua vez, as vacinas quadrivalente e nonavalente protegem contra os HPVs de baixo risco (6 e 11), associados a 90% dos casos de condilomatose (verrugas) anogenitais. Já a vacina nonavalente confere proteção contra outros tipos de HPV de alto risco: 31, 33, 45, 52 e 58, relacionados a aproximadamente 20% dos casos de câncer do colo do útero (INCA, 2022).

Imagem 2: Alguns tipos de HPV.

Fonte: Unifesp, 2022.

Em 2014, o PNI incorporou a vacina contra o HPV ao calendário nacional de vacinação com o objetivo de prevenir o câncer de colo do útero associado à infecção pelo vírus. Trata-se de uma vacina segura e já aprovada em 133 países. Nessa análise, Rebouças et al, fizeram uma busca na literatura com o fim de identificar a relação entre a vacinação contra o HPV e a prevenção do câncer do colo uterino. Com base nesse cenário, observou-se que a infecção persistente com um tipo de HPV de alto risco está fortemente associada à progressão para o câncer cérvico-uterino. Constatou-se que a imunização reduz, significativamente, a incidência de neoplasias. Além disso, evidenciou-se que a vacina é eficaz na prevenção não apenas do câncer cervical, mas também dos cânceres de pênis, anal, orofaríngeo e da infecção pelo vírus em si.

Segundo Vaccarella S, 2013, o rastreamento coordenado e sistematizado, baseado nos exames preventivos, sobretudo no Papanicolau, em diversos países desenvolvidos, há uma queda expressiva da mortalidade e da incidência do câncer do colo do útero. Paralelamente, SILVA, Gulnar Azevedo et al. demonstrou que um rastreamento, assim como ocorreu em países desenvolvidos, pode contribuir para o controle e acompanhamento da população que não realiza exames periódicos. Além disso, no Brasil, seria possível a detecção da doença em estágio inicial. Conforme relatado por Teixeira et al., a organização do rastreamento do câncer do colo do útero usando testes de DNA-HPV resultaria em impacto imediato na detecção de casos em estágio inicial.

Em conformidade com o contexto da atenção primária, sobretudo no aspecto de Infecção Sexualmente Transmissível (IST), ressalta-se que a enfermagem tem papel essencial na prevenção. Corroborando, Vieira E, et al. demonstrou em seu estudo, que a ação do enfermeiro, ante o processo doença-tratamento do CCU é indispensável. Dentre as atribuições do enfermeiro nesse sentido, cita-se: educação em saúde, incentivo ao uso de preservativo, vacinação, realização de consulta de enfermagem, além do estímulo à realização do exame Papanicolau. Por meio do estudo, restou evidente que o enfermeiro tem papel principal na linha de frente com o indivíduo. Assim, o enfermeiro é protagonista no processo não apenas no diagnóstico, mas também durante o tratamento.

O enfermeiro, na educação em saúde, pode valer-se de sua adjacência com a população para estreitar a relação e contribuir para adesão às consultas e cuidados com a saúde. Por meio da adesão à consulta de enfermagem, é possível esclarecer dúvidas, erradicar tabus e favorecer a mudança de comportamento. Ademais, outra maneira do profissional de enfermagem usar de sua prerrogativa é incentivando e orientando sobre o uso do preservativo, a fim de erradicar o aumento da transmissão desta e de outras IST. Assim, reconhecendo que o desenvolvimento de vacinas é a forma mais eficaz e econômica de combater doenças infecciosas, o Brasil desenvolveu duas vacinas preventivas, uma bivalente e uma quadrivalente, aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (SILVA et al, 2009).

Segundo Reis (2010), o papilomavírus humano (HPV) é um vírus pertencente à família papillomaviridae, com mais de 200 tipos diferentes, os quais podem causar lesões na pele e mucosas. Por sua vez, o câncer cervical ocorre em mulheres em todo o mundo, mas a maior incidência ocorre na América Central, América do Sul, África Oriental, Sul e Sudeste Asiático e Pacífico Oriental (OPAS, 2016). É uma doença que pode ser combatida por meio de exames de prevenção e vacinação. Ainda segundo a OPAS, a recomendação é administrar essa vacina para meninas de 9 a 14 anos. Nessa linha, Dantas et al. afirma que as mulheres, em sua maioria, desconhecem do exame Papanicolau, bem como não sabem de sua principal função. Nota-se que, além de estratégia no mecanismo de vacinação, há a necessidade de informação constante, bem como de fácil acesso às comunidades. O estudo realizado pelos autores demonstrou que há baixa adesão ao exame em virtude de alguns fatores preponderantes, quais sejam: baixa instrução e nível de escolaridade, vergonha, entre outros.

Ainda, no Brasil, o câncer cervical é o terceiro câncer mais comum entre as mulheres, excluindo os tumores de pele não melanoma. O número de novas infecções para 2022 foi estimado em 16.710, correspondendo a um risco assumido de 15,38 por 100.000 mulheres (INCA, 2021). Assim, a análise regional mostra que o câncer do colo do útero é mais comum na região Norte (26,24 casos por 100 mil casos) e o segundo mais comum nas regiões Nordeste (16,10 casos por 100 mil casos) e Centro-Oeste (12,35 casos por 100 mil casos). Ocupa a 4ª posição na região Sul (12,60/100 mil) e a 5ª na região Sudeste (8,61/100 mil) (INCA, 2019).

Segundo demonstrado acima, Vieira Veiga et al., uma das observações em seu estudo foi que o desconhecimento sobre a campanha de vacinação contra o HPV estava significativamente associado aos homens, dentre eles os de pele escura, os que possuíam entre 15 e 17 anos, sem acesso à Internet e que não residiam com os pais. Outros fatores foram: o hábito de fumar, o alcoolismo, o uso de drogas. Além disso, outros fatores identificados foram: baixa ou muito baixa autoconsciência sobre a própria saúde, indiferença à imagem corporal, baixas expectativas educacionais, sem interesse em progressões. E também aqueles que não receberam informações sobre uso de preservativos nem sobre IST na escola e que também não procuraram aconselhamento, nem ​serviços médicos.

Resta demonstrado pelo estudo de Veiga, Vera et al que a condição social e econômica impacta diretamente no conhecimento da eficácia da vacina para a prevenção do HPV. Isso contribui significativamente para a cobertura vacinal aquém do que se recomendam os órgãos de saúde. É importante ressaltar que a inércia da imunização pode se dar pela falta de informação e orientação sobre sua eficácia, uma vez que não se tem acesso democrático à informação. Conhecer sobre a doença, suas formas de contaminação, bem como sua prevenção e tratamento é essencial para erradicar os elevados índices de contaminação.

Logo, importa destacar que o enfermeiro tem notabilidade quanto ao seu papel frente a esta IST, uma vez que ele atua desde as fases da prevenção, atingindo o diagnóstico, tratamento e acompanhamento. Na prevenção, a ele compete a consulta de enfermagem e coleta do exame citopatológico, o que possibilita rastrear o câncer de colo de útero, além da orientação ao paciente sobre métodos preventivos e de autocuidado. Portanto, os profissionais de saúde desempenham função primordial na prevenção e no controle do câncer do colo do útero, em virtude do aumento de demanda nos serviços públicos de saúde, sobretudo na atenção básica.

Desse modo, o enfermeiro é o responsável por apontar e fornecer orientações necessárias sobre conhecimento, prevenção e controle de possíveis efeitos colaterais durante a consulta de enfermagem (PAGANO, 2015). A consulta de enfermagem trata-se de um relacionamento-paciente, no qual o paciente pode se sentir valorizado e cuidado. Esse ato proporciona uma relação mais próxima e pessoal com esse profissional, estabelecendo um ambiente menos formal e mais flexível. Portanto, a consulta não é considerada um simples processo técnico, e sim, um rico relacionamento interpessoal (SILVA et al., 2016).

Ante o exposto, conclui-se que o enfermeiro tem protagonismo no que tange ao atendimento de demandas sobre HPV, uma vez que ele é não apenas a porta de entrada dos indivíduos que buscam atendimento, mas também é disseminador de informações à coletividade. Cabe a ele, inclusive, realizar palestras educativas, as quais podem ser realizadas em toda a comunidade, não se restringindo à sala de atendimento da unidade. Esse trabalho pode ser desenvolvido em escolas e em locais aberto ao público, como parques e praças, visando à propagação máxima sobre o tema, enfatizando os meios de prevenção e a imprescindibilidade da cobertura vacinal.

Outrossim, supõe-se que cerca de 9 a 10 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HPV no Brasil, e que ocorram 700 mil novas infecções a cada ano. Estudos mostram que cerca de 80% da população sexualmente ativa será infectada pelo HPV em algum momento da vida. Além disso, não existe tratamento específico para o HPV e, mesmo que o tratamento seja possível, as lesões causadas pelo vírus ainda podem evoluir para doença grave (Ministério da Saúde, 2022). Segundo o Instituto Butantan, a vacina contra o HPV é a melhor e mais eficaz forma de proteção contra o câncer do colo de útero, além do uso de preservativo.

A incidência e o número estimado de novos casos são importantes para avaliar a extensão da propagação da doença no território e planejar ações locais. Além disso, no Brasil, a taxa de mortalidade por câncer do colo do útero, ajustada para a população global, foi de 4,60 mortes por 100 mil mulheres em 2020 (INCA, 2020). Embora o teste de citologia para câncer de cólon (CCO) tenha sido introduzido no Brasil na década de 1950, suspeita-se que 40 mulheres brasileiras nunca tenham realizado esse teste, o que pode ser responsável pelo elevado número de pessoas com tumores malignos (INCA, 2015).

6. CONCLUSÃO

Após a análise dos artigos em comento, identificou-se que a doença está relacionada à ausência de cuidados preventivos primários, como a ausência de preservativo e de vacinação contra o HPV. Em sequência, constatou-se que há evidências suficientes para relacionar o HPV ao câncer do colo de útero, uma vez que se trata de lesão longínqua.

Em sequência, a literatura demonstrou que a vacinação é a forma mais eficaz de se combater a IST, não obstante haja métodos preventivos, como a camisinha. Nesse aspecto, mesmo havendo a criação da vacina bem como a ampliação da faixa etária no ciclo vacinal, ainda há altos índices de contaminação pelo vírus e de mortes relacionadas ao câncer do colo do útero. Assim, é evidente a relação entre HPV e o respectivo câncer.

Ademais, observou-se que a ausência de informação não acomete apenas a população comum, mas os profissionais da saúde, como os próprios enfermeiros. Muitos, conforme os dados acima, não sabiam da relação entre o exame citológico com o diagnóstico da doença. Além disso, não tinham o conhecimento aprofundado na sua atuação junto ao público-alvo de modo que contribuísse com a iniciativa das organizações de saúde.

Por fim, este trabalho obteve sucesso ao encontrar na literatura sobre a importância da atuação do profissional de enfermagem frente à prevenção do HPV, uma vez que ele possui competências que vão além das ações de atendimento passivo, podendo ter atuação ativa na sociedade na qual está inserido. Pode, inclusive, utilizar sua proximidade com a população para incentivar a adesão de mulheres a fazerem consultas de enfermagem, realizar os exames preventivos, esclarecer dúvidas e engajar a sociedade na vacinação.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, A. M. C. et al. Adesão à vacina HPV entre os adolescentes: revisão integrativa. Texto Contexto Enferm 2019; 28: e20180257.

DANTAS, Paula Viviany Jales et al. Conhecimento das mulheres e fatores da não adesão acerca do exame papanicolau. 2018.

DAENT. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil 2021-2030. Disponível em:<https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/doencas-cronicas-nao-transmissiveis-dcnt/09-plano-de-dant-2022_2030.pdf>. Acesso em 05 de setembro de 2023.

FRUMOVITZ M, Escobar P, Ramirez PT. Minimally invasive surgical approaches for patients with endometrial cancer. Clin Obstet Gynecol. 2011;54(2):226-34.

INCA. Instituto Nacional do Câncer. Câncer no Brasil: dados dos registros de câncer de base populacional, vol3. Rio de Janeiro (Brasil): INCA; 2003. Disponível em:<https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/livro-abc-3-edicao.pdf> . Acesso em 20 agosto 2023.

INCA. Instituto Nacional de Câncer. Câncer de colo do útero. Dispoível em:<https://www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/hpv#:~:text=Como%20os%20HPV%20s%C3%A3o%20transmitidos,de%20penetra%C3%A7%C3%A3o%20vaginal%20ou%20anal>. Acesso em 28 agosto 2023.

INCA. Instituto Nacional de Câncer. Plano de ação para redução da incidência e mortalidade por câncer do colo do útero. Sumário executivo. Disponível em:<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acao_reducao_cancer_colo.pdf>. Acesso em 15 de setembro de 2023.

MACHADO, Ana Luiza Linhares Beserra et al. Conhecimentos de acadêmicos de enfermagem sobre a infecção pelo papilomavírus humano. Nursing (São Paulo), v. 26, n. 300, p. 9653-9660, 2023.

MINAYO, M.C.S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: vozes, 2003.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Disponível em: <http://portal.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/estimativas-de-incidencia-de-cancer-2012/estimativas_incidencia_cancer_2012.pdf>. Acesso em 22 de setembro de 2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 38, de 24 de junho de 2021. Institui Câmara Técnica Assessora, para o enfrentamento do Câncer de Colo do Útero no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Diário Oficial da União 2021. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/saps/2021/prt0038_25_06_2021.html> Acesso em 20 de setembro de 2023.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). 2020. HPV e o Câncer do Colo do Útero. Disponível em:<https://www.paho.org/pt/topicos/hpv-e-cancer-do-colo-do-utero>. Acesso em 20 setembro de 2023.

POLLIO, Alejandra; Pagano, Magdalena. Como promover discusiones productivas basadas en el trabajo de los estudiantes. 2015.

REBOUÇAS, Arlan Maia et al. Impacto da Imunização Contra o Papilomavírus Humano na Prevenção do Câncer do Colo do Útero: uma revisão integrativa. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 27, n. 6, p. 2895-2906, 2023.

RUZANY, M. H. Mapa da situação de saúde do adolescente no Município do Rio de Janeiro. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2005. 113 p.

SILVA, Gulnar Azevedo et al. Avaliação das ações de controle do câncer de colo do útero no Brasil e regiões a partir dos dados registrados no Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 38, p. e00041722, 2022.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.

SELLTIZ, C.; WRIGHTSMAN, L. S.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa das relações sociais. São Paulo: Herder, 1965.

VIEIRA, Elidiane Andrade et al. Atuação do enfermeiro na detecção precoce do câncer de colo uterino: revisão integrativa. Nursing (São Paulo), p. 7272-7281, 2022.


¹Currículo sucinto do autor, com sua vinculação institucional e seu endereço de e-mail.

²** Professor(a) orientador(a) André Di Carlo Araújo Duarte.